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Mobilidade estudantil internacional: a experiência de estudantes de graduação em Enfermagem

Movilidad estudiantil internacional: la experiencia de estudiantes de pregrado en enfermería

RESUMO

Objetivo

Compreender as experiências vivenciadas pelos estudantes de graduação da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo na mobilidade estudantil internacional.

Método

Estudo transversal, descritivo, com abordagem qualitativa, realizado entre fevereiro e julho de 2017. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semiestruturada e submetidos à análise de conteúdo.

Resultados

Participaram do estudo 22 estudantes. Na análise das entrevistas, emergiram cinco categorias analíticas: Dimensão das Relações Interinstitucionais, Dimensão Pessoal, Dimensão Profissional, Dimensão Acadêmica e Dimensão Cultural.

Conclusão

São muitas as vantagens que o intercâmbio internacional pode trazer à formação profissional. Considera-se necessário maior investimento governamental e institucional, mas com planejamento mútuo e acompanhamento das instituições, de forma que contribua para o desenvolvimento da Enfermagem e do País.

Intercâmbio Educacional Internacional; Educação em Enfermagem; Estudantes de Enfermagem; Internacionalidade

RESUMEN

Objetivo

Comprender las experiencias vividas por los estudiantes de pregrado de la Escuela de Enfermería de la Universidade de São Paulo en la movilidad estudiantil internacional.

Método

Estudio transversal, descriptivo, con abordaje cualitativo, llevado a cabo entre febrero y julio de 2017. Se recogieron los datos mediante una entrevista semiestructurada, los que se sometieron al análisis de contenido.

Resultados

Participaron en el estudio 22 estudiantes. En el análisis de las entrevistas, emergieron cinco categorías analíticas: Dimensión de las Relaciones Interinstitucionales, Dimensión Personal, Dimensión Profesional, Dimensión Académica y Dimensión Cultural.

Conclusión

Son muchas las ventajas que el intercambio internacional puede brindar a la formación profesional. Se considera necesario mayor inversión gubernamental e institucional, pero con planificación mutua y acompañamiento de los centros, de modo a que contribuya al desarrollo de la Enfermería y del País.

Intercambio Educacional Internacional; Educación en Enfermería; Estudiantes de Enfermería; Internacionalidad

ABSTRACT

Objective

To understand/reveal the experiences of undergraduate students of the Nursing School of the Universidade de São Paulo in international academic mobility.

Method

A cross-sectional, descriptive study with a qualitative approach conducted between February and July 2017. Data were collected using a semi-structured interview and submitted to content analysis.

Results

Twenty-two (22) students participated in the study. Five analytical categories emerged from the analysis of the interviews: Interinstitutional Relationships Dimension, Personal Dimension, Professional Dimension, Academic Dimension and Cultural Dimension.

Conclusion

There are many advantages that international mobility can bring to vocational training. Greater governmental and institutional investment is considered necessary, but with mutual planning and monitoring by the institutions in order for it to contribute to the development of Nursing and the Country.

International Educational Exchange; Education; Nursing; Students, Nursing; Internationality

INTRODUÇÃO

A mobilidade acadêmica é considerada umas das principais estratégias de internacionalização e importante para a formação dos estudantes, pois proporciona aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes essenciais para que o indivíduo possa vivenciar o mundo globalizado, além de interagir no mercado pluricultural e contribuir para o desenvolvimento social e tecnológico do país(11. Reschke MJD, Bido MCF. Potencializando a experiência de internacionalização: reflexões sobre o Programa Ciência sem Fronteiras. Espaço Pedagóg [Internet]. 2017 [citado 2017 nov. 16];24(1):128-38. Disponível em: http://seer.upf.br/index.php/rep/article/view/6997/4161.
http://seer.upf.br/index.php/rep/article...
-22. Luce MB, Fagundes CV, Mediel OG. Internacionalização da educação superior: a dimensão intercultural e o suporte institucional na avaliação da mobilidade acadêmica Avaliação Rev Aval Educ Super [Internet]. 2016 [citado 2017 ago. 08]; 21(2):317-39. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/aval/v21n2/1982-5765-aval-21-02-00317.pdf
http://www.scielo.br/pdf/aval/v21n2/1982...
).

No Brasil, nos últimos anos, houve aumento das oportunidades da mobilidade acadêmica por meio do extinto programa “Ciência sem Fronteiras” (CsF), que foi implantado pelo Governo Federal no ano de 2011 e teve como objetivo promover a consolidação, a expansão e a internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio da mobilidade estudantil internacional(33. Brasil. Ministério da Educação; Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações. Painel de Controle do Programa Ciências sem Fronteiras [Internet]. Brasília; 2016 [citado 2017 ago. 08]. Disponível em: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/painel-de-controle
http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/w...
).

