Pensamento crítico na formação do enfermeiro: a avaliação na área de competência Educação na Saúde

Chirelli, Mara Quaglio; Sordi, Mara Regina Lemes de

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Revista Brasileira de Enfermagem

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. Bras. Enferm. 74 (suppl 5) • 2021 • https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0979 copiar

Pensamento crítico na formação do enfermeiro: a avaliação na área de competência Educação na Saúde

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivo:

Analisar a constituição do pensamento crítico na formação do enfermeiro ancorada na abordagem por competência e no currículo integrado, considerando o processo de avaliação, captando seus desafios e propondo estratégias de superação.

Métodos:

Qualitativo. Na primeira fase da coleta de dados, entrevista com 24 professores, 9 preceptores e 15 estudantes para reconstrução do perfil de competência; e, na segunda fase, oficina de trabalho para validação do perfil, identificação de desafios e propostas. Utilizou-se o Discurso do Sujeito Coletivo na análise das entrevistas e o referencial de competência holística na reconstrução do perfil.

Resultados:

Constróise o pensamento crítico com base nas experiências no mundo do trabalho, sendo a avaliação o eixo condutor das reflexões para a emancipação.

Considerações finais:

Sinaliza-se a importância da formação dos professores sobre a avaliação da aprendizagem e trabalho com a construção coletiva dos sujeitos para a superação dos desafios nas mudanças da formação.

Descritores:
Pensamento; Avaliação de Desempenho Profissional; Enfermeiros; Competência Profissional; Educação Baseada em Competências

Ações-chave	Desempenho
Identifica e processa as necessidades de aprendizagem	Vivencia a realidade da prática profissional em cenários reais e simulados promovendo aprendizagem em sucessivas aproximações, por meio da narrativa reflexiva e situações-problema sobre o trabalho em saúde e educação; analisa o contexto sociocultural individual, do serviço, da instituição, rede ou projeto em que está envolvido; apresenta postura ética e aberta aos diferentes pontos de vista, comprometendo-se e corresponsabilizando-se com o desenvolvimento das atividades em grupo e percebendo o impacto/mobilização que as situações provocam em si mesmo. Utiliza a troca de saberes e de experiências para ampliar a leitura da realidade e promover a construção de conhecimentos e novos significados. Mostra interesse, disponibilidade e abertura para a identificação e compreensão das lacunas de conhecimentos, dos seus desafios ligados aos aspectos emocionais e/ou de suas relações, com base na análise das vivências nos cenários reais e simulados, reconhecendo estes para a produção de novos saberes e práticas. Identifica e enuncia os problemas por meio de sua representação do vivenciado nos cenários de prática e das situações-problema elaboradas, considerando sua leitura do contexto e da identificação dos dados diante da situação, mobilizando sua linha de base de capacidades constituídas ao longo da vida pessoal e acadêmica. Elabora hipóteses/pressupostos e constrói rede explicativa dos problemas pautando-se na sua forma racional de compreender o mundo, identificando as lacunas de aprendizagem a partir do reconhecimento do que sabe e do que é necessidade de aprendizagem para a intervenção na situação-problema. Elabora questionamentos para superação das necessidades de aprendizagem com vistas a avançar no seu desempenho. Acessa as bases de dados com a produção do conhecimento cientificamente sistematizado e outras formas de produção de conhecimento. Analisa criticamente a qualidade das fontes, as informações produzidas cientificamente e elabora síntese individual reflexiva que sustente a lacuna de conhecimento para a compreensão e explicação dos problemas captados. Socializa a sua compreensão, análise e dúvidas sobre os conhecimentos sistematizados e a forma de acessar as bases de dados; dialoga com os conhecimentos dos demais participantes da atividade, comunicando-se de forma clara; apresenta seus argumentos na perspectiva da compreensão e resolução dos problemas identificados; capta as diversas explicações e possibilidades de intervenções, relacionando com as hipóteses formuladas anteriormente, reiterando-as ou modificando-as. Retoma os problemas para identificação de ações/estratégias de superação destes no exercício da prática profissional ou da situação-problema, considerando o contexto, a cultura local, a ética profissional e das relações, além das suas capacidades e desafios para lidar com as situações. Elabora síntese da construção do conhecimento revelando a sua compreensão da construção do conhecimento e ações propostas.
Desenvolve e avalia ações educacionais	Participa de ações educacionais pautadas nas necessidades de aprendizagens identificadas, possibilitando uma educação significativa e a transformação da realidade. Favorece o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender com as pessoas, equipe e comunidade, apoiada nas necessidades de aprendizagem, valorizando os saberes prévios, incentivando a curiosidade, a autonomia intelectual dos envolvidos na produção do cuidado e educação na saúde, por meio da interação e cooperação em grupo, ouvindo e respeitando as diferentes ideias, promovendo a inter/transdisciplinaridade. Colabora na criação, propagação e compartilhamento de saberes. Participa da educação pelo exemplo, mostrando persistência, paciência e respeito aos diferentes tempos de aprendizagem das pessoas, das equipes e comunidade, para o desenvolvimento de capacidades. Realiza e recebe críticas de modo ético e respeitoso. Apoia a produção de novas capacidades requeridas ao perfil profissional, identifica oportunidades de aprendizagem no processo de trabalho e nos espaços de educação permanente, considerando-as como dispositivo formal para promover a construção, a socialização e a atualização de conhecimentos voltados à gestão e à transformação das práticas de saúde, segundo as melhores evidências disponíveis. Utiliza acertos e erros como insumo de aprendizagem profissional e institucional. Monitora e avalia processos, produtos e resultados relacionados às ações educacionais realizadas, por meio da avaliação dos pares, do professor e de autoavaliação. Reconhece e analisa suas conquistas, as potencialidades e os desafios, promovendo meta-análise, metacognição e meta-avaliação, propondo plano de acompanhamento dos desempenhos a serem (re)construídos.
Realiza produção e disseminação de conhecimento	Identifica a necessidade de novos conhecimentos com base na realidade e nos desafios do trabalho em saúde e educação. Promove a utilização de recursos adequados para a produção e o registro de novos conhecimentos a partir da prática. Desenvolve e/ou participa da produção científica na sua área de atuação, por meio de pesquisas orientadas por princípios ético-científicos e voltadas para a geração e disseminação de conhecimentos relevantes à produção da saúde e educação, direcionadas às pessoas e à qualidade de vida da sociedade. Participa de eventos internos e externos como forma de aprimoramento, desenvolvimento dos profissionais, e compartilhamento de informações. Participa da elaboração e/ou divulgação de diretrizes referentes ao cuidado e à organização de protocolos, de materiais educacionais, promovendo uma cultura voltada para a excelência.

