Indicadores de sustentabilidade hospitalar e redução de impactos socioambientais: uma revisão de escopo

RESUMO

Objetivo:

Sintetizar o conhecimento acerca dos indicadores de sustentabilidade hospitalar e evidências de redução do impacto socioambiental.

Método:

Revisão de literatura, do tipo scoping review, utilizando as bases de dados Pubmed, Science Direct, Scielo e Lilacs. Foram incluídos estudos com recorte temporal de 10 anos, publicados em qualquer idioma, que abordassem indicadores de sustentabilidade hospitalar e evidências de redução do impacto socioambiental.

Resultados:

Um total de 28 artigos foram incluídos, a maioria teve como tipo de estudo a pesquisa aplicada, publicados em 2012, no idioma inglês. Os estudos demonstraram maneiras de economizar água e energia, bem como, formas de monitorar e mitigar o impacto de atividades relacionadas a efluentes, resíduos e emissões. Todos os estudos tinham o trabalho da enfermagem envolvido de forma direta ou indireta na sustentabilidade hospitalar.

Conclusão:

As possibilidades de gerar menos impacto ao meio ambiente e aumentar a economia/eficiência de um hospital são inúmeras. Há de se levar em consideração as particularidades de cada hospital e envolver os trabalhadores, em especial a enfermagem.

DESCRITORES
Conservação dos Recursos Naturais; Meio Ambiente; Desenvolvimento Sustentável; Hospitais; Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

ABSTRACT

Objective:

To synthesize knowledge about hospital sustainability indicators and evidence of reduced socio-environmental impact.

Method:

Literature scoping review using Pubmed, Science Direct, Scielo and Lilacs databases. Studies in a time frame of 10 years, addressing hospital sustainability indicators and evidence of reduced socio-environmental impact published in any language were included.

Results:

A total of 28 articles were included, most were applied research, published in 2012, in English. Studies showed ways to save water and energy, as well as ways to monitor and mitigate the impact of activities related to effluents, waste and emissions. All studies had nursing work directly or indirectly involved in hospital sustainability.

Conclusion:

The possibilities of generating less impact on the environment and increasing the economy/efficiency of a hospital are countless. The particularities of each hospital must be taken into account and workers, especially nurses, should be involved.

Conservation of Natural Resource; Environment; Sustainable Development; Hospital; Sustainable Development Indicator

RESUMEN

Objetivo:

Sintetizar conocimientos sobre indicadores de sostenibilidad hospitalaria y evidencias de reducción del impacto socioambiental.

Método:

Revisión de literatura, scoping review, utilizando las bases de datos Pubmed, Science Direct, Scielo y Lilacs. Se incluyeron estudios con un horizonte temporal de 10 años, publicados en cualquier idioma, que abordaran indicadores de sostenibilidad hospitalaria y evidencias de reducción del impacto socioambiental.

Resultados:

Se incluyeron un total de 28 artículos, la mayoría de investigación aplicada, publicados en 2012, en inglés. Los estudios mostraron formas de ahorrar agua y energía, así como formas de monitorear y mitigar el impacto de las actividades relacionadas con efluentes, desechos y emisiones. Todos los estudios tenían trabajo de enfermería involucrado directa o indirectamente en la sostenibilidad del hospital. Conclusión: Las posibilidades de generar un menor impacto en el medio ambiente y aumentar la economía/eficiencia de un hospital son innumerables. Hay que tener en cuenta las particularidades de cada hospital y se debe involucrar a los trabajadores, especialmente a los enfermeros.

DESCRIPTORES
Conservación de los Recursos Naturales; Ambiente; Desarrollo Sostenible; Hospitales; Indicadores de Desarrollo Sostenible

INTRODUÇÃO

A mudança climática é um dos maiores perigos à saúde do século XXI. Ela está afetando a saúde de muitas pessoas, inclusive causando mortes por doenças relacionadas a eventos climáticos extremos como tempestades, ondas de calor e inundações, doenças transmitidas por vetores, prejuízos nos sistemas alimentares, entre outros(¹). Diante desse cenário, todas as indústrias precisam desenvolver estratégias para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e outros poluentes(²). Dessa forma, há um crescente interesse por temáticas relacionadas à sustentabilidade ambiental nas empresas, principalmente nos hospitais, que são considerados grandes poluidores do meio ambiente e isso reflete na qualidade de vida e saúde da população(³).

Os serviços de saúde do Reino Unido, por exemplo, são responsáveis por 3,5% do total de GEE emitidos no mundo e mais da metade destes é causada indiretamente pelo consumo de produtos farmacêuticos e dispositivos médicos, enquanto nos Estados Unidos, esses mesmos serviços são responsáveis por 10% de emissões de GEE e outros poluentes atmosféricos(⁴).