De acordo com o painel de controle do Programa CsF, foram implementadas 92.880 bolsas de estudo no exterior. As áreas biológicas, das ciências biomédicas e da saúde, receberam 16.076 bolsas. Destas, 66% foram destinadas à graduação sanduíche. Ao identificarmos a instituição de origem dos bolsistas, de forma geral, a Universidade de São Paulo (USP) foi a que mais participou do Programa, e as áreas de biológicas, das ciências biomédicas e da saúde dessa universidade foram responsáveis pela captação de 1.097 bolsas de estudos(33. Brasil. Ministério da Educação; Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações. Painel de Controle do Programa Ciências sem Fronteiras [Internet]. Brasília; 2016 [citado 2017 ago. 08]. Disponível em: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/painel-de-controle
http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/w...
).

Neste contexto, a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) teve nos últimos 5 anos aumento significativo de estudantes do curso de graduação nos diversos programas de incentivo à internacionalização, programas estes da própria USP e do programa CsF. Entre 2011 e 2015, foram enviados 49 estudantes de Enfermagem para a Austrália, Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda e Portugal. A EEUSP recebeu, nesse período, 17 estudantes de graduação de Enfermagem provenientes da Áustria, Chile, Colômbia e Portugal.

Considerando-se todo esse contexto e a necessidade da Comissão de Cooperação Internacional (CCInt) da Escola de Enfermagem da USP (EEUSP) de sistematizar as informações pessoais, acadêmicas e institucionais de estudantes de graduação que realizaram mobilidade internacional e de aprimorar os processos de mobilidade estudantil, surge a principal motivação para a realização deste estudo, que tem como objetivo compreender as experiências vivenciadas pelos estudantes de graduação da EEUSP na mobilidade estudantil internacional.

MÉTODO

TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo transversal, descritivo, com abordagem qualitativa.

FONTE DOS DADOS

Os participantes foram estudantes e egressos do curso de graduação da EEUSP que integraram o programa de mobilidade estudantil. O levantamento desses estudantes foi feito por meio de uma planilha fornecida pela CCInt da EEUSP, com dados sobre os intercâmbios feitos pela escola desde o ano de 2006. Nesta planilha, constavam os dados de 68 estudantes, como: nomes, contatos de e-mail, período do intercâmbio, país e universidade de escolha para o programa e financiamento. A partir dos nomes e e-mails, os contatos foram estabelecidos e as entrevistas agendadas em locais e horários de acordo com a disponibilidade dos participantes e pesquisadores.

COLETA DOS DADOS

Os dados foram coletados no período de fevereiro a junho de 2017 por meio de um roteiro de entrevista semiestruturada. Foram realizadas individualmente 22 entrevistas, que tiveram uma duração que variou de 45 a 90 minutos, ocorrendo em sala reservada para garantir o sigilo e o anonimato. Destas, duas foram feitas por videochamada, em virtude do distanciamento dos interlocutores. Optamos pela gravação das falas dos sujeitos por proporcionar maior liberdade do pesquisador para atentar às falas originárias, penetrar o mundo dos estudantes e aproximar-se dos significados extraídos do vivido e dados no pré-reflexivo. O número de participantes foi definido no decorrer da coleta dos dados, que foi encerrada após a concordância dos pesquisadores da ocorrência de repetitividade, bem como em face do desvelamento da experiência vivenciada pelos estudantes.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados provenientes das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo, que é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Esta fase foi organizada em três etapas: a) pré-análise, em que foram feitas a identificação do corpus do material e uma leitura inicial do todo; b) exploração do material, em que foi codificado e categorizado a partir do critério semântico (significativo), e construíram-se as categorias temáticas; e, por fim, c) tratamento dos resultados, em que foram feitas uma inferência e a interpretação numa fase de reflexão e ancoramento e confronto entre o conhecimento acumulado e a literatura científica(44. Bardin L. Análise de conteúdo: retórica. Lisboa: Edições 70; 2012.).

Todas as entrevistas foram gravadas em arquivos de áudio no formato mp3, armazenadas em um espaço virtual e transcritas na íntegra. Formado o corpus, foi possível uma análise minuciosa, a extração das unidades de significado e das categorias temáticas.

ASPECTOS ÉTICOS

A pesquisa somente teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da EEUSP – Parecer CEP n.º 1.915.898/2017 – e seguiu as recomendações para a pesquisa com seres humanos, respeitando-se assim os aspectos éticos preconizados pela Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. Os participantes foram informados sobre os propósitos do estudo e convidados a participar; após esta etapa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado previamente por todos.

Visando preservar o anonimato dos sujeitos de pesquisa e de representar a mobilidade acadêmica internacional, os participantes foram identificados por tipo de bolsa, país de destino e ano em que ocorreu intercâmbio. Os nomes de docentes das instituições citados nas entrevistas foram substituídos por letras do alfabeto.

RESULTADOS

Os 22 estudantes entrevistados eram do sexo feminino, tinham de 20 a 24 anos e a maioria dos estudantes teve como destino Portugal, com saída principalmente nos anos de 2012 e 2013, quando cursavam os últimos semestres do curso. Permaneceram em média 6 meses no país de destino, o principal financiador foi a própria universidade e a principal fonte de informação sobre os programas de mobilidade foram o e-mail institucional e outros estudantes.

