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Comportamento sexual de universitários no contexto da pandemia da COVID-19: um estudo de método misto* * Extraído da dissertação: “Comportamento sexual de universitários no contexto da pandemia da COVID-19: um estudo de método misto”, Universidade Federal da Paraíba, 2023.

RESUMO

Objetivo:

Analisar os comportamentos sexuais de estudantes universitários durante a pandemia da COVID-19.

Método:

Estudo misto, realizado em quatro campus de uma universidade pública na Paraíba, Brasil, entre março de 2021 e abril de 2022. A pesquisa seguiu os preceitos éticos.

Resultados:

Foram incluídos 404 universitários, com idade média de 23,7 anos de idade, com predomínio do sexo feminino, pardo e solteiro. A prevalência de infecções sexualmente transmissíveis por autorrelato foi de 7,9%. Estudantes do sexo masculino apresentaram com maior frequência a prática de comportamentos sexuais de risco. A regressão logística múltipla indicou que universitários com idade igual ou superior a 25 anos, que praticaram relação sexual casual nos últimos 12 meses e já receberam ou pagaram em troca de relação sexual apresentaram maiores chances de incidência de infecções sexualmente transmissíveis. A análise de conteúdo evidenciou que o isolamento social refletiu na diminuição do consumo de álcool e outras substâncias, redução de práticas sexuais, aumento do uso de redes sociais, assim como na baixa adesão ao preservativo.

Conclusão:

O distanciamento físico repercutiu no comportamento sexual de estudantes universitários, assim como no consumo de álcool e outras substâncias.

DESCRITORES
Comportamento Sexual; Estudantes; Infecções Sexualmente Transmissíveis; COVID-19; Epidemiologia

ABSTRACT

Objective:

To analyze the sexual behaviors of university students during the COVID-19 pandemic.

Method:

Mixed study, carried out on four campuses of a public university in Paraíba, Brazil, between March 2021 and April 2022. The research followed ethical precepts.

Results:

404 university students were included, with an average age of 23.7 years, predominantly female, brown and single. The prevalence of self-reported sexually transmitted infections was 7.9%. Male students were more likely to engage in risky sexual behavior. Multiple logistic regression indicated that university students aged 25 or over who had engaged in casual sex in the last 12 months and had received or paid for sex were more likely to have sexually transmitted infections. The content analysis showed that social isolation was reflected in reduced consumption of alcohol and other substances, reduced sexual practices, increased use of social networks, as well as low adherence to condoms.

Conclusion:

Physical distancing has an impact on the sexual behavior of university students, as well as on the consumption of alcohol and other substances.

DESCRIPTORS
Sexual Behavior; Students; Sexually Transmitted Diseases; COVID-19; Epidemiology

RESUMEN

Objetivo:

Analizar el comportamiento sexual de estudiantes universitarios durante la pandemia de COVID-19.

Método:

Estudio de método mixto realizado en cuatro campus de una universidad pública de Paraíba, Brasil, entre marzo de 2021 y abril de 2022. La investigación siguió preceptos éticos.

Resultados:

Fueron incluidos 404 estudiantes universitarios, con edad media de 23,7 años, predominantemente del sexo femenino, castaños y solteros. La prevalencia de infecciones de transmisión sexual autodeclaradas fue del 7,9%. Los estudiantes varones eran más propensos a tener conductas sexuales de riesgo. La regresión logística múltiple indicó que los estudiantes universitarios de 25 años o más, que habían mantenido relaciones sexuales ocasionales en los últimos 12 meses y que habían recibido o pagado por mantener relaciones sexuales tenían más probabilidades de padecer infecciones de transmisión sexual. El análisis de contenido mostró que el aislamiento social se reflejaba en una reducción del consumo de alcohol y otras sustancias, una reducción de las prácticas sexuales, un aumento del uso de redes sociales, así como una baja adherencia al preservativo.

Conclusión:

El distanciamiento físico influye en el comportamiento sexual de los universitarios, así como en el consumo de alcohol y otras sustancias.

DESCRIPTORES
Conducta Sexual; Estudiantes; Enfermedades de Transmisión Sexual; COVID-19; Epidemiología

INTRODUÇÃO

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são consideradas um grave problema de saúde pública. Cerca de 360 milhões de casos de IST são diagnosticados anualmente em todo o mundo, com incidência de 10 a 12 milhões no Brasil. Estima-se que 25% dos casos estejam presentes na população jovem, com faixa etária até os 25 anos de idade(11. Spindola T, Fonte VRF, Francisco MTR, Martins ERC, Moraes PC, Melo LD. Sexual practices and risk behaviors for sexually transmitted infections among university student. Rev Enferm UERJ. 2021;29(1):e63117. doi: http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2021.63117.
https://doi.org/10.12957/reuerj.2021.631...
).

Dados do Ministério da Saúde, Brasil, referente ao ano de 2020, em relação ao HIV/aids, apresentam um aumento na taxa de detecção da doença entre jovens de 15 a 24 anos, com 33,2 casos/100.000 habitantes, comparado com 27,2 casos/100.000 habitantes no ano de 2010. A maior incidência foi verificada entre os indivíduos entre 25 e 29 anos, com 43,2 casos/100.000 habitantes(22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico HIV/aids 2021. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2021.).

Os jovens são considerados a parcela da população mais exposta às IST, como HIV/aids e sífilis adquirida. Tal fato está associado aos fatores econômicos, sociais e individuais. Dentre os fatores individuais destacam-se mudanças físicas, biológicas e hormonais ocasionadas pela adolescência, as quais impactam diretamente na iniciação sexual e possibilidade de múltiplos parceiros(33. Dorji T, Wangmo K, Tshering D, Tashi U, Wangdi K. Knowledge and attitude on sexually transmitted infections and contraceptive use among university students in Bhutan. PLoS One. 2022;17(8):e0272507. doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0272507. PubMed PMid: 35921369.
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,44. Ferrer-Urbina R, Mena-Chamorro P, Halty M, Sepúlveda-Páez G. Psychological factors and sexual risk behaviors: a multidimensional model based on the Chilean population. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(15):9293. doi: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph19159293.
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).

