Os modelos de negócio para a publicação de livros em acesso aberto por editoras universitárias brasileiras

RESUMO

Introdução:

existe crescente tendência entre as Editoras Universitárias Brasileiras (EUB) publicar livros científicos e acadêmicos em acesso aberto, disponibilizando-os on-line como e-books. Para tal, as EUB adotam um ou mais modelo de negócio, especialmente focados na forma de financiar a editoração e publicação de livros em acesso aberto.

Objetivo:

Descrever os modelos de negócio utilizados pelas EUB para a publicação de e-books acadêmicos e científicos em acesso aberto.

Metodologia:

Foi realizada pesquisa documental com levantamento das políticas editoriais dispostas nos websites de 92 EUB de instituições de ensino superior públicas brasileiras. Na maioria dos casos, a partir da leitura e análise dos documentos e informações disponíveis nos websites, foi possível identificar os modelos de negócio adotados. Também foi aplicado um questionário às EUB para captar alguns dados sobre os modelos adotados, que suplementaram as informações não encontradas nos websites das editoras; foram retornados 36 questionários preenchidos.

Resultados:

Foi identificado que 94,6% das editoras participantes publicam livros em acesso aberto, exclusivamente ou associado às vendas de livros (impressos e e-books). Verificou-se modelos de negócios adotados para subsidiar as atividades editoriais e para as publicações abertas: financiamento institucional, subsídios cruzados, concessão de financiamento de pesquisa e/ou bolsas, infraestrutura compartilhada, parcerias com bibliotecas universitárias, doações financeiras, taxa de processamento de livro, liberação, híbrido e período de embargo.

Conclusão:

A pesquisa aponta que, ao aderirem-se ao movimento da ciência aberta e acesso aberto para a publicação de livros, as EUB adotam práticas editoriais inovadoras, mas enfrentam desafios no que tange à sua sustentabilidade financeira.

PALAVRAS-CHAVE:
Acesso aberto; Editoras universitárias brasileiras; Livros eletrônicos; Modelos de Negócio

ABSTRACT

Introduction:

There is a growing trend among Brazilian University Presses (BUPs) to publish scientific and academic books in open access, making them available online. To this end, the BUPs adopt one or more business models, especially focussed on how to finance the publishing of books.

Objective:

The research here presented aimed to describe the business models and sources of funding used by the BUPs to fund the publication of academic and scientific e-books in open access.

Methodology:

Document research was carried out to survey the editorial policies accessible from the websites of 92 BUPs of Brazilian public higher education institutions. In most cases, after analysing the documents available on the websites, it was possible to identify the business models adopted for open access publishing. A questionnaire was also applied to the BUPs to identify, from the semi-structured questions, other details on the business models, which supplemented information not found on the university press websites.

Results:

The results reveal that 94.6% of participating BUPs publish books in open access, exclusively or associated with print book sales. The following business models adopted to finance editorial activities and open book publications were identified: institutional funding, cross-subsidies, grants, shared infrastructure, partnerships with university libraries, donations, book processing fees, release, hybrid and embargo period publishing.

Conclusion:

The research shows that, by aligning themselves to the open science movement in general and open access movement for book publishing specifically, BUPs adopt innovative editorial practices, but face challenges in terms of their financial sustainability.

KEYWORDS:
University press; Open access; Books; Business Models

1 INTRODUÇÃO

O acesso aberto a todo tipo e formato de literatura científica é um dos pilares basilares da Ciência Aberta, referindo-se à ampla disponibilização dos resultados de pesquisas científicas na internet sem custos de acesso, pesquisas essas frequentemente financiadas com verba pública. Dessa forma, pesquisadores, professores, estudantes e quaisquer interessados podem ler, baixar, imprimir, distribuir, buscar, (re)utilizar para fomentar outras pesquisas, realizar traduções, mineração de texto, migração para novas mídias, arquivamento de longo prazo, entre outras ações com tais publicações sem barreiras financeiras ou licenças restritivas (BOAI, 2002; SUBER, 2012). O acesso aberto, então, cria condições para pesquisadores buscarem, acessarem e (re)usarem os recursos informacionais necessários no decorrer das investigações empreendidas, além de garantir condições de circulação rápida dos resultados entre pesquisadores pelo mundo afora (LEITE; COSTA, 2016).

As editoras universitárias brasileiras (EUB) são importantes agentes na disseminação da produção intelectual - científica e artística - de pesquisadores e escritores, focando especialmente na publicação de livros e coletâneas de livros. Essas editoras estão inseridas no contexto do sistema educacional e científico nacional, filiadas às Instituições de Ensino Superior (IES) que são majoritariamente mantidas com recursos públicos. Dotadas de conselhos geralmente compostos por acadêmicos da IES em questão, assumem a missão e valores de sua matriz assinalando o compromisso com o ensino, produção científico-tecnológica, artístico-cultural e extensão, através de publicações que dialoguem com as áreas do conhecimento pertinentes à IES, focando no público interno e externo à Instituição (BUFREM, 2015).

A publicação de livros acadêmicos e científicos desempenha uma etapa vital da construção de carreiras acadêmicas, pois fornece um espaço para o desenvolvimento de estruturas sofisticadas de reflexão com a possibilidade da ampliação das habilidades de escrita dos autores (EVE, 2014; HILL, 2020). Esse é particularmente o caso para as áreas das Ciências Sociais e Humanas nas quais o livro, diferentemente do artigo de periódico, é tido como um formato de publicação mais significativo nos quais o processo de redação extensa constitui o meio de desenvolver a própria pesquisa, e não meramente o meio de comunicá-la (MEADOWS, 2009).

