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Pesquisa em enfermagem e a modificação da árvore do conhecimento no CNPq: contribuição à ciência

RESUMO

Objetivo:

identificar demandas de financiamento das subáreas de conhecimento do CNPq, dados sobre pesquisadores, grupos de pesquisa, sua distribuição nas regiões do Brasil e sua aproximação com prioridades de pesquisa em saúde do Ministério da Saúde e do novo arcabouço da árvore de conhecimento da área.

Método:

estudo descritivo desenvolvido com dados entre 2009 e 2014, sobre pesquisadores, financiamento e áreas de pesquisa, fornecidos pela Diretoria de Ciências Agrárias Biológicas e Saúde.

Resultados:

há concentração de pesquisadores e grupos de pesquisa no Sudeste. As áreas da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde mais contempladas foram: Doenças Não Transmissíveis, Saúde da Criança e do Adolescente, Saúde da Mulher e Doenças Transmissíveis. As concessões realizadas puderam ser classificadas na atual árvore do conhecimento.

Considerações finais:

A análise permite a visualização das demandas das subáreas e pertinência da modificação da nomenclatura da árvore do conhecimento, refletindo a produção gerada pela área.

Descritores:
Enfermagem; Conhecimento; Pesquisa em Enfermagem; Ciência; Educação de Pós-Graduação em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to identify funding demands in the light of CNPq’s knowledge subareas, as well as data on researchers and research groups, their distribution in the regions and their approximation with health research priorities of the Ministry of Health and the new knowledge tree framework of the area.

Method:

a descriptive study developed with data from 2009 to 2014 about researchers, funding and research areas provided by the Diretoria de Ciências Agrárias Biológicas e Saúde (Department of Agriculture, Biology and Health Sciences).

Results:

there is a concentration of researchers and research groups in the Southeast region. The research priorities in the health field most frequently addressed were: Noncommunicable Diseases, Child and Adolescent Health, Women’s Health and Communicable diseases. The grants could be classified in the current framework of knowledge areas.

Final considerations:

this analysis enabled visualizing subarea demands and relevance of changing the nomenclature of the classification of knowledge framework in order to represent the scientific production generated in the nursing area.

Descriptors:
Knowledge; Nursing; Science; Graduate Nursing Program; Research

RESUMEN

Objetivo:

identificar demandas de financiamiento de las subáreas de conocimiento del CNPq, datos sobre investigadores, grupos de investigación, su distribución en las regiones de Brasil y su aproximación con prioridades de investigación en salud del Ministerio de Salud y de la nueva estrutura del árbol de conocimiento del área.

Método:

estudio descriptivo desarrollado con datos entre 2009 a 2014 sobre investigadores, financiamiento y áreas de investigación suministrados por la Diretoria de Ciências Agrárias Biológicas e Saúde (Dirección de Ciencias Agrarias Biológicas y Salud).

Resultados:

hay concentración de investigadores y grupos de investigación en la región Sudeste. Las áreas de la agenda de prioridades de investigación en salud más contempladas fueron: Enfermedades no Transmisibles, Salud del Niño y del Adolescente, Salud de la Mujer y Enfermedades Transmisibles. Las concesiones realizadas pudieron ser clasificadas en el actual árbol del conocimiento.

Consideraciones finales:

el análisis permite la visualización de las demandas de las subáreas y la pertinencia de la modificación de la nomenclatura del árbol del conocimiento, reflejando la producción generada por el área de enfermería.

Descriptores:
Enfermería; Conhecimiento; Investigación en Enfermería; Ciencia; Educación de Posgrado en Enfermería

INTRODUÇÃO

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é uma Agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destinada ao fomento de pesquisa científica e tecnológica. Foi fundado em 1951, e as primeiras medidas de apoio à Enfermagem datam da década de 1970. O código de subárea de Enfermagem e suas especialidades foram criados, em 1980 e, em 1986, foi formado o grupo de consultores Ad hoc. Em 1995, a Enfermagem passou a integrar o Comitê Multidisciplinar da Saúde (CA-MS), culminando, em 2006, com a criação do Comitê da Área de Enfermagem (CA-EF)(11 Erdmann AL, Mendes IAC, Leite JL. A enfermagem como área de conhecimento no CNPq: resgate histórico da representação de área. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2007;11(1):118-26. doi: 10.1590/S1414-81452007000100017
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). Esta evolução evidencia o desenvolvimento científico, a liderança da área no CNPq, bem como o compromisso dos pesquisadores brasileiros na solução de problemas relevantes que pudessem proporcionar impacto à saúde da população brasileira.