Somada à juventude, o ingresso em universidades é considerado uma época de modificações físicas, psicológicas, sociais e comportamentais dos indivíduos. O ambiente universitário promove oportunidades para experiências sexuais e prática de comportamentos sexuais de risco (CSR), visto que frequentemente é a primeira vez que os jovens estão experimentando a liberdade dos pais e responsáveis(55. Du X, Zhang L, Luo H, Rong W, Meng X, Yu H, et al. Factors associated with risk sexual behaviours of HIV/STDs infection among university students in Henan, China: a cross-sectional study. Reprod Health. 2021;18(1):172. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12978-021-01219-3. PubMed PMid: 34407856.
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).

Os estudantes universitários são considerados um segmento populacional de risco para incidência de IST, pois tendem a apresentar uma percepção distorcida de vulnerabilidade a estas infecções. Dentre os aspectos relacionados à vulnerabilidade dos universitários às IST, além da prática de CSR, elencam-se a insuficiência de conhecimento sobre estas infecções, nível social desfavorável e fragilidades nas políticas públicas direcionadas para tal população(66. Tekletsadik EA, Ayisa AA, Mekonen EG, Workneh BS, Ali MS. Determinants of risky sexual behaviour among undergraduate students at the University of Gondar, Northwest Ethiopia. Epidemiol Infect. 2022;150:e2. doi: http://dx.doi.org/10.1017/S0950268821002661. PubMed PMid: 34879219.
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).

CSR é definido como a prática de ações que podem levar ao risco de contrair IST, gravidez indesejada, aborto inseguro e disfunções psicossociais. Dentre os principais CSR em universitários, destacam-se: sexarca precoce, multiplicidade de parceiros, recrutamento de parceiros através de aplicativos de relacionamento e resistência ao uso do preservativo. Ademais, o uso de álcool e outras substâncias lícitas e ilícitas estão associados ao aumento da incidência dos CSR neste público(77. Graf DD, Mesenburg MA, Fassa AG. Risky sexual behavior and associated factors in undergraduate students in a city in Southern Brazil. Rev Saúde Pública. 2020;54:41. doi: http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054001709.
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,88. Jahanfar S, Pashaei Z. Sexual attitudes and associated factors of risky sexual behaviors among university students. Brain Behav. 2022;12(8):e2698. doi: http://dx.doi.org/10.1002/brb3.2698. PubMed PMid: 35801345.
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).

Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia pela doença causada pelo novo coronavírus, conhecida amplamente como COVID-19. Devido a sua forma de transmissão, majoritariamente por via respiratória, as orientações iniciais foram a implantação de estratégias de isolamento e distanciamento físico, com o intuito de conter a disseminação viral e evitar o colapso dos sistemas de saúde(99. Bouceiro-Mendes R, Borges-da-Costa J. The impact of COVID-19 pandemic on sexually transmitted infections. J Port Soc Dermatol Venereol. 2021;79(3):247–51. doi: http://dx.doi.org/10.29021/spdv.79.3.1325.
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).

O distanciamento físico, medida não-farmacológica de prevenção da COVID-19, principalmente no primeiro ano de pandemia, pode ter afetado o comportamento sexual dos indivíduos. Ainda há escassez de estudos que revelem se tal medida influenciou na redução de relações sexuais casuais ou motivou o aumento de CSR em universitários(1010. Lõrincz K, Meznerics FA, Jobbágy A, Kiss N, Madarász M, Belvon L, et al. STIs during the COVID-19 pandemic in Hungary: gonorrhea as a potential indicator of sexual behavior. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(15):9627. doi: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph19159627.
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).

A pandemia da COVID-19 impactou a vida cotidiana dos jovens, principalmente aqueles que frequentam às universidades. O contexto de incertezas proporcionado pela crise mundial de saúde influenciou diretamente no surgimento de sentimentos como angústia, solidão, ansiedade, tensão e diminuição da qualidade de vida. Dentre as estratégias utilizadas pelos estudantes para redução do sofrimento mental, destaca-se a prática de relações sexuais e o uso de álcool e outras substâncias(1111. Buizza C, Bazzoli L, Ghilardi A. Changes in college students mental health and lifestyle during the COVID-19 pandemic: a systematic review of longitudinal studies. Adolesc Res Rev. 2022;7(4):537–50. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s40894-022-00192-7. PubMed PMid: 35966832.
https://doi.org/10.1007/s40894-022-00192...
,1212. Okeke SR. “Compared to COVID, HIV Is Nothing”: exploring how onshore East Asian and Sub-Saharan African International Students in Sydney Navigate COVID-19 versus BBVs/STIs Risk Spectrum. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(10):6264. doi: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph19106264.
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).

Sendo assim, é possível compreender que os jovens são a parcela da população com a maior incidência de IST e que o ingresso à universidade muitas vezes representa oportunidades para a prática de CSR. Somado a isto, o cenário provocado pela pandemia se mostrou propício para alterações comportamentais, principalmente em universitários, visto que os estudos demonstram que as medidas não-farmacológicas de prevenção da infecção impactaram negativamente na rotina destes indivíduos.

Nesse artigo, destaca-se a relação entre as medidas não- farmacológicas de prevenção da COVID-19 e o comportamento sexual de estudantes universitários, tendo em vista que a pandemia impactou na saúde sexual da população. Para tanto, o objetivo do presente estudo foi analisar os comportamentos sexuais de estudantes universitários durante a pandemia da COVID-19.