Da análise das entrevistas, emergiram cinco categorias analíticas: Dimensão das Relações Interinstitucionais, Dimensão Pessoal, Dimensão Profissional, Dimensão Acadêmica e Dimensão Cultural.

DIMENSÃO DAS RELAÇÕES INTERINSTITUCIONAIS

A relação entre as instituições brasileira e estrangeira exerceu influência no processo de seleção dos estudantes, no trâmite administrativo para inscrição no programa, na elaboração de um plano de estudos factível e no aproveitamento das disciplinas cursadas no regresso ao Brasil.

(...) foi ter um contato direto daqui da Escola que foi com a professora Y, que ela é muito envolvida na Universidade Católica do Porto e isso foi um grande facilitador, o elo entre as universidades (Mérito Acadêmico, Portugal, 2014).

O que facilitou, é porque tinha a professora X que tinha uma comunicação com a professora lá da Universidade Autônoma e ela meio que me ajudava a escolher as disciplinas, a fazer a carta de apresentação... (Mérito Acadêmico, Espanha, 2010).

Foi observado também que o extinto Programa Ciências sem Fronteiras apresentava algumas características que se diferenciavam das dos demais programas de bolsas. Para os estudantes financiados pelo CsF, a comunicação entre as instituições, necessária aos estudantes, era precária, o que dificultava o planejamento do estudante antes da viagem. Os planos de estudos, quando elaborados no Brasil, muitas vezes sofriam mudanças na chegada ao país de origem, e geraram adaptações que não atendiam por completo às expectativas e ao planejamento acadêmico dos estudantes.

(...) foi essa falta de comunicação entre as universidades. Eu me senti, nossa... eu me senti jogada assim no meio do nada; a falta de relação com a tutora de lá com qualquer pessoa daqui, a comunicação entre elas e o que a gente poderia fazer lá quando a gente chegasse, as matérias que a gente podia abordar (CSF, Inglaterra, 2016).

(...) eu não tinha um plano de estudo, porque eu não sei, eu achei, pode ser só eu, mas achei meio confusa a relação com a faculdade daqui que não tem relação com a faculdade de lá e não se falam e aí eu falo com um, depois falo com outro (CSF, Itália, 2016).

Outro aspecto observado nas falas dos estudantes foi o aproveitamento das disciplinas cursadas no exterior. Os estudantes que foram para a Universidade do Porto conseguiram o completo aproveitamento das atividades realizadas no intercâmbio, os que participaram do Programa em outra universidade, que não a do Porto, não tiveram o mesmo êxito. É perceptível na análise que a relação interinstitucional entre a Universidade do Porto e a EEUSP foi fator preponderante para a validação da carga horária.

(...) não pude usar os créditos. E quando eu voltei, eu tive que fazer o último ano que estava pendente, então atrasou um ano (Mérito Acadêmico, Espanha, 2010).

Tivemos que fazer em grupo na época, pegamos a grade e projeto pedagógico da universidade que encaixavam direitinho com as daqui. Enviamos pra Portugal e depois mandamos para a diretora para ela aprovar e foi validado depois na volta, e recebemos equivalência de currículo (Mérito Acadêmico, Espanha, 2014).

É possível também identificar, nas falas, o desejo voltado ao desenvolvimento de pesquisas, entretanto, os estudantes financiados pelo CsF não conseguiam essa aproximação por não existirem entre as instituições as parcerias de pesquisa preestabelecidas em todas as áreas.

(...) lá não tem esse apoio, e eu senti essa falta porque eu queria muito ter começado alguma coisa com professor de lá e poder produzir isso e continuar nessa questão de trabalho científico, queria fazer um mestrado lá, entendeu? E aí como essa universidade não conhece ninguém daqui, eu não pude fazer essa conexão... (CSF, Inglaterra, 2016).

Em relação à pesquisa, a escola de Enfermagem de lá não tinha a mesma estrutura de pesquisa que a gente tem aqui na USP, de ter professores, orientadores (...) então quando a gente chegou lá, a gente teve que explicar tudo isso, porque eles não sabiam que o CNPq tinha esse plano, que eles estão acostumados a receber alunos só para estudar, não pra fazer pesquisa, então foi muito difícil... (CSF, Chile, 2013).

DIMENSÃO PESSOAL

Para os estudantes, a vivência do intercâmbio durante a graduação permitiu o desenvolvimento de sua autonomia, autoconfiança e controle emocional. O que pode ter influência direta é a necessidade de um planejamento financeiro com as despesas do dia a dia, o convívio com pessoas fora do ambiente familiar e de outras culturas, a saudade de casa e dos familiares, a descoberta de novos conhecimentos e o enfrentamento de desafios, fatores que levaram os estudantes a muitas mudanças em intervalo curto de tempo.

(...) então acho que a experiência profissional foi muito grande, mas a individual é mais ainda, porque você aprende a ficar longe da sua família, a se virar com seus problemas e tem um grande avanço assim... você se descobrir como pessoa (Mérito Acadêmico, Portugal, 2014).

