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A ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA: EPISTEMOLOGIA, METODOLOGIA E ESTADO DA ARTE1 1 Recebido em 9/11/2020, aceito em 29/9/2021.

THE POLITICAL ADMINISTRATION: EPISTEMOLOGY, METHODOLOGY AND STAGE OF ART

LA ADMINISTRACIÓN POLÍTICA: EPISTEMOLOGÍA, METODOLOGÍA Y EL ESTADO DEL ARTE

RESUMO

Este artigo visa contribuir para a apreciação e sistematização da produção de conhecimento a partir do movimento da administração política. O objetivo principal é o de mapear o alcance e as características da perspectiva estudada por meio de um estudo bibliométrico. Para tanto, elaborou-se uma exposição do volume e vazão da produção sobre administração política no Brasil. Além disso, foram analisados aspectos metodológicos e epistemológicos das publicações. Chega-se à conclusão que a administração política é uma abordagem sociológica híbrida, na qual a matriz analítica se apresenta como dominante. pode-se afirmar que se trata de um campo em seus estágios iniciais de desenvolvimento, com comprovações empíricas ainda incipientes e predominância de estudos ensaísticos, teóricos ou exploratórios.

Palavras-chave:
Administração Política; Gestão; Estado; Epistemologia; Metodologia

ABSTRACT

This paper aims to understand and categorize the scientific production of the Political Administration. The main idea is to build a state of the art of the concept in order to characterize its contribution drawing an overview of its development, thru bibliometrics analysis. Therefore, it was measured the volume and the journals in which their production becomes known in Brazil. Then, it was analyzed its methodological and epistemological features. The major findings concern to show that, first, the political administration movement is a hybrid sociological approach-in which the analytical matrix seems to be dominant-and, the Political Administration Movement appear in its first developments, with meager empirical evidence in where speculative, exploratory, and essayistic procedures are the mains methods employed.

Keywords:
Political Administration; Management; State; Epistemology; Methodology

RESUMEN

Este paper asume el objetivo de comprender y categorizar la producción científica de la Administración Política. La idea principal es construir un estado del arte del concepto caracterizando su contribución bajo una visión general de su desarrollo. Por tanto, se realizó un estudio bibliométrico a partir del cual se midió el volumen y las principales revistas en que se publican su producción en Brasil. Además, se analizaron sus características metodológicas y epistemológicas. Las principales conclusiones mostram que el movimiento de la administración política es un enfoque sociológico híbrido donde la matriz analítica parece ser dominante. Además, el Movimiento de Administración Política aparece en sus premeras etapas de desarrollo, con escasa evidencia empírica, en el cual los trabajos ensayísticos, exploratórios y especulativos son los principales métodos empleados.

Palavras Clave:
Administración Política; Gestión; Estado; Epistemología; Metodología

INTRODUÇÃO

Na medida em que a ciência da administração se desenvolve epistemológica e metodologicamente (SERVA, 2017SERVA, M. Epistemologia da administração no Brasil: o estado da arte. Cadernos Ebape.Br, v. 15, n. 4, p. 740-750, 2017. Disponível em:http://dx.doi.org/10.1590/1679-395173209. Acesso em: 12 maio 2019.
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), cresce em sincronia a percepção de que categorias como gestão, organizações ou tomada de decisão, exercem um papel cada vez mais estruturante nas sociedades contemporâneas (KLIKAUER, 2013KLIKAUER, T. Managerialism: A Critique of an Ideology. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2013.). Num mundo onde a rationale empresarial se impõe como instituição dominante, urge a reflexão acerca de quais as condições dessa dominância ideológica (KLIKAUER, 2019), comportamental (DARDOT; LAVAL, 2016DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Tradução de Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2016.) e material (SAROKIN; SCHULKIN, 2020SAROKIN, D.; SCHULKIN, J. The Corporation: its history and future. Newcastle: Cambridge Scholars Publishing, 2020.). Mesmo que o campo da administração, em sua perspectiva dominante (funcionalista), apresente uma limitada capacidade crítica (JUSTEN; DELLAGNELO, 2018JUSTEN, C. E.; DELLAGNELO, E. H. L. A política do mainstream dos estudos organizacionais frente ao político: ofensiva neoliberal à burocratização das relações sociais. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 5, n. 13, p. 638-683, ago. 2018. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/4224. Acesso em: 04 jan. 2019.
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).

A concepção de administração política se insere nesse debate, uma vez que propõe uma análise macroestrutural das sociedades e do Estado a partir da gestão (SANTOS, R. S., 2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.). A recepção da administração política no campo foi variada, suscitando de críticas - marxista (PAÇO CUNHA, 2019PAÇO CUNHA, E. Centralidade da gestão do estado como limite da razão política ou para uma crítica da administração política. Revista Eletrônica de Administração, v. 25, n. 2, p. 150-178, maio 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.237.809126. Acesso em: 13 jan. 2020.
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), a partir dos estudos organizacionais (CRISTALDO, 2020) etc. -, até propositivas, sugerindo diálogos como com a cratologia (SOUZA, 2018SOUZA, M. de O. A administração política do poder nacional: uma proposta para a formatação de um modelo de análise cratológica. Revista Brasileira de Administração Política, v. 11, n. 1, p. 23-41, abr. 2018. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/view/37379. Acesso em: 15 ago. 2020.
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), as políticas públicas (SANTOS, R. S. et al., 2017), ou o novo-desenvolvimentismo (CRISTALDO; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, 2017), entre outros. De modo que vem se fortalecendo um movimento científico em torno do conceito (SANTANA; PIÁU, 2017SANTANA, W. G. P.; PIÁU, D. D. N. D. Administração política no “sertão da ressaca”: a trajetória de um grupo de pesquisa. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 1000-1018, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3985. Acesso em: 23 fev. 2019.
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).

Essa terminologia, “administração política” (PASTORI, 1998PASTORI, G. Administração pública. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Tradução João Ferreira. Brasília: Editora UNB, 1998. p.10-17., p. 15), antecede a formação do movimento. A partir de então foi ressignificada para refletir acerca dos aspectos macrossociais da gestão (SOUZA; CRISTALDO, 2017SOUZA, S. S. de; CRISTALDO, R. C. A institucionalização da educação a distância em duas universidades públicas baianas: a Universidade Federal da Bahia e a Universidade do Estado da Bahia. Revista Brasileira de Administração Política, v. 10, n. 1, p. 73-97, abr. 2017. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/download/25795/15658. Acesso em: 15 mar. 2019.
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), nomear um novo campo de conhecimento (SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; SANTOS, T. C., 2009SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; SANTOS, T. C. Bases teórico-metodológicas da administração política. Revista de Administração Pública, v. 43 n. 4, p. 919-41, jul./ago. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122009000400008>. Acesso em: 15 ago. 2011.
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) e mesmo suscitar uma agenda crítica de pesquisa (JUSTEN et al., 2017JUSTEN, A. et al.. Administração política: por uma agenda de pesquisa marxista. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 664-760, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/4010/2479. Acesso em: 12 jan. 2019.
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). No entanto, a despeito de inspirar uma já volumosa produção, com raríssimas e ainda incipientes exceções, não se encontram à disposição estudos que sistematizem os avanços do campo. Os esforços de R. S. Santos (2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.), R. S. Santos, E. M. Ribeiro e T. C. Santos (2009) ou Santana e Piáu (2017SANTANA, W. G. P.; PIÁU, D. D. N. D. Administração política no “sertão da ressaca”: a trajetória de um grupo de pesquisa. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 1000-1018, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3985. Acesso em: 23 fev. 2019.
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) nesse sentido, embora louváveis, não refletem integralmente o que se tem publicado sobre administração política.