MÉTODO

Desenho do Estudo

Estudo de método misto de desenho explicativo sequencial (DEXPLIS), derivado de uma dissertação de mestrado. O DEXPLIS é considerado uma estratégia valiosa, pois realiza a coleta de dados quantitativos e qualitativos, promovendo uma compreensão mais intensa acerca do fenômeno estudado. Para condução deve-se coletar e analisar primeiramente os dados quantitativos e posteriormente os dados qualitativos(1313. Sampieri RH, Collado CF, Lucio MPB. Metodologia de pesquisa. Porto Alegre: Penso; 2013.).

Local do Estudo

A investigação foi desenvolvida em quatro campus de uma universidade pública no estado da Paraíba, Brasil. Os campi se localizavam em cidades distintas, possibilitando uma análise da realidade de diversas regiões do estado.

Critérios de Seleção

Participaram da pesquisa estudantes universitários que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou maior a 18 anos, com ingresso em curso de graduação na instituição antes do início da pandemia da COVID-19 (março de 2020) e que cursaram obrigatoriamente disciplinas no ano de 2020. Foram incluídos alunos de cursos de todas as grandes áreas do conhecimento. Excluíram-se alunos de cursos técnicos e de pós-graduação.

Definição da Amostra

Para o cálculo amostral, optou-se pela amostragem estratificada, na qual considerou-se a quantidade de estudantes de cada campus da instituição. Obteve-se uma população de 27.757 estudantes nos quatro campus. Após o cálculo do tamanho da amostra obtido pelo procedimento de estratificação, considerando um plano de amostragem aleatória simples em cada grupo, o tamanho da amostra calculado, com previsão de perdas na ordem de 20%, foi de 403 estudantes, chegando ao total de 404 entrevistados. Por tratar-se de um estudo de método misto, a seleção dos participantes para compor a amostragem para obtenção dos dados de abordagem qualitativa se deu por conveniência, aplicando-se a técnica de saturação dos dados para composição da amostra final, totalizando 21 universitários. A coleta dos dados qualitativos foi dada como saturada quando os discursos se repetiram, não sendo encontrado nenhum novo elemento(1414. Nascimento LCN, Souza TV, Oliveira ICS, Moraes JRMM, Aguiar RCB, Silva LF. Theoretical saturation in qualitative research: an experience report in interview with schoolchildren. Rev Bras Enferm. 2018;71(1):228–33. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0616.
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).

Coleta de Dados

A coleta de dados ocorreu entre março de 2021 e abril de 2022, em duas fases. Para operacionalização da coleta da primeira fase (dados quantitativos), contou-se com uma equipe de colaboradores previamente treinados, composta por alunos da graduação e da pós-graduação em enfermagem. A segunda fase (entrevista semiestruturada) foi executada privativamente pela pesquisadora. Os dados quantitativos foram coletados por meio de um questionário estruturado, composto por três seções. A seção I continha questões acerca das características sociodemográficas; a seção II abordou o comportamento sexual (idade de início da atividade sexual, número de parceiros no último ano, tipos de práticas sexuais, frequência do uso do preservativo, recrutamento de parceiros através de redes sociais, assim como IST prévia e seus respectivos sinais e sintomas) e a seção III questionou sobre o uso de drogas lícitas e ilícitas. Os participantes da primeira fase foram convidados a participar da fase qualitativa. Os estudantes que concordaram em participar foram contatados posteriormente para realização da entrevista semiestruturada, caracterizando a segunda fase, com o intuito de promover uma compreensão mais profunda do fenômeno estudado, avaliando a subjetividade presente nas falas. A entrevista continha cinco perguntas sobre o comportamento sexual dos estudantes durante a pandemia, uso de redes sociais e/ou aplicativos de relacionamento para recrutamento de parceiros, impacto do distanciamento físico nas relações afetivas e sexuais, além do uso de álcool, tabaco e outras substâncias no período pandêmico. O tempo médio de duração foi de 20 minutos. As entrevistas foram gravadas em celular particular e após transcritas, foram excluídas.

Análise e Tratamento dos Dados

Os dados quantitativos foram tabulados em planilha eletrônica do Excel ® (Microsoft® 365, versão 2019) e posteriormente importados para o programa estatístico Statistical Package for Social Sciences, versão 26.0 para Windows®. A análise foi desenvolvida por meio de estatística descritiva e inferencial. A prevalência de IST autorrelatada foi calculada com intervalo de confiança de 95% (IC95%). Para investigar os fatores e comportamentos de risco associados à prevalência das infecções, procedeu-se, primeiramente, a uma análise bivariada realizada por meio do Teste Qui-Quadrado.

As variáveis que foram estatisticamente significantes foram incluídas no modelo de regressão logística binária, gerando as razões de chances (RC) ou odds ratio (OR) com IC95% para inferir se as variáveis independentes (sociodemográfica ou de comportamento sexual) se apresentavam como fator de risco ou de proteção para a ocorrência de IST relatada (variável dependente). Destaca-se que para realização do cálculo do OR, as variáveis foram previamente dicotomizadas. Quanto ao grau de associação entre os fatores foi inferido pelo valor do OR: acima de 1 (fator de risco) ou abaixo de 1 (fator de proteção)(1515. Kalra A. The odds ratio: principles and applications. J Pract Cardiovasc Sci. 2016;2(1):49–51. doi: http://dx.doi.org/10.4103/2395-5414.182992.
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).

As variáveis que apresentaram um p < 0,25 foram incluídas simultaneamente no modelo de regressão logística múltipla pelo método stepwise. No modelo final, foram consideradas as variáveis que apresentaram associação estatisticamente significante com p < 0,05.

