Ações da enfermagem nos bancos de leite humano em tempos de COVID-19

RESUMO

Objetivo:

Analisar as ações das coordenações dos Bancos de Leite Humano para favorecer a continuidade da amamentação na pandemia da COVID-19.

Métodos:

Estudo descritivo, de abordagem qualitativa, com referencial teórico-metodológico de Pierre Bourdieu. Coleta de dados por entrevista entre março e abril, com cinco coordenações e resultados organizados por análise temática.

Resultados:

Foram produzidas duas categorias: As ações de estratégias da manutenção dos serviços do Bancos de Leite Humano por meios digitais como forma de garantir o distanciamento social e a amamentação, em tempos de pandemia do novo coronavírus; e as ações de promoção, proteção e apoio nas estratégias de manutenção da amamentação durante a pandemia.

Considerações finais:

Os benefícios da amamentação superam quaisquer riscos potenciais de transmissão do novo coronavírus. Evidencia-se a importância de práticas de enfermagem sistematizadas na qualidade e segurança do processo de Proteção, Promoção e Apoio ao Aleitamento Materno.

Descritores:
Bancos de Leite; Betacoronavírus; Infecções por Coronavírus; Aleitamento Materno; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To analyze the actions of the Human Milk Banks coordination to favor the continuity of breastfeeding in the COVID-19 pandemic.

Methods:

Descriptive study, of qualitative approach, with theoretical-methodological reference of Pierre Bourdieu. Data collection was done through interviews between March and April, with five coordinations and results organized by thematic analysis.

Results:

Two categories were produced: the actions of strategies for the maintenance of Human Milk Banks services by digital means as a way to ensure social distancing and breastfeeding in times of pandemic of the new coronavirus; and the actions of promotion, protection and support in strategies for maintenance of breastfeeding during the pandemic.

Final considerations:

The benefits of breastfeeding outweigh any potential risks of transmission of the new coronavirus. The importance of systematic nursing practices in the quality and safety of the process of Protection, Promotion and Support of Breastfeeding is evident.

Descriptors:
Milk Banks; Betacoronavirus; Coronavirus Infections; Breastfeeding; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Analizar las acciones de las coordinaciones de los Bancos de Leche Humana para favorecer la continuidad del amamantamiento en la pandemia de COVID-19.

Métodos:

Estudio descriptivo, de abordaje cualitativo, con referencial teórico-metodológico de Pierre Bourdieu. Recogida de datos por entrevista entre marzo y abril, con cinco coordinaciones y resultados organizados por análisis temático.

Resultados:

Han producidas dos categorías: Las acciones de estrategias de la manutención de los servicios del Bancos de Leche Humana por medios digitales como manera de garantizar el distanciamiento social y el amamantamiento, en tiempos de la pandemia del nuevo coronavirus; y las acciones de promoción, protección y apoyo en las estrategias de manutención del amamantamiento durante la pandemia.

Consideraciones finales:

Los beneficios del amamantamiento supieron cualesquier riesgos potenciales de transmisión del nuevo coronavirus. Se evidencia la importancia de prácticas de enfermería sistematizadas en la calidad y seguridad del proceso de Protección, Promoción y Apoyo a la Lactancia Materna.

Descriptores:
Bancos de Leche; Betacoronavirus; Infecciones por Coronavirus; Lactancia Materna; Enfermería

INTRODUÇÃO

Os Bancos de Leite Humano (BLH) têm se configurado como um dos mais importantes elementos estratégicos da política pública em favor da amamentação. Por se tratar de um serviço especializado, suas ações visam à Promoção, Proteção e Apoio ao aleitamento materno (PPA)⁽¹⁾. Na atualidade, as ações do BLH foram afetadas diretamente pela pandemia da COVID-19, provocada pelo novo coronavírus denominado SARS-CoV-2. Inicialmente, quando surgiu na Ásia (China)⁽²⁾, em dezembro de 2019, não se tinha registro da gravidade da doença e seus possíveis impactos na saúde mundial.

A World Health Organization (WHO)⁽³⁾ fez anúncio no dia 11 de março de 2020 que o mundo sofria de uma pandemia devido ao novo coronavírus. O SARS-CoV-2 é um agente relacionado a infecções respiratórias, que podem se apresentar com um quadro semelhante às demais síndromes gripais. A transmissão do vírus, com base no conhecimento científico adquirido até agora, ocorre por meio de sua entrada no trato respiratório⁽⁴⁾.

