Transtornos mentais comuns em técnicos de Enfermagem de um hospital universitário

RESUMO

Objetivo:

Verificar a prevalência de transtornos mentais comuns em técnicos de enfermagem e fatores associados.

Método:

Estudo transversal, analítico, realizado em um hospital universitário. Utilizaram-se um questionário composto por variáveis sociodemográficas, de formação e ocupacionais e o Self Reporting Questionnaire-20 para verificar a presença de transtornos mentais comuns. Realizou-se a análise de associação por meio do teste de qui-quadrado, com nível de significância de 5%.

Resultados:

Participaram 280 técnicos de enfermagem. A prevalência de transtornos mentais comuns foi de 46,9%. As variáveis renda familiar (p=0,021) e trabalho exclusivo na área da saúde (p<0,001) apresentaram-se associadas ao desfecho. Observou-se maior prevalência de TMC entre os indivíduos com renda familiar inferior a quatro salários mínimos (RP=1,41) e entre os profissionais que trabalhavam exclusivamente na área de saúde (RP=1,95).

Conclusão:

Aproximadamente metade dos técnicos de enfermagem de hospital universitário apresentou transtornos mentais comuns, que foram associados a aspectos econômico e ocupacional.

Descritores:
Transtornos Mentais; Saúde Mental; Saúde do Trabalhador; Técnicos de Enfermagem; Hospitais Universitários

ABSTRACT

Objective:

To verify the prevalence of common mental disorders and associated factors in nursing technicians.

Method:

Cross-sectional analytical study conducted at a university hospital. A questionnaire with sociodemographic, educational and work-related variables and the Self Reporting Questionnaire-20 were used to verify the presence of common mental disorders. Association analysis was performed using the chi-squared test, with a significance level of 5%.

Results:

280 nursing technicians participated in the study. The prevalence of common mental disorders was 46.9%. The variables family income (p=0.021) and working exclusively in health area (p<0.001) were associated with the outcome. There was a higher prevalence of CMD among individuals with a family income below four minimum wages (PR=1.41) and among professionals who worked exclusively in the health area (PR=1.95).

Conclusion:

Approximately half of the nursing technicians of the university hospital presented common mental disorders, which were associated with economic and work-related variables.

Descriptors:
Mental Disorders; Mental health; Occupational Health; Nursing Human Resources; Hospitals, University

RESUMEN

Objetivo:

Comprobar la prevalencia de trastornos mentales comunes en técnicos de enfermería y los factores asociados.

Método:

Se trata de un estudio transversal, analítico, realizado en un hospital universitario. Se utilizó un cuestionario compuesto por variables sociodemográficas, de formación y ocupacionales y el Cuestionario de Autorreporte de Síntomas-20 para comprobar la presencia de trastornos mentales comunes. Se llevó a cabo el análisis de asociación mediante la prueba chi-cuadrado, con nivel de significación del 5%.

Resultados:

Participaron 280 técnicos de enfermería. La prevalencia de trastornos mentales comunes alcanzó el 46,9%. Las variables ingreso familiar (p=0,021) y trabajo exclusivo en el área de la salud (p<0,001) estaban asociadas al desenlace. Fue posible observar una mayor prevalencia de TMC entre los individuos con ingresos familiares inferiores a cuatro sueldos mínimos (RP=1,41) y entre los profesionales que trabajaban exclusivamente en el área de la salud (RP=1,95).

Conclusión:

Aproximadamente la mitad de los técnicos de enfermería del hospital universitario presentó trastornos mentales comunes, asociados a aspectos económico y ocupacional.

Descriptores:
Trastornos Mentales; Salud Mental; Salud del Trabajador; Técnicos de Enfermería; Hospital Universitario

INTRODUÇÃO

O trabalho possui um papel importante para a sobrevivência e a realização pessoal dos indivíduos. Por outro lado, pode desencadear alterações no estilo de vida do trabalhador e até mesmo problemas de saúde, como os transtornos mentais^(1-2). Entre estes, destacam-se os Transtornos Mentais Comuns (TMC), que constituem problema grave de saúde pública devido à sua alta incidência⁽³⁾.