A agência de fomento concede bolsas e auxílios que atendam a demanda que contribui para o desenvolvimento humano, científico e tecnológico do país. O impacto do que é produzido por uma disciplina deve ser refletido pelas respostas às melhorias da qualidade de vida, inovações tecnológicas e retorno econômico expressivo(11 Erdmann AL, Mendes IAC, Leite JL. A enfermagem como área de conhecimento no CNPq: resgate histórico da representação de área. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2007;11(1):118-26. doi: 10.1590/S1414-81452007000100017
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). Assim, a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTI/S) foi estabelecida pelo Ministério da Saúde (MS), tendo como proposta a melhoria da saúde da população. A área-alvo de investimento segue acompanhada de uma agenda de prioridades que enfoca problemas de difícil resolução, objetivando o desenvolvimento científico e tecnológico(22 Ministério da Saúde (BR). Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.).

Os membros do CA-EF, comprometidos com a política do CNPq e conscientes da necessidade de produzirem conhecimento específico da Enfermagem e socialmente relevante, levam em consideração o direito à vida, à defesa do direito universal à saúde e à prestação de cuidados seguros e de qualidade(33 Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.spe):39-44. doi: 10.1590/S0034-71672013000700005
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). Ainda, entendem a importância em formar pesquisadores que vislumbrem o desenvolvimento econômico, social, político e tecnológico do país, gerenciando recursos financeiros que devam, prioritariamente, subsidiar pesquisas que objetivem solucionar temas de saúde relevantes(44 Leite JL, Mendes IAC. Pesquisa em enfermagem e seu espaço no CNPq. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2000;4(3):389-94.).

Nesse contexto, ressalta-se a participação da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), em 2003, que, durante o 55º Congresso Brasileiro de Enfermagem (CBEn), demonstrou preocupação quanto à construção coletiva da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Enfermagem, com a seleção de temas e problemas de pesquisa fundamentados na relação entre as iniciativas das universidades e as demandas sociais(55 Ministério da Saúde (BR). Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. 2. ed., 3. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.).

Os membros do CA-EF reconhecem a importância da divulgação das concessões de financiamentos oferecidas à área da Enfermagem, pois as mesmas podem apoiar as lideranças, ABEn, CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o próprio CNPq, na tomada de decisões relacionadas ao desenvolvimento de novas pesquisas ou mesmo na conquista de novos espaços de atuação do enfermeiro, subsidiando os membros do CA-EF em espaços de negociações importantes para a área. Este espaço tem sido requerido por pesquisadores da área de Enfermagem, coordenadores de Programas de Poós-Graduação e pelas representações da área na CAPES, no CNPq e na ABEn, em discussões e reflexões do que a Enfermagem pesquisa e o que deve pesquisar(33 Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.spe):39-44. doi: 10.1590/S0034-71672013000700005
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).

Cabe mencionar a reunião, em 2014, a convite da presidente da ABEn, Angela Maria Alvarez, aos membros do CA-EF-CNPq com lideranças e pesquisadores da área da Enfermagem: Regina Aparecida Garcia de Lima, Isabel Amélia Costa Mendes, Silvana Martins Mishima e Carmen Gracinda Silvan Scochi, na qual discutiu-se a identidade da Enfermagem como disciplina científica e como profissão. Após exposição da situação atual da Enfermagem brasileira, foi solicitado às lideranças do CNPq e da CAPES a apresentação, durante o 66º CBEn, das temáticas pesquisadas pelos pesquisadores da área de Enfermagem no CNPq e dos Programas de Pós-Graduação. Este resultado respaldaria futuras negociações e conquistas junto ao MS, uma vez que tais lideranças observavam perda significativa de espaços em programas deste ministério. Foi proposto, ainda, maior integração entre as lideranças para que parcerias fossem efetivamente estabelecidas, contribuindo com o avanço da Enfermagem brasileira.