A edição e publicação de livros incorrem custos para as editoras uma vez que a cadeia produtiva envolve diferentes recursos humanos e tecnológicos no processo editorial. Os serviços prestados pelas editoras geralmente incluem: seleção de manuscritos para possível publicação, gestão do processo de revisão por pares, apoio editorial que por sua vez engloba edição, revisão, configuração gráfica, produção de edições em variados formatos, registro, autoridade e geração de metadados, marketing e promoção das obras, distribuição para venda e para bibliotecas, arquivamento, fornecimento de métricas de uso e impacto (THATCHER, 2007; WITHEY et al., 2011; OAPEN, 2021). Thatcher (2007) enfatiza que essas etapas todas são dispendiosas, sobretudo quando realizadas para alcançar o nível de excelência da publicação científica usualmente associado com as editoras universitárias.

É devido a tais custos altos do processo de editoração de livros, junto com a necessidade de se manter como um negócio financeiramente viável para cobri-los (incluindo para o pagamento dos salários de funcionários quando estes são terceirizados), que as editoras universitárias não têm conseguido ser tão diligentes em adotar a publicação de livros em acesso aberto, quando comparado com os periódicos científicos. De fato, nos primeiros dez anos do movimento do acesso aberto, falou-se quase exclusivamente nos “dois caminhos” do acesso aberto a artigos científicos: o verde (repositórios) e o dourado (periódicos em acesso aberto), sendo que o enfoque nos repositórios era geralmente voltado para o depósito de preprints de artigos submetidos a um periódico ou de artigos já publicados, possivelmente após um período de embargo estipulado pelo periódico.

Suber (2012) reconhece que o movimento OA se concentrou em artigos de periódicos porque os periódicos não pagam aos autores pelos seus artigos, mas que os autores de livros podem ganhar royalties, mesmo que estes para a maioria das monografias acadêmicas, variam entre zero e uma quantia pífia. Nesse sentido, continua Suber (2012), os autores desses livros têm pouco a perder em termos financeiros, e muito a ganhar em termos do seu alcance e impacto ampliados se forem publicados em acesso aberto. Evidentemente, há um grande corpus de literatura em formato de livro, no domínio público, e que, portanto, prescindem de permissão (de autores e editoras) para digitalizá-los e disponibilizá-los on-line, como testemunha-se com projetos como Projeto Gutenberg e no site Domínio Público do Ministério da Educação brasileiro. Suber (2015, p.111) afirma que, mesmo sendo um “empreendimento técnico titânico” a digitalização desses livros, é um problema menor comparado com a resistência enfrentada dos editores, publicadoras de periódicos e até de autores para conseguir a permissão para disponibilizar artigos científicos em acesso aberto.

A partir de 2006, a porção de livros acadêmicos em acesso aberto disponível on-line superou a porção impressa disponível nas bibliotecas universitárias (SUBER, 2015), e hoje, o ecossistema de editoras, plataformas, repositórios e bibliotecas digitais que dão acesso a livros em acesso aberto é saudavelmente diversificado. Entre os componentes desse ecossistema, destaca-se o Directory of Open Access Books (DOAB), base irmã do Directory of Open Access Journals (DOAJ), sendo que o DOAB fornece acesso a 66 mil livros abertos que passaram pelo processo de revisão por pares, além de registros de metadados em Dublin Core. Pode ser mencionado também o software aberto para a publicação de monógrafos abertos do Public Knowledge Project (PKP), o OMP. Além desses, têm-se uma pletora de editoras de livros em acesso aberto pelo mundo, entre elas: SciELO Livros, Open Book Publishers, Bloomsbury Publishing, MDPI Books, IntechOpen, OpenEdition Books e De Gruyter. O DOAB é mantido pela Open Access Publishing in European Networks (OAPEN) que também opera mais duas plataformas: OAPEN Library, que hospeda e dissemina livros abertos e o OAPEN Open Access Books Toolkit, um conjunto de recursos sobre a publicação de livros em acesso aberto para autores. Importante reconhecer que hoje, muitas editoras comerciais tradicionais também oferecem serviços para a publicação de livros em acesso aberto, a exemplo: Springer Open, Palgrave Macmillan, Oxford University Press, Taylor & Francis.

Ao facilitar a encontrabilidade das pesquisas, os benefícios do acesso aberto ainda se estendem para o aumento da transparência, integridade e rigor científico; estimula a inovação e promove o envolvimento público, melhorando a eficiência do processo de investigação científica (TICKELL, 2016). Outros benefícios de acesso aberto a livros dizem respeito ao alcance de livros que, pelo modelo tradicional de publicação, ficam acessíveis exclusivamente aos leitores de instituições cujas bibliotecas conseguem obter um exemplar do livro: ao garantir equidade de acesso, um título em acesso aberto alarga seu alcance de leitores, por exemplo, em países menos desenvolvidos. Consequentemente, receberá uma quantidade maior de citações, tradicionais e nas redes sociais (DOS SANTOS RIBEIRO, 2018).

O acesso aberto aos livros diz respeito à ampla disponibilização de e-books (termo em inglês para livro eletrônico, compreendidos neste trabalho como sinônimos) que são arquivos eletrônicos inscritos em códigos binários e exibíveis através de softwares de leitura e legíveis por máquinas eletrônicas, tais como, desktops, notebooks, smartphones, i-pads, tablets ou e-readers. Ao mesmo tempo em que o acesso aberto descarta modelos de negócio convencionais que cobrem um investimento financeiro do leitor, oferece oportunidades de repensar os caminhos de financiar a disseminação do conhecimento em formato de livro.