Os TMC relacionados ao trabalho têm sido alvo de várias pesquisas nos últimos anos⁽⁴⁾, pois é a terceira causa de requerimento de auxílio-doença no Brasil, atingindo média anual de 6,2% dos trabalhadores⁽³⁾. Esse transtorno tem acometido com frequência os trabalhadores de diversas áreas^(1,5), inclusive os que prestam assistência à saúde^(6-9). As adversidades no ambiente de trabalho podem contribuir para o adoecimento mental⁽¹⁰⁾. Os Técnicos de Enfermagem estão sob o risco de apresentar os TMC devido às peculiaridades do seu processo de trabalho - contato direto com pacientes de difícil manejo, alta demanda psicológica, menor autonomia para o exercício das atividades profissionais, baixos salários, longa jornada de trabalho, receio de erros durante o cuidado, precarização das condições de trabalho -, o que pode contribuir para a sobrecarga de trabalho e o estresse crônico^(11-13).

A presença de TMC em técnicos de enfermagem pode repercutir na qualidade da assistência à saúde do paciente, nas relações com a equipe de trabalho, com a família e a comunidade, na satisfação com o trabalho, com alterações na saúde do profissional e com absenteísmo, além de gerar custos adicionais às instituições^(14-16). A assistência à saúde pode afetar diretamente os profissionais dessa área, trazendo repercussões na qualidade de vida, nos indicadores organizacionais, bem como na produção do cuidado^(12,15).

Nesse sentido, é fundamental investigar a presença de transtornos mentais comuns em técnicos de enfermagem atuantes no contexto hospitalar, por ser uma categoria profissional com expressiva representatividade para a assistência à saúde. Investigações acerca dessa temática devem ser realizadas em diferentes cenários, devido às diversidades regionais, sociais, econômicas e culturais. A obtenção de tais conhecimentos pode subsidiar a implementação de medidas de proteção à saúde mental dos trabalhadores e, por conseguinte, o melhor funcionamento da assistência à saúde.

OBJETIVO

Verificar a prevalência de transtornos mentais comuns e os fatores associados em técnicos de enfermagem atuantes em um hospital universitário de Montes Claros – MG.

MÉTODO

Aspectos Éticos

Os preceitos éticos que respaldam este estudo estão de acordo com as normas estabelecidas na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisa com Seres humanos. O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Obteve-se a autorização da coordenação de apoio à pesquisa do Hospital, por meio da assinatura do Termo de Consentimento da Instituição. Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Desenho, local do estudo e período

Trata-se de um estudo transversal e analítico realizado em um hospital universitário de Montes Claros, norte de Minas Gerais. A instituição possuía 172 leitos e uma estrutura para atendimentos de urgência e emergência, maternidade e internação em diversas áreas clínicas e cirúrgicas, incluindo leitos em saúde mental e unidades de tratamento semi-intensivo e intensivo adulto, neonatal e pediátrica. O hospital tem uma história destacada na trajetória da saúde pública na região norte do estado e constitui uma instituição de referência para a formação de recursos humanos na área da saúde. A presente pesquisa foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2015.

População, critérios de inclusão e exclusão

No ano de realização desta investigação, o referido hospital possuía 300 técnicos de enfermagem, que constituíram o universo do estudo e foram convidados a participar da pesquisa. Utilizou-se como critério de inclusão estar em exercício da função de técnico de enfermagem. Foram excluídos aqueles profissionais que se encontravam de licença, férias ou afastamento.

Protocolo do Estudo

A coleta de dados foi realizada por acadêmicos de enfermagem previamente capacitados. O instrumento foi um questionário autoaplicável composto pelas variáveis sociodemográficas, de formação e ocupacionais. Para identificar a ocorrência de TMC, aplicou-se o Self Reporting Questionnaire (SRQ-20). Trata-se de um instrumento desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde com o objetivo de identificar possíveis casos de TMC. Originalmente, o questionário é estruturado em 30 questões, sendo 20 sobre sintomas psicossomáticos para rastreamento de transtornos não psicóticos, quatro para rastreamento de transtornos psicóticos, uma para rastreamento de convulsões do tipo tônico-clônica e cinco questões para rastreamento de transtorno por uso de álcool. Devido à baixa sensibilidade de instrumentos autorrespondidos para rastrear psicoses e convulsões, as questões relacionadas a essas condições entraram em desuso. Diante disso, tem-se o SRQ-20, que é a versão do SRQ, para o rastreio dos TMC, que contém as 20 questões com possibilidade de resposta sim ou não, validado no Brasil por Mari e Willians⁽¹⁷⁾. O escore é obtido por meio da contagem simples das respostas afirmativas e pode variar de 0 (mínima probabilidade de TMC) a 20 (máxima probabilidade de TMC). Neste estudo, foi utilizado o ponto de corte do escore ≥ 7 como possível caso^(17-18), que apresenta sensibilidade de 83% e especificidade de 80%. Destaca-se que se trata de um instrumento de rastreamento para TMC e não de diagnóstico.