As entrevistas semiestruturadas foram ouvidas e transcritas pela pesquisadora em programa de texto e importadas para o software NVivo 12®, versão gratuita, possibilitando a análise de conteúdo do tipo categorial temática(1313. Sampieri RH, Collado CF, Lucio MPB. Metodologia de pesquisa. Porto Alegre: Penso; 2013.). Para categorização dos resultados utilizou-se a abordagem indutiva, ou seja, as categorias foram definidas após a análise dos dados(1616. Braun V, Clarke V. What can “thematic analysis” offer health and wellbeing researchers? Int J Qual Stud Health Well-being. 2014;9:26152. doi: http://dx.doi.org/10.3402/qhw.v9.26152. PubMed PMid: 25326092.
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).

Aspectos Éticos da Pesquisa

O presente estudo seguiu as recomendações dispostas na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS/BRASIL) acerca das pesquisas científicas que envolvem seres humanos. Para tanto, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, conforme parecer n° 4.309.767/2020. Ressalta-se que os universitários que participaram da pesquisa foram convidados a realizar leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, previamente ao início da coleta de dados. Com vistas a preservar o anonimato das falas dos participantes da segunda fase da pesquisa, foi utilizado um código de acordo com a ordem de realização das entrevistas, acrescido das informações idade e sexo (Participante 1, Participante 2... Participante 21, idade e sexo).

RESULTADOS

Participaram do estudo 404 (100%) estudantes universitários do estado da Paraíba. A maioria do sexo (biológico) feminino 234 (57,9%), na faixa etária de 18 a 24 anos, 291 (72,0%), de cor parda 174 (43,1%), estado conjugal solteiro 352 (87,1%), com religião 219 (54,2%), com renda mensal familiar igual ou menor a dois salários mínimos 241 (59,7%), não mora na residência universitária 294 (72,8%) e que recebe alguma assistência estudantil 271 (67,1%).

A prevalência de IST autorrelatada entre os participantes foi de 7,9% (IC95%: 7,1–8,6). Dentre estas a sífilis foi a mais frequente 11 (2,7%), seguida do HPV 10 (2,5%). Dos estudantes que autorrelataram presença de alguma IST, o sinal clínico mais frequente foi a presença de feridas e de verrugas na região da genitália 13 (40,6%).

Análises bivariadas de associação entre características sociodemográficas (variáveis independentes) e prevalência de IST (variável dependente) apresentou que estudantes do sexo masculino (p < 0,001), com idade igual ou superior a 25 anos (p = 0,001) e que residem na residência universitária (p = 0,009) apresentaram IST com maior frequência.

Quanto a associação entre os comportamentos de risco e o sexo biológico (masculino e feminino), observou-se que estudantes do sexo masculino apresentaram com maior frequência relação sexual antes dos 15 anos de idade (p = 0,006), relação sexual com pessoa do mesmo sexo (p = 0,001), relação sexual casual nos últimos 12 meses (p < 0,001), relação sexual com profissional do sexo (p < 0,001) e já pagaram ou receberam dinheiro em troca de relação sexual (p < 0,001).

Na associação entre as variáveis dos principais comportamentos de risco associadas a presença de IST observou-se que as variáveis “idade da primeira relação sexual” (p = 0,013), “relação sexual com pessoa do mesmo sexo” (p < 0,001), “relação sexual casual nos últimos 12 meses” (p < 0,001), “relação sexual com profissional do sexo” (p = 0,030), “recebeu dinheiro ou pagou em troca de relação sexual” (p < 0,001), “relação sexual com parceiro que conheceu pelo celular” (p < 0,001) e tabagismo (p < 0,001) foram estatisticamente significantes (Tabela 1).

Tabela 1
Associação entre os comportamentos sexuais de risco e a presença de IST em estudantes universitários – PB, Brasil, 2022 (n = 404).

No modelo final de regressão logística, verificou-se que estudantes universitários com idade igual ou superior a 25 anos, que tiveram relação sexual casual nos últimos 12 meses e que já receberam dinheiro ou pagaram em troca de relação sexual apresentaram mais chances de incidência de IST (Tabela 2).

Tabela 2
Análise de regressão logística múltipla para a presença de IST em estudantes universitários – PB, Brasil, 2022 (n = 404).

A fase 2 do estudo explorou a influência da pandemia no comportamento sexual dos universitários.

Nesta fase participaram 21 (100%) estudantes, a maioria do sexo feminino 13 (61,9%), na faixa etária de 18 a 24 anos 14 (66,7%), de cor parda 11 (52,4%), estado conjugal solteiro 20 (95,2%), com religião 12 (57,2%), renda familiar mensal maior que dois salários mínimos 15 (71,4%), que não moram na residência universitária 15 (71,4%) e que recebem alguma assistência estudantil 15 (71,4%).

Após a análise no software NVivo®, emergiram as seguintes categorias: 1) “Influência do ambiente social para o uso de álcool, tabaco e outras substâncias”; 2) “Redução de práticas sexuais no período pandêmico”; e 3) “Comportamento sexual de risco durante a pandemia”, com duas subcategorias: 3.1) Aumento do uso de redes sociais e/ou aplicativos de relacionamento nos últimos 12 meses e 3.2) Baixa adesão ao uso de preservativo durante a pandemia.

Influência do Ambiente Social Para o uso de Álcool, Tabaco e Outras Substâncias

Os participantes relataram em suas falas que a adesão às medidas não-farmacológicas de prevenção da COVID-19, principalmente o distanciamento físico, colaborou para que houvesse redução no uso de álcool, tabaco e outras substâncias.

Falando pessoalmente, o meu consumo de álcool diminuiu na pandemia, já que meu consumo era basicamente em eventos sociais e em locais públicos, saindo com amigos, essas coisas, como isso diminuiu drasticamente, meu consumo também diminuiu drasticamente (Participante 4, 23 anos, sexo masculino).