(...) vejo como sendo uma possibilidade em que a gente conhece outras culturas, que a gente desenvolve uma autonomia diferenciada porque estando sempre entre os nossos a gente acaba tendo uma segurança um pouco maior, até por uma questão de afinidade com os nossos professores, tutores e especialistas que acompanham a gente nos campos de estágio, e quando a gente está num outro país, vendo outra realidade, eu sinto que a gente consegue criar uma autonomia e uma segurança bastante grande... (Mérito Acadêmico, Portugal, 2013).

DIMENSÃO PROFISSIONAL

Esta dimensão está associada ao fato de, no Brasil, as atividades de enfermagem serem lideradas pelo enfermeiro, mas fragmentadas e hierarquizadas entre subcategorias profissionais: os técnicos e auxiliares de enfermagem. Portanto, a experiência favoreceu, além da identificação da inexistência dessas categorias profissionais, a reflexão crítica quanto às consequências para as atividades profissionais do enfermeiro, e ao mesmo tempo proporcionou o contato com o exercício profissional do cuidado integral, assim como experiências com equipes multiprofissionais que desenvolvem um trabalho mais integrado.

Então, assim, como eles têm muitas funções, que são de procedimentos mesmo, de técnica, de fazer e colocar a mão na massa mesmo, não é como o daqui que o enfermeiro tem um pouco mais de tempo para planejar a assistência... (Mérito Acadêmico, Portugal, 2017).

Em relação à enfermagem tem uma diferença gritante, que tem um lado positivo e outro lado negativo disso também: lá não existe ensino técnico, então são todos enfermeiros... (Mérito Acadêmico, 2013).

DIMENSÃO ACADÊMICA

Esta categoria compreende aspectos voltados ao processo de ensino e de aprendizagem vivenciados pelos estudantes na universidade anfitriã. Para um melhor entendimento desta dimensão, duas subcategorias emergiram: diferenças na matriz curricular e disciplinas práticas.

DIFERENÇAS NA MATRIZ CURRICULAR

As principais diferenças percebidas pelos estudantes foram o período de formação menor que no Brasil e o enfoque prático na formação, especialmente em Portugal, Espanha e Itália, antes mesmo da metade do curso, o que gerou insegurança quanto às habilidades em campo.

(...) porque na USP, na minha época, se eu não me engano, estágio curricular era 360 horas, eu não sei se ainda é isso, era algo parecido a isso, e, em Portugal, é 600 horas, então a gente chegou lá e eles queriam que a gente fizesse essas 600 horas (...) lá os estágios eram um pouco diferentes, (...) as horas eram diferentes, então a gente teve que fazer plantão noturno, coisa que não tem no Brasil... (Santander, Inglaterra, 2013).

(...) porque a enfermagem lá são três anos e eu fiquei impressionada que eles têm pouquíssimo tempo de aula teórica, é um negócio assim, você faz aula teórica 1 mês e meio e já vai para o estágio, é muito pouco tempo mesmo sabe e então eu achei assim que era exaustivo, assim, era bem puxado... (CSF, Itália, 2016).

(...) contato com a prática é muito pouco frente ao que a gente tem de teoria, e isso é o inverso em Portugal, porque eles têm muita prática e tipo, um dia, dois, de teoria só. Então a semana deles é dividida completamente diferente da nossa, segunda e terça eles estão na universidade e o restante dos dias eles estão no hospital ou na atenção básica, é mais prático do que a gente, muito mais... (Mérito Acadêmico, Portugal, 2014).

DISCIPLINAS PRÁTICAS

Nas atividades práticas, destacaram-se as oportunidades que os estudantes tiveram em assumir os cuidados diretos aos pacientes, o que possibilitou reflexões sobre os mais diversos aspectos da assistência, como cultura, costumes, valores, novas tecnologias, diferenças no sistema de saúde, relações interpessoais, procedimentos de enfermagem e questões gerenciais. No entanto, percebe-se que, mesmo durante as atividades práticas, os estudantes não tiveram uma compreensão sobre os mais diversos sistemas de saúde em que se envolveram.

(...) fui bem acolhida no hospital, apesar de ter uma grande rivalidade, assim, com a figura feminina em Portugal... Você tem que mostrar muito para que você veio, ter muito jogo de cintura, porque é um país que traz muito preconceito contra o Brasil. Então, nesse sentido, o ambiente hospitalar te propiciava algumas cautelas, por exemplo, banho no leito, com o paciente homem, com uma acompanhante mulher, entendeu? (Mérito Acadêmico, Portugal, 2014).

Assim, lá tem o sistema público e tem o sistema privado igual aqui, só que eles falam que mistura muito o público com o privado, mas eu não sei como funciona se ele precisar de uma cirurgia que o SUS deles lá paga, mas funciona muito assim lá, eles tinham uma carteirinha lá do convênio... (Mérito Acadêmico, Espanha, 2014).