Análise dos resultados e estatística

A análise dos dados foi realizada com o auxílio do programa Statistical Package for Social Sciences for Windows (SPSS, versão 20.0). Realizou-se a análise descritiva por meio de frequência absoluta e relativa. Realizou-se a análise bivariada para aferir associação entre as variáveis independentes e os TMC, por meio do teste do qui-quadrado. As variáveis independentes associadas ao TM com o nível de significância de até 20% (p≤0,20) foram inseridas na análise múltipla. Em seguida, conduziu-se a análise múltipla, sendo adotada a regressão de Poisson com variância robusta. No modelo ajustado final, foram mantidas as variáveis que apresentaram um nível de significância de até 5% (p≤0,05). Foram estimadas razões de prevalências ajustadas, com seus respectivos intervalos de 95% de confiança.

RESULTADOS

Participaram da pesquisa 280 técnicos de enfermagem, sendo a taxa de não resposta de 6,6% Os profissionais eram na maioria do sexo feminino (58,6%), casados (62,5%) e com renda familiar entre um e três salários mínimos (68,2%). A média de idade foi de 38,5 anos (±6,84) entre os participantes. No que diz respeito aos dados de formação e profissionais, pode-se verificar que a maioria dos pesquisados tinha o ensino médio completo (60,4%), não tinha outro emprego (60,4%) e trabalhava exclusivamente na área da saúde (67,1%). Os técnicos de enfermagem trabalhavam em média há 12,8 anos (Tabela 1).

Tabela 1
Características sociodemográficas dos técnicos de enfermagem de um hospital universitário, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2015 (N=280)

Variáveis	n	%
Sexo
Masculino	115	41,1
Feminino	164	58,6
Estado civil
Solteiro(a)	68	24,3
Casado(a)	175	62,5
União consensual/estável	4	1,4
Separado(a) / divorciado(a)	29	10,4
Viúvo(a)	4	1,4
Cor
Branca	112	40,0
Parda	105	37,5
Negra	60	21,4
Amarela	2	0,7
Missing	1	0,4
Religião
Católico	179	63,9
Evangélico	93	33,2
Espírita	2	0,7
Outra	1	0,4
Não tem religião	5	1,8
Renda familiar
Inferior a 1 salário mínimo	3	1,1
De 1 a 3 salários mínimos	191	68,2
De 4 a 5 salários mínimos	80	28,6
Superior a 5 salários mínimos	6	2,1
Escolaridade
Fundamental completo	1	0,4
Médio completo	169	60,4
Superior incompleto	50	17,9
Superior completo	60	21,4
Outro emprego
Sim	110	39,3
Não	169	60,4
Missing	1	0,4
Trabalho exclusivo na área da saúde
Sim	188	67,1
Não	92	32,9

Tabela 2
Análise de associação entre Transtorno Mental Comum e variáveis independentes entre técnicos de enfermagem de um hospital universitário, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2015 (N=280)

Variáveis	Presente		Ausente		Valor de p
	n	%	n	%
Sexo *
Feminino	80	60,6	84	56,8	0,538
Masculino	52	39,4	63	42,6
Idade
Até 40 anos	95	73,6	100	68,0	0,307
Mais de 40 anos	34	26,4	47	32,0
Estado civil
Sem companheiro	52	39,4	49	33,1	0,274
Com companheiro	80	60,6	99	66,9
Cor
Branca	55	42,0	57	38,5	0,555
Não branca	76	58,0	91	61,5
Religião
Tem religião	130	98,5	145	98,0	0,747
Não tem religião	2	1,5	3	2,0
Escolaridade
Mais de oito anos de estudo	131	99,2	148	100,0	0,289
Até oito anos de estudo	1	0,8	0	0
Renda familiar
A partir de quatro salários mínimos	33	25,0	53	35,8	0,050
Inferior a quatro salários mínimos	99	75,0	95	64,2
Tempo de trabalho	73	55,3	78	52,7
Até 10 anos	73	55,3	78	52,7	0,663
Mais de 10 anos	59	44,7	70	47,3
Trabalho exclusivo na área da saúde
Sim	103	78,0	85	57,4	<0,001
Não	29	22,0	63	42,6

• Nota:
• ^*
  presença de missing.

