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Avaliação da competência de idosos diabéticos para o autocuidado

Evaluación de la competencia de ancianos diabéticos para el autocuidado

Resumos

Estudo descritivo, de corte transversal e correlacional, que objetivou avaliar as competências de idosos com diabetes para o autocuidado, por meio da utilização da Escala para Identificação da Competência do Diabético para o Autocuidado, e os fatores pessoais associados ao resultado. A população do estudo foi composta por idosos cadastrados nas unidades básicas de saúde de Fortaleza, CE, Brasil. Da amostra, apenas 6% dos idosos foram considerados competentes para o autocuidado em diabetes e os fatores que se destacaram como influenciadores de baixa pontuação foram a baixa escolaridade e a diminuição da acuidade visual. Conforme os resultados, devido ao reduzido número de idosos considerados competentes para a prática do autocuidado, verifica-se a importância do desenvolvimento de ações de promoção da saúde direcionados para essa parcela da população, devendo-se estimular a prática do autocuidado, bem como avaliar as competências para execução da mesma, de modo a facilitar o direcionamento de ações de saúde.

Idoso; Diabetes mellitus; Autocuidado; Enfermagem em saúde pública


Estudio descriptivo, transversal, correlacional, objetivando evaluar la competencia de ancianos diabéticos para el autocuidado mediante la utilización de la Escala para Identificación de Competencia del Diabético para el Autocuidado, y los factores individuales asociados al resultado. La población se compuso de ancianos registrados en las unidades básicas de salud de Fortaleza-CE, Brasil. De la muestra, sólo 6% de los ancianos fueron considerados competentes para el autocuidado en diabetes, y los factores destacados como influyentes en la baja puntuación fueron: la baja escolarización y la disminución de la agudeza visual. Conforme los resultados, debido al escaso número de ancianos considerados competentes para practicar el autocuidado, se verifica la importancia del desarrollo de acciones de promoción de salud dirigidos a este segmento poblacional, haciéndose necesario estimular la práctica del autocuidado, así como evaluar las competencias para su ejecución, de modo tal de facilitar la orientación de acciones de salud.

Anciano; Diabetes mellitus; Autocuidado; Enfermería en salud pública


This descriptive, cross-sectional and correlational study aimed to assess the self-care competencies of senior citizens with diabetes using the Scale to Identify Diabetes Mellitus Patients' Competence for Self-Care and personal factors associated with it. The study population consisted of seniors registered in primary healthcare units in Fortaleza, CE, Brazil. Only 6% of the patients were considered to have diabetes self-care competence. Low educational level and decreased visual acuity were identified as factors that influenced these low scores. The results, which showed that a small number of seniors were considered competent to practice self-care, indicated the importance of developing health promotion activities targeted to this population, assessing skills and encouraging self-care practices to facilitate the planning of health interventions.

Aged; Diabetes mellitus; Self care; Public health nursing


ARTIGO ORIGINAL

Avaliação da competência de idosos diabéticos para o autocuidado* * Extraído da dissertação "Avaliação de competência de idosos diabéticos para o autocuidado", Universidade Federal do Ceará, 2009.

Evaluación de la competencia de ancianos diabéticos para el autocuidado

Marília Braga MarquesI; Maria Josefina da SilvaII; Janaína Fonseca Victor CoutinhoIII; Marcos Venícios de Oliveira LopesIV

IEnfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí. Fortaleza, CE, Brasil. marilia@ufpi.edu.br

IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. mjosefina@terra.com.br

IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. janainavictor@uol.com.br

IVEnfermeiro. Pós-Doutor pela Universidade de Valência. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. marcos@ufc.br

Endereço para correspondência Correspondência: Marília Braga Marques Av. João Pessoa, 4693 – Bloco 7 – Apto. 201 CEP 60425-813 – Fortaleza, CE, Brasil