Alguns estudantes não tiveram as mesmas oportunidades, pois não foi permitido o estágio, especialmente nos países de língua anglo-saxônica, conforme explicitado nas falas a seguir.

A gente não podia ter contato com o paciente, ninguém da área da saúde poderia fazer disciplinas que tivessem contato direto com o paciente... E as orientações do consulado também foram as mesmas, que a gente não poderia fazer disciplinas que tivessem contato com pacientes, eu não sei se é porque nos EUA é muito fácil ter um paciente que abre um processo contra o serviço de saúde, né? Então, imagina abrir um processo contra o serviço de saúde envolvendo um aluno intercambista, aí as coisas ganham outra proporção (CSF, USA, 2014).

(...) Não, eu não poderia, pela legislação do país eu não poderia ir para campo. Se fosse para eu ir pra campo eu teria que pegar um visto e blá blá blá, que foi diferente do que eu peguei. Então, eu não poderia fazer nenhuma disciplina prática... (AUCANI, Inglaterra, 2014).

DIMENSÃO CULTURAL

Esta categoria compreende as experiências interculturais e de lazer dos estudantes. Ela nos mostra a percepção sobre aspectos voltados ao idioma, às diferenças culturais e aos passeios realizados durante o intercâmbio. Os estudantes que fizeram o intercâmbio pelo Programa CsF tiveram a oportunidade de fazer um curso de idiomas meses antes do início das atividades acadêmicas, de acordo com o nível de proficiência que o estudante apresentava na inscrição para o Programa.

(...) por causa da minha nota, a Universidade propunha que eu ficasse 6 meses estudando inglês, me preparando para entrar mesmo no curso... (CSF, Inglaterra, 2015).

(...) Então, assim, tinha um grupo que ficava 6 meses estudando inglês e depois 2 semestres e fazendo a faculdade e pesquisa durante um período de 2, 3 meses de pesquisa, aí tinha um grupo de alunos que tinha uma nota mediana no TOEFL, que eles iam fazer um de 6 semanas de inglês e depois faziam um curso acadêmico... (CSF, EUA, 2015).

A experiência do intercâmbio promoveu, sem dúvida alguma, o aprimoramento da língua estrangeira. Talvez para alguns em maior grau, para outros em menor grau, mas o nível do idioma foi elevado, não somente para o idioma de uma forma geral, mas também para uma linguagem mais técnica utilizada na área da saúde.

Eu ficava junto com meu tutor de estágio, ele ria muito, porque às vezes eu não entendia, trazia uma coisa errada para ele, dava muita risada, mas aí com o tempo vai quebrando o gelo, vai melhorando, eu comecei a falar muito melhor, comecei a entender tudo o que eles falavam, os termos específicos ali da área, e foi ficando mais tranquilo... (CSF, Itália, 2016).

Foi muito engraçado porque a minha primeira prova que eu fiz dessa disciplina eu tirei uma nota vermelha, porque eu não sabia o nome das coisas ainda, tipo... o nome dos alimentos em espanhol... (CSF, Chile, 2013).

Os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer outros intercambistas e de visitar outros lugares, dependendo do local do intercâmbio; puderam conhecer outros países. Essa experiência intercultural contribuiu para uma percepção ampliada de outras culturas.

Lá tem bastante parque e lugares ao ar livre, então é muito fácil sair sem gastar muito. E também eu fiz algumas viagens, fui de novo para Paris, fui à Itália e fui para a Suíça e Irlanda e para Alemanha dessa vez, então esse foi meu lazer... (Mérito Acadêmico, Portugal, 2017).

Eu fazia uma economia para fazer umas miniviagens pela Inglaterra. Eu ia muito em museu, todos os museus grátis eu ia assim três vezes, tinha um do lado da faculdade então era muito tranquilo e só de andar na cidade já era para mim lazer... (AUCANI, Inglaterra, 2017).

DISCUSSÃO

A relação entre as instituições de ensino mostra-se na análise como um fator que pode facilitar e dificultar, dependendo, principalmente do órgão financiador do intercâmbio. A proximidade com o estudante possibilita o direcionamento ao local mais adequado aos interesses do estudante, compartilhar a elaboração de um plano de estudos que será desenvolvido no exterior e, até mesmo, intermediar contatos(55. Dantas RA, Pagliuca LMF. Experiência de intercâmbio em Portugal: uma perspectiva para a pesquisa. Rev Rene [Internet]. 2004 [citado 2017 ago. 08]; 5(1):101-6. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/index.php/rene/article/viewFile/5592/4031
http://www.periodicos.ufc.br/index.php/r...
).

A falta de comunicação entre o Programa CsF e as universidades envolvidas foi um fator que interferiu no desenvolvimento do programa, pois os estudantes financiados pelo CsF apresentaram dificuldades relacionadas à construção dos planos de estudos, assim como para ter acesso às informações sobre disciplinas disponíveis, créditos possíveis e suas respectivas datas de início e término. Isto ocasionou sentimentos de frustrações nos intercambistas por não conseguirem cursar disciplinas de seu interesse pessoal e acadêmico.

