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Necessidades e preocupações dos pais em diferentes etapas do ciclo vital

Parents' needs and concerns at different stages of the life cycle

Necesidades y preocupaciones de los padres en diferentes etapas del ciclo vital

Resumos

Objetivo:

identificar as necessidades e as preocupações prioritárias, manifestadas pelos pais no desempenho do seu papel, em três etapas do ciclo vital: adolescência, idade produtiva e idade madura.

Metodologia:

estudo exploratório com abordagem qualitativa, desenvolvido com quatorze pais residentes em um município no extremo sul do Brasil. Os dados foram coletados entre maio e agosto de 2011, por meio de entrevista em profundidade. Através da técnica da análise textual discursiva e da matriz construída com base na teoria bioecológica de Bronfenbrenner, foram construídas três categorias: Necessidades/preocupações do pai, geradas em sua relação com o mundo do trabalho; Necessidades/preocupações que emergem da relação de cuidado com os filhos e Preocupações dos pais com relação ao futuro dos filhos.

Conclusão:

identificou-se que a preocupação com o futuro dos filhos foi apontada por pais de todas as faixas-etárias investigadas.

Enfermagem; Paternidade; Relação Pai-Filho


Objective:

this study aimed to identify priority needs and concerns expressed by fathers in the performance of their role in three stages of the life cycle: adolescence, productive age, and mature age.

Methodology:

this is an exploratory study with a qualitative approach, conducted with fourteen fathers residing in a municipality in the extreme south of Brazil. The data were collected between May and August 2011 by means of the in-depth interview. Through the technique of written discourse analysis and the array built upon Bronfenbrenner's bioecological theory, we obtained three categories: fathers' needs/concerns, generated in their relationship with the world of work; needs/concerns that emerged from the relationship of care with the children; and fathers' concerns about the future of the children.

Conclusions:

we identified that the concern with the future of the children was pointed out by fathers of all age groups investigated.

Nursing; Paternity; Parent-Child Relationship


Objetivo:

identificar las necesidades y preocupaciones prioritarias, manifestadas por los padres en el desempeño de su función, en tres etapas del ciclo de vida: adolescencia, edad productiva y edad madura.

Metodología:

estudio exploratorio con abordaje cualitativo, desarrollado con catorce padres residentes en un municipio en el extremo sur de Brasil. Los datos fueran colectados entre mayo y agosto de 2011, a través de entrevistas en profundidad. A través de la técnica de análisis textual y discursiva e de la matriz construida basada en la teoria bioecologica de Bronfenbrenner, fueran construidas tres categorías: Necesidades/ preocupaciones de lo padre, generado en suya relación con el mundo de lo trabajo; Necesidades/preocupaciones que emergen de la relación de cuidado con hijos e preocupaciones de los padres con lo futuro de los hijos.

Conclusión:

Se identifico que la preocupación con el futuro de los hijos fue apuntado por los padres de todas las edades averiguadas.

Enfermería; Paternidad; Relaciones Padre-Hijo


INTRODUÇÃO

A família é considerada o microssistema mais importante para o desenvolvimento dos indivíduos e suas funções primordiais residem na sobrevivência e na socialização primária das crianças e adolescentes. É um espaço de transmissão de valores, crenças, significados e conhecimentos agregados ao longo das gerações e promotores do engajamento da criança em diversas interações com outras pessoas, símbolos e objetos, possibilitando o desenvolvimento de competências cognitivas, afetivas e sociais(1Dessen MA, Braz MP. A família e suas interrelações com o desenvolvimento humano. In: Dessen MA, Costa Júnior AL. A ciência do desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre: Artmed; 2005. p.113-31.). Sendo assim, do ponto de vista social e cultural, os pais e as mães têm a responsabilidade de oportunizar o desenvolvimento e o bem-estar dos filhos, ambos podendo ser facilitados pela comunicação estabelecida entre eles e pelas interações que envolvem afeto, reciprocidade, estabilidade e confiança(2Bronfenbrenner U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996.-3Hawley DR, Dehann L. Toward a definition of family resilience: integrating life-span and family perspectives. Family Process [Internet]. 1996 [cited 2013 April 25];35(3):283-98. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9111710
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).

No contexto da família contemporânea, cada vez mais se observa que o pai, à semelhança da mãe, manifesta preocupação em desempenhar seu papel nas tarefas de cuidado e na educação dos filhos, participando mais ativamente da dinâmica familiar. A afirmativa encontra ressonância em um estudo desenvolvido na cidade de Maringá (PR), cujo objetivo foi o de conhecer as representações de três gerações de famílias sobre a criação dos filhos e cujos resultados mostraram que a relação entre pais e filhos é marcada prioritariamente pela demonstração dos sentimentos de afeto, pela presença do diálogo e pelo desejo de ter maior disponibilidade para os filhos(4Marcon SS, Elsen I. Um estudo trigeracional sobre a experiência de famílias ao criarem seus filhos. Ciênc Cuid Saúde [Internet]. 2002 [acesso em 25 de abril de 2013];1(1):105-9. Disponível em: http://eduem.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewFile/5662/3602
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).

Outro estudo realizado com pais, com o objetivo de analisar os significados atribuídos à paternidade, em João Pessoa (PB), mostrou que predomina no discurso masculino a visão de responsabilidade paterna associada ao bem-estar dos filhos, no sentido de lhes garantir a subsistência e a proteção. Os homens relataram a importância de estar presentes na vida dos filhos, tornando-se sensíveis às suas necessidades e mantendo uma relação baseada no diálogo(5Freitas WMF, Silva ATMC, Coelho EAC, Guedes RN, Lucena KDT, Costa APT. Paternidade: responsabilidade social do homem no papel de provedor. Rev Saúde Pública. 2009;43(1):85-90.).

