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Rede Brasileira de Enfermeiros para Enfrentamento da Resistência Antimicrobiana (REBRAN): trazendo o papel do enfermeiro da sombra para a luz

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a resistência antimicrobiana (RAM) em humanos e animais é uma das dez principais ameaças globais de saúde. As estimativas sugerem que, até 2050, poderão ocorrer anualmente até 10 milhões de mortes, afetando a economia e levando ainda mais pessoas para situações de pobreza(11. United Nations Environment Programme. (2023). Bracing for Superbugs: Strengthening environmental action in the One Health response to antimicrobial resistance. Geneva: UNEP.).

A pedra angular do Plano de Ação Global para controle da Resistência Antimicrobiana é o uso racional de antimicrobianos na perspectiva da Saúde Única(22. World Health Organization. WHO policy guidance on integrated antimicrobial stewardship activities. Geneva: WHO; 2021.). Além disso, o Plano de Ação Global, visa melhorar a sensibilização e a compreensão sobre a RAM, através de estratégias eficazes de comunicação, educação e formação. Uma estratégia importante direcionada para esse objetivo foi a organização da Campanha Global de Conscientização, conhecida como Semana Mundial de Combate à Resistência Antimicrobiana (WAAW), que acontece anualmente, todo mês de novembro, com o objetivo de aumentar a conscientização e a compreensão global sobre a RAM(33. World Health Organization. World Antimicrobial Awareness Week (WAAW) will now be World AMR Awareness Week. Geneva: WHO; 2023 [cited 2023 Nov 14]. Available from: https://www.who.int/news/item/06-06-2023-world-antimicrobial-awareness-week-(waaw)-will-now-be-world-amr-awareness-week
https://www.who.int/news/item/06-06-2023...
).

Alinhado às estratégias globais, o Brasil desenvolveu o Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência Antimicrobiana no Brasil (PAN-BR), que visa principalmente, o uso racional de antimicrobianos(44. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Plano de ação nacional de prevenção e controle da resistência aos antimicrobianos no âmbito da saúde única 2018-2022 (PAN-BR). Brasília: Ministério da Saúde; 2019.). Diretrizes renomadas reforçaram a necessidade de ações coordenadas para o uso racional de antimicrobianos, como o desenvolvimento de Programas de Gestão de Antimicrobianos - PGA. O PGA é definido como “intervenções coordenadas destinadas a melhorar e medir o uso apropriado de antimicrobianos, promovendo a seleção do regime ideal de antibióticos, incluindo dosagem, duração da terapia e via de administração”(55. Fishman N. Policy statement on antimicrobial stewardship by the Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA), the Infectious Diseases Society of America (IDSA), and the Pediatric Diseases Society (PIDS). Infect Control Hosp Epidemiol. 2012;33(4):322–7. doi: http://dx.doi.org/10.1086/665010. PubMed PMID: 22418625.
https://doi.org/10.1086/665010...
). Estratégias multidisciplinares, incluindo médicos, farmacêuticos, microbiologistas, intensivistas e enfermeiros têm sido sugeridas como as melhores práticas a serem adotadas para controle da RAM(66. American Nurses Association – ANA. Centers for Disease Control – CDC. Redefining the antibiotic stewardship team: recommendations from the American nurses association/centers for disease control and prevention workgroup on the role of registered nurses in hospital antibiotic stewardship practices. Silver Springs, MD: ANA; 2017.). No entanto, por razões desconhecidas, os enfermeiros ainda permanecem nas sombras e raramente aparecem na literatura tanto em relação às ações para controle da RAM, como para os PGA.

Os enfermeiros são identificados como intervenientes críticos nas estratégias para combate à RAM. Esses profissionais, representam a maior força de trabalho nos serviços de saúde, com influência significativa nos processos assistenciais, estando diretamente envolvidos na luta contra a RAM. Isto inclui a participação ativa na detecção precoce de casos de infecção, coleta de amostras, administração de antibióticos, monitorização do tratamento, eventos adversos e responsabilização quanto ao tratamento com antimicrobianos, no sentido de otimizar a utilização de agentes. Os enfermeiros estão em uma posição única para implementar estratégias de gestão de antimicrobianos e servir como um ponto central para a integração dos cuidados que influenciam diretamente a prescrição desses medicamentos(66. American Nurses Association – ANA. Centers for Disease Control – CDC. Redefining the antibiotic stewardship team: recommendations from the American nurses association/centers for disease control and prevention workgroup on the role of registered nurses in hospital antibiotic stewardship practices. Silver Springs, MD: ANA; 2017.99. World Health Organization. WHO competency framework for health workers’ education and training on antimicrobial resistance. Geneva: WHO; 2018 [cited 2023 Nov 14]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/who-competency-framework-for-health-workers%E2%80%99-education-and-training-on-antimicrobial-resistance
https://www.who.int/publications/i/item/...
). No entanto, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados, visando a plena sensibilização e envolvimento dos enfermeiros em atividades que podem contribuir para controle da RAM.