O objetivo geral deste artigo, portanto, é auxiliar a preencher essa lacuna, desenhando um panorama da produção em torno do conceito de administração política, desde seu surgimento no trabalho seminal de R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M. A administração política brasileira. Revista de Administração Pública, v. 27, n. 4, p. 919-41, out./dez. 1993. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017. Acesso em: 15 ago. 2019.
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) até junho de 2021. Para atender a esse objetivo geral, realizou-se um estudo bibliométrico, a partir dos seguintes objetivos específicos: (i) identificar o volume e a vazão da publicação acadêmica do movimento da administração política; (ii) analisar suas premissas metodológicas e epistemológicas; e (iii) desvelar as formas gerais de produção de conhecimento, suas lacunas e fragilidades a serem enfrentadas no futuro.

Esse procedimento contribui para a administração ao sistematizar o conhecimento de um subcampo potencialmente inovador, estabelecendo assim bases para uma análise mais aprofundada de sua contribuição e pertinência. A seguir, este artigo se estrutura em mais três seções, seguidas das considerações finais. Na seção dois apresenta-se o movimento da administração política: um breve histórico, as ideias centrais, algumas das críticas mais contundentes e as principais contribuições à ciência da administração. A seção três é dedicada a relatar os procedimentos metodológicos da investigação conduzida. Já na quarta seção apresentam-se os resultados alcançados no estudo bibliométrico, em cinco subseções: recepção e publicações; principais referências e autores centrais; aspectos epistemológicos; temas recorrentes; aspectos metodológicos.

1 O MOVIMENTO DA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA

O Movimento da Administração Política (MAP) parte da premissa de que a administração pode se dedicar à descrição e análise de processos macrossociais (SANTOS, R. S. et al., 2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.). Isto, pois, a gestão - o conjunto de procedimentos e meios que, ao articular relações sociais e fatores de produção, auxiliam na consecução dos objetivos e finalidades particulares e/ou coletivas nas organizações - seria um aspecto estruturante do modo de produção capitalista (CRISTALDO; PEREIRA, 2008CRISTALDO, R. C.; PEREIRA, C. M. A administração política e a gestão do modo de produção: processos gestoriais desde a organização produtiva do trabalho até a economia-mundo capitalista. Revista Brasileira de Administração Política, v. 1, n. 1, p. 71-94, out. 2008. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/download/15483/10624. Acesso em: 29 jan. 2019.
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). No início dos anos 2000 se formou um movimento acadêmico-intelectual em torno dessa ideia (SANTANA; PIÁU, 2017SANTANA, W. G. P.; PIÁU, D. D. N. D. Administração política no “sertão da ressaca”: a trajetória de um grupo de pesquisa. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 1000-1018, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3985. Acesso em: 23 fev. 2019.
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), inaugurando todo um novo campo de conhecimento (SANTOS, R. S. et al., 2009), como uma alternativa crítica ao pensamento funcionalista nos estudos organizacionais (SANTOS, E. L. et al., 2014).

O conceito de “administração política” surgiu no trabalho pioneiro de R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M. A administração política brasileira. Revista de Administração Pública, v. 27, n. 4, p. 919-41, out./dez. 1993. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017. Acesso em: 15 ago. 2019.
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),3 3 O termo “administração política” na ciência política é empregado para a análise de articulação de interesses no Estado (PASTORI, 1998). Algo próximo das noções de governança ou regulação. Porém, credita-se pioneirismo à concepção de R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993), pois utilizam essa terminologia para se referir a algo mais amplo, um tipo de “[...] gestão imanente ou administração política fundamental [...] um padrão na condução dos processos sociais de organização e gestão [...].” (CRISTALDO; PEREIRA, 2008, p. 86). mas a estruturação de um grupo formal de pesquisa tardou até a passagem do milênio (SANTOS, R. S., 2009bSANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; SANTOS, T. C. Bases teórico-metodológicas da administração política. Revista de Administração Pública, v. 43 n. 4, p. 919-41, jul./ago. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122009000400008>. Acesso em: 15 ago. 2011.
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). Em 2004 organiza-se o livro Administração Política como Campo de Conhecimento, dando vazão aos desdobramentos das investigações até então disponíveis (SANTOS, R. S., 2009b). Em 2008, verifica-se um salto no volume de produção dedicada ao tema com o surgimento da Revista Brasileira de Administração Política (Rebap) (SANTANA; PIÁU, 2017SANTANA, W. G. P.; PIÁU, D. D. N. D. Administração política no “sertão da ressaca”: a trajetória de um grupo de pesquisa. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 1000-1018, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3985. Acesso em: 23 fev. 2019.
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). Outro marco a se destacar é a edição do dossiê temático ‘Administração Política: Ensino, Pesquisa e Prática’ na Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, que reúne um rol de dez artigos no campo (SANTOS, E. L. et al., 2017).

Uma primeira ideia central do MAP é que a gestão seria, ou deveria ser, o objeto da administração enquanto ciência (SANTOS, R. S. et al., 2009SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; SANTOS, T. C. Bases teórico-metodológicas da administração política. Revista de Administração Pública, v. 43 n. 4, p. 919-41, jul./ago. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122009000400008>. Acesso em: 15 ago. 2011.
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). A gestão se manifestaria concretamente em duas instâncias de ação social. A noção de “administração profissional” (SANTOS, R. S. et al., 2017, p. 943) caracterizaria sua dimensão micro, compreendendo a esfera das técnicas, dos modelos de gerenciamento e da prática administrativa. Já a “administração política” (PAÇO CUNHA, 2019PAÇO CUNHA, E. Centralidade da gestão do estado como limite da razão política ou para uma crítica da administração política. Revista Eletrônica de Administração, v. 25, n. 2, p. 150-178, maio 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.237.809126. Acesso em: 13 jan. 2020.
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, p. 153), sua dimensão macro, abarcando, de um lado, a gestão das relações sociais de produção e distribuição para alcançar o bem-estar social (SANTOS, R. S. et al., 2017), de outro lado, os padrões imanentes de gestão que estruturam a tomada de decisão no modo de produção capitalista (SOUZA; CRISTALDO, 2017SOUZA, S. S. de; CRISTALDO, R. C. A institucionalização da educação a distância em duas universidades públicas baianas: a Universidade Federal da Bahia e a Universidade do Estado da Bahia. Revista Brasileira de Administração Política, v. 10, n. 1, p. 73-97, abr. 2017. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/download/25795/15658. Acesso em: 15 mar. 2019.
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).

