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Uso da música no controle da ansiedade em ambulatório de cabeça e pescoço: ensaio clínico randomizado

Resumo

OBJETIVO

Avaliar a efetividade de uma intervenção musical na redução de ansiedade e parâmetros vitais em pessoas acometidas por câncer de cabeça e pescoço.

MÉTODO

Ensaio clínico controlado, randomizado, realizado em ambulatório de cabeça e pescoço com 40 participantes, subdivididos em dois grupos (intervenção e controle). Foi utilizada como intervenção a música clássica “Suave primavera” das quatro estações de Vivaldi. Como instrumento de coleta de dados foi empregado o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e um inventário de dados sociodemográficos e clínicos. O teste t de Student foi utilizado para verificar a significância estatística intragrupo e intergrupos.

RESULTADOS

Os participantes apresentaram redução estatisticamente significante nos níveis de ansiedade percebida (t= 12,68; p<0,001), bem como nos níveis de pressão arterial (t = 4,56; p<0,001); pulso (t = 6,15; p< 0,001) e frequência respiratória (t = 5,10; p< 0,001).

CONCLUSÃO

A música mostrou-se um recurso terapêutico não farmacológico eficaz no manejo da ansiedade em contexto ambulatorial para pessoas com câncer, bem como na redução de pressão arterial, pulso e frequência respiratória.Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos: RBR-7W4YJJ

Descritores
Musicoterapia; Ansiedade; Neoplasias de Cabeça e Pescoço; Humanização da Assistência; Enfermagem Oncológica

Abstract

OBJECTIVE

Evaluating the effectiveness of a musical intervention in reducing anxiety and vital parameters in people suffering from head and neck cancer.

METHOD

A randomized controlled clinical trial, performed in a head and neck outpatient clinic with 40 participants, subdivided into two groups (intervention and control).The classicalmusic“Spring” from The Four Seasons by Vivaldi was used as an intervention.The State-Trait Anxiety Inventory (STAI) was used as the data collectioninstrument,along with an inventory of socio-demographic and clinical data. Student'st-test was used to verify intragroup and intergroup statistical significance.

RESULTS

Participants presented a statistically significant reduction in levels of perceived anxiety (t= 12.68; p<0.001),as well as blood pressure levels (t = 4.56; p<0.001); pulse (t = 6.15; p<0.001) and respiratory rate (t = 5.10; p<0.001).

CONCLUSION

Music has proven to be an effective non-pharmacological therapeutic resource in managinganxiety in an outpatient setting for people with cancer, as well as in reducing blood pressure, pulse and respiratory rate. Brazilian Registry of Clinical Trials: RBR-7W4YJJ

Descriptors:
Music Therapy; Anxiety; Head and Neck Neoplasms; Humanization of Assistance; Oncology Nursing

Resumen

OBJETIVO

Evaluar la eficacia de una intervención musical en la reducción de la ansiedad y los parámetros vitales en personas que sufren de cáncer de cabeza y cuello.

MÉTODO

Ensayo clínico controlado, aleatorizado, realizado en un ambulatorio de cabeza y cuello con 40 participantes, divididos en dos grupos (intervención y control). Fue utilizado como intervención la música clásica "Suave Primavera" de Las Cuatro Estaciones de Vivaldi. Como instrumento de recolección de datos se utilizó el Inventario de Ansiedad Estado-Rasgo (STAI) y un inventario de datos socio-demográficos y clínicos. Se utilizó la prueba t de Student para evaluar la significación estadística intra-grupo y entre grupos.

RESULTADOS

Los participantes mostraron una reducción estadísticamente significativa en niveles percibidos de ansiedad (t = 12,68; p <0,001), así como en los niveles de presión arterial (t = 4,56; p <0,001); pulso (t = 6,15, p <0,001) y la frecuencia respiratoria (t = 5,10, p <0,001).

CONCLUSIÓN

La música demostró ser una herramienta terapéutica no farmacológica eficaz en el tratamiento de la ansiedad en el ámbito ambulatorio para personas con cáncer y también en la reducción de la presión arterial, el pulso y la frecuencia respiratoria. Registro Brasileño de Ensayos Clínicos: RBR-7W4YJJ

Descriptores
Musicoterapia; Ansiedad; Neoplasias de Cabeza y Cuello; Humanización de la Atención; Enfermería Oncológica

Introdução

Efeitos fisiológicos e psicológicos com a utilização da música são descritos em diferentes publicações, incluindo alteração na pressão sanguínea, batimentos cardíacos, frequência respiratória, relaxamento muscular, redução da dor, secreção hormonal, incluindo as endorfinas, entre outros11 Rocha VC, Boggio PS. A música por uma óptica neurocientífica. Per Mus. 2013;(27):132-40.

