RESUMO
Introdução: A Biblioteca Pública tem a missão e o papel de garantir o acesso à informação a todas as pessoas que dela necessitem, de proporcionar um ambiente aconchegante e acolhedor de acesso ao conhecimento, de desenvolver competência em informação e, com essas iniciativas e atitudes, favorecer as condições para o aprendizado e o aprimoramento ao longo da vida.
Objetivo: analisar a relação entre a competência em informação e o protagonismo social dos bibliotecários em seu papel como agentes de transformação social. Metodologia: Realiza uma pesquisa exploratória e descritiva e com abordagem qualitativa, cujo método é a pesquisa de campo. A coleta de dados se deu por meio da técnica de entrevista, do tipo semiestruturada, com bibliotecários de duas bibliotecas públicas da região Norte do Brasil.
Resultados: Identifica a presença de profissionais atuantes, dinâmicos, que exercem protagonismo e que, continuamente, ressignificam o seu fazer profissional.
Conclusão: Considera, a partir da análise crítica das entrevistas em diálogo com a literatura científica, a existência do protagonismo profissional do bibliotecário nas bibliotecas, uma vez que se sente cada vez mais preparado para atender as necessidades dos usuários e, consequentemente, exercer suas atividades conscientes do seu papel nas ações profissionais em favor do desenvolvimento das pessoas e das comunidades. Conclui que somente a partir da internalização e autorreconhecimento como protagonista social é que o profissional terá condições de iniciar o processo formativo e dialógico do desenvolvimento da competência em informação.
PALAVRAS-CHAVE:
Competência em informação; Protagonismo social; Bibliotecas públicas; Bibliotecários; Bibliotecas públicas - Estado do Pará
ABSTRACT
Introduction: The Public Library has the mission and role of ensuring access to information for all people in need, providing a welcoming and comfortable environment for accessing knowledge, developing information literacy, and, through these initiatives and actions, fostering conditions for lifelong learning and improvement.
Objective: To analyze the relationship between information literacy and the social protagonism of librarians in their role as agents of social transformation.
Methodology: The research employs an exploratory and descriptive approach with a qualitative method, utilizing field research. Data collection was conducted through semi-structured interviews with librarians from two public libraries in the northern region of Brazil.
Results: It identifies the presence of active, dynamic professionals who exhibit leadership and continually redefine their professional practices.
Conclusion: Based on a critical analysis of the interviews in dialogue with scientific literature, the study considers the existence of professional protagonism among librarians in public libraries, as they feel increasingly prepared to meet the needs of users and consequently perform their activities with an awareness of their role in professional actions aimed at the development of individuals and communities. It concludes that only through the internalization and self-recognition as a social protagonist will the professional be able to initiate the formative and dialogic process of developing information literacy.
KEYWORDS:
Information literacy; Social protagonism; Public libraries; Librarians; Public libraries - State of Pará
1 INTRODUÇÃO
Vivemos numa época marcada por transformações em todos os âmbitos da sociedade. A Biblioteca Pública tem a missão e o papel de contribuir com o cidadão, no seu desenvolvimento educacional, pessoal, na sua qualidade de vida, nas garantias de direitos, no acesso à informação e entre outros.
A motivação para elaborar este artigo, sobre Competência em Informação (CoInfo) e protagonismo exercido por bibliotecários, surgiu da necessidade de se compreender as ações de CoInfo desenvolvidas pelas bibliotecas públicas no Município de Belém, Estado do Pará. Vislumbramos que a inferência da CoInfo diante da vulnerabilidade social/informacional pode instigar reflexões e ser aplicada em diversas instâncias, seja por meio de políticas públicas, de pesquisas científicas ou em projetos sociais.
Uma vez que as bibliotecas públicas podem contribuir para o desenvolvimento da CoInfo de pessoas em situação de vulnerabilidade social, deve-se tratar a matéria de maneira mais aprofundada, considerando a diversidade e as especificidades da demanda social, tanto individuais quanto coletivas. De acordo com a IFLA (2022), as pesquisas contínuas devem se concentrar na avaliação do impacto da biblioteca e na coleta de dados com a intenção de demonstrar a potencialidade social das bibliotecas de modo que elas tenham a atenção dos agentes formuladores de políticas públicas.
Neste trabalho adotamos o conceito de CoInfo proposto por Dudziak (2003, p. 28):
A partir da análise da evolução do conceito e seguindo a concepção de information literacy voltada ao aprendizado ao longo da vida, pode-se defini-la como o processo contínuo de internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessário à compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida.
A CoInfo se relaciona com o processo de desenvolvimento e segundo a autora, trata-se de um processo contínuo de aprendizado, que integra informação, conhecimento e inteligência. Ele possui caráter transdisciplinar, abarcando um conjunto de habilidades, conhecimentos e valores tanto pessoais quanto sociais, que permeiam fenômenos relacionados à criação, à resolução de problemas e à tomada de decisões.
