ARTIGOS TEMÁTICOS
A contribuição do feminismo às pesquisas sociológicas contemporâneas
Eleonora Menicucci de Oliveira
Universidade Federal de São Paulo
Apresentação
O objetivo desta seção temática é divulgar o debate realizado durante o XII Congresso Brasileiro de Sociologia, em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em junho de 2005, na mesa-redonda intitulada "A contribuição do feminismo às pesquisas sociológicas contemporâneas", organizada por Eleonora Menicucci de Oliveira e Lucila Scavone.
Os textos que a compõem discutem, a partir de diferentes lugares acadêmicos em que as pesquisadoras estão inseridas, a contribuição do feminismo à Sociologia contemporânea, considerando a consistente disseminação das categorias do pensamento feminista nas pesquisas sociológicas tanto na academia como fora dela e sua ampla penetração na produção do conhecimento das Ciências Humanas e Sociais. A inclusão de novos conceitos analíticos na Sociologia nas últimas décadas, como "gênero", "relações sociais de sexo", "saúde da mulher", "direitos sexuais e reprodutivos", "violência de gênero" e "trabalho e heterotopias feministas", reflete um diálogo profundo entre a perspectiva dialógica e relacional do conhecimento e as matrizes teóricas do feminismo. Esse diálogo rompeu com a idéia da universalidade da ciência instituída: masculina, branca, heterossexual, classista e racializada. A discussão que propomos tem como finalidade fazer um balanço de diferentes aspectos dessas pesquisas na academia brasileira nos campos da saúde, da violência, dos movimentos sociais e da história do feminismo, evidenciando a necessidade de a Sociologia considerar a questão de gênero como um dos elementos imprescindíveis à compreensão da realidade contemporânea.
Considerando a importância do diálogo do feminismo com a Sociologia na busca de 'soluções' aos problemas sociais de homens e mulheres no espaço público e privado, a introdução de uma perspectiva feminista de gênero nas análises sociológicas particularmente na Sociologia brasileira e seus impactos na produção do conhecimento contemporâneo, a extensão desse diálogo a outras áreas do conhecimento (como biomédicas, saúde e jurídicas, entre outras), a contribuição desse conhecimento à situação social das mulheres e das relações de gênero, acreditamos que a pertinência desta seção temática se justifica plenamente por seu caráter teórico-metodológico, ético, social e político.
Ressaltamos não só a consistência teórica dos textos como também a ligação entre eles refletida, a partir do pensamento feminista, no diálogo que as autoras realizam entre os campos de conhecimento das Ciências Humanas a História e a Sociologia.
Margareth Rago nos traz a discussão da subjetivação libertária das mulheres, possibilitada pelo impacto do feminismo, ao explorar possíveis interpretações teórico-metodológicas da experiência histórica da organização anarcofeminista Mujeres Libres, atuante na Revolução Espanhola, tendo como referência teórica os conceitos foucaultianos de "estéticas da existência" e "cuidado de si", colocados em uma perspectiva feminista.
Lourdes Bandeira explora algumas das influências e convergências possíveis que advêm do pensamento feminista, traduzidas em contribuições importantes à reconstrução tanto do conhecimento científico como de outros saberes destinados à pesquisa nas Ciências Sociais e na intervenção social. Dito de outro modo, os estudos feministas interagem com o proceder científico da teoria social dialogando com alteridades e diferenças.
Lucila Scavone reflete sobre as implicações políticas e científicas dos estudos de gênero e feministas não só com o objetivo de resgatar o seu lugar legítimo na construção de uma Sociologia de gênero e/ou feminista, como também de relembrar a sua não-neutralidade , mostrando como eles emergiram de um diálogo da teoria com o movimento social, resgatando parte desse diálogo e pontuando as inovações conceituais que propiciaram às Ciências Sociais.
Por fim, Eleonora Menicucci discute a desconstrução e a re-construção do pensamento científico a partir da relação com o movimento feminista por meio de três estratégias teórico-metodológicas para renomear conceitos instituídos nas Ciências Humanas como universais e hegemônicos. A primeira é a linguagem de cada dia, a qual as feministas foram renomeando; a segunda é a desconstrução dos dados estatísticos; e a terceira, a inclusão do sofrimento mental das mulheres como doença.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
28 Jul 2008 -
Data do Fascículo
Abr 2008