2 Orjuela Rojas JM. Efecto ansiolítico de la musicoterapia: aspectos neurobiológicos y cognoscitivos delprocesamiento musical. Rev Colomb. Psiquiatr[Internet]. 2011 [citado 2016 Mar 25];40(4):748-59. Disponibleen: Disponibleen: http://www.scielo.org.co/pdf/rcp/v40n4/v40n4a12.pdf
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3 Pinto Junior FEL, Ferraz DLM, Cunha EQ, Santos IRM, Batista MC. Influência da música na dor e na ansiedade decorrentes de cirurgia em pacientes com câncer de mama. Rev Bras Cancerol[Internet]. 2012 [citado 2016 mar. 25];58(2):135-41. Disponível em: Disponível em: http://www1.inca.gov.br/rbc/n_58/v02/pdf/03_artigo_influencia_musica_dor_ansiedade_decorrentes_cirurgia_pacientes_cancer_mama.pdf
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-44 Shabanloei R, Golchin M, Esfahani A, Dolatkhad R, Rasoulian M. Effects of music therapy on pain and anxiety in patients undergoing bone marrow biopsy and aspiration. AORN J. 2010;91(6):746-51. . Alguns autores afirmam que a música produz efeito ansiolítico por estar vinculada a uma carga afetiva, e que, ao gerar prazer, diminui a ansiedade. O seu processamento, além de ativar outras áreas do cérebro, tem efeito nas vias mesolímbicas dopaminérgicas, o que justifica o efeito ansiolítico por gerar respostas de reforço positivo e recompensa55 Nociti JR. Music and anesthesia [editorial]. Rev Bras Anestesiol[Internet]. 2010 [cited 2016 Mar 25];60(5):455-56. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/rba/v60n5/en_v60n5a01.pdf
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. Nesse sentido, além de ser uma excelente ferramenta terapêutica, de fácil uso, acessível e sem efeitos colaterais, pode ser utilizada em vários contextos e para diversas doenças22 Orjuela Rojas JM. Efecto ansiolítico de la musicoterapia: aspectos neurobiológicos y cognoscitivos delprocesamiento musical. Rev Colomb. Psiquiatr[Internet]. 2011 [citado 2016 Mar 25];40(4):748-59. Disponibleen: Disponibleen: http://www.scielo.org.co/pdf/rcp/v40n4/v40n4a12.pdf
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,33 Pinto Junior FEL, Ferraz DLM, Cunha EQ, Santos IRM, Batista MC. Influência da música na dor e na ansiedade decorrentes de cirurgia em pacientes com câncer de mama. Rev Bras Cancerol[Internet]. 2012 [citado 2016 mar. 25];58(2):135-41. Disponível em: Disponível em: http://www1.inca.gov.br/rbc/n_58/v02/pdf/03_artigo_influencia_musica_dor_ansiedade_decorrentes_cirurgia_pacientes_cancer_mama.pdf
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.

O termo ansiedade vem do grego anshein, significa oprimir, sufocar e pode provocar mudanças no corpo, como aumento da frequência cardí aca e respiratória66 Carvalho CC, Chaves ECL, Iunes DH, Simão TP, Grasselli CSM, Braga CG. Effectiveness of prayer in reducing anxiety in cancer patients. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];48(4):683-9. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n4/0080-6234-reeusp-48-04-683.pdf
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. A presença de ansiedade em pacientes oncológicos, bem como suas implicações negativas na vivência da doença, ratifica a importância de se identificar instrumentos adequados para sua avaliação e diagnóstico77 Bergerot CD, Laros JA, Araújo TCCF. Avaliação de ansiedade e depressão em pacientes oncológicos: comparação psicométrica. Psico USF [Internet]. 2014 [citado 2016 mar. 25];19(2):187-97. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusf/v19n2/a02v19n2.pdf
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. Além disso, o aumento da sobrevida dessa população justifica a procura de métodos não farmacológicos que propiciem uma melhora da sua qualidade de vida88 Costa AIS, Reis PED. Complementary techniques to control cancer symptoms. Rev Dor[Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];15(1):61-4. Available from:Available from:http://www.scielo.br/pdf/rdor/v15n1/en_1806-0013-rdor-15-01-0061.pdf
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.