A prevalência de possíveis casos de TMC entre os técnicos de enfermagem foi de 46,9%. A Figura 1 mostra a frequência das respostas afirmativas do instrumento SRQ-20 dos profissionais pesquisados. Observou-se que 7,5% dos entrevistados apresentaram seis afirmativas positivas, 5,7% sete e 40,7% mais de sete.

Figura 1
Frequência das respostas afirmativas do instrumento SRQ-20 dos técnicos de enfermagem de um hospital universitário, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2015 (N=280)

Quanto às variáveis sociodemográficas, de formação e ocupacionais, observou-se que a ocorrência do TMC teve associação na análise bivariada com as seguintes variáveis: renda familiar (p=0,05) e trabalho exclusivo na área da saúde (p<0,001). A análise múltipla mostrou maior prevalência de TMC entre os indivíduos com renda familiar inferior a quatro salários mínimos (RP=1,41) e entre os profissionais que trabalhavam exclusivamente na área de saúde (RP=1,95).

Tabela 3
Resultado da análise múltipla da associação entre presença de Transtorno Mental Comum e variáveis investigadas entre técnicos de enfermagem, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2015

Variáveis Independentes	RP	IC95%	Valor de p
Renda Familiar
A partir de quatro salários mínimos	1
Inferior a quatro salários mínimos	1,41	1,05-1,89	0,021
Trabalho exclusivo na área da saúde
Não	1
Sim	1,95	1,39-2,73	<0,001

• Nota: RP: Razão de Prevalência; IC95%: Intervalo de Confiança de 95%.

DISCUSSÃO

Este estudo verificou a presença de TMC em aproximadamente metade dos técnicos de enfermagem atuantes em um hospital universitário em Montes Claros – MG. A relação entre o trabalho e a ocorrência de adoecimento por transtornos mentais tem sido observada em estudos nacionais^(11,19) e internacional⁽²⁰⁾. Os profissionais de enfermagem estão sob risco de desenvolver esses transtornos, pois vivenciam incessantemente condições de sofrimento, estresse e ansiedade^(11,15).

Na prática dos profissionais de saúde, há a exposição às situações estressoras, como contato direto com a doença, a dor e o sofrimento do paciente e com seus familiares, excesso de responsabilidades, relações interpessoais e de hierarquia não harmoniosas, jornadas de trabalho muito grandes, demanda de trabalho extenuante, remuneração insatisfatória, plantões noturnos, falta de materiais, entre outras^{(2,7,11,18,21-22)}.

Nesta pesquisa, observou-se que a prevalência de TMC foi superior ao encontrado em trabalhadores de enfermagem de um hospital público na Bahia⁽¹¹⁾. Na atenção primária, estudos prévios com trabalhadores da área da saúde mostraram também menores prevalências de TMC^(2,7,13). Os aspectos psicossociais desfavoráveis do trabalho aos quais o profissional está exposto tornam-no vulnerável à ocorrência de TMC, que pode implicar absenteísmo e afastamento do trabalho até por longos períodos e benefícios previdenciários^(3,13,23). Essa situação pode gerar impactos negativos para as instituições e para a sociedade. A presença de transtornos mentais pode repercutir na saúde geral do trabalhador e na qualidade da assistência prestada ao usuário por esse profissional^(23-24).

Observou-se que 7,5% dos entrevistados estão em situação de alerta para TMC, já que apresentaram seis afirmativas positivas. Tais achados chamam atenção para o percentual de profissionais que estão no limiar para o desenvolvimento de transtornos mentais. Assim, por estarem sujeitos ao estresse diário, às exigências emocionais e às ações que trazem riscos físicos e psicológicos às quais os profissionais de enfermagem estão submetidos⁽²⁴⁾, medidas protetoras da saúde mental precisam rapidamente ser implementadas⁽²⁵⁾.

A renda familiar esteve associada significativamente com a presença de TMC, com maior prevalência de TMC entre os indivíduos com renda familiar inferior a quatro salários mínimos. No país, os trabalhares da saúde de nível técnico estão submetidos a salários mais baixos, o que é uma fonte de desmotivação para alguns⁽²⁵⁾.