Diminuiu. Porque normalmente eu não sou de usar muito, uso mais socialmente, e como não tinha aglomerações, nem nada, aí diminuiu bastante (Participante 12, 24 anos, sexo masculino).

No caso eu nunca tive problema com nenhuma substância... álcool eu bebo assim quando eu quero, não é um desejo de “nossa, preciso beber álcool”, então como eu não tinha para onde sair, não tinha rolê, churrasco, essas coisas por causa da pandemia... então deu uma diminuída bastante no álcool, que eu só bebia quando eu ia sair mesmo, em casa eu não faço consumo de álcool não (Participante 17, 22 anos, sexo feminino).

Através dos discursos é possível inferir que o ambiente social influencia na prática de comportamentos de risco. O consumo de álcool e outras substâncias tende a ser menor nos ambientes familiares, conforme relatado por participantes de ambos os gêneros.

Redução de Práticas Sexuais no Período Pandêmico

Ainda no contexto da mudança de comportamentos devido à pandemia da COVID-19, os estudantes relataram a redução de práticas sexuais.

Sim, a pandemia afetou o contexto sexual, porque eu terminei uma relação, por causa disso meio que zerou as minhas relações sexuais. A logística do relacionamento se tornou inviável devido a pandemia (Participante 19, 20 anos, sexo feminino).

(...) teve uma grande diminuição do comportamento sexual, que foi quase nulo, pelo menos no primeiro ano da pandemia, justamente visando o meu bem-estar mesmo, não era uma prioridade em nenhum momento (Participante 4, 23 anos, sexo masculino).

Quanto às relações sexuais estas foram afetadas também de maneira negativa durante a pandemia, devido também ao distanciamento, eu procurei evitar relações com outras pessoas (Participante 20, 23 anos, sexo masculino).

O distanciamento físico foi uma medida de mitigação da COVID-19 que impactou na redução das práticas sexuais, tanto nos relacionamentos amorosos, como nos de cunho casual.

Comportamento Sexual de Risco Durante a Pandemia

Apesar da maioria dos estudantes ter relatado redução de práticas sexuais, ainda foi possível visualizar relatos de CSR, conforme apresentado nas subcategorias a seguir:

Aumento do uso de Redes Sociais e/ou Aplicativos de Relacionamento nos Últimos 12 Meses

Identificou-se nos discursos dos universitários que houve um aumento da procura de parceiros sexuais mediada pelo uso de redes sociais e/ou aplicativos de relacionamento.

(...) comecei a buscar, tipo... aplicativos, outras possibilidades, e aí eu acho que mudou minhas perspectivas (Participante 2, 20 anos, sexo feminino).

(...) eu e a minha namorada acabou entrando assim, numa coisa mais monótona, a gente foi em busca de aplicativos, e de sexo a três, então isso afetou bastante. Isso aconteceu porque o namoro tava meio sem graça, e a gente queria fazer alguma coisa diferente (Participante 1, 23 anos, sexo feminino).

(...) a gente se sentiu mais isolados, então houve mais uma procura por aplicativos, por um certo período (Participante 13, 31 anos, sexo masculino).

Considerando que a pandemia reduziu as oportunidades de aglomerações sociais, muitos jovens buscaram os aplicativos de relacionamento com o intuito de recrutar parceiros para prática sexual, seja ela de forma presencial ou online.

Baixa Adesão ao uso de Preservativo Durante a Pandemia

No tocante à esta subcategoria, foi possível inferir que não houve o uso adequado do preservativo entre a maioria dos participantes.

(...) rolou de camisinha rasgar durante o sexo e a pessoa não me avisar, rolou de eu já transar bêbada sem camisinha (Participante 2, 20 anos, sexo feminino).

Eu tive um parceiro e a gente utilizou sim preservativo, porque meu ciclo menstrual é bem desregulado e a gente fez com o intuito de não ter uma gravidez indesejada. Então... a questão de doenças, como é parceiro único, e eu creio que ele não esteja me traindo, a gente faz para a prevenção de gravidez (Participante 5, 24 anos, sexo feminino).

Nos últimos três meses eu tive uma parceira só... eu não fiz uso inicialmente na relação sexual, porque a gente já tinha uma intimidade de transar sem camisinha, mas sempre evitando engravidar, essas coisas, utilizávamos no final da relação sexual a camisinha, mas eu transei sem camisinha (Participante 12, 31 anos, sexo masculino).

Há mais de um ano, mais ou menos, quase 2 anos, é o mesmo parceiro sexual e a gente não costuma usar preservativo, meio que ficou um costume do casal, por achar que incomoda ou não sente tanto prazer tanto quanto sem camisinha (Participante 3, 28 anos, sexo feminino).

A maior parte dos participantes relatou o uso inadequado do preservativo, o que culmina em risco para transmissão de IST. Dentre os que relataram utilizar, verificou-se uma preocupação maior com a contracepção do que com a prevenção dessas infecções.

DISCUSSÃO

Este estudo apresenta dados sobre o comportamento sexual de universitários no contexto da pandemia considerando o uso de álcool e outras substâncias, estratégias para recrutamento de parceiros e adesão às medidas não-farmacológicas de prevenção da COVID-19. É importante destacar que durante o período de coleta de dados havia uma elevada incidência de casos da infecção supracitada. Por meio da segunda fase da pesquisa evidenciou-se que o cumprimento das medidas de mitigação da transmissão viral, principalmente o distanciamento físico, culminou em diminuição no uso de álcool e outras substâncias, além da redução de práticas sexuais na maioria dos participantes. No entanto, ainda houveram relatos de CSR.

