Bibliotecas híbridas e o desenvolvimento das sociedades

RESUMO

Introdução:

Mudanças distintivas e fundamentais ocorridas nas bibliotecas ao longo do tempo refletem na nomenclatura utilizada para se referir às suas características. Defende-se a tese de que o paradigma da hibridez para bibliotecas se estagnou na década de 90, diante da aplicabilidade da tecnologia, contudo a gestão atual não se detém neste fator, mas na proximidade existente com as suas comunidades.

Objetivo:

Acompanhar a trajetória sociocultural do conceito de biblioteca híbrida, embasada na análise discursiva das novas perspectivas de existência de um contributo social, a fim de propor um conceito que integre a formação da complexidade, conhecimento e inovação.

Metodolgia:

Pesquisa qualitativa, explicativa e exploratória, de caráter teórico-epistemológico. O método utilizado foi a Análise do Discurso Multimodal. Como ferramentas de coleta de dados, utilizou-se do rigor da Pesquisa Bibliográfica, para a coleta em bases de dados específicas e correlatas à área da Ciência da Informação, e a Pesquisa de Campo, para coletar dados em bibliotecas híbridas do Estado do Missouri/EUA.

Resultados:

Foi possível identificar que a hibridez deve ser compreendida para além de sua estrutura física, como fator de representatividade para o desenvolvimento de comunidades. O conceito de hibridez se insere no contexto das organizações sistêmicas, pressupondo um ambiente de atuação aberto e de junções administrativas, conjecturando espaços informacionais micro e macro.

Conclusão:

A hibridez confere novos modos de se utilizar a tecnologia em favor da constituição de um coletivo inteligente, abrangendo redes complexas de saberes, que podem se unir e trazer diferentes olhares para as bibliotecas.

PALAVRAS-CHAVE
Hibridez em bibliotecas; Conceito de biblioteca híbrida; Desenvolvimento social.

ABSTRACT

Introduction:

The distinctive and fundamental libraries’ properties are changed over time, and some of these changes reflected in the nomenclature used to refer to the characteristics of the libraries. This is the case of the traditional and hybrid libraries. This research defends the thesis that hybridity paradigm for libraries stagnated in the 1990s, however, the library management changed, because of their communities’ needs.

Objective:

It aimed to follow the sociocultural trajectory of the concept of hybrid library.

Methodology:

The study is qualitative, exploratory, and carried out a theoretical-epistemological and field research. It used the Multimodal Discourse Analysis as research method. The Bibliographic Research was used as a tool to collect data in specific and related Information Science databases. The Field Research was used as a tool to collect data in hybrid library environments placed in the State of Missouri, United States of America.

Results:

As partial results, was possible to identify that hybridity should be understood beyond its physical infrastructure, as a representative factor to develop communities. The concept of hybridity is inserted in the context of systemic organizations, presupposing an open environment action and administrative junctions, conjecturing micro and macro informational spaces.

Conclusion:

The hybridity promotes ways to use technology in favor of a collective intelligence, approaching knowledge networks, which can bring new perspectives to the libraries.

KEYWORDS
Hibridity in libraries; Concept of hybrid library; Social development.

1 INTRODUÇÃO

O contexto de se discutir hibridez em bibliotecas parece estar cada vez mais necessário em nossos dias, entretanto, o conceito disponibilizado na literatura da área da Ciência da Informação parece que ficou estagnado há mais de trinta anos atrás, na década de 1990. Por outro lado, as bibliotecas procuram na atualidade realizar uma gestão voltada às suas comunidades, com possibilidades de aproximação e atendimento das necessidades que emergem em prol de melhorias para o âmbito sociocultural das regiões. Neste enfoque, as bibliotecas híbridas se desdobrariam em políticas que muito contribuiriam com a gestão pública local, testificando uma convergência de elementos estruturais, tanto no micro quanto no macro ambiente. Desse modo, nesse crescente e importante constructo entre bibliotecas e suas comunidades, torna-se imprescindível a busca por um conceito inovador no que diz respeito à hibridez e suas ações, que podem impactar o desenvolvimento humano e institucional.

Portanto, este estudo partiu da premissa de que, ao se olhar para a complexidade presente na sociedade, isso impactaria diretamente a realidade da gestão híbrida em bibliotecas e inovar poderia ser uma resposta para a inserção plena das unidades informacionais no centro de suas comunidades. Assim, a identificação de novos conceitos no tangente à hibridez, poderia ser um importante passo a ser constituído no reconhecimento das bibliotecas no cotidiano das suas localidades.

Anteriormente, o conceito de hibridez em bibliotecas dava-se pela implementação de tecnologias no ambiente interno dessas unidades de informação. Atualmente, é difícil encontrar uma biblioteca totalmente tradicional que não tenha pelo menos um computador e, partindo-se da ideia de que a biblioteca híbrida advém da convergência de tecnologias, seria difícil não colocarmos então o termo para a maioria das bibliotecas. Mas, no momento da elaboração do conceito de biblioteca híbrida, essa não era uma realidade. Enseja-se então, que um conceito proposto há mais de trinta anos para as bibliotecas híbridas deveria ser acompanhado para revisar características inovadoras com propostas de ação complexas e que integrem a gestão local, o ambiente, a comunidade e suas estruturas sociopolíticas culturais.

Para tanto, o objetivo do estudo foi o de apresentar um conceito que acompanhe a trajetória sociocultural das bibliotecas híbridas, embasada na análise discursiva das novas perspectivas de existência de um contributo social que integre tanto a formação da complexidade, como as inovações presentes na atual sociedade. Buscou-se então, discutir não somente o envolvimento das tecnologias em bibliotecas (como parece ser o senso comum da hibridez nesse âmbito), mas também a maneira pela qual a biblioteca híbrida poderia contribuir para o desenvolvimento de comunidades, a fim de integralizar um diálogo mais amplo entre indivíduos e gestão pública.

2 BIBLIOTECAS HÍBRIDAS

Ao longo de seu desenvolvimento, constata-se, na literatura, que as práticas biblioteconômicas primordialmente privilegiavam, como objeto fixo de trabalho, a informação registrada em suportes convencionais. Com o impulso das Tecnologias de Informação e Comunicação, a área da Biblioteconomia inseriu-se em um paradigma conceitual destinado à informação material e imaterial, ou seja, tais tecnologias trouxeram transformações nas práticas organizacionais e estabeleceram espaços de integração entre os elementos da biblioteca tradicional e da digital.

O conceito de biblioteca híbrida foi cunhado por Sutton (1996), designando a coexistência de coleções tradicionais e digitais em bibliotecas, o que permaneceu como cerne do conceito hibridez na literatura da área da Ciência da Informação.

Pinfield (1998) destacou que o objetivo da biblioteca híbrida é criar uma biblioteca integrada para permitir que os usuários se movam facilmente entre recursos de informação impressos e eletrônicos, tanto locais quanto remotos. Portanto, “o desafio associado ao gerenciamento da biblioteca híbrida é encorajar a descoberta de recursos e o uso de informações do usuário final, em uma variedade de formatos e a partir de várias fontes locais e remotas, de maneira perfeitamente integrada” (PINFIELD et al., 1998, p. 1, tradução nossa). A biblioteca híbrida não deve ser vista como uma fase transitória entre a biblioteca convencional e a digital, mas como um modelo de melhoria a longo tempo, com foco nos interesses dos usuários.

A terminologia biblioteca híbrida refere-se a um estágio de provisão da informação, ou seja, “[...] a entidade mais ampla de compartilhamento de recursos, geograficamente dispersa” (OPPENHEIM; SMITHSON, 1999, p. 100, tradução nossa), além de uma entidade particular, no caso, o prédio da biblioteca. Nesse local há uma convergência da ação dos profissionais da informação, assim como das formas de comunicação institucional, para que a informação chegue até o usuário.

Para Oppenheim e Smithson (1999), os projetos de bibliotecas híbridas devem concentrar-se na necessidade de integrar o que foi recentemente disponibilizado, promovendo, aos usuários o acesso a esses conteúdos. Na biblioteca híbrida “[...] a apresentação de recursos eletrônicos aos usuários e os desenvolvimentos devem caber no macroambiente da biblioteca. A biblioteca híbrida simplesmente apresentará uma interface diferente para o usuário” (OPPENHEIM; SMITHSON, 1999, p. 237, tradução nossa).

Como destacam Oppenheim e Smithson (1999), um jeito simples de definir uma biblioteca híbrida é designando-a como um espaço de integração entre as bibliotecas tradicionais e as digitais. Dessa maneira, compreende-se que uma das características dessas instituições é a convergência de tecnologias analógicas e digitais no ambiente de um equipamento social. A hibridez em bibliotecas designa equipamentos sociais que integram aspectos das bibliotecas tradicionais e das digitais. Entende-se que uma biblioteca híbrida trabalha com a complexidade, formas de aquisição de material, formas de acesso à informação, formas de retenção de materiais, além de formas de preservação da informação em âmbitos micro e macro à organização, buscando o oferecimento de produtos e serviços adequados às características de cada comunidade.