A ansiedade traz consigo alterações neurofisiológicas, influenciando na pressão arterial, causando taquicardia, alterando a pulsação e a frequência respiratória. Dessa forma, indivíduos ansiosos sofrem maiores expectativas e podem apresentar variações em seus sinais vitais, exigindo que o profissional os monitore mais rigorosamente99 Costa RR, Silva PVR, Iwaki Filho L, Takeshita WM, Farah GJ. Avaliação da influência da expectativa e da ansiedade do paciente odontológico submetido a procedimento cirúrgico a partir de seus sinais vitais. RevOdontol UNESP [Internet]. 2012 [citado 2016 apr. 25];41(1):43-7. Disponível em: Disponível em: http://www.revodontolunesp.com.br/files/v41n1/v41n1a08.pdf
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. Além da monitorização, intervenções com o propósito de reduzir a ansiedade podem e devem ser aplicadas, como é o caso da música, uma intervenção recomendada pela NursingInterventionsClassification(NIC), definida como “o uso da música para ajudar a alcançar uma mudança específica de comportamento, sentimento ou fisiologia”1010 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM. Classificação das intervenções de enfermagem-NIC. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010..

Pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP) em tratamento ambulatorial podem experimentar ansiedade devido a diversos fatores. Os CCP englobam o câncer de lábio, cavidade oral, orofaringe, nasofaringe, hipofaringe, fossas nasais, seios paranasais, laringe e glândulas salivares1111 Rodrigues AB, Firmeza MA. Câncer de cabeça e de pescoço. In: Rodrigues AB, Oliveira PP. Oncologia para enfermagem. São Paulo: Manole; 2016. p. 173-94.. Em termos epidemiológicos, existe estimativa brasileira realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) de 596 mil novos casos diagnosticados da doença para o biênio 2016-20171212 Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2016: incidência de câncer no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2016 [citado 2016 fev. 02]. Disponível em: Disponível em: http://www.inca.gov.br/wcm/dncc/2015/estimativa-2016.asp
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.Pela sua localização anatômica, esses cânceres podem promover alterações funcionais, relacionadas comalimentação, respiração, comunicação, podendo afetar, entre outras esferas, a interação social. As diferentes formas de tratamento geram, ainda, a possibilidade de várias complicações, como xerostomia, cáries de irradiação, osteorradionecrose, mucosite, podendo comprometer funções psicossociais significativas para o paciente e sua família1313 Sommerfeld CE, Andrade MGG, Santiago SM, Chone CK, Carvalho GM, Aquino Y, et al. Qualidade de vida em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço. 2012;41(4):172-7. .

Entre os diferentes tratamentos amplamente utilizados para o câncer de cabeça e pescoço estão a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia. As cirurgiasa que estes pacientes têm que ser submetidos geram comprometimento na fala, mastigação e deglutição, alteração do paladar, edema devido à retirada de gânglios linfáticos, dentre outros, acarretando marcada diminuição da qualidade de vida1414 Souza FRN, Barbosa GS, Prado GM, Schweitzer CM, Gaetti-JardimJúnior E. Quality of life of patients undergoing radiotherapy for treating malignant head and neck lesions. Arch Health Invest. 2013;2(5):26-33. -1515 Morales Manterola LM. Music therapy and medicine: music therapy in the hospital. Rev HospItal B Aires [Internet]. 2013 [citado 2016 abr. 25];33(1):9-12. Disponible en: Disponible en: http://www.hospitalitaliano.org.ar/archivos/noticias_attachs/47/documentos/14572_4-9-12-musicoterapia_moralesm-ultimo.pdf
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. Somando-se a esses fatores, o câncer é uma doença que gera modificações na qualidade de vida, podendo causar depressão e ansiedade66 Carvalho CC, Chaves ECL, Iunes DH, Simão TP, Grasselli CSM, Braga CG. Effectiveness of prayer in reducing anxiety in cancer patients. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];48(4):683-9. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n4/0080-6234-reeusp-48-04-683.pdf
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,88 Costa AIS, Reis PED. Complementary techniques to control cancer symptoms. Rev Dor[Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];15(1):61-4. Available from:Available from:http://www.scielo.br/pdf/rdor/v15n1/en_1806-0013-rdor-15-01-0061.pdf
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, a qual pode influenciar no domínio da própria vida e no tratamento66 Carvalho CC, Chaves ECL, Iunes DH, Simão TP, Grasselli CSM, Braga CG. Effectiveness of prayer in reducing anxiety in cancer patients. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];48(4):683-9. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n4/0080-6234-reeusp-48-04-683.pdf
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,1515 Morales Manterola LM. Music therapy and medicine: music therapy in the hospital. Rev HospItal B Aires [Internet]. 2013 [citado 2016 abr. 25];33(1):9-12. Disponible en: Disponible en: http://www.hospitalitaliano.org.ar/archivos/noticias_attachs/47/documentos/14572_4-9-12-musicoterapia_moralesm-ultimo.pdf
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.