Essa dimensão macro se ocuparia de processos sociais amplos, como o Estado, o desenvolvimento econômico etc. (SANTOS, R. S.; GOMES, 2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.). A questão do subdesenvolvimento brasileiro, por exemplo, é analisada como um duplo problema de (i) alocação [ sub ] racional de recursos do Estado e (ii) ausência de um projeto de nação (SANTOS, R. S. et al., 2016). Inclusive, é a partir desse diagnóstico que se propõe uma nova administração política do desenvolvimento, tomando como fator indutor o aspecto distributivo capitaneado pelo Estado. Assim, dever-se-ia promover a distribuição de riquezas “para qualquer nível de renda (PQNR)” (SANTOS, R. S., 2010b, p. 22). Ou seja, em grande parte, uma das principais preocupações do movimento seria a mudança social, por meio do combate das injustiças distributivas do capitalismo (PAÇO CUNHA, 2019PAÇO CUNHA, E. Centralidade da gestão do estado como limite da razão política ou para uma crítica da administração política. Revista Eletrônica de Administração, v. 25, n. 2, p. 150-178, maio 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.237.809126. Acesso em: 13 jan. 2020.
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).

Também se registram críticas à argumentação do MAP. Queiroz (2015QUEIROZ, H. A. de. Administração política e Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Estudos Organizacionais, v. 2. n. 2, p. 263-287, dez.2015. Disponível em: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2015.v2n2.56. Acesso em: 15 jun. 2019.
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) demonstra que subjaz no campo a ideia a priori de que a função do Estado é a de promover o bem-estar social. Pressupõem que, além de ser apto, bastaria que a vontade política fosse substituída pela racionalidade da técnica. Já Cristaldo, M. M. Ribeiro e Pessina (2017CRISTALDO, R. C.; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, M. E. H. Administração política e novo desenvolvimentismo: alternativas ou continuidade? Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 600-662, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3923. Acesso em: 12 jan. 2019.
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) questionam a novidade da administração política, sugerindo que se trata de um tipo de adesão à economia keynesiana, apenas apresentada com termos e palavras-chave típicas da administração. Por sua vez, Paço Cunha (2019) afirma que elevar a gestão à centralidade da análise das relações sociais escamoteia as relações em si, tanto contribuindo para a manutenção dos processos de exploração, como levando o MAP a produzir uma crítica meramente reformista. Por sua vez, Cristaldo (2020a) contesta a ideia de que a administração política seja um estudo crítico, demonstrando que o paradigma funcionalista exerce muita influência no movimento. Cristaldo (2020b) ainda apresenta uma reflexão sobre o projeto de desenvolvimento da administração política, sugerindo que se trata de uma apropriação pouco inovadora e ainda carente de uma análise dos problemas políticos do desenvolvimento.

A despeito das críticas, a noção de administração política traz contribuições pertinentes, tanto para o campo da administração quanto para a coletividade. A primeira delas está em transcender da microgestão das organizações, em direção à uma macrogestão do Estado e das sociedades (QUEIROZ, 2015QUEIROZ, H. A. de. Administração política e Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Estudos Organizacionais, v. 2. n. 2, p. 263-287, dez.2015. Disponível em: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2015.v2n2.56. Acesso em: 15 jun. 2019.
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). Além disso, trata-se de uma tentativa de pensar a realidade brasileira com um aparato teórico construído a partir das problemáticas locais (PAÇO CUNHA, 2019PAÇO CUNHA, E. Centralidade da gestão do estado como limite da razão política ou para uma crítica da administração política. Revista Eletrônica de Administração, v. 25, n. 2, p. 150-178, maio 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.237.809126. Acesso em: 13 jan. 2020.
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), sem perder a perspectiva de integração com saberes forâneos (CRISTALDO; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, 2017CRISTALDO, R. C.; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, M. E. H. Administração política e novo desenvolvimentismo: alternativas ou continuidade? Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 600-662, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3923. Acesso em: 12 jan. 2019.
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). Muito embora seja possível questionar o quanto a dimensão política é de fato apreciada no âmbito da administração pelo movimento (CRISTALDO, 2020a; 2020b), a concepção de administração política levanta a possibilidade de integração teórica dessas dinâmicas sociais, se apresentando como espaço onde a gestão interage com a tríade poder, interesses e dominação (SANTOS, E. et al.., 2014SANTOS, E. L. et al.. Contribuições da administração política para o campo da administração. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 3, n. 3, p. 183-200, maio/ago. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.9771/23172428rigs.v3i2.9894. Acesso em: 3 set. 2018.
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).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nessa seção, relatam-se os procedimentos metodológicos deste trabalho. Para atender aos objetivos propostos, realizou-se um estudo bibliométrico quali-quanti. A proposta foi examinar a produção do movimento da administração política (MAP), para assim obter informações que possam subsidiar um panorama teórico-metodológico do campo.

Trataram-se de oito etapas de investigação, divididas em três fases. A primeira fase consistiu na prospecção dos trabalhos a serem analisados. Nesse caso, a premissa da qual se partiu foi a de que a produção do campo seria bem representada pelos artigos científicos publicados em periódicos científicos. Assim, não foram analisados livros, artigos de opinião e outros. Para chegar à base de dados, o procedimento se deu conforme a seguir:

  1. Identificação dos descritores para orientar as buscas. Foi realizado um estudo exploratório a partir de cinco referências: o livro Administração Política como Campo de Conhecimento (SANTOS, R. S., 2009SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; SANTOS, T. C. Bases teórico-metodológicas da administração política. Revista de Administração Pública, v. 43 n. 4, p. 919-41, jul./ago. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122009000400008>. Acesso em: 15 ago. 2011.
    http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122009...
    ), mais os artigos de R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M. A administração política brasileira. Revista de Administração Pública, v. 27, n. 4, p. 919-41, out./dez. 1993. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017. Acesso em: 15 ago. 2019.
    http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017...
    ), E. L. Santos (2017), R. S. Santos et al. (2009) e E. L. Santos et al. (2014). Chegou-se à conclusão de que o principal descritor de busca para pesquisa seria o termo composto “administração política”.

  2. Busca do termo “administração política” em quatro bases na internet - Scielo <https://scielo.org/>, Scopus <https://www.scopus.com/home.uri>, Spell <http://www.spell.org.br/> e Web of Science <http://www.spell.org.br/> -, entre 1990 e junho de 2021, nos campos título, resumo e palavras-chave. Foram encontrados 25 artigos: Scopus, 1 (um); Web of Science, 0 (nenhum); Spell, 16 (quinze); Scielo, 8 (oito).

  3. Inclusão da Rebap, que não faz parte das bases consultadas. Como esse periódico foi criado e mantido pelos pioneiros do campo (SANTOS, R. S., 2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.), considerou-se que seu conteúdo seria muito representativo. Assim, repetiu-se no website da Rebap a busca descrita no item dois - desde o primeiro número em 2008, até o v. 11, n. 1 de 2018, último publicado -, chegando a 84 artigos.