Essa relação também foi observada em estudo realizado com agentes comunitários de saúde atuantes em equipes da Estratégia Saúde da Família de Montes Claros – MG⁽⁶⁾. A renda é um fator que pode interferir na saúde mental dos profissionais, causando estresse e insegurança, pois, ao se ver com um baixo salário, o indivíduo priva-se de situações que exigem recursos financeiros, como o lazer, ou é obrigado a ter mais de um emprego, traduzindo em desgaste emocional, transtornos mentais e em adoecimento, na expectativa do fato de que uma renda alta proporcionaria melhores condições de vida^(21,26).

Para muitos profissionais, a opção pelo curso técnico de enfermagem foi norteada pelas condições financeiras à época. No cenário nacional, ter um curso profissionalizante ou técnico é uma das opções consideradas pelos indivíduos para ter acesso a uma vida melhor. Todavia, muitos técnicos de enfermagem têm o desejo de mudar de ocupação, para uma profissão mais bem remunerada e socialmente mais valorizada, com intuito de quase sempre melhorar as suas condições de vida^(25,27). Dessa forma, a idealização da profissão se contesta à realidade encontrada, muitas vezes, distantes do trabalho sonhado. Continuam na profissão, pois precisam trabalhar para poderem se sustentar⁽²⁷⁾, o que pode gerar sentimento de insatisfação, frustração e desmotivação

A busca por aumento de renda pelos profissionais de nível técnico pode ocorrer pela realização de atividades remuneradas exercidas paralelamente ao contrato de trabalho, tanto no próprio setor saúde como fora dele⁽²⁵⁾.

O trabalho exclusivo na área da saúde se manifestou estatisticamente relacionado à presença de TMC. A atuação no campo da saúde exige uma dinâmica de trabalho diferenciada com maior atenção, trabalho em conjunto e coordenado, contato constante e próximo com pacientes com doenças graves e com óbitos, além de uma forte demanda emocional^(7,15). A atuação do técnico de enfermagem no ambiente hospitalar depara com elevada demanda de procedimentos, maior contato com os pacientes, baixa remuneração e longos períodos em pé, que podem funcionar como agentes estressores para esse trabalhador^(21-22). Além disso, essa categoria profissional lida com a hierarquização de funções e saberes, o que pode gerar conflitos e paradoxos nas relações de trabalho. O controle do processo é limitado, pois executam as ações que outros profissionais da saúde do hospital elaboram e não participam diretamente das decisões relacionadas ao seu trabalho, o que afeta a sua autonomia dentro do processo de trabalho e interfere na construção de conhecimentos⁽²⁷⁾.

Limitações do estudo

Este estudo deve ser interpretado à luz das limitações pertinentes ao desenho transversal, ao cenário de uma unidade hospitalar, que impossibilitam a relação de causa e efeito e a generalização dos dados, respectivamente. A exclusão dos profissionais que se encontravam de licença, férias ou afastamento na coleta dos dados pode subestimar a prevalência de TMC no estudo.

Contribuições para a área de enfermagem, saúde ou política pública

O profissional de enfermagem, ator do cuidado, é essencial para prestar assistência integral aos indivíduos no ambiente hospitalar. Seu trabalho requer uma assistência de qualidade, que por sua vez depende do seu bom estado de saúde. Diante da alta prevalência de TMC em técnicos de enfermagem observada neste estudo, é necessário que os gestores de saúde desenvolvam ações que visem à proteção e à promoção de saúde mental. As políticas de saúde do trabalhador devem considerar as peculiaridades que envolvem o exercício laboral do técnico de enfermagem.

A realização da supervisão clínica regular é uma ferramenta importante ao propiciar apoio profissional no contexto da prática, a fim de reduzir situações de estresse, propiciar a satisfação e preservar a integridade emocional e mental dos trabalhadores de saúde. As organizações devem estar conscientes da necessidade de fornecer supervisão clínica regular e os trabalhadores não devem negligenciá-las⁽²⁸⁾. É fundamental estabelecer medidas de valorização do trabalho dos profissionais de nível técnico, com estabelecimento de planos de carreira e salários.

CONCLUSÃO

Neste estudo, verificou-se a alta prevalência de TMC nos técnicos de enfermagem de um hospital universitário, que se associou estatisticamente à renda familiar e ao trabalho exclusivo na área da saúde. Sugere-se a realização de outras pesquisas que investiguem outros aspectos da saúde mental do técnico de enfermagem.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Elucir Gir

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Fev 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  12 Jun 2018
• Aceito
  04 Set 2018