Paralelamente, o atendimento ambulatorial pode gerar ansiedade relacionada com expectativa de comunicação de más notícias e desinformação dos procedimentos pelos profissionais envolvidos na assistência ambulatorial.Muitos dos pacientes atendidos apresentam alto nível de estresse, independentemente do grau de complexidade da doença1616 Sampaio CEP, Costa TMN, Araújo D, Santoro DC. Mecanismos de enfrentamento desencadeados por pacientes em situações estressoras: cirurgia ambulatorial Rev Enferm UERJ [Internet]. 2013 [citado 2016 abr. 25];21(4):515-20. Disponível em: Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a16.pdf
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Oferecer uma assistência digna e humanizada a pessoas acometidas por câncer é fundamental, uma vez que o adoecimento por uma doença oncológica não se restringe à dimensão física. Assim, minimizar o sofrimento e as consequências trazidas pela doença e seu tratamento é importante e, nesse contexto, o enfermeiro deve analisar seu papel, procurar identificar alterações e buscar medidas intervencionistas para sua redução, como é o caso da ansiedade. Diante dos benefícios relatados da música na redução da ansiedade, pretendeu-se investigar a sua influência na redução da ansiedade e parâmetros vitais de pacientes acometidos por CCP em tratamento ambulatorial, visto que esse cenário ainda é pouco estudado na especialidade.

Método

Trata-se de um ensaio clínico controlado, randomizado. O estudo foi desenvolvido em um ambulatório para tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço de um hospital universitário do estado do Ceará, Brasil. Referido ambulatório atende pacientes em tratamento pós-cirúrgico, radioterápico ou quimioterápico.

A população foi composta por pacientes em acompanhamento ambulatorial e que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: comcâncer de cabeça e pescoço em período pós-cirúrgico mediato, em tratamento quimioterápico ou radioterápico; com idade superior a 18 anos, alfabetizados, com pontuação na escala de Glasgow igual a 15 e acuidade auditiva preservada mediante testes propedêuticos (Teste de Weber e Teste de Rinne).

Foram excluídos os pacientes que tivessem utilizado ansiolíticos no período de até 24 horas antes d aplicação da música e aqueles com câncer de tireoide, devido a comportamento biológico tumoral extremamente diferente dos outros sítios anatômicos descritos. Indivíduos que se encontravam em tratamento paliativo também foram excluídos.

No cálculo de amostra, para comparação de médias entre o grupo controle e ogrupo experimental, com grau de confiança de 95% e poder estatístico de 80%, considerando-se uma diferença mínima a ser detectada de 5 pontos na variável desfecho, adotou-se que para este estudo uma quantidade de 38 pacientes seria eficaz. No entanto, objetivou-se perfazer um número superior para maior eficácia, ou seja, 40 pacientes.

Para aqueles que cumpriram os critérios de inclusão, foi feito o processo de randomização por meio da tabela de números aleatórios gerada no programa Epi-Info 7.1.4. Ressalta-se que para garantir a ocultação da alocação dos participantes, a sua designação só foi de conhecimento do aplicador após a abertura de envelope devidamente lacrado, no qual constava a condição selecionada para aquele participante.

Com base nesse procedimento e após a designação dos participantes para cada um dos grupos (Grupo Controle ‒ GC, e Grupo Experimental ‒ GE), realizaram-se as etapas da pesquisa, que envolveram aferição dos sinais vitais e aplicação de instrumentos e da música para o GE. Após a realização da manipulação experimental, realizou-se uma segunda mensuração (reteste) na qual foram novamente aferidas as medidas anteriormente relatadas.

A coleta de dados ocorreu no período de março a junho de 2015. Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos: o primeiro contendo dados sociodemográficos e clínicos, o segundo foi a escala autoaplicável STAI/IDATE (State-Trait Anxiety Inventory ‒ Inventário de Ansiedade Traço-Estado)1717 Spielberger C. Manual for the state-trait anxiety inventory. Palo Alto (CA): Consulting Psychologists Press; 1983., traduzida e adaptada para o Brasil1818 Biaggio A, Natalício LF, Spielberger CD. Desenvolvimento da forma experimental em português do inventário de ansiedade traço-estado (IDATE) de Spielberger. Arq Bras. 1977;29(3):31-44. . O STAI é constituído por duas escalas(ansiedade-traço e ansiedade-estado), sendo cada uma composta por 20 itens com assertivas para que os sujeitos descrevam como se sentem. Estado de ansiedade refere-se a um estado emocional transitório, caracterizado por sentimentos subjetivos ou tensão que podem variar em intensidade ao longo do tempo. Traço de ansiedade refere-se a uma disposição relativamente estável para responder ao estresse com ansiedade e uma tendência a perceber um maior leque de situações como ameaçadoras.

