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Uma liderança pela vida

EDITORIAL

Uma liderança pela vida

Jaime Breilh

Md. PhD. Diretor da Área da Saúde. Universidade Andina Simón Bolívar do Equador. Quito, Equador. jbreilh@uasb.edu.ec

Vivemos um patamar histórico na América Latina, com algumas potencialidades de avançar por uma via de desenvolvimento soberano, que é permanentemente ameaçado não apenas por forças externas, mas pela persistência de uma cultura pragmática e individualista. É por este motivo que no campo da saúde, e mesmo nos governos progressistas, os numerosos investimentos não são acompanhados das mudanças de visão e tampouco de efeitos significativos.

Os processos históricos que marcam as bases materiais e espirituais da época, determinam o pensamento e as práticas, impondo a hegemonia de um paradigma funcional das concorrências (profissional, adaptativo e de subjetividade fragmentada), ligado a uma administração de eficiência, mas despojada de uma real consciência social.

Neste cenário, o grande esforço empregado pela pós-graduação (mestrado e doutorado) cobra uma transcendência especial da enfermagem em saúde pública da USP, sob o modelo TIPESC (Teoria de intervenção práxica de enfermagem em saúde coletiva), cuja maior importância radica em disputar o âmbito das concorrências ao funcionalismo; não lhe deixando livre o caminho e propondo uma visão anti-hegemônica. Desse modo, a Escola de Enfermagem dessa prestigiosa Universidade reafirma sua liderança regional, construindo um paradigma autônomo, que se sustenta na consciência crítica e na formação de enfermeiras(os) capazes não apenas de cumprir com eficiência os padrões convencionais da concorrência profissional assistencial (conhecimento, habilidades e atitudes), mas de alcançar formas renovadas de prática com autonomia (iniciativa própria), criatividade, compromisso e responsabilidades sociais, que incorporam as dimensões coletivas da concorrência econômica, cultural e política.

Este ponto de partida da enfermagem brasileira se produz justamente quando vivenciamos uma crise global que é muito mais que a ruína conjuntural de grandes empresas financeiras. As crises do modelo de acumulação acelerada interpelam as profissões da saúde, ao mostrar o absurdo de um sistema socialmente injusto, ecologicamente destrutivo e prejudicial, que se sustenta em um modelo de civilização inviável; um sistema da morte, que se alimenta da vida, reproduzindo-se como um monstro que nos induz a modos de viver irracionais e patógenos.

Nesse contexto, há que se valorizar a verdadeira dimensão do trabalho incansável e corajoso que impulsiona o doutorado de enfermagem em saúde pública da Universidade de São Paulo, colocando a excelência acadêmica ao lado de seu povo, para levantar as teses de uma vida digna e saudável; aquilo que nas culturas andinas denominamos o bem viver sumak kawsay, baseado em uma economia que se organiza ao redor da preeminência da vida e do bem comum; onde a distribuição oferece a todos o acesso a uma cota que possibilita esse bem viver; onde se constitui um consumo responsável e coletivamente acordado, baseado em uma construção consciente e equitativa da necessidade, sem esbanjamento ou desperdício, e sem desproporcionar os recursos presentes e futuros; definitivamente, uma sociedade que sustente uma boa qualidade de vida biológica e psíquica, possibilitando uma maior longevidade, capacidade de assimilação das agressões, com potencialidade para a plena atividade física em todas as idades, desfrutando do prazer e da espiritualidade.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Out 2010
  • Data do Fascículo
    Set 2010
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