Quanto às atividades de pesquisa, cada vez mais o mundo acadêmico é sustentado pelas atividades de investigação científica e de publicação dos resultados. Assim, pesquisar no exterior é extremamente importante para a formação dos estudantes, uma vez que estes ampliam conhecimentos, têm vivência com pesquisadores de outros países e competências do aprender com pesquisa. Tal vivência, certamente, agrega grande valor às parcerias entre as instituições de ensino e de pesquisa brasileiras e estrangeiras, servindo também de incubadora para potenciais estudantes de programas de pós-graduação(66. Dalmolin IS, Pereira ER, Silva RMCRA, Gouveia MJB, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [citado 2016 mar. 10];66(3):442-7. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000300021
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

É importante destacar que o tripé que sustenta a universidade “ensino-pesquisa-extensão”(77. Silva R, Oliveira CBF. Educação nas prisões e universidade pública: reflexões sobre o papel da extensão universitária. Rev Cult Ext USP [Internet]. 2016 [citado 2017 set. 29];15:85-95. Disponível em: http://www.journals.usp.br/rce/article/view/117051
http://www.journals.usp.br/rce/article/v...
) pode não estar sendo considerado no âmbito da internacionalização. Verifica-se nas falas que a participação em grupos de pesquisa ou em projetos de pesquisa nas instituições de destino não se viabilizou nos intercâmbios dos estudantes entrevistados, embora tenha sido um dos objetivos do CsF.

No que diz respeito à dimensão pessoal, o crescimento e desenvolvimento pessoal foi o aspecto que mais marcou a experiência do intercâmbio. É nesta dimensão que se destacam os fatores considerados mais importantes durante a experiência de mobilidade, destacando-se o planejamento das atividades diárias e das finanças, o conhecimento de outras culturas, entre outros. Nesta perspectiva, pode-se dizer que a experiência internacional é, predominantemente, vista primeiramente como uma oportunidade para desenvolver-se como pessoa e, em segundo plano, como um meio de buscar conhecimento acadêmico e desenvolvimento profissional(11. Reschke MJD, Bido MCF. Potencializando a experiência de internacionalização: reflexões sobre o Programa Ciência sem Fronteiras. Espaço Pedagóg [Internet]. 2017 [citado 2017 nov. 16];24(1):128-38. Disponível em: http://seer.upf.br/index.php/rep/article/view/6997/4161.
http://seer.upf.br/index.php/rep/article...
).

Estudo qualitativo realizado na Austrália mostra que o intercâmbio vivenciado na Europa promoveu significativamente o desenvolvimento pessoal dos participantes. A mudança nas atitudes e comportamentos dos estudantes e, até mesmo, na percepção de sua identidade pessoal foi observada pelos professores. Isso se tornou um diferencial entre os estudantes que não tiveram a mesma experiência(88. Richardson R, Munday J. International Student Mobility Programs and effects on student teachers’ perceptions and beliefs about education and their role as future educators. Univ J Educ Res [Internet]. 2013 [cited 2017 July 05];1(3):240-6. Available from: http://www.hrpub.org/download/201310/ujer.2013.010314.pdf
http://www.hrpub.org/download/201310/uje...
). O intercâmbio internacional tem impacto positivo e significativo na dimensão pessoal do estudante de Enfermagem(99. Green BF, Johansson I, Rosser M, Tengnah C, Segrott J. Studying abroad: a multiple case study of nursing students’ international experiences. Nurse Educ Today. 2008;28(8):981-92. DOI:10.1016/j.nedt.2008.06.003).

A oportunidade de vivenciar e aprender em diferentes locais e culturas favoreceu a percepção do estudante enquanto enfermeiro, passando a ter outras perspectivas que irão influenciar diretamente a sua prática assistencial e gerencial(1010. Kohlbry PW. The impact of international service-learning on nursing students’ cultural competency. J Nurs Scholarsh. 2016;48(3):303-11. DOI: 10.1111/jnu.12209). Esta experiência tem potencial para tornar os participantes mais bem preparados para trabalhar com as adversidades do dia a dia do enfermeiro, pois amplia sua visão, de uma perspectiva local para outra, internacional e global, o que favorece um processo de construção multidimensional e culmina numa maior autonomia para a vida como um todo(1111. Carvalho JL, Backes DS, Lomba MLLF, Colomé JS. Intercâmbio académico internacional: uma oportunidade para a formação do futuro enfermeiro. Rev Enf Ref [Internet]. 2016 [citado 2017 jul. 04];Série IV(10):59-67. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn10/serIVn10a07.pdf
http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn...
).