Para prevenir a transmissão, recomenda-se a adoção de algumas medidas comportamentais⁽⁴⁾, contudo um estudo brasileiro⁽⁵⁾ indica que certas medidas de isolamento e distanciamento social devem levar em consideração aspectos sociais e crenças da população. Para esse tipo de vírus, ainda não há vacina disponível. Diante desse cenário, as medidas protetivas do governo federal, recomendadas pela WHO⁽⁶⁾, consistem no distanciamento social, quarentena e isolamento social de infectados.

Nesse contexto, até o momento desta pesquisa, não havia estudos que relacionassem esse vírus à gestação ou trouxessem informação se, no processo de amamentação, a mãe infectada poderia transmiti-lo ao recém-nascido. Com o avanço da infecção e sua disseminação por outros continentes, bem como com o aumento do número de casos, as gestantes, parturientes e puérperas passaram a fazer parte do grupo de risco, e a amamentação demandou uma atenção diferenciada⁽⁷⁾. Contudo, as evidências científicas disponíveis indicam que não há comprovação dessa vulnerabilidade, salvo as transformações fisiológicas advindas da gravidez⁽⁸⁾.

Para favorecer a amamentação, os procedimentos no BLH exigiram adequações à dinâmica de seu funcionamento, nas práticas do manejo clínico executadas pela enfermagem e outros profissionais, visando colaborar com as medidas de contenção mediante distanciamento social para preservar a saúde das mulheres, dos recém-nascidos, de suas famílias e dos profissionais de saúde⁽⁹⁾.

Sendo assim, este trabalho tem como questão investigativa indagar sobre quais são as estratégias mobilizadas no enfrentamento da pandemia, para a manutenção da amamentação em tempos de distanciamento social.

OBJETIVO

Analisar as ações das coordenações dos Bancos de Leite Humano para favorecer a continuidade da amamentação durante a pandemia da COVID-19.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, seguindo os princípios éticos contidos na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde⁽¹⁰⁾.

Referencial teórico-metodológico

A pesquisa utilizou o conceito de habitus como suporte teórico-metodológico na discussão dos dados. Para Bourdieu, habitus se materializa no modo como a sociedade se torna depositada nas pessoas sob a forma de disposições duráveis ou capacidades treinadas e propensões estruturadas para pensar, sentir e agir de modos determinados^(11-12).

Tipo de estudo

Estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa⁽¹³⁾, com a finalidade de captar as ações da enfermagem em BLH no contexto de distanciamento social.

Procedimentos metodológicos

Cenário do estudo

A pesquisa foi realizada através das coordenações em BLH de hospitais públicos do Sistema único de Saúde do Rio de Janeiro e Espírito Santo, a saber: Hospital Universitário Antônio Pedro em Niterói/RJ; Hospital dos Plantadores de Cana em Campos de Goytacazes/RJ; Hospital Estadual Adão Pereira Nunes em Duque de Caxias/RJ; Hospital São João Batista em Volta Redonda/RJ; e Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes em Vitória/ES.

BLH é um serviço de atendimento à mulher, criança e família para as demandas e intercorrências relativas à promoção, proteção e apoio a amamentação. O foco desse cuidado está baseado na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 171, de 04 de setembro de 2006, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a qual determina as regras para o funcionamento do BLH⁽¹⁴⁾ e cumprimento de suas Normas Técnicas (NT) e manuais⁽¹⁵⁾.

Fonte de dados

Os participantes do estudo foram três enfermeiras coordenadoras de BLH e de enfermagem e duas coordenadoras de BLH (uma bióloga e uma nutricionista). Como critérios de inclusão: ser coordenador de BLH; manter a interface com a coordenação de enfermagem e processo de trabalho interdisciplinar e/ou coordenador da equipe de enfermagem. O critério de exclusão consistiu em estar afastado dos serviços do BLH (atendimento, coleta e processamento do leite materno, visita domiciliar, grupos de apoio ao binômio, com livres demandas oriundas dos SUS e rede privada) por pertencer ao grupo de risco da pandemia da COVID-19 ou por estar em período de férias.

As abordagens com as coordenadoras foram realizadas por contato telefônico, devido ao distanciamento social recomendado em nível nacional. Sendo assim, por se tratar de pesquisa utilizando chamada telefônica ou mensagens pelo aplicativo WhatsApp, o termo de consentimento foi substituído pelo consentimento verbal obtido na ocasião do contato com as entrevistadas.

Coleta e organização dos dados

A técnica de coleta de dados utilizada foi entrevista por telefone, constituída por perguntas abertas referentes às estratégias e medidas adotadas pelo BLH para manter a continuidade do aleitamento materno nos tempos de COVID-19. As perguntas que nortearam a entrevista foram: Como está sendo realizada a ação de promoção ao aleitamento materno em tempos de medidas protetivas? Como o BLH trabalha a proteção ao aleitamento materno no distanciamento social? Quais medidas o BLH implementou para oferecer ou manter apoio ao aleitamento materno? Quais as estratégias para o enfrentamento da pandemia, manutenção do distanciamento social e da amamentação diante desse cenário? Os discursos fornecidos em áudio de chamada ou mensagem por aplicativo foram transcritos na íntegra, para posterior produção e análise dos dados. A fim de garantir o sigilo das informações, foi utilizado um código alfanumérico (C1... C5).

