Open-access A Enfermagem em tempos de pandemia: estéticas da amizade para outros modos de vida

Nursing in times of pandemic: aesthetics of friendship for other ways of life

Enfermería en tiempos de pandemia: estética de la amistad para otras formas de vida

Resumo:

Este estudo busca analisar as práticas de cuidado das enfermeiras no contexto da pandemia de Covid-19 na Atenção Primária à Saúde (APS) no Sistema Único de Saúde. Para tal, foi realizada uma entrevista semiestruturada com 59 enfermeiras atuantes na APS, no Rio Grande do Sul, no âmbito da pesquisa nacional intitulada Práticas de Enfermagem no Contexto da Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo Nacional de Métodos Mistos. Inspiradas no método genealógico de Michel Foucault, assim como nos Estudos Feministas e de Gênero, os relatos foram analisados para pensarmos sobre as práticas de cuidado numa perspectiva situada pelas questões de gênero e raça, como modo de conhecer, criar e recriar práticas de cuidado eticamente orientadas por estéticas da amizade, tal como Foucault chegou a sugerir em seus estudos sobre o cuidado de si.

Palavras-chave:
pandemia; enfermeiras; ética do cuidado; estéticas da amizade

Abstract:

This study seeks to analyze the care practices of nurses in the context of Covid-19’s pandemic in Primary Health Care (PHC) in the Unified Health System. To this end, a semi-structured interview was carried out with 59 nurses working in PHC in Rio Grande do Sul, as part of the national survey entitled Nursing Practices in the Context of Primary Health Care (PHC): A National Mixed Methods Study. Inspired by Michel Foucault's genealogical method, as well as Feminist and Gender Studies, the reports were analyzed in order to think about care practices from a perspective situated by issues of gender and race, as a way of knowing, creating and recreating care practices ethically oriented by aesthetics of friendship, as Foucault suggested in his studies on care of the self.

Keywords:
Pandemic; Nurses; Ethics of Care; Aesthetics of Friendship

Resumen:

Este estudio tiene como objetivo analizar las prácticas de cuidado de enfermeros en el contexto de la pandemia del Covid-19 en la Atención Primaria de Salud (APS) en el Sistema Único de Salud. Para ello, se realizó una entrevista semi-estructurada a 59 enfermeras que trabajan en APS en Rio Grande do Sul, como parte de la investigación nacional titulada Prácticas de Enfermería en el Contexto de la Atención Primaria de Salud (APS): Un Estudio Nacional de Métodos Mixtos. Inspiradas en el método genealógico de Michel Foucault, así como en los Estudios Feministas y de Género, los relatos fueron analizados para pensar las prácticas de cuidado desde una perspectiva situada por las cuestiones de género y raza, como forma de conocer, crear y recrear prácticas de cuidado orientadas éticamente por la estética de la amistad, como Foucault sugirió en sus estudios sobre el autocuidado.

Palabras clave:
pandemia; enfermeras; ética del cuidado; estéticas de la amistad

Práticas de cuidado em Enfermagem para outros modos de vida

A pandemia de Covid-19 operou como um intensificador das desigualdades sociais e fez com que as históricas relações de poder e de dominância ficassem ainda mais explícitas em suas marcas relacionadas às questões de gênero e raça (Ana Paula dos Reis et al., 2020). Nesse sentido, podemos perceber que os trabalhos realizados majoritariamente por mulheres, relacionados ao cuidado e que já sofriam com os efeitos da desvalorização, bem como da precarização, passaram a lidar também com a intensificação da sobrecarga do trabalho a ser realizado. O trabalho das enfermeiras1 ilustra bem essa realidade, pois enfrentaram a pandemia e a intensificação da sobrecarga de trabalho com significativas restrições estruturais, tanto nos serviços, quanto em relação às condições de vida das pessoas adscritas aos territórios que as unidades dos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS) abrangem.

Pensamos que as práticas de cuidado em Saúde, especialmente as relacionadas à atuação das enfermeiras, que ocorrem sob condições de possibilidade fortemente marcadas pelo sexismo e pelo racismo, podem constituir práticas de cuidado capazes de estabelecer modos de escapar ao biopoder e suas estratégias disciplinares e biopolíticas, as quais fazem a gestão política tanto do corpo individual, quanto do corpo social tomados em seus processos de vida e morte (Michel Foucault, 2014a). Afinal, se por um lado a atuação das enfermeiras pode reproduzir discursos e práticas medicalizantes, por outro, também pode desenvolver discursos e práticas de cuidado que expressam consciência política do seu papel social, o que faz com que as enfermeiras formem uma categoria profissional bastante atuante nas lutas pelo acesso da população às determinações sociais da saúde. Portanto, podem mobilizar outros modos de praticar o cuidado em saúde, abrindo caminhos para que os processos de constituição de subjetividades sejam capazes de instaurar outros modos de vida, pois seus repertórios enriquecem as práticas de cuidado em saúde e, nesse sentido, estabelecem materialidades para a cena onde cotidianamente se passam nossas existências.

Assim, a partir da seguinte pergunta de pesquisa - como se constituem as práticas de cuidado na atuação das enfermeiras no contexto da pandemia de Covid-19 na APS no Sistema Único de Saúde (SUS)? -, este estudo busca analisar as práticas de cuidado na atuação das enfermeiras no contexto da pandemia de Covid-19 na APS no SUS, articulando-as com algumas questões trazidas pela ética do cuidado. Essa abordagem importa porque inclui o papel social das enfermeiras, além de reconhecer a produção de conhecimentos desenvolvidos pela categoria. Ao questionar e problematizar os modos como se constituem as práticas de cuidado realizadas pelas enfermeiras, elaboramos um diagnóstico do presente, que nos possibilita praticar o pensamento crítico que, tal como proposto por Foucault (2000), é “uma atitude, um éthos, uma via filosófica em que a crítica do que somos é simultaneamente análise histórica dos limites que nos são colocados e prova de sua ultrapassagem possível” (p. 351). Tal exercício nos parece bastante importante após passarmos pela experiência de viver uma pandemia, que explicitou os limites dos modos de produção capitalista e neoliberal, bem como os riscos que tais modos impõem às nossas existências (Bruno Latour, 2020). Em vista de tal contexto, criar e recriar outros modos de vida é uma tarefa urgente.