  4. Triagem dos achados: os 109 artigos recuperados passaram por uma seleção. Primeiro foram excluídos os casos de duplicidade. Segundo, foram descartados trabalhos onde os termos “administração” e “política” não surgissem como um conceito composto, portanto não aderentes ao movimento.

    Ao final da primeira fase, chegou-se ao universo total de 87 artigos científicos publicados em 12 diferentes periódicos. A segunda fase compreendeu a análise individual desse rol de artigos e a formação da base de dados.

  5. Contagem da produtividade. Foi feita uma distribuição em série histórica do volume das publicações por ano, nos diferentes periódicos, desde 1993.

  6. Análise dos artigos e consolidação dos dados. Cada artigo foi analisado manualmente - pois o sistema da Rebap não exporta arquivo .RIS e o .PDF de muitos dos textos encontrados estava configurado em formato de imagem, que impedia a consolidação em softwares de gerenciamento de referências -, compondo um arquivo de tabela eletrônica com os metadados dos artigos, mais informações metodológico-epistemológicas para caracterização do campo. Nessa etapa foi empregado o software Microsoft Excel 2016.

    A terceira e última fase consistiu na análise dos dados consolidados.

  7. A análise dos metadados para identificar: (i) os periódicos que oferecem maior visibilidade ao campo; (ii) os principais autores e referências; e (iii) os temas recorrentes. A análise dos temas recorrentes se deu por meio das palavras-chave atribuídas pelos autores, classificadas por categorias por aproximação temática. Dentre as principais referências foram identificados dois grupos: (i) autores pertencentes ao campo; e (ii) autores externos ao campo. O primeiro grupo proveu uma lista dos autores de dentro do MAP mais citados endogenamente; estes foram considerados os principais autores da administração política. O segundo grupo foi composto a partir da lista dos teóricos recorrentes, que serviram como base para formulação do pensamento no campo, seja por adesão, síntese, aglutinação ou crítica. Ao identificar os autores principais, verificou-se que 25 dos 87 artigos selecionados para esta pesquisa eram de autoria desses pesquisadores. Daí, para chegar a uma caracterização do core do campo da administração política, repetiu-se algumas das análises para este grupo.

  8. Todos os 87 artigos passaram também por uma análise dos aspectos metodológicos e epistemológicos. A partir desse expediente, os trabalhos foram avaliados em profundidade, individualmente, para então ser classificados de acordo com: (i) tipo de artigo científico (TRZESNIAK, 2014TRZESNIAK, P. Hoje vou escrever um artigo científico: a construção e a transmissão do conhecimento. In: KOLLER, S. H.; COUTO, M. C. P. de P.; HOHENDORFF, J. von (Org.). Manual de produção científica. Porto Alegre: Penso, 2014. p. 15-38.); (ii) abordagem de investigação, se qualitativa, quantitativa ou quali-quanti (SOUZA; KERBAUY, 2017SOUZA, S. S. de; CRISTALDO, R. C. A institucionalização da educação a distância em duas universidades públicas baianas: a Universidade Federal da Bahia e a Universidade do Estado da Bahia. Revista Brasileira de Administração Política, v. 10, n. 1, p. 73-97, abr. 2017. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/download/25795/15658. Acesso em: 15 mar. 2019.
    https://portalseer.ufba.br/index.php/reb...
    ); (iii) métodos ou procedimentos científicos (DEMO, 1995DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995.); e (iv) aproximação com uma matriz epistêmica, se analítica, hermenêutica, crítica ou híbrida (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
    http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419...
    ).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nessa seção são relatados os resultados alcançados, em cinco subseções: (i) recepção e publicações; (ii) principais referências e autores centrais; (iii) aspectos epistemológicos; (iv) temas recorrentes; e (v) aspectos metodológicos.

3.1 RECEPÇÃO E PUBLICAÇÕES

Conforme descrito na seção 2, o surgimento do conceito de administração política remonta ao início da década de 1990 (SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M., 1993SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M. A administração política brasileira. Revista de Administração Pública, v. 27, n. 4, p. 919-41, out./dez. 1993. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017. Acesso em: 15 ago. 2019.
http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017...
). No entanto, a formação do Movimento da Administração Política (MAP) se deu apenas nos anos 2000 (SANTOS, R. S., 2017). Uma forma de visualizar essa trajetória é por meio do volume da produção do MAP distribuída no tempo (vide Figura 1).

Figura 1
Administração Política, Base Geral, Número de Artigos Publicados,1993-2021

Com base na Figura 1, é possível notar que a produção no campo da administração política se inicia tímida, com a publicação de um, no máximo dois artigos por ano. Em 2008 se observa um salto de produção, ano do surgimento da Rebap. Em 2017 aparece o pico dessa série histórica, com o número especial sobre administração política na Farol.

Do universo de 87 artigos analisados para este estudo, foram publicados: (i) 49 na Revista Brasileira de Administração Política (Rebap, ISSN: 2525-5495); (ii) dez na Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade (ISSN: 2358-6311); (iii) sete na Revista de Administração Pública (RAP, ISSN: 1982-3134); (iv) três na Organizações & Sociedade (O&S, ISSN: 1984-9230); (v) dois no Cadernos Ebape.Br (ISSN: 1679-3951); (vi) um da revista Administração Pública e Gestão Social (APGS, ISSN: 2175-5787); (vii) um na Revista Eletrônica de Administração (REAd, ISSN: 1413-2311); (viii) dois na Revista Brasileira de Estudos Organizacionais (RBEO, ISSN: 2447-4851); (ix) um na Revista Pensamento Contemporâneo em Administração (RPCA, ISSN: 1982-2596); (x) dois na Revista Interdisciplinar de Gestão Social (RIGS, ISSN 2317-2428); (xi) um na Revista Gestão e Planejamento (G&P, ISSN: 1516-9103); e finalmente (xii) um na Revista Internacional de Investigación en Ciencias Sociales (RIICS, ISSN: 2226-4000) . Na Figura 2 a seguir é possível visualizar essa distribuição de publicações por periódicos.

Figura 2
Administração Política, Base Geral, Distribuição da Publicação por Periódicos, Percentual

O periódico que dá mais vazão à produção de conhecimento no campo da administração política é, sem embargo, a Rebap. A Farol vem em segundo lugar, graças ao dossiê publicado em 2017 que atraiu os dez (10) trabalhos encontrados. No Qualis Periódicos essas revistas, que concentram 73% da publicação sobre administração política, recebem apenas a classificação B5 e B4 respectivamente. Porém, não é possível afirmar que a produção do campo apresente pouca visibilidade, uma vez que artigos relacionados se encontram publicados em periódicos nacionais bem avaliados, como a RAP (Qualis A2), a O&S (Qualis A2), os Cadernos Ebape.Br (Qualis A2), entre outros. Apenas um paper foi publicado num periódico internacional, o paraguaio RIICS.

3.2 PRINCIPAIS REFERÊNCIAS E AUTORES CENTRAIS

As principais referências do campo foram encontradas por meio da enumeração e contagem das entradas de documentos em cada um dos 87 artigos analisados para este estudo, doravante referido como base geral (BG). No total, foram relacionados 1829 (mil oitocentos e vinte nove) citações a 1053 (mil e cinquenta e três) diferentes trabalhos. Desse conjunto foram destacadas as 20 obras mais citadas (vide Quadro 1).