Análise dos dados

Os dados foram trabalhados de acordo com a análise de conteúdo na modalidade temática⁽¹⁶⁾. Assim sendo, a análise efetuou-se em três fases: pré-análise; exploração do material; e tratamento dos resultados, inferências e interpretação. Após a identificação das unidades de registro, estas fundamentaram a construção da unidade temática que indicou a concepção das seguintes categorias temáticas: 1) As ações de estratégias da manutenção dos serviços do BLH por meios digitais, como forma de garantir o distanciamento social em período de disseminação global do novo coronavírus; e 2) as ações de promoção, proteção e apoio às estratégias de manutenção da amamentação em tempos de pandemia da COVID-19.

RESULTADOS

As ações de estratégias da manutenção dos serviços do Bancos de Leite Humano por meios digitais como forma de garantir o distanciamento social e a amamentação em tempos de pandemia do novo coronavírus

Foram identificadas questões relacionadas à gestão e ao planejamento das ações de curto, médio e longo prazo para o enfrentamento da pandemia e manutenção da amamentação, bem como as estratégicas encontradas pela coordenação de BLH, em diálogo com a supervisão de enfermagem, em face das mudanças e impactos no comportamento social e nas relações interpessoais provocadas pela COVID-19. Além disso, evidencia-se a intensificação dos campos de atuação para outros ambientes intersetores e externos ao BLH, com a devida manutenção dos serviços por meios digitais como forma de garantir, em tempos de COVID19, o distanciamento social e a amamentação.

Com relação ao planejamento, gestão, intervenções e assistência de enfermagem, as falas indicam que houve um planejamento exclusivo para atender às demandas de curto prazo, manutenção dos serviços básicos internos, intensificação do atendimento telefônico e adaptação para suporte e promoção da amamentação por outras vias de comunicação:

Estamos também enviando via WhatsApp folhetos nossos de orientação e cuidados e de ordenha, doação etc. Não fechamos o atendimento, nos reorganizamos frente ao novo contexto. […] Suspendemos outras atividades não emergenciais. (C1)

Todas essas ações vêm acompanhadas de mudanças e impactos no comportamento social e nas relações interpessoais. As falas indicam que as medidas de distanciamento social, exigidas como estratégia de contenção da propagação do novo coronavírus, desafiaram a equipe do BLH e estabeleceram adequações das práticas de proteção e apoio ao aleitamento materno:

A gente está tentando preservar o máximo a prática do aleitamento materno! Apesar de entender que os estudos vêm mostrando algumas questões relativas ao COVID-19 né?! E as mães que tiveram bebês, que estão com a doença, como que tem que ser feito esse isolamento? […] para mim, na minha experiência eu não tive nenhum caso, eu não vivenciei absolutamente nada, só conheço em teoria. (C2)

Uma das ações que tem demandado alteração e superação desse distanciamento corresponde ao serviço de coleta domiciliar das doações de leite humano e de captação de doadoras. É preciso um reforço nas orientações contidas na BLH-IFF / NT19.11 (Transporte do leite ordenhado). Nos BLHs em que os serviços de coleta domiciliar ocorriam com o deslocamento das nutrizes até a instituição, houve a necessidade de interrupção e a busca de alternativas. Tendo em vista a recomendação para as pessoas não saírem de casa, a coordenação está contando com as famílias e uma equipe para o trabalho externo. Essa captação é importante principalmente para manter o atendimento na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN). Para administrar a circulação de pessoas e evitar a transmissão, tanto dos que se dispõe a doar quanto daqueles que entram em contato com a equipe mobiliza-se uma logística, como se vê na narrativa:

A entrada ao banco de leite está restrita somente às mães de UTIN. Essas mulheres que estão em casa com dificuldade na amamentação, infelizmente no momento a gente não está podendo atender, até mesmo para segurança dessas mães, dessas crianças, para não incentivar essas pessoas a estar saindo de casa. (C3)

Com as orientações do distanciamento social e para evitar atividades em grupo, alguns BLHs compensam suas ações de PPA e, portanto, remanejam sua equipe para intensificar as ações nas unidades hospitalares. As ações presenciais foram direcionadas à maternidade, aos alojamentos conjuntos e às UTINs, um setor que pode ser considerado o mais afetado por esse distanciamento e pela dificuldade em captar doadoras. Concomitantemente às demandas internas, os profissionais do BLH passaram a atender de maneira remota; e, em caso de emergência, agenda-se um atendimento da enfermagem.