Na caracterização sociodemográfica dos participantes, a amostra constitui-se em maior parte de mulheres, solteiras e com idade inferior a 25 anos, assim como em estudos com universitários na Itália e na África(1111. Buizza C, Bazzoli L, Ghilardi A. Changes in college students mental health and lifestyle during the COVID-19 pandemic: a systematic review of longitudinal studies. Adolesc Res Rev. 2022;7(4):537–50. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s40894-022-00192-7. PubMed PMid: 35966832.
https://doi.org/10.1007/s40894-022-00192...
,1212. Okeke SR. “Compared to COVID, HIV Is Nothing”: exploring how onshore East Asian and Sub-Saharan African International Students in Sydney Navigate COVID-19 versus BBVs/STIs Risk Spectrum. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(10):6264. doi: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph19106264.
https://doi.org/10.3390/ijerph19106264...
).

No que se refere à maior prevalência de IST em estudantes do sexo masculino, estudo na Ásia apresentou que os homens tendem a ter a vida sexual mais ativa do que as mulheres, assim como maiores índices de uso de álcool e outras substâncias antes da prática sexual, comportamentos que se configuram como de risco para transmissão de IST. Além disso, eles demonstraram conhecer menos sobre a saúde sexual e a prevenção de infecções quando comparado com as mulheres, fato que os deixam mais vulneráveis em contrair tais infecções(33. Dorji T, Wangmo K, Tshering D, Tashi U, Wangdi K. Knowledge and attitude on sexually transmitted infections and contraceptive use among university students in Bhutan. PLoS One. 2022;17(8):e0272507. doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0272507. PubMed PMid: 35921369.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.027...
).

Ainda nesse contexto, investigação em Uganda obteve que universitários do sexo masculino apresentaram duas vezes mais chances de praticarem CSR quando comparado com o sexo feminino(1717. Kaggwa MM, Muwanguzi M, Najjuka SM, Nduhuura E, Kajjimu J, Mamun MA, et al. Risky sexual behaviours among Ugandan university students: a pilot study exploring the role of adverse childhood experiences, substance use history, and family environment. PLoS One. 2022;17(11):e0277129. doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0277129. PubMed PMid: 36383509.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.027...
). Ademais, estudo no sul do Brasil apresentou que os homens tendem a iniciar a vida sexual mais cedo que as mulheres, o que se associou à prática de CSR na vida adulta(77. Graf DD, Mesenburg MA, Fassa AG. Risky sexual behavior and associated factors in undergraduate students in a city in Southern Brazil. Rev Saúde Pública. 2020;54:41. doi: http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054001709.
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020...
).

Pesquisa na Tanzânia identificou que aqueles que iniciaram a atividade sexual de forma mais precoce (≤16 anos) apresentaram uma probabilidade maior de relatar sintomas de IST quando comparados àqueles que iniciaram a atividade após os 17 anos, o que se associa ao baixo conhecimento acerca das infecções pela população mais jovem(1818. Abdul R, Gerritsen AAM, Mwangome M, Geubbels E. Prevalence of self-reported symptoms of sexually transmitted infections, knowledge and sexual behaviour among youth in semi-rural Tanzania in the period of adolescent friendly health services strategy implementation. BMC Infect Dis. 2018;18(1):229. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12879-018-3138-1. PubMed PMid: 29778101.
https://doi.org/10.1186/s12879-018-3138-...
).

Investigação desenvolvida na África observou que universitários com idade superior a 24 anos possuem cerca de 2,12 vezes mais chances de praticarem CSR quando comparados com os que possuem idade inferior à faixa etária citada, resultado que corrobora aos resultados do presente estudo. Tal fato pode estar relacionado ao aumento do desejo sexual quando os jovens se tornam fisicamente e fisiologicamente mais maduros(66. Tekletsadik EA, Ayisa AA, Mekonen EG, Workneh BS, Ali MS. Determinants of risky sexual behaviour among undergraduate students at the University of Gondar, Northwest Ethiopia. Epidemiol Infect. 2022;150:e2. doi: http://dx.doi.org/10.1017/S0950268821002661. PubMed PMid: 34879219.
https://doi.org/10.1017/S095026882100266...
).

Morar na residência universitária muitas vezes é a única opção para universitários com vulnerabilidade econômica dar continuidade aos estudos. A mudança do ambiente familiar para um ambiente de coabitação com outros estudantes pode impactar nos contextos psicológicos e sociais desses indivíduos, despertando a sensação de liberdade, independência e autonomia(1919. Astigarraga AA, Oliveira BG, Souza RM. A experiência de morar na residência universitária da UVA a partir da narrativa (auto)biográfica de um acadêmico. Rev Educ Emancip (Online). 2022;15(2):346–69. doi: http://dx.doi.org/10.18764/2358-4319v15n2.2022.27.
https://doi.org/10.18764/2358-4319v15n2....
). Acredita-se que tais sensações estejam associadas à prática de CSR, no entanto há escassez de estudos acerca deste fato.

Quanto à associação entre as variáveis “relação sexual com pessoa do mesmo sexo” e IST, pesquisas evidenciam que apesar das campanhas de conscientização acerca das estratégias de prevenção de tais infecções, a prevalência de IST entre esse público se mantêm alta. As taxas de detecção de HIV são mais altas entre homens que fazem sexo com homens (HSH). Tal população revela que a baixa adesão aos métodos de prevenção é justificada pelo desconforto no uso do preservativo, baixo conhecimento acerca da eficácia dos métodos, uso de substâncias psicoativas antes da relação, constrangimento em sugerir o uso ao parceiro e relação sexual casual(55. Du X, Zhang L, Luo H, Rong W, Meng X, Yu H, et al. Factors associated with risk sexual behaviours of HIV/STDs infection among university students in Henan, China: a cross-sectional study. Reprod Health. 2021;18(1):172. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12978-021-01219-3. PubMed PMid: 34407856.
https://doi.org/10.1186/s12978-021-01219...
,2020. Shen Y, Zhang C, Valimaki MA, Qian H, Mohammadi L, Chi Y, et al. Why do men who have sex with men practice condomless sex? A systematic review and meta-synthesis. BMC Infect Dis. 2022;22(1):850. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12879-022-07843-z. PubMed PMid: 36376835.
https://doi.org/10.1186/s12879-022-07843...
).

