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Editorial: os 70 anos da Universidade de São Paulo e a questão orçamentária

EDITORIAL

Os 70 anos da Universidade de São Paulo e a questão orçamentária

Como é sabido dos leitores da REEUSP, a Universidade de São Paulo está comemorando 70 anos, tema que vem sendo tratado nos dois editoriais de 2004. Os seus números são impressionantes. Alguns expressam a sua dimensão física e estrutural. A área dos campi é de 74,5 milhões de m2, com 1,4 bilhão de m2 de área edificada. Possui 36 unidades de ensino, que entre os cursos de graduação e os programas de mestrados e doutorados somam 72.867 alunos. Conta, ainda, com 4.884 professores e 14.900 funcionários. Outros números também expressam a sua contribuição social e científica. Presta atividades assistenciais à população, por meio dos seus hospitais, totalizando 16.050 internações, 206.953 atendimentos de emergência e 133.989 atendimentos ambulatoriais. Promove por ano cerca de 9.767 eventos científicos e culturais e mais de mil cursos extracurriculares. Forma, em média, 4.600 novos profissionais em cursos de graduação e titula 30% dos doutores do país. Segundo o ISI (Instituto para Informação Científica), dos EUA, ela ocupa o 27.º lugar entre as mais de 5.000 universidade do mundo em relação à produção de artigos científicos. Seus docentes e alunos recebem premiações e outras distinções no Brasil e no exterior.

No entanto, se esses números expressam sua importância e nos orgulham, outros números nos preocupam. Com um orçamento de R$ 1,575 bilhão para 2004, 87% desse total está comprometido com o salário dos professores, funcionários e aposentados. Há necessidade de mais verbas para manter e ampliar o ensino e a pesquisa. Diante disso, abre-se um debate não só para a USP, mas para toda a sociedade, sobre aumentar o financiamento estatal ou criar outras fontes para custear a manutenção dessa máquina colossal de ensino e pesquisa.

Alguns afirmam que o Estado não pode aumentar o financiamento do ensino superior, e que, por isso, devem ser criados mecanismos para captação de recursos junto à iniciativa privada. Outros defendem a cobrança de mensalidades dos alunos com renda familiar suficiente para pagar seus estudos e outros dizem que os alunos já pagam por meio dos impostos e, por isso, deve haver maior contribuição do Estado. A discussão está aberta, o passado e o presente da USP estão firmados, mas precisamos cuidar do seu futuro. A dimensão econômica não pode ameaçá-lo. A contribuição da Universidade para o desenvolvimento científico, cultural e social do país é imensurável. Assim, nenhuma nação pode permitir que um bem cultural e científico tão valioso do seu patrimônio seja ameaçado.

Para aqueles que criticam os altos gastos gerados pelas universidades públicas, deixamos a resposta de um Reitor da Universidade de Harvard, quando o Presidente Roosevelt fez crítica aos altos gastos com a educação: "Se o Senhor acha cara a educação, porque não tenta a ignorância". Nós, brasileiros já pagamos um alto preço por isso.

Esta número 3 apresenta dois trabalhos sobre adesão. Um feito com enfermeiros de 15 instituições da cidade de São Paulo, visando identificar os condicionantes institucionais e individuais para a adesão do trabalhador de Enfermagem às precauções/isolamento na assistência. Infelizmente, com esse estudo percebe-se que algumas instituições utilizam precauções inadequadas, ultrapassadas e distintas das recomendadas pelos órgãos governamentais! O outro trabalho avalia a adesão dos doentes com dor crônica não oncológica ao tratamento e identifica as relações entre a crença de controle da saúde e a adesão. Detectaram-se altos índices de adesão parcial e não adesão ao tratamento, e doentes com crenças de maior "internalidade" aderiram menos ao tratamento.

O papel do parceiro sexual no suporte social na reabilitação da mulher mastectomizada foi pesquisado em nove parceiros de mulheres nessa condição, no interior de São Paulo.

Um estudo de intenção epistemológica, acerca da Teoria do Alcance de Metas de Imogene King e suas contribuições para o conhecimento e prática de enfermeiros que atuam no Programa Saúde da Família (PSF), também está presente na reflexão feita pelas colegas do Ceará.

Este número apresenta o processo de formação de cultura organizacional em um hospital filantrópico da cidade de São Paulo; o significado do trabalho em equipe na reabilitação de pessoas com malformação craniofacial congênita (um estudo que visou refletir o fenômeno engendrando convergências e divergências, destacando a explicitação das diferenças e aprendizado contínuo); a percepção de crianças hospitalizadas, em idade escolar, sobre a realização de exames (as crianças cooperam com os exames apesar do medo, por perceberem que eles fazem parte do tratamento) e os diagnósticos de Enfermagem presentes em 17 pacientes no período pré-operatório de cirurgia cardíaca.

A preocupação com os custos na área de Enfermagem aparece em dois artigos: um que aborda o ensino de custos nas escolas de graduação em Enfermagem, em pesquisa com 28 docentes; e outro que apresenta um modelo de planilha de custos utilizada no treinamento e desenvolvimento de pessoal de Enfermagem em uma organização hospitalar.

Quanto aos dois últimos artigos deste número, não menos importantes, o primeiro registra que, apesar da busca da integralidade do ser humano, presente nos discursos da Enfermagem, a formação do enfermeiro enfatiza a dimensão técnica e pouco possibilita o crescimento interno do profissional; o segundo apresenta a experiência do desmame em mulheres de uma mesma família, verificando que o discurso dos formadores de política sobre o aleitamento materno parece influenciar bastante na construção dessa prática, atuando mais que as de gerações anteriores da família.

Esperamos que essa leitura possa ajudá-lo no seu crescimento, leitor.

Obrigada, mais uma vez, por ela.

Prof.ª Dr.ª Ana Maria Kazue Miyadahira

Editora

Prof.ª Dr.ª Valéria Castilho

Membro do Conselho de Editores

Prof.ª Dr.ª Maria Júlia Paes da Silva

Presidente do Conselho de Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Nov 2008
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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