Nesse momento de distanciamento social, a enfermagem tem assumido um papel preponderante para manter os trabalhos de promoção e incentivo ao aleitamento materno, com destaque para os alojamentos conjuntos das maternidades, como observado na fala:

Eu sou a enfermeira responsável pelo materno-infantil. Então, de qualquer forma, eu, como coordenadora também do Banco de Leite aqui, acabo orientando essas mulheres. […] Eu, como enfermeira, como consultora em amamentação, atendo com a minha página [Facebook] , para a gente tentar tirar algumas dúvidas, dar algumas orientações. (C3)

As demandas chegam por telefone ou pelas redes sociais das entrevistadas, além do atendimento interno. As orientações e os acolhimentos suprem a necessidade tanto das questões do manejo clínico no aleitamento materno, dos direitos da gestante e da dificuldade na amamentação, quanto das relacionadas à COVID-19, uma vez que passa a ser mais um problema para lidar na hora de orientar uma mãe com suspeita de infecção ou uma doadora. Nesse atendimento, a amamentação precisa ser garantida com cuidados redobrados, mesmo que à distância:

Elas têm telefonado pra gente, e como está proibida a entrada, eu tenho feito atendimento por telefone né […] a qualquer momento eu vou receber uma ligação de uma mulher que está com problemas. Eu falei com ela que fizesse depois um áudio. […] A gente está trabalhando por telefone, continua com a rota, não na visita domiciliar propriamente dita. (C2)

Diante das mudanças provocadas pela pandemia, surgem ações e estratégias de manutenção dos serviços do BLH por meios digitais como forma de garantir, em tempos de COVID-19, o distanciamento social e a amamentação. O telefone é adotado como uma ferramenta para aproximar a equipe do BLH ao público atendido, uma solução para manter o trabalho. Agregam-se como estratégias a indicação de vídeos, o envio de mensagens por WhatsApp, mensagem de texto, indicações de material de apoio na internet por meio de sites (rBLH, YouTube, Telessala, Instagram, Facebook, links e outros), como observado na fala:

A gente só está explorando um pouco esse apoio através de telefone, através de ligação por vídeo. Até prefiro que seja por vídeo pelo telefone […]. Eu estava usando o computador e vou usando alguns filminhos (vídeos) que tem no YouTube né? E peço para ela acessar, para poder tirar algumas dúvidas. (C1)

Em tempos de pandemia do novo coronavírus, as práticas de atenção ao aleitamento materno por meios digitais foram adotadas para superar barreiras, inovando-se as práticas de cuidado e atenção ao binômio mãe-bebê. Em alguns casos, é necessário romper com o distanciamento social, avançar e enfrentar o problema:

[É necessário usar os meios digitais] …nos casos clínicos de ingurgitamento mamário não revertido, mastite, traumas mamilares com dor insuportável, perda de peso do lactente e outras causas que a orientação por telefone não der conta. (C1)

Infere-se, dos depoimentos, que o trabalho deixa de ser por demanda e passa a exigir agendamento, ligação prévia e avaliação caso a caso, com exceção de um dos BLHs pesquisados, que manteve todos os serviços funcionando até o momento de conclusão desta investigação. Na fala da entrevistada, consta que o número de telefone sempre esteve disponível, não havendo alteração:

Temos um telefone SOS para as pessoas que precisam de alguma ajuda ou esclarecimento quanto ao aleitamento materno, bem como ao atendimento específico ou urgências relacionadas à amamentação. Esse número não mudou, é o mesmo e segue atendendo, com uma redução da demanda presencial. (C4)

Compreende-se que a assistência da enfermagem, no caso de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19, tem requerido novos arranjos e a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI), previamente exigidos conforme a norma técnica BLH-IFF / NT15.20 (Biossegurança em Bancos de Leite Humano e Postos de Coleta) e também citados em BLH-IFF / NT11.20 (Higiene e Conduta: Funcionários); hoje, são preponderantes e imperativos para salvaguardar vidas nesse momento de pandemia e de incertezas.

As ações de promoção, proteção e apoio nas estratégias de manutenção da amamentação em tempos de pandemia da COVID-19

As práticas de PPA foram adaptadas à realidade social e às transformações das rotinas das pessoas, quer de colaboradores, quer do público atendido nos BLHs. As ações de programas de incentivo e sensibilização sobre a doação de leite humano, de prestação de assistência à gestante, puérpera, nutriz e lactente na prática do aleitamento materno, bem como de processamento e controle de qualidade do leite humano ordenhado, exigiram adequações, mantendo-se o rigor científico necessário e a atenção às normas de biossegurança.