No presente estudo o aumento de uso de redes sociais favoreceu a prática de relação sexual casual. Pesquisa com 7.678 universitários poloneses obteve como resultado que 33% afirmaram praticarem relações sexuais casuais. Tais práticas geralmente estão associadas aos CSR, principalmente quando associado ao uso de álcool e outras substâncias(2121. Stoklosa I, Stoklosa M, Porwolik M, Bugajski M, Wieckiewickz G, Mecik-Kronenberg T. Analysis of high-risk sexual behavior among polish university students. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(7):3737. doi: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph18073737.
https://doi.org/10.3390/ijerph18073737...
).

No tocante às maiores chances dos indivíduos que pagaram ou receberam em troca de relação sexual apresentarem IST, estudo na Etiópia indica que tal prática tende a configurar um alto risco para a transmissão destas infecções, visto que muitas das vezes a prática não é realizada de maneira segura(2222. Barba A, Bati F, Tura JB, Addis B, Abrahim S. Magnitude and determinants of syphilis and HIV co-infection among female sex workers in Ethiopia: evidence from respondent driven samples, 2019-2020. HIV AIDS (Auckl). 2022;14:473–85. doi: http://dx.doi.org/10.2147/HIV.S384213. PubMed PMid: 36337317.
https://doi.org/10.2147/HIV.S384213...
). Observou-se uma escassez de estudos na literatura que abordem esta temática no público universitário.

Corroborando com esta pesquisa, investigação com 800 universitários iranianos observou que frequentar bares e festas noturnas, assim como fumar cigarro, estavam associados à prática de CSR. Essas atitudes foram mais prevalentes em estudantes do sexo masculino(88. Jahanfar S, Pashaei Z. Sexual attitudes and associated factors of risky sexual behaviors among university students. Brain Behav. 2022;12(8):e2698. doi: http://dx.doi.org/10.1002/brb3.2698. PubMed PMid: 35801345.
https://doi.org/10.1002/brb3.2698...
).

Considerando que o uso de álcool e outras substâncias estão associados com a prática de CSR, observou-se através das entrevistas que durante a pandemia houve redução no uso de tais substâncias, assim como em estudos em universidade espanhola(2323. Pérez-Albéniz A, Nuez C, Lucas-Molina B, Ezquerra M, Fonseca-Pedrero E. Impacto del confinamiento en la conducta adictiva de los universitarios riojanos. Adicciones. 2023;35(3):289–302. doi: http://dx.doi.org/10.20882/adicciones.1646.
https://doi.org/10.20882/adicciones.1646...
) e sueca(2424. Larsson K, Onell C, Edlund K, Kallberg H, Holm LW, Sundberg T, et al. Lifestyle behaviors in Swedish university students before and during the first six months of the COVID-19 pandemic: a cohort study. BMC Public Health. 2022;22:1207. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12889-022-13553-7.
https://doi.org/10.1186/s12889-022-13553...
).

Nesse ínterim, os autores afirmam que a diminuição no consumo dessas substâncias esteve relacionada com o lockdown, o qual restringiu as aglomerações sociais. Observou-se também que os estudantes tendem a consumir as substâncias em menor quantidade no ambiente familiar, semelhante ao encontrado nesta pesquisa(2323. Pérez-Albéniz A, Nuez C, Lucas-Molina B, Ezquerra M, Fonseca-Pedrero E. Impacto del confinamiento en la conducta adictiva de los universitarios riojanos. Adicciones. 2023;35(3):289–302. doi: http://dx.doi.org/10.20882/adicciones.1646.
https://doi.org/10.20882/adicciones.1646...
,2424. Larsson K, Onell C, Edlund K, Kallberg H, Holm LW, Sundberg T, et al. Lifestyle behaviors in Swedish university students before and during the first six months of the COVID-19 pandemic: a cohort study. BMC Public Health. 2022;22:1207. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12889-022-13553-7.
https://doi.org/10.1186/s12889-022-13553...
).

Foi bastante presente nas falas dos universitários o impacto da pandemia nos relacionamentos amorosos. A literatura evidencia que os fatores estressores ocasionados pelo período pandêmico, a exemplo do distanciamento físico, alterações no formato educacional e desemprego, influenciaram de forma negativa a saúde física, social e mental dos jovens. Sendo assim, muitos dos relacionamentos em que não havia coabitação foram afetados, pois o distanciamento gerou redução de tempo de qualidade com os parceiros, o que somado aos estressores supracitados, culminou muitas vezes em conflitos(2525. Gamarel KE, Washington C, Rosso MT, Darbes LA, Claude KF, Hightow-Weidman L, et al. Perceptions of relationship quality before and during COVID–19 pandemic among young sexual minority men in romantic relationships. Arch Sex Behav. 2022;51(4):2261–8. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10508-021-02254-8. PubMed PMid: 35670886.
https://doi.org/10.1007/s10508-021-02254...
).

No tocante à redução das práticas sexuais no período pandêmico, pesquisa qualitativa em dois estados de diferentes regiões do Brasil observou que grande parte dos participantes deixaram de praticar relações sexuais com a mesma frequência em consequência do distanciamento físico. Além disso, foi possível perceber que havia o sentimento de medo em se infectar e transmitir a COVID-19 para os entes queridos, culminando em alta adesão ao isolamento, principalmente no primeiro ano da pandemia(2626. Ferraz D, Rossi TA, Zucchi EM, Deus LFA, Mabire X, Ferguson L, et al. “I Can’t Take This Shitty Quarantine Anymore”: sexual behavior and PrEP use among young men who have sex with men and transgender Women in Brazil during the COVID-19 pandemic. Arch Sex Behav. 2023;52(2):689–702. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10508-022-02364-x. PubMed PMid: 35881251.
https://doi.org/10.1007/s10508-022-02364...
).