Makin e Craven (1999) ressaltam a formação de redes de computadores e internet, assim como de pessoas em ambiente físico, a fim de proporcionar o compartilhamento de informações em longa escala nas bibliotecas híbridas.

Na biblioteca híbrida há “[...] uma ampla gama de novos e interessantes trabalhos para o pessoal, independentemente de sua formação educacional” (FIND, 1999, s.p., tradução nossa). Enquanto profissional que atua no entrecruzamento de diferentes realidades que convergem para o acesso à informação, com o apoio das tecnologias de informação, o bibliotecário precisa saber trabalhar com a informação registrada em diferentes mídias.

Esse requisito está de acordo com uma parte da definição da biblioteca híbrida, que é um local de oferta de serviços impressos e eletrônicos. A biblioteca híbrida é mais do que uma entidade física real, ou seja, é “[...] uma raça cruzada que visa atender às necessidades do novo ambiente de aprendizagem” (GARROD, 2001, p. 191, tradução nossa), tendo um olhar fixo no futuro, mas se fixando na prática atual.

A ideia de bibliotecas híbridas inclui a importância de se entender melhor as necessidades e o comportamento dos usuários e a competência em informação. Esta deve fazer parte do trabalho dos diferentes departamentos da biblioteca para que os profissionais possam atuar de modo a reconhecerem o potencial da biblioteca híbrida (EDWARDS; WYNNE, 1999). Assim, para que o ambiente da biblioteca híbrida possa atender a todos os usuários, as diferenças sociais precisam ser reconhecidas pela gestão da biblioteca, e que esses locais ofereçam uma diversa gama de fontes de informação, criando novas formas de comunicar e de disseminar descobertas, para facilitar a discussão sobre a informação recebida (HAMPSON, 1999). Trata-se, portanto, de um espaço de aprendizagem contínua, no qual funcionários e usuários precisam adquirir uma variedade de habilidades para lidar com as informações apuradas.

Marcas et al. (2000) afirmam que a biblioteca híbrida é uma mistura entre a biblioteca tradicional e a digital, levando em consideração as coleções tradicionais das bibliotecas, assim como as disponíveis em diferentes mídias eletrônicas. Logo, os elementos da biblioteca digital servem para aumentar os meios de atuação das bibliotecas convencionais, trazendo, para os ambientes híbridos, fontes eletrônicas e analógicas usadas lado a lado.

Dessa maneira, “a biblioteca híbrida e o profissional da informação híbrida podem ser interpretados como estratégias de sobrevivência em resposta a um ambiente em mudança" (GARROD, 2001, p. 187, tradução nossa).

Consoante com Garcez e Rados (2002, p. 45), “o nome biblioteca híbrida deve refletir o estado transacional da biblioteca, que hoje não pode ser completamente impressa nem completamente digital”. Dessa maneira, os produtos e serviços oferecidos aos usuários exigem qualidade, agregando valor à comunidade quando adaptados à diversidade de indivíduos que a biblioteca atende. Portanto, o papel das bibliotecas híbridas é “[...] identificar pequenos grupos de usuários e oferecer serviços mais especializados de valor agregado, com grande flexibilidade e criatividade em sua realização e forma, por meio do diagnóstico do que o usuário deseja, realizado de uma forma continuada” (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 46).

"A ideia por trás do rótulo de biblioteca híbrida não é nova e foi expressa por pesquisadores que reconheceram a necessidade de juntar todos os tipos disponíveis de recursos de informação a fim de chegar a um ambiente de informação totalmente interligado" (BREAKS, 2002, p. 100, tradução nossa). Dessa maneira, a biblioteca híbrida mantém seus acervos tradicional e digital, utilizando a Web como um mecanismo a mais de entrega, em que os usuários podem ter acesso às informações eletrônicas, localizando também recursos físicos relevantes.

Os modelos de trabalho da biblioteca híbrida visam integrar uma ampla variedade de recursos de biblioteca tradicionais e novos, da maneira mais uniforme possível, por meio de meta-informações impressas e digitais. Nessa perspectiva, “o termo 'biblioteca híbrida' é um rótulo para ajudar a construir o pensamento sobre como as bibliotecas estão se desenvolvendo” (BREAKS, 2002, p. 107, grifo do autor, tradução nossa).

Segundo Baker (2004), em tais bibliotecas existe o trabalho de bibliotecários que antecipam a produção e a organização de suas diversas coleções, de acordo com as necessidades informacionais dos usuários e das políticas institucionais da organização, convergindo, em um mesmo acervo, diferentes temáticas, tipos de suportes e recursos informacionais.

Villa Barajas e Alfonso Sánchez (2005, p. 12, tradução nossa) destacam que “a motivação por detrás do conceito de bibliotecas híbridas está na necessidade de a instituição biblioteca se fazer perante as demandas da sociedade, afrontando seus usuários com a informação digital”. Portanto, o que está em jogo é o acesso à informação em grande escala.

Para López Jiménez e Alfonso Sánchez (2005), as bibliotecas híbridas são modelos de bibliotecas em que o usuário, por meio de uma interface Web, páginas ou telas de computador, pode acessar recursos digitais. Tal acesso ocorre através de pesquisas na internet, fontes primárias (revistas eletrônicas, materiais digitalizados), fontes secundárias (bancos de dados, CD-ROM), catálogos (Online Public Access Catalog (OPAC) locais, catálogos de consórcio), acesso a editoras e livrarias, intermediários comerciais e serviços de informação em tempo real. Assim, os autores consideram que "a denominação biblioteca híbrida é a mais adequada na transição do tradicional para o virtual, porque, sem renunciar aos documentos impressos, transita do digital ao virtual" (LÓPEZ JIMÉNEZ; ALFONSO SÁNCHEZ, 2005, p. 11), mantendo espaços físicos e virtuais em sua estrutura.

Pode-se afirmar que as bibliotecas híbridas agregam diferentes tecnologias e fontes de informação, convergindo produtos e serviços que se utilizam de tecnologias como ferramentas estratégicas para unir a melhor parte do cenário dos recursos impressos e do meio digital. Logo, infere-se que a “[...] diversidade informacional que contém a biblioteca híbrida se traduz na criação de uma interface capaz de fazer a integração entre os diferentes formatos de que dispõe a biblioteca tradicional acrescentado dos novos formatos digitais” (MONTEIRO et al., 2006, p. 6).

Como destaca Ramírez Céspedes (2006, p. 3, tradução nossa), falar em biblioteca híbrida é “dizer de um ambiente intermediário entre a biblioteca tradicional e a biblioteca virtual, em que coexistem ambos os formatos, podendo haver serviços tradicionais, assim como ambientes digitais”. Nesse contexto, as bibliotecas híbridas só são possíveis quando se trabalha a estrutura institucional em conjunto com os profissionais atuantes na instituição, de modo a construir o acesso e o uso inteligente da informação.

Orera-Orera (2007, p. 330, tradução nossa) disserta que a biblioteca híbrida é “uma entidade mista, onde convivem documentos tradicionais com informação digital e serviços que ocorrem nas dependências físicas da biblioteca, juntamente com outros, oferecidos via internet”. Portanto, essas bibliotecas atendem usuários presenciais e remotos, sendo uma soma do real e do virtual. Para Orera-Orera (2007), alguns aspectos relevantes dessas bibliotecas são: 1) o novo papel da pessoa bibliotecária, cuja importância é cada vez maior por causa da grande quantidade de informação existente e da necessidade de tratá-la com critérios de qualidade definidos; e 2) a gestão da informação, que passa a exigir o oferecimento de treinamentos diversificados, para abranger a diversidade de profissionais requeridos nos diferentes papeis desempenhados pelas bibliotecas.

Miranda, Leite e Suaiden (2007/2008) descrevem que, no contexto das bibliotecas híbridas, as bibliotecas físicas continuam existindo, embora hasteadas nas mais avançadas tecnologias, dando suporte aos novos serviços em rede e disseminando conteúdos por via da acessibilidade documentária. Por esse motivo, Koltay (2008) considera que as bibliotecas híbridas são frequentemente identificadas como bibliotecas digitais.

Em conformidade com Vuren e Latsky (2009), é nas bibliotecas híbridas que os profissionais da informação desenvolvem seu verdadeiro papel, uma vez que necessitam tornar o conteúdo do passado disponível e acessível a todos. Sendo assim, as bibliotecas híbridas precisam “[...] considerar, cada vez mais, as possibilidades e oportunidades de contribuição para o conteúdo através da criação e gestão de repositórios institucionais” (VUREN; LATSKY, 2009, p. 5, tradução nossa).

Corrall (2010), Arora (2008), Weber (2004) e Hampson (1998) destacam, mais uma vez, que as bibliotecas híbridas promovem o acesso à informação tradicional, baseada em papel, bem como a recursos mediados eletronicamente.