Durante o XVIII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar, em 2022, foi criada a Rede Brasileira de Enfermeiros para Enfrentamento da Resistência Antimicrobiana (REBRAN). A proposta da REBRAN é apoiar e fortalecer enfermeiros de diferentes instituições de saúde no combate à RAM, contribuindo para uma atuação efetiva nos PGA. A estratégia envolve a formação de um grupo de enfermeiros pesquisadores e profissionais de saúde brasileiros, tendo como parceiros a sociedade civil e representantes dos serviços de saúde, com o intuito de construir as pontes necessárias entre esses diferentes protagonistas, promovendo pesquisas e atividades educacionais de maneira integrada. De forma mais ampla, a proposta da REBRAN é estabelecer um grupo de cooperação técnica de enfermeiros em RAM, para incentivar discussões científicas sobre os temas, desenvolvimento de pesquisas na área e contribuição para a disseminação do conhecimento e engajamento dos enfermeiros para o enfrentamento dessa problemática no Brasil.

A REBRAN realiza reuniões bimestrais, nas quais os associados podem discutir pesquisas e conteúdos científicos relacionados à RAM, incluindo temas como os mecanismos de resistência antimicrobiana; ação dos antimicrobianos; reações adversas relacionadas ao uso de antimicrobianos; e estratégias gerais para o controle da RAM. A rede construiu canais de comunicação como e-mail, grupo de WhatsApp e redes sociais (Instagram e Twitter). Além disso, conteúdos sobre aspectos técnico-científicos têm sido publicados periodicamente nas redes sociais, para facilitar o acesso dos profissionais a evidências científicas atualizadas sobre o tema. Além disso, os membros da rede têm se apoiado em iniciativas para sensibilização e formação em relação à RAM nos serviços de saúde.

Atualmente, o grupo conta com 207 integrantes, provenientes de todas as cinco regiões brasileiras e de diversas áreas como hospitalar, ambulatórios, atenção primária à saúde, educação, entre outras.

No dia 27 de outubro de 2023, a REBRAN completou seu primeiro aniversário. As ações da rede têm sido bem-sucedidas, pois a cada reunião novos membros são agregados, demonstrando o interesse dos enfermeiros em fazer parte de uma iniciativa que possa trazer contribuições relevantes para essa área. Através da participação na REBRAN, os enfermeiros brasileiros estão levantando a voz, alavancando sua liderança e trazendo à tona o papel dos enfermeiros na luta contra a RAM. Acreditamos que esta iniciativa possa servir de modelo para outros países e inspirar enfermeiros em todo o mundo.

ENDEREÇOS DE REBRAN

E-mail: rebran.contato@gmail.com; Instagram: https://www.instagram.com/rebran2022/; ex-Twitter: https://x.com/rebran_?s=11&t=4IYVDC2MHkQCG0XeKhd38Q

REFERENCES

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  • 3.
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    Fishman N. Policy statement on antimicrobial stewardship by the Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA), the Infectious Diseases Society of America (IDSA), and the Pediatric Diseases Society (PIDS). Infect Control Hosp Epidemiol. 2012;33(4):322–7. doi: http://dx.doi.org/10.1086/665010. PubMed PMID: 22418625.
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    World Health Organization. WHO competency framework for health workers’ education and training on antimicrobial resistance. Geneva: WHO; 2018 [cited 2023 Nov 14]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/who-competency-framework-for-health-workers%E2%80%99-education-and-training-on-antimicrobial-resistance
    » https://www.who.int/publications/i/item/who-competency-framework-for-health-workers%E2%80%99-education-and-training-on-antimicrobial-resistance

Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Maria Amélia de Campos Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    03 Nov 2023
  • Aceito
    06 Nov 2023
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