Em estudo na China, 292 (53,9%) universitários que buscaram parceiros sexuais na internet tiveram relações sexuais casuais. Ainda nesse estudo, a prática sexual com parceiros conhecidos através de redes sociais implicou em maiores chances de praticar CSR (OR: 4,434; p < 0,001)(2727. Xu J, Luo Y, Dong H, Zhao G. The effects of internet exposure on sexual risk behavior among sexually experienced male college students in China: cross-sectional study. JMIR Public Health Surveill. 2022;8(5):e31847. doi: http://dx.doi.org/10.2196/31847. PubMed PMid: 35499864.
https://doi.org/10.2196/31847...
).

Os aplicativos de namoro são utilizados muitas das vezes com o intuito de promover encontros sexuais rápidos ou até imediatos, visto que a busca é realizada conforme localização. Os usuários dessas ferramentas tendem a se envolver em mais CSR do que os não-usuários, a exemplo da facilidade em ter múltiplas parcerias, uso inconsistente de preservativo, relação sexual casual e uso aumentado de álcool e outras substâncias nos encontros, o que pode culminar no aumento dos índices de IST neste grupo(2828. Besoain G, Gallardo I. The mediation effect of attitudes for the association between thoughts and the use of condoms in a mobile-app environment: from thought to intention. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(20):13631. doi: http://dx.doi.org/10.3390/ijerph192013631.
https://doi.org/10.3390/ijerph192013631...
,2929. Choi EPH, Chow EPF, Wan EYF, Wong WCW, Hong JYH, Fong DYT. The safe use of dating applications among men who have sex with men: a study protocol for a randomised controlled trial to evaluate an interactive web-based intervention to reduce risky sexual behaviours. BMC Public Health. 2020;20:795. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12889-020-08914-z.
https://doi.org/10.1186/s12889-020-08914...
).

Quanto ao uso do preservativo, pesquisa no Rio de Janeiro, Brasil, identificou que 70,37% dos universitários não utilizaram preservativo na primeira relação sexual, a qual ocorreu majoritariamente entre 15 e 18 anos; além disso, 60,74% afirmaram não utilizar tal método preventivo em todas as relações sexuais, hábito mais comum entre os que viviam em união estável(3030. Melo LD, Sodré CP, Spindola T, Martins ERC, André NLNO, Motta CVV. Prevention of sexually transmitted infections among young people and the importance of health education. Enferm Glob. 2022;21(1):74–115. doi: http://dx.doi.org/10.6018/eglobal.481541.
https://doi.org/10.6018/eglobal.481541...
).

As limitações deste estudo relacionam-se com a análise apenas da realidade de instituições públicas de ensino superior, o que demandaria um estudo com estudantes tanto da rede pública quanto da rede privada. Além disso, por abordar o contexto de um único estado, torna-se importante a reprodução em outros estados do país, com o intuito de conhecer de forma mais ampliada a temática. No entanto, acredita-se que os resultados apresentados representam o início de estudos futuros envolvendo os comportamentos sexuais de risco contemporâneos entre os universitários, como recrutar parceiros através das redes sociais. Desse modo, em relação às consequências para as práticas profissionais, conhecer a realidade destes universitários implica na condição de criar subsídios importantes nas estratégias de prevenção e promoção da saúde sexual e reprodutiva da população jovem no mundo moderno.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa fornece dados acerca do comportamento sexual de estudantes universitários no contexto da pandemia da COVID-19, temática ainda escassa na literatura científica. O método misto proporcionou uma compreensão mais profunda sobre tais comportamentos.

As variáveis sexo masculino, idade igual ou maior a 25 anos, morar na residência universitária, primeira relação sexual ≤15 anos, prática de relação sexual com pessoa do mesmo sexo, relação sexual casual nos últimos 12 meses, relação sexual com profissional do sexo, recebeu ou pagou em troca de relação sexual, relação sexual com parceiro que conheceu pelo celular e tabagismo foram associadas estatisticamente com a presença de IST. Estudantes do sexo (biológico) masculino apresentaram com maior frequência a prática de CSR.

Quanto ao impacto do contexto pandêmico nos comportamentos sexuais, foi evidenciado através dos discursos de estudantes de ambos os sexos (biológicos) que houve diminuição no consumo de álcool e outras substâncias, redução das práticas sexuais, aumento no uso de redes sociais e aplicativos de relacionamento para recrutamento de parceiros sexuais e baixa adesão ao uso do preservativo. Tais práticas estiveram intimamente relacionadas com as medidas não-farmacológicas de mitigação viral da COVID-19, principalmente o distanciamento físico.

Os resultados reforçam a necessidade de investir em estratégias e políticas públicas de saúde acerca da promoção de saúde e prevenção de doenças direcionadas para o público alvo citado, visto que é um grupo de risco para a prática de CSR, considerando a faixa etária, o ambiente universitário e o contexto provocado pela pandemia. É essencial a realização de atividades de educação em saúde que abordem saúde sexual e reprodutiva nas universidades, assim como a oferta contínua de testes rápidos para detecção de IST, considerando que o diagnóstico precoce é essencial para um bom prognóstico.

  • Apoio financeiro PROPESQ/PRPG/UFPB – edital n° 03/2020

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Cristina Lavareda Baixinho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    17 Abr 2023
  • Aceito
    14 Dez 2023
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