Desta forma, este artigo contextualiza a competência em informação e o protagonismo do bibliotecário atuante na biblioteca pública. Neste cenário, trazemos a Biblioteca Pública Avertano Rocha e a Biblioteca Pública Arthur Vianna, ambas localizadas na cidade de Belém, PA, contexto no qual buscamos responder à questão norteadora, que é: como a competência em informação e o protagonismo se manifestam em bibliotecários que atuam em bibliotecas públicas na cidade de Belém, estado do Pará?
Nesse sentido, o artigo tem como objetivo geral analisar a relação entre a competência em informação e o protagonismo social dos bibliotecários em seu papel como agentes de transformação social. Como objetivos específicos: a) descrever como as bibliotecas públicas fomentam atividades para o desenvolvimento de competências em informação; b) identificar o protagonismo social dos bibliotecários; c) explorar os desafios enfrentados pelos bibliotecários na aplicação das competências em informação.
O texto está estruturado em cinco seções, a saber: a primeira, composta pela presente introdução e apresentação dos objetivos, da questão de pesquisa, bem como da justificativa; Na segunda seção abordamos uma discussão teórica sobre a CoInfo e o protagonismo social dos bibliotecários; na terceira seção, apresentamos a metodologia utilizada na pesquisa, evidenciando os procedimentos de coleta, do tratamento e de representação das informações; na seção quatro realizamos a apresentação e discussão dos resultados; e por fim, a seção cinco contém as considerações finais da pesquisa.
2 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO E O PROTAGONISMO SOCIAL DOS BIBLIOTECÁRIOS
O americano Paul Zurkowski, em um relatório intitulado The information service environment relationships and priorities, escreveu sobre o termo “information literacy”, sendo esse o primeiro registro do termo publicado na literatura em 1974.
Nossa intenção não é adentrar no debate terminológico, mas sinalizamos a adoção do termo “competência em informação”, consolidado em 2011 em um seminário realizado no XXIV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, na cidade de Maceió, Alagoas, e registrado no documento resultante do evento (Furtado; Belluzzo; Vitorino, 2019, p.77).
Bezerra, Schneider e Saldanha (2019) destacam que a história da evolução da competência no uso de serviços e sistemas bibliográficos, posteriormente concentrada na "informação", na American Library Association (ALA), está intrinsecamente ligada ao conceito de biblioteca pública, suas tecnologias e sua práxis. Eles enfatizam que o ano crucial para compreender essa construção é o de 1876, o ano de fundação da Associação, evidenciando um contexto que revela a formação de uma instituição de vasta importância, marcada pela integração de práticas que já estavam em desenvolvimento no território estadunidense desde as décadas anteriores, sobretudo a partir da metade do século XIX.
Alguns marcos teóricos da CoInfo no Brasil são destacados por Vitorino e Piantola (2020), como exemplo, os artigos de Bernadete Campello e de Elisabeth Dudziak, ambos de 2003. Para as autoras, a ampliação de estudos nesta temática evidencia sua importância, tanto a nível internacional quanto nacional, visto que são necessários para compreensão das nuances da CoInfo. Para Dudziak (2001), os estudos de educação de usuários desenvolvidos por bibliotecários são os precursores do information literacy no Brasil.
É fundamental ressaltar a responsabilidade social da biblioteca pública, dos bibliotecários que trabalham nela e a importância das atividades informacionais e culturais desenvolvidas em colaboração com as comunidades e seus usuários. Essas ações visam possibilitar que eles usufruam dos benefícios resultantes do uso eficaz e crítico da informação, o que se torna uma habilidade necessária para a inclusão social dos cidadãos contemporâneos.
Almeida, Farias e Farias (2020), ressaltam que as atividades que ocorrem na biblioteca são influenciadas pelo bibliotecário e sua atuação como sujeito protagonista em torno da comunidade que está inserido. Isso envolve ações de mediação, a priorização de agendas de interesse coletivo e a representação das demandas e interesses sociais.
No contexto do advento da internet, Righetto, Vitorino e Muriel-Torrado (2018) consideram a nova configuração social em que a informação é disseminada de forma imediata e fragmentada e alertam para a necessidade de adaptação para o uso responsável da informação. Além de apenas dominar a tecnologia, o ponto chave é saber como lidar, humanizar e compreender as diferenças.
Para Fonseca (2021), é importante compreender que programas para ensino aprendizagem que têm como foco o acesso e uso da informação através dos recursos digitais é que possibilita construção de conhecimento aos usuários no enfrentamento da realidade. A referida autora afirma: “espera-se que os cidadãos exerçam o seu papel de modo efetivo, assertivo e democrático, participando ativamente como sujeitos históricos e sociais no atual cenário e que possam contribuir e inspirar para o desenvolvimento das gerações futuras” (Fonseca, 2021, p. 60).
Destarte, compreendemos, corroborando com estudo de Gomes (2019), que o protagonismo implica em tomar uma posição firme, pois os protagonistas lideram, enfrentam obstáculos que possam ameaçar o coletivo, e se envolvem em conflitos pela construção de um mundo voltado para o bem comum.