No que tange ao acesso aberto, a remoção de custos incide exclusivamente sobre o acesso ao texto pelos leitores - o lado da demanda pelo conhecimento - pois eles não precisam pagar para usar o texto em acesso aberto que está disponível gratuitamente na internet. O acesso aberto é um caminho alternativo para a distribuição do acesso a livros que não seriam publicados para venda comercial por editoras (SNIJDER, 2009). Mas os custos da produção do livro - o lado da oferta na circulação do conhecimento - são basicamente os mesmos para a editora, salvo a necessidade de impressão por tratar-se de livros eletrônicos, nascidos como textos digitais.

A International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) define o acesso aberto como um “conceito, movimento e modelo de negócio” (IFLA, 2011. Willinsky (2006) descreveu os “dez sabores ou modelos de acesso aberto” baseado principalmente em como cada modelo é financiado e o relacionado tipo de acesso que fornece à publicação e Collins, Milloy e Stone (2015, p.7, tradução nossa) define os caminhos verde e dourado de acesso aberto como “[...] modelos de negócios subjacentes que suportam um trabalho acadêmico tornar-se acesso aberto.”¹ O conceito de modelo de negócio pode ser definido como o conjunto de decisões e ações tomadas pelas editoras para a produção e comercialização/venda dos seus livros (PENIER; EVE; GRADY, 2021). Massa e Tucci (2013, p. 9 apud Ritter e Lettl 2018, p. 2, tradução nossa) observam que: “compreensão sistêmica e holística de como uma organização orquestra seu sistema de atividades para a criação de valor”.”²

Segue que analisar modelos de negócio para editoras universitárias relativos à publicação científica e cultural em acesso aberto exige atenção para a política editorial, estrutura de custos investidos e os fluxos de receita. Thatcher (2007) aponta que as editoras universitárias devem estar atentas ao fato que a disponibilização de livros on-line em acesso aberto exige algumas ferramentas digitais específicas potencialmente custosas e para manter a qualidade, requer a mesma produção editorial feita para os livros impressos. Assim, qualquer modelo de negócio e forma de financiamento deve ser testado com cuidado a fim de verificar sua eficiência e sustentabilidade antes de mudanças a longo prazo.

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é descrever os modelos de negócio utilizados para a publicação de e-books acadêmicos e científicos em acesso aberto por editoras universitárias brasileiras. Reconhece-se que, no ecossistema informacional existente, tais textos constituem componentes importantes para a consolidação da Ciência Aberta. Como pretende-se ampliar a discussão sobre modelos de negócio promotoras da sustentabilidade financeira da publicação de livros em acesso aberto pelas editoras universitárias do Brasil, a próxima seção do artigo apresenta uma sucinta revisão da literatura sobre os referidos modelos, antes de passar para a apresentação do método adotado, seguida pelos resultados e discussão.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Com base na literatura levantada nas bases LISTA e Scopus no Portal CAPES, e no Google Acadêmico, foram identificados os seguintes autores e textos que especificamente abordam os modelos de negócio de publicação de livros em acesso aberto: Withey (2011), Eve (2014), Frosio (2014), Bufrem (2015), Collins, Milloy e Stone (2015), Ferwerda, Pinter e Stern (2017), Hill (2020), Penier, Eve e Grady (2021), Speicher et al. (2018), Snijder (2019) e Roncevic (2023). Com base nesses textos, segue uma breve descrição desses modelos.

• a) Taxa de processamento do autor - o author processing charge (APC), semelhante ao APC - article processing charge no domínio dos artigos em acesso aberto para periódicos científicos que adotam este modelo. No que concerne aos livros em acesso aberto, este modelo é às vezes conhecido como o book processing charge - BPC). Este modelo consiste na cobrança de uma taxa que cobrirá as despesas da publicação de um livro aberto. A taxa pode ser paga pelo autor individualmente ou pela sua instituição, PPG ou agência financiadora das pesquisas. Com a adoção deste modelo, a editora tem garantia que os custos editoriais de um título específico são cobertos. Algumas dificuldades apresentadas por esse modelo são a impopularidade entre autores; quaisquer crises econômicas geram impacto negativo, pela tendência de corte de gastos das agências, por exemplo; e, especificamente para a editora, as taxas cobrem apenas a publicação de determinado livro de forma que as demais atividades da editora teriam que ser financiadas a partir de outras fontes de recursos, por isso, dificilmente este modelo funcionaria sozinho.

• b) Modelo freemium, pelo qual uma versão simples de um dado título é disponibilizada gratuitamente em acesso aberto, enquanto outras versões premium do mesmo título que dispõem de mais conteúdo e funcionalidades, não são gratuitas e são vendidas em outros formatos como impresso, por exemplo.

• c) Modelo acesso aberto embargado/atrasado, pelo qual um título é lançado em acesso aberto somente depois que uma editora teve tempo de obter receita com a venda do título em formato impresso ou digital;

• d) Modelo híbrido pelo qual é disponibilizada uma versão on-line e aberta de um livro já comprado em formato impresso. É reconhecido que este modelo é bastante alinhado com o status quo já que envolve a compra de um livro comercializado. A utilização deste modelo não requer grandes mudanças na forma tradicional de produzir livros, especificamente se a editora disponibilizar o formato eletrônico em arquivo PDF on-line como a versão aberta. Todavia, o trabalho com outros formatos e a utilização de plataformas de distribuição são ações que exigem diferentes habilidades e processos o que requer adaptação da equipe editorial. O modelo híbrido atende aos autores que almejam a distribuição tradicional e em acesso aberto via a internet. Entretanto, os livros impressos podem demorar mais tempo para serem vendidos, mas para contornar este fator, a impressão pode ser realizada sob demanda, eliminando os gastos com manutenção de estoque, embora a impressão sob demanda seja mais cara, quando comparada com o modelo de grandes tiragens. Em suma, o modelo híbrido pode ser adotado como uma forma de transição pela editora; ainda assim, pode ser custoso e de difícil implementação já que as demandas do modelo tradicional de impressão são diferentes dos modelos em acesso aberto.

