Acessibilidade / Reportar erro

Perfil da REF dos anos 1999-2012

Profile of the REF from 1999 to 2012

Resumos

O artigo resulta de pesquisa mais ampla sobre a produção acadêmica de gênero e feminista em revistas científicas deste campo, com metodologia peculiar. Trata dos eixos temáticos da Revista Estudos Feministas/REF de 1999-2012 por meio de levantamento de todos os artigos publicados neste período. Analisa a coerência de seu conteúdo com a política editorial proposta, bem como as tendências e características de suas publicações.

Revista Estudos Feministas; política editorial; temas publicados; tendências editoriais


This paper originates from a larger research on gender and feminist academic outputs in Scientific Journals on this field, with a singular methodology. It studies the thematic priorities of the Revista Estudos Feministas from 1999 to 2012, through the survey of all papers published during this period. It analyses the consistency of its content with the proposed editorial policy, as well as the trends and characteristics of its publications.

Feminist Studies Journal; Editorial Policy; Published Fields; Editorial Trends


SEÇÃO ESPECIAL REF 20 ANOS

Perfil da REF dos anos 1999-2012

Profile of the REF from 1999 to 2012

Lucila Scavone

Universidade Estadual Paulista, Araraquara

RESUMO

O artigo resulta de pesquisa mais ampla sobre a produção acadêmica de gênero e feminista em revistas científicas deste campo, com metodologia peculiar. Trata dos eixos temáticos da Revista Estudos Feministas/REF de 1999-2012 por meio de levantamento de todos os artigos publicados neste período. Analisa a coerência de seu conteúdo com a política editorial proposta, bem como as tendências e características de suas publicações.

Palavras-chave: Revista Estudos Feministas; política editorial; temas publicados; tendências editoriais.

ABSTRACT

This paper originates from a larger research on gender and feminist academic outputs in Scientific Journals on this field, with a singular methodology. It studies the thematic priorities of the Revista Estudos Feministas from 1999 to 2012, through the survey of all papers published during this period. It analyses the consistency of its content with the proposed editorial policy, as well as the trends and characteristics of its publications.

Key Words: Feminist Studies Journal; Editorial Policy; Published Fields; Editorial Trends.

A projeção de uma revista acadêmica no cenário científico nacional e internacional está geralmente relacionada a fatores como: a área científica em que está inserida; as temáticas que aborda; a consistência de seus propósitos; a composição de uma equipe executiva qualificada, comprometida e disposta a enfrentar as tensões e as lutas simbólicas dentro e fora de seu campo científico.1 1 Pierre BOURDIEU, 2003. Estes elementos reunidos tendem a repercutir em outros aspectos importantes para o êxito editorial: obtenção de financiamentos internos ou externos à instituição onde está sediada; manutenção da periodicidade; admissão e manutenção em indexadores de prestígio; divulgação impressa e digital; e por fim, reconhecimento científico e crescimento qualitativo que resultam na efetivação exitosa da política editorial proposta.

Considera-se que a Revista Estudos Feministas/REF alcançou este patamar, mesmo veiculando uma temática que, apesar de seu avanço atual na academia brasileira, ainda é objeto de preconceitos em algumas áreas científicas. De fato, após 20 anos de existência, a REF teve um crescimento qualitativo e quantitativo notável e contribuiu para a consolidação acadêmica do campo de estudos de gênero e feministas, no qual é considerada uma de suas principais referências. Foi a primeira revista acadêmica neste campo no Brasil, logo seguida pelos Cadernos Pagu/UNICAMP e mais tarde por outras correlatas. Cabe lembrar que o surgimento da REF deu-se em um momento no qual a produção científico-acadêmica sobre as questões de gênero e feministas começava a crescer no país. O apoio institucional/financeiro dos Programas de Dotações para Pesquisa sobre Mulheres e Relações de Gênero subvencionados pela Fundação Carlos Chagas/Ford (1978-1998)2 2 Análise detalhada destes Programas em Cristina BRUSCHINI e Sandra UNBEHAUM, 2002. e a criação de Núcleos de Pesquisa nas Universidades e Grupos de Trabalho nas Associações de Pós-Graduação foram, sem dúvida, elementos propiciadores do crescimento da produção científica do campo de estudos de gênero no Brasil.3 3 Albertina COSTA e Eva BLAY, 1992, p. 129.

Desde 1999 a REF está sediada na UFSC/CFCH/CCE (Centro de Filosofia e Ciências Humanas/Centro de Comunicação e Expressão). Passou seus primeiros sete anos entre três centros de pesquisas no Rio de Janeiro – dois da UFRJ e um terceiro da UERJ –, o que sugere uma trajetória com vínculos não só institucionais, mas também relacionados "a uma coletividade de estudiosos".4 4 Lena LAVINAS, 1992, p. 3. Em seus começos, no Rio de Janeiro, recebeu apoio externo da Fundação Ford. Atualmente recebe apoio externo do CNPq, CAPES, FAPEU; é indexada em oito bases, entre as quais Scientific Eletronic Library On Line (ScIELO); Hispanic American Periodicals Index (HAPI); International Political Science Abstracts (IPSA). Em 2002 implantou um novo modelo editorial que ampliou as editorias e as responsabilidades, formando uma equipe diversificada no que tange sua formação, interesses teóricos e de geração, o que resultou em uma experiência inovadora e mais coletiva de editoração.5 5 Ver análise e significados desta mudança em Luzinete MINELLA, 2008, p. 107. A partir de 2005 a REF passou a publicar três números por ano.