O manifesto da IFLA-Unesco de 2022 proclama o papel essencial que a biblioteca pública tem nesse contexto de formação de cidadãos numa sociedade justa para todos, com desenvolvimento sustentável e justiça social. O manifesto afirma que a biblioteca pública “é um componente essencial das sociedades do conhecimento, adaptando-se continuamente a novos meios de comunicação para cumprir sua função de fornecer acesso universal a informações e permitir que todas as pessoas possam fazer uso significativo da informação” (IFLA, 2022).
A biblioteca pública, como um portal local ao conhecimento, oferece as condições básicas para a aprendizagem contínua, a autonomia na tomada de decisão e o enriquecimento cultural tanto de indivíduos quanto de comunidades. Ela é um pilar fundamental para sociedades saudáveis fundamentadas no conhecimento, facilitando o acesso e permitindo o compartilhamento de uma ampla gama de conhecimento, tanto científico quanto regional, sem quaisquer barreiras comerciais, tecnológicas ou legais (IFLA, 2022).
Vitorino e Spudeit (2023), em seu estudo mais recente “Diretrizes para o desenvolvimento da competência em informação para bibliotecas públicas com foco nas pessoas em situação de rua” destacam que seja possível preparar as equipes de bibliotecas públicas para idealizar programas de CoInfo direcionados para esse público. Assim, neste artigo, discutimos a relação entre as ações de competência em informação e como o protagonismo social dos bibliotecários têm feito diferença na promoção dessas atividades.
2.1 Competência em informação, bibliotecários protagonistas sociais e bibliotecas públicas
Coadunamos nessa pesquisa com o conceito de biblioteca Pública como equipamento cultural e também equipamento informacional conforme Almeida Junior (2021); bem como com o texto de Romero-Sanchés, Gómes-Hernández e Hernández-Pedreño (2019) que abordam sobre o papel social das bibliotecas públicas; e, Dudziak (2003) que discute a respeito da CoInfo numa perspectiva conceitual; e Gomes (2017) quando aponta e discute acerca do papel do bibliotecário protagonista Social.
As bibliotecas tendem a se tornar centros de referência, um papel que, segundo Almeida Júnior (1997) já deveria caber à biblioteca pública, devem estar abertas para fornecer informação utilitária para a sociedade, ou seja, um centro de acolhimento que fornece informações sobre emprego, saúde, cultura, lazer, dentre inúmeras necessidades existentes no cotidiano das pessoas. Acreditamos que o cenário tenha mudado bastante desde a década de 90, mas entendemos que ainda seja necessário ressaltar o caráter metafórico das bibliotecas públicas como espaços do movimento do conhecimento, assim como defendia Latour (2006).
A relação entre a competência em informação, a biblioteca pública e a atuação dos bibliotecários protagonistas englobam uma combinação entre conhecimentos, habilidades e práticas em um contexto social, visto que esse profissional atua em vários segmentos onde demanda informação, cultura e lazer.
Neste sentido, relacionamos os três elementos centrais do nosso estudo, no quadro 1, de maneira que extraímos destes algumas das características das três temáticas para uma análise da importância delas no contexto da biblioteca pública. Elencamos, no quadro a seguir, alguns pontos relevantes da atuação de bibliotecários em bibliotecas públicas na implementação de uma educação voltada para a CoInfo, uma área que possui aplicações em diferentes ambiências sociais.
A biblioteca pública é em sua essência “social” e aberta a todas as pessoas da comunidade que está inserida, e seu principal objetivo é facilitar um direito universal básico, o acesso à informação (Romero-Sanchés; Gómes-Hernández; Hernández-Pedreño, 2019).
Essas funções são essenciais tanto para as bibliotecas públicas, que atuam como centros de acesso à informação, quanto para os bibliotecários protagonistas, que são os mediadores do processo de competência em informação dos usuários. O indivíduo competente em informação possui capacidade para aprimorar o pensamento crítico e analítico das pessoas em relação ao universo informacional (Belluzzo; Santos; Almeida Júnior, 2014).
A CoInfo é identificada na atuação do bibliotecário como agente fundamental para a interlocução com a comunidade, para o contato com a informação e, consequentemente, para o estabelecimento de relações pessoais, profissionais e afetivas na biblioteca. A biblioteca pública possui um espaço dinâmico e potencializador da atuação protagonista que demanda constante aprendizado devido às transformações sociais que permeiam esse ambiente informacional.
3 METODOLOGIA
A pesquisa caracteriza-se como exploratória, descritiva e de natureza bibliográfica. Como método, adota a pesquisa de campo, que é aquela em que se objetiva obter informações para solucionar um problema com o propósito de descobrir novos fenômenos ou a relação entre eles (Marconi; Lakatos, 2017). A técnica de coleta de dados empregada foi a entrevista semiestruturada. O percurso metodológico foi constituído pelas seguintes etapas:
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a) pesquisa documental e revisão bibliográfica;
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b) roteiro da entrevista;
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c) coleta de dados;
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d) transcrição das respostas e análise e interpretação dos dados.