• e) Modelo de liberação se refere à estratégia em que a editora decide publicar em acesso aberto os títulos que não serão mais reeditados nem reimpressos pela editora, mas que ainda terão leitores pelo mundo, e assim sendo, trarão visibilidade à editora por meio de uma versão online em acesso aberto.

• f) Modelo seletivo de acesso aberto, conhecido também como modelo de subsídios cruzados. Neste, outras atividades comerciais da editora, tais como lucros de vendas das publicações não abertas, prestação de serviços, venda de direitos de tradução custeiam a publicação de títulos em acesso aberto. É importante ressaltar que editoras de pequeno e médio porte - sejam iniciantes ou consolidadas no mercado - podem enfrentar dificuldades na adoção deste modelo já que não há garantias de vendas dos livros no geral.

• g) O modelo de doações e crowdfunding pelo qual as editoras lançam um título e buscam doações financeiras de indivíduos ou instituições). As doações podem promover toda uma coleção ou série em acesso aberto. É um modelo comum nos Estados Unidos, onde a tradição de alumni (ex-alunos da instituição) fazer doações substanciais a sua alma mater é muito consolidada, e tais doações podem chegar a somas muito substanciais.

• h) O modelo comunitário pelo qual pesquisadores em disciplinas específicas unem forças para publicar obras de seu campo em acesso aberto.

• i) O modelo de subsídio colaborativo (collaborative underwriting), pelo qual várias bibliotecas unem forças para cobrir o preço determinado por uma editora para um título se tornar acesso aberto e compartilham o custo.

• j) O modelo de infraestrutura compartilhada, também conhecido como coedição, consiste na divisão de recursos, custos e infraestrutura por duas editoras universitárias. Ao optarem pela publicação em coedição, as editoras universitárias celebram um contrato próprio para a ocasião com cláusulas detalhadas sobre os compromissos assumidos por cada uma das instituições envolvidas. O modelo apresenta como desafios a governança coletiva dos projetos e a possível perda de controle sobre determinadas etapas da produção editorial. Ainda assim, a infraestrutura compartilhada beneficia pequenas editoras com escassez de recursos humanos, financeiros e tecnológicos, além de distribuir riscos e conhecimento entre editoras.

• k) Existe um conjunto de modelos para a publicação de livros em acesso aberto que dependem do financiamento - direto ou indireto - da instituição de ensino superior (IES) matriz da editora universitária, por meio da cessão de recursos financeiros, humanos, tecnológicos ou instalações que sustentam o funcionamento geral da editora ou, especificamente, das publicações em acesso aberto, este último caso sublinhando o comprometimento da IES com o acesso aberto. Um exemplo deste modelo seria a celebração de parcerias internas pelas quais a editora e outro setor da IES se unem para cobrir os custos de publicação. Nessa linha, um modelo previsto nas políticas editoriais de várias IES pelo mundo é a parceria entre editoras e bibliotecas universitárias em que se compartilham recursos financeiros, humanos ou de infraestrutura tecnológica, para tornar a publicação amplamente disponível. É necessário a delimitação das responsabilidades: a editora encarrega-se da publicação e a biblioteca do arquivamento da obra no Repositório Institucional (e consequente atribuição de metadados) e a sua consequente disseminação on-line. Os bibliotecários podem oferecer também um forte incentivo e experiência com práticas de acesso aberto à literatura científica, tão importantes para a distribuição de livros científicos e acadêmicos no contexto da Ciência Aberta. Para evitar conflitos e impactos negativos, é preciso que os recursos sejam aplicados de forma eficiente para evitar prejuízos em uma das partes. As bibliotecas desempenham um papel importante como centros de informação para o acesso aberto aos livros, seja como criadores de fluxos de trabalho para tais e-books, ou trabalhando no aconselhamento de autores para que possam tomar decisões bem-informadas a respeito de suas publicações sobre direitos autorais e opções de publicação aberta ou restrita.

• l) Um modelo que prevê a publicação de produtos de pesquisa em acesso aberto é aquele que envolve a concessão de financiamento e bolsas da pesquisa por um órgão de fomento à pesquisa em que o pesquisador/autor recebe apoio financeiro para a pesquisa que explicitamente inclui a cobertura dos custos com a publicação de livros em acesso aberto. Há também casos em que as editoras concorrem em editais para publicação de livros acadêmicos e científicos de agências de fomento (CAPES, CNPq ou pelas fundações de apoio à pesquisa estaduais etc.) seja no formato e-book aberto ou, ainda, no modelo híbrido no qual os recursos cobrem os custos da impressão e o formato eletrônico fica disponível abertamente. A concessão de fomento à pesquisa e de bolsas é afetada diretamente por crises financeiras nas agências de fomento: considerando o cenário brasileiro já ocorriam sucessivos cortes nos repasses destinados aos financiadores de pesquisa públicos mesmo antes do início da pandemia de COVID-19 e que, por essa ocasião, pode ser agravada e prolongada pelos próximos anos.

Penier, Eve e Grady (2021) chamam a atenção sobre a dificuldade de um único modelo de negócio conseguir sustentar toda a publicação de livros em acesso aberto de uma editora, e por isso, aconselham a combinação de modelos.