Ideia central

Discurso do Sujeito Coletivo

Desenvolvimento de capacidades transversais na construção do pensamento critico, com enfoque na avaliação

[...] Uma última capacidade que eu acho que é importante e também transversaliza todo o movimento de ensino-aprendizagem, que a espiral construtivista vem dando conta de ser um método que favorece a formação no currículo orientado por competência na abordagem dialógica, é a avaliação. Além de avaliar os pares, o processo vivido e o professor, tem um aspecto que é a autoavaliação. Então, a capacidade crítica de quanto ele consegue captar do que já tem de conquista, de potência e que desafios ainda tem para serem desenvolvidos, para num futuro a gente conseguir fazer uma meta-análise, uma metacognição, uma meta-avaliação dele próprio. Assim, em todos os momentos que a gente faz alguma atividade, eles esperam um feedback. Essa avaliação de como foi o processo, como que as pessoas interagiram [...]. Isso é muito forte na graduação, porque é a partir disso que eles conseguem também se enxergarem dentro de um contexto. A proposição é que a gente consiga fazer essa avaliação diária nos encontros, enquanto o trabalho em grupo e de uma forma específica daqueles que você se aproxima mais naquele dia e consegue fazer uma comparação de processo. Mas não é uma questão tranquila, embora fazendo comparação com o tradicional, a gente tem possibilidades muito maiores de compreender, de se aproximar desse estudante, de se aproximar de um conhecimento prévio e depois ver o processo de construção de conhecimento tanto no que diz respeito à questão cognitiva, mas em termos de atitude, principalmente, porque a gente se aproxima desse estudante no encontro em grupo ou acompanhando as visitas. [...] Então, pode ter muitas vertentes, mas acho que o principal de todos é do estudante poder fazer autocrítica, de ele poder enxergar onde que ele poderia ter um desempenho diferente. Eu acho que ele olha o conjunto, mas olha muito mais para ele mesmo, o quanto que ele pôde avançar, [...]. Eles podem colocar o serviço em cheque, eles têm muita habilidade de se colocar para não parecer uma coisa antiética, uma questão que, de repente, possa ferir as pessoas que estão lá. Eu acho que, nesse sentido, a avaliação ajuda esse processo de formação do pensamento crítico .