Por isso, os profissionais de saúde de todo o mundo precisam ter mais conhecimento e estar conscientes sobre seu trabalho e em relação aos gastos excessivos de materiais e às implicações das mudanças climáticas na saúde pública(⁵), pois a poluição do meio ambiente está levando a um aumento das temperaturas médias, aumento do nível do mar, mudanças drásticas dos eventos climáticos, piora da qualidade do ar, exposição a morbimortalidade relacionada ao calor, aumento de casos de câncer de pele, além de efeitos prejudiciais na saúde mental(⁶).

Os trabalhadores na linha de frente dessa crise de saúde, têm sido desafiados por novas patologias e precisam responder às novas necessidades de saúde da população(⁷), como atender as necessidades dos usuários de forma otimizada, cumprir os requisitos legais, causar o mínimo de impactos ao sistema e manter a organização sustentável. Para melhor compreender esses requisitos, os gestores utilizam diversos indicadores a fim de conhecerem a realidade da sua instituição, mas não somente isso. É preciso difundir, nos setores, conceitos, práticas e ações sustentáveis na rotina da organização(⁸).

O termo indicador significa estimar, mostrar, apontar, e pode ser aplicado em diversos cenários(⁹). Os indicadores de sustentabilidade passaram a ser utilizados, a partir da conferência Rio-92, como ferramentas de mensuração, com o intuito de monitorar, avaliar e medir a situação atual de determinada sociedade e, a partir da análise destes, propor ações que promovam a sustentabilidade por meio de reflexões entre o que foi planejado e executado(¹⁰).

Atualmente não existem indicadores que avaliem de forma multidimensional a sustentabilidade dos hospitais, porém alguns estudos sugerem o uso de indicadores sob a ótica de cinco dimensões: estratégica, econômica, social, ambiental e técnica, sendo que a dimensão ambiental é o foco desta revisão(⁸). Nesse aspecto, muitas empresas utilizam as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) (organização internacional, independente, que auxilia empresas a relatarem seus impactos por meio de relatórios de sustentabilidade) para comunicarem seus impactos ambientais, que geralmente estão divididos em dois grupos: o primeiro voltado à otimização dos recursos (energia e água) e o segundo, ao monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes e resíduos e emissões)(¹¹).

A realização dessa revisão é necessária pois há poucos estudos sobre indicadores de sustentabilidade hospitalar e escassas pesquisas sobre o tema que possuem enfermeiros como autores, apesar de esses estudos terem relação direta ou indireta com o trabalho da enfermagem.

O tema é relevante, pois é a partir dele que os gestores poderão conhecer a realidade do local onde trabalham e tomar as melhores decisões, a partir das evidências dos impactos socioambientais publicados nos estudos para posteriormente, adequarem a sua realidade. Além de permitir aprofundar o conhecimento acerca da sustentabilidade hospitalar, pode promover mais consciência ambiental à equipe de enfermagem, uma vez que esta se faz presente na maioria das atividades hospitalares e, por isso, tem um papel relevante de sustentabilidade nesse cenário. Portanto, a proposta desta revisão de escopo permitirá agrupar de forma sistemática e resumida o estado atual dos estudos direcionados para os indicadores de sustentabilidade hospitalar.

O presente estudo possui como questão principal: quais estudos tratam dos indicadores de sustentabilidade hospitalar e evidências na redução do impacto socioambiental? E apresenta como hipóteses estudos nacionais e internacionais que referem como indicadores gastos com água, energia e resíduos sólidos, tendo como evidências: economia com utilização de torneiras com acionamento por pedal, uso de painéis solares e reciclagem de resíduos.

Objetiva sintetizar o conhecimento acerca dos indicadores de sustentabilidade hospitalar e evidências de redução do impacto socioambiental.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão de literatura, do tipo revisão de escopo baseado no referencial teórico proposto e desenvolvido pelo Joanna Briggs Institute (JBI)(¹²). Esta revisão foi conduzida e relatada de acordo com os pressupostos do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extensionor or Scoping Reviews (PRISMA-ScR)(¹³).

A revisão de escopo adequa-se bem a esta pesquisa, pois não pretende avaliar a qualidade das evidências disponíveis, mas deseja obter uma visão representativa dos estudos. O estudo foi desenvolvido de acordo com as seguintes etapas: elaboração da pergunta ou das questões norteadoras da pesquisa; identificação dos estudos relevantes; seleção dos estudos; extração de dados; síntese e agrupamento dos resultados; e divulgação(¹²).