Os resultados encontrados remetem ao pensamento de que as necessidades e as preocupações dos pais surgem justamente na relação com o filho, ou seja, as necessidades dos filhos determinam as necessidades e as preocupações do pai. Por outro lado, se as interações que promovem o desenvolvimento humano são influenciadas pelas características pessoais, do contexto e do tempo nos quais esse homem está inserido, também é possível inferir que as necessidades e as preocupações experimentadas ao longo do processo de tornar-se pai são influenciadas por esses mesmos elementos(6Bronfenbrenner U, Morris P. The ecology of developmental processes. In: Damon W. Handbook of child psychology. New York: John Wiley & Sons; 1998. p. 993-1027.).

Dentre as características pessoais do pai, destacam-se a bagagem de conhecimentos, as experiências prévias de cuidado, o envolvimento e o seu comprometimento com a família. Essas características são classificadas por Bronfenbrenner como recursos pessoais(6Bronfenbrenner U, Morris P. The ecology of developmental processes. In: Damon W. Handbook of child psychology. New York: John Wiley & Sons; 1998. p. 993-1027.) que influenciam de forma diferenciada as necessidades e as preocupações sentidas pelos pais. Por exemplo, a experiência de cuidar que o pai adquire com o primeiro filho torna-o mais habilidoso para cuidar dos demais. Da mesma forma, os pais em idade produtiva e madura já desenvolveram algumas habilidades, pois tiveram experiências de cuidado, enquanto o pai adolescente pode ter mais dificuldade no reconhecimento das reações e demandas do filho.

Em relação ao contexto, a literatura mostra que as interações vivenciadas pelo pai no trabalho, com os amigos e na família de origem, entre outros, também influenciam no tipo de necessidade e preocupação que experimentam. Destaca-se especialmente a situação econômica da família, a existência ou não de estruturas de apoio para a criação dos filhos, como creches, escolas e o relacionamento com a companheira. Os pais têm, por exemplo, a preocupação com o sustento financeiro, vinculada, por extensão, ao contexto do trabalho, desde a descoberta da gravidez, pois se preocupam em oferecer à família uma melhor qualidade de vida. Tal preocupação gera nos pais a necessidade de ter um trabalho que lhes proporcione condições de prover o sustento da família(7Oliveira EMF, Brito RS. Ações de cuidado desempenhadas pelo pai no puerpério. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2009 [acesso em 25 de abril de 2013];13(3):595-601. Disponível em: http://www.readcube.com/articles/10.1590/s1414-81452009000300020
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). No caso do adolescente, ele está preocupado em atender as necessidades básicas do filho, buscando inserir-se no mercado de trabalho; no entanto, ainda não terminou os estudos e não possui renda suficiente, carecendo do apoio financeiro da família de origem. Já os pais em idade produtiva e madura, que possuem uma condição financeira estável e emprego fixo, não percebem a mesma necessidade. Entretanto, não dispõem de tempo para acompanhar mais de perto o desenvolvimento do filho conforme gostariam, o que também gera preocupação.

É importante destacar que as preocupações dos pais, envolvendo a criação dos filhos, dependem também das interações vivenciadas no macrossistema, aquele que abarca os valores, as crenças e a história da própria família. Sendo assim, as concepções relativas ao papel da criança, da mulher e do homem na família, assim como o valor atribuído à formação escolar determinam com maior ou menor intensidade as preocupações e as necessidades dos pais(8Marcon SS, Elsen I. Os caminhos que, ao criarem seus filhos, as famílias apontam para uma enfermagem familial. Ciênc Cuid Saúde. 2006;5:11-18.).

Da mesma forma, o tempo é um elemento fundamental na definição das necessidades e preocupações sentidas pelos pais. Nesse sentido, o tempo concebido através das transformações sociais, tão marcantes no mundo contemporâneo, determina novas demandas na criação dos filhos, destacando-se, no contexto, a violência urbana, a disseminação das drogas e o consumismo exagerado. Já a concepção de tempo em sua dimensão cronológica igualmente pode influenciar de forma diferenciada as necessidades e as preocupações dos pais. No estudo ora apresentado, o tempo cronológico é representando pelas diferentes etapas do ciclo vital em que os pais se encontram, isto é, adolescência, idade produtiva e idade madura, considerando adolescência o período até 19 anos; idade produtiva, de 20 a 45 anos e idade madura, de 46 a 65 anos. Sendo assim, observa-se que as necessidades e as preocupações dos pais são geradas na relação com o filho e naquelas vivenciadas em diferentes contextos e não apenas fruto das mudanças sociais, mas, também, em função da etapa do ciclo vital na qual se encontram.

Nessa perspectiva, o complexo processo de construção da paternidade extrapola as fronteiras familiares e recai na prática da enfermagem, como profissão do cuidado. No trabalho desenvolvido com famílias, o enfermeiro precisa conhecer e compreender as necessidades e as preocupações dos pais, de modo a prestar uma assistência individualizada. Para tanto, é preciso considerar as características individuais do pai; as influências que ele recebe dos contextos onde transita; os valores; as crenças e os significados que constituem sua história pessoal e ainda a etapa do ciclo vital na qual se encontra. É importante que os enfermeiros constituam referências para os pais, orientando-os, criando condições para que os mesmos possam desenvolver habilidades no cuidado dos filhos, inclusive para implementar práticas disciplinares e supervisão(9Besnard T, Joly J, Verlaan P, Capuano F. Liens différenciés entre les pratiques éducatives des Pères et des mères et La présence de difficultés de comportement chez les garçons et les filles d'âge préscolaire [Differentiated between the educational practices of fathers and mothers and the presence of behavioral problems among boys links and preschool girls]. Enfances Familles Générations [Internet]. 2009 [cited 2013 April 25];(10). Available from: http://www.erudit.org/ revue/efg/2009/v/n10/037520ar.html French.
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).

