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O campo de estudos de gênero e suas duas revistas: uma pauta de pesquisa

COMENTÁRIOS

O campo de estudos de gênero e suas duas revistas: uma pauta de pesquisa

Albertina de Oliveira Costa

Fundação Carlos Chagas

Em 15 anos o campo de estudos de gênero mudou muito no Brasil e adquiriu contornos inimagináveis no início dos anos 90, quando surgiu o projeto da Revista Estudos Feministas. O propósito que mobilizou a criação da Revista de "difundir o conhecimento de ponta na área de estudos feministas ampliando e aprimorando esse campo de estudo [...]" certamente foi alcançado. A legitimidade e a consolidação do campo de estudos de gênero são dados de realidade. Inquestionáveis. A Revista Estudos Feministas contribuiu para esse estado de coisas? Sem sombra de dúvida, mas falta refinar essa afirmação e esclarecer como.

Sinal de uma certa estabilidade no campo dos estudos de gênero tornou-se tênue, foi se esgarçando, desapareceu/enfraqueceu a preocupação inicial de mapear constantemente os avanços, fincar marcos, medir obstáculos para superá-los.

No início da década de 90 a vitalidade da produção acadêmica sobre gênero e o ritmo do crescimento de cursos e de núcleos de pesquisa voltados para a temática indicavam um significativo potencial de demanda por espaços de publicação. É interessante verificar como essa lacuna suscitou a criação de diversas publicações num intervalo relativamente curto de tempo, entre elas a Revista Estudos Feministas (1992) e a revista Cadernos Pagu (1993).

Atualmente a literatura de gênero, além de ser veiculada nos periódicos das Ciências Humanas, conta com inúmeras publicações especializadas – que seria necessário inventariar mais sistematicamente – como o Caderno Espaço Feminino, publicado pelo Núcleo de Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher (NEGUEM), do Centro de Documentação e Pesquisa em História (CDHIS) da Universidade Federal de Uberlândia, a partir de 1995, Gênero, revista que o Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero (NUTEG) da Universidade Federal Fluminense vem publicando desde 1990, e mais recentemente as eletrônicas Ártemis e Labrys, publicadas, respectivamente, pela Universidade Federal da Paraíba e pelo Centro de Estudos do Imaginário da Universidade de Brasília.

O impacto da Revista Estudos Feministas no campo dos estudos de gênero não pode, a meu ver, ser examinado de modo isolado na medida em que dois periódicos acadêmicos contribuíram decisivamente para configurar o perfil desse campo temático.

As trajetórias da Revista Estudos Feministas e da revista Cadernos Pagu, tão dessemelhantes quanto próximas e convergentes, estão reclamando uma investigação mais detalhada e rigorosa.

Em 15 anos a Revista Estudos Feministas e os Cadernos Pagu firmaram-se como referência de excelência entre os periódicos de Ciências Humanas. Ambas estão disponíveis na Scientifc Electronic Library Online (SciELO) (não parece difícil inventariar temas privilegiados e repertoriar autores, convergências e divergências poderão ser ressaltadas).

Cadernos Pagu, criada em 1993, é uma revista do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em 2007 tinha publicado 24 números.

Criada em 1992, a REF está atualmente sediada no Centro de Comunicação e Expressão (CCE), do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina, e até 2007 tinha 33 números em acervo.

À primeira vista sobressaem algumas diferenças formais; a mais gritante opõe gênero privilegiado na apresentação institucional dos Cadernos Pagu e os estudos feministas que nomeiam a outra publicação. Pagu é a revista de um núcleo universitário, a REF pretende ser um periódico não diretamente institucional, mas vinculado a uma coletividade de estudiosos, sua editoria esteve no CIEC/ECO/UFRJ, no PPCIS/UERJ, no IFCS/UFRJ e no CFH/UFSC. No entanto, aqui seria interessante um exame detido da provável relação entre a presença da Revista Estudos Feministas e a recente criação do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) na Universidade Federal de Santa Catarina.

O projeto gráfico extremamente inovador da REF contrasta com o ascetismo formal dos Cadernos Pagu, contraste que remete à situação dos anos 90, quando a REF contou com significativo apoio financeiro da Fundação Ford para a sua implantação e os Cadernos Pagu dependiam de um orçamento universitário mais modesto.

Apresentar-se como um canal de expressão do movimento social de mulheres poderia ser um traço distintivo da REF. Os dossiês da Revista são o espaço dedicado em princípio às questões candentes e aos temas emergentes no movimento de mulheres. Sonia Maluf em 2004 analisou as ambivalências desse projeto em "Os dossiês da REF: além das fronteiras entre academia e militância". Por sua vez, o site do Núcleo de Estudos de Gênero " Pagu apresenta a missão de seus cadernos como a de "[...] oferecer significativa contribuição para as discussões no âmbito acadêmico e fundamentais subsídios para a atuação de organismos governamentais e não-governamentais incluindo a formulação de políticas públicas".

O estudo do itinerário dos dois principais periódicos brasileiros voltados para a problemática do gênero certamente contribuirá para o avanço do entendimento desse campo de estudos.

Recebido em janeiro de 2008 e aceito para publicação em março de 2008

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jul 2008
  • Data do Fascículo
    Abr 2008
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