Identificação da Questão de Pesquisa

A questão norteadora desta revisão foi desenvolvida por meio da estratégia PCC (population (P), concept (C), contexto (C) para definir os critérios de seleção dos artigos. Onde (P) são os indicadores hospitalares; (C), sustentabilidade socioambiental e (C), ambiente hospitalar). Com esta combinação mnemônica, definiu-se a seguinte questão norteadora: quais estudos tratam dos indicadores de sustentabilidade hospitalar e evidências na redução do impacto socioambiental?

Antes de iniciar o desenvolvimento deste estudo, foram realizadas pesquisas nos sites Open Science Framework, Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE), The Cochrane Library e no International Prospective Register of Ongoing Systematic Reviews (PROSPERO), com intuito de identificar pesquisa de revisões semelhantes e evitar a duplicidade de estudos. Como não foram encontrados estudos semelhantes, esta revisão foi registrada no Open Science Framework (OSF), sob o protocolo osf.io/5u7f6.

Utilizando estas palavras do PCC, foram feitas pesquisas de artigos no google acadêmico relacionados ao tema e observou-se nestes artigos, quais descritores eram mais prevalentes. Em seguida, esses descritores foram selecionados para posterior pesquisa nas bases de dados, conforme Quadro 1.

Quadro 1
Descritores ou palavras-chave identificados e em consonância com os componentes da pergunta de pesquisa segundo estratégia PCC – Rio Grande, RS, Brasil, 2022.

Fontes de Informação e Critérios de Inclusão e Exclusão

Critérios de inclusão e exclusão para cada elemento do acrônimo PCC foram assim demarcados: População (P), todos os estudos envolvendo indicadores hospitalares da dimensão ambiental foram considerados. Portanto, foram excluídos os estudos que tratavam de outras dimensões (estratégica, econômica, social e técnica); Conceito (C), foram considerados todos os estudos com enfoque na sustentabilidade socioambiental. Ademais, foram excluídos os estudos referentes a outros conceitos de sustentabilidade (econômica, de direito público e privado, por exemplo); Contexto (C), foram considerados todos os estudos relativos ao ambiente hospitalar. Foram excluídos os estudos que se reportavam a outros contextos (ambulatórios comunitários, serviços de atenção domiciliária, por exemplo).

Além disso, o critério definido para seleção das bases utilizadas (Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PubMed); Science Direct, base de dados da Elsevier; Scientific Electronic Library Online (SciELO); Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS)) foi a disponibilidade de consultar os artigos por meio de mecanismos de busca com suporte de descritores e operadores boleanos, por serem bases de dados atualizadas. Foram selecionados estudos publicados na língua inglesa, por ser considerado o idioma preferido para artigos científicos, na área da saúde. No entanto, estudos relevantes encontrados em outras línguas também foram considerados. Após esta etapa, foi realizada a revisão das referências de todos os artigos incluídos, a fim de identificar outros estudos que também pudessem atender aos critérios de seleção.

Os critérios gerais de inclusão dos artigos foram: artigos publicados nos últimos 10 anos, por se tratarem de estudos mais recentes em todos os idiomas. Os critérios gerais de exclusão foram: artigos incompletos, artigos não disponíveis na íntegra e literatura cinzenta (teses e dissertações, anais de conferências, relatórios, documentos governamentais, entre outros). Cabe reportar que a literatura cinzenta não foi priorizada frente aos seus diversos interesses de publicização (teses e dissertações, anais de conferências, relatórios, documentos governamentais, entre outros), além do científico que corresponde ao foco unitário do presente estudo. Mesmo que as teses e dissertações, por exemplo, estejam em contextos acadêmicos e portanto científicos, não foram incluídas, pois entende-se que o patamar de equidade acadêmica e científica seja atingido na publicação de artigos em periódicos revisados por pares.

Estratégias de Busca

A busca eletrônica foi realizada de abril a julho de 2022, utilizando-se os descritores em ciências da saúde (DECS) em inglês, ou medical subjetc headings (MESH) para buscas na Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PubMed), mais o operador boleano AND e uso de aspas em termos compostos. A busca da produção científica foi realizada em periódicos indexados nas bases de dados por meio do portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PubMed); Science Direct, base de dados da Elsevier; Scientific Electronic Library Online (SciELO); Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), conforme Quadro 2. Após cada pesquisa de descritores/palavras-chave/ estratégias de busca, foram feitas leituras dos títulos dos artigos encontrados procurando palavras relacionadas ao tema pesquisado, conforme estratégia PCC (hospitais, conservação de recursos naturais, indicadores de sustentabilidade, consumo de água, resíduos de serviços de saúde, consumo de água, meio ambiente, saúde ambiental, desenvolvimento sustentável, impacto ambiental, consumo de energia, conservação de recursos naturais, socioambiental, hospital verde). Quando o título não estava muito claro lia-se o resumo dos artigos.