Entretanto, mesmo sendo reconhecida a importância de inserir os pais no planejamento dos cuidados, observa-se que a mãe continua sendo o foco prioritário das ações dos profissionais de saúde em geral e dos enfermeiros, em particular. O pai habitualmente é visto como mero espectador, um coadjuvante no cuidado do filho, o que gera a necessidade de uma reformulação nesse modelo de assistência, com vistas à inclusão do homem no cuidado às famílias.

Por outro lado, no âmbito da literatura, constata-se a existência de uma significativa lacuna na produção do conhecimento sobre a paternidade, na área da Enfermagem. É no campo da psicologia que a produção científica é mais relevante, especialmente os estudos a respeito da paternidade vivenciada na adolescência. Na Enfermagem, ainda são poucas as pesquisas que têm a figura do pai como objeto de investigação. Essa lacuna, de certa forma, explica as dificuldades encontradas nas práticas de cuidado dos enfermeiros com o pai. O fato está diretamente relacionado ao cuidado dos filhos, sendo que desses, muitas vezes, o homem não participa mais ativamente porque não sabe como atuar no cuidado, ocasionando uma situação na qual o pai não sabe cuidar do filho e o enfermeiro, por sua vez, não sabe cuidar do pai. Assim, o conhecimento das necessidades e preocupações dos pais na criação e educação poderá subsidiar ações de enfermagem direcionadas ao atendimento dos aspectos em questão.

Com base nas considerações alcançadas e utilizando-se o referencial bioecológico de Bronfenbrenner, o presente estudo objetivou identificar as necessidades e as preocupações prioritárias que os pais manifestam quanto ao desempenho do seu papel, em três diferentes etapas do ciclo vital: adolescência, idade produtiva e idade madura. Foram consideradas não apenas suas características pessoais, mas também o contexto no qual está inserido e as mudanças ocorridas ao longo do curso de vida.

METODOLOGIA

Estudo exploratório com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do extremo sul do Brasil, tendo como sujeitos pais adolescentes, em idade produtiva e em idade madura. Estabeleceu-se como critérios de inclusão dos sujeitos: a inserção em uma das faixas-etárias citadas anteriormente; o contato permanente com os filhos e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram sujeitos quatorze pais, cuja faixa-etária variou entre 15 e 61 anos, sendo que quatro eram adolescentes (15 a 19 anos), cinco estavam em uma faixa-etária que denominamos idade produtiva (20 a 45 anos) e cinco na idade madura (46 a 61 anos). Para preservar o anonimato, os pais foram identificados por meio de uma codificação representada pela letra "P", seguida de um número que expressa a idade cronológica do participante. Para os participantes que apresentavam a mesma idade, foi acrescida a letra "a" ou "b", visando diferenciá-los.

Os dados foram coletados entre maio e agosto de 2011, por meio de entrevistas em profundidade gravadas. A teoria bioecológica do desenvolvimento humano, de Urie Bronfenbrenner, foi utilizada como referencial teórico para a realização deste estudo. Com base nela, foi construída uma estrutura de análise que abarca os quatro elementos do modelo bioecológico: processo, características pessoais, contexto e tempo. Para a avaliação do processo, foram consideradas as interações entre o pai e os filhos e o pai e o mundo do trabalho. No tocante às características pessoais, levou-se em consideração a experiência de cuidado com o filho, o envolvimento com a família e a bagagem de conhecimento. Com relação ao contexto, foi considerado o status ocupacional ou educacional, o status conjugal, as estruturas de apoio e a situação econômica da família. Em relação ao tempo, foram observadas as mudanças ocorridas na sociedade, além do tempo cronológico, considerando-se as três etapas do ciclo vital.

Além da estrutura de análise para a condução da análise dos dados, utilizou-se a Análise Textual Discursiva(1010 Moraes R, Galiazzi MC. Análise Textual Discursiva. Ijuí: Editora Unijuí; 2011.). O processo iniciou-se com a unitarização dos dados, mediante a fragmentação das entrevistas após diversas leituras, identificando-se e codificando cada fragmento destacado, resultando, daí, as unidades de análise. Na sequência da unitarização, realizada com a intensidade e a profundidade pertinentes à pesquisa qualitativa, passou-se à construção de relações entre as referidas unidades, comparando-as e agrupando os elementos semelhantes em um processo denominado categorização. Durante tal etapa, reuniram-se as unidades de análise por semelhança e aproximação, em categorias intermediárias, gerando, com isso, três categorias de análise, construídas a partir do referencial teórico utilizado. A primeira engloba as necessidades/preocupações do pai geradas em sua relação com o mundo do trabalho. A segunda aborda as necessidades/preocupações que emergem da relação de cuidado com os filhos. A terceira refere-se às preocupações dos pais com relação ao futuro dos filhos. O estudo recebeu uma certificação ética do Comitê de Ética e Pesquisa da instituição à qual está vincula-do (parecer 134/2010). A todos os participantes foi garantido o anonimato e respeitados todos os preceitos éticos e legais que regem a pesquisa com seres humanos, estabelecidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde(1111 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética e Pesquisa. Resolução 196/96, de 10 de outubro de 1996. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União 16 out 1996.).