Para o presente estudo, utilizou-se da escala de ansiedade-estado (20 questões), uma vez que o objetivo era avaliar a ansiedade no momento do tratamento ambulatorial. As respostas foram pontuadas por escala de Likert, da seguinte forma: 1 ‒ quase nunca; 2 ‒ às vezes; 3 ‒ bastante; 4 ‒ quase sempre. O total da escala varia de 20 a 80 pontos. Dez perguntas possuem peso invertido na ansiedade-estado (perguntas: 1, 2, 5, 8, 10,11, 15, 16, 19, 20). O escore total é uma soma simples dos pesos normais e invertidos obtidos.Conforme recomendação de estudo anterior, que demonstrou que músicas relaxantes são as mais indicadas quando se deseja proporcionar sensações de tranquilidade, pois reduzem a agitação, a ansiedade e promovem relaxamento e prazer, optou-se pela aplicação desse tipo de música1919 Karagozoglu S, Tekyasar F, Yilmaz FA. Effects of music therapy and guided visual imagery on chemotherapy-induced anxiety and nausea vomiting. J ClinNurs. 2013;22(1-2):39-50. .

Utilizou-se,como intervenção musical,da música clássica que possui as características desejadas para o estudo: “Suave primavera” das quatro estações de Vivaldi2020 Bittencourt WS, Salício MA, Pinheiro SF, Lell D. O efeito da música clássica no alívio dador de crianças com câncer. UNICIÊNCIAS [Internet]. 2010 [citado 2016 mar. 25];14(1):95-111. Disponível em: Disponível em: http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/uniciencias/article/view/880
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. Além de apresentar 60 a 80 batimentos por minuto, o que vai ao encontro da afirmativa de que músicas com 60 a 70 batimentos por minuto contribuem para um efeito relaxante2020 Bittencourt WS, Salício MA, Pinheiro SF, Lell D. O efeito da música clássica no alívio dador de crianças com câncer. UNICIÊNCIAS [Internet]. 2010 [citado 2016 mar. 25];14(1):95-111. Disponível em: Disponível em: http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/uniciencias/article/view/880
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21 Su CP, Lai HL, Chang ET, Yiin LM, Perng SJ, Chen PW. A randomized controlled trial of the effects of listening to non-commercial music on quality of nocturnal sleep and relaxation indices in patients in medical intensive care unit. J AdvNurs. 2013;69(6):1377-89.
-2222 Araújo TC, Pereira A, Sampaio ES, Araújo M. Uso da música nos diversos cenários do cuidado: revisão integrativa. Rev Baiana Enferm[Internet]. 2014 [citado 2016 mar. 25];28(1):96-106. Disponível em: Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/6967/8712
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.Em seu primeiro movimento musical (Allegro), possui tonalidade Mi Maior e ritmo quaternário (4/4), no segundo movimento (Largo), a tonalidade altera-se para Dó Menor, e o ritmo muda para ternário (3/4), e em seu último movimento (AllegroPastorale), a tonalidade volta a ser Mi Maior, assim como o ritmo se torna novamente quaternário (12/8)2323 Bohumil MED. Teoria de música. 3ª ed. Brasília: Musimed; 1986..

A música foi aplicada com um aparelho MP3, uso de headphones, por um período de 30 minutos em sala reservada para essa finalidade. O volume foi controlado pelo participante, e nesse período, ele não teve contato com profissionais da saúde ou acompanhantes. A pesquisadora permaneceu próxima ao participante nos primeiros 5minutos e últimos 5 minutos de audição.

Os dados foram analisados no Software Statistical Package for Social Sciences(SPSS) versão 20.0. Para o cálculo do nível de ansiedade foi realizado o somatório de todos os itens da escala. Para verificar a significância estatística intragrupo e intergrupos, foi realizado o teste t de Student.

A aprovação ética foi obtida pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, sob o número1.108.036. Foram obedecidos todos os preceitos éticos de pesquisas nacionais e internacionais.

Resultados

A amostra constituiu-se por 40 pessoas com câncer de cabeça e pescoço. Foram avaliados para elegibilidade 55 pacientes. Destes, 11 não atenderam aos critérios de inclusão e quatro desistiram de participar.

A maioria dos participantes foi do sexo feminino (80,0%), com religião predominantemente católica, e idade variando entre 33 e 80 anos de idade.A distribuição por tipo de tratamento foi: cirurgia (47,5%), cirurgia associada à quimioterapia (25,0%), quimioterapia associada à radioterapia (12,5%), cirurgia, quimioterapia e radioterapia (7,5%), 5,0% exclusivamente quimioterapia.