A proposta do CA-EF foi a de apresentar, neste evento, fomentos do CNPq recebidos pela área de Enfermagem à luz da Agenda de Prioridades em Pesquisa em Saúde, do MS(55 Ministério da Saúde (BR). Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. 2. ed., 3. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.), as subáreas propostas pelos pesquisadores e coordenadores de pós-graduação(66 Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn). Strategic planning for research and postgraduate programs in Brazilian nursing. Rev Bras Enferm. 2003;56(6):599-600. doi: 10.1590/S0034-71672003000600001
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) e as linhas de pesquisa em Enfermagem(77 Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn). Consolidação das propostas de linhas de pesquisa em Enfermagem. In.: Anais do 11º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem, 2001 May 27-30. Belém: ABEn; 2001.). Desta maneira, julgou-se que seria possível dar maior visibilidade à produção da área, permitindo futuras conquistas políticas junto ao CNPq, tais como aumento de fomentos, aumento do número de bolsistas por modalidades e a modificação da árvore do conhecimento da área de Enfermagem, anseio dos pesquisadores brasileiros(33 Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.spe):39-44. doi: 10.1590/S0034-71672013000700005
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,88 Oliveira DC, Ramos, FRS, Barros ALBL, Nóbrega MML. Classificação das áreas de conhecimento do CNPq e do campo da Enfermagem: possibilidades e limites. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.esp):60-5. doi: 10.1590/S0034-71672013000700008
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).

A classificação da ciência e da tecnologia é uma ferramenta-chave para a sua organização(99 Mendes AMOC. Classificação das ciências, visibilidade dos diferentes domínios científicos e impacto no desenvolvimento científico. Rev Enf Ref. 2016;IV(10):143-9. doi: 10.12707/RIV16049
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). Esses autores apoiados nas recomendações do European Science Foundation(1010 European Science Foundation. Health research classification systems: Current approaches and future recommendations [Internet]. Strasbourg: European Science Foundation; 2011 [cited 2018 Sep 05]. Available from: http://archives.esf.org/fileadmin/Public_documents/Publications/spb43_Health_Research_Classification.pdf
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), afirmam que as classificações das ciências permitem o desenvolvimento e o monitoramento de estratégias, organizando os processos dos pares de revisores, produzindo portfólios estatísticos e fortalecendo mecanismos para a análise de projetos de pesquisa e programas, excelentes ferramentas de controle permitindo a produção cientifica dentro de cada área, analisando as relações entre investimentos e resultados, dando visibilidade às mesmas.

Para que as ciências emergentes, como a Enfermagem, possam cumprir o seu papel social, é necessário que estruturas de organização nacionais e internacionais apoiem e fomentem o seu desenvolvimento(99 Mendes AMOC. Classificação das ciências, visibilidade dos diferentes domínios científicos e impacto no desenvolvimento científico. Rev Enf Ref. 2016;IV(10):143-9. doi: 10.12707/RIV16049
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).

Pretende-se, com este estudo, apresentar a análise realizada das atividades da área da Enfermagem, apoiadas pelo CNPq, buscando aproximação com a área de conhecimento da Enfermagem em vigência atualmente no Brasil.

OBJETIVO

Identificar as demandas de financiamento à luz das subáreas de conhecimento do CNPq, bem como dados sobre pesquisadores e grupos de pesquisa, sua distribuição nas regiões e sua aproximação com as prioridades de pesquisa em saúde do Ministério da Saúde e do novo arcabouço da árvore de conhecimento da área.

MÉTODO

Os dados foram fornecidos pela assessoria da Diretoria de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde (DABS) do CNPq, e classificados, segundo a Árvore do Conhecimento da Enfermagem atual e a Agenda Nacional de Prioridade em Pesquisa em Saúde do MS. As informações contidas foram relativas aos pesquisadores, segundo o número de instituições e região do país, nível de pesquisadores por região do país e distribuição dos pesquisadores por subárea do conhecimento. A distribuição dessas informações se deu no período compreendido entre 2009 e 2014, sendo analisados por duas doutorandas supervisionadas por uma das autoras do estudo. Estes dados foram tabulados em planilhas eletrônicas do Microsoft Office Excel e apresentados durante o 66º CBEn, sendo aqui sintetizados. As informações coletadas e utilizadas, do banco de dados do CNPq, seguiram a confidencialidade e o anonimato.

RESULTADOS

Compilação da análise dos dados do CNPq

A Tabela 2 permite verificar que, dentre as 24 áreas de prioridades em pesquisa, a Enfermagem desenvolveu estudos relacionados a 11 delas, sendo que as mais contempladas foram: Doenças Não Transmissíveis (19), Saúde da Criança e do Adolescente (18), Saúde da Mulher e Doenças Transmissíveis (15 cada uma). As subáreas da nova configuração da área de conhecimento mais demandadas foram: Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso, Enfermagem na Saúde da Mulher (14 cada uma) e Enfermagem Fundamental (11).