3 METODOLOGIA

De natureza descritiva, o objetivo da pesquisa foi de descrever as características das políticas editoriais e modelos de negócio das Editoras Universitárias Brasileiras (EUB) das IES públicas para a publicação de livros em acesso aberto. A natureza e análise dos dados realizada é quanti-qualitativa (GONSALVES, 2007). Os dados foram coletados a partir de pesquisa documental nos websites institucionais das editoras e a partir da aplicação de questionário on-line nas EUB.

Primeiramente, o website da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) foi consultado com a finalidade de identificar o conjunto de editoras universitárias brasileiras a participar da pesquisa. Foram identificadas o total de 92 editoras pertencentes a universidades federais, estaduais, municipais, institutos federais de educação, institutos de pesquisa, imprensas oficiais estaduais, museus e arquivos. Em cada website das 92 editoras identificadas, buscamos por documentos que compunham as políticas editoriais, tais como regimentos, estatutos, manuais para autores e demais textos disponibilizados. A busca por essa variedade de documentos foi necessária porque muitas editoras não dispõem de um documento único que explicite sua política editorial. Desses documentos, foram extraídas informações sobre os modelos de negócio e fontes de financiamento para a publicação em geral (não apenas a de acesso aberto). Todos os dados coletados nestas primeiras duas etapas foram tabulados em planilha no Microsoft Excel®.

Em seguida, os responsáveis pelas 92 editoras universitárias foram convidados, por e-mail, a responder um questionário on-line (desenvolvido em Google Forms®) composto por oito questões estruturadas e treze abertas sobre a publicação de livros em acesso aberto tal como é praticada pela editora.

Um total de 36 editoras contribuíram com respostas, o que constitui 39,1% de adesão do universo total de 92 editoras inicialmente identificadas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de São Carlos, protocolo número 39955220.2.0000.5504 e todas as etapas ocorreram entre os meses de julho a setembro de 2021.

4 RESULTADOS

Os resultados apresentados nesta seção apontam os modelos de negócio adotados e/ou previstos nas políticas editoriais das editoras participantes da pesquisa e referentes à publicação em acesso aberto. A Tabela 1 mostra a porcentagem das 92 EUB participantes da pesquisa que adotam um ou mais modelos identificados na literatura e nos documentos levantados nos websites das EUB. Observa-se que em 30% das EUB pesquisadas, não foram encontradas, na etapa da pesquisa documental nos websites, informações explícitas sobre os modelos de negócios.

Tabela 1
Modelos de negócio adotados pelas EUB pesquisadas

Modelo de negócio	% das EUB
Taxa de processamento do livro (APC/BPC)	15,2
Período de embargo	6,5
Híbrido	7,6
Liberação	14,1
Modelo seletivo/subsídios cruzados	39,1
Doações financeiras (p.ex. crowdfunding)	20,7
Infraestrutura compartilhada: coedição	25,0
Financiamento institucional	66,3
Parceria com a Biblioteca Universitária	1,1
Fomento à pesquisa/bolsas	32,6

• Fonte: Dados da pesquisa (2021)

O modelo de taxa de processamento de livros, que consiste na cobrança ao autor (ou a sua agência de fomento à pesquisa) de uma taxa que cobrirá as despesas da publicação de um livro aberto, é utilizado por 15,2% das EUB pesquisadas. Destas, 28,6% repassam aos autores apenas a taxa para emissão do International Standard Book Number (ISBN), que atualmente, custa R$ 22,00. Entre as EUB pesquisadas que utilizam esse modelo, são a Editora UFFS, a EDUR e a Editora UEMS.

Um modelo muito citado, no contexto do acesso aberto, é o estabelecimento de um período de embargo, pelo qual a editora fixa um determinado tempo, ou quantidade de exemplares de um dado título a serem vendidos, para depois disponibilizá-lo em acesso aberto. Das EUB pesquisadas, 6,5% adotam esse modelo pelo tempo médio de seis meses, podendo chegar a dois anos, dependendo do contrato firmado entre editora e autor. É possível prever e medir o volume de vendas do título (quando comparado com o modelo híbrido no qual a previsão não é possível), além de possibilitar a venda das versões impressa e eletrônica. Se a disponibilização for antecipada, as vendas podem diminuir drasticamente; o período que uma obra permanece fechada pode afetar sua relevância em áreas que utilizam mais os livros como fontes de informação. Cabe observar que algumas agências de fomento podem não concordar com o período de embargo estabelecido ao destinarem recursos para a editora (PENIER; EVE; GRADY, 2021). Destacou-se um relato de um participante da pesquisa expondo (numa questão aberta do questionário) uma situação de declínio das vendas devido à disponibilização do e-book em acesso aberto depois de um período como livro impresso:

A principal experiência da editora com acesso aberto foi negativa. Havia cinco títulos publicados em papel sendo dois deles com ótima vendagem. Estes títulos foram colocados em acesso aberto no SciELO Livros e, a partir daí, as vendas caíram a praticamente zero. Foi um erro estratégico que nos levou a entender que acesso aberto e tiragem impressa não combinam, contrariando algumas hipóteses de que o acesso aberto impulsionaria o papel. (Respondente de uma EUB, dados da pesquisa).

Publicação híbrida é um modelo de negócio no qual uma determinada obra é publicada na versão impressa, seja para comercialização ou distribuição gratuita, e na versão e-book para disponibilização em acesso aberto. É possível que a editora continuará produzindo exemplares impressos de um título posteriormente à publicação em acesso aberto, exclusivamente sob demanda (print on demand - POD). A quantia de 7,6% das EUB pesquisadas adota esse modelo. Entre as EUB pesquisadas que trabalham com este modelo, tem-se a EdUFES e EdUFERSA.