Quadro 2
Bases de dados, descritores e estratégias de busca – Rio Grande, RS, Brasil, 2022.

Seleção dos Estudos

A etapa de descrição e sumarização dos dados foi realizada por dois revisores independentes (DMG e MRCV) que efetuaram a leitura dos resumos e palavras-chave a fim de identificar se os estudos atendiam aos critérios de inclusão. Havendo qualquer discordância, era chamado um terceiro revisor para analisar e decidir sobre a inclusão ou não dos artigos.

Extração dos Dados

A extração dos dados (base de dados, critério de busca, periódico, autores, ano de publicação, país de origem, título, digital object identifier (DOI), pergunta de pesquisa, objetivo, abordagem da pesquisa, tipo de pesquisa, indicadores de sustentabilidade hospitalar utilizados para medir a eficácia da prática de sustentabilidade, evidência da redução do impacto ambiental, outras observações) foi realizada e lançada em uma planilha no software excel, versão 2016, do pacote Office da Microsoft, para posterior análise.

Síntese dos Dados

Ao término do preenchimento da planilha, os dois revisores checavam se as suas extrações estavam semelhantes e qualquer discordância era remetida a um terceiro revisor para análise. Após a seleção dos estudos, foi feito cálculo de percentagem dos seguintes dados da tabela, para apresentação dos resultados: ano de publicação, idioma, desenho e abordagem de pesquisa. Em seguida foram analisados os dados relativos aos indicadores de sustentabilidade hospitalar utilizados, para medir a eficácia das práticas de sustentabilidade, bem como foram analisadas as evidências apresentadas por estes estudos.

Os indicadores ambientais de sustentabilidade geralmente apontam para dois grupos de atenção: otimização de recursos (energia e água) e monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes, resíduos e emissões)(¹¹). Por este motivo, nos resultados, os artigos foram apresentados de acordo com estas categorias e foi acrescida mais uma categoria para evidências de redução do impacto socioambiental, para responder ao objetivo da pesquisa.

RESULTADOS

Ao todo, foram identificados 1.513 estudos, por meio da busca de dados com descritores e mais 97 por meio de outras fontes, totalizando 1.610 estudos. Destes, 166 foram excluídos por estarem duplicados nas bases de dados. Dos 1.444 estudos, foram excluídos 803, após leitura e análise do título e resumo, por não estarem alinhados ao objeto de estudo, e em seguida mais 614 estudos foram excluídos por outros motivos. Ao final da seleção, restaram 28 artigos, conforme Figura 1.

Figura 1
Diagrama do processo de inclusão e exclusão dos estudos – Rio Grande, RS, Brasil, 2022.

Em relação aos idiomas dos artigos, 75% (21 artigos) foram publicados em inglês. Os idiomas português, alemão e árabe tiveram 7,14% (dois artigos) das publicações cada, e 3,57% (um artigo) foram publicados em italiano. A maioria dos artigos (85,71%, que corresponde a 24 artigos) teve uma abordagem de pesquisa quantitativa e os 4 antigos restantes (14,29%) tiveram abordagem qualitativa/quantitativa.

O intervalo temporal dos estudos recuperados foi de 2012 a 2020, sendo que 25% dos artigos (7) foram publicados em 2012, 21,43% (6) foram publicados em 2017; em 2015 foram encontrados 3 artigos (10,71%) e 14,29% (4 artigos) publicados em 2016. Nos anos de 2013, 2014 e 2018 houve 7,14% (2 artigos) relacionados ao objeto de pesquisa e nos anos de 2019 e 2020, um artigo para cada ano, o que corresponde a 3,57%.

No que se refere ao tipo de estudo, 12 deles (42,86%) eram pesquisa aplicada, 21,43% (6 artigos) eram estudos do tipo ensaio clínico não randomizado e pesquisa experimental, respectivamente; 3 estudos (10,71%) eram estudos de caso e um deles (3,57%) era revisão de literatura, conforme mostra o Quadro 3.

Quadro 3
Caracterização das publicações recuperadas na busca nas bases de dados eletrônicas e busca pelas referências – Rio Grande, RS, Brasil, 2022 (n = 28).

