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Textualidades literárias e seus sujeitos femininos

ARTIGOS TEMÁTICOS

Textualidades literárias e seus sujeitos femininos

Tânia Regina Oliveira Ramos

Universidade Federal de Santa Catarina

"Como se pode ter uma relação amorosa

com os nomes próprios?"

Roland Barthes por Roland Barthes

Vamos partir da premissa de que escutar a polifonia de vozes a partir de nossas leituras seja uma necessidade. Todo e qualquer esforço para entender historicamente o mo(vi)mento teórico, cultural, político e as textualidades de gênero nos levam a abalar o nosso papel institucional diante de tantas certezas cristalizadas nos discursos de representações. Novos nomes e outras falas permitem hoje uma linhagem de um significativo prefixo desconstrutor: descontinuidade, desmembramento, deslizamento, descentralização. Se a ideia de identidade coletiva tornou-se rarefeita, se os tempos se diluíram ou se transformaram em "migalhas", mesmo assim o sentimento da história vai afirmativamente recuperando seus diálogos como os artigos aqui reunidos. Neles encontramos as histórias escritas no feminino, as representações de mulheres, as sensibilidades e as angústias, questões importantes para o corpo textual como dualidade, multiplicidade e ilusão, a função simbólica da atuação formal de mulheres migrantes, o feminino como personagem principal de textos filosófico-literários, em sua dimensão de subjetividade e alteridade, mecanismos patriarcais construídos pela lógica ocidental e os cruzamentos entre gênero e cultura levados para o texto teatral, além da noção de cidadania expressa em narrativas de si e textos da intimidade.

A literatura e a escritura se cruzam em temas novos e renovados. Por outro lado, os nomes próprios vão se constituindo monemas nessa gramática de gênero: Émilie du Châtelet, Carolina Maria de Jesus e Frida Kahlo, Elena Gianini Belotti, Elvira Seminara, Simone de Beauvoir, Ada María Elflein e a escritura feminina na dramaturgia de Caryl Churchill. A esses nomes acrescento suas leitoras e seus leitores, que inscrevem as suas pesquisas no campo dos estudos literários, espaço da ampliação do imaginário e da possibilidade do conhecimento, em que, além de buscar a coerência em lugares, datas e nomes próprios, cedem lugar ao contemporâneo desejo de colocar a mulher como sujeito na possibilidade infinita da reescrita de suas histórias silenciadas. Ao aproximar lugares teóricos e geográficos, proporcionamos o encontro entre pesquisadoras e pesquisadores como Paulo Jonas de Lima Piva, Fabiana Tamizari, Marina Becerra, Alessandra Matias Querido, Ana Maria Chiarini, Magda Guadalupe dos Santos, Amalia Ortiz de Zárate Fernández e Rodrigo Browne Sartori.

Reunir esses textos e esses nomes nas suas diferentes cartografias, em diferentes mapas e tramas, permite a reorganização de nosso olhar sobre a história das mulheres. Não mais para procurar registrar como as coisas realmente aconteceram, e sim elaborar textualidades, no plural. É possível (re)apresentar e aproximar os séculos XVIII, XIX, XX e XXI. É possível perceber que o México pode trazer cores para as narrativas em sépia. A França e a Itália não ficam longe daqui com suas precursoras e suas migrantes. A Argentina nos ajuda a ler as escritas da intimidade em uma história da construção do desejo de cidadania na América Latina.

No centro ainda das questões de nossos artigos temáticos está o próprio conceito de literatura a ultrapassar e redefinir as fronteiras do poético e do ficcional. Encontra-se aqui também, nos próprios limites dos gêneros textuais, uma literatura que parece não querer mais sobreviver por si só. Aproximar a historiografia, as cenas e telas, a filosofia, as ficções, a dramaturgia e as escritas da intimidade é um avanço diante da rejeição das metanarrativas enquanto interpretações teóricas de larga escala pretensamente de aplicação universal. Micro-histórias, recortes mínimos de um realismo afetivo em pessoas e personagens estudadas aproximam a história das textualidades híbridas no esforço de dissolução dos rótulos e no diálogo necessário entre os saberes. A consciência crítica e o alargamento das possibilidades do ato da leitura, nas diferentes áreas de conhecimento, permitem um novo olhar sobre as coisas ditas relacionadas ao presente e aos pilares do passado, sempre à espera de ressignificações. Sob o signo da resistência, a literatura e a escrita feminina funcionam como eixo de todas as leituras, redimensionando a ordem estética e cultural dos sujeitos femininos e suas identidades teóricas, textuais, históricas e políticas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2012
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