De acordo com Pinto e Uribe Tirado (2012), a biblioteca híbrida constitui-se não somente por agregar tecnologias analógicas e digitais de tratamento e divulgação da informação, mas também por desenvolver atividades que vão ao encontro dos perfis individuais dos múltiplos usuários da instituição. Compreende-se que o conceito de bibliotecas híbridas vai além da justaposição de tecnologias, trazendo uma visão de treinamento de usuários e funcionários, já que leva em conta seus diferentes contextos de vivência e atuação, contribuindo para a formação de indivíduos informados, que sabem utilizar as novas tecnologias.

A biblioteca híbrida é, então, aquela que facilita o acesso às suas coleções e fornece serviços de informação e programas de treinamento híbridos (aprendizagem presencial ou mediadas pelas TIC em ambientes de aprendizagem virtuais), buscando responder às diferentes necessidades e perfis de múltiplos usuários (PINTO; URIBE TIRADO, 2012).

Santa Anna (2014) destaca que as bibliotecas híbridas são anteriores às digitais, designando-se como mediadoras entre as bibliotecas analógicas e as digitais, favorecendo a diversidade de serviços oferecidos tanto em ambiente físico (atuação presencial) como em ambiente digital (atuação remota). “Esse novo conceito de biblioteca se estende às unidades tradicionais que se encontram a caminho da automação e informatização de seus produtos e serviços” (SANTA ANNA, 2014, p. 9-10). Para Santa Anna (2015), as bibliotecas híbridas seriam caracterizadas por possuírem diferentes recursos para viabilizar o armazenamento, o processamento e a disseminação dos documentos gerenciados pela instituição. O autor destaca que a terminologia biblioteca híbrida está relacionada ao surgimento das bibliotecas digitais.

Dessa maneira, a estrutura da biblioteca híbrida “[...] entrelaça todos os conceitos em um único pensamento, e cria uma nova versão de biblioteca, que se utiliza das tecnologias e usufrui de um acervo digital, mas também mantém o formato tradicional ao disponibilizar um acervo físico” (CAVALCANTE; BRITO; VLAXIO, 2016, p. 48).

Em congruência com Orera-Orera e Pacheco (2017), as bibliotecas híbridas caracterizam-se por serem novos modelos de bibliotecas, surgidas na chamada Sociedade da Informação e do Conhecimento, e representam o predomínio das novas tecnologias, a globalização e o volume cada vez maior de informação em formato eletrônico.

Fowke (2019) argumenta que a hibridez pode ser observada quando o macroambiente da biblioteca trabalha com um aspecto intergovernamental, isto é, bibliotecas que combinam características de instituições públicas e de associações privadas. Os benefícios materiais dessa combinação são os bens e os serviços tangíveis oferecidos ao público local. Há, assim, de se seguir uma política distributiva de bibliotecas, em consonância com o Governo Federal, facilitando atividades cooperativas, por meio da adoção de tecnologias como internet, mídia social e recursos impressos.

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa é caracterizada como de natureza qualitativa, explicativa e exploratória e de caráter teórico-epistemológico. O método Análise do Discurso Multimodal (ADM)¹ foi escolhido para contribuir com a pesquisa de campo. A Pesquisa Bibliográfica foi utilizada como ferramenta de coleta e análise de dados, com vistas a identificar parte do corpus discursivo a ser trabalhado na proposta de construção do conceito.

A Análise do Discurso Multimodal (ADM) foi aplicada em duas fases distintas: análise dos conceitos levantados na literatura e pesquisa de campo no ambiente híbrido. A Pesquisa Bibliográfica foi exaustivamente realizada em referências de destaque no campo da Ciência da Informação, como: Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI); Library Information Science Abstracts (LISA); Web of Science (WoS; SciVerse Scopus); Sociology Research Database (SocINDEX); e no Catálogo Parthenon, que abrange o acervo de universidades brasileiras. A busca se deu pelos seguintes descritores “biblioteca” OR “hybrid library” AND definition OR development OR concept OR definição OR desenvolvimento OR conceito. Destaca-se que se apresentou uma amostragem realizada por meio de sorteio aleatório no tocante aos dados coletados, uma vez que necessitou se realizar um recorte que se configurou como uma parte do resultado, com a finalidade de demonstração das ações realizadas para este momento da pesquisa.

A pesquisa de campo, se constituiu por meio da permanência no âmbito híbrido com a coleta de dados sendo realizada na observação participativa e na aplicação de entrevista para o bibliotecário chefe de uma biblioteca híbrida norte-americana (que aqui chamaremos de Bp1), localizada na cidade de Memphis, Estado do Missouri, EUA. A entrevista contou com 13 (treze) questões abertas e focou no aspecto estrutura física (tecnologia), pois se entende que esse é o primeiro momento da introdução da hibridez em bibliotecas, versus gestão pública, segundo momento, englobando os tipos de desenvolvimento em sociedade e sua relação com os micro e macro ambientes.

Para a realização da ADM, foram elencadas as seguintes categorias, à posteriori da Pesquisa Bibliográfica: espaço institucional no qual o discurso fundamenta suas declarações; a quem é dado o direito de fala, e situações que incitaram o discurso; campo prático no qual o discurso é desenvolvido e posicionamentos em que os conceitos colocam seus sujeitos; o que é reconhecido como válido e o que o conceito poderá excluir ou salientar; e correlações entre as bibliotecas híbridas, sua tipologia e os tipos de desenvolvimento presentes na esfera pública.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dentre os enunciados que compõem a posição binária do conceito de biblioteca híbrida - convergência tecnológica e tipos de desenvolvimento / educação na esfera pública -, são enfatizadas as mudanças históricas que permearam o objetivo desses enunciados em relação aos seus usuários (a quem o autor pensou dar o direito de fala) e às situações que incitaram o desenvolvimento desses discursos. São trabalhados o primeiro enunciado levantado na literatura sobre biblioteca híbrida (SUTTON, 1996); e o de Fowke (2019), último enunciado encontrado no levantamento bibliográfico. Os enunciados, conjuntamente com a sua análise discursiva, seguem-se abaixo:

ENUNCIADO DE SUTTON (1996, p. 125): “It defines a typology of library types ranging from the traditional to the digital in order to explicate shifts in human/machine intermediation and issues of access to both primary and secondary information. It fiames developments in the emerging consultative, value-added model of service that will dominate the digital library in the context of the typology”.

Análise discursiva:

Paráfrase: “A biblioteca híbrida é uma tipologia de biblioteca que trabalha com fontes de informação tradicionais e digitais, de modo a explicitar as mudanças na intermediação homem/máquina ocorrida em sociedade, além dos variados suportes de acesso à informação da esfera pública. O conceito identifica o acesso informacional como um serviço a ser mediado por profissionais da informação, em prol de tornar os indivíduos competentes no contexto das bibliotecas digitais” (tradução nossa).

Figura 1
Conceito de biblioteca híbrida diante das mudanças ocorridas em sociedade

A Figura 1 representa o hiperdomínio linguístico do termo biblioteca híbrida em relação aos domínios sêmicos do enunciado de Sutton (1996). Dessa maneira, o hiperdomínio biblioteca híbrida tem como domínio 1 a tipologia de biblioteca, as fontes de informação tradicionais e as formas de informação digitais. Seguindo essa linha de pensamento, o domínio 2 destaca a esfera pública e seus subdomínios: mediação da informação e competência em informação.

Esse conjunto de domínios ocasiona o domínio 3: a quem é dado o direito de fala, e situações que incitaram o discurso de Sutton (1996) - as mudanças ocorridas em sociedade. Diante das mudanças ocorridas em sociedade, o conceito de biblioteca híbrida pode ser percebido (Figura 1) a partir do entendimento de que as fontes de informação passam a ser convergentes em toda e qualquer tipologia de biblioteca, influenciando na esfera pública do ambiente dessas instituições. Por meio de processos como a mediação da informação e a competência em informação, percebe-se o trabalho dessas bibliotecas diante das mudanças ocorridas em sociedade.

Metáforas: a) “A biblioteca híbrida é uma tipologia de biblioteca que trabalha com fontes de informação tradicionais e digitais, de modo a explicitar as mudanças na intermediação homem/máquina ocorrida em sociedade, além dos variados suportes de acesso à informação da esfera pública”. - Implica em dizer que a biblioteca híbrida se constitui como um tipo de biblioteca, ou seja, uma instituição com características específicas, que devem ser trabalhadas de maneira a atender às necessidades de um público em questão. Enfatiza-se como elemento característico dessa localidade a convergência de tecnologias, salientando a necessidade de se desenvolver produtos e serviços de acordo com as necessidades informacionais das comunidades com que essa instituição trabalha. b) “O conceito identifica o acesso informacional como um serviço a ser mediado por profissionais da informação, em prol de tornar os indivíduos competentes no contexto das bibliotecas digitais”. - Destaca como elementos característicos da biblioteca híbrida o acesso informacional, bem como a mediação da informação por profissionais da informação, evidenciando-se a necessidade de tornar os usuários competentes no uso de tecnologias.