Para conduzir bem as entrevistas, os pesquisadores antecipadamente buscaram informações nos sites das instituições, essa estratégia fez com que no momento das perguntas fosse possível identificar se as informações publicadas estavam desatualizadas, como por exemplo, projetos que não acontecem atualmente e outras ações significativas não tinham sidos divulgadas na página oficial, que só tivemos conhecimento por meio das falas das entrevistadas.
O universo da pesquisa são as bibliotecas públicas da região Norte do Brasil e como lócus da pesquisa, duas bibliotecas públicas de Belém/PA:
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A Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha (BPMAR), foi criada em 21 de julho de 1972. É um Departamento da Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL), vinculada à Prefeitura Municipal de Belém. Localizada no Distrito de Icoaraci, cerca de 20 km do centro da cidade, atende um público de diversos bairros próximos e os que residem nas áreas ribeirinhas, às margens da Baía do Guajará e dos rios Pará e Paracuri (Biblioteca, 2023). Localizada no Distrito de Icoaraci (endereço: R. Siqueira Mendes, n. 607-705 - Bairro: Cruzeiro, Icoaraci - Chalé Tavares Cardoso).
A Biblioteca Pública Estadual Arthur Vianna é vinculada à Diretoria de Leitura e Informação, da Fundação Cultural do Pará (FCP) e atualmente coordena outras três bibliotecas: Casa das Artes, Casa da Linguagem e Curro Velho, além das nove bibliotecas localizadas nas Usinas da Paz. A biblioteca centenária funciona no prédio da FCP, com os seguintes setores: circulante e referência, obras do Pará, Braille, infocentro e reprografia, hemeroteca e recorte de jornais, brinquedoteca, infantil, fonoteca, audiovisual, gibiteca, obras raras e núcleo cultural (Biblioteca, 2023). Está ligada à Diretoria de Leitura e Informação, a qual coordena o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais, através de uma secretaria específica, abrangendo todos os municípios paraenses, localizada no município de Belém (endereço: Av. Gentil Bittencourt, n.650, Bairro: Nazaré - 2° e 3° andar do prédio).
Também foi realizada entrevista com os bibliotecários para conhecer o funcionamento do espaço onde trabalham, missão, pontos fortes e fracos, público e atividades realizadas, na qual foram aplicadas questões abertas para que os profissionais bibliotecários pudessem responder livremente, sendo anotado o que foi declarado.
As entrevistas se deram de acordo com horários agendados, sendo que, devido ao período de férias escolares, não foi possível entrevistar todos os bibliotecários que se esperava.
O critério para seleção de pessoas entrevistadas se deu pelo fato de ocuparem o cargo de bibliotecários nas bibliotecas públicas aqui estudadas, ou seja, uma população homogênea composta por profissionais especializados. Creswell (2007) afirma que o investigador se dirige, intencionalmente, a grupos e elementos dos quais deseja saber opiniões, a interpretação pessoal dos resultados das averiguações, todas constituem subsídios aos procedimentos qualitativos.
Quanto ao roteiro semiestruturado da entrevista, constitui-se de onze perguntas relativas à biblioteca que atuam, os projetos, as parcerias, sobre o perfil e as necessidades dos usuários que frequentam o espaço, e sobre o dinamismo da atuação do bibliotecário em seu dia a dia.
As entrevistas ocorreram no período de 26 de julho a 01 de agosto de 2023 e foram gravadas em áudio, mediante autorização das participantes e posteriormente transcritas de forma que se pudesse indicar os trechos mais relevantes para análise dos dados, seguindo-se os objetivos da pesquisa. Tais trechos foram organizados e apresentados, juntamente com as análises na seção a seguir. Ressaltamos que para preservar a identidade dos participantes, eles estão mencionados no texto como entrevistados: E1, E2, E3 e E4.
4 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO
Das pessoas entrevistadas todas eram do gênero feminino, acima de 40 anos de idade, sendo a mais experiente, formada há mais de 40 anos, atuando em bibliotecas.
Inicialmente buscamos entender sobre o funcionamento da biblioteca, os pontos fortes e fracos, as características do público que frequenta e atividades gerais realizadas na biblioteca.
No que se refere aos projetos de leitura e ação cultural que são desenvolvidos nas bibliotecas, no quadro 2 a seguir são incluídos apenas os projetos em vigência.
Nessa linha reflexiva, identificamos que a biblioteca pública tem o papel de propiciar e desenvolver uma dinâmica cultural, trabalhando com as pessoas. Percebemos que há projetos diversos nas bibliotecas estudadas, e que há uma preocupação das bibliotecárias em realizar projetos que desenvolvam a CoInfo, destacando o projeto “Literatura para gente miúda” da Biblioteca Arthur Vianna, que além de ter o objetivo de trabalhar o gosto pela leitura nas crianças de forma lúdica, tem a preocupação em desenvolver o lado cultural dessas crianças apresentando escritores e obras brasileiras aos pequenos.