Na escala de ansiedade-estado, quando comparados com os períodos pré e pós-intervenção, todos os participantes (100,0%) do grupo experimental apresentaram redução nos níveis de ansiedade mensurados. Isso representou uma redução média de 10,5 pontos entre os valores observados na primeira e na segunda aplicação (Figura 1).

Figura 1
Escores totais do STAI (subescala ansiedade-estado) na primeira e na segunda aplicação (grupo experimental)- Fortaleza, CE, Brasil, 2015

No GC, foi observado que, entre a primeira e a segunda mensuração, em 15,0% dos participantes houve um aumento, em 10,0% não houve alteração e em 75,0% houve uma diminuição nos níveis de ansiedade. Em termos gerais, observou-se uma redução média de três pontos entre os valores observados na primeira e na segunda aplicação.

Como constatado, ainda que a intervenção musical tenha sido realizada em apenas um dos grupos (GE), houve diminuição nas pontuações médias de ansiedade tanto para o GC quanto para o GE. Não obstante, quando comparadas as magnitudes dessas reduções, por meio do teste t de Student, foi possível verificar que os participantes alocados na condição experimental (Mdiferença =10,5; DPdiferença =3,72) apresentaram redução estatisticamente superior (t = 6,68; p< 0,001) no nível de ansiedade relatada, quando comparados com os participantes alocados na condição controle (Mdiferença = 3,00; DPdiferença = 3,41) (Tabela 1).

Tabela 1
Comparação da diferença média entre as pontuações em ansiedade-estado nos períodos pré e pós-intervenção para as condições controle e experimental -Fortaleza, CE, Brasil, 2015

Especificamente para participantes do GE, no que tange ao efeito da intervenção musical sobre o nível de ansiedade relatada, verificou-se que os níveis de ansiedade no período pós-intervenção (M = 34,9; DP = 3,29) foram estatisticamente inferiores (t = 12,68; p< 0,001) àqueles relatados em período anterior à intervenção (M = 45,4; DP = 4,58).Buscou-se, ainda,verificar os efeitos da intervenção musical quando considerada a categorização dos participantes quanto ao seu nível de ansiedade (baixa, moderada, elevada ou muito elevada), conforme a proposição original do instrumento.

Na primeira mensuração, 17 participantes da GC foram classificados com nível moderado de ansiedade, enquanto três com alto nível. Já na segunda mensuração, todos os 20 participantes dessa condição foram classificados com nível moderado de ansiedade. Nos pacientes do GE, houve semelhança da distribuição observada para o GC na primeira mensuração, no qual 17 participantes foram classificados com nível moderado e três foram classificados com alto nível de ansiedade. No entanto, após a intervenção (2ª mensuração), 11 participantes (55,0%) foram reclassificados com nível de ansiedade baixo, enquanto nove participantes (45,0%) apresentaram nível de ansiedade moderado.

Quanto aos parâmetros vitais, houve semelhança em relação aos níveis de ansiedade. Participantes expostos à intervenção musical, em geral, apresentaram redução em todos os parâmetros mensurados, pois 95,0% apresentaram redução da pressão arterial sistólica; 55,0% tiveram redução da pressão arterial diastólica; 100,0% tiveram redução da pulsação e em 85,0% houve redução da frequência respiratória (Figura 2). Isso representou uma diminuição média de 10,95 mmHg na pressão arterial sistólica; 3,85 mmHg na pressão arterial diastólica; 7,50 batimentos por minuto na frequência cardíaca e 2,25 nas inspirações por minuto.

Figura 2
Parâmetros vitais nos períodos pré e pós-intervenção (grupo experimental)-Fortaleza, CE, Brasil, 2015

Quando observados os parâmetros vitais dos participantes do GC, 55,0% apresentaram redução da pressão arterial sistólica; 30,0% tiveram redução da pressão arterial diastólica; 55,0% apresentaram redução da pulsação e 35,0% tiveram redução da frequência respiratória (Figura 3). Isso representou uma diminuição média de 2,75 mmHg na pressão arterial sistólica; 1,00 mmHg na pressão arterial diastólica; 1,05 batimentos por minuto e um aumento médio de 0,15 inspirações por minuto.

Figura 3
Parâmetros vitais nos períodos pré e pós-intervenção(grupo controle)- Fortaleza, CE, Brasil, 2015

Os participantes do GE obtiveram maior redução em todos os parâmetros observados, quando comparados com os participantes do GC. Para verificar diferença estatística, utilizou-se do teste t de Student (Tabela 2), o qual demonstrou que reduções observadas na condição experimental foram estatisticamente superiores às observadas na condição controle para pressão arterial sistólica (t=4,56; p<0,001), pulsação (t=6,15; p<0,001) e frequência respiratória (t=5,10; p< 0,001). Quanto à pressão arterial diastólica, não foi observada diferença significativa (t=1,47; p=0,14) entre o nível de redução ocorrido na condição controle e experimental.