Ideia central

Discurso do Sujeito Coletivo

Construção da crítica por meio do processo de avaliação

Sempre no final do dia, a gente realiza avaliação, deixando disponível para que eles exponham o que tem de mudança naquele dia, não só na elaboração do ciclo na faculdade, mas na prática. A gente deixa isso bem claro, que não tem punição nenhuma nas opiniões. [...] E o receio de expor, ele não existe mais, porque desde o início ele aprende que o importante é expor a sua opinião independente se é favorável ou não naquele momento, mas sempre deixando clara a maneira de expor desde o começo [...]. Porém, desde o início, alguns alunos, quando eles vêm de outras escolas, cada um vem de um lugar diferente, podem realizar de maneira ofensiva a crítica, e isso a gente também começa a trabalhar com eles desde o início, que existem maneiras da gente expor, mas sem ofender ou sem magoar o próximo que está junto [...].

Ideia central

Discurso do Sujeito Coletivo

Processo de avaliação como parte do processo de formação

A todo o momento, no final de toda atividade, a gente precisa necessariamente fazer uma avaliação em grupo, é parte da metodologia. Nós avaliamos o grupo, nos autoavaliamos e avaliamos o facilitador, o tutor, o psicólogo responsável. Acho que não é que é difícil, é bem complexo, e a gente consegue perceber que é preciso estar sempre em autoavaliação, autocrítica e sempre respeitando. A gente pode expor uma insegurança ou expor uma coisa que não agradou, fazer uma crítica construtiva, expor um ponto positivo do grupo e a gente sente bem essa horizontalidade entre todo mundo. [...] Então, está em constante avaliação, e isso passa uma segurança de certa forma, por que, como é um método ativo, que muitas pessoas podem sentir insegurança [...] Mas, essa questão da avaliação de estar sempre tentando junto com todo mundo, que também faz parte do seu processo de construção de conhecimento, avaliar e trazer o que você sente, eu acho que isso tudo traz a segurança do método que, por muitas vezes, pode ser visto como algo meio fluido e inseguro [...].

Desafios	Causas	Propostas de superação
Dificuldade para realizar o processo de avaliação proposto no Projeto Político Pedagógico	- Alguns professores deixam para apresentar as lacunas de aprendizagem dos estudantes somente nos períodos de registro dos formatos na UPP e tutoria, gerando incompreensão e não aceitação do estudante diante da situação, inclusive quanto à crítica realizada pelo docente, tendo pouco diálogo. - As avaliações ainda estão centradas mais no resultado do que no processo. - O estudante teve dificuldade de receber a crítica do professor e não conseguiu dialogar com este sobre as causas do problema destacado.	Retomar a discussão sobre a avaliação durante as atividades de Educação Permanente (EP); constituir espaço para debater e compreender a proposta de avaliação com os estudantes, devendo isso fazer parte das atividades pedagógicas; realizar formação do docente/preceptor e estudante sobre as capacidades de se fazer e receber críticas, por meio de oficina de trabalho, considerando abordagens éticas, dialógicas, respeitosas e empáticas; construir estratégias desde o 1º ano sobre como avaliar e ser avaliado; como construir mudanças de "comportamento"/atitude; compor no contrato grupal a avaliação, para possibilitar que esta ocorra de forma construtiva, justa, democrática e humana, com foco no processo e produto.

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[1] Autor Correspondente: Mara Quaglio Chirelli. E-mail: marachirelli@gmail.com