A enfermagem faz-se presente nestes estudos por meio do seu trabalho, desde a escolha de qual material usar durante um procedimento até seu descarte no meio ambiente. No entanto, apenas cinco estudos tinham enfermeiros como autores (dois estudos brasileiros(¹⁴,¹⁵), um do Canadá(¹⁵) e dois dos Estados Unidos da América(¹⁶,¹⁷)). Os demais autores eram das áreas de biologia(²), bioestatística(¹⁶), bioquímica(¹⁷), geologia(¹⁸), química(¹⁹), medicina(³,¹⁷,¹⁹–³⁰), marketing (²⁰,²³), engenharia(¹⁹,²⁰,²²–²⁵,³⁰–³⁸) e administração(¹⁷,²⁰,²²,³⁹).

Os indicadores ambientais de sustentabilidade geralmente apontam para dois grupos de atenção; otimização de recursos (energia e água) e monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes, resíduos e emissões)(¹¹), a exemplo de um sistema integrado de compostagem, incineração e reciclagem de materiais(³⁵). Dessa forma, a partir da seleção dos artigos desta revisão de escopo, emergiram duas categorias empíricas para indicadores e foi acrescida mais uma categoria para evidências de redução do impacto socioambiental, que foram explanadas no Quadro 4.

Quadro 4
Categorias empíricas que emergiram dos estudos incluídos na revisão de escopo – Rio Grande, RS, Brasil, 2022 (n = 28).

DISCUSSÃO

Há um impacto ambiental significativo das atividades que envolvem o setor da saúde. Dessa forma, é preciso conhecer a realidade de sustentabilidade, na qual o hospital se encontra e, para isso, podem ser utilizados os indicadores, que possibilitam aos gestores ter uma visão multidimensional entre o estado atual de sustentabilidade dos hospitais e seu nível de excelência. Também por meio dos indicadores é possível identificar os pontos fortes e frágeis do hospital, relacionado à sustentabilidade, possibilitando uma definição de políticas públicas mais assertivas(⁸).

Muitos estudos têm sido feitos a fim de melhorar a estrutura sustentável do hospital, diminuir o consumo de energia e água, bem como reduzir a geração de resíduos(⁴⁰). Em relação à otimização de recursos (água e energia) nos hospitais, os estudos incluídos nesta revisão apontaram indicadores relacionados ao consumo de energia elétrica, consumo de água e consumo de energia solar(⁷,¹⁶,²⁷).

No que diz respeito ao consumo de água, o setor de hemodiálise está entre um dos mais nocivos do setor saúde. Estima-se que os pacientes que fazem uso dessa terapia por quatro horas semanais utilizem em média 500 litros de água por tratamento e mais 500 litros na esterilização, priming, pré e pós-hemodiálise(⁴¹).

A lavagem das mãos no centro cirúrgico é outra atividade na qual ocorre desperdício de água. A instalação de um sistema de fluxo intermitente acionado por um pedal pode reduzir o desperdício em até 14 litros de água por lavagem de mãos(⁴²).

Além do prejuízo ao meio ambiente, há também o gasto desnecessário aos hospitais. Em um hospital da Austrália, identificou-se que a simples desativação de dois esterilizadores de materiais, sem alterar o número de ciclos e economizando eletricidade, água, mão de obra e testes de reagentes, geraria uma economia de 170 kWh de eletricidade por dia, equivalente a uma economia de A$ 9.400 por ano(²⁴).

Estudo semelhante, em um hospital com seis salas de cirurgia, identificou que para uma redução de 57% nas cargas do esterilizador de circuito de anestesia, houve uma economia anual de 2.760 kWh de eletricidade e 48.000 l de água. Dentre as alternativas de economia de energia, está a utilização da energia solar fotovoltaica alimentada pelo sol, que é uma fonte abundante com uma incidência inesgotável na superfície terrestre(¹⁶).

Um estudo realizado na Austrália, demonstrou que em um ano de implantação de painel solar em um serviço de hemodiálise, o custo de energia reduziu 76,5%, com previsão de gratuidade de serviço, incluídos os custos de instalação em 7,7 anos(³).

Quanto ao monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes, resíduos e emissões) nos hospitais; os estudos selecionados(⁹,¹¹,¹²,¹⁸,¹⁹,²³,²⁸,²⁹,³¹,³⁴,³⁵). trouxeram indicadores relacionados à quantificação de resíduos antes e depois de intervenções, reciclagem de resíduos hospitalares, eficácia de tratamentos de resíduos infecciosos, ciclo de vida de resíduos sólidos, pegada de carbono em cirurgias e identificação de resíduos farmacêuticos em efluentes.