RESULTADOS

Nesse estudo, a estrutura de análise, construída com base no referencial teórico, foi utilizada para conduzir a análise dos dados, permitindo visualizar que as necessidades e preocupações prioritárias dos pais surgem a partir da vivência dos processos proximais com os próprios filhos. Identificou-se, ainda, que as diferentes fases do desenvolvimento dos filhos podem desencadear preocupações e necessidades distintas nos homens. Também foi observado que as interações vivenciadas pelos pais com outros indivíduos, tanto no microssistema familiar como no mesossistema e no macrossistema, determinam o modo como os homens percebem suas necessidades e preocupações no desempenho do seu papel. Especificamente observou-se, em algumas famílias, a influência do tempo, sendo que muitos pais estabelecem interações com os filhos com a perspectiva de interferir e direcionar o futuro dos mesmos.

Caracterização dos participantes

Dentre os quatorze homens que participaram do estudo, dez são casados, sete possuem apenas um filho; três têm dois filhos; três têm três filhos; e um, cinco filhos. Quanto ao grau de escolaridade, quatro possuem ensino fundamental incompleto; cinco completaram o ensino médio; quatro possuem o ensino superior completo. Um é analfabeto. Todos os entrevistados exercem atividades remuneradas, assim agrupados: cinco funcionários públicos, dois representantes comerciais, um pescador, um garçom, um motorista, um serigrafista e três dedicados aos serviços gerais.

Os pais adolescentes abandonaram os estudos para entrar no mercado de trabalho após a descoberta da gravidez; dois têm emprego formal e dois encontram-se na informalidade (pescador e ajudante de pedreiro). Três adolescentes mantêm união estável com a companheira, dividindo a mesma casa, enquanto um não convive mais com a mãe de seu filho, apenas mantém o vínculo com a criança. Em relação às estruturas de apoio utilizadas, todos apontam família de origem, os seus genitores, como principal auxílio financeiro, emocional ou como suporte para o cuidado do bebê.

No grupo de pais em idade produtiva, dois têm apenas um filho; dois têm três filhos e um tem dois filhos. Os cinco participantes dessa faixa-etária são casados, mantêm relacionamento estável com a companheira e estão inseridos no mercado de trabalho. Quanto à situação escolar, dois pais possuem ensino superior completo; dois têm ensino médio completo e um possui ensino fundamental incompleto. Em relação às estruturas de apoio utilizadas, foram apontadas a família de origem e as creches.

Dentre os cinco pais em idade madura, um tem apenas um filho; dois têm dois filhos; um tem três filhos e um pai tem cinco filhos. Três são casados, sendo que um está no segundo casamento; um é viúvo e um, divorciado. Quatro desses pais estão inseridos no mercado de trabalho, sendo que dois estão prestes a requerer a aposentadoria. Apenas um já é aposentado. Um pai reside com um de seus filhos já adulto. As estruturas de apoio citadas são a família de origem, incluindo, além dos pais, irmãos e cunhados, os vizinhos, as creches e os serviços de saúde.

Preocupações e necessidades dos pais na relação com o mundo do trabalho

Esta categoria aborda preocupações relacionadas à situação econômica da família, apontada pelos participantes das três eta-pas do ciclo vital. São preocupações que desencadeiam as necessidades referentes à aquisição da casa própria, ao emprego formal e a uma renda familiar fixa, aspectos que, na visão dos pais, facilitam o desempenho de seu papel de pai na família.

Dentre os quatro pais adolescentes, apenas um estava inserido no mercado quando as parceiras engravidaram e, portanto, para três deles a descoberta da gravidez foi um acontecimento gerador de preocupação adicional. Isto porque ainda não estavam inseridos no mercado de trabalho, não tinham terminado os estudos e não possuíam condições de sustentar a nova família que estavam formando. Todos os quatro adolescentes interromperam seus planos de cursar o ensino superior e, consequentemente, de preparar-se para alcançar uma boa colocação no mercado de trabalho. Os estudos seriam retomados somente após o nascimento do filho, quando a vida estivesse mais estruturada. De forma unânime, os adolescentes deste estudo se cobram para que nada falte ao filho, desde o provimento das necessidades básicas, como também o estabelecimento de uma relação pai e filho baseada no amor, carinho e atenção. Por tal razão, os três adolescentes que estavam desempregados (P16, P17, P19b) interromperam o estudos, a partir da constatação da gravidez e ingressaram no mercado de trabalho.

É importante destacar que, apesar de todas as dificuldades encontradas e mesmo relatando medo em determinadas situações, os pais adolescentes assumiram, juntamente com a companheira, a responsabilidade com o sustento e com o compartilhamento das atividades demandadas pela nova família. Ao assumirem tal responsabilidade, preocupavam-se com a situação financeira e apontaram a necessidade de ter dois empregos, como forma de conseguirem responder de maneira satisfatória as necessidades dos filhos, referentes à alimentação, vestimenta, saúde e educação. No entanto, reconhecem que sua carga-horária de trabalho aumentada os afasta da vida familiar e, nesse processo, surge o sentimento de culpa por participar pouco do cuidado do filho.

O apoio emocional e financeiro da família de origem é reconhecido pelos pais adolescentes. Entretanto, dois (P17, P19a) percebem dificuldade na relação com a família de origem, em razão dessa interferir muito na vida do jovem casal, desejando assumir o controle das decisões em relação a como deve ser a criação dos netos.