Nesse estudo, nos inspiramos no método genealógico de Foucault (2006c), além de nos apoiarmos no referencial teórico produzido pelo filósofo e, também, pelos Estudos Feministas e de Gênero. Trata-se de uma abordagem qualitativa, cujo material empírico foi produzido no Rio Grande do Sul, no âmbito da pesquisa nacional intitulada Práticas de Enfermagem no Contexto da Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo Nacional de Métodos Mistos,2 coordenado por um grupo de pesquisadores do Núcleo de Estudos de Saúde Pública (NESP) da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e universidades públicas de todos os estados brasileiros. O instrumento de produção de dados foi a entrevista semiestruturada respondida por 59 enfermeiras atuantes na APS no Rio Grande do Sul, entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021.

A fim de participar da pesquisa, as enfermeiras deveriam estar atuando nos territórios da APS e desenvolvendo práticas de assistência ou gestão por pelo menos três anos. A pesquisa não incluiu enfermeiras preceptoras, consultoras ou profissionais sem vínculo de trabalho formal com o serviço de saúde, além de enfermeiras ausentes por motivo de férias ou afastamento de qualquer natureza.

Ao analisarmos como se constituem as práticas de cuidado realizadas pelas enfermeiras, podemos observar não apenas os modos como tais práticas ocorrem, mas, também, os discursos que as materializam. Os relatos das enfermeiras também expressam uma importante atuação dessa categoria profissional nas lutas em defesa do SUS, especialmente por este sistema apresentar, em seu ideário e em suas históricas lutas, propostas para constituição de territórios potentes para que as práticas de cuidado em saúde possam legitimar outros modos de vida, o que converge com a intenção da própria pesquisa nacional, citada acima, pois esta vem determinada a

[...] reconhecer os avanços no exercício das práticas individuais e coletivas das enfermeiras e dos enfermeiros nos mais complexos, diversos e singulares territórios de suas atuações, modificando os modos de cuidar e contribuindo para a edificação de um novo modelo de atenção à saúde. Ao mesmo tempo, faz-se necessário imprimir outros olhares aos desafios estruturais e conjunturais, agravados pela pandemia de Covid-19. A Enfermagem tem assumido o protagonismo no enfrentamento da maior crise de saúde pública/coletiva e, por consequência, das questões de ordem social, política, econômica e institucional que se (re)apresentam (Sousa, 2022, p. 25).

Nesse estudo, inicialmente, abordamos as biopolíticas e as necropolíticas da contemporaneidade, pois esses conceitos nos guiaram na elaboração de uma breve genealogia do cuidado. Em seguida, apresentamos algumas proveniências históricas da Enfermagem. Ainda, pensamos sobre a guerra contra as mulheres como estratégia para silenciar os modos de vida insurgentes ao modelo de sociedade capitalista e neoliberal. Assim, por meio dos relatos acerca da sobrecarga e precarização do trabalho das enfermeiras na APS, durante a pandemia de Covid-19, analisamos as práticas de cuidado realizadas pelas enfermeiras numa perspectiva situada pelas questões de gênero e raça, como modo de conhecer, criar e recriar práticas de cuidado eticamente orientadas por estéticas da amizade, tal como Foucault (2006a) chegou a sugerir em seus estudos sobre o cuidado de si.

Esta noção emergiu na cultura clássica grega e foi bastante frequente a seu tempo, que se estendeu do século V a.C. até o século V d.C., e estava relacionada com “uma atitude - para consigo, para com os outros, para com o mundo (...) uma certa forma de atenção, que exige uma conversão do olhar, do exterior, dos outros, do mundo, etc. para si mesmo” (Foucault, 2006a, p. 14). O cuidado de si era, também, “uma certa maneira de estar atento ao que se pensa e ao que se passa no pensamento” (Foucault, 2006a, p. 14). Para isso, eram exercidas ações de si para consigo, tais como técnicas de meditação, de memorização do passado, do exame de consciência, entre outras, pelas quais podemos nos assumir, mas também nos transformamos. Contudo, o cuidado de si não buscava o isolamento do sujeito, mas, sim, a produção de uma relação privilegiada e fundamental consigo mesmo, que possibilitasse ao sujeito descobrir-se como membro de uma comunidade (Foucault, 2010).

As práticas de cuidado em saúde são modos fundamentais para a constituição de subjetividades, uma potente estratégia de poder que opera, simultaneamente, sobre a disciplina dos indivíduos e a regulamentação da população, através da naturalização de normas para guiar os gestos, os corpos, os discursos e, ao mesmo tempo, os modos coletivos de gerir a vida (Diego Rafael Betti Russo; Adriana Marcondes Machado, 2020). Ao se constituir por meio de conflitantes e históricas proveniências, a Enfermagem desenvolve múltiplas práticas de cuidado em saúde, e estas também são modos pelos quais nossos corpos e subjetividades se constituem. Portanto, se as práticas e os discursos de verdade que compõem os sistemas de saúde oferecidos às populações podem operar a manutenção de normas e regras imprescindíveis para o modelo de sociedade capitalista neoliberal, elas também podem criar condições de possibilidade para a emergência de outros modos de vida ao trazer experiências diferentes, que, quando passam pelos corpos das pessoas, podem modificar as suas subjetividades.

Biopolíticas e necropolíticas da contemporaneidade

Durante a pandemia de Covid-19, as crises sanitária e social - que já configuravam a realidade da população brasileira - agravaram e aprofundaram os processos de precarização da vida, que ocorrem sob justificativas relacionadas aos modos de organização social, político e econômico que se baseiam na reprodução da racionalidade neoliberal. Esta tem seus alicerces na reprodução das desigualdades estruturais, no extrativismo e na expropriação privada dos recursos que geram as condições necessárias para a garantia das nossas existências (Fábio Mallart; Fábio Araujo; Adriana Fernandes, 2021). Nesse contexto, as enfermeiras enfrentaram a pandemia sob más condições de trabalho, tais como: intensificação da sobrecarga de trabalho, baixos salários, dificuldade de acesso aos equipamentos de proteção individual, risco de contaminar-se e contaminar familiares, entre outras situações de exposição ao risco de adoecer ou, mesmo, morrer (Larissa Rezio et al., 2022).