Sobre a matriz curricular das instituições estrangeiras e brasileiras, pode-se afirmar que elas caminham entre concordâncias e discordâncias. Na relação teoria e prática, verifica-se que as matrizes curriculares organizadas por disciplina e o momento em que essas são inseridas na formação do enfermeiro no país estrangeiro levam os estudantes ao campo da prática antes que o oferecido pela EEUSP. Isso foi observado principalmente em Portugal, Espanha e Itália. Esse fato está vinculado às Diretrizes de Formação Europeia, que reconhecem as qualificações profissionais. Na grade curricular está instituído o ensino clínico como a vertente da formação do enfermeiro, por meio do qual o estudante de Enfermagem aprende junto à equipe e exerce contato direto com o indivíduo saudável ou doente e/ou uma coletividade(1212. União Europeia. Regulamento (UE) n. 1025/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de outubro de 2012. Jornal Oficial da União Europeia [Internet]. Bruxelas; 2012 [citado 2017 ago. 08]. Disponível em: http://www1.ipq.pt/PT/Normalizacao/IPQ_Organismo_Nacional_Normalizacao/Regulamento_Europeu/Documents/Regulamento%20Europeu%201025-2012.pdf
http://www1.ipq.pt/PT/Normalizacao/IPQ_O...
).

Sabe-se que a construção de uma diretriz curricular deve ir ao encontro das necessidades do mercado que estão postas no momento de sua elaboração. Ainda, devem ser considerados aspectos políticos, históricos, epidemiológicos e de organização da assistência à saúde de onde o curso está inserido(1313. Duarte AP, Vasconcelos M, Silva SV. A trajetória curricular da graduação em Enfermagem no Brasil. REID Rev Eletr Invest Desenvolv [Internet]. 2016 [citado 2017 jul. 04];1(7):49-63. Disponível em: http://reid.ucm.ac.mz/index.php/reid/article/view/120
http://reid.ucm.ac.mz/index.php/reid/art...
-1414. Ito EE, Peres AM, Takahashi RT, Leite MMJ. O ensino de enfermagem e as diretrizes curriculares nacionais: utopia x realidade. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2006 [citado 2017 jul. 12];40(4):570-5. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v40n4/v40n4a16.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v40n4/v4...
). Por isso, dependendo do país, estado e cidade, poderão ocorrer muitas variações nas experiências curriculares.

Considerando-se o presente estudo, embora os estudantes tenham se inserido em diferentes cenários de aprendizagem, de fato não fizeram parte do processo, uma vez que muitos não puderam vivenciar experiências práticas nas instituições de saúde e, portanto, não conseguiram entender claramente o funcionamento do sistema de saúde local e do país de destino, o que limitou sua avaliação quanto a esse funcionamento.

Em relação às atividades práticas do intercâmbio, dois pontos merecem destaque. O primeiro corresponde ao fato de que os estudantes que foram para Portugal, Itália e Espanha tiveram oportunidade de se inserir em unidades de saúde e prestar assistência direta aos pacientes, com supervisão direta de um enfermeiro local. O segundo consiste no fato de que estudantes que optaram por países como EUA, Inglaterra e Canadá não puderam atuar no campo da prática.

Talvez este fato esteja relacionado ao idioma, haja vista os aspectos muito diferentes entre os idiomas dos países de língua anglo-saxônica e as línguas dos países latinos, que podem representar uma importante dificuldade na comunicação. Por outro lado, pode estar relacionado a custos ou a aspectos de legislação dos países, que não autorizam que estudantes executem atividades práticas nos serviços de saúde.

A barreira linguística é um aspecto importante em virtude do seu impacto na comunicação, na interação social e no desenvolvimento da competência cultural. Este é um problema que ainda permanece entre estudantes e profissionais e que precisa ser superado(1515. Wang CC, Andre K, Greenwood KM. Chinese students studying at Australian universities with specific reference to nursing students: a narrative literature review. Nurse Educ Today. 2015;35(4):609-19. DOI: https://doi.org/10.1016/j.nedt.2014.12.005
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2014.12.0...
).

A comunicação em outro idioma envolve um processo de adaptação vivenciado pelos estudantes estrangeiros, o que pode provocar um impacto significativo na vida dos acadêmicos. Estudos revelam que um nível de proficiência elevado diminui o isolamento social, muitas vezes vivenciado por estudantes estrangeiros, melhora a interação com os estudantes locais e, consequentemente, o progresso acadêmico do estudante(1616. Guan X, Jones G. Unlearning and relearning: Chinese students in a New Zealand first year undergraduate class. N Z J Teach Work. 2011;8(2):208-19. DOI: 10.1.1.461.4432&rep=rep1&type=pdf
https://doi.org/10.1.1.461.4432&rep=rep1...
-1717. Campbell J, Li M. Asian students’ voices: an empirical study of Asian students’ learning experiences at a New Zealand University. J Stud Int Educ. 2008;12(4):375-96. DOI:10.1177/1028315307299422.).