RESUMO

Estudo descritivo, de corte transversal e correlacional, que objetivou avaliar as competências de idosos com diabetes para o autocuidado, por meio da utilização da Escala para Identificação da Competência do Diabético para o Autocuidado, e os fatores pessoais associados ao resultado. A população do estudo foi composta por idosos cadastrados nas unidades básicas de saúde de Fortaleza, CE, Brasil. Da amostra, apenas 6% dos idosos foram considerados competentes para o autocuidado em diabetes e os fatores que se destacaram como influenciadores de baixa pontuação foram a baixa escolaridade e a diminuição da acuidade visual. Conforme os resultados, devido ao reduzido número de idosos considerados competentes para a prática do autocuidado, verifica-se a importância do desenvolvimento de ações de promoção da saúde direcionados para essa parcela da população, devendo-se estimular a prática do autocuidado, bem como avaliar as competências para execução da mesma, de modo a facilitar o direcionamento de ações de saúde.

Descritores: Idoso. Diabetes mellitus. Autocuidado. Enfermagem em saúde pública.

RESUMEN

Estudio descriptivo, transversal, correlacional, objetivando evaluar la competencia de ancianos diabéticos para el autocuidado mediante la utilización de la Escala para Identificación de Competencia del Diabético para el Autocuidado, y los factores individuales asociados al resultado. La población se compuso de ancianos registrados en las unidades básicas de salud de Fortaleza-CE, Brasil. De la muestra, sólo 6% de los ancianos fueron considerados competentes para el autocuidado en diabetes, y los factores destacados como influyentes en la baja puntuación fueron: la baja escolarización y la disminución de la agudeza visual. Conforme los resultados, debido al escaso número de ancianos considerados competentes para practicar el autocuidado, se verifica la importancia del desarrollo de acciones de promoción de salud dirigidos a este segmento poblacional, haciéndose necesario estimular la práctica del autocuidado, así como evaluar las competencias para su ejecución, de modo tal de facilitar la orientación de acciones de salud.

Descriptores: Anciano. Diabetes mellitus. Autocuidado. Enfermería en salud pública.

Introdução

O diabetes mellitus (DM) é uma das doenças mais prevalentes, dentre as patologias crônico-degenerativas que se manifestam no idoso, exigindo cuidados contínuos na utilização de fármacos, podendo, ainda, acarretar prejuízos à capacidade funcional, autonomia e qualidade de vida(1).

Um dos aspectos relevantes para o tratamento do DM é o autocuidado, pois beneficia o estado de saúde, reduzindo custos decorrentes de internações e complicações. O autocuidado exige mudanças de comportamento – em função das quais, somadas às orientações e ao uso de medicamentos, se espera a estabilidade da doença, além de ser ação que envolve parceria entre o profissional de saúde e o portador(2).

O autocuidado pode ser compreendido como uma prática executada pelos indivíduos, em seu próprio benefício, para a manutenção da vida e do bem-estar, sendo elemento-chave na manutenção adequada de cuidados em patologias crônicas passíveis de avaliação. Para analisar a competência necessária ao desenvolvimento do regime de autocuidado dos diabéticos, foi desenvolvido o instrumento denominado Escala para Identificação da Competência do Diabético para o Autocuidado (ECDAC), que utiliza o conceito de competência da teoria de Orem(3).

A ECDAC é composta por 27 itens divididos em três subescalas, em que se avaliam as capacidades física, mental e motivacional para o autocuidado em diabetes(4).

A capacidade do indivíduo para o engajamento no autocuidado está condicionada a fatores como: idade, estado de desenvolvimento, experiência de vida, orientação sociocultural, saúde e recursos disponíveis(3). Nesse sentido, as ações dos profissionais de saúde na atenção ao portador de DM devem respeitar os fatores citados. Em relação à idade, é relevante pontuar que idosos portadores de DM devem participar de forma ativa na manutenção do tratamento, sendo corresponsáveis no processo de atenção à saúde, desenvolvendo competências para ações de autocuidado. O enfermeiro, no cuidado dos portadores de DM, necessita identificar competências ou déficits de autocuidado, além das características pessoais, a fim de realizar adaptações no tratamento, conforme a competência identificada(5).