Tabela 1
Pesquisadores CNPq e suas características, segundo a região demográfica do país, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2014
Tabela 2
Concessões de financiamento do CNPq, segundo as prioridades de pesquisa em saúde, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2013/2014

O CNPq faz concessões para a realização de eventos nacionais e internacionais, sendo que os mesmos obedeceram a Chamada 2, cronogramas 1 e 2, em 2013 e a Chamada 6, em 2014. Mais da metade das 13 concessões (57%) foi destinada a não pesquisadores do CNPq, e dez (43%) a pesquisadores do CNPq. Esses eventos podem ser gerais da categoria ou mesmo de especialidades.

Na Tabela 3, verifica-se que a maioria das concessões pôde ser classificada na proposta. As subáreas da nova configuração da área de conhecimento mais demandadas foram: Enfermagem em Saúde Coletiva 43, Enfermagem Fundamental 27, Enfermagem na Saúde da Mulher 25, e Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso 23.

Tabela 3
Concessões de financiamento do CNPq, segundo a nova proposta da área de conhecimento da Enfermagem, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2013/2014*

DISCUSSÃO

Os dados apresentados evidenciam que o maior contingente de pesquisadores está alocado na região Sudeste e Sul dos países, áreas reconhecidamente de maior desenvolvimento nacional. Entretanto, cabe destacar a participação da região Nordeste na formação de pesquisadores, bem como a progressão do nível desses pesquisadores. O impacto da formação de pesquisadores no país pode ser observado na Figura 1, a qual se pode observar que a ascensão das subáreas dos pesquisadores é relevante quando comparada aos anos de 2009 e 2014.

Possivelmente, a nova classificação abarca as necessidades pesquisadas por diferentes pesquisadores e regiões do país.

Figura 1
Caracterização da demanda dos pesquisadores por subárea da Árvore de Conhecimento de Enfermagem, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2009 a 2014

Os sistemas de classificação permitem, entre outras coisas, evidenciar a produtividade científica de cada área e analisar a relação entre o investimento realizado e seus resultados(99 Mendes AMOC. Classificação das ciências, visibilidade dos diferentes domínios científicos e impacto no desenvolvimento científico. Rev Enf Ref. 2016;IV(10):143-9. doi: 10.12707/RIV16049
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). Logo, sua mudança impacta em diferentes segmentos dentro do próprio CNPq e da CAPES, uma vez que mudanças na linguagem computacional geram implicações administrativas de grande magnitude. A modificação da árvore do conhecimento é solicitação antiga de vários comitês de assessoramento, inclusive o da Enfermagem, como destacado anteriormente(33 Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.spe):39-44. doi: 10.1590/S0034-71672013000700005
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,88 Oliveira DC, Ramos, FRS, Barros ALBL, Nóbrega MML. Classificação das áreas de conhecimento do CNPq e do campo da Enfermagem: possibilidades e limites. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.esp):60-5. doi: 10.1590/S0034-71672013000700008
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).

A área de Enfermagem, vigente no CNPq, é constituída por sete subáreas, sendo três circunscritas por grupo populacional e sujeitos do cuidado (Enfermagem na Saúde do Adulto e Idoso, Enfermagem na Saúde da Mulher, Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente) e quatro outras definidas por campo de especialidade (Enfermagem em Saúde Mental, Enfermagem em Saúde Coletiva, Enfermagem Fundamental, Enfermagem na Gestão e Gerenciamento e Enfermagem em Doenças Emergentes, Reemergentes e Negligenciadas).