As falas revelaram, ainda, diferentes atores sociais (familiares e amigos que mantêm um vínculo afetivo com as famílias) na luta pela permanência do atendimento ao aleitamento materno. As famílias são fundamentais nas ações de PPA ao aleitamento materno, colaborando no processo de coleta e distribuição do leite ordenhado, na logística de manutenção dos estoques da UTIN e cumprimento das regras impostas nesse momento de pandemia, como se percebe nesse fragmento:

Eu faço o cadastro por telefone, a gente pega os dados pela internet, os dados de exame, tudo mais e depois o motorista vai até a casa da paciente, deixa na portaria, geralmente os EPIs, os frascos e depois a gente marca uma data, geralmente no mesmo dia da semana seguinte para retornar. (C2)

Os dados de exame são regulados pela RDC 171/2006 e não determinam nenhum exame extra do paciente, em consonância com o BLH-IFF / NT- 09.11 (Doadoras: Triagem, Seleção e Acompanhamento e a Recomendação Doação de Leite Humano). Contudo, na pandemia da COVID-19, há obrigação de rastrear possíveis casos assintomáticos ou pré-sintomáticos, além de constatar casos confirmados para que sejam tomadas medidas necessárias a fim de evitar contágio da equipe de enfermagem e de outros usuários dos BLHs.

Referente às ações de PPA e estratégias de manutenção da amamentação em tempos de pandemia da COVID-19, compreende-se que a administração do serviço no BLH foi impactada sobremaneira. As participantes deste estudo falam da promoção da amamentação, e há uma luta em defesa do aleitamento, em meio ao combate ao novo coronavírus. Articula-se a promoção da amamentação e o enfrentamento à pandemia, evidenciado no plano de ação das coordenadoras de BLH:

Hoje eu trabalhei o dia inteiro em relação à questão da promoção do aleitamento materno, [...] a própria comissão de BLH estava solicitando que a gente fizesse uma gravação para encaminhar […], para poder fazer a divulgação na rede. A gente continua passando a mensagem entendeu [...] embutido nessa promoção, né?! […], embutido nessa tentativa de atendimento dessa mulher, né?! [...] dos direitos dela, né?! (C2)

As ações planejadas incluem orientações no momento da alta hospitalar, educação e orientação com os primeiros cuidados com os bebês, desde evitar o uso de complementos (fórmulas), chupeta, mamadeira até o fornecimento das condições necessárias para a mãe exercer o direito de amamentar o filho em diferentes espaços e ambientes públicos. Uma fala indica a continuidade dessas ações:

Eu não observo na verdade nenhuma alteração na questão da proteção do aleitamento materno, eu acho que as leis ainda continuam sendo as mesmas né?! Não houve nenhum tipo de alteração, as mulheres, elas perdem acesso aos serviços de saúde para atendimento a orientação a orientação e apoio ao aleitamento materno. [...] apesar de entender que os estudos vêm mostrando algumas questões relativas ao COVID-19 né?! (C2)

As ações de apoio, que consistem no suporte à gestante na sala de parto para a realização da ação de amamentar na primeira hora de vida do recém-nascido, no apoio emocional à mulher para o aleitamento materno, nas ações de manejo clínico e orientações de cuidados após alta hospitalar são as mais afetadas pela pandemia da COVID-19. O distanciamento social e as barreiras ao contato físico estabelecidas nesse momento histórico dificultam as práticas de avaliação clínica das mamas, correção de pega do bebê e outros procedimentos relacionados à ordenha do leite humano. Percebese, nos depoimentos, a utilização de meios digitais para auxiliar nas ações de apoio:

Quando as mães saem de alta, em algumas condições que a gente percebe que vai ter problema, eu passo o telefone para elas porque eu sei que na hora que ela sair, já não vai poder retornar. (C2)

Dos cinco BLHs pesquisados, um manteve as “portas abertas” e até o momento não afetou as ações de PPA, mantendo-se o monitoramento quanto ao novo coronavírus. No outro extremo, a COVID-19 interferiu diretamente no funcionamento e dinâmica do BLH, observado nas falas:

O atendimento segue normal, o uso dos EPIs continua a ser exigido como sempre para todos. (C4)

Nosso município teve um crescente número de COVID-19 e muitas pessoas estão vindo dos grandes centros para buscar ajuda aqui, precisava participar de reuniões de planejamento com a equipe do hospital. (C5)

DISCUSSÃO

Em levantamento na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) sobre as pesquisas publicadas nos últimos cinco anos, realizado em primeiro de abril de 2020, usando os descritores “Bancos de Leite” e “Aleitamento Materno”, constatou-se haver poucas produções que tratam especificamente da questão de PPA. Esse tema foi abordado explicitamente em dois estudos^(17-18). Contudo, tais ações estão presentes em vários trabalhos que discutem as ações das enfermeiras nos BLHs^(19-21), a organização das práticas no BLH, a Rede Brasileira de BLH^(21-22) e as percepções das doadoras sobre a importância das ações realizadas nos BLHs⁽²³⁾, porém de forma difusa ou subentendida.