Ao analisar as relações de poder que constituíram o cotidiano que cada país viveu durante a pandemia, Paul B. Preciado (2020) observou que as diferentes estratégias tomadas pelos países diante da extensão do período pandêmico mostraram dois tipos distintos de tecnologias biopolíticas para gestão da vida, tanto dos corpos individualmente quanto da população tomada como um corpo social. A primeira delas esteve presente nos modos pelos quais países como Itália, Espanha e França aplicaram estratégias estritamente disciplinares muito semelhantes com aquelas usadas em epidemias anteriores, que ocorreram no século XIX na Europa e que já se baseavam no distanciamento dos corpos através do confinamento doméstico de toda a população. E a segunda tecnologia biopolítica ocorreu em países como Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Hong-Kong, Japão e Israel, por meio da aplicação de técnicas disciplinares e de controle, que utilizaram a biovigilância digital como o uso de cartões de crédito e celulares que podem traçar os movimentos do corpo individual (Preciado, 2020).

No Brasil, estudos apontaram que a condução do Governo Federal para o enfrentamento da pandemia foi um exemplo concreto de práticas e discursos necropolíticos (Pedro Hallal, 2021; Rafael Dall’Alba et al., 2021). A população brasileira enfrentou a pandemia sob os efeitos dos processos de intensificação da precarização, respaldados por políticas de ajuste fiscal que agravaram ainda mais a insuficiência de recursos destinados ao financiamento do SUS. Somaram-se, ainda, a ausência de um plano nacional capaz de proteger a população do risco de adoecer ou morrer de Covid-19, bem como a intensificação das tentativas de privatização dos serviços de saúde e as falhas logísticas graves em relação à garantia do acesso da população à vacina (Dall’Alba et al., 2021). Essas escolhas políticas atuam de acordo com aquilo que Achille Mbembe (2018) chamou de necropolítica, para explicar as formas contemporâneas de racismo que subjugam a vida ao poder da morte. O autor destaca, ainda, como “o racismo é acima de tudo uma tecnologia destinada a permitir o exercício do biopoder. O velho direito soberano de matar” (Mbembe, 2018, p. 18-19). Isto é, o biopoder funciona nas sociedades contemporâneas como estratégias biopolíticas, que são modos de controlar e regular a população através da promessa da majoração da vida, a qual se cumpre fazendo com que algumas vidas sejam protegidas, promovidas e cuidadas, na dependência de expor muitas outras vidas ao sofrimento e à morte (Foucault, 2014a).

A gestão dos corpos também utiliza, além do racismo, uma outra fratura social: o sexismo (Silvia Federici, 2017). Assim, os corpos das mulheres, bem como os corpos que não se enquadram nas premissas heteronormativas, são historicamente expostos a situações de violência e vulnerabilidade social. Segundo Federici (2017), o sexismo e o racismo foram, e são, pilares fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo. Embora as relações patriarcais estejam presentes na composição das relações de poder ao longo da história, somente nas últimas décadas a violência de gênero, como resultado da pressão produzida pelos movimentos feministas, foi reconhecida como uma das mais graves violações dos direitos humanos por sua frequência e extensão, “que afeta a integridade pessoal, a saúde, deteriora a qualidade de vida e viola os direitos civis, econômicos, sociais e culturais”, além de estar articulada com outras formas de violências e desigualdades, como a racial, a étnica e a econômica (Mariela Peller; Alejandra Oberti, 2020).

Nesse sentido, pensamos que as práticas de cuidado em saúde, especialmente quando problematizam o acesso às determinações sociais da saúde, têm um papel fundamental para o enfrentamento das desigualdades sociais, sobretudo se considerarmos os marcadores de exclusão social como gênero, raça e classe, entre outros. Segundo Antônio Carvalho e Paulo Buss (2012, p. 123), “desde os primórdios da industrialização nos países ocidentais, tem sido reportado uma importante literatura ‘social’ sobre saúde e doença, centrada na tese de que desigualdades no campo social e econômico geravam desigualdades no campo da saúde”. Assim, foi elaborada uma relevante tradição de estudos que relacionam saúde, condições de vida (pobreza) e ambientes sociais e físicos. Portanto, a determinação social da saúde está ligada a questões como gênero, raça, classe, idade, entre outros marcadores sociais de exclusão, além de ter um vínculo estreito para com a possibilidade de acesso a condições ambientais como saneamento básico, moradia, alimentação saudável, ar puro, água potável, ou, ainda, a condições de mobilidade, educação, trabalho, entre outras.

No contexto da pandemia, a atuação das enfermeiras se mostrou fundamental não só pela presença constante nos serviços de saúde, gerenciando e prestando assistência continuada às pessoas que apresentaram desde sintomas leves até quadros graves decorrentes do vírus de Covid-19 (Elen Cristiane Gandra et al., 2021), mas também pelo papel social da enfermagem, o qual opera a produção de saberes e práticas importantes para dar conta das necessidades em saúde dos territórios que se formam com a APS (Sandra Ferreira; Lisiane Périco; Vilma Regina Dias, 2018). Ao realizarem diagnósticos situacionais dos territórios, as enfermeiras apresentam elementos para que as práticas de cuidado em saúde não sejam orientadas apenas pela história natural da doença, como previsto pelo paradigma positivista.

A importância do papel social das enfermeiras nos leva ao questionamento histórico do cuidado para compreendermos as condições de possibilidade das práticas de cuidado realizadas pelas enfermeiras na APS.

Breve genealogia do cuidado

O cuidado, segundo Roseni Pinheiro e Ruben Mattos (2006, p. 9), é “categoria-chave para abrir novos diálogos do campo de conhecimentos, saberes e práticas em saúde, possibilitando a concretude de ações que se destinam a materializar uma política de saúde em defesa da vida” e, nesse sentido, pensar sobre o cuidado no contexto da pandemia de Covid-19 é pensar sobre o ônus que recai sobre as mulheres, que estão no centro dos esforços na prestação do cuidado em saúde (Gabriela Santos et al., 2020). Contudo, esse trabalho de cuidado com os outros, realizado pelas mulheres nos serviços essenciais, tal como na Enfermagem, não é valorizado. Isso porque o cuidado, ao ser atribuído às mulheres como uma atividade relacionada a valores morais, como o amor à família, faz com que não seja pensado como trabalho, sendo desqualificado e considerado uma atividade subalterna (Santos et al., 2020). De acordo com Helena Hirata (2016), o trabalho de cuidado como um conjunto de práticas que consiste em trazer respostas concretas às necessidades dos outros é exemplar das desigualdades imbricadas de gênero, de raça e de classe, pois os cuidadores são majoritariamente mulheres, negras, pobres, muitas vezes migrantes. Hirata (2016, p. 64) lembra que o trabalho de cuidar “de idosos, crianças, doentes, deficientes físicos e mentais foi exercido durante muito tempo por mulheres, no interior do espaço doméstico, na esfera dita ‘privada’, de forma gratuita e sob o manto moral do amor à família”.