Identificamos também na fala das bibliotecárias dificuldade de colocar alguns projetos na prática devido à falta de orçamento. No caso da Avertano Rocha, um dos projetos que não está na ativa é o “Tô na Rede”, devido à falta de conexão de internet na biblioteca, que já foi informada à prefeitura de Belém, mas o problema ainda não foi solucionado. No caso da Biblioteca Arthur Vianna, há um projeto novo que está sendo desenvolvido em vista da COP 30 (Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas) que será realizada em Belém em 2025, um projeto alertando as pessoas sobre o cuidado com o meio ambiente e informando sobre o que é o evento e como ele pode trazer novos olhares à Amazônia.
As ações culturais são planejadas em parceria com a comunidade, de acordo com as demandas, levando-se em consideração sua realidade cotidiana, com a participação de escolas, centro comunitários, bibliotecas comunitárias, artistas, escritores, mestres de cultura, artesãos, comunidades das áreas ribeirinhas, moradores em situação de rua, pessoas em tratamento psicossocial e a comunidade do entorno da Biblioteca com objetivo de contribuir para os processos de inclusão social por meio de práticas de acesso à leitura, a cultura, a arte e a informação (Santos, 2017).
De acordo com Almeida Júnior (2017, p.51):
a ação cultural trabalha com a proposta de elevar o sujeito à qualidade de norte, de objetivo, de protagonista. Todos os trabalhos desenvolvidos têm como objetivo permitir que o sujeito se construa, que o sujeito, a partir das atividades propostas e implantadas, se construa como ser; que o sujeito seja um produtor cultural e não um mero consumidor ou que receba e aceite, passivamente, o que os agentes culturais - neste caso, os bibliotecários - desejam que ele se aproprie.
Sendo assim, busca-se o entendimento de que o indivíduo que participa de ações culturais desenvolvidas pelas bibliotecas seja o foco das atividades e se desenvolva como ser humano protagonista de sua história, abstraindo conhecimento e se empoderando como criador e participante ativo da cultural, não apenas expectador.
No quadro 3, embora o uso de materiais digitais tenha aumentado, ainda sim as bibliotecas públicas possuem um público assíduo de forma presencial, a seguir o perfil dos frequentadores:
Foi citado por uma das bibliotecárias que atende alguns jovens com interesse em assuntos mais específicos, como holocausto, interessados com a história, ela disse que conversa e explica, além de indicar livros sobre o assunto. Também costuma atender idosos que são trazidos por familiares para conhecer a biblioteca. No caso dessa biblioteca, há parcerias com o Centro Pop, que participa inclusive das atividades culturais da biblioteca. Na Arthur Vianna, no mês em que a coleta foi realizada, devido ao período de férias escolares, houve bastante participação de pais com seus filhos nos setores infantil, brinquedoteca e fonoteca.
A biblioteca pública é um espaço para todos, conforme o Manifesto da IFLA (2022) afirma: “As bibliotecas são geradoras de comunidades, buscando proativamente novos públicos e utilizando uma escuta eficaz para apoiar o desenvolvimento de serviços que atendam às necessidades locais e contribuam para a melhoria da qualidade de vida” (IFLA, 2022). Os discursos evidenciam que as bibliotecas Arthur Vianna e Avertano Rocha, recebem a todos que as procuram e buscam ser um local não somente para estudo, mas também para socialização desses usuários.
A partir do que nos foi respondido quanto às instalações físicas, identificamos que as bibliotecas atendem os seus usuários, inclusive na visita realizada nos espaços observamos ambientes limpos, confortáveis, com acervo acessível aos usuários, exceto em alguns casos específicos de alguns setores na Arthur Vianna, como a Fonoteca, por exemplo, que o acervo é de acesso fechado, acreditamos que seria ideal ter um maior espaço para que usuário pudesse manusear e escolher os discos. A seção tem um espaço limitado, porém aconchegante para escutar as músicas nos discos de vinil e CD. A bibliotecária comentou sobre a aproximação e o respeito com esses usuários e que as estantes precisam ser adequadas e que ela vislumbra o acervo aberto ao público. Apesar disso, as bibliotecárias entendem que há melhorias a serem realizadas e que sempre é possível melhorar algum serviço, inclusive o acervo que precisa ser mais atualizado, sendo uma das grandes solicitações dos usuários na Arthur Vianna identificada através dos formulários de pesquisa que a biblioteca possui.
Sendo a biblioteca pública um espaço que deve estar preparado para receber a todos, sem limitações, a partir das respostas dos participantes, compreendemos que há a preocupação das bibliotecas em estarem aptas para tal recebimento, e não apenas levando em consideração a acessibilidade física dos usuários, mas também a preocupação que o acervo esteja acessível e seja atual. Nesse contexto, ainda citando o Manifesto da Biblioteca Pública (IFLA, 2022) sustenta a necessidade de oferecer serviços e materiais específicos aos usuários, que por alguma razão não possam usar os materiais regulares, garantindo a igualdade de acesso nos serviços prestados pelas bibliotecas. Os sujeitos da pesquisa destacaram o fato de ainda precisar melhorar alguns aspectos.