Nas ações de estratégias da manutenção dos serviços do BLH, a atenção das ações em tempos de pandemia da COVID-19 está focada na orientação, na proteção, no atendimento das demandas internas e no apoio à distância nas questões relacionadas à amamentação. Percebe-se que os planejamentos de médio e longo prazo estão sendo estruturados via Rede de BLH⁽²⁴⁾. A primeira reunião ocorreu em 16/03/2020, com o título “Amamentação em tempos de Epidemia de COVID19”; e a segunda, em 23/03/2020, sobre “Boas Práticas em BLH”, também com enfoque na pandemia⁽²⁵⁾.

A orientação para o aleitamento materno é uma ação dentro da política de promoção ao aleitamento materno, estratégia que busca conscientizar a sociedade sobre as vantagens da amamentação para mãe, criança e família, enquanto opção na alimentação dos seus filhos⁽¹⁸⁾. Nesse momento histórico, essa ação tem demandado esforços das autoridades para promover o aleitamento materno diante de evidências de que o novo coronavírus tem feito vítimas em todas as faixas etárias, inclusive em recém-nascidos. As atenções das autoridades públicas estão voltadas para o combate ao novo coronavírus, e cabe às coordenações dos BLHs buscar mecanismos que reforcem a promoção do aleitamento materno como barreira a mais uma doença.

As ações de promoção, especialmente o incentivo ao aleitamento materno, as ações de motivação e esclarecimento sobre a importância do leite para o binômio mãe-bebê, a manutenção dos serviços à comunidade interna e externamente e a divulgação dos benefícios da amamentação sofreram interferência provocada pela pandemia, uma vez que as atenções das autoridades de saúde foram direcionadas ao combate ao novo coronavírus.

Quanto à proteção, as leis que garantem o direito ao aleitamento materno, o atendimento à saúde da mulher e a garantia à criança da sua segurança alimentar continuam a vigorar em tempos de pandemia; e, na visão dos autores⁽¹⁸⁾, “a proteção ao aleitamento materno pode ser prejudicada quando realizada de forma deficitária, reticente, sem clareza na sua aplicabilidade”. Proteger o aleitamento materno implica, dentre outras coisas, garantir o direito à licençamaternidade/paternidade, às leis trabalhistas e às questões legais e protetivas do aleitamento exclusivo até os 6 meses de vida e sua manutenção até os 2 anos de idade⁽²⁶⁾. A continuidade é uma decisão da mãe e de seu núcleo familiar.

Nas ações de PPA e estratégias de manutenção dos serviços do BLH, percebe-se até o momento, uma ausência de políticas públicas para reforçar a promoção do aleitamento materno em detrimento do combate à pandemia. As entrevistadas pontuaram que utilizaram os meios eletrônicos, recorreram a folhetos e folders durante o atendimento interno, nas enfermarias e maternidades, aproveitando o momento de alta hospitalar para esclarecer os direitos e os benefícios de amamentar.

O atendimento virtual foi uma estratégia encontrada para manter o apoio ao público externo e orientar quanto ao manejo clínico na amamentação e aos cuidados com a transmissão do novo coronavírus. Para tanto, o conceito de habitus remete ao cuidado de enfermagem, às adequações nos modos de cuidar em diálogo com a história da enfermagem e incorporação de novas tecnologias, mantendo-se a base teórica que sustenta suas ações a qualquer tempo⁽¹²⁾.

As ações de estratégias da manutenção dos serviços do BLH por meios digitais como forma de garantir o distanciamento social e a amamentação em tempos do novo coronavírus demonstraram eficácia nas ações e planejamento de curto prazo. Avalia-se que foram tomadas medidas emergenciais para manter o atendimento interno e, quando possível, cumprir as normas técnicas⁽¹⁵⁾ de coleta de doações de leite humano já existentes. As tecnologias de informação por meios digitais foram mobilizadas para amenizar o distanciamento social e aproximar as pacientes dos serviços disponíveis nos BLHs. Além disso, as ações internas ganharam um reforço, especialmente na questão da captação de doadoras, uma vez que a pandemia diminuiu os estoques de leite humano e havia uma iminente falta para atender recém-nascidos na UTIN.