Os resíduos sólidos, quando manejados de maneira inadequada em qualquer etapa dos processos de manejo, podem causar impactos e poluir a água, o solo e o ar, alterando fatores ambientais químicos, físicos e microbiológicos(⁴³). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída em 2010, com o objetivo de preservar a saúde pública e a qualidade ambiental, no sentido de não geração, redução, reciclagem e tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) e resíduos de serviços de saúde (RSS)(⁴⁴).

Um estudo realizado em um hospital no Brasil em 2016 analisou ações ambientalmente sustentáveis no processo de medicação, desde o recebimento da prescrição da farmácia até o descarte de resíduos pelos profissionais de enfermagem, e identificou redução de 74,8% dos resíduos químicos, infectantes e perfuro cortantes após intervenção educativa e de rotinas(²¹). Outro estudo, ao comparar antes e depois de intervenção educativa sobre descarte de resíduos, identificou um aumento nas ações ecologicamente corretas(¹⁴).

Outra preocupação dos hospitais relacionada aos resíduos diz respeito à seleção de práticas mais sustentáveis de tratamento de resíduos infecciosos, com vistas à redução de riscos ambientais e propagação de doenças(³⁸).

Um estudo realizado no Irã pesquisou a alternativa mais sustentável de tratamento de lixo infectante, entre hidroclave, autoclave com triturador, autoclave, incineração central e tratamento químico. Com base nos aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais, o hidroclave foi a técnica mais sustentável(²⁵).

Porém, em outro estudo, também realizado no Irã, a “autoclave com o triturador” obteve a maior pontuação (64,53%) entre as diversas tecnologias de tratamento de resíduos e foi introduzida como uma tecnologia superior. No entanto, o estudo ressalta que não é obrigatório utilizar a tecnologia com maior pontuação. Deve-se levar em conta as condições específicas de cada hospital em relação aos aspectos ambientais, técnicos, sociais e econômicos(³⁸).

Outra abordagem utilizada em relação aos resíduos hospitalares é a reciclagem que possui como um dos pontos mais importantes a educação das pessoas envolvidas na segregação dos resíduos. Aqui entra mais uma vez a importância da conscientização da equipe de enfermagem que geralmente é a categoria com maior quantidade de pessoas em um serviço de saúde. Um estudo comparativo realizado em dois hospitais do Canadá entre os anos de 2012 e 2015 demonstrou que houve uma redução de 48% de resíduos que iriam para o aterro sanitário, após um programa de educação continuada sobre reciclagem nesses hospitais(²²).

Infelizmente, nem todo lixo hospitalar consegue ser reciclado, devido ao seu potencial de infecção. Um estudo realizado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) em um hospital do Canadá demonstrou que, de 28% do lixo que poderia ser reciclado naquele local, apenas 14% foram efetivamente reciclados, devido à infecção cruzada de materiais no descarte(²⁴), por isso a importância de educação continuada para os trabalhadores desses serviços.

O centro cirúrgico, assim como a UTI, é outro local do hospital que possui uma grande quantidade de lixo infectante, mas apresenta também grande quantidade de embalagens e envoltórios que podem ser facilmente reciclados. Estima-se que para cada 1,3 toneladas de resíduos produzidas no centro cirúrgico, ¼ destas possa ser reciclado, o que equivale a algo em torno de 13 toneladas ao ano(²³). Os “envoltórios azuis”, material plástico de polipropileno número 5 que é usado em salas de cirurgia para embalar bandejas de instrumentais, são outro exemplo de materiais que podem ser facilmente reciclados e gerar economia ao hospital, além de reduzir espaço de resíduos em aterro sanitário(²⁶).

Outra preocupação dos hospitais em relação à sustentabilidade diz respeito ao lançamento de resíduos farmacêuticos em efluentes. Eles são excretados por meio das fezes e urinas de humanos, que junto a outros resíduos, são transportados até as estações de tratamentos municipais de água e estas estações não são projetadas para remover esses tipos de resíduos. Um estudo realizado na Alemanha demonstrou que a utilização de irradiação ultravioleta (UV) é eficaz na degradação de fármacos mais persistentes nos efluentes, o que reduz o impacto ambiental nos lançamentos destes(¹⁹).

Os demais estudos incluídos nesta revisão de escopo(⁸,¹⁰,¹³–¹⁵,²⁰,²¹,²⁴–²⁶,³⁰,³²,³³) tratam da otimização de recursos (água e energia) aliada ao monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes, resíduos e emissões) como uma forma de reduzir custos e ao mesmo tempo reduzir o impacto ambiental. Os indicadores destes estudos apontam para descarte de resíduos biomédicos, substituição de produtos químicos que poluem efluentes, substituição de iluminação antiga por lâmpadas diodo emissoras de luz (LED), avaliação de ciclos de vida, treinamento de trabalhadores da saúde sobre ações de sustentabilidade, reciclagem de materiais, consumo consciente e pegadas de carbono.