A partir das respostas, inferimos a importância da biblioteca pública em manter diálogo com demais órgãos, entidades etc. para parcerias que possam beneficiar a comunidade. Identificamos, no caso da Biblioteca Avertano Rocha, que ela disponibiliza um espaço para que imigrantes venezuelanos possam se encontrar, conversar e reivindicar mudanças para a melhoria de vida. Numa busca pela internet, recuperamos também que em 2021 aconteceu na biblioteca um curso de artesanato para mulheres venezuelanas refugiadas com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva do artesanato, o curso é do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) (Santos, 2021).
Na Biblioteca Arthur Vianna, desde 2019 estão trabalhando em prol de projetos que são articulados entre os setores da biblioteca e o Núcleo Cultural, responsável pelo acompanhamento e monitoramento das atividades. Tais atividades são decididas coletivamente pelos bibliotecários, sua equipe e com o apoio do núcleo cultural. Além desses projetos da própria biblioteca, também há programações em parcerias, pois a biblioteca possui um auditório que é cedido para diversos eventos de outras instituições. A parceria acontece por meio de contato com a instituição que organizará a atividade (reuniões, palestras, seminários e outros) com a premissa de que o evento ali realizado não seja cobrado taxa dos seus participantes, pois a biblioteca entende que não haverá custo do evento realizado em seu espaço, são muitas vezes eventos da área da cultura e educação, por exemplo. Ressaltamos também que há parcerias no sentido de serviço também, por exemplo, a biblioteca está digitalizando todas as coleções de leis que estão no espaço pertencentes ao Arquivo Público do Estado do Pará para fazer parte do acervo digital das duas instituições. Outra parceria que está sendo articulada é com a Wikipédia para atualização dos dados da biblioteca Arthur Vianna na plataforma. Uma das bibliotecárias destacou o alcance que a biblioteca vem tendo a partir das redes sociais oficiais, com 5.000 (cinco mil) seguidores no Instagram e Facebook.
A biblioteca pública não está inerte aos interesses dos usuários, constatamos que as decisões são tomadas no coletivo, com a oportunidade à manifestação e participação da comunidade a quem serve, assim como a sugestões são levadas em consideração para oferecer um melhor serviço a todos.
O quadro 6 traz questões relativas às equipes que atuam nas bibliotecas.
Na Arthur Vianna está acontecendo uma atualização do manual de rotina dos setores, pois se entende que continuamente os processos precisam ser verificados para melhor execução das atividades. Segundo uma das entrevistadas, esse manual não é rígido, apenas orienta os técnicos, estagiários e extensionistas para que todos possam trabalhar da melhor maneira, mas sem rigidez, alcançando o objetivo de um atendimento completo aos usuários.
Apesar da mudança ocorrida nos últimos anos, o panorama de profissionais que atuam nas equipes da biblioteca pública é diversificado quanto à formação. Assim, como requer dos bibliotecários o desenvolvimento de uma formação continuada, não apenas a recebida durante o curso de graduação, além de compartilhar informações e experiências de outros profissionais, é importante manter o contato com outras áreas, além do gerenciamento da equipe de maneira harmoniosa.
No quadro 7, destacamos os desafios com relação à equipe das bibliotecas.
O desafio que identificamos nas falas das bibliotecárias, não somente nesta pergunta em específico, é a questão de orçamento. No caso das duas bibliotecas, as falas demonstraram essa dificuldade, uma das bibliotecárias entrevistadas falou “Tem muitos (desafios), a gente já conseguiu superar alguns, mas o grande desafio, a dificuldade é a questão orçamentária. A gente sabe tudo o que precisa, o ideal não existe, mas pelo menos se aproxima de coisas mais palpáveis”.
Nas duas bibliotecas existem solicitações aos setores responsáveis pela melhoria da conexão da internet aos usuários, troca de equipamentos danificados, e a necessidade de contratação de novos funcionários, mostrando a busca de solução dos problemas por parte das bibliotecárias e algumas mudanças já foram possíveis a partir dessas reivindicações. A biblioteca Arthur Vianna passou por um processo de modernização de mobiliário que melhorou a estrutura da biblioteca como um todo e trouxe mais conforto aos usuários.
Dentre as situações relatadas quanto aos desafios enfrentados, estão a quantidade insuficiente de pessoas para desenvolver o trabalho e as condições financeiras. Novamente, ressaltamos que a falta de orçamento é um dos maiores desafios enfrentados. Inferimos, assim, que embora a biblioteca esteja ligada a necessidade de aquisição de livros atualizados, faz outras considerações a respeito de todo o conjunto de necessidades que as bibliotecas públicas possuem, e que o processo é muitas vezes demorado, mas a busca por melhorias é constante.
Sinalizamos também que há carência de profissionais de Biblioteconomia nas duas instituições que há algum tempo não tem realização de concursos públicos. A contratação de mais bibliotecários pode amenizar esse problema, pois, a atuação desse profissional deve estar voltada para os interesses dos usuários, alterando aquela antiga imagem de atitude passiva da biblioteca pública.
Já no quadro 8, concentramos as necessidades informacionais que os usuários mais buscam nas bibliotecas.
