Editorial

Trazemos aqui o volume 9, n.1, 2001 da Revista Estudos Feministas, que contou mais uma vez com o apoio do CNPq e dos Centros de Filosofia e Ciências Humanas e de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina.

Desde que a Revista Estudos Feministas se transferiu para a UFSC, em 1999, temos nos empenhado em recuperar sua periodicidade. Em 2000, publicamos três exemplares (vol. 7, n. 1-2, 1999; vol. 8, n. 1, 2000; e vol. 8, n. 2, 2000) . O último número de 2000 teve vários lançamentos no primeiro semestre de 2001: em Recife, sob a generosa acolhida dos colegas do PAPAI; em Santa Cruz, na Califórnia, graças ao apoio entusiasta de Sonia E. Alvarez; em Brasília, sob a cuidadosa organização da AGENDE e do NEPeM/UnB; e em Florianópolis, em evento que teve Suely Kofes como palestrante. Voltamos agora à periodicidade regular da Revista Estudos Feministas, com dois números anuais, publicados em junho e novembro.

Como já afirmamos em editoriais anteriores, em nossa gestão, além de darmos continuidade à política editorial inicial de publicar textos de excelência acadêmica, buscamos expandir a Revista Estudos Feministas para outras áreas disciplinares ainda pouco contempladas. Com essa proposta, trazemos neste número os artigos de Ruth Sabat - que disseca a publicidade a partir do ângulo teórico inovador dos estudos culturais _ e o de Millie Thayer, que dialoga com teóricos da globalização mostrando, a partir de pesquisa com o movimento de mulheres trabalhadoras rurais do sertão pernambucano, "uma outra face da globalização, com efeitos potencialmente positivos".

Este número traz também dois artigos sobre relações de gênero nas comunidades camponesas, temática que, apesar do expressivo debate e produção acadêmica desde os anos 70, esteve pouco presente nos nove primeiros anos da revista. As antropólogas Sônia Missagia de Matos e Maria José Carneiro nos levam a diferentes lugares do Brasil _ do Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais, à Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, passando por Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro _, mostrando como o gênero continua uma força estruturadora das relações familiares, de produção e de herança em grupos camponeses brasileiros. Sob o ângulo das trabalhadoras urbanas, a contribuição de Nadya Araújo Guimarães também versa sobre questões do trabalho, destacando a importância do enfoque diferencial do gênero para a compreensão do fenômeno da mobilidade no mercado de trabalho.

Na seção "Ensaio", Maria Teresa Citeli faz uma revisão do debate teórico contemporâneo sobre a influência do biológico na construção social de diferenças sexuais, habilidades e padrões cognitivos presumidamente localizadas no corpo (cérebro, genes e fisiologias masculina e feminina).

A entrevista deste número é com a professora de cinema e de estudos da mulher, Ella Shohat, que conversa sobre a interseção entre feminismo e multiculturalismo, apontando para a necessidade de problematizarmos as narrativas eurocêntricas feministas.

O dossiê "Mulheres na política, mulheres no poder" faz uma incursão no campo de gênero e política. Este dossiê, fruto de um seminário no Congresso Nacional (maio de 2000) e organizado pelo CFEMEA em parceria com várias instituições, traz parte dos depoimentos feitos naquele momento por mulheres políticas, bem como textos apresentados no evento por pesquisadoras e representantes de instituições governamentais e não governamentais. Além disso, o dossiê traz outros artigos que abordam a temática das ações afirmativas e da participação política das mulheres, incluindo um texto inédito de Maria Noemi Castilhos de Brito, que nos deixou em 1996. Com isso queremos prestar nossa homenagem a esta pesquisadora da primeira geração de estudiosas do tema no Brasil e pouco lembrada pelas gerações atuais. O dossiê publica também tradução de um importante artigo de Anne Phillips sobre cotas e paridade na política, texto que icertamente irá alimentar um debate que envolve hoje mais de 8.000 mulheres eleitas para diferentes cargos legislativos no Brasil.

Como de costume, as resenhas deste número atestam a riqueza de temáticas e o importante número de livros publicados atualmente no Brasil sobre as relações de gênero e os estudos feministas. Entre as questões levantadas, temos discussões sobre identidades de gênero, violência, literatura, conjugalidade, ações afirmativas, cidadania, entre tantas outras. Algumas dessas resenhas analisam livros sobre gênero e educação, antecipando o tema do nosso próximo dossiê.

Voltamos neste número a publicar a seção Agenda, com informações sobre os vários eventos na área dos estudos feministas e de gênero. Lembramos que esta seção também é publicada em nossa homepage, produzida pela webwoman e atual secretária executiva Rita Maria Xavier Machado, a quem cabe a tarefa de contato com nossas/os leitoras/es, colaboradoras/es e assinantes. Nesta página é possível ter acesso a informações atualizadas sobre a Revista Estudos Feministas, assim como informação sobre os artigos publicados desde o surgimento do periódico, em 1992. Consultando a homepage da revista, nossas/os leitoras/es poderão acompanhar o que acontece no campo dos estudos feministas e de gênero no Brasil e no mundo, bem como acessar outros sites afins.

Agradecemos a todas/os que colaboraram gratuitamente com a Revista Estudos Feministas, especialmente os conselhos editoriais, as/os pareceristas ad hoc e a Susana Bornéo Funck e Eglê Malheiros pela revisão de vários artigos deste número. Luiz Felipe Miguel contribuiu gentilmente com a tradução do artigo de Anne Philips. À artista plástica catarinense Vera Sabino, nossa gratidão pela generosa aceitação para participar da capa. Finalmente, à equipe da secretaria da revista, Rita Maria Xavier Machado e Louise Lazzari, nosso reconhecimento.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  16 Maio 2002
• Data do Fascículo
  2001