O capitalismo, ao produzir uma separação entre o mundo público e privado, intensificou a hierarquização entre homens e mulheres, bem como a afirmação de binarismos que naturalizam o mundo público como o lugar dos homens e o mundo privado e a esfera doméstica como espaço para as mulheres (Valeska Zanello; Carla Antloga; Eileen Pfeiffer-Flores; Iara Flor Richwin, 2022). Portanto, o cuidado, ao ser naturalizado como atributo biológico, exclusivo e inerente às mulheres, fundamenta a materialização de uma inclusão desigual das mulheres nas relações de trabalho no capitalismo.

Eva Kittay, em entrevista concedida a Marivete Gesser e Helena Fietz (2021), aponta que existem modos distintos para abordar a ética do cuidado, os quais têm como desafio conciliar a ênfase nas particularidades dos indivíduos com as generalizações das regras das estruturas institucionais. Assim, Kittay busca abordagens teóricas e práticas acerca da ética do cuidado “que nos digam ao mesmo tempo o que o cuidado deveria ser e o quão amplamente uma ética do cuidado pode ser utilizada” (Gesser; Fietz, 2021, p. 5).

A pandemia tem mostrado como as mulheres podem sentir-se sobrecarregadas por condições relacionadas à realização de práticas de cuidado variadas, que recaem sobre seus corpos como tarefas naturais, biológicas e vocacionais. Essa perspectiva essencialista justifica moralmente os efeitos do biopoder nos corpos femininos, os quais são intensificados quando articulados com as questões étnicas por meio do racismo. As práticas de cuidado pesam sobre os corpos das mulheres, sobretudo por serem perpassadas pela exposição ao sacrifício e ao sofrimento, através de relações de dominação, que limitam fortemente as possibilidades de escapar das marcas de um mundo traçadas por contingências patriarcais, coloniais e capitalistas e não por relações éticas de cuidado. Estas, por sua vez, precisam contar com condições que possibilitem às pessoas que cuidam dos outros serem também cuidadas e, além disso, possam acessar elementos que garantam o cuidado de si mesmas, tais como tempo para atividades de seu interesse, alimentação saudável, moradia, entre outros.

Christine Ceci, Jeannette Pols, Mary Ellen Purkins (2017) e Sônia Acioli et al. (2014) consideram que há pouca produção científica acerca das práticas de cuidado e apontam a necessidade de privilegiar análises e pesquisas sobre este tema. As práticas de cuidado das enfermeiras devem ser tomadas enquanto práticas que se reconfiguram e se reajustam porque precisam responder às contingências e às especificidades das pessoas e situações, pois são realizadas sob forte influência das históricas contingências sociais. Assim, esses saberes e práticas se referem às experiências anteriores, que lhes imprimem grande parte do que são e, ao mesmo tempo, também se atualizam em resposta às contingências sociais do presente (Ceci; Pols; Purkins, 2017).

As experiências que envolvem práticas de cuidado em saúde nos conduzem na relação com nossos corpos e com os corpos dos outros, também entre nossos corpos e o ambiente. Os modos como nos relacionamos conosco e com o que nos é externo marcam fortemente as nossas vidas. Portanto, acreditamos que as práticas de cuidado tomadas como um projeto político podem influenciar fortemente as condições de possibilidade de que dispomos para existir. Johana Oksala (2009) considera apropriado tomarmos as análises de Foucault sobre a genealogia da ética, para que os feminismos se apoiem nas práticas de liberdade como abertura para a criação de outras formas de subjetivação, como resistência aos efeitos das relações de poder normalizadoras das técnicas do poder disciplinar e do biopoder, o que pode possibilitar a constituição de outros modos de praticar o cuidado em saúde e outros modos de vida. Na antiguidade grega, as práticas de liberdade tinham como objetivo a busca pela capacidade do governo de si mesmo, para possibilitar o exercício do pensamento de modo descomprometido às convenções, utilizando, para isso, valores estéticos com objetivo de que seus modos de vida fossem compondo estéticas da existência (Foucault, 2014b).

A estética da existência, proposta por Foucault (2006a) ao analisar a vinculação da ética com o cuidado de si, aponta um caminho que articula a ética e a estética. Nesse sentido, a ética é pensada como prática de liberdade, pois a ética seria a prática refletida da liberdade e a liberdade a condição ontológica da ética, que, na cultura da antiguidade grega, estava relacionada como um éthos que se constitui nos modos como nos conduzimos.

Ao pesquisar sobre as práticas de cuidado em saúde, pelas lentes dos Estudos Foucaultianos em articulação com os Estudos Feministas e de Gênero, pensamos a ética como prática de liberdade aliada à estética para promover aberturas que possibilitem a emergência de outros modos de vida (Oksala, 2009). Uma melhor compreensão dos valores estéticos pode nos ajudar a lidar com as preocupações da vida cotidiana e das práticas de cuidado, pois se referem a situações específicas e que, portanto, não são passíveis de universalização. Por isso, os valores estéticos não parecem se encaixar muito bem nos modelos científicos e éticos que predominam hoje no campo da saúde. A estética, porém, pode ser resgatada como um valor para o campo das práticas de cuidado em saúde, retirando o monopólio da ciência e da religião sobre os discursos de verdade que se relacionam a essas práticas (Pols, 2019).

Sobre a guerra contra as mulheres: silenciamentos de outros modos de vida

Federici (2017) traz importante contribuição para pensarmos a construção do gênero em relação às práticas de cuidado. Ao analisar a transição do feudalismo para o capitalismo, mostra como a campanha da “caça às bruxas” funcionou como um dispositivo patriarcal e colonial de poder sobre os corpos das mulheres, com o objetivo de explorar a força reprodutiva desses corpos, mas também para silenciar outros modos de vida derivados da cultura pagã que se fortaleciam com a possibilidade que as camponesas tinham, durante o feudalismo, de usar coletivamente os recursos naturais nos espaços que ainda eram pouco controlados como bosques, prados, florestas, rios, entre outros. Possibilitavam, por conseguinte, que essas mulheres praticassem de modo coletivo seus saberes, reconhecidos e valorizados socialmente, sobre os corpos, as plantas medicinais e os ciclos da natureza, os quais produziam condições para outros modos de organizar a vida.