Entende-se competência como a capacidade ou habilidade do indivíduo para desempenhar atividades específicas, tomar decisões frente a determinados fatos, eventos ou acontecimentos(3). A avaliação das competências dos idosos para o autocuidado em DM facilita o direcionamento da prática assistencial e a elaboração dos planos de ação de enfermeiros e demais profissionais de saúde.

MÉTODO

Estudo exploratório, de corte transversal, realizado no período de fevereiro a outubro de 2009 em seis Centros de Saúde da Família (CSF), escolhidos por conglomerados (conjunto de unidades elementares da população) em Fortaleza, Ceará. A população do estudo foi composta por idosos portadores de DM acompanhados e cadastrados nos Centros de Saúde da Família.

A amostra foi constituída de 100 idosos que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 60 anos, cadastro na unidade de saúde com diagnóstico confirmado de diabetes mellitus tipo 2; realização de tratamento farmacológico ou não farmacológico há pelo menos quatro anos. Foram excluídos os idosos impossibilitados de responder às perguntas; portadores de doenças e condições relacionadas com o estado cognitivo; acentuada dependência funcional que comprometesse o comportamento de autocuidado.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram: formulário para levantamento de variáveis sociodemográficas (idade, grau de escolaridade, quantidade de pessoas que residem no domicílio, renda familiar) e clínicas (tempo de diagnóstico, tipo de tratamento para diabetes, realização de atividade física e a ECDAC).

A ECDAC é composta por três subescalas: I – capacidade física, que avalia a acuidade visual, a sensibilidade de cores, a destreza manual e a sensibilidade de membros inferiores; II – capacidade mental, que avalia a leitura, a atenção, a memória e o conhecimento sobre diabetes; e III – capacidade motivacional, que avalia autoestima e motivação para o autocuidado. Nas subescalas I e II, as respostas variam de 1 a 4, sendo que 1 representa o pior grau e 4 o melhor grau de desenvolvimento da competência avaliada para o autocuidado em diabetes. Já na subescala III, as opções de resposta são classificadas como sempre (4), muitas vezes (3), poucas vezes (2) e nunca (1).

Utilizou-se, juntamente com a ECDAC, um guia para aplicação da referida escala. Tendo em vista as mudanças relacionadas ao atendimento clínico ao diabético na contemporaneidade, foram necessárias algumas adaptações. Para avaliação da acuidade visual na versão original, utilizou-se um cartão optométrico, o qual foi substituído pelo Cartão de Jaeger, instrumento indicado pelo Ministério da Saúde; já para avaliar sensibilidade de cores, substituiu-se a prova de Holgreen, que utiliza novelos de lã, por cartões de cores básicas.

A classificação do indivíduo como apto para subescalas I e II seguiu a seguinte pontuação: subescala I – capacidade física, 11 a 16 pontos; subescala II – capacidade mental, 25 a 44 pontos.

Com relação à subescala III, utilizaram-se os seguintes parâmetros(6): 1) os indivíduos que obtivessem pontuação entre 11 e 30 pontos seriam considerados com déficit de motivação para o autocuidado; 2) os que obtivessem pontuação entre 31 e 39 pontos seriam considerados com motivação para o autocuidado; 3) os indivíduos que obtivessem pontuação de 40 a 44 pontos seriam considerados altamente positivos em relação à motivação.

Para a pontuação total da ECDAC, considerou-se pontuação satisfatória para o autocuidado quando a soma dos valores das três subescalas estivesse entre 78 e 108 pontos.

A coleta de dados foi realizada de março a julho de 2009, por meio de visita domiciliária, realizada por uma enfermeira e sete alunos do curso de graduação em enfermagem devidamente treinados.