Quadro 1
Administração Política, Base Geral, Obras Mais Citadas**

Dos vinte trabalhos mais citados na BG, de autores que não pertencem ao MAP, seis são clássicos da economia política. Três aderem ao campo da administração, dos quais dois brasileiros - Guerreiro Ramos e João Ubaldo Ribeiro -, sendo que este último aparece graças a redescoberta de um artigo de sua autoria publicado nos anos 1960 (FACHIN; PINHO; SANTOS, R. S., 2014SANTOS, E. L. et al.. Contribuições da administração política para o campo da administração. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 3, n. 3, p. 183-200, maio/ago. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.9771/23172428rigs.v3i2.9894. Acesso em: 3 set. 2018.
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).

As obras mais citadas remetem a diferentes matrizes epistêmicas. Os trabalhos de Smith, Keynes e Taylor aparecem como um desdobramento do empirismo/utilitarismo inglês, se aproximando da matriz analítica. O mesmo pode-se dizer de Kuhn. Os trabalhos de Marx e Engels adeririam à matriz crítica. Já as obras de Guerreiro Ramos e João Ubaldo Ribeiro, por sua aproximação com o estruturalismo, poderiam ser arrolados no espectro da matriz hermenêutica (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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).

Os trabalhos de autores pertencentes ao MAP são a maioria: aproximadamente 65% do total das menções. Destes, o mais lembrado é R. Santos, com participação em oito trabalhos entre os 20 mais citados, ocupando as quatro primeiras posições e contribuindo com aproximadamente 57% do total das menções dentre os 20 trabalhos mais citados na BG.

Para melhor ilustrar as referências principais do MAP, as citações a diversos trabalhos de um mesmo autor foram enumeradas, dessa vez considerando todos os autores referenciados na base. Chegou-se assim a uma lista dos autores mais citados na BG (vide a Tabela 1).

Tabela 1
Administração Política, Base Geral, Autores Mais citados, Nível de Autoria*

Na Tabela 1, percebe-se a consolidação de algumas tendências já observadas no Quadro 1: (i) o autor R. Santos recebe mais citações, a grande maioria a partir de trabalhos nos quais contribui como primeiro ou único autor; (ii) fazem parte do rol de referências principais autores que podem ser classificados como aderentes às três diferentes matrizes epistêmicas (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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). Se aproximando da matriz analítica, 5 autores: Smith, Keynes, Bresser-Pereira, Prebisch, Taylor. Aderentes à matriz crítica, 5 autores: Marx e Engels (tratados aqui como uma unidade), Tragtemberg, Mészáros, Paço Cunha e Bernardo. E da matriz hermenêutica/fenomenológica, 5 autores: Guerreiro Ramos, Furtado, Weber, João Ubaldo Ribeiro e França Filho.

Por outro lado, esse expediente auxilia a identificar os autores pertencentes ao MAP que foram mais citados. Pode-se considerar, portanto, que esses são os autores centrais do campo, aos quais normalmente outros autores ligados ao movimento recorrem para embasar suas discussões e debates: R. S. Santos, E. M. Ribeiro, Gomes, T. C. Santos e E. L. Santos.

Notou-se que, dos 87 artigos analisados para este estudo, 25 são de autoria de ao menos um desses pesquisadores. Considerando que a maior parte das citações na BG fazem referência a trabalhos desses autores centrais, acredita-se que um exame desses textos caracteriza de maneira mais aprofundada os aspectos gerais do MAP. Ou, ao menos, explicita as características do mainstream do movimento em comparação à produção mais geral. Portanto, repetiram-se algumas das análises para os dois conjuntos de trabalhos: o universo de 87 artigos (a base geral, BG); e o conjunto dos 25 artigos dos autores centrais do campo, doravante base de autores centrais (BAC).

Quadro 2
Administração Política, Base de Autores Centrais, Obras Mais Citadas**

No Quadro 2 relacionam-se as 20 obras mais citadas na BAC. Dentre as obras de autores que não fazem parte do movimento, uma é o léxico Dicionário de Política organizado por Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998), cuja inserção é pontual; esse trabalho e autores não exercem influência direta no arcabouço teórico da administração política.4 4 O dicionário de Bobbio é citado sobretudo pelos autores centrais do MAP, especificamente R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993), R. S. Santos (2001), R. S. Santos (2003) e E. M. Ribeiro (2008). Nesses trabalhos, em verdade, autores recorrem ao verbete “administração pública” (Pastori, 1998, p. 10), no qual o termo “administração política” (p. 15) aparece como um sinônimo de governança ou gestão pública. Por sinal, essa descrição foi descartada por esses autores, pois seria distante de seus intentos. Pode-se assumir, portanto, que o trabalho de Bobbio não faz parte das raízes teóricas da administração política. Por sua vez, Keynes contribui com três trabalhos entre os 20 mais citados, junto a Smith (um trabalho), Kuhn (um trabalho) e Fayol (um trabalho), todos esses mais próximos da matriz epistêmica analítica (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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). Se aproximando da matriz hermenêutica/fenomenológica, aparecem as referências a Guerreiro Ramos (dois trabalhos) e João Ubaldo Ribeiro (um trabalho) (PAULA, 2016). E, talvez aderentes à matriz crítica, aparecem trabalhos de Ianni (um trabalho) e O’Connor (um trabalho). É digno de nota uma ausência: os trabalhos de Marx e Engels, que tiveram destaque na lista do Quadro 1, não aparecem no Quadro 2.

Também se confirma a importância de R. Santos para o movimento. Esse pesquisador é o primeiro autor de todos os dez trabalhos do campo entre os 20 mais citados na BAC, além de ser a referência mais citada absolutamente. Também se realizou uma contagem da contribuição de referências por autor na BAC (vide Tabela 2).

Tabela 2
Administração Política, Base de Autores Centrais, Autores Mais citados, Nível de Autoria*

Dentre os 20 autores mais citados na BAC, os pesquisadores do movimento contribuem com 53% do total. R. S. Santos é o mais referenciado (35%). Já os autores externos ao campo, encontramos sete que podemos considerar como aderentes à matriz epistêmica analítica: Keynes, Adam Smith, Dimmock, Sabato, Burnham, Schumpeter e Kuhn. Mais próximos da matriz hermenêutica/fenomenológica, aparecem seis autores: Guerreiro Ramos, Weber, Furtado, Souza Santos, João Ubaldo Ribeiro e Caldas. E, da matriz crítica, são dois: Marx e Engels (tratados aqui como uma unidade) e Tragtemberg (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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).

3.3 ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS

A caracterização dos aspectos epistemológicos da produção do MAP foi alcançada a partir da análise de sua aproximação às matrizes epistêmicas, segundo o modelo de Paula (2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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). Partiu-se da premissa de que a citação reiterada a autores que trabalhem no espectro de uma matriz epistêmica em particular, indica diálogo com aquela matriz. Para chegar a essa informação, utilizou-se como indicador o percentual de referências externas que aderem às diferentes matrizes epistêmicas.