A caça às bruxas limitou os corpos das mulheres ao espaço doméstico e privado onde deveriam reproduzir o trabalho relacionado ao cuidado dos outros, da casa, dos filhos e dos homens. Assim, “na Europa, o ataque contra as mulheres justificou a apropriação de seu trabalho pelos homens e a criminalização de seu controle sobre a reprodução”, portanto, o trabalho não remunerado das mulheres garantiu as condições necessárias para produção da força de trabalho masculina (Federici, 2017, p. 203). Ainda, segundo a autora, o biopoder característico da caça às bruxas também foi aplicado pelos colonizadores sobre os corpos dos povos originários, sendo parte de um projeto de expropriação, em que “a demonização dos povos indígenas americanos serviu para justificar sua escravização e o saque de seus recursos” (Federici, 2017, p. 203).

Verónica Gago (2020) considera que os Estudos Foucaultianos colocam a guerra como eixo de análise das relações de poder, pois sua presença é constante nos discursos e práticas lançados pela racionalidade moderna, pois a guerra pode tramar um verdadeiro enredo sobre o qual se forja uma racionalidade, ainda que esta tenha como justificativa sua capacidade de apaziguar a própria guerra. A autora também pensa a guerra contra os corpos das mulheres por meio das análises propostas por Federici (2017), que explica o estado de guerra permanente direcionado para algumas vidas, aquelas que o patriarcado e o colonialismo vêm explorando, desqualificando e expondo à morte. Isso para que modos de vida insurgentes ao biopoder não dificultem os ciclos de crise que o capitalismo e o neoliberalismo impõem para produzir a acumulação do capital.

A atualização da caça às bruxas como hipótese política, segundo Gago (2020, p. 75), ocorre por meio do mapeamento dos “novos corpos, territórios e conflitos sobre os quais essa caça se pratica”. Portanto, consideramos prudente a perspectiva da colonialidade de gênero de María Lugones (2014, p. 949), que analisa o sexismo e o racismo, para afirmar que “não se resiste sozinha à colonialidade do gênero”, mas se resiste a ela desde dentro, quando compreendemos que os modos de viver no mundo devem ser compartilhados, pois, dessa forma, podemos compreender os atos de outras pessoas e, assim, permitir seu reconhecimento. A autora traz, ainda, que,

[...] é importante que estes modos não sejam simplesmente diferentes. Eles incluem a afirmação da vida ao invés do lucro, o comunalismo ao invés do individualismo, o “estar” ao invés do empreender, seres em relação em vez de seres em constantes divisões dicotômicas, em fragmentos ordenados hierárquica e violentamente. Estes modos de ser, valorar e acreditar têm persistido na oposição à colonialidade (p. 949).

Pensamos que a atuação das enfermeiras e os territórios que vão sendo produzidos coletivamente, tal como a APS no Brasil, engendram importante resistência ao biopoder, bem como possibilitam relações que podem fazer emergir outros modos de vida. E, por essa potência, têm sido alvos de uma guerra antiga, cujas estratégias se atualizam com mais intensidade durante uma pandemia.

Proveniências da Enfermagem

As práticas de cuidado realizadas pelas enfermeiras constituem muitos dos modos com os quais pensamos o corpo, pois essa categoria profissional produz discursos e práticas de cuidado que lidam com as especificidades dos processos de saúde e doença (Pols, 2019), ao mesmo tempo que têm em seu próprio campo um cenário hegemonicamente medicalizante operado pelo biopoder e seus efeitos normalizadores. Nesse sentido, são historicamente relacionadas com o governo das condutas dos sujeitos e com a regulação das populações.

Entre as proveniências dessa categoria profissional, existe uma íntima associação com o catolicismo, que aparece na composição da atuação das enfermeiras de diferentes modos, conforme exemplo apontado por Sara Caroline Ribeiro Gugel, Célia Scapin Duarte e Ana Paula Lopes Lima (2020, p. 3932), que mostra como, em 1958, o primeiro Código de Ética da categoria caracterizava “a Enfermagem como missão, ao invés de profissão a ser exercida com cientificidade. Substitui a particularidade caritativa pela vocação que mantém a Enfermagem submissa a outras categorias profissionais”. Outras proveniências marcantes da categoria, segundo as mesmas autoras, estão situadas em uma histórica relação de poder em que os profissionais da medicina subjugam os saberes e as práticas de cuidado das enfermeiras e, também, por atuações políticas lideradas por enfermeiras e suas relações de pertencimento com os feminismos.

Desde que emergiu, no século XVIII, como uma profissão feminina, a Enfermagem teve seu desenvolvimento fundamentado no suposto atributo “natural” das mulheres para realizar o cuidado e papéis sociais relacionados às tarefas reprodutivas (Maria Henriqueta Kruse, 2006). Tanto no Brasil quanto no mundo, a Enfermagem é considerada uma profissão nuclear na estrutura das profissões de saúde e está organizada em três categorias distintas: enfermeiras, técnicas de enfermagem e auxiliares de enfermagem. Estão presentes em todas as estruturas organizacionais do sistema de saúde brasileiro, embora em uma composição bastante desigual: 77% são de nível técnico ou auxiliar e somente 23% são enfermeiras profissionais. Além disso, a Enfermagem brasileira se constitui em mais da metade da força de trabalho no cuidado em saúde no país (Manoel Carlos Neri Silva; Maria Helena Machado, 2020).

Por sua organização hierárquica, a Enfermagem espelha a intersecção entre gênero, raça e classe, porque, além de ser constituída quase exclusivamente por mulheres, divididas segundo critérios de escolaridade e qualificação técnica, ainda reflete em sua estrutura desigualdades raciais, que podem ser percebidas no fato de que a maioria das técnicas e auxiliares de enfermagem são pretas ou pardas e a maioria das enfermeiras são brancas (Machado, 2017).