Condições de produção: a) O enunciado foi produzido nos Estados Unidos da América (EUA), por um docente da área de Biblioteconomia e da Ciência da Informação, cujos campos de pesquisa se voltam para o ensino e a aprendizagem mediados por tecnologia, assim como a descoberta e recuperação da informação em rede. b) O discurso foi escrito, e não oralizado. c) Atualmente, Sutton se encontra aposentado e afastado das pesquisas acadêmicas, mas, ainda se configura como um marco nos estudos de hibridez, por ser o introdutor do conceito de biblioteca híbrida em âmbito mundial.

Quanto ao contexto: O enunciado foi produzido por um docente atuante em universidades de Biblioteconomia e Ciência da Informação dos EUA. O docente também ocupou o cargo de diretor em uma das universidades em que trabalhou. Na época, os EUA passavam por uma reforma educacional em prol de voltar seu ensino para o mercado de trabalho. É preciso enfatizar que os EUA consideram o serviço desenvolvido por pesquisadores como uma profissão. O caminho percorrido na carreira do autor possibilitou a experiência do mesmo no que diz respeito à história das ciências biblioteconômicas, que passou por diversas mudanças de paradigmas até se chegar à ideia de hibridez. Por trabalhar tanto com a convergência de tecnologias e o ensino-aprendizagem, o autor acabou trazendo, em seu enunciado, as duas posições para a atuação da biblioteca híbrida em sociedade.

Direito de fala: O enunciado se voltou às bibliotecas universitárias e às formas de o profissional da informação trabalhar com os diversos tipos de suportes de informação disponíveis em sociedade, de modo a promover o acesso à informação nessas instituições. Também pode-se perceber que o enunciado aborda o fato de, na época, o acesso à informação nas universidades ser restrito em termos de tecnologia e bases de dados. Portanto, havia a necessidade de aumentar o âmago informacional desses pesquisadores, a fim de auxiliá-los no desenvolvimento de suas pesquisas.

Dessa maneira, tem-se que:

1. “[...] tipologia de biblioteca que trabalha com fontes de informação tradicionais e digitais” - refere-se ao elemento 1. convergência de tecnologias.

2. “[...] explicitar as mudanças na intermediação homem/máquina ocorrida em sociedade, além dos variados suportes de acesso à informação da esfera pública” - refere-se aos itens 2. estudo de usuários e atendimento aos interesses informacionais das comunidades e 8. flexibilidade e gestão de ambientes.

3. “[...] o acesso informacional como um serviço a ser mediado por profissionais da informação” - refere-se aos elementos 3. treinamento de equipes generalistas, 4. equipe multidisciplinar e 7. maiores possibilidades de acesso à informação.

4. “[...] para tornar os indivíduos competentes no contexto das bibliotecas digitais” - refere-se ao elemento 9. promoção da competência em informação.

Elementos excluídos: 5. bibliotecário como um líder institucional, 6. interatividade entre os usuários, 8. flexibilidade e gestão de ambientes, 10. design do macroambiente e arquitetura diferenciados e 11. relação público/privado.

Trabalhou-se com os elementos de hibridez: 1. convergência de tecnologias, 2. estudo de usuários e atendimento aos interesses informacionais das comunidades, 3. treinamento de equipes generalistas, 4. equipe multidisciplinar, 7. maiores possibilidades de acesso à informação, 8. flexibilidade e gestão de ambientes e 9. promoção da competência em informação.

ENUNCIADO DE FOWKE (2019, p. 236): “Library testimony highlights the ways in which libraries are hybrid, public/private institutions. Thus in some areas (such as library funding or intellectual property), libraries are like private associations: They testify to protect interests that are library specific. In other areas (such as government information), libraries are more like governmental agencies: They testify as a partner and stakeholder in specific government programs, policies, and benefits. And in yet other areas (such as privacy), libraries are more like issue-oriented advocacy groups: They testify to engage their peers and patrons while organizing these constituencies to effectively advocate for public goods”.

Análise discursiva:

Paráfrase: “A hibridez em bibliotecas pode ser compreendida pelo modo como essas organizações combinam características de instituições públicas e privadas. A título de exemplificação, ao mesmo tempo em que uma biblioteca é capaz de receber financiamento para trabalhar com serviços especializados, também pode se caracterizar como uma agência governamental, isto é, agir em consonância com as políticas e as ações do governo. Uma biblioteca é uma instituição que tem potencial para comportar, em sua infraestrutura, coleções privadas, conjuntamente com bens públicos” (tradução nossa).

Figura 2
Discursos referentes ao macroambiente das bibliotecas híbridas

A Figura 2 representa o hiperdomínio linguístico do termo biblioteca híbrida em relação aos domínios sêmicos do enunciado de Fowke (2019). O hiperdomínio biblioteca híbrida tem como domínio 1 a combinação de características, a organização pública e a organização privada. O domínio 2 refere-se a quem é dado o direito de fala, e situações que incitaram o discurso de Fowke (2019) - o macroambiente das bibliotecas.

Metáforas: a) “A hibridez em bibliotecas pode ser compreendida pelo modo como essas organizações combinam características de instituições públicas e privadas”. - Implica em um novo modo de compreender o termo “hibridez” para bibliotecas, destacando como biblioteca híbrida aquela que possui características tanto de instituições públicas como de privadas. São partícipes dessa conceituação os elementos tipo de financiamento, tipos de recursos que fazem parte da coleção e comunidades com qual a biblioteca trabalha. b) “A título de exemplificação, ao mesmo tempo em que uma biblioteca é capaz de receber financiamento para trabalhar com serviços especializados, também pode se caracterizar como uma agência governamental, isto é, agir em consonância com as políticas e as ações do governo”. - Trata da exemplificação dos elementos “tipo de financiamento” e “comunidades com qual a biblioteca trabalha”. O autor destaca que os produtos e os serviços desenvolvidos pela biblioteca híbrida devem estar em consonância com a sua missão e visão, isto é, com as necessidades informacionais do público para o qual foi designada. c) “Uma biblioteca é uma instituição que tem potencial para comportar, em sua infraestrutura, coleções privadas, conjuntamente com bens públicos”. - Exemplifica o elemento “tipos de recursos que fazem parte da coleção”. Aqui, leva-se em conta a convergência de tecnologias analógicas e digitais, o financiamento desses materiais, além das possibilidades de acesso à informação que a biblioteca pode oferecer.

Condições de produção: a) O enunciado foi produzido pelo bibliotecário de uma biblioteca universitária dos EUA, que atua na coleção digital do curso Direito da instituição. b) O discurso foi escrito, e não oralizado.

Quanto ao contexto: A universidade em que o autor trabalha é caracterizada por ser pública e, para além da coleção de Direito, possui materiais que abrangem os demais cursos que oferece. A hibridez, dessa maneira, pode ser compreendida como a convergência de coleções particulares acompanhado da coleção geral da universidade - pensamento complexo. Reforça-se a ideia de que, nos EUA, o financiamento do ensino superior é misto, ou seja, mesmo que uma universidade seja pública, o estudante necessita pagar uma taxa mensal para ser discente da instituição. Esse cenário impacta no desenvolvimento de coleções das universidades e, consequentemente, das bibliotecas universitárias, que podem se designar tanto públicas quanto privadas. O autor do enunciado atua, principalmente, supervisionando coleções e oferecendo cursos para treinamento de usuários no uso de coleções digitais. Desse modo, a visão de convergência de tecnologias é dada pelo autor ao conceito de hibridez, em consonância com o ideal de que as bibliotecas híbridas devem impactar no desenvolvimento de suas comunidades, de acordo com as legislações vigentes na gestão pública.

Direito de fala: O enunciado volta-se para o ambiente das bibliotecas universitárias, enfatizando as formas de financiamento para o desenvolvimento dos produtos e serviços dessas localidades - público e privado. No decorrer do texto, o autor destaca que a infraestrutura da biblioteca irá impactar no cumprimento de sua missão e visão, o que mostrará se os profissionais da informação estão atingindo os objetivos propostos. Além dos profissionais da informação, o enunciado enfatiza a importância de a biblioteca levar em conta suas comunidades para desenvolver políticas institucionais. Portanto, o usuário é um sujeito importante quando se delimitando o conceito de biblioteca híbrida neste enunciado.

Desse modo:

1. “[...] modo como essas organizações combinam características de instituições públicas e privadas” - refere-se aos elementos 1. convergência de tecnologias, 10. design do macroambiente e arquitetura diferenciados e 11. relação público/privado.

2. “[...] ao mesmo tempo em que uma biblioteca é capaz de receber financiamento para trabalhar com serviços especializados, também pode se caracterizar como uma agência governamental, isto é, agir em consonância com as políticas e as ações do governo” - refere-se aos elementos 7. maiores possibilidades de acesso à informação e 8. flexibilidade e gestão de ambientes.

3. “Uma biblioteca é uma instituição que tem potencial para comportar, em sua infraestrutura, coleções privadas junto com bens públicos” - refere-se aos elementos 2. estudo de usuários e atendimento aos interesses informacionais das comunidades, 4. equipe multidisciplinar e 6. interatividade entre os usuários.