Considerando a base geral (BG), os autores representantes da matriz analítica responderam por 26% do total das citações. Já os representantes da matriz hermenêutica receberam 28%. Por fim, aqueles associados a matriz crítica receberam 46%. No entanto, é preciso ponderar que dentre os 20 autores mais referenciados nos artigos analisados, a maioria das citações (53%) foram de trabalhos dos cinco autores centrais do movimento. Para efeito de comparação, por exemplo, R. Santos recebeu mais citações (212) que todos da matriz crítica somados. Como se tratam dos autores pioneiros, mais prolíficos e influentes do MAP, buscou-se identificar a matriz epistêmica desse grupo.

Levando em conta a base de autores centrais (BAC), apenas dois representantes da matriz crítica aparecem entre os 20 autores mais citados, aproximadamente 12% das citações a referências externas ao campo. Por sua vez, são seis autores aderentes à matriz hermenêutica, aproximadamente 36%. A maioria das citações foram para os sete autores identificados com a matriz analítica, aproximadamente 52% (vide Figura 3).

Figura 3
Administração Política, Base Geral, Base de Autores Centrais, Referências Externas, Percentual de Aderência por Matriz Epistêmica

A partir do exposto, infere-se que: (i) a matriz analítica é dominante entre os autores centrais do MAP; (ii) porém, a matriz crítica exerce uma influência no movimento, sobretudo fora do mainstream. Nesse sentido, conclui-se que o Movimento da Administração Política é epistemologicamente heterogêneo e se apresenta como uma “abordagem sociológica híbrida” (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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, p. 26): transita entre as três matrizes epistêmicas, sendo dominante a analítica.

3.4 TEMAS RECORRENTES

Para encontrar os temas recorrentes na produção do MAP, primeiro foram levantadas as palavras-chave atribuídas pelos autores da base geral (BG). No entanto, essa contagem redundou em um grande número de termos com apenas uma única menção, referindo-se a temas próximos e até coincidentes uns com os outros. Para contornar essa questão, optou-se por agrupa-las por categorias (vide Tabela 3).

Tabela 3
Administração Política, Base Geral, Temas Recorrentes por Categorias, Número de Menções

A categoria com mais menções foi a administração política, o que era esperado. Para além disso, inferem-se dois aspectos mais importantes: (i) grande parte das palavras-chave remetiam a fenômenos associados ao Estado, governo, política e administração pública (28%); (ii) confirma-se a preocupação com aspectos epistemológicos da administração, 24% das palavras-chave se dividem entre Epistemologia e ontologia da administração e da gestão. Além desses 10 temas recorrentes, foram identificados ainda menções marginais a autores e obras específicas (4), teorias diversas (10), temas pontuais sem qualquer relação com os demais ou entre si (12) e aos estudos organizacionais (2).

Figura 4
Administração Política, Base Geral, Classes de Palavras-Chave Recorrentes, Teorias, Nuvem de Palavras

Na Figura 4 se apresenta uma nuvem das classes de palavras-chave recorrentes, somada às teorias mencionadas pelos diversos autores. Visualmente, reforça-se a conclusão de que temas referentes ao Estado e a gestão pública, bem como a epistemologia da administração, ocupam grande parte do interesse do MAP. Observa-se ainda um rol heterogêneo de fundamentos teóricos para o movimento, desde a teoria crítica, passando pelo regulacionismo, sociologia compreensiva, economia política, keynesianismo, institucionalismo, novo-desenvolvimentismo, até o taylorismo, entre outros. Isso reforça as conclusões de que o MAP é um campo heterogêneo, uma abordagem sociológica híbrida.

3.5 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Para caracterizar os aspectos metodológicos da produção do MAP, os artigos da base geral (BG) foram analisados de maneira aprofundada e classificados a partir dos seguintes indicadores: (i) tipo de artigo científico, se teórico, empírico, ensaio, entre outros; (ii) abordagem de investigação dos trabalhos empíricos identificados, se qualitativa, quantitativa ou quali-quanti; (iii) métodos/procedimentos científicos empregados; (iv) aproximação com uma ou mais matrizes epistêmicas. Os resultados se encontram relatados na Figura 5 a seguir.

Figura 5
Administração Política: Base Geral, Aspectos Metodológicos, Tipos de Investigação, Abordagens de Investigação, Matrizes Epistêmicas, Métodos/Procedimentos Científicos

Nota-se que a maior parte da produção são de artigos teóricos (49) e ensaios (15): aproximadamente 74%. Um dado que indica se tratar de campo ainda em formação, no qual os conceitos, categorias e procedimentos se encontram em pleno debate. No que diz respeito aos estudos de campo - que representam a passagem das discussões teóricas para os testes de realidade (DEMO, 1995DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995.) - encontraram-se apenas 13 artigos declaradamente empíricos, 15% do total. Porém, identificou-se que também os estudos históricos e relatos memorativos da BG podem ser considerados empíricos, chegando a um total de 22 trabalhos, 25% do total.

Nestes trabalhos empíricos, a abordagem de investigação dominante é a qualitativa. Houve apenas um estudo que poderia ser classificado como quali-quanti e nenhuma pesquisa quantitativa. Os 13 artigos explicitamente empíricos se apresentaram também como estudos exploratórios, tipo de trabalho normalmente associado a estágios muito iniciais de investigação (DEMO, 1995DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995.). Essas duas informações ressaltam o caráter ainda incipiente do desenvolvimento científico do MAP (SOUZA; KERBAUY, 2017SOUZA, S. S. de; CRISTALDO, R. C. A institucionalização da educação a distância em duas universidades públicas baianas: a Universidade Federal da Bahia e a Universidade do Estado da Bahia. Revista Brasileira de Administração Política, v. 10, n. 1, p. 73-97, abr. 2017. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/download/25795/15658. Acesso em: 15 mar. 2019.
https://portalseer.ufba.br/index.php/reb...
), mesmo distante 26 anos da publicação do primeiro paper e 12 anos após a criação da Rebap (SANTANA; PIÁU, 2017SANTANA, W. G. P.; PIÁU, D. D. N. D. Administração política no “sertão da ressaca”: a trajetória de um grupo de pesquisa. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 1000-1018, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3985. Acesso em: 23 fev. 2019.
https://revistas.face.ufmg.br/index.php/...
).

Os métodos/procedimentos científicos empregados reforçam a compreensão de que se trata de um campo em construção. Dos 87 artigos da BG, 71 (83%) se valeram da revisão de literatura como procedimento científico para elaboração de sua argumentação. Dentre os métodos de investigação empírica, registrou-se o uso de (i) análise de documentos (seis artigos), (ii) análise de conteúdo (três artigos), (iii) análise de discurso (três artigos), (iv) observação (dois artigos) e (v) estatística descritiva (um artigo), procedimentos que podem ser utilizados tanto em abordagens qualitativas, como quantitativas (DEMO, 1995DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995.).5 5 Um dos artigos analisados se trata de uma entrevista com uma autoridade e, portanto, não apresenta um procedimento científico estruturado. Um outro foi construído como uma antologia de reflexões ensaísticas, também no formato de entrevista, sobre problemas da gestão pós-pandemia de Covid-19; da mesma forma, não apresenta um procedimento estruturado.