O percentual de 14,1% das EUB pesquisadas adota o modelo de negócio de liberação, pelo qual a decisão é tomada de publicar alguns títulos em acesso aberto que não serão reimpressos ou reeditados. As editoras com mais tempo de existência e mercado possuem mais obras publicadas o que torna mais fácil a adoção do modelo de liberação, sendo que exemplificam esses casos a EDUEM e da EDUSP, que utiliza o Portal de Livros Abertos da USP para isto.

O modelo de negócios chamado de subsídios cruzados / acesso aberto seletivo está presente em 39,1% das políticas editoriais, entre elas a Editora da UNESP, EdUFRN e a Editora da UFSC. Nesse modelo, a editora subsidia a publicação de títulos em acesso aberto com as outras atividades comerciais que realiza. A predominância deste modelo de negócios (que ocorre como o segundo modelo mais seguido pelas EUB pesquisadas) parece sinalizar que as EUB têm um crescente interesse na publicação de livros em acesso aberto, um interesse possivelmente surgido da crescente difusão dos princípios da Ciência Aberta e a concretização de tais princípios na publicação em acesso aberto.

Cerca de 20,7% das EUB preveem doações financeiras como fonte de recursos para publicação de livros abertos. Destas, 57,9% se limitam a receber recursos de pessoa jurídica; 42,1% de pessoa física; e 21,1% não especificaram. Cabe ressaltar que os livros financiados a partir do modelo de doações não são isentos da revisão por pares e da aprovação dos conselhos editoriais universitários. As editoras que se propõe a trabalhar com este modelo colocam algumas instruções a serem seguidas de forma a tornar o processo mais eficaz. Podemos citar o exemplo da Editora UFPR que requer que o proponente/autor empenhe os valores contratando serviços externos de revisão/editoração e/ou impressão ou transferir integralmente o valor para a editora custear o processo de impressão.

O modelo de negócios de infraestrutura compartilhada ou coedição consiste na divisão de recursos, custos e infraestrutura por duas entidades (BUFREM, 2015) e é adotado por um quarto das EUB pesquisadas. Um exemplo de coedição de um livro em acesso aberto seria o título Introdução à robótica, de Maja Mataric, coeditado entre a Editora UNESP e a Editora Blucher. Outro detalhamento sobre este modelo foi discriminado nos dados coletadas a partir do questionário. Com a pergunta feita: “Para as publicações em acesso aberto, a Editora realiza (ou já realizou) parcerias com quais outros tipos de instituições?”, foi possível obter respostas sobre parcerias de coedições já realizadas, embora um terço das EUB pesquisadas não tivesse informações suficientes para poder responder à questão. A Tabela 2 apresenta as parcerias já realizadas pelas EUB para publicação de livros em acesso aberto.

Tabela 2
Parcerias institucionais visando a coedição e infraestrutura compartilhada

Parceiro no compartilhamento da infraestrutura	% das EUB
Outras editoras universitárias	25
Agências de fomento à pesquisa	19,4
SciELO Livros	19,4
Bibliotecas	11,1
Editoras comerciais	8,3
Institutos de pesquisa	5,5
Outro	8,3
Não tenho informação suficiente para responder	30,3

• Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Um exemplo de parceira entre editora e biblioteca universitária é o Portal de Livros da UnB. A SciELO Livros é outra parceria que oferece vantagens para as editoras universitárias, pois os livros disponíveis na plataforma são amplamente encontráveis através dos motores de busca, consequentemente são mais acessados pelos usuários, logo trazem bastante visibilidade para a produção editorial em acesso aberto. É importante ressaltar que para cada livro disponibilizado pela SciELO Livros, a editora arca com um custo único no início do processo.

Observa-se que o financiamento institucional é o modelo de negócios assumido por 66,3% das EUB que participaram da pesquisa. Essa maioria se deve, em primeiro lugar, ao recorte da pesquisa que elegeu como a amostra apenas as editoras ligadas às IES públicas. Em segundo lugar, tal resultado é explicado pelo fato que o sistema de pesquisa brasileiro é financiado majoritariamente por recursos públicos e acontece em instituições públicas. Ainda que apenas a porcentagem citada coloca o financiamento institucional como fonte de recursos explicitamente nos documentos das suas políticas encontrados on-line, é possível generalizar que todas as EUB, em alguma medida, se enquadram neste modelo, pois contam com um espaço físico dentro das IES, frequentemente com servidores públicos assalariados alocados para a editora, com a direção e coordenação realizada por um servidor docente ou servidor técnico-administrativo. Por exemplo, às vezes é possível a utilização de recursos financeiros dos Programas de Pós-Graduação (PPG) que podem ser empenhados em várias atividades de difusão das pesquisas realizadas por docentes e discentes.

Nessa linha, outro modelo previsto nas políticas editoriais é a parceria entre editoras e bibliotecas universitárias em que se compartilham recursos financeiros, humanos e de infraestrutura tecnológica, para tornar a publicação amplamente disponível. Porém, no caso das EUB pesquisadas, este tipo de parceria é adotado por apenas 1,1% dos participantes da pesquisa, apontando a incipiência das parcerias entre as EUB e as bibliotecas das suas instituições matrizes. Um exemplo deste modelo de negócio é a parceria firmada entre a Editora UnB e a Biblioteca Central da UnB para construção do Portal de Livros da UnB.