Os dados foram organizados em tabelas e analisados de forma descritiva e inferencial, com o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 14.0. Para as análises inferenciais, utilizaram-se os testes U de Mann-Whitney e o teste de Kruskal-Wallis.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob número de protocolo 17/09. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Dos idosos do estudo, 76% eram mulheres, 43% casados e 36% viúvos; destes, 77% eram do sexo feminino, média de idade de 71 anos (desvio-padrão = 6,4 anos). Quanto à escolaridade, 37% eram analfabetos, 52% concluíram o ensino fundamental e 2% o ensino superior. Em relação à renda familiar, 36% recebiam de 1 a 2 salários mínimos. Quanto à ocupação, 73% eram aposentados. No que diz respeito à moradia, 5% moravam sozinhos.

No tocante ao DM, o tempo de diagnóstico variou de quatro a 46 anos, com média de 10 anos (desvio-padrão = 6,9 anos); 88% dos portadores utilizavam somente antidiabético oral e 2% insulina NPH. No concernente à ajuda de outras pessoas para o tratamento, 55% não recebiam e 30% recebiam dos filhos. A dieta prescrita era obedecida por 40%, enquanto 9% não a seguiam por razões financeiras. A caminhada como atividade física era realizada por 64,2%; hidroginástica, 17,9%; e outras atividades, 17,9%.

Quanto aos resultados da ECDAC, apenas 6% foram classificados como competentes para o autocuidado, com média de 69,6 pontos e desvio-padrão de 6,95. Já quando analisadas separadas, o percentual de competentes variou conforme a subescala. Na subescala I, 100% foram considerados como competentes, a pontuação média foi de 14,44 e desvio-padrão de 1,96. Na subescala II, 38% apresentaram-se competentes, média de 23,2 e desvio-padrão de 5,72. Na subescala III, 31% apresentaram déficit de motivação para o autocuidado e 69% demonstraram média motivação para o autocuidado. A média de pontuação obtida foi de 31,98 e o desvio-padrão de 3,98.

Na subescala I, em relação à avaliação da visão, 35% obtiveram pontuação 2, ao identificar apenas os pontos de J3 a J6 do cartão de Jaeger, a 35 cm de distância, o que representou comprometimento da acuidade visual, e 30% identificaram todos os pontos. No quesito sensibilidade às cores, 92% conseguiram distinguir e identificar a cor dos cartões apresentados. Quanto à sensibilidade dos pés e destreza manual, 92% e 97% apresentaram resultados satisfatórios, respectivamente.

Na subescala II, no item capacidade de leitura, 47% conseguiram ler o texto fluentemente. Já em relação à atenção e memória, quando solicitados a repetir a ordem de sete números, 60% repetiram os números com mais de um erro. Quanto ao conhecimento sobre o diabetes, 33% responderam corretamente a pelo menos dois itens sobre a doença; em relação aos métodos de exame para identificar anormalidades e controlar o diabetes, 57% identificaram pelo menos um dos métodos mais utilizados.

Ainda na subescala II, com relação ao julgamento de ações referentes ao diabetes e conceitualizações, 38% não identificaram sinais de hipoglicemia. Em relação às principais situações que podem resultar na hipoglicemia, 68% responderam que não sabiam e 44% não conseguiram identificar os sinais de hipoglicemia. Não foi identificado nenhum sintoma diabético (43%), e 46% não sabiam o que fazer quando apresentassem tais sinais. A Tabela 1 expõe os resultados associados na subescala III.

Referente à investigação de ligações entre os resultados da ECDAC e as variáveis socioeconômicas e clínicas, observou-se associação estatisticamente significante com as variáveis escolaridade e dificuldade visual.