Elementos excluídos: 3. treinamento de equipes generalistas, 5. bibliotecário como um líder institucional e 9. promoção da competência em informação.

Trabalhou-se com os elementos de hibridez: 1. convergência de tecnologias, 2. estudo de usuários e atendimento aos interesses informacionais das comunidades, 3. treinamento de equipes generalistas, 4. equipe multidisciplinar, 7. maiores possibilidades de acesso à informação, 8. flexibilidade e gestão de ambientes e 9. promoção da competência em informação. Sutton (1996) exclui os elementos 5: bibliotecário como um líder institucional; 6: interatividade entre os usuários; 10: design do macroambiente e arquitetura diferenciados; e 11: relação público/privado.

Quanto à Bp1, trata-se de uma biblioteca pública, localizada na cidade de Memphis, que faz parte do Sistema de Bibliotecas Públicas (Memphis Public Libraries). Ao todo, 18 bibliotecas fazem parte desse sistema. A Bp1 surgiu como um plano de expansão da biblioteca central do Sistema de Bibliotecas Públicas de Memphis. A ideia era construir uma biblioteca ainda maior, visando uma “biblioteca do amanhã”, que pudesse não somente atender às necessidades imediatas da comunidade, mas também se adaptar às mudanças futuras. Nessa descrição, já é possível observar um ideal de hibridez, isto é, a convergência de tecnologias e desenvolvimento econômico.

O Quadro 1 sistematiza os aspectos de hibridez percebidos na Bp1.

Quadro 1
Aspectos de hibridez elencados na Bp1

Estrutura/serviço da biblioteca	Aspectos de hibridez
Desenvolvimento de coleções	- Convergência de tecnologias; - Adequação do acervo ao público-alvo; - Ênfase na necessidade de se trabalhar com documentos atualizados.
Seleção de bancos de dados	- Troca e compartilhamento de dados entre bibliotecas; - Oferecimento de acesso a um maior número de informações; - Presença em redes sociais.
Criação de arquivos/bases de dados locais	- Reunião e disponibilização de uma ampla gama de recursos materiais digitalizados e impressos; - Oferecimento de serviços em ambas as plataformas, analógicas e digitais.
Tour virtual	- Ideal de que todos os produtos e os serviços oferecidos no espaço físico devem estar, igualmente, presentes no digital.
Intercâmbio de dados entre bibliotecas	- Aumento do acervo físico; - Aumento do acervo digital.
Treinamento para funcionários e usuários	- Oportunidades de treinamento online e presenciais; - Enfoque no humano, no social e na customização de serviços, de acordo com as demandas do público.
Serviços para imigrantes, refugiados e aprendizes da língua inglesa	- Estabelecimento de parcerias entre a biblioteca e outras instituições; - Auxílio social às comunidades.
Gamificação	- Realidade do espaço virtual para dentro dos afazeres da biblioteca.
Alcance da comunidade ao entorno	- Abordagem dos micro e macro ambientes da instituição; - Estabelecimento de parcerias e disseminação da informação para um grande público.
Apoio a negócios locais	- Abordagem dos micro e macro ambientes da instituição; - Trabalho social; - Estabelecimento de parcerias; - Difusão do acesso à informação.
Agenda 2030	- Desenvolvimento humano; - Desenvolvimento social; - Desenvolvimento cultural; - Desenvolvimento sustentável; - Interferência na esfera pública, por meio dos serviços e produtos oferecidos.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

No que concerne à transcrição da entrevista, a primeira questão revelou que a decisão na escolha de livros físicos ou digitais é baseada nos seguintes critérios:

• o Necessidade do público, atual e futura.

• o Necessidade de amplitude, profundidade e variedade da coleção.

• o Precisão - a informação é atual, correta e, na medida do possível, livre de vieses infundados ou irracionais. Pontos de vista opostos são representados no total da coleção.

• o Autoridade e reputação dos autores e editores.

• o Revisões favoráveis de expertises no assunto.

• o Adequação ao público-alvo.

• o Reconhecimento de títulos, como premiação ou material clássico.

• o Importância local ou regional.

• o Inclusão em índices ou biografias.

• o Estilo da expressão - o estilo, quando apropriado para o conteúdo e para o público-alvo, facilita a compreensão.

• o Formato satisfatório:

  • Para material impresso:

    • o Tamanho, formato, tipografia, design, qualidade do papel e encadernação adequados para o conteúdo e o público-alvo.

    • o Quando apropriados, se o material contém ilustrações, índices, mapas, tabelas, bibliografias e outras informações úteis.

  • Para tipos de mídias não impressas:

    • o Tipo de mídia apropriada ao conteúdo, ao público-alvo, e às propostas para as quais os materiais serão usados.

    • o Padrões individuais de qualidade, apropriados a cada tipo de mídia.

• o Edição mais adequada:

  • A última edição é geralmente a selecionada.

  • Para livros catalogados, a edição de capa dura é preferível em relação à encadernada em papel. Quando são necessárias muitas cópias do mesmo livro, ou quando um item individual não tem muita circulação, a encadernação de bolso é preferível.

• o Custo - o preço de um item é considerado em relação à sua significância na coleção.

• o Número de cópias - múltiplas cópias são compradas a partir do balanceamento das necessidades da comunidade e da coleção.

É possível perceber a hibridez em relação aos desenvolvimentos econômico e social, uma vez que a instituição: 1. trabalha com a convergência de tecnologias, 2. busca adequar o seu acervo ao público-alvo e 3. enfatiza a necessidade de atualizar os documentos de acesso ao público.

Quanto à questão 2, referente à seleção dos bancos de dados pela Bp1, destaca-se que a instituição possui acesso a uma grande variedade de bancos de dados, por meio da State of Tennessee's Tennessee Electronic Library (Biblioteca Eletrônica do Estado do Tennesse). Essa biblioteca tem uma coleção de bancos de dados disponíveis para as bibliotecas do Estado do Missouri.

Bancos de dados adicionais também são adquiridos, muitos dos quais com versões mais baratas e acessíveis a recursos impressos populares, solicitados por departamentos centrais, como o DataAxle (diretórios comerciais/pessoais), Formulários Legais, jornais locais, Ancestry.com, para genealogia, e uma organização sem fins lucrativos para os bancos de dados de pesquisa. Para mais, a Bp1 está no LinkedIn Learning, abordando objetivos de trabalho/carreira/negócios.

Elementos de hibridez, como a convergência de tecnologias em prol dos desenvolvimentos econômico e social, podem ser percebidos quando o entrevistado assume que faz parte de uma biblioteca eletrônica, com troca e compartilhamento de dados entre bibliotecas. Ainda, a Bp1 procura adquirir outras versões de bancos de dados, buscando oferecer acesso a uma maior gama de informação aos usuários e profissionais, além de estar ativamente presente nas redes sociais.

Para a terceira questão, ressalta-se que a Bp1 possui um arquivo/banco de dados digital que contém material de fonte primária digitalizado, como fotografias, recortes de jornais, cartas, arquivos de áudio/vídeo, etc. Atualmente, o arquivo digital é composto por 30 coleções, que focam em assuntos do campo da história. A maioria do material digitalizado vem da sala física da instituição.

No gerenciamento dos ativos digitais utiliza-se o OCLC’s CONTENTdm, um software que propicia a elaboração de websites customizados, de acesso público, bem como o gerenciamento e a manutenção dos arquivos digitais.

A hibridez pode ser percebida, principalmente, pelo fato de a Bp1 conter uma ampla gama de recursos materiais digitalizados e impressos, para acesso aos usuários, na tentativa de promover maiores possibilidades de acesso à informação. Portanto, há impacto nos desenvolvimentos humano, social e cultural. O uso de softwares e de websites demonstra a busca pelo oferecimento não somente de materiais, mas também de serviços em ambas as plataformas.

Em relação à quarta questão, os tours virtuais são realizados em alguns espaços da biblioteca, como na galeria. Especialmente com o advento da pandemia de COVID-19 a Bp1 permitiu a navegação online para todas as seções da biblioteca. O serviço é customizado de acordo com os eventos que a biblioteca está promovendo e não é algo periódico. A pretensão não é só mostrar ao público os espaços da biblioteca, mas desenvolver programações diferenciadas para ele.

Essa questão evidencia um importante aspecto da hibridez em bibliotecas, isto é, o ideal de que todos os produtos e os serviços oferecidos no espaço físico devam estar igualmente presentes no digital. Os tours virtuais são um grande passo nessa direção, não sendo uma constante em bibliotecas, porém melhor trabalhados depois da COVID-19. A Bp1 já se adequou a esse serviço e procura melhorá-lo a cada dia.

Nesse contexto, é necessário um processo de treinamento de equipes, estudo de usuários para atendimento à comunidade, equipes multidisciplinares, flexibilidade na infraestrutura e na gestão de ambientes, competência em informação, interatividade entre os usuários, bem como o trabalho com design/arquitetura da informação. Percebe-se, então, o impacto da Bp1 nos desenvolvimentos econômico, social, humano, cultural e sustentável.