O idioma aparece como um dos maiores desafios enfrentados pelos estudantes, o que pode dificultar a formação de vínculo, tanto no contexto social quanto nos cenários de práticas. Vale ressaltar que enfrentar alguns obstáculos no processo de formação faz parte, e é considerado algo importante e necessário, pois esses desafios possibilitam novas interpretações pelos estudantes, que os tornam mais experientes, críticos e criativos. Esses são atributos importantes para um bom profissional(1111. Carvalho JL, Backes DS, Lomba MLLF, Colomé JS. Intercâmbio académico internacional: uma oportunidade para a formação do futuro enfermeiro. Rev Enf Ref [Internet]. 2016 [citado 2017 jul. 04];Série IV(10):59-67. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIVn10/serIVn10a07.pdf
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,1818. Vasconcelos TC, Araújo BFB. Compreendendo os resultados de aprendizagem em intercâmbios voluntários internacionais. Rev Gestão Tecnol [Internet]. 2017 [citado 2017 jul. 12];17(1):154-80. Disponível em: http://revistagt.fpl.emnuvens.com.br/get/article/view/915. DOI: http://dx.doi.org/10.20397/2177-6652/2017.v17i1.915
http://revistagt.fpl.emnuvens.com.br/get...
-1919. Guskuma EM, Dullius AAS, Godinho MSC, Costa MST, Terra FS. International academic mobility in nursing education: an experience report. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 July 10];69(5):929-33. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71672016000500986&script=sci_arttext&tlng=en
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).

Em relação à atuação do enfermeiro, podemos trazer essa reflexão ao seu processo de trabalho, uma vez que este profissional é responsável pelo atendimento de seres humanos. Esses, por sua vez, estão inseridos nos mais diversos ambientes e formas de pensar e agir, exigindo deste profissional melhor desenvolvimento de habilidades de comunicação e relação interpessoal. Quando enxergamos o ponto de vista do outro, nossas relações tendem a percorrer caminhos mais suaves e respeitados. Esse aspecto certamente contribui para o desenvolvimento de um profissional mais qualificado, diferenciado, criativo e mais atento à complexidade humana(2020. Isse SF, Silva ODB. Intercâmbio cultural Univates-Brasil/Universidade Pedagógica Nacional-Colômbia: um relato de experiências da formação cultural de estudantes de cursos de licenciatura. Cad Pedagog [Internet]. 2013 [citado 2017 jul. 20];10(2):35-46. Disponível em: http://www.univates.br/revistas/index.php/cadped/article/view/881
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).

A partir deste estudo, percebe-se a necessidade de outras investigações que proporcionem uma avaliação do impacto dessa experiência na prática assistencial do enfermeiro e no mercado de trabalho diretamente. Como este estudo objetivou compreender a experiência durante a mobilidade acadêmica de estudantes de graduação, não foi possível a exploração do aspecto citado.

A mobilidade internacional de estudantes de Enfermagem, ainda na graduação, proporciona um aprendizado vivencial em realidades multiculturais que favorece uma formação diferenciada e sensível às questões da saúde global.

CONCLUSÃO

As experiências dos estudantes de graduação da EEUSP nos programas de mobilidade acadêmica internacional possibilitam uma formação diferenciada, pois favorece o desenvolvimento pessoal e profissional, uma vez que fortalece sua trajetória como estudante e prepara-o para o mercado de trabalho. Apesar de algumas dificuldades vivenciadas, como a adaptação ao idioma, a elaboração dos planos de estudos e a realização de pesquisas durante a mobilidade internacional serem importantes para o desenvolvimento profissional e pessoal do estudante, alguns aspectos podem ser mais bem sistematizados, principalmente no que concerne às relações interinstitucionais. Torna-se fundamental a participação de ambas as instituições de ensino na construção dos planos de estudos realizados pelos estudantes, isso facilitaria o aproveitamento das disciplinas cursadas no exterior e o não atraso na formação.

Dentro das atividades acadêmicas realizadas pelos estudantes, as disciplinas teóricas e práticas foram as que mais predominaram. Entretanto, a vivência da pesquisa, que é um dos alicerces da universidade, foi pouco comentada, denotando ausência de investimento e de interesse das instituições anfitriãs. Talvez uma comunicação mais efetiva entre as universidades e professores possa trazer bons frutos no campo da pesquisa.

São muitas as vantagens que o intercâmbio internacional pode trazer à formação profissional, como discutido neste trabalho, tanto relacionadas ao desenvolvimento técnico-científico, cultural e pessoal quanto pelas ideias inovadoras que podem aflorar e serem aplicadas no Brasil. Por isso, sugere-se que haja maior investimento governamental e institucional nesses tipos de programas voltados à graduação, mas com planejamento mútuo e acompanhamento das instituições, o que pode possibilitar maiores condições para alcançar os objetivos de ensino e pesquisa, e que a experiência contribua para o desenvolvimento de enfermeiros críticos e reflexivos, comprometidos com a saúde global, com a compreensão sociocultural da saúde, com a Enfermagem e o país.

A mobilidade internacional de estudantes ainda na graduação favorece experiências acadêmicas, socioculturais e amplia a autonomia do futuro enfermeiro, porém há que se destacar a necessidade de ampliação da experiência para além do ensino, de forma a aproveitar melhor a vivência no exterior e ampliar o contato com os grandes centros de pesquisa em Enfermagem.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Set 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    06 Out 2017
  • Aceito
    27 Fev 2018
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