Destaca-se que a mudança da árvore não foi somente de nomenclatura, mas de paradigma, evidenciando a superação do modelo biomédico, denominado “modelo flexneriano de ensino médico”(1111 Almeida Filho N. Reconhecer Flexner: inquérito sobre produção de mitos na educação médica no Brasil contemporâneo. Cad Saúde Pública. 2010;26(12):2234-49. doi: 10.1590/S0102-311X2010001200003
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), adotando-se uma classificação voltada para a pessoa (grupos humanos), especialidades mais abrangentes afinadas às políticas de saúde (Saúde Coletiva, Saúde Mental)(1212 Oliveira DC. Prioridades de pesquisa em saúde e em enfermagem. In: Anais do 17º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem, 2013 June 03-05. Natal: ABEn; 2013.-1313 Oliveira VE. Public Health and Public Policies: similar but different fields. Saúde Soc. 2016;25(4):880-94. doi: 10.1590/S0104-12902016172321
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) para interesses globais (Doenças Emergentes, Reemergentes e Negligenciadas)(1414 Paz FA, Bercini MA. Doenças emergerntes e remergentes no contexto da Saúde Pública. Bol Saúde. [Internet] 2009 [cited 2018 Sep 10];23(1):9-13. Available from: http://www.boletimdasaude.rs.gov.br/download/2014101308310301_doencas.pdf
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15 Ministério da Saúde (BR). Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Indicadores e Dados Básicos - Brasil - 2008 (IDB-2008): doenças emergentes e reemergentes [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, OPAS; 2008 [cited 2018 Sep 10]. Available from: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2008/matriz.htm
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2008...
-1616 Ministério da Saúde (BR). Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Relatório da OMS informa progressos sem precedentes contra doenças tropicais negligenciadas [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, OPAS; 2017 [cited 2018 Sep 10]. Available from: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5401:relatorio-da-oms-informa-progressos-sem-precedentes-contra-doencas-tropicais-negligenciadas&Itemid=812
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), adotando-se, para as áreas tradicionais da Enfermagem, uma linguagem atualizada (Gestão e Gerenciamento)(1717 Silva DIS. Desafios contemporâneos para a gestão em saúde: reflexões sobre as contribuições da enfermagem. Rev Elet Gest Saúde. [Internet] 2016 [cited 2018 Aug 05];7(1):441-53. Available from: http://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3466/3152
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) e, finalmente, para a área que alicerça o conhecimento da disciplina, Enfermagem Fundamental, conferindo identidade à produção contemporânea da área(1818 Fawcett J, DeSanto-Madeya S. Contemporary Nursing Knowledge: Analysis and Evaluation of Nursing Models and Theories. 3rd Edition. Philadelphia: F.A. Davis Company; 2013.).

Entretanto, os estudos antes realizados evidenciam inúmeras subáreas do conhecimento propostas pelos diferentes comitês de assessoramento, as quais, pela sua amplitude, tornavam inviável a possibilidade de quaisquer mudanças.

A partir da compilação dos dados, observa-se que os pesquisadores têm recebido apoio do CNPq e têm atendido à Agenda de Prioridades em Pesquisa em Enfermagem, na maioria das vezes(1212 Oliveira DC. Prioridades de pesquisa em saúde e em enfermagem. In: Anais do 17º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem, 2013 June 03-05. Natal: ABEn; 2013.). A recomendação de aplicação pelo CNPq, CAPES e MS, da nova árvore de conhecimento da área de Enfermagem sugerida pelos pesquisadores e coordenadores de Programa de Pós-Graduação, deve-se ao fato de a antiga não refletir mais o conhecimento gerado pela disciplina. Não obstante, compete às lideranças da Enfermagem empreender gestões políticas junto às diretorias desses órgãos para a mudança desta linguagem, favorecendo a visibilidade e reforçando a relevância social da Enfermagem nos âmbitos da formação de recursos humanos nos seus diferentes níveis, impactando no aumento de verbas para a pesquisa, bem como do número de pesquisadores.

Logo, as negociações realizadas pelo CA-EF, gestão 2014, foram impulsionadas, e em reuniões com o DABS, foram apresentados os resultados das discussões ocorridas no CBEn e do Fórum de Pesquisadores Nacionais, manifestando a necessidade da modificação da árvore de conhecimento da subárea da Enfermagem no CNPq. Na ocasião, foi solicitado o reencaminhamento do estudo apresentado no CEPEn (Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem) de 2014, do artigo resultante da proposta da nova árvore do conhecimento(88 Oliveira DC, Ramos, FRS, Barros ALBL, Nóbrega MML. Classificação das áreas de conhecimento do CNPq e do campo da Enfermagem: possibilidades e limites. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.esp):60-5. doi: 10.1590/S0034-71672013000700008
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) e ofícios de apoio da ABEn e da Coordenadoria da área de Enfermagem da CAPES.

As negociações, entre 2014 e 2015, culminaram na nota técnica da pauta de reunião da diretoria ocorrida em outubro de 2015, cujo tema foi: “Proposta de revisão das subáreas do comitê de Assessoramento de Enfermagem (CA-EF), na árvore do conhecimento da Enfermagem disponível na Plataforma Carlos Chagas”.

