O artigo inicia com uma reflexão acerca da articulação que os relatos de viagens - reais ou imaginárias - podem cumprir junto ao discurso moderno sobre as diversidades e as alteridades. Considera, ainda, os relatos como exercício de poder, na medida em que, segundo Foucault, a força do poder reside na produção de efeitos positivos no nível do desejo e do saber. Para tanto, lembra os cronistas responsáveis pelas primeiras descrições do Novo Mundo, cujos livros de viagens adquiriram autoridade sobre as regiões estrangeiras ao desvelar seus mistérios, como a descrição de costumes, hábitos alimentícios, vestimenta e relações familiares, entre outros, e orientando, assim, os novos viajantes. As narrativas de viagens feitas por mulheres são então introduzidas a partir da especificidade de suas abordagens. Afinal, ao irromper o espaço público, elas necessitam estabelecer uma relação entre o espaço, o conhecimento e a autoridade, e, para validar seus discursos, servem-se da história e da referência às fontes consultadas. Marquesa Calderón de la Barca, Isabel Pesado de Mier, as irmãs Larraínzar, Condessa de Merlín e Nísia Floresta são algumas das escritoras aqui trabalhadas.
relatos de viagem; memorialismo; autoridade; poder