Concernente à quinta questão, sobre o sistema de intercâmbio de dados entre bibliotecas, a Bp1 utiliza o SirsiDynix, pois ele é estável e possui suporte adicional do fornecedor, o que é essencial para grandes bancos de dados. É possível observar que a biblioteca está cada vez mais buscando aumentar o seu acervo, seja ele físico ou digital, o que se caracteriza como um elemento-chave de hibridez.

A Bp1 possui um sistema de gerenciamento de equipes visando ao desenvolvimento profissional e à promoção de oportunidades de treinamento presenciais e virtuais, porque pretende ser híbrida. O entrevistado relatou que, quando se acessa o sistema da biblioteca pela primeira vez, são necessárias algumas opções de treinamento em relação ao funcionamento do sistema, emergências e customização.

No que tange à sexta questão, a Bp1 oferece serviços para auxiliar profissionais e usuários na navegação em diferentes plataformas de conferências virtuais, como o Microsoft Teams e o Zoom. Ademais, possui um programa chamado Tour the City Concern (Tour pela Cidade), que promove cursos profissionalizantes para os cidadãos.

O fato de a Bp1 ter diversas oportunidades de treinamento, disponíveis de modo online e presencial, a torna híbrida. Ela busca atender as amplas necessidades dos usuários, o que demonstra o seu enfoque no humano, no social e na customização de serviços, de acordo com as demandas do público.

Em referência à sétima questão - promoção de serviços para imigrantes, refugiados e aprendizes da língua inglesa -, a Bp1 trabalha com diversas programações para essa proposta. Por serem, em sua maioria, presenciais, antes da pandemia elas ocorriam em maior volume, mas, atualmente, nem todas estão em funcionamento.

Os programas presenciais são serviços de hospedagem à população. A Bp1 trabalha com pessoas que ainda não têm proficiência em inglês e com o empoderamento de refugiados. O Memphis Legal Services (Serviço Legal de Memphis) é uma organização parceira, com uma sala no quarto andar da biblioteca, que auxilia os imigrantes em suas organizações pessoais e em situações legais. Esse programa, em específico, auxilia os imigrantes a aprenderem inglês. O programa para o empoderamento de refugiados divide-se em diferentes atividades, principalmente para crianças e adolescentes.

Atualmente, o Serviço Legal de Memphis não está em funcionamento, mas antes trabalhava com imigrantes, especialmente aqueles que precisavam de ajuda com documentações. Na fala do entrevistado, “A organização atuava com questões referentes à busca por empregos, geralmente braçais, por conta da barreira de linguagem, e com a procura por moradia”.

No que diz respeito à percepção da hibridez, pode-se dizer que ela ocorre por meio das parcerias que a biblioteca faz com outras instituições e pelo auxílio social que a Bp1 oferece às comunidades. Aqui, trabalha-se a relação público/privado em prol dos desenvolvimentos econômico e social.

É um trabalho constantemente voltado ao bem-estar e à inclusão social. Como citado pelo entrevistado, “Nós atuamos em diferentes comunidades, em específico, existe uma comunidade latina que sempre nos procura, porque aqui é um lugar seguro para eles obterem informações”.

Acerca da oitava questão, uma característica importante de hibridez percebida na Bp1 é o seu trabalho com a gamificação, ou seja, ela traz a realidade do espaço virtual para dentro dos afazeres da biblioteca. Nos EUA, esse cenário é bem presente no contexto das bibliotecas públicas e universitárias.

No caso da Bp1, a gamificação é desenvolvida no makerspace da instituição. Como afirma o entrevistado: “Desenvolvemos muitos workshops de criação de jogos, programação de jogos e inteligência artificial”. Os workshops são voltados para as crianças e adolescentes e gerenciados por profissionais da área do design e da robótica. O trabalho no makerspace é intenso e envolvente, tanto que a equipe da Bp1 participa de torneios internacionais de robótica e stop motion².

Referente à nona questão - serviços desenvolvidos pela Bp1 para alcançar a comunidade ao seu entorno -, o entrevistado respondeu que a biblioteca tem um departamento específico para isso. É um grande departamento, com mais ou menos 89 pessoas que vão até as comunidades e reproduzem diferentes programações, eventos, etc. Os trabalhos são realizados de acordo com as diferentes comunidades.

A Bp1 vai às escolas, buscando conversar com professores, administradores e bibliotecários, fazendo oficinas de robótica e de stop motion com os alunos. No verão, a instituição faz parceria com museus e outras unidades de informação, ensinando robótica para a comunidade local.

Específico para bibliotecas, a Bp1 tem um programa no qual alguns de seus funcionários vão até a biblioteca, observam sua estrutura física, conhecem a sua vizinhança e desenvolvem eventos de aprendizagem com robótica e animação. “Nossos eventos têm comida, música de músicos locais, etc. É legal!”.

Também há a oportunidade de as organizações irem até a Bp1 e solicitarem uma visita. Além disso, existe o Big Bus (Ônibus Grande), que vai até as comunidades e apresenta livros, oportunidades de emprego, dentre outros.

Nessa questão, a característica de hibridez é a abordagem dos micro (interno) e macro (externo) ambientes da instituição. A Bp1 não foca somente na estrutura física e nas comunidades para as quais já trabalha, mas amplia o ambiente de atuação, indo em busca de parcerias e da disseminação da informação para um público maior. Pelo fato de a percepção de hibridez se constituir junto aos seus ambientes, a Bp1 está focando na flexibilidade e na infraestrutura da sua gestão, portanto, impactando os desenvolvimentos econômico e social, com vistas ao sustentável.

Relativo à décima questão, a Bp1 está envolvida com o desenvolvimento de negócios locais, auxiliando na formação e no crescimento de pequenas empresas. A biblioteca tem uma seção denominada Negócios e Ciência, assim como um departamento que trabalha com parcerias para prover acesso a informações de valor para essas empresas. O entrevistado ressalta: “Recentemente, fizemos uma grande parceria com o Google. Então, sim, trabalhamos com boas parcerias e serviços para pessoas que estão começando um pequeno negócio ou tentando alavancar um pequeno negócio”.

As associações de pequenos negócios também vão até a Bp1 procurar por parcerias. A biblioteca tem parceria com bancos locais que desenvolvem atividades para auxiliar as pessoas a compreenderem melhor a gestão de finanças.

Mais uma vez, a hibridez pode ser percebida na abordagem dos micro e macro ambientes da Bp1. O trabalho social, o estabelecimento de parcerias e a difusão do acesso à informação são características de hibridez, perceptíveis na Bp1.

Em relação à décima primeira questão - Agenda 2030 - intrinsecamente, a Bp1 utiliza os objetivos do relatório de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no estabelecimento de suas atividades, mas o documento não está oficializado em seus planejamentos. Nas palavras do entrevistado: “Provavelmente não. Bom, eu arrisco dizer que nós não tivemos a chance de escrever esse planejamento, no entanto, muitas dessas iniciativas estão sendo aplicadas pela nossa biblioteca, em termos de desenvolvimento de comunidades, serviços voltados para os negócios e, claro, literatura. Mas a ideia dessa Agenda está além dos planos institucionais. Ela dá suporte a eles. Nós temos uma seção de saúde e parcerias com universidades de ciência e saúde. Pessoas vão lá quando precisam estudar para provas e concursos. Os objetivos de crescimentos econômico, indústria e inovação podem ser percebidos na nossa parceria com o Google, ou no nosso site interativo. Mas sim, quando se fala em planos estratégicos, esses precisam ser melhor trabalhados”.

Embora o uso da Agenda 2030 não esteja documentado pelos elementos constitutivos descritos anteriormente, a Bp1 se destaca em termos de desenvolvimento humano, social, econômico, cultural e sustentável. Portanto, é uma biblioteca híbrida, que tem potencialidade para interferir na esfera pública por meio dos serviços e produtos que oferece.

O Quadro 2 sistematiza os aspectos de hibridez percebidos na Bp1, perante as questões 1-11.

Quadro 2
Aspectos de hibridez elencados na Bp1

Estrutura/serviço da biblioteca	Aspectos de hibridez
Desenvolvimento de coleções	- Convergência de tecnologias; - Adequação do acervo ao público-alvo; - Ênfase na necessidade de se trabalhar com documentos atualizados.
Seleção de bancos de dados	- Troca e compartilhamento de dados entre bibliotecas; - Oferecimento de acesso a um maior número de informações; - Presença em redes sociais.
Criação de arquivos/bases de dados locais	- Reunião e disponibilização de uma ampla gama de recursos materiais digitalizados e impressos; - Oferecimento de serviços em ambas as plataformas, analógicas e digitais.
Tour virtual	- Ideal de que todos os produtos e os serviços oferecidos no espaço físico devem estar, igualmente, presentes no digital.
Intercâmbio de dados entre bibliotecas	- Aumento do acervo físico; - Aumento do acervo digital.
Treinamento para funcionários e usuários	- Oportunidades de treinamento online e presenciais; - Enfoque no humano, no social e na customização de serviços, de acordo com as demandas do público.
Serviços para imigrantes, refugiados e aprendizes da língua inglesa	- Parcerias entre a biblioteca e outras instituições; - Auxílio social às comunidades.
Gamificação	- Realidade do espaço virtual para dentro dos afazeres da biblioteca.
Alcance da comunidade ao entorno	- Abordagem dos micro e macro ambientes da instituição; - Estabelecimento de parcerias e disseminação da informação para um grande público.
Apoio a negócios locais	- Abordagem dos micro e macro ambientes da instituição; - Trabalho social; - Estabelecimento de parcerias; - Difusão do acesso à informação.
Agenda 2030	- Desenvolvimento humano; - Desenvolvimento social; - Desenvolvimento cultural; - Desenvolvimento sustentável; - Interferência na esfera pública, por meio dos serviços e produtos oferecidos.