Quando avaliados os participantes do GE isoladamente, comparando-se os períodos pré e pós-intervenção, foi observada uma redução estatisticamente significativa nos valores de pressão arterial sistólica (t = 7,13; p < 0,001), de pulsação (t = 7,71; p < 0,001) e de frequência respiratória (t = 6,78; p < 0,001) entre os dois períodos.

Tabela 2
Comparação da diferença dos parâmetros vitais entre os períodos pré e pós-intervenção para as condições controle e experimental -Fortaleza, CE, Brasil, 2015

Discussão

Os cânceres de laringe e de cavidade oral, os mais incidentes da região de cabeça e pescoço, têm incidência mundial de 455.805 casos, dos quais 78.958 ocorrem na região das Américas, local do estudo2424 World Health Organization; International Agency for Research Cancer. Globocan 2012. Estimated Cancer Incidence, Mortality and Prevalence Worldwide in 2012 [Internet]. Geneva: WHO; 2012 [cited 2016 Mar 25]. Available from: Available from: http://globocan.iarc.fr/Pages/fact_sheets_population.aspx
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. Nesta pesquisa predominou o sexo feminino, o que se deve, em parte, aos hábitos de tabagismo e etilismo, que vêm aumentando em ambos os sexos1212 Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2016: incidência de câncer no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2016 [citado 2016 fev. 02]. Disponível em: Disponível em: http://www.inca.gov.br/wcm/dncc/2015/estimativa-2016.asp
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.

Considerando-se os participantes do GE, foi notável a redução do estado de ansiedade, quando se comparou as médias nos períodos de pré-teste e pós-teste. Isso corrobora a literatura, quando esta mostra que a intervenção musical é capaz de produzir diversos efeitos terapêuticos, como a redução da dor, do estresse e da ansiedade, a promoção de conforto, relaxamento muscular, dentre outros2525 Silva VA, Leão ER, Silva MJP. Assessment of quality of scientific evidence on musicalinterventions in caring for cancer patients. Interface [Internet] (Botucatu). 2014 [cited 2016 Mar 25];18(50):479-92. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/icse/v18n50/en_1807-5762-icse-1807-576220130875.pdf
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.A pessoa em situação estressora, como no tratamento de um câncer, busca apoio em mecanismos de enfrentamento, como por exemplo, a família, uma crença ou escutar uma música que a acalme1616 Sampaio CEP, Costa TMN, Araújo D, Santoro DC. Mecanismos de enfrentamento desencadeados por pacientes em situações estressoras: cirurgia ambulatorial Rev Enferm UERJ [Internet]. 2013 [citado 2016 abr. 25];21(4):515-20. Disponível em: Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a16.pdf
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Quando se trata da ansiedade, foi possível perceber uma discreta, porém estatisticamente significativa redução da pontuação média no GC, no qual os participantes permaneciam em repouso por 30 minutos em uma sala, sem receber a intervenção musical. Esse efeito pode ser relacionado com a atenção dispensada pela pesquisadora ao indivíduo, que permaneceu próxima nos 5 minutos iniciais e 5 minutos finais. Uma abordagem calma e tranquilizadora, bem como uma escuta ativa reduzema ansiedade66 Carvalho CC, Chaves ECL, Iunes DH, Simão TP, Grasselli CSM, Braga CG. Effectiveness of prayer in reducing anxiety in cancer patients. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];48(4):683-9. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n4/0080-6234-reeusp-48-04-683.pdf
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Além disso, a prece é uma estratégia utilizada por algumas pessoas para suprir as necessidades espirituais66 Carvalho CC, Chaves ECL, Iunes DH, Simão TP, Grasselli CSM, Braga CG. Effectiveness of prayer in reducing anxiety in cancer patients. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];48(4):683-9. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n4/0080-6234-reeusp-48-04-683.pdf
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, tendo sido citada pelos participantes do GC. Estes relataram que durante os 30 minutos sem intervenção musical fez uso da religiosidade, podendo justificar a redução discreta da ansiedade ao analisar as médias desse grupo, já que todos possuíam algum tipo de religião.