Na pandemia, as enfermeiras ocuparam papel social indispensável ao organizarem rapidamente estratégias para enfrentar os desafios impostos pelas crises sanitária e social. Embora no Brasil, e em diversos países do mundo, uma maior importância tenha sido dada à estruturação da atenção especializada voltada para os casos graves de Covid-19, com ampliação de leitos hospitalares e de respiradores pulmonares, que, segundo Maria Guadalupe Medina et al. (2020), foram ações imprescindíveis, mas que não dispensavam a reorganização dos serviços da APS para que, simultaneamente, fosse organizado o enfrentamento à pandemia e a manutenção da oferta regular de suas ações. Isso porque estas configuram um modelo importante para prover assistência à saúde durante uma pandemia, por conta de atributos como responsabilidade territorial e orientação comunitária. Nesse sentido, a APS poderia proporcionar importante colaboração ao enfrentamento da pandemia, pois tem papel fundamental na redução das iniquidades em saúde. Devido à sua capilaridade nos territórios, possui potência para realizar ações de prevenção e controle da transmissibilidade viral, diminuição no agravamento de casos leves e moderados e ações de educação em saúde (Medina et al., 2020) que podem organizar a população no sentido de resistir às estratégias necropolíticas em curso no Brasil (Dall’Alba et al., 2021).

Relações de poder e a constituição de corpos, subjetividades e modos de vida

O controle sobre as pessoas começa pelos seus corpos, por meio de relações de poder, cujas forças em embate marcam os corpos e delimitam gestos, discursos e práticas. Nesse sentido, o poder “deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em rede, permeando todas as relações. Nunca está localizado aqui ou ali” (Foucault, 2006c, p. 193), é menos uma propriedade que uma estratégia, e seus efeitos ocorrem por meio de manobras, táticas e técnicas (Gilles Deleuze, 2005).

A produção do sujeito é resultado dos efeitos das relações de poder, por meio de estratégias como as disciplinares, que se aperfeiçoaram a partir dos séculos XVII e XVIII, e, de acordo com Foucault (1987), têm como função maior “adestrar” os corpos, para se apropriar e explorar sempre mais de suas forças. Portanto, se trata de uma técnica de gestão dos corpos que empreende um controle das multiplicidades existentes entre as pessoas e seus corpos (Foucault, 2006b). Uma vez individualizado pelas técnicas disciplinares, o corpo se torna alvo dos sistemas de controle populacional, através de estratégias biopolíticas, as quais tomam os corpos enquanto um corpo social, que precisa ser administrado segundo uma gestão calculada da vida por meio de “observações econômicas dos problemas de natalidade, de longevidade, de saúde pública, habitação e migração (...) numerosas técnicas que buscam a sujeição dos corpos e o controle das populações” (Foucault, 2014a, p. 151). A biopolítica é uma tecnologia de poder que se ocupa da população nos seus processos biológicos, enquanto espécie, e assegura sobre ela um poder de regulamentação. Essa tecnologia de gestão sobre o corpo social (biopoder) e individual (disciplina) foi fundamental para o desenvolvimento do capitalismo em fins do século XVIII e início do século XIX (Foucault, 2006b).

Em meio a uma pandemia, a biopolítica, como estratégia de controle e regulação dos modos de viver individuais e coletivos, nos envolve com maior intensidade, por estabelecer uma lógica securitária ao se apresentar como antecipadora dos riscos que podem nos alcançar. Esse dispositivo risco-segurança garante a constituição de legitimidade e aceitabilidade da população a essa estratégia de poder massificadora (Sandra Caponi, 2014).

A Enfermagem na APS em tempos de pandemia

Em tempos de pandemia, quando a maior garantia de proteção era o distanciamento social, alguns trabalhos considerados essenciais seguiram sendo realizados, como o trabalho das enfermeiras. De acordo com Tanise Galon, Vera Lúcia Navarro e Angélica Gonçalves (2022), a pandemia evidenciou o agravamento de uma crônica precarização do trabalho da Enfermagem, fazendo com que a proteção aos riscos de contaminação viral representasse um enorme desafio para as enfermeiras, como podemos perceber no trecho a seguir:

E30: Os desafios são enormes [...] garantir o equipamento de proteção individual adequado e de qualidade, garantir fluxos que preservem a equipe, que a gente mantenha nossa saúde, que a gente se exponha minimamente ao risco de adoecer, garantir escala porque a equipe adoeceu, porque teve períodos que eu trabalhei com toda a equipe da tarde afastada e a gente tendo que se virar com o mínimo de profissionais para manter os atendimentos.

A Enfermagem trabalhou durante a pandemia com equipes reduzidas em consequência dos afastamentos de enfermeiras que adoeceram, o que também provocou intensificação da sobrecarga de trabalho e do sofrimento dessas trabalhadoras.

E49: A principal limitação foi a questão dos afastamentos e a sobrecarga de trabalho. Em virtude disso, muitas pessoas adoeciam no meio do caminho, ou de Covid-19 ou de outras coisas porque era muita sobrecarga, nesse sentido, a gente seguiu atendendo todo o resto e teve essa nova demanda que surgiu, então a gente teve o trabalho dobrado.

E45: Eu tento dar assistência para todos, por isso que eu até te falei da questão da sobrecarga de trabalho. Eu estou sobrecarregada! Então, assim, eu sei que não é o certo, existe uma grande exaustão. Eu sou uma pessoa exausta, com uma má qualidade de vida enorme! Uma coisa que, como enfermeira, eu prezo para todo mundo é a qualidade de vida. Mas, neste momento, todos os profissionais de Enfermagem, da área da saúde, todos estão com essa exaustão.

Ao serem questionadas sobre o que facilitaria o seu trabalho, 19 enfermeiras expressaram incredulidade diante da ideia de que o seu trabalho poderia apresentar alguma facilidade.

E20: Facilidades (pensativa)? Eu acho que é toda a rede de apoio, o que a gente precisa, é ter uma rede de apoio bem boa.

E6: Como facilidades (pensativa)?

No entanto, absorvido o estranhamento com a pergunta acerca do que facilita o trabalho na APS, 29 enfermeiras apresentaram como resposta que o trabalho em equipe facilita suas atuações nos serviços.