Há, até o momento, pouca literatura disponível para efetuar uma discussão sobre a COVID19 e aleitamento materno. Constata-se o registro de um trabalho compartilhado na nótula complementar sobre COVID-19 e Aleitamento Materno, emitida por Corintio Mariani Neto⁽²⁷⁾. O estudo clínico disponível sobre transmissão vertical do novo coronavírus, realizado com nove pacientes com pneumonia causada pelo SARS-CoV-2, indicou teste negativo para a presença do vírus, concluindo-se que os benefícios do aleitamento materno eram superiores a uma possível transmissão vertical.

Na referida nota, há um parecer de especialistas chineses que contraindicava a amamentação, visto que, em tese, poderia ocorrer a transmissão vertical do vírus. Recomendavamse estudos sobre o vírus no leite de mães suspeitas ou diagnosticadas e, caso testado negativo, autorizava-se o consumo pelos bebês. Até mesmo a doação de leite materno deveria ser avaliada, tendo em vista casos assintomáticos e possível transmissão no leite excretado, considerando-se ainda a presença do novo coronavírus durante possível período de incubação da doença. Nesse caso, o direito ao aleitamento materno encontrou eco na literatura^(28-29).

No que tange às orientações que são realizadas pela equipe do BLH, o foco continua no cuidado à amamentação, na atenção às necessidades do binômio mãe-bebê⁽³⁰⁾, mas acrescidos de questões que nos remetem ao contexto atual da pandemia da COVID-19. Nesse caso, os habitus da enfermagem são tomados do conjunto das práticas e das ideologias características dos seus agentes⁽¹¹⁾, materializados nos modos de operacionalizar as demandas de cuidado no BLH sustentadas pelas recomendações da Rede de BLH, e de posse das recomendações da Rede de BLH, a partir da Recomendação Técnica nº 01/20.170320, quanto à COVID-19 e Amamentação⁽³¹⁾.

A Nota Técnica nº 5/2020 do Ministério da Saúde (MS)⁽³²⁾, em relação às condutas para a doação de leite materno aos BHLs e Postos de Coleta de Leite Humano (PCLH) no contexto da infecção pelo novo coronavírus, recomenda a doação de leite humano somente por lactantes saudáveis e sem contato domiciliar com pessoa com síndrome gripal. Essa medida faz parte das ações dos BHLs e PCHLs, responsáveis por orientar as candidatas à doação, conforme protocolos do MS e em atenção à RDC nº 171/2006⁽¹⁴⁾.

De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), uma das agências da Organização das Nações Unidas (ONU), não há evidências de que o SARS-CoV-2 possa ser transmitido por leite materno⁽⁸⁾. Essas estratégias adotadas para a manutenção dos serviços do BLH corroboram a perspectiva da PPA. O habitus tem como função dar conta da unidade de estilo que vincula as práticas e os bens de seus agentes, um princípio gerador e unificador. Sempre há o imperativo para adoção de procedimentos de prevenção e controle da doença, principalmente a higienização das mãos e o uso de máscara durante a amamentação ou retirada do leite. O encorajamento, nesse momento de distanciamento social, continua a ocorrer, garantindo-se o direito à informação.

Este estudo lança luz sobre as estratégias e ações realizadas pela coordenação de BLH — com base na interdisciplinaridade, e/ou enfermagem, no espaço do BLH em tempos de COVID-19 — que puderam favorecer a continuidade da amamentação. O uso dos recursos digitais e aparelhos de smartphone com o uso do aplicativo de mensagens WhatsApp, conforme narrado pelas participantes, indica uma nova organização dos serviços prestados nos BLHs e a necessidade de treinamento para a utilização dessas tecnologias. As ações da enfermagem estão organizadas mediante processo histórico estruturante dos habitus presentes no campo do BLH. Compreende-se que as equipes dos BLHs sempre utilizaram linhas telefônicas como suporte para amamentação. Historicamente, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano usa essas vias de comunicação desde 1985. Contudo, neste momento histórico, essa ferramenta acrescida dos recursos tecnológicos atuais possibilitaram a manutenção dos serviços nos BLHs.

Sendo assim, todo o material produzido para o enfrentamento da COVID-19 pode ser catalogado em futuras pesquisas e servir de referência para a equipe do BLH. Vindouras investigações com mulheres que foram testadas positivas para o novo coronavírus e que tenham amamentado podem indicar a transmissão de anticorpos a seus recém-nascidos, conforme defendido na literatura científica⁽³³⁾.