Estudo que propôs e validou um modelo funcional de abordagem e qualificação do cuidado de enfermagem em um instituto de cancerologia da Colômbia identificou que na experiência de cuidado onde a cura nem sempre é possível, como no caso da oncologia, aparece um profundo senso de espiritualidade que une o ser com uma força superior que os ajuda a repensar suas relações consigo mesmos e com outras pessoas2626 Alarcón AM, Barrera-Ortiz L, Carreño SP, Carrillo GM, Farías RE, González G, et al. Development of a functional model of nursing care in cancer. InvestEducEnferm [Internet]. 2014 [cited 2016 Nov 17];32(2):206-15. Available from: Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/iee/v32n2/v32n2a03.pdf
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Quando se analisou os efeitos da intervenção musical, considerando-se a categorização dos participantes quanto aos níveis de ansiedade, os dados mostraram-se concordantes com a literatura88 Costa AIS, Reis PED. Complementary techniques to control cancer symptoms. Rev Dor[Internet]. 2014 [cited 2016 June 25];15(1):61-4. Available from:Available from:http://www.scielo.br/pdf/rdor/v15n1/en_1806-0013-rdor-15-01-0061.pdf
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. Quanto aos parâmetros vitais, no GC não foi possível identificar redução estatisticamente significante das médias apresentadas no período pré-teste e pós-teste.

No GE foi perceptível a redução estatística e clinicamente significante das médias de pressão arterial sistólica, pulsação e frequência respiratória, comparando-se os períodos pré e pós-teste. Esta redução concorda com estudo que afirma o efeito eficaz da música na redução desses parâmetros2727 Pichler A, Pichler M. Music therapy in cancer patients: fact or fiction? [editorial]. Future Oncol[Internet]. 2014 [cited 2016 Mar 25];10(15):2409-411. Available from: Available from: http://www.futuremedicine.com/doi/full/10.2217/fon.14.181
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. Outros estudos também obtiveram êxito na redução dos sintomas de ansiedade e nos parâmetros vitais, principalmente, na pressão arterial, frequência cardíaca e quimioterápico2828 Lin MF, Hsieh YJ, Hsu YY, Fetzer S, Hsu MC. A randomised controlled trial of the effect of music therapy and verbal relaxation on chemotherapy-induced anxiety. J ClinNurs. 2011;20(7-8):988-99. , e após cirurgia de mastectomia radical2929 Zhou K, Li X, Li J, Liu M, Dang S, Wang D, et al. A clinical randomized controlled trial of music therapy and progressive muscle relaxation training in female breast cancer patients after radical mastectomy: results on depression, anxiety and length of hospital stay. Eur J OncolNurs. 2015;19(1):54-9. .

Todos os profissionais de saúde precisam estar cientes das diversas estratégias eficazes que podem implementar para aumentar a qualidade de vida dos pacientes, por meio da música, da comunicação interpessoal eficaz e outros métodos, a fim de melhorar os resultados de saúde, além da prestação de cuidados de maneira segura.

A oportunidade de dialogar e usar a comunicação como suporte para o enfrentamento de ansiedade e medo relacionados com o tratamento oncológico foi evidenciada nas falas de pacientes de uma unidade de alta complexidade em oncologia3030 Rennó CSN, Campos CJG. Comunicação interpessoal: valorização pelo paciente oncológico em uma unidade de alta complexidade em oncologia.Rev Min Enferm [Internet]. 2014 [citado 2016 nov. 17];18(1):106-15. Disponível em: Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/912
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, sugerindo que esses doentes sentem essa necessidade.

Conclusão

Todos os participantes do GE apresentaram redução do estado de ansiedade. Dentre os que foram submetidos à intervenção musical, 85% foram classificados com nível moderado de ansiedade antes da aplicação da música. Após intervenção, a maioria(55%) foi classificada com nível de ansiedade baixa. Ademais, apresentaram redução estatisticamente significante em quase todos os sinais avaliados, comparando-se com o GC. Houve redução média de 10,95 mmHg na pressão arterial sistólica, 3,85 mmHg na pressão arterial diastólica, 7,50 batimentos por minuto na pulsação e 2,25 inspirações por minuto na frequência respiratória.

No GC houve diminuição com significância, estatística e clínica, discreta também em quase todos os parâmetros vitais, com média de 2,75 mmHg na pressão arterial sistólica, 1,00 mmHg na pressão arterial diastólica, 1,05 batimentos por minuto na pulsação e uma diminuição média de 0,15 inspirações por minuto na frequência respiratória.

Os resultados não podem ser generalizados para todas as instituições, pois o estudo foi conduzido em apenas uma instituição brasileira. Apesar dessa limitação, os resultados mostram-se relevantes para o conhecimento dos enfermeiros e para a prática sobre o uso da música no controle da ansiedade em ambiente de cuidado ambulatorial. Os enfermeiros devem observar problemas decorrentes da ansiedade, identificando alterações em sua prática clínica, bem como implementar estratégias para seu controle nas diversas esferas do cuidar em oncologia. O suporte organizacional eo treinamento para enfermeiros oncologistas são necessários para melhorar a aderência a essas estratégias.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    08 Ago 2016
  • Aceito
    13 Dez 2016
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