A associação entre a ECDAC e o grau de escolaridade registrou diferença estatisticamente significante (p<0,05) com a subescala I (p=0,03) e a subescala II (p=0,001). Na subescala II, registrou-se diferença estatisticamente significante em cinco dos 11 itens que a mesma escala abordava: capacidade de leitura (p=0,000), conhecimento sobre diabetes (p=0,001); métodos de tratamento do diabetes (p=0,006), situações que levam ao aumento do açúcar no sangue (p=0,001); capacidade de atenção e memória (p=0,024). Já na subescala III, não houve significância estatística em nenhum dos itens relacionados.

Tabela 2

Ocorreu também associação entre dificuldade visual e a ECDAC (p=0,017). Quanto às subescalas, verificou-se associação com a subescala I (p=0,003); na subescala II, somente o item Em relação às principais situações que podem levar o diabético a ter aumento de sangue no corpo (p=0,029); quanto à subescala III, observou-se associação com o item Eu me considero um peso (p=0,022).

Tabela 3

Discussão

As características socioeconômicas e clínicas assemelharam-se a outros estudos com a mesma população, prevalecendo o sexo feminino, o baixo nível de escolaridade, o maior número de aposentados com renda familiar mensal inferior a media nacional(7-9).

Neste estudo, a competência para o autocuidado em relação aos três componentes da ECDAC foi observada em apenas 6% dos idosos. Este resultado suscita várias possibilidades, no entanto, duas são prioridades. Primeiro, a necessidade da realização de intervenções no contexto clínico que assegure melhor competência para o autocuidado desses clientes e, segundo, a exigência por parte dos profissionais envolvidos em executar tais intervenções, pois é necessário conhecimento em habilidades de comunicação, mudança de comportamento, educação em saúde e aconselhamento(10).

Portanto, dentre os profissionais de saúde, o enfermeiro, historicamente, vem desenvolvendo estudos e pesquisas para incrementar o autocuidado em seus clientes, sendo elemento-chave nas ações dessa natureza com portadores de DM(11).

A avaliação por subescala demonstrou que a capacidade física em relação à acuidade visual estava alterada em muitos idosos, todavia não se pôde afirmar que tais alterações eram decorrentes exclusivamente do DM, já que no idoso, devido ao processo de envelhecimento, ocorrem outras patologias que envolvem a visão, como exemplo a catarata(12). As alterações visuais dos idosos deste estudo comprometeram as ações de autocuidado, particularmente, quanto à administração de antidiabéticos e insulina(13).

Destaca-se que a manutenção da sensibilidade dos pés deve ser aspecto explorado durante as ações de promoção da saúde para a manutenção dessa condição. A destreza manual preservada, na maioria dos idosos, garante habilidade, especialmente, em pacientes insulinodependentes, tanto na técnica de administração da insulina quanto na dosagem adequada.

Na subescala II, 38% dos pacientes obtiveram pontuação satisfatória para considerar-se competente no aspecto da capacidade mental, fato justificado pelo grau de escolaridade, já que nessa subescala se exige teste de leitura, juntamente com os déficits referentes aos aspectos cognitivos que são avaliados na memorização de números.

A subescala II aduziu, ainda, o conhecimento sobre o diabetes, a sintomatologia e os métodos de exame. Os resultados do estudo apontaram para um déficit de conhecimento desses aspectos. Em vista disso, a literatura recomenda que os portadores de doenças crônicas tenham suporte quanto ao conhecimento de sua patologia, especialmente, para garantir ações de autocuidado, sendo os profissionais de saúde os responsáveis por facilitar esse conhecimento, devendo fazer parte integrante do plano terapêutico informações acerca da doença(14-17).

A pontuação dos idosos, referente à subescala III, distribuiu-se em déficit de motivação para o autocuidado. Os motivos para os idosos com diabetes não apresentarem motivação para o autocuidado em diabetes podem estar associados à doença crônica. No caso de doenças crônicas, que são inicialmente virtuais, sem sintomas, é justamente que, em alguns casos, uma intervenção pode reverter ou limitar a extensão dos problemas. Nesse estado, percebido como não doença, torna-se difícil motivar o paciente a interessar-se por aspectos preventivos, uma vez que não sente necessidade, pois os sintomas (ou a ausência deles) não estão relacionados a nenhum fenômeno entendido como doença(18).