Os resultados demonstraram que em uma das bibliotecas o acesso à internet é essencial, conforme o E1, conexão com qualidade (boa velocidade). Portanto, se a biblioteca pública ficar à margem, tende a ser desimportante para os jovens que são os que mais demandam reclamações sobre esse aspecto.
Na percepção do E4, outras demandas também foram indicadas, como o de estar no espaço aconchegante para ler, para se socializar e interagir com outras pessoas, para atender uma necessidade pessoal, como por exemplo, a impressão de um currículo, ou até mesmo como ter acesso ou indicação de contatos de um bom profissional para uma consulta médica (na seção de braille), também para assistir filmes, ouvir músicas e outras atividades. Por meio das respostas fornecidas, percebemos que as duas bibliotecas públicas têm também preocupação em satisfazer as necessidades informacionais, a biblioteca pública é um espaço de convivência, de lazer, de compartilhamento de ideias e experiências, de cultura e de conhecimento.
Os entrevistados foram questionados ainda acerca de quais ações desenvolvidas pela biblioteca e que contribuem para o desenvolvimento do aprendizado contínuo dos usuários. As respostas apresentadas no quadro 9:
Na leitura das respostas das bibliotecárias identificamos alguns aspectos de formação aos usuários, conforme apresentado no quadro 9. Na biblioteca Avertano Rocha não há um projeto em específico, mas todos os usuários recebem as orientações com relação à biblioteca no momento que adentram ao espaço. O discurso E2, refere-se ao setor Braille, da Biblioteca Arthur Vianna, aqui evidenciamos a preocupação em orientar os usuários cegos com relação à busca de direitos sociais e a biblioteca se coloca à disposição para tais orientações. Ainda na Arthur Vianna é oferecido aos usuários capacitação na área tecnológica, com a parceria da SECTET.
No quadro 10 trouxemos as concepções das bibliotecárias entrevistadas com relação a contribuição que a biblioteca oferece para o desenvolvimento da CoInfo nos seus usuários.
Enfatizamos, como já afirmado anteriormente, a necessidade do entendimento sobre a CoInfo como um processo contínuo, como uma autonomia de decidir e satisfazer as suas principais necessidades, dentre elas, as necessidades de educação e do trabalho. Isso fica evidenciado nas três falas apresentadas (a entrevistada E3 optou por não responder esta pergunta).
Por fim, para garantir uma compreensão abrangente do conceito de Bibliotecário Protagonista, optamos por realizar a leitura da definição de Farias e Varela (2018) aos participantes com o intuito de esclarecimento do conceito e considerando o tempo de formação deles, algumas com mais de 40 anos de experiência profissional.
As autoras Farias e Varela (2018) entendem que ser um Bibliotecário Protagonista implica ter coragem e decisão para expressar ideias e desejos, mantendo e expandindo sua identidade cultural. Para tanto, é necessário compreender a realidade social e as relações que a moldam, para si e para os usuários. Isso exige conhecimento aprofundado de sua área, especialização e consciência do contexto social. Ao se tornar protagonista, o bibliotecário também promove o protagonismo dos usuários, incentivando a ideia de alteridade e o cuidado com o outro.
Neste contexto, perguntamos aos entrevistados se eles se reconhecem como protagonistas no que fazem e o que poderiam acrescentar a esse conceito de bibliotecário protagonista.
De acordo com o quadro 11 e nas percepções dos E1, E3 e E4, e conforme demonstrado, foi unânime entre os entrevistados que na visão deles se veem como protagonistas.
Tal protagonismo está intrinsecamente ligado ao exercício da cidadania em todas as esferas (individual, grupal e social), e sua finalidade não é dominar, competir ou disputar por interesses individuais, mas sim defender questões que impactam os indivíduos em sua comunidade (Almeida; Farias; Farias, 2020).
Observamos na fala da entrevistada E2 a afirmação de que os bibliotecários são mediadores. Reforça assim a ideia de Gomes (2019) sobre a mediação da informação e o protagonismo social que acontece por meio do processo dialógico, em que é possível promover a aproximação entre agentes e dispositivos de informação, destacando a condição de protagonista do agente mediador. Este age, constrói e interfere no meio, carregando consigo a característica de protagonista social, contribuindo para a estética, ética e produção humanizadora do mundo. Dessa forma, o mediador da informação é caracterizado como um agente político.
Perrotti (2017) afirma que o termo protagonismo originalmente indica um lugar em uma ordem, e que foi ganhando novos significados, algo visível, exposto e explicitado. O protagonismo no espaço público, em território relacional, implica em interesses que, ao serem de todos, não são de ninguém em especial. Significa também resistência, combate, enfrentamentos produzidos pelo mundo físico e/ou social e que afetam todos.
Para Gomes (2017, p.28), o sujeito que atua em ambientes informacionais “[...] se caracteriza como sujeito da ação protagonista, tanto porque apoia toda essa dinâmica, quanto porque sua própria ação interfere nesse processo”. Assim, os bibliotecários, alvos desta pesquisa, demonstraram através de suas experiências, conhecer o ambiente informacional que trabalham e os usuários que atendem, e buscam, através do seu fazer profissional, aliar projetos para desenvolver a comunidade ao entorno dessas bibliotecas.