Na idade produtiva, a ênfase está na busca da manutenção e do sustento da casa. Nessa etapa, as necessidades e as preocupações dos pais variaram de acordo com a fase de desenvolvimento dos filhos. Quando eram pequenos, três pais (P31, P42 P44a) ainda não tinham condição financeira estável e enfrentavam dificuldades para conciliar o trabalho e a vida doméstica, particularmente pela pouca convivência com os filhos, devido à carga-horária de trabalho aumentada. Segundo P31, P42 P44a ausência da vida familiar não lhes permitia estabelecer vínculo com o filho. P44a destaca que a filha, muitas vezes, não o reconhecia como pai, considerando-o um estranho e apresentando-se chorosa, irritada e estressada na sua presença.

Outro aspecto apontado por P40 P44a que vivenciam a paternidade na idade produtiva, foi o fato de ambos os cônjuges estarem inseridos no mercado de trabalho. A necessidade de dividir o cuidado dos filhos com outras pessoas da família gerou desconforto para o P40, porque a filha, além de sentir a ausência do pai, acabou sendo educada por outras pessoas, cujos valores eram diferentes dos seus. Portanto, P40 sente a necessidade de a mãe estar mais presente no microssistema familiar para acompanhar o desenvolvimento da filha adolescente, a fim de poder exercer um controle maior sobre suas interações com outras pessoas.

Quando mais tarde P31, P40 e P42 conseguiram organizar-se de modo a obter uma estabilidade econômica, eles se viram mais tranquilos para criar os filhos. Assim, após esse período, a necessidade econômica surge apenas como meio de garantir o futuro desejado para os filhos, ou seja, P40, P42, P44a e P44b preocupam-se em manter uma condição financeira que possibilite investir nos estudos dos filhos, visando a um futuro melhor para eles.

Na idade madura, a iminência da aposentadoria pode representar uma ameaça à estabilidade da família. O fato de não possuir uma renda familiar mensal faz com que P61 sinta dificuldade para prover as necessidades do filho, priorizando a busca da subsistência da família e colocando em primeiro lugar a satisfação das necessidades do filho. Para tanto, busca garantir o sustento da criança fazendo serviços informais.

Três pais (P46, P57, P58) com emprego formal reconhecem que pouco participaram dos cuidados básicos dos filhos quando pequenos, já que as companheiras não trabalhavam e assumiram tal responsabilidade. Contudo, revelam que as decisões sobre o modo de criar e educar os filhos sempre foram discutidas entre o casal. Apesar de não realizarem tarefas básicas, P57 e P58 afirmam que contribuíram para o cuidado, uma vez que sempre proporcionaram aos filhos bens materiais, como brinquedos, roupas e educação privada. Esses pais, ao atuarem como provedores materiais da família, percebem que desempenham bem seu papel no que concerne ao cuidado dos filhos. Acreditam que, desempenhando-o, possibilitam que a mulher desenvolva seu papel de cuidadora do lar e dos filhos.

Necessidades e preocupações na relação de cuidado com os filhos

Os pais adolescentes (P17, P19a, P19b) apontam dificuldades com os cuidados básicos dos filhos, principalmente nos primeiros dias de vida da criança. Suas preocupações giram em torno das reações dela, sendo que qualquer movimentação do bebê, como respiração mais profunda e choro prolongado, é motivo para buscar ajuda nos serviços de saúde por não saber o que a criança possa estar sentindo. À medida que o tempo passa, vão adquirindo experiência e conhecendo mais as reações manifestadas, aprendem a lidar com as situações cotidianas, evidenciando que o aprendizado ocorre no próprio processo de cuidar do filho. Em determinadas situações, os pais adolescentes (P16, P17, P19a, P19b) necessitaram de apoio da família para lidar com o bebê após o nascimento, pois se sentiam apreensivos com a fragilidade do filho e revelaram a necessidade de ter mais segurança e conhecimentos para identificar e responder as demandas da criança.

Apesar de possuírem muitas dúvidas acerca da criação e educação (P16, P17 e P19a), afirmam a necessidade de acompanhar o crescimento do filho, participando de todas as etapas do desenvolvimento infantil. Manifestam o desejo de estar presente, esperando ser uma referência com a qual a criança possa contar nas horas boas e ruins. Além disso, verbalizam o desejo de ser um exemplo que o filho possa seguir posteriormente, quando for adulto.

P16, P17 e P19a acreditam na necessidade de construir uma relação com o filho baseada no diálogo, no carinho e na confiança, mostrando para a criança o certo e o errado e sem atender todas as suas vontades. Acreditam que a punição física não pode fazer parte da educação, embora em determinadas situações seja preciso ser mais rude e repreender a criança. No entanto, quando isso acontece, o pai se culpa e mostra-se arrependido. P19b cita que, por não conseguir acompanhar o crescimento do filho devido ao fato de trabalhar em outra cidade, o que gera a pouca convivência, quando está presente, tenta compensar o tempo perdido e acaba sendo mais liberal na criação, ou seja, atende todas as vontades da criança. P16 e P17 relatam que a pouca convivência com seu próprio pai fez com que desejassem formar suas próprias famílias para suprir essa carência. Eles apontam a necessidade de acompanhar o desenvolvimento do filho e de ter uma relação baseada no amor e carinho.

Na idade produtiva, os pais necessitam estabelecer uma relação próxima com os filhos, mantendo o vínculo afetivo e o diálogo. Acreditam que o cuidado, a proteção e a orientação são referências seguras no processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Assim, procuram atuar, direcionando o rumo das interações dos filhos em outros contextos que não apenas o microssistema familiar, em especial na escola, na tentativa de controlar suas relações com outras pessoas, desejando apenas as interações que possam ser positivas para o desenvolvimento do filho. No entanto, quando os filhos estavam na etapa da adolescência, P40 P42 sentiram dificuldade em manter um controle mais rigoroso nas relações, demonstrando a necessidade de equilibrar o papel de direcionador com as demandas que os filhos apresentam.