E24: Entre os pontos positivos que facilitam muito o trabalho, tem o comprometimento da equipe. Realmente, a gente tem uma equipe aqui nesses três anos muito bem constituída e todos são cogestores do nosso trabalho, são responsáveis e esse trabalho de equipe mesmo, de poder discutir caso, de poder fazer reunião e esse trabalho em equipe eu acho que é um facilitador, sim.

E53: Facilidades? Eu acho que uma das facilidades que a gente tenta construir é a questão da equipe mesmo, de construir confiança com a equipe. No início é um pouquinho difícil até todo mundo se conhecer, mas depois que a equipe já está mais unida, facilita muito o trabalho, tanto na parte assistencial quanto na parte burocrática e gerencial mesmo.

E22: Como facilidades hoje eu encontro a equipe se ajudando mutuamente [...] se não fosse com a ajuda de todos, a gente não teria conseguido vencer, por exemplo, esses meses de pandemia que passaram e que foram bem difíceis.

O trabalho em equipe de saúde e de Enfermagem emerge na década de 1950 com a concepção da abordagem biopsicossocial dos processos de saúde e doença, ao incluir a noção de atenção integral nos sistemas de saúde. Embora existam avanços e retrocessos em busca da aplicação da integralidade como princípio orientador dos serviços de saúde, o novo perfil demográfico e epidemiológico da população brasileira e mundial passou a se caracterizar por um aumento da expectativa de vida, mas também das doenças crônicas que colocam o desafio de trabalhar com equipes multiprofissionais em um horizonte que requer cuidados em saúde de longo prazo (Marina Peduzzi; Valeria Marli Leonello; Maria Helena Trench Ciampone, 2016).

De acordo com Peduzzi (2001), o trabalho em equipe deve ser pensado como modalidade de trabalho coletivo que se constitui por meio da relação recíproca entre as intervenções técnicas, bem como a interação dos agentes. A partir dos anos 1990, o debate acerca do trabalho em equipe começa a ser orientado para compor práticas de cuidado diversificadas que articulem a integração dos trabalhos entre diferentes profissionais do campo da saúde. Nesse sentido, a formação em saúde também deve fomentar o trabalho em equipe e a prática colaborativa, além de integrar processos de educação permanente dos profissionais de saúde e de Enfermagem (Peduzzi; Leonello; Ciampone, 2016).

A organização do trabalho em equipe responde à necessária ampliação dos saberes e das práticas de cuidado em saúde, conforme prevê um dos princípios orientadores do SUS, a integralidade (Geisa de Souza; Marina Peduzzi; Jaqueline da Silva; Brígida Carvalho, 2016). Contudo, o trabalho em equipe não apresenta um consenso conceitual, embora, desde os anos 2000, venha sendo associado com a prática colaborativa, sugerindo a formação de equipes articuladas com profissionais de diferentes áreas para melhorar o acesso e a qualidade da atenção à saúde. Desse modo, espera-se que equipes de um mesmo serviço, além de realizar trabalhos entre si, também possam colaborar com profissionais e equipes de outros serviços (Peduzzi; Heloise Agreli, 2018; Souza; Peduzzi; Silva; Carvalho, 2016).

Estéticas da amizade para composições das práticas de cuidado

Inspiradas pelos relatos das enfermeiras acerca das suas atuações profissionais na APS durante a pandemia, pensamos que o trabalho em equipe, bem como as relações entre as pessoas que compõem as equipes, as relações entre equipes e entre estas e os usuários do SUS, deve ser permeado pela ética do cuidado para que seus modos sejam tecidos por estéticas da amizade. Segundo Marilda Ionta (2017, p. 376), “a amizade na atualidade, segundo Foucault, pode se aproximar da arte. Uma arte do com-viver dotada de critérios éticos e estéticos (...) porque são criativas, guardam a liberdade da criação e a potência política dos afetos intensos”. O espaço da amizade é o espaço do mundo compartilhado e nesse sentido é um fenômeno político (Francisco Ortega, 2000), capaz de criar modos de vida e resistência às investidas do biopoder (Ionta, 2017). Assim, a amizade se inscreve no regime de trocas sociais (Foucault, 2006b, p. 238), por isso tem importante influência na constituição dos corpos e subjetividades.

Ao promover espaços para que as relações com os outros incluam como possibilidade movimentos de diferenciação, as estéticas da amizade trazem modos coletivos para a constituição das subjetividades. Assim, estilizar as práticas de cuidado, as relações que elas envolvem e a própria vida não tem a ver com seguir um modelo de beleza preestabelecida, mas descobrir a potência da afirmação do cuidado como modo de cuidar de si e das relações com os outros, já que “a amizade nada mais é que uma das formas que se dá ao cuidado de si” (Foucault, 2006b, p. 239).

A ética, que orienta as práticas de cuidado, ao ser permeada pelas estéticas da amizade, coloca a tarefa de pensar criticamente, problematizando, assim, os regimes de verdade que fixam nossos modos de vida em delimitações que fortalecem a manutenção de hegemonias. Portanto, as estéticas da amizade não estabelecem hegemonias e podem promover modos de se relacionar com o estranho, o não familiar, com o que está constituindo territórios onde os processos de diferenciação podem ocorrer porque não há busca por preponderância e relações de dominância. Assim, as relações que se orientam pelas estéticas da amizade buscam fruições para outros modos de vida “por proliferação, justaposição e disjunção, e não por subdivisão e hierarquização piramidal” (Foucault, 1993, p. 199), onde os encontros deem conta da provisoriedade das soluções e possam manter potência para criações de saberes e práticas que proporcionem qualidade de vida, bem viver e modos de vida amigáveis. A amizade, como estética que dá o tom dos fios que tecem o éthos das relações, orquestra encontros nos quais podemos conhecer, reconhecer, criar e recriar com os diferentes modos de praticar o cuidado. Essa plasticidade estética do cuidado cria uma ética capaz de nos dessubjetivar; já não acreditamos mais em essências, nem no sujeito universal, e abandonamos a crença no progresso linear que a modernidade nos prometeu.

Há um entre lugar criado pela amizade que escapa ao biopoder, onde as práticas de cuidado são capazes de criar vidas boas e belas, menos sujeitadas, silenciadas e precarizadas. Segundo Pols (2019), o estudo da ‘vida boa’, embora pareça distante das preocupações atuais relacionadas ao cuidado, pode nos ensinar sobre valores na vida cotidiana ao nos possibilitar perceber suas especificidades. Algumas práticas gregas antigas e humanistas se basearam na filosofia da ‘vida boa’, não como uma doutrina ou teoria geral, mas como um modo de vida, uma prática. Nesse sentido, a ‘vida boa’ encontra expressão no que os filósofos fazem, e não apenas no que falam.