Os artigos também foram analisados de modo identificar qual seria a matriz epistêmica ao qual aderiria (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419...
). Para tanto, foram ponderados objeto, objetivos, referencial teórico e argumentação. Dos 87 artigos analisados, 43 (49%) podem ser considerados como aderentes à matriz analítica, 25 (29%) à matriz crítica e 19 (22%) à matriz hermenêutica. Os resultados confirmam o que foi relatado na subseção 4.3: a administração política na BG aparece como uma abordagem sociológica híbrida, heterodoxa, que procura referências e insights nas três diferentes matrizes epistêmicas, com predomínio da matriz analítica.

Com o intuito de melhor caracterizar o campo, essas mesmas análises foram realizadas na base de autores centrais (BAC). O resumo dos resultados consta na Figura 6.

Figura 6
Administração Política: Base de Autores Centrais, Aspectos Metodológicos, Tipos de Investigação, Abordagens de Investigação, Matrizes Epistêmicas, Métodos/Procedimentos Científicos

Assim como na BG, a maior parte dos trabalhos da BAC foi de ensaios e artigos teóricos, sendo 18 (aproximadamente 72%). São seis os artigos derivados de estudos considerados empíricos - quatro estudos históricos, um relato memorativo e um trabalho assumidamente empírico -, 24% da BAC. Esses seis artigos também empregam abordagens qualitativas. O procedimento científico ao qual mais se recorreu foi a revisão de literatura, em 22 dos 25 artigos (88%). Essas informações corroboram a perspectiva de que o MAP se organiza em torno de um campo científico ainda nos primeiros estágios de formação.

De forma consistente com o observado na BG, foram identificados trabalhos que aderem às três diferentes matrizes epistêmicas. Os trabalhos da BAC são, em sua maioria, aderentes à matriz analítica (aproximadamente 76%), sendo que quatro artigos se aproximam mais da matriz hermenêutica (16%) e apenas dois dialogam com a matriz crítica (8%). Assim, reforça-se a conclusão de que, também para esse grupo de trabalhos, a administração política se configura como uma abordagem sociológica híbrida, com predominância da matriz analítica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo foi elaborado com o objetivo de desenhar um panorama da produção científica do Movimento da Administração Política (MAP). Para atingir essa meta, foi realizado um estudo bibliométrico quali-quanti para (i) identificar o volume e a vazão dos trabalhos do campo, bem como (ii) analisar aspectos metodológicos e epistemológicos da produção do MAP. A delimitação temporal do estudo foi entre 1993 - surgimento do primeiro trabalho publicado do movimento - e junho de 2021.

Na segunda seção apresentou-se uma breve recuperação do histórico e das ideias centrais do MAP. Destacou-se, sobretudo, que se trata de uma proposta de compreensão dos papéis macroestruturais da gestão (SANTOS, R. S. et al., 2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.), procurando se firmar como novo campo de conhecimento (SANTOS, R. S. et al.., 2009). Embora tenham surgido críticas quanto a abordagem do Estado (QUEIROZ, 2015QUEIROZ, H. A. de. Administração política e Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Estudos Organizacionais, v. 2. n. 2, p. 263-287, dez.2015. Disponível em: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2015.v2n2.56. Acesso em: 15 jun. 2019.
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), novidade (CRISTALDO; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, 2017CRISTALDO, R. C.; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, M. E. H. Administração política e novo desenvolvimentismo: alternativas ou continuidade? Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 4, n. 10, p. 600-662, ago. 2017. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/3923. Acesso em: 12 jan. 2019.
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), reformismo (PAÇO CUNHA, 2019PAÇO CUNHA, E. Centralidade da gestão do estado como limite da razão política ou para uma crítica da administração política. Revista Eletrônica de Administração, v. 25, n. 2, p. 150-178, maio 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.237.809126. Acesso em: 13 jan. 2020.
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) e mesmo sobre a proximidade com o funcionalismo (CRISTALDO, 2020) do movimento, destacam-se suas virtudes: (i) a transcendência da análise micro para a análise macro na administração; bem como (ii) a formulação de um arcabouço teórico original para melhor compreender as especificidades do capitalismo no Brasil.

A terceira seção foi dedicada a explicitar os procedimentos metodológicos da pesquisa conduzida, um estudo bibliométrico que associa as abordagens qualitativa e quantitativa. Na quarta seção apresentaram-se os resultados.

O panorama traçado demonstra que: (i) a produção no campo da administração política se avoluma a partir de 2008 com a criação da Rebap - sendo este o periódico que dá mais vazão à publicações do movimento -; (ii) o rol de principais referências utilizadas, tanto nos trabalhos da base geral (BG) como na base de autores centrais (BAC), indica que o movimento colhe influências de autores aderentes às diferentes matrizes epistêmicas; (iii) predominam as citações a autores e obras tipicamente relacionadas com a matriz analítica; (iv) a análise das palavras-chave revela uma maior preocupação do campo com os temas de “Estado, governo e política”, “administração pública” e “desenvolvimento” - além da própria administração política -, sendo estes os mais mencionados.

No que concerne às questões metodológicas, observou-se que: (i) a maioria dos artigos são teóricos ou ensaios; (ii) os artigos empíricos, a minoria, empregam predominantemente abordagens qualitativas de investigação; (iii) o principal procedimento metodológico empregado no campo, por uma distante margem, é a revisão de literatura. As mesmas tendências metodológicas se observam na BG e na BAC, sendo que nessa última de forma mais acentuada.

Os aspectos epistemológicos aqui foram representados pela (i) influência de autores e obras e pela (ii) classificação individual dos artigos. A fundamentação teórica para essa análise partiu do círculo das matrizes epistêmicas (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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). O rol de referências do MAP indica a influência de autores e obras aderentes às três matrizes epistêmicas - analítica, hermenêutica e crítica -, com predominância da matriz analítica. No entanto, na BG identificou-se que a matriz crítica exerce uma maior influência direta (46% das citações); porém, como os autores da BAC respondem por mais da metade das referências da BG, assumiu-se que a matriz analítica exerce uma forte influência indireta. Isto, pois na BAC a matriz analítica recebe 52% das citações.

Isso se confirmou no julgamento individual dos artigos. Na BG, 49% dos artigos foram classificados como predominantemente aderentes à matriz analítica. Já na BAC, 76% dos artigos foram identificados como mais próximos da matriz analítica. Ainda assim, a presença de artigos aderentes às matrizes crítica e hermenêutica tanto na BG como na BAC, indicam que existe no MAP um diálogo entre essas diferentes abordagens epistemológicas. É justo, portanto, afirmar que a administração política se configura como uma abordagem sociológica híbrida (PAULA, 2016PAULA, A. P. P. de. Para além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistêmicas. Cadernos Ebape.Br, v. 14, n. 1, p. 26-46, jan./mar. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395131419. Acesso em: 6 jan. 2017.
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), com predominância da matriz analítica.