Os pais em idade produtiva (P40, P42 e P44b) demonstram preocupação em relação ao estabelecimento de limites, principalmente quando os filhos são adolescentes, e aos valores a serem passados para que eles possam enfrentar as demandas do mundo atual. Preocupam-se, pois não conseguem controlar as interações do filho em outros contextos. Preocupam-se com o caminho que ele irá seguir e acreditam desempenhar bem seu papel de pai quando contribuem para que os filhos possam ir em busca dos seus sonhos e sigam os valores e princípios aprendidos em casa. Percebem que o processo do filho de tornar-se adulto não depende somente dos valores adquiridos em casa, mas, também, das influências de outros ambientes como, por exemplo, a escola e a rede de amizades. No entanto, preocupam-se com suas atitudes em relação aos filhos e demonstram desejo de ser exemplo a ser seguido, conforme já havia sido observado também nos pais adolescentes.

A educação e a saúde são preocupações referidas por todos os pais em idade madura (P46, P48, P57, P58, P61). P61 que assumiu o cuidado do filho pequeno após a separação da companheira, demonstra preocupação em cuidar da criança sozinho, prover o sustento da casa e acompanhar o desenvolvimento do filho, ou seja, em cuidar, proteger e orientar. Relatou ter havido mudança no seu comportamento após a chegada do filho, pois começou a cuidar melhor de sua saúde, percebendo motivação maior para viver, em função das necessidades do filho.

P46, P48, P58 e P61 priorizam uma relação com os filhos baseada principalmente no diálogo e na confiança, procurando mostrar o que é certo e o que é errado. Sentem necessidade de acompanhar mais de perto o desenvolvimento dos filhos, de modo a não serem criados por outras pessoas. Procuram alertar sobre as interações dos filhos em outros contextos, principalmente em razão dos problemas sociais como a violência e o envolvimento com drogas. Entretanto, possuem dificuldades em conviver com os valores e as regras impostas pelo mundo atual e, apesar de orientar o filho, o pai se sente impotente diante da influência de outros contextos e das interações estabelecidas com outros indivíduos e do modo como isso pode inteferir no desenvolvimento do filho. Quando esses se tornam adultos, os pais procuram não interferir muito, pois percebem a necessidade de eles tomarem suas próprias decisões, escolherem seu caminho, mesmo que para isso cometam erros.

Preocupações dos pais em relação ao futuro dos filhos

Esta categoria agrupa as preocupações que os pais vivenciam no desempenho de seu papel na família, as quais geram ações realizadas no tempo presente, mas com a perspectiva de interferir e direcionar o futuro dos filhos.

P16, P17 e P19a desejam um futuro melhor para os filhos, esperando que eles completem os estudos, com vistas à conquista de um emprego digno. Por essa razão, referem a necessidade de prover condições para sustentar os filhos a fim de que, diferentemente da própria história, eles possam investir no futuro. P19a revela preocupação com o futuro do filho e, dessa forma, não se permite correr qualquer risco. Em relação ao sustento, ele prioriza as necessidades do filho; por não possuir situação financeira estabilizada, não se permite correr risco de perder o emprego, mesmo que não seja exatamente o desejado. Com semelhante preocupação em relação ao futuro do filho, P19a afirmou cuidar melhor da sua saúde, evitando adotar comportamentos de risco, pois tem medo que lhe aconteça alguma coisa, fruto da preocupação com o cuidado do filho.

Os pais que têm filhos na adolescência (P40, P44a, P44b, P46, P48, P57 e P58) destacaram que desenvolvem ações visando qualificar a vida futura dos filhos. Especificamente, procuram supervisionar as relações dos filhos com os amigos, monitorando-as. Na escola, procuram se fazer presentes com vistas a não perder o controle de tais relações. Para tanto, participam de reuniões escolares e também levam e buscam o filho na escola. Dois pais (P40 e P57) relataram acompanhar as filhas nas atividades de lazer, procurando supervisionar as relações vivenciadas em outros contextos. Assim, P40 destaca que, mesmo após um dia de trabalho, se dispõe a acompanhar a filha nos shows que ela deseja ir. Já P57 referiu que sempre levou e buscou a filha adolescente nas festas à noite, pois se preocupava com as interações dela nesses ambientes. Com isso, observou-se que a preocupação com o futuro do filho mobiliza os pais a serem proativos no presente, a fim de garantir um bom desenvolvimento para os filhos, buscando evitar influências negativas advindas de contextos adversos.

Outra preocupação apontada por P46, P48 e P57 relaciona-se à oportunidade de os filhos seguirem os estudos. Esses pais atuam de modo a influenciar e direcionar os filhos para uma profissão, de forma que não passem pelas dificuldades sentidas por ele. Em tais situações, muitas vezes, projetam nos filhos os sonhos que não conseguiram concretizar. P46, P57 P58 investem na educação com vistas a oferecer aos filhos as oportunidades que não tiveram quando jovens. Os pais de idade madura com filhos adultos, apesar de demonstrarem preocupações em relação ao seu futuro, principalmente no que se refere à decisão quanto à profissão a ser seguida, procuram não interferir nas suas opções, pois acreditam que os filhos têm responsabilidade e maturidade para escolher seu próprio caminho. Assim, cons-tata-se que as ações desenvolvidas por esses pais são definidas e estão associadas à idade dos filhos, podendo o papel que lhes cabe variar de proativo a apenas orientador.

DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo permitiram identificar que as necessidades e as preocupações dependem da etapa do ciclo vital dos filhos, dos contextos nos quais os pais estão inseridos e também de suas características pessoais.

A situação econômica da família foi relatada pelos pais como preocupação primordial para conseguir atender as necessidades básicas dos filhos, sendo que, atualmente, todos estavam inseridos no mercado de trabalho. Contudo, percebeu-se que a renda mensal da família referida pelos participantes variou significativamente e esse fato fez com que alguns deles tivessem dois empregos, de modo a atender melhor as necessidades dos filhos e da família. O achado encontra consonância com estudo realizado, segundo o qual o sustento da família é um aspecto de fundamental importância para os pais, vistos como os provedores dentro da sociedade(1212 Pohlman S. The Primacy of work and fathering preterm infants: findings from an interpretive phenomenological study. Adv in Neonatal Care [Internet]. 2005 [cited 2013 April 25];5(4)204-16. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16084478
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16084...
).

Visualizou-se que, quando os filhos são pequenos, a preocupação dos pais adolescentes e em idade produtiva é possuir condição financeira estável de modo a prover as necessidades básicas do filho. Em conformidade com o resultado alcançado, estudo realizado com os pais identificou que o trabalho e o término dos estudos poderiam ajudar os homens a serem melhores pais, já que as maiores dificuldades identificadas por eles estavam associadas à responsabilidade, particularmente em relação às finanças(1313 Lemay CA, Cashman SB, Elfenbein DS, Felice ME. A qualitative study of the meaning of fatherhood among young urban fathers. Public Health Nurs [Internet]. 2010 [cited 2013 April 25];27(3):221-31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20525094
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20525...
). Contudo, nessas etapas do ciclo vital, a disponibilidade dos pais para atuar nos cuidados dos filhos está associada diretamente à sua inserção no mercado de trabalho, com muitos apresentando dificuldades para conciliar o trabalho e a vida doméstica, o que influenciou na relação com o filho. Os pais de idade produtiva relataram dificuldades em estabelecer vínculo com o filho, devido a sua ausência na vida familiar.

Os pais adolescentes revelam uma preocupação exagerada com o filho logo após o nascimento, sem saber como lidar com as reações apresentadas por ele, entre as quais, a dor, o resfriado e o choro. Com a experiência do cuidado e o suporte da família de origem, ficaram mais tranquilos e aprenderam a lidar com as situações cotidianas. Em conformidade com os resultados obtidos, estudo aponta que a sensibilidade e a capacidade de responder as demandas da criança estão associadas à experiência de cuidado; assim, ao cuidar do filho, o pai vai desenvolvendo habilidades e conhecimentos que o auxiliam no processo de cuidar. Contudo, alguns autores afirmam que apesar de os pais terem competência para atuar no cuidado, a maior parte da responsabilidade com as tarefas básicas é assumida pela mãe(1414 Massoudi P, Wickberg B, Hwang CP. Father's involvement in swedish child health care - the role of nurses practices and attitudes. Acta Paediatr [Internet]. 2011 [cited 2013 April 25];100(3):396-401. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21039828
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21039...
).

A totalidade dos pais desse estudo referiram a utilização de estruturas de apoio em alguma etapa do desenvolvimento dos filhos. Os pais adolescentes fizeram referência à família de origem como principal auxílio financeiro, emocional e suporte para o cuidado do bebê. Já os pais em idade produtiva e madura apontaram a família de origem, as creches, os vizinhos e os serviços de saúde. Os resultados aqui transcritos encontram ressonância em estudo no qual os autores destacam que o apoio financeiro e emocional das famílias é fundamental para que os homens desempenhem seu papel de pai, contribuindo para a diminuição do estresse e para a experiência e o conhecimento sobre desenvolvimento infantil(1515 Buting L, McAuley C. Research review: teenage pregnancy and parenthood: the role the fathers. Child Fam Social Work [Internet]. 2004 [cited 2013 April 25];9(3);295-303. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2206.2004.00335.x/abstract
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.11...
). Outro estudo faz referência aos numerosos desafios enfrentados pelos pais nos níveis pessoal, conjugal e familiar, sendo a rede de apoio um recurso valioso para lidar com os mesmos(1616 Montigny F, Lacharité C, Amyot E. The transition to fatherhood: the role of formal and informal support structures during the post-partum period. Texto & Contexto Enferm [Internet]. 2006 [cited 2013 April 25];15(4):601-9. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072006000400008
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

No que concerne ao cuidado dos filhos, os pais em idade produtiva apontaram a necessidade de dividi-lo com outras pessoas, devido ao fato de ambos os cônjuges estarem inseridos no mercado de trabalho. Já os pais em idade madura reconheceram que se dedicaram mais à sua vida profissional e pouco participaram nos cuidados dos filhos, em termos de realização das tarefas como as de higiene, alimentação, vestuário, entre outras. Relataram que, ao prover financeiramente a família, possibilitaram à mulher assumir seu papel no cuidado dos filhos. Esses resultados assemelham-se aos achados de estudo igualmente desenvolvido com pais, no qual os autores identificaram que os homens dedicam-se mais à carreira pro-fissional, enquanto a mulher reduz seu horário de trabalho ou se dedica exclusivamente para as atividades da família(1717 Jürgens K. Vie de famille et flexibilité du temps de travail en Allemagne: le mythe de la conciliation [Family life and flexibility of working time in Germany: the myth of the conciliation]. Enfances Familles Générations [Internet]. 2006 [cited 2013 April 25];(4):1-15. Available from: file:///C:/Users/Cliente/Downloads/32-129-1-PB.pdf French.).