Fonte: Elaborado pela autora.

A ADM foi aplicada nas respostas das perguntas 12 e 13, que se relacionavam, intrinsecamente, com o conceito de hibridez, a fim de se compreender o pensamento dos entrevistados sobre esse conceito. A resposta à questão 12 - compreensão dos conceitos dos termos hibridez e hibridez em bibliotecas - foi a seguinte: “Eu penso que eu já ouvi sobre esse termo antes, mas, eu não estou totalmente familiarizada com o seu significado. É voltado para as programações da biblioteca? Eu penso que, devido à COVID, você sabe, nós tivemos que mudar o modo como desenvolvíamos o nosso trabalho. Desculpe, você sabe, anteriormente à COVID, quase 100% da nossa coleção era física, e os serviços focados no presencial, mas, eu penso que..., como você sabe, agora nós temos atividades presenciais e remotas. Existem pessoas que ainda não se sentem confortáveis com o digital, então, ainda temos um grande foco no presencial. Contudo, também trabalhamos com bancos de dados digitais, serviços de intercâmbio de dados entre bibliotecas, livros eletrônicos e pesquisa online”.

O domínio linguístico, como percebido, é o conceito de biblioteca híbrida. Metaforizando a paráfrase, para encontrar os seus domínios de linguagem, têm-se que:

1. “Eu penso que eu já ouvi sobre esse termo antes, mas eu não estou totalmente familiarizada com o seu significado”. - Implica dúvida em relação ao conceito, embora, anteriormente, na questão seis, o entrevistado já o tenha mencionado “... Nós queremos ser híbridos”. Portanto, há uma contradição nessa fala.

2. “É voltado para as programações da biblioteca?” - Demonstra uma noção de hibridez voltada para programações da biblioteca, ou seja, dos serviços a serem desenvolvidos em prol da comunidade para a qual a biblioteca trabalha.

3. “Eu penso que, devido à COVID, você sabe, nós tivemos que mudar o modo como desenvolvíamos o nosso trabalho.” - Traz, mesmo que implicitamente, o ideal de mudança e de adequação do trabalho da biblioteca perante as novas demandas sociais.

4. “Desculpe, você sabe, anteriormente à COVID, quase 100% da nossa coleção era física, e os serviços focados no presencial, mas, eu penso que..., como você sabe, agora nós temos atividades presenciais e remotas”. -Relata que sim, a biblioteca mudou para atender as novas demandas da sua comunidade.

5. “Existem pessoas que ainda não se sentem confortáveis com o digital, então, ainda temos um grande foco no presencial”. - Visa ao estudo de usuários e à delimitação das necessidades e desejos informacionais das comunidades, trabalhando para promover o acesso à informação aos diferentes tipos de públicos.

6. “Contudo, também trabalhamos com bancos de dados digitais, serviços de intercâmbio de dados entre bibliotecas, livros eletrônicos e pesquisa online”. - Trata da convergência entre tecnologias, estrutura básica das bibliotecas híbridas.

Da análise, é possível destacar que, para o bibliotecário local, uma biblioteca híbrida é um local de convergência de tecnologias, com foco nas demandas dos usuários. Para ele, os serviços e os produtos da uma organização híbrida devem ser desenvolvidos com base no estudo de usuários, com necessidade de mudança e de adequação da estrutura da biblioteca diante das demandas sociais. As transformações ocorrem de acordo com as necessidades e os desejos informacionais dos indivíduos, buscando promover acesso à informação ao maior número possível de públicos.

Todavia, a dúvida do entrevistado permanece na resposta à questão 13: se ele acreditava que a hibridez estava sendo totalmente colocada em prática na Bp1: “Nós ainda temos muito a melhorar em termos de tecnologia, mas provemos acesso a variados bancos de dados, serviços de intercâmbio de dados entre bibliotecas, ebooks, pesquisa online... Então, penso que estamos no caminho certo”.

Metaforizando a paráfrase, é possível destacar os seguintes domínios de linguagem:

1. “Nós ainda temos muito a melhorar em termos de tecnologia, mas provemos acesso a variados bancos de dados, serviços de intercâmbio de dados entre bibliotecas, ebooks, pesquisa online”. - A conjunção adversativa “mas” indica uma contradição entre o entendimento sobre biblioteca híbrida, que é uma instituição viva e precisa estar sempre inovando, e o pensamento de que a Bp1 já oferece acesso a uma ampla gama de materiais, em diferentes tipos de suportes informacionais.

2. “Então, penso que estamos no caminho certo”. - Confirmação de que a Bp1 se compreende como híbrida.

Complementando a análise anterior, pode-se dizer que, para o entrevistado, uma biblioteca híbrida é um local de convergência de tecnologias, com foco nas demandas dos usuários. Os serviços e os produtos devem ser desenvolvidos a partir do estudo de usuários, e a instituição precisa mudar e se adequar às demandas sociais. As transformações necessitam ocorrer de acordo com as necessidades e os desejos informacionais dos indivíduos, buscando promover acesso à informação ao maior número possível de públicos, por meio da inovação constante da biblioteca.

A Figura 3 representa o hiperdomínio linguístico “conceito de biblioteca híbrida” relativamente aos domínios sêmicos do enunciado do bibliotecário entrevistado na Bp1. Dessa maneira, têm-se quatro domínios para o conceito de biblioteca híbrida do entrevistado: 1. convergência de tecnologias, estudo de usuários, necessidades, desejos informacionais e demandas dos usuários; 2. mudança e adequação de produtos e serviços às demandas sociais; 3. inovação; e 4. promoção do acesso a informação ao maior número possível de públicos.

Figura 3
Conceito de biblioteca híbrida para a Bp1

A Bp1 já coloca em prática o que pensa ser o significado do termo biblioteca híbrida, pois sua política de desenvolvimento de coleções preza pela convergência de tecnologias e pela adequação dos materiais ao público, mantendo-os sempre atualizados. Na seleção dos bancos de dados, enfatizam-se a troca e o compartilhamento de dados entre bibliotecas, o oferecimento de acesso a informações em grande quantidade e qualidade, além da presença da instituição em redes sociais.

Na criação de arquivos e de bases de dados próprias, a Bp1 reúne e disponibiliza uma ampla gama de recursos materiais, ambos digitalizados e impressos, assim como serviços em plataformas analógicas e digitais. Ainda, trabalha com o oferecimento de tours virtuais, indo ao encontro de um ideal de hibridez em que todos os produtos e os serviços oferecidos no espaço físico da biblioteca devem estar igualmente presentes no digital.

O intercâmbio de dados entre bibliotecas visa ao aumento dos acervos físicos e digitais da Bp1, por consequência, está relacionado ao Domínio 4, representado na Figura 3, ou seja, à promoção do acesso à informação. Em adição, as oportunidades de treinamento online e presenciais para funcionários e usuários mostram o enfoque da Bp1 no social e na customização de serviços (Domínio 1), juntamente às parcerias com outras instituições, em favor de imigrantes, refugiados e aprendizes da língua inglesa.

A gamificação e o makerspace são importantes representantes dos domínios dois e três, pois trazem a realidade do espaço virtual para dentro dos afazeres da biblioteca, alcançando, em maior esfera, a comunidade ao entorno da Bp1. Em consonância, é possível verificar o trabalho com a abordagem dos micro e macro ambientes da instituição, bem como de apoio aos negócios locais.

Nesse sentido, em relação às categorias de ADM estabelecidas neste estudo, têm-se a seguinte sistematização de pesquisa na Bp1:

1. Espaço institucional no qual o discurso fundamenta suas declarações: enunciado elaborado pelo bibliotecário chefe de uma biblioteca pública dos EUA, Estado do Missouri, cidade de Memphis. Destaca-se que Memphis é a segunda cidade mais populosa do Tennesse, figurando entre as 50 maiores cidades do país. É bem desenvolvida economicamente, devido à sua localização estratégica, às margens do Rio Mississipi. Seu destaque está no âmbito cultural, com evidência no estilo de música blues norte-americano. No entanto, é a quarta cidade mais perigosa dos EUA. Ainda que com grande investimento financeiro na educação e na cultura, os números de roubos, fraudes às empresas e homicídios aumentam a cada ano na cidade (VISITEOSUSA.COM.BR, 2022).