As primeiras subáreas foram objeto de ampla discussão pela comunidade científica de Enfermagem e apresentadas em congresso e fórum da área. Desse modo, para essas, houve apenas atualização da nomenclatura. Quanto à subárea Enfermagem em Doenças Contagiosas, existente na árvore antiga, foi acordado sua manutenção com o CA-EF, por ocasião do julgamento das bolsas Pq 2015, visando à permanência das seis subáreas e ao acréscimo de duas. Desse modo, a atualização se deu apenas na denominação pautada pelo MS, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em Enfermagem em Doenças Emergentes, Reemergentes e Negligenciadas. Outras duas novas subáreas foram propostas: Enfermagem Fundamental e Enfermagem na Gestão e Gerenciamento, fruto da constatação de existência de linhas de pesquisa, projetos e produção científica nestas subáreas, as quais não encontravam correspondência no Formulário de Propostas.

Quadro 1
Comparação entre as Árvores de Conhecimento da Enfermagem – antiga e vigente, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2017

O Parecer favorável à revisão das áreas aconteceu em 2015. Sua divulgação pelo CA-EF ocorreu no Fórum de Pesquisadores e Coordenadores de Programas de Pós-Graduação, durante o 67º CBEn, na cidade de São Paulo. Como argumento para aprovação, o Parecer técnico considerou: 1. A demanda trata da reivindicação antiga da comunidade científica que remonta ao início dos anos 2000, concertada após amplo debate entre as principais representações da área (ABEn e Coordenação da Área de Enfermagem na CAPES); 2. A proposta permite melhor visualização da produção do conhecimento na área em Pesquisa em Saúde do MS.

Tal antiga reivindicação foi concretizada por meio da união entre pesquisadores e lideranças do CNPq, CAPES e ABEn, comprometidos com a solução de problemas relevantes da saúde brasileira. Esta conquista e a classificação da área de Enfermagem são destacadas por pesquisadores de outros países que salientam o importante desenvolvimento científico a partir de tal classificação(99 Mendes AMOC. Classificação das ciências, visibilidade dos diferentes domínios científicos e impacto no desenvolvimento científico. Rev Enf Ref. 2016;IV(10):143-9. doi: 10.12707/RIV16049
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), permitindo, ainda, a visibilidade das linhas de pesquisa, projetos e a produção científica da área de conhecimento, possibilitando a análise do valor histórico, político e social da profissão.

Por fim, realinha a correspondência do registro das propostas demandadas pelos pesquisadores em diferentes agências de financiamento, tais como CAPES, Fundações de Apoio à Pesquisa dos Estados (FAPs) e MS, pois a Plataforma Carlos Chagas é a referência para as demais agências financiadores em pesquisa. Por conseguinte, cabe às lideranças destes órgãos realizar a mudança requerida para que esta identidade se fortaleça. Também cabe aos pesquisadores estabelecerem uma agenda compartilhada junto às prioridades em pesquisa, reforçando a sua execução em rede e consolidando a atual área do conhecimento da Enfermagem(99 Mendes AMOC. Classificação das ciências, visibilidade dos diferentes domínios científicos e impacto no desenvolvimento científico. Rev Enf Ref. 2016;IV(10):143-9. doi: 10.12707/RIV16049
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).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As mudanças na ciência, ocorridas nas últimas três décadas, tiveram impacto no desenvolvimento do conhecimento na área de Enfermagem que, por sua vez, acompanhou as tendências mundiais, refletindo os avanços necessários relacionados às ações de cuidado, de ensino e, consequente, às demandas de pesquisa na área de Enfermagem.

Houve uma maior concentração de pesquisadores na região Sudeste, segundo suas características: número de instituições, região do país, nível dos pesquisadores e grupos de pesquisa, seguida pela região Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. As áreas da Agenda de Prioridades de Pesquisa em Saúde mais contempladas, nesta análise, de acordo com a Chamada Universal e Bolsas Especiais foram: Doenças Não Transmissíveis, Saúde da Criança e do Adolescente, Saúde da Mulher e Doenças Transmissíveis.

Nessas chamadas, as concessões realizadas puderam ser classificadas na proposta atual da árvore do conhecimento, visibilizando a produção gerada da área de Enfermagem.

REFERENCES

  • 1
    Erdmann AL, Mendes IAC, Leite JL. A enfermagem como área de conhecimento no CNPq: resgate histórico da representação de área. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2007;11(1):118-26. doi: 10.1590/S1414-81452007000100017
    » https://doi.org/10.1590/S1414-81452007000100017
  • 2
    Ministério da Saúde (BR). Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
  • 3
    Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013;66(no.spe):39-44. doi: 10.1590/S0034-71672013000700005
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  • 4
    Leite JL, Mendes IAC. Pesquisa em enfermagem e seu espaço no CNPq. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2000;4(3):389-94.
  • 5
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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Aparecida Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Marcos Brandão

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2018
  • Aceito
    18 Set 2018
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