No que tange à origem da fonte de financiamento institucional, tem-se que 64,1% das EUB pesquisadas são mantidas com recursos federais e 34,8% com recursos estaduais, o que reflete as proporções dos tipos de universidades e suas respectivas editoras na amostra da pesquisa. Dentro das IES pesquisadas, a origem do financiamento para as EUB teve a distribuição apresentada na Tabela 3 que segue:

Tabela 3
Setores de alocação e fontes de orçamento das EUB

Setores intra-institucionais fontes de orçamento	% das EUB
Reitoria	33
Pró-Reitoria de Pesquisa e/ou Pós-Graduação	16
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura	13
Setor de Comunicação Institucional	4
Editora como Fundação	2
Pró-Reitoria de Coordenação Acadêmica	1
Pró-Reitoria de Administração	1
Informação não localizada no website	30

• Fonte: Dados da pesquisa (2021)

O modelo de negócios de publicação em acesso aberto preconizado com o fomento à pesquisa entra no rol de opções de financiamento de publicação de livros abertos para quase 33% das EUB pesquisadas. Este modelo se torna uma possibilidade de financiamento de publicação de livros em acesso aberto para a editora, pois será o/a pesquisador/a, detentora do financiamento da agência de fomento à pesquisa, quem abordará a editora, oferecendo a verba para custear a publicação do livro, caso a editora aceitar o manuscrito após a revisão por pares. Por exemplo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) financia “a publicação de livros no Brasil que exponham resultados originais e inéditos de pesquisa” (FAPESP, 2023) de pesquisas apoiadas pela FAPESP, e com o cofinanciamento da editora. Exemplo de um livro em acesso aberto financiado pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e publicado pela Cultura Acadêmica da UNESP, é o livro Usuários da informação e diversidade organizada pela professora Helen de Castro Silva Casarin (2021).

5 DISCUSSÃO

No início do movimento pelo acesso aberto à literatura científica, os ativistas focaram suas reflexões na liberação dos periódicos de artigos científicos, ficando os livros comparativamente ausentes destas discussões. Para Suber (2012), a remoção das barreiras de acesso aos livros pode ser mais fácil do que a abertura dos periódicos. Isso se dá ao considerar os tradicionais baixos lucros obtidos com a venda de livros científicos; desta forma, a decisão ficaria a critério do autor entre ampliar seu impacto ou receber pouca ou nenhuma remuneração pela venda.

Nos casos em que o autor já fez a cessão dos direitos para editores, a decisão de publicar - ou ainda colocar em acesso aberto os livros científicos já publicados - recai sobre as editoras ao analisar as tendências do mercado. Suber (2012) traz exemplos para editoras que se sintam inseguras em lançar um livro em acesso aberto, podendo aplicar um período de embargo de seis meses a um ano nas publicações ou disponibilizar em acesso aberto os livros que não serão reeditados.

Thatcher (2007) defende a importância de entender exatamente quais os riscos e perigos envolvidos na mudança para modelos de negócios de acesso aberto. “Nós editoras acreditamos que é importante manter uma mente aberta sobre o que constitui acesso aberto, até porque nem todas as abordagens que possam merecer esse nome precisam ser incompatíveis com um modelo baseado no mercado.” (THATCHER, 2007, p. 167, tradução nossa). Entretanto, manter dois modelos de negócio pode ser complexo, uma vez que as equipes editoriais terão que conciliar o já realizado e as novas tarefas. Esta situação é bastante desafiadora para as editoras universitárias brasileiras, tendo em vista as equipes pequenas que, ao acumularem funções para as quais não são treinados, podem levar mais tempo, produzir um objeto editorial de qualidade inferior, impactando o usuário-cliente final, além de ter maior custo para a instituição.

Withey e demais autores (2011) propõe algumas características dos modelos de negócios para editoras universitárias. Estes devem ser vistos como parte da comunicação científica, considerando todo o ecossistema de interdependência nas comunidades acadêmicas. Os modelos precisam, ainda, abranger os vários tipos de conteúdo e gêneros que fazem parte das publicações da editora. Também devem coexistir bem com outros modelos de negócio, pois nenhum modelo consegue sustentar toda uma editora. As receitas devem ser utilizadas para o aprimoramento das tecnologias operacionais. A editora deve prever revisões ou sucessões para os modelos, tendo em vista as rápidas mudanças tecnológicas e sociais na forma como pesquisadores trabalham. A eficácia do modelo deve ser mensurável a fim de apoiar decisões significativas para alocação de recursos em todo o sistema editorial.

As editoras universitárias possuem desafios de institucionalização, lidando com tensões entre: compromisso acadêmico e determinações do mercado; de valorização dos periódicos para comunicação científica e as condições financeiras, burocráticas e estruturais das editoras; de conciliação entre modos de produção e os avanços tecnológicos nas condições citadas (BUFREM; GARCIA, 2014).

Ao constatar o declínio nas vendas de livros acadêmicos, a OAPEN (2021) defende a adoção da publicação de livros em acesso aberto. Como estão amplamente disponíveis na internet, podem alcançar um maior número de leitores, mais amplos e diversificados, por exemplo acadêmicos de outras disciplinas, pesquisadores independentes, formuladores de políticas, indústrias e o público em geral, potencialmente resultando no aumento de uso e de citações do trabalho.