Essa tradição desapareceu na atualidade, mas ela é interessante para pensar o cuidado, uma vez que as práticas filosóficas do bem viver atendiam a valores que fizeram parte do cotidiano. A autora ainda afirma que os estudos dos filósofos do bem viver ajudam a (re)construir repertórios, de palavras e práticas, que disponibilizam valores cotidianos para reflexão.

Todos nós falamos sobre o que achamos importante na vida cotidiana, embora exista uma ausência de conceitos para refletir sobre as palavras e registros em que o fazemos e, por isso, não temos uma compreensão analítica do que Pols (2019) sugere chamar de valores estéticos da vida cotidiana. Para Foucault (2006a), as estéticas da existência são práticas pelas quais as pessoas podem fazer da própria vida uma obra de arte. Ainda que obedecendo a certos cânones coletivos, através do cuidado de si, podemos desafiar as normas estabelecidas para buscar uma forma diferente de vida. Assim, podemos resistir ou nos contraconduzir quando exercitamos o pensamento crítico, o qual pode criar relações de poder desassujeitadas, fora da estética bélica patriarcal, colonial, capitalista e neoliberal.

As enfermeiras e as estéticas da amizade

As enfermeiras vêm criando modos de praticar o cuidado coletivamente que remetem a estéticas da amizade. O trabalho em equipes de modalidades variadas expressa uma capacidade para o trabalho multiprofissional e interdisciplinar que pode facilitar a aplicação da integralidade como princípio orientador das práticas de cuidado no SUS. Nesse sentido, a capacidade para relacionar-se com saberes e práticas diferentes faz com que enfermeiras venham acumulando repertórios de práticas de cuidado que podem responder às especificidades inerentes aos processos de saúde e doença. Assim, a atuação das enfermeiras potencializa a produção de uma ‘vida boa’, que se cria e se recria por meio do encontro entre saberes que circulam nos territórios da APS.

Ao tomar para si o parâmetro estético da amizade, a atuação das enfermeiras pode operar como um disparador para o desenvolvimento de uma ética do cuidado capaz de possibilitar que as relações com os outros, no contexto das relações de equipe e entre esta e os usuários do SUS, possam ser elaboradas a partir da valorização dos diferentes modos de vida. Por sua capacidade de projetar espaços públicos, a amizade cria condições para o encontro entre as diferenças. A ética do cuidado, pensada através das estéticas da amizade, pode trazer visibilidade e reconhecimento para saberes e práticas que ocorrem nos territórios da APS, mas que muitas vezes não são considerados legítimos e/ou científicos porque seus fundamentos respondem a outros modos de pensar a vida e o mundo, que escapam das normas ditadas pela razão científica moderna.

Acreditamos, portanto, que as estéticas da amizade podem nos orientar para pensar o cuidado com uma ética capaz de nos guiar por caminhos mais distantes do que aquele da estética da guerra, que é colocada em circulação e mantida por relações de poder patriarcal, colonial e capitalista, cujos discursos e práticas vinculam-se frequentemente a assujeitamentos e dominações nada amigáveis. Nesse sentido, as estéticas da amizade - e a ética do cuidado que dá corpo ao trabalho das enfermeiras - podem criar outros modos de praticar o cuidado em saúde e, acima de tudo, outras subjetividades com potencial para nos desviar dos modos neoliberais e seus fundamentos sexistas e racistas que, na atualidade, miram o desmanche do território vivo que o ideário do SUS propõe para a APS. Os territórios do SUS são espaços públicos que podem promover encontros e modos de vida contrários aos interesses mercantilistas presentes no campo da saúde; não apenas em relação ao lucro com a doença, mas, também, com a medicalização social, estratégia que visa conduzir e regular a população, conforme interesses de um modelo de sociedade capitalista e neoliberal.

Esperamos que as análises aqui apresentadas possam contribuir com a valorização do trabalho das enfermeiras, especialmente aqueles em que ocorrem encontros multiprofissionais e interdisciplinares e que podem fomentar outros modos de vida, insurgentes ao capitalismo neoliberal, e que fortaleçam a luta por um SUS de qualidade e público. Por fim, gostaríamos de indicar que, entre as limitações desse estudo, apontamos a impossibilidade de generalização dos dados produzidos e das análises aqui realizadas, visto que se tratou de uma investigação qualitativa de aporte regional, em um momento bastante complexo da realidade sanitária mundial.

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  • 1
    Neste estudo, optamos por nos referir às enfermeiras no feminino por ser a Enfermagem uma categoria profissional composta majoritariamente por mulheres (a média mundial traz que a cada dez profissionais, nove são mulheres).
  • 2
    Este estudo foi realizado com utilização de material empírico composto pelos relatos de 59 enfermeiras dados em resposta à entrevista semiestruturada para a pesquisa nacional intitulada Práticas de Enfermagem no Contexto da Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo Nacional de Métodos Mistos, coordenada pela Professora Dra. Maria Fátima de Sousa. A pesquisa iniciou no ano de 2020, desenvolvida pelo Núcleo de Estudos em Saúde Pública (NESP) da Universidade de Brasília (UnB), com o apoio do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (CEP/FS/UnB) sob o número CAAE: 20814619.2.0000.0030. Os dados foram coletados durante novembro de 2020 e fevereiro de 2021, e as equipes estaduais e nacional organizaram e sistematizaram os dados com vistas à produção do relatório final que pode ser acessado no site do Cofen http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-Final-Web-1.pdf.
  • Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista:
    SILVEIRA, Roberta de Pinho; ROCHA, Cristianne Maria Famer. “A Enfermagem em tempos de pandemia: estéticas da amizade para outros modos de vida”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 33, n. 3, e95145, 2025
  • Financiamento:
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
  • Consentimento de uso de imagem:
    Não se aplica
  • Aprovação de comitê de ética em pesquisa:
    Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília sob o número CAAE: 20814619.2.0000.0030

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    25 Jun 2023
  • Revisado
    03 Fev 2025
  • Aceito
    26 Mar 2025
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