Nesse sentido, chega-se à conclusão de que, embora a administração política apresente contribuições teóricas potencialmente importantes, ainda carece de estudos empíricos que demonstrem sua capacidade de explicar a realidade. Tanto a maior parte dos estudos são teóricos, como os poucos estudos empíricos se apresentam como trabalhos exploratórios de orientação qualitativa. Como o processo de desenvolvimento teórico da administração política não demonstrou, em termos de publicações, a capacidade de fazer a mediação entre os conceitos teóricos e as dimensões empíricas por meio de indicadores, pode-se afirmar ainda que se trata de um campo ainda nos primeiros estágios de formação. O que não invalida, por si, os esforços, mas exige o desenvolvimento de testes empíricos que consolidem a proposta.

Podem-se apresentar, como limitações deste estudo, duas características principais. A primeira é que não foram cotejados para este trabalho artigos publicados em eventos, livros, teses e dissertações. Talvez a análise dessas fontes alternativas venha a acrescentar informações sobre o MAP aqui não contempladas; muito embora também seja possível argumentar que a representação por excelência da importância de uma teoria ou temática se dá por meio da publicação de artigos em periódicos indexados (TRZESNIAK, 2014TRZESNIAK, P. Hoje vou escrever um artigo científico: a construção e a transmissão do conhecimento. In: KOLLER, S. H.; COUTO, M. C. P. de P.; HOHENDORFF, J. von (Org.). Manual de produção científica. Porto Alegre: Penso, 2014. p. 15-38.). A segunda, é que se trata de um estudo bibliométrico de caráter descritivo. Como o objetivo não foi o de tecer uma investigação de caráter explicativo acerca do surgimento e desenvolvimento do MAP, seja por meio de análise de conteúdo, discurso ou outra metodologia de aprofundamento qualitativo, essas alternativas de pesquisa ficam em aberto. No entanto, acredita-se aqui que o presente trabalho se firma como uma base mínima necessária para estudos dessa natureza.

O surgimento de uma teoria de explicação do Estado capitalista a partir da gestão (SANTOS, R. S. et al., 2017SANTOS, R. S.; GOMES, F. G. Outro modo de interpretar o Brasil: ensaios de administração política. São Paulo: Hucitec / Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2017.) é, em si, um acontecimento digno de nota. Ainda mais ao conduzir esse objetivo pari passu uma reflexão epistemológica (SANTOS, E. L. et al., 2017) e ontológica (PAÇO CUNHA, 2019PAÇO CUNHA, E. Centralidade da gestão do estado como limite da razão política ou para uma crítica da administração política. Revista Eletrônica de Administração, v. 25, n. 2, p. 150-178, maio 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.237.809126. Acesso em: 13 jan. 2020.
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) da administração, aprofundando teoricamente o campo na contramão de seu curso dominante (JUSTEN; DELLAGNELO, 2018JUSTEN, C. E.; DELLAGNELO, E. H. L. A política do mainstream dos estudos organizacionais frente ao político: ofensiva neoliberal à burocratização das relações sociais. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 5, n. 13, p. 638-683, ago. 2018. Disponível em: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/article/view/4224. Acesso em: 04 jan. 2019.
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). Se o MAP recebeu duras críticas (CRISTALDO, 2020aCRISTALDO, R. C. Administração política e os estudos organizacionais. Revista Brasileira de Estudos Organizacionais, v. 7, n. 1, p. 34-75, jan./maio 2020a. Disponível em: https://rbeo.emnuvens.com.br/rbeo/article/view/377. Acesso em: 12 ago. 2020.
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; 2020b; CRISTALDO; RIBEIRO, M. M.; PESSINA, 2017; QUEIROZ, 2015QUEIROZ, H. A. de. Administração política e Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Estudos Organizacionais, v. 2. n. 2, p. 263-287, dez.2015. Disponível em: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2015.v2n2.56. Acesso em: 15 jun. 2019.
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; PAÇO CUNHA, 2019), foi porque ousou objetivos grandiosos. Afinal, não é possível alcançar feitos de envergadura sem correr grandes riscos. A proposta do movimento, a de oferecer uma teoria da macrogestão como processo estruturante do capitalismo, é imprescindível. Porém, a produção do Movimento da Administração Política ainda carece de refinamento epistemológico e metodológico.

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    Recebido em 9/11/2020, aceito em 29/9/2021.
  • 3
    O termo “administração política” na ciência política é empregado para a análise de articulação de interesses no Estado (PASTORI, 1998PASTORI, G. Administração pública. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Tradução João Ferreira. Brasília: Editora UNB, 1998. p.10-17.). Algo próximo das noções de governança ou regulação. Porém, credita-se pioneirismo à concepção de R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M. A administração política brasileira. Revista de Administração Pública, v. 27, n. 4, p. 919-41, out./dez. 1993. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017. Acesso em: 15 ago. 2019.
    http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017...
    ), pois utilizam essa terminologia para se referir a algo mais amplo, um tipo de “[...] gestão imanente ou administração política fundamental [...] um padrão na condução dos processos sociais de organização e gestão [...].” (CRISTALDO; PEREIRA, 2008CRISTALDO, R. C.; PEREIRA, C. M. A administração política e a gestão do modo de produção: processos gestoriais desde a organização produtiva do trabalho até a economia-mundo capitalista. Revista Brasileira de Administração Política, v. 1, n. 1, p. 71-94, out. 2008. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/download/15483/10624. Acesso em: 29 jan. 2019.
    https://portalseer.ufba.br/index.php/reb...
    , p. 86).
  • 4
    O dicionário de Bobbio é citado sobretudo pelos autores centrais do MAP, especificamente R. S. Santos e E. M. Ribeiro (1993SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M. A administração política brasileira. Revista de Administração Pública, v. 27, n. 4, p. 919-41, out./dez. 1993. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017. Acesso em: 15 ago. 2019.
    http://dx.doi.org/10.1590/1679-395155017...
    ), R. S. Santos (2001), R. S. Santos (2003) e E. M. Ribeiro (2008). Nesses trabalhos, em verdade, autores recorrem ao verbete “administração pública” (Pastori, 1998PASTORI, G. Administração pública. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Tradução João Ferreira. Brasília: Editora UNB, 1998. p.10-17., p. 10), no qual o termo “administração política” (p. 15) aparece como um sinônimo de governança ou gestão pública. Por sinal, essa descrição foi descartada por esses autores, pois seria distante de seus intentos. Pode-se assumir, portanto, que o trabalho de Bobbio não faz parte das raízes teóricas da administração política.
  • 5
    Um dos artigos analisados se trata de uma entrevista com uma autoridade e, portanto, não apresenta um procedimento científico estruturado. Um outro foi construído como uma antologia de reflexões ensaísticas, também no formato de entrevista, sobre problemas da gestão pós-pandemia de Covid-19; da mesma forma, não apresenta um procedimento estruturado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    09 Nov 2020
  • Aceito
    29 Set 2021
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