O ciclo de vida de uma atividade ou produto avalia o ambiente, os impactos potenciais de seus produtos e processos em torno do seu ciclo de vida, desde a extração da matéria prima (berço), sua produção, seu uso e o fim da sua vida (túmulo)(⁴⁴). Dessa maneira possibilita identificar oportunidades de melhorias do desempenho ambiental em cada etapa do ciclo de vida(⁴⁵). Por outro lado, a pegada de carbono é uma medida quantitativa de emissões diretas e indiretas dos gases de efeito estufa (GEE) relacionados a um processo, produto, instituição ou indústria. Ela é expressa em massa equivalente (quilogramas) de dióxido de carbono (CO2) liberado no meio ambiente(⁷).

Um estudo realizado no Paquistão entre 2014 e 2015 avaliou o ciclo de vida (quanto à emissão de GEE de uma tonelada de resíduos sólidos hospitalares descartáveis, desde o transporte destes resíduos, tratamento, disposição no aterro, incineração, compostagem e reciclagem de materiais. Dentre as alternativas, a mais sustentável foi a realização de um sistema integrado entre compostagem, incineração e reciclagem(¹⁸).

Nos Estados Unidos, foi realizado um estudo que avaliou o ciclo de vida e métodos de custeio para aquisição de laringoscópios reutilizáveis e descartáveis. O resultado foi que as alças reutilizáveis dos laringoscópios apresentaram vantagens no custo e na sustentabilidade ambiental em relação às alças descartáveis(²⁸).

Em 2017, foi realizado outro estudo, nos Estados Unidos, que avaliava a pegada de carbono de três salas cirúrgicas em hospitais diferentes. Foi identificado que o uso do anestésico desflurano aumentou em 10 vezes a pegada de carbono nos hospitais, incluindo o aumento do consumo de energia(²).

Existem diversos estudos publicados que avaliam o ciclo de vida de produtos. Um deles analisou o ciclo de vida de máscaras laríngeas reutilizáveis e de uso único e descreveu que as máscaras reutilizáveis são menos prejudiciais ao meio ambiente(³¹). Outro estudo semelhante com comadres identificou que as comadres reutilizáveis são preferíveis às descartáveis(³²). Outros estudos com laringoscópios(⁴⁵), manguitos de pressão(³⁴), tesouras(³⁵), recipientes perfuro cortantes(¹⁷) e têxteis perioperatórios (aventais e campos cirúrgicos)(³⁷) também correlacionaram o uso de materiais reutilizáveis com menores agressões ao meio ambiente, quando comparados aos materiais de uso único. No entanto, há um alerta; o uso excessivo de materiais reutilizáveis correlaciona-se com maior impacto ambiental que os descartáveis(³³).

Apenas um estudo que avaliou o ciclo de vida de kits de cateter venoso central foi de encontro a todos os estudos de ciclo de vida citados anteriormente, relatando que os kits reutilizáveis tiveram maiores custos ambientais que os kits descartáveis. Isso se deve ao fato de o hospital estudado utilizar eletricidade proveniente de carvão marrom, o que está diretamente relacionado a um aumento do impacto ambiental. Este estudo reforça que o uso deste método é confiável e auxilia nas decisões sobre sustentabilidade de gestores hospitalares, no entanto, é preciso levar em conta as particularidades de cada hospital(³⁶).

Em relação à reciclagem de materiais, um hospital nos Estados Unidos apostou em um programa de engajamento dos trabalhadores da linha de frente para reduzir o consumo de água, energia e resíduos tóxicos. O resultado foi um aumento de 19,08 toneladas de materiais reciclados e uma diminuição de 10% do lixo infectante. Houve também redução do consumo de água com a adoção de esfregões de microfibra e uso de baldes menores pelos funcionários da limpeza; redução do consumo de energia com a prática de desligar monitores de computadores que não estavam em uso e substituição dos produtos de limpeza com componentes tóxicos, por produtos ecologicamente aceitáveis(²⁹).

Outro estudo em um hospital do Canadá também adotou produtos eco certificados que são mais seguros para os funcionários e o meio ambiente, e conseguiu economizar mais de US$ 80.000 de energia em um ano, apenas corrigindo problemas de fluxo de ar nos quartos de internação, o que gerou uma economia de 40%(²⁷).