Limitações do estudo

A limitação da pesquisa consiste na falta de estudos contundentes sobre a COVID-19, uma vez que sua manifestação é recente no contexto mundial e trabalha-se com base em evidências limitadas, disponíveis até o momento. Novos estudos podem ajudar na compreensão dos desdobramentos desta doença e da forma pela qual ela pode afetar a amamentação.

Contribuições para a área da Enfermagem, Saúde ou Políticas Públicas

Este estudo esclarece sobre as estratégias e ações realizadas pela coordenação de enfermagem no espaço do BLH, em tempos de COVID-19, as quais, a nosso ver, puderam favorecer a continuidade da amamentação. O uso dos recursos digitais e aparelhos de smartphone, como narrado pelas participantes, indica uma nova organização dos serviços prestados no BLH e a necessidade de treinamento para utilização dessas tecnologias. As estratégias para o enfrentamento da pandemia e a manutenção da amamentação em tempos de distanciamento e de isolamento social evidenciaram uma dependência exacerbada de insumos e aparatos de segurança pessoal (EPI) vindos do exterior, ou seja, a necessidade de importação desse material revelou uma fragilidade no sistema de saúde. Sendo assim, todo o material produzido para o enfrentamento da COVID-19 pode ser catalogado, em futuras pesquisas, e servir de referência tanto para a equipe do BLH quanto para o público-alvo desse espaço especializado, ampliando-se as ferramentas de trabalho no que se refere à promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que não há uma distância do fato histórico e que não temos clareza da conjuntura que envolve diferentes contextos sociais, políticos e econômicos, em que uma doença derruba os sistemas de saúde e vem demandando ações protetivas de distanciamento social, pergunta-se: Sobre o que este momento nos ensina? Qual o legado desta experiência vivenciada para o BLH? Quais práticas podem ser incorporadas como protocolos de atendimento a novos casos de pandemia ou calamidade pública? Quais ações e estratégias por meios digitais permanecerão como práticas de cuidados e apoio ao aleitamento materno?

Defende-se que os benefícios da amamentação superam quaisquer riscos potenciais de transmissão do novo coronavírus através do leite materno; e, como defendido na promoção do aleitamento materno, este é um importante mecanismo de proteção para o binômio mãe-bebê no presente e no futuro. Não havendo evidências científicas sobre a transmissão vertical e sendo um direito da mulher a escolha em amamentar e manter-se próxima de seu filho desde o nascimento, o presente estudo ratifica os benefícios do leite materno como alimento exclusivo, mesmo em tempos de pandemia.

Sobre a análise das ações da coordenação de enfermagem nos BLHs para favorecer a continuidade da amamentação em tempos de pandemia da COVID-19, considera-se que os planejamentos de curto e médio prazo conseguiram minimizar os impactos sobre as ações do BLH. Destaca-se o aparelho de comunicação smartphone como ferramenta imprescindível para superar o distanciamento social e manter a política de PPA. Outras ferramentas digitais, identificadas como vídeos, documentários, gravações de áudio, imagens fotográficas, textos informativos em meio eletrônico, videoconferência, chamada de vídeo e aplicativos de mensagens como o WhatsApp transformaram o modo de fazer saúde e conseguiram manter a continuidade das práticas e ações do aleitamento materno.

Pensar o habitus, em tempo de pandemia, nesse momento em que os modus operandi são abalados e as práticas sociais são alteradas pela dinâmica do distanciamento e isolamento social, suscita reflexões sobre as estratégias dos sujeitos sociais na reconfiguração de suas ações. As adequações das práticas no BLH, bem como das doadoras de leite humano, revelam essas transformações e reconfigurações dos habitus. O código comum está em processo de atualização digital, com a incorporação de tecnologias mobilizadas na PPA do aleitamento materno para enfrentamento da COVID-19.

Evidencia-se a importância de práticas de enfermagem sistematizadas, que possam gerir o processo de trabalho no campo da assistência, como no dos BLHs. Isso possibilita qualidade e segurança no processo de PPA, notadamente em momentos ímpares como este, de enfrentamento da pandemia da COVID-19. O profissional da enfermagem deve agir dentro de sua autonomia profissional para detectar tais problemas, mesmo em condições extremas como as de hoje.

O uso das tecnologias de informação e comunicação é um rearranjo da atual realidade, entretanto é necessário saber usufruir desses recursos, fazendo com que contribuam para atender às demandas do BLH e para a manutenção do aleitamento materno. Por fim, contudo, deve-se levar em consideração que tais ferramentas tecnológicas mobilizadas não substituem o contato humano.

AGRADECIMENTO

Agradeço a todas as coordenadoras que participaram desta pesquisa num momento tão difícil em tempos de pandemia.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Fátima Helena Espírito Santo

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Out 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  30 Abr 2020
• Aceito
  22 Ago 2020