A partir de experiências com editoras que publicam em acesso aberto, Penier, Eve e Grady (2021) encontraram outras variações de modelos de negócio aplicadas neste contexto, entre elas:

• a) “anúncios e propagandas” baseadas nos interesses dos clientes-usuários seja dentro da obra ou no website da editora;

• b) “arrecadação de fundos” organizada pelos editores que solicitam doações periódicas ou contínuas para pessoas físicas ou fundações, pode ser baseado em assinatura ou “pague quanto quiser”;

• c) “híbrido digital freemium” cujo livro aberto está disponível no formato HyperText Markup Language (HTML) e os demais formatos eletrônicos são pagos já que oferecem mais ferramentas adicionais, porém o conteúdo é sempre o mesmo;

• d) “licenciamento para terceiros” no qual a editora licencia parte do catálogo, aberto ou não, para distribuidores terceirizados ou agregadores de conteúdo e utiliza as receitas para custear novas publicações abertas;

• e) “consórcio ou assinaturas”: cria-se uma rede de trabalho com o objetivo de gerar economia de escala em uma plataforma econômica. Os membros (bibliotecas, financiadores e editoras; nacionais ou internacionais, de determinada área do conhecimento ou não) de um consórcio deste tipo alocam quotas que custeiam a publicação de livros abertos de uma editora ou um coletivo. Estas, por sua vez, podem oferecer uma gama de benefícios para este grupo particular de clientes;

• f) “inscreva-se para abrir”: bibliotecas se inscrevem para ter acesso ao conteúdo da editora, após determinado número de inscritos, o conteúdo fica amplamente disponível. Em essência, esta é uma opção sem risco para a instituição assinante, pois quando uma biblioteca faz a assinatura, seus usuários têm acesso automaticamente às publicações. Uma variação deste modelo seria a assinatura de livros que não serão mais reeditados e o modelo oferece acesso ao catálogo atual da editora.

Dessa forma, é recomendável que editoras experimentem outros modelos de acesso aberto, além de trocar experiências com as demais editoras universitárias. A eficácia do modelo deve ser mensurável a fim de orientar decisões financeiras em todo o sistema editorial. Nos planejamentos estratégicos, devem constar revisões ou sucessões para os modelos adotados, tendo em vista as rápidas mudanças tecnológicas e sociais no campo científico.

6 CONCLUSÃO

A discussão sobre livros acadêmicos e científicos em acesso aberto é importante para a consolidação da ciência aberta no Brasil, tendo em vista o sistema de pesquisa brasileiro feito nas instituições públicas e com financiamento público. Desta forma, os orçamentos devem ser empregados com eficiência, eficácia e transparência tendo em vista a limitação de valores recebidos anualmente e a prestação de contas ao Estado e aos cidadãos de como a verba pública foi empregada. Além disso, deve-se considerar a desigualdade social presente no Brasil que implica no alto custo para aquisição de livros, sobretudo os científicos pelo usuário-leitor(a) final.

A pandemia de covid-19 retomou e centralizou questões sobre a importância de divulgação rápida das descobertas feitas ao redor do mundo, como uma maneira de entender a situação vivenciada e lidar com o estado de calamidade instaurado pelo coronavírus. Ainda nesse contexto pandêmico, vivenciamos o fechamento das instituições de ensino de todos os níveis e adoção do ensino à distância ou remoto, tornando o acesso aos livros acadêmicos em acesso aberto on-line uma das formas mais democráticas para prosseguimento das atividades de estudos e pesquisas. As editoras universitárias são agentes fundamentais no sistema de comunicação da ciência por seus propósitos e valores, entretanto percebe-se certa falta de estudos destas instituições e sua relação com o acesso aberto aos livros acadêmicos e científicos no contexto brasileiro a partir das políticas editoriais e dos modelos de negócio.

As práticas de acesso aberto se justificam ao propor que as publicações científicas sejam amplamente disponibilizadas gratuitamente, on-line e livre de licenças restritivas; recuperáveis por pesquisadores, estudantes e qualquer cidadão interessado para reutilização em suas pesquisas, arquivamento de longo prazo, mineração de texto e de inúmeras outras formas de desenvolvimento científico. Com a adoção da publicação de e-books, as editoras universitárias brasileiras se alinham com os preceitos da ciência aberta. Como apresentado neste texto, as EUB já demonstram algumas experiências com modelos abertos que podem ser expandidos através da experimentação de outros modelos de negócio ou da troca de experiência entre editoras universitárias filiadas a IES públicas. É importante ressaltar que os modelos de negócio devem ser explicitamente registrados nas políticas editoriais e devidamente divulgados, observando o alto índice de editoras que não disponibilizam essas informações.

Os modelos de negócio são partes fundamentais e devem integrar as políticas editoriais de uma editora universitária cuja função principal é de organização institucional ou criação e desenvolvimento de uma identidade própria. A partir de uma análise detalhada da filosofia universitária, de questões geográficas, estruturais, fatores históricos, necessidades e particularidades locais, além dos recursos financeiros e como arrecadá-los, considera-se ainda demais fatores de impacto nas decisões político-administrativas. Mais especificamente, nas políticas editoriais estão definidas questões como as temáticas foco da produção editorial, os serviços prestados com descrições pormenorizadas, o público-alvo, formatos de publicação, fluxo editorial, ferramentas utilizadas na produção e abertura ou não das publicações.

Reconhecimentos

Não aplicável.

REFERÊNCIAS

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• Financiamento:

  Este estudo foi financiado pelo Programa de Demanda Social da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES), processo N.88887.615482/2021-00.

• Aprovação ética:

  A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de São Carlos, protocolo número 39955220.2.0000.5504.

• Disponibilidade de dados e material:

  Os conjuntos de dados gerados e/ou analisados durante o presente estudo estão disponíveis no Figshare: https://figshare.com/account/items/22647889/edit.

• JITA:

  IN. Open science.

Editado por

Editor:

Gildenir Carolino Santos

Disponibilidade de dados

Os conjuntos de dados gerados e/ou analisados durante o presente estudo estão disponíveis no Figshare: https://figshare.com/account/items/22647889/edit.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Out 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  20 Jun 2023
• Aceito
  16 Jul 2023
• Publicado
  02 Ago 2023