Um hospital dos Estados Unidos criou um comitê para a sala de operações a fim de adotar práticas sustentáveis nas cirurgias; com isso, conseguiram reduzir 12.860 libras de resíduos sólidos com a reciclagem de produtos de uso único; as almofadas de espuma foram substituídas por almofadas de gel reutilizáveis, gerando uma economia de mais de 50.00 dólares ao ano. Baterias foram descartadas, recuperadas e distribuídas para o hospital ou doadas para caridade (economia anual de US$ 9.000)(³⁰).

A iniciativa de desligar todas as luzes e equipamentos de anestesia e sala de cirurgia que não estavam em uso resultou em uma economia de US$ 33.000 e 234,3 toneladas métricas de emissões de CO2 reduzidas por ano. A substituição de sabão para esfoliante sem água à base de álcool demonstrou uma economia de 2,7 milhões de litros de água anualmente(³⁰).

As estratégias utilizadas por outro hospital no Canadá foram reciclar 929 toneladas de lixo em três anos, o que gerou uma economia de US$ 55.000. Outra ação foi a mudança de alguns materiais de uso único para multiuso nas salas de cirurgia, o que resultou em uma economia anual de US$ 50.000; além disso, houve uma economia com energia elétrica em mais 13% apenas desligando aquecedores. As baterias passaram a ser reutilizadas e copos descartáveis foram substituídos por reutilizáveis(¹⁵).

As limitações da presente revisão estão relacionadas à natureza da própria revisão, principalmente na indicação de subsídios para a formulação de políticas, pois sua proposta é fornecer um panorama acerca dos indicadores socioambientais estudados, o que pode não ser suficiente para estruturar elementos orientadores para a tomada de decisões em diferentes instâncias, como na gestão e governança da organização. Ademais, não foram utilizados procedimentos para avaliação das evidências encontradas. Portanto, sugere-se o aprofundamento dos achados por meio de outros estudos de revisão. Entretanto, corrobora-se a relevância do presente estudo frente ao conteúdo sintetizado acerca dos indicadores sustentabilidade hospitalar e redução de impactos socioambientais.

Os avanços conquistados com este estudo foram conhecer quais indicadores e evidências estão sendo mais utilizados nos hospitais e quais deles auxiliam na redução do impacto socioambiental, para servirem de referências para outros hospitais, seja repetindo as ações bem-sucedidas ou testando novas tecnologias para ter melhores resultados financeiros, sociais e ambientais.

CONCLUSÃO

O presente estudo possibilitou sintetizar o conhecimento acerca dos indicadores de sustentabilidade hospitalar e evidências na redução do impacto socioambiental. Os indicadores dessa revisão apontaram para otimização de recursos de água e energia e monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes, resíduos e emissões).

Os indicadores de otimização de recursos (energia e água) estavam relacionados ao uso de esterilizadores, ao processamento e esterilização de produtos médico-hospitalares e à economia de energia por meio do sistema de energia solar. As evidências de redução de impactos socioambientais indicaram economia de energia com uso de menor número de esterilizadores sem comprometer os ciclos, redução no consumo de energia e água utilizando cargas maiores de produtos, sem comprometer a esterilização dos mesmos, e economia de 76% no gasto de energia elétrica implantando placa solar em serviço de saúde.

Em contrapartida, os indicadores de monitoramento e mitigação do impacto de suas atividades (efluentes, resíduos e emissões) estavam relacionados à quantificação de resíduos antes e depois da implementação de melhorias, práticas de ações ecologicamente sustentáveis e reciclagem antes e depois da educação formal, eficácia de sustentabilidade de tratamento de resíduos infecciosos e efluentes hospitalares, pegada de carbono e ciclos de vida de cirurgias e materiais médico-hospitalares.

Como evidências de redução de impactos socioambientais em efluentes, resíduos e emissões, houve redução na quantidade de resíduos infecciosos e perfurocortantes e aumento na quantidade de resíduos recicláveis, identificação de tecnologias mais adequadas e menos prejudiciais ao meio ambiente no tratamento de resíduos infecciosos, redução de emissões de carbono em cirurgias e escolha de materiais descartáveis ou de uso único de acordo com menor impacto ambiental, a exemplo de manguitos de aferição de pressão e laringoscópios.

Há diversos estudos atualizados sobre o tema com foco na otimização de recursos e monitoramento e mitigação do impacto das atividades hospitalares. O resultado dos indicadores destes estudos mostram boas evidências na redução do impacto socioambiental, o que pode auxiliar gestores hospitalares a selecionarem as melhores práticas e aplicarem-nas em suas instituições com vistas a reduzirem os impactos socioambientais nos hospitais.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Cristina Lavareda Baixinho

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  23 Jun 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  15 Set 2022
• Aceito
  25 Abr 2023