As bibliotecas públicas enfrentam muitos desafios, a redução de pessoal é um deles, e apesar disso, as bibliotecas continuam a fortalecer as suas comunidades, trabalhando em rede para garantir que todas as pessoas tenham acesso aos recursos necessários para aprendizagem, que possam desenvolver a CoInfo e muito mais.
No desenvolvimento da CoInfo nos usuários, os bibliotecários protagonistas sociais são grandes aliados diante das circunstâncias desafiadoras. Essas características ajudarão as bibliotecas públicas a desempenhar um papel ativo, desenvolvendo a capacidade de resposta à sociedade.
5 CONCLUSÃO
Iniciamos esta pesquisa conscientes de que biblioteca pública, por sua função social e a sua aproximação com a comunidade, possui um diferencial em relação aos outros tipos de biblioteca. A postura diferenciada dos bibliotecários que atuam nelas, quanto a uma sensibilidade relativa à sua função social, é bem evidente, assim como sua condição de protagonismo está muito mais presente do que se imaginava. Percebemos o quanto as entrevistadas valorizam a informação, independente do suporte, como o que há de mais valioso para ofertar ao seu público.
Outra percepção, no decorrer das entrevistas, foi de que, apesar de todas as entrevistadas já terem algum tempo de formação em Biblioteconomia e atuarem há muito tempo no serviço público, não foi identificado desânimo no seu fazer profissional. Elas entendem a importância do papel social que a biblioteca possui e a necessidade de uma postura firme diante dos desafios do cotidiano, além de buscarem atuar com projetos para maior participação dos usuários.
Ficou demonstrada a preocupação das bibliotecas Avertano Rocha e Arthur Vianna em oferecer um ambiente agradável, atendimento de qualidade, acervo atualizado e acessível, além da realização de projetos nas duas bibliotecas estudadas. Todas as entrevistadas manifestaram interesse contínuo em se manterem atualizadas por meio de eventos da área, parceria com outros profissionais, o que indica que reconhecem a importância do aprimoramento profissional e da educação continuada.
Outro ponto a destacar diz respeito a insatisfação das bibliotecárias frente aos desafios que enfrentam, principalmente no quesito orçamentário. Como trabalham em órgãos públicos, muito do investimento realizado nas bibliotecas depende do orçamento que a biblioteca recebe. Apesar de, em alguns casos, não ser possível reparar equipamentos que se deterioram ou resolver a questão da internet lenta, problemas como estes não se resolvem tão facilmente, mas percebemos que o trabalho continua sendo realizado e elas buscam mudanças por meio de conversas e solicitações aos setores responsáveis.
Vale observar que a questão do orçamento se revela na dificuldade em resolver problemas cotidianos, mas em geral não recebe a devida atenção como peça de planejamento e a dificuldade decorre que a manutenção e outras despesas necessárias sequer constavam do orçamento da organização.
Entendemos que o estudo alcançou os seus objetivos e foi possível relacionar as ações realizadas nas bibliotecas e a postura de bibliotecários protagonistas frente aos desafios enfrentados. Constatamos que o viés social da biblioteca pública está sendo efetivamente realizado e que os profissionais que ali trabalham desenvolvem seu ofício de maneira eficaz, com foco nos usuários que demandam seus serviços, além da responsabilidade individual de se manterem atualizados e dispostos a novos aprendizados pautados na melhor execução de suas atividades.
Observamos que há a necessidade de desenvolver melhor as competências necessárias das bibliotecas públicas estudadas neste artigo, visto que sua atuação vai além de ações culturais, é primordial promover o acolhimento do público em situação de rua, assim como a sua inclusão. Identificamos limitações e fragilidades no que diz respeito a garantias de acesso, mas identificamos também bibliotecários persistentes em mudar a realidade.
Uma reflexão em perspectiva mais ampla é que possivelmente os maiores problemas relacionados ao acesso à informação e ao desenvolvimento da CoInfo não decorrem da falta de competência técnica ou do comprometimento social dos bibliotecários nas bibliotecas públicas, mas da insuficiência dessas instituições, notadamente na periferia dos grandes centros.
Não se trata de tarefa individual ou mesmo da causa de uma categoria, mas seria louvável que bibliotecários buscassem exercer protagonismos também no mundo da política, em sentido mais amplo, em vista de pudessem influenciar na definição de políticas públicas de acesso à informação, leitura, livros, bibliotecas em vista do incremento desse campo, mas sobretudo em vista de como ele pode contribuir no desenvolvimento das pessoas, das comunidades, da sociedade.
Portanto, as bibliotecas públicas são consideradas espaços vivos para acesso ao conhecimento e a cultura, pois acredita-se que isso possibilita a construção de uma consciência crítica, a democratização da informação e o exercício da cidadania.
Reconhecimentos:
Não aplicável.
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Disponibilidade de dados
Não aplicável.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
03 Fev 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
17 Maio 2024 -
Aceito
22 Nov 2024 -
Publicado
22 Nov 2024