A desmotivação é considerada um dos maiores problemas para a não adesão ao tratamento para doenças crônicas, pois, se o doente não se encontra motivado para executar cuidados relacionados ao tratamento, dificulta o andamento eficaz do tratamento e a minimização de complicações relacionadas às patologias crônicas.

A construção da motivação intrínseca de um paciente reflete-se na importância percebida da aderência e reforça a construção de habilidades de autocuidado. Estes são os alvos do tratamento que devem ser somados, simultaneamente, com o tratamento farmacológico, tendo reflexo na melhoria da adesão(19).

a investigação da associação entre as variáveis sociodemográficas e clínicas com a ECDAC revelou que, dentre as três subescalas, a subescala II, referente à capacidade mental, foi a que sofreu maior influência tanto da escolaridade quanto do déficit de acuidade visual. Assim, fica elucidado que a escolaridade tem importante papel no conhecimento sobre as doenças, suas formas de prevenção e tratamento, aspecto que desperta para a necessidade de adequar as orientações e informações referentes ao DM em idosos com baixa escolaridade, pois compromete a competência para o autocuidado. O profissional de saúde deverá desenvolver estratégias, respeitando as potencialidades e limitações dos clientes, utilizando linguagem adequada e meios que facilitem a compreensão das orientações e ações de educação em saúde(20-22).

Já em relação à acuidade visual, há itens que sofreram sua influência, já que identificou a capacidade de leitura, o conhecimento sobre DM e suas complicações, itens também influenciados pela baixa escolaridade, sendo necessária cautela entre uniformizar ou particularizar intervenções de cunho eminentemente educativo(10).

Relevante esclarecer que o somatório dessas duas variáveis (escolaridade e acuidade visual) gera situação de cuidado, no contexto clínico, bastante complexa, exigindo dos profissionais envolvidos intervenções específicas e individualizadas.

Conclusão

A ECDAC mostrou-se instrumento relevante para a avaliação de competências para o autocuidado em diabetes, direcionando as ações de prevenção de complicações futuras. Todavia, os idosos foram classificados como não competentes para ações de autocuidado, resultado que enfatiza a importância do desenvolvimento de ações de promoção da saúde direcionadas para essa parcela da população, tendo como premissa a avaliação de competências para o cuidar de si.

Recomenda-se que pesquisadores, enfermeiros e demais profissionais de saúde utilizem a ECDAC na atenção primária e nos demais níveis de atenção à saúde, pois, somente com a adesão de novos pesquisadores em diferentes cenários de prática, pode-se verificar a viabilidade da utilização do instrumento de avaliação das competências de diabéticos para o autocuidado.

Neste estudo, percebeu-se que a relação entre os fatores pessoais e a competência para o autocuidado em diabetes é significativa e deve ser considerada nas ações e intervenções dos profissionais de saúde para a promoção da assistência de saúde com abordagem biopsicossocial.

Acredita-se, ainda, que a relevância da avaliação de competências para o autocuidado em diabetes poderá minimizar as manifestações de eventos considerados preveníveis, melhorando a assistência à saúde e a qualidade de vida dos portadores de diabetes mellitus.

Recebido: 18/02/2012

Aprovado: 17/08/2012

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  • Correspondência:

    Marília Braga Marques
    Av. João Pessoa, 4693 – Bloco 7 – Apto. 201
    CEP 60425-813 – Fortaleza, CE, Brasil
  • *
    Extraído da dissertação "Avaliação de competência de idosos diabéticos para o autocuidado", Universidade Federal do Ceará, 2009.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Abr 2013

    Histórico

    • Recebido
      18 Fev 2012
    • Aceito
      17 Ago 2012
    Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
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