2. A quem é dado o direito de fala, e situações que incitaram o discurso: a Bp1 foi criada para ser o novo polo tecnológico de uma das bibliotecas da Rede de Bibliotecas Públicas de Memphis, incluindo, no novo prédio, um laboratório de inovação e tecnologia. O objetivo é atender às demandas informacionais do seu público, além de futuros usuários. Para tanto, a instituição investe em parcerias com organizações públicas e privadas. Pode-se dizer, nesse caso, que o direito de fala da Bp1 é dado aos cidadãos da cidade de Memphis.

3. Campo prático no qual o discurso é desenvolvido e posicionamentos em que os conceitos colocam seus sujeitos: para o entrevistado, o conceito de hibridez em bibliotecas deve ser trabalhado por meio da análise das necessidades e dos desejos de informação dos usuários, bem como da convergência de tecnologias em prol da inovação e da promoção do acesso à informação ao maior número possível de usuários.

4. O que é reconhecido como válido e o que o conceito poderá excluir ou salientar: tendo em vista a ADM realizada com base nos dados coletados na Pesquisa Bibliográfica, o enunciado do entrevistado sobre o conceito de hibridez em bibliotecas salienta a convergência de tecnologias, o estudo de usuários, o atendimento aos interesses informacionais das comunidades e a necessidade de oferecimento de maiores possibilidades de acesso à informação. No entanto, embora observado na prática, o enunciado exclui o treinamento de equipes generalistas, a formação de equipes multidisciplinares, a ideia do bibliotecário como líder institucional, a interatividade entre os usuários, a flexibilidade na gestão de ambientes, a promoção da competência em informação, o design e a arquitetura do macroambiente e a relação público/privado. Portanto, percebe-se uma divergência entre o conceito estabelecido no enunciado do entrevistado e as práticas realizadas no dia a dia da Bp1.

5. Correlações entre as bibliotecas híbridas, sua tipologia e os tipos de desenvolvimento presentes na esfera pública das sociedades: a Bp1 é uma biblioteca pública e interfere na esfera pública por meio dos serviços e dos produtos que oferece à sociedade, assim como pelo seu impacto nos desenvolvimentos humano, social, cultural e sustentável.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que diz respeito ao espaço institucional no qual o discurso fundamenta suas declarações, em sua maioria, o conceito de biblioteca híbrida é compreendido como a convergência de tecnologias na infraestrutura das bibliotecas. Tal visão advém do espaço institucional no qual esses discursos se pautam, ou seja, das visões tecnicistas que permeiam o desenvolvimento estrutural das instituições híbridas. Porém, é possível observar um movimento de entendimento das tecnologias como ferramentas de estímulo ao trabalho com o indivíduo em seu processo de participação em sociedade. É nessa perspectiva que, a partir dos anos 2000, pode-se perceber uma mudança de paradigmas envolvendo a significação do termo “biblioteca híbrida”, em prol de entender o impacto dessa instituição nos tipos de desenvolvimento em sociedade.

Pode-se dizer que o direito de fala das bibliotecas híbridas começou com os profissionais da informação e, prontamente, passou para os usuários locais, expandindo-se, posteriormente, para as comunidades que englobam tais instituições. Os enunciados aqui analisados mostraram que o discurso sobre a hibridez em bibliotecas foi iniciado no âmbito das bibliotecas acadêmicas, em países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos da América e do continente europeu. Todavia, hoje em dia já existem pesquisas dessa temática voltadas para os demais tipos de bibliotecas e em países em desenvolvimento, principalmente em bibliotecas públicas.

Em relação ao campo prático no qual o discurso é desenvolvido e as posições em que os conceitos colocam seus sujeitos, observou-se que os elementos característicos da hibridez em bibliotecas são: 1. convergência de tecnologias; 2. interatividade entre os usuários; 3. equipes multidisciplinares de funcionários; 4. interação entre os ambientes interno e externo da biblioteca; 5. maiores possibilidades de acesso à informação; 6. flexibilidade na infraestrutura e gestão de ambientes; 7. estudo de usuários; e 8. promoção da competência em informação.

Dessa maneira, a hibridez em bibliotecas pode ser entendida como um modelo de flexibilização da infraestrutura e da gestão dos ambientes internos e externos dessas localidades, de modo a convergir pessoas e tecnologias e, por meio do acesso à informação, promover a cidadania.

Os discursos sobre bibliotecas híbridas se destinam a delimitar a importância dos profissionais da informação, que criam e mantêm os serviços das bibliotecas, no uso das tecnologias, enfatizando a necessidade de capacitação desses indivíduos. Os usuários são a população-alvo para a qual tais serviços são gerados e se desenvolvem. Portanto, o conceito de biblioteca híbrida gira em torno de pessoas, sendo a convergência de tecnologias considerada como a amplificação das ferramentas estratégicas utilizadas no encaminhamento das atividades da biblioteca.

Compreende-se as seguintes relações entre os elementos de hibridez e seu impacto na esfera pública: 1. convergência de tecnologias: impacta o desenvolvimento econômico; 2. estudo de usuários e atendimento aos interesses informacionais das comunidades: impacta o desenvolvimento social; 3. treinamento de equipes generalistas: impacta o desenvolvimento humano; 4. equipe multidisciplinar: impacta o desenvolvimento humano; 5. bibliotecário como um líder institucional: impacta o desenvolvimento humano; 6. interatividade entre os usuários: impacta o desenvolvimento cultural; 7. maiores possibilidades de acesso à informação: impacta os desenvolvimentos humano, social e cultural; 8. flexibilidade e gestão de ambientes: impacta os desenvolvimentos econômico e social; 9. promoção da competência em informação: impacta o desenvolvimento cultural; 10. design do macroambiente e arquitetura diferenciados: impacta o desenvolvimento econômico; 11. relação público/privado: impacta os desenvolvimentos econômico e social; 12. todos os elementos e suas relações impactam o desenvolvimento sustentável.

Portanto, a hibridez deve ser compreendida como um modelo de gestão interna e externa de bibliotecas, que abrange a convergência de ideais: tecnologias, pessoas, arquitetura e design. Isto posto, as correlações entre as bibliotecas híbridas, os tipos de bibliotecas e os tipos de desenvolvimento em sociedade destacam-se no fato de que ela pode e deve ser aplicada a todos os tipos de bibliotecas, a fim de que essas instituições possam acompanhar os avanços estruturais da sociedade e sejam relevantes para os usuários.

Dito isso, pode-se dizer que, de acordo com os enunciados analisados, uma biblioteca híbrida é uma instituição cujo principal objetivo é promover o acesso à informação aos usuários reais, bem como produtos e serviços que tragam os usuários potenciais para a instituição. Ela procura, por meio da sua influência nos desenvolvimentos cultural, econômico, humano e social e sustentável, tornar os usuários competentes no uso da informação. Para tanto, converge tecnologias e/ou trabalha com diferentes tipologias de bibliotecas, combinando suas características em um mesmo ambiente. Algumas das práticas necessárias para se conseguir esse objetivo são estudo de usuários, flexibilidade da infraestrutura e gestão de ambientes, treinamento de equipes generalistas e multidisciplinares, bem como inovação do design/arquitetura da biblioteca tradicional, a favor do desenvolvimento da sociedade.

Tendo em vista esse cenário, a pesquisa cumpriu o objetivo proposto e sugere-se, para estudos futuros a abordagem do conceito de hibridez nos demais equipamentos de informação, isto é, para além de bibliotecas, em arquivos e museus.

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  A base metodológica da ADM, ou seja, o aporte teórico no qual os dados foram analisados, decorre, principalmente, de autores como Budd (2006), Kress (2010), Forceville (2009), Foucault (1971, 2002), Morales (2018) e O’Halloran (2011), que destacam a Análise do Discurso para a análise de práticas sociais. Além disso, ao abordar as possíveis construções ideológicas do conteúdo apresentado, o estudo pautou-se nos ideais de Pêcheux (1969), de modo a analisar os enunciados em termos de autor, local, objeto, crença e momento histórico.
• 2
  Stop Motion, ou movimento parado, é uma técnica que utiliza a disposição sequencial de fotografias diferentes de um mesmo objeto inanimado para simular o seu movimento.

• Disponibilidade de dados e material:

  Os dados gerados e/ou analisados durante o estudo estarão disponíveis no Repositório Institucional da UNESP - https://repositorio.unesp.br/

• Financiamento: Parte deste estudo foi financiado pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, processo 2018/03999-2.

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Editado por

Editor: Gildenir Carolino Santos

Disponibilidade de dados

Os dados gerados e/ou analisados durante o estudo estarão disponíveis no Repositório Institucional da UNESP - https://repositorio.unesp.br/

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  23 Jan 2023
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  09 Dez 2022
• Aceito
  13 Dez 2022
• Publicado
  15 Dez 2022