Em outro estudo realizado com pais, com o intuito de cap-tar o sentido dado à paternidade, os autores verificaram que, na maioria das falas masculinas, uma divisão tradicional dos papéis se mantém como norteadora das relações. Segundo ela, cabe ao homem ainda o papel de principal provedor, tan-to que a paternidade continua associada à imagem do trabalho, como na perspectiva tradicional. As funções de prover e proteger a família são naturalizadas, sem maiores questionamentos quanto às construções sociais de gênero(1818 Sutter C, Bucher-maluschke JSNF. Pais que cuidam dos filhos: a vivência masculina da paternidade participativa. Psico [Internet]. 2008 [acesso em 25 de abril de 2013];39(1):74-82. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/%20revistapsico/article/viewFile/1488/2799
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
).

Os pais em idade produtiva apontam a necessidade de estabelecer uma relação próxima com os filhos, preocupando-se em provê-los afetivamente. Esse resultado assemelha-se aos achados de outro, realizado com ambos os pais, no qual os autores identificaram que, apesar de o casal relatar enxergar a criança da mesma forma, as mães estão mais preocupadas com a obtenção do conhecimento sobre ela e seus comportamentos e reações, enquanto os pais preocupam-se em estabelecer uma relação afetiva com a criança(1919 Bell L, Goulet C, Tribble DSC, Paul D, Boisclair A, Tronick EZ. Mothers' and fathers' views of the interdependence of their relationships with their infant: a systems perspective on early family relationships. J Fam Nurs [Internet]. 2007 [cited 2013 April 25];13(2):179-200. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17452602
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17452...
).

Os pais em idade produtiva demonstraram preocupação em impor limites aos filhos, destacando a necessidade de mostrar, desde cedo, o caminho certo para que eles possam seguir. Esses pais preocupam-se em lidar com a imposição de limites quando os filhos se encontram na adolescência, por não conseguirem ter controle sobre as interações deles em outros contextos e com outros indivíduos. Estudo realizado com pais apontou que a educação de um filho adolescente supõe uma série de negociações, responsabilidades e dúvidas dos pais, desafiando seu papel e autoridade parental em vista das mudanças do adolescente, sendo a fase também caracterizada pelo aumento de conflitos entre pais e filhos(2020 Pacheco JTB, Silveira LMOB, Schneider AMA. Estilos e práticas educativas parentais: análise da relação desses construtos sob a perspectiva dos adolescentes. Psico [Internet]. 2008 [acesso em 25 de abril de 2013];39(1):66-73. Disponível em: file:///C:/Users/Cliente/Downloads/1480-11319-1-PB.pdf).

Observou-se que, na idade madura, a preocupação dos pais está relacionada à saúde e à educação dos filhos. Esses pais demonstraram a necessidade de acompanhar o desenvolvimento dos filhos, repassando seus valores e princípios e alertando para as interações em outros contextos que não somente o microssistema familiar. Além disso, notou-se que esses pais projetam nos filhos os sonhos que não conseguiram concretizar, procurando investir na educação de forma a oferecer aos filhos as oportunidades que não tiveram quando jovens. Contudo, com os filhos já na idade adulta, os pais preocupam-se em não interferir nas sua escolhas, procurando atuar como orientador.

Em conformidade com os resultados obtidos, estudo realizado com pais mostrou que eles têm sonhos para o futuro do filho, os quais incluem o desejo que supere suas próprias realizações, geralmente expresso como a vontade de que o filho seja melhor do que o pai. Nesse estudo, identificou-se que os pais esperavam que seus filhos completassem os estudos, inclusive o ensino superior, para que pudessem, futuramente, alcançar sucesso financeiro e educacional(1313 Lemay CA, Cashman SB, Elfenbein DS, Felice ME. A qualitative study of the meaning of fatherhood among young urban fathers. Public Health Nurs [Internet]. 2010 [cited 2013 April 25];27(3):221-31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20525094
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20525...
).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, identificou-se que a preocupação com o futuro dos filhos foi apontada por pais de todas as faixas-etárias investigadas, fazendo com que ajam no presente, com vistas a direcionar o futuro dos filhos, com as ações sendo definidas a partir da idade dos filhos. Observou-se que os pais adolescentes, apesar das dificuldades, assumem a responsabilidade dos cuidados dos filhos, preocupando-se em prover o sustento e as necessidades de afeto e carinho. Na idade produtiva, notou-se que as preocupações dos pais na fase da adolescência dos filhos, estão mais voltadas ao acompanhamento das interações dos filhos em outros contextos. Na idade madura, visualizou-se a dificuldade dos pais em atuar na educação e criação dos filhos, já que necessitam lidar com valores e regras impostas pelo mundo atual.

Nessa perspectiva, a compreensão das necessidades e preocupações que os pais experenciam ao cuidar de seus filhos pode contribuir para respaldar as ações dos enfermeiros, no sentido de ajudá-los a melhor desempenhar seu papel na família, identificando suas dúvidas e dificuldades no que se refere ao cuidado dos filhos e podendo constituir-se em estrutura de apoio para que eles administrem os aspectos citados. É fundamental que os enfermeiros estabeleçam uma relação de confiança com os pais desde o pré-natal, procurando inseri-los na assistência e possibilitando que expressem suas necessidades e preocupações. A identificação desses aspectos pode facilitar o desenvolvimento do papel do pai na família, uma vez que os enfermeiros têm a oportunidade de auxiliar os pais a estabelecerem o vínculo com o filho e a manterem relações positivas dentro da família.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2013
  • Aceito
    02 Nov 2014
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