O eixo central da política editorial da REF pode ser definido pelos seus objetivos de publicar textos que "apresentem reflexões teóricas consistentes e inovadoras [...] ampliando as fronteiras dos debates acadêmicos no campo de estudos feministas e de gênero, instrumentando as práticas dos movimentos sociais", conforme expresso em sua Missão. Esta proposta editorial articula dois pontos importantes que destacam sua particularidade: o compromisso científico-acadêmico e a posição política de não neutralidade em relação aos movimentos sociais, especialmente os voltados para as questões feministas e correlatas. Com base nestas características este artigo pretende traçar o perfil das publicações da REF e sua relação com a política editorial proposta, como também analisar a dinâmica temática do período em pauta.

Assim, mensuramos a frequência de todos os temas publicados em seus artigos nas seguintes seções: Artigos; Artigos Temáticos; Dossiês; Seção Debates; Seção Especial; Seções Temáticas. Nosso universo de pesquisa foi constituído por 471 artigos em 36 números, de 1999 (vol. 7, n. 1-2, duplo) a 2012 (vol. 20, n. 1-3), exceto o volume especial, em inglês, de 1999. O levantamento foi realizado com base na análise das palavras-chave de cada artigo publicado, as quais foram categorizadas em sete eixos temáticos que propiciaram visualizar o perfil geral dos temas publicados neste período. As palavras-chave foram cotejadas com os títulos e resumos dos artigos, o que nos garantiu maior precisão na definição das categorias temáticas. O intuito foi realizar uma análise mais precisa do conteúdo de cada um dos principais eixos temáticos, os quais foram subdivididos em micros eixos, que possibilitaram um resultado mais qualitativo do conteúdo das publicações.

Esta metodologia de pesquisa permitiu traçar os principais temas publicados; situar assuntos menos ou mais trabalhados; verificar tópicos emergentes; relacioná-los com o período de publicação. Foram também verificados o sexo das/os autora/es e sua variação no período, suas áreas de atuação e origens geográficas.6 6 A metodologia deste artigo está sendo utilizada em três projetos de pesquisa mais abrangentes e inter-relacionados: Revistas Acadêmicas de Gênero e Feministas (UNESP/CNPq, 2010-); Estudos de Gênero e Feministas no Brasil: implicações científicas e sócio-políticas (UNESP/CNPq, 2009-); e Estudos de Gênero e Feministas: relações norte e sul (UNESP/CNPq, 2006-2010). Todas os dados coletados foram inseridos em um software gerenciador de banco de dados.7 7 A realização deste software para o conjunto das pesquisas tem a supervisão técnica da Profa. Dra. Daniela Gilbertoni (FATEC/UNESP/ EP/UFSCAR) e Katrini Alves da Silva (Licenciada CS/UNESP).

Eixos temáticos da REF

Os principais temas tratados pelos artigos publicados na REF, nos últimos 13 anos, foram categorizados conforme quadro abaixo.8 8 Agradeço a Helena Gomes (PIBIC) e Katrini Alves da Silva (CS/UNESP) pelo trabalho de sistematização dos dados quantitativos coletados.


Estes dados evidenciam a diversidade dos temas publicados na REF no período pesquisado, ao mesmo tempo que revelam a frequência mais elevada das publicações em questões políticas, sociais e culturais. De fato, se observa que os dois primeiros eixos temáticos representam pouco mais que a metade do total dos assuntos publicados.

O eixo temático mais expressivo publicado pela REF, no período em pauta, foi Cidadania, Movimentos Sociais e Políticas (CMSP), totalizando 127 artigos. Este primeiro eixo aglutinou seis micros eixos nos seguintes assuntos: Políticas, 39%; Raça e Etnia, 24%; Movimentos Sociais, 18%; Violências, 8%; Direitos Civis, 6%; Meio Ambiente, 5%. O micro eixo de Políticas foi o mais expressivo em artigos publicados; ele incluiu ampla gama de temas, dos quais se destacam: Políticas de Cotas; Políticas Culturais; Políticas de Gênero; Políticas Institucionais; Políticas Públicas, Políticas de Saúde; Mulheres na Política; Estado; Ações Afirmativas; Atore/as Político/as.

Entretanto, os dois micros eixos Raça/Etnia e Movimentos Sociais perfizeram juntos 42% dos artigos publicados do eixo CMSP. Os temas publicados em Raça e Etnia abrangeram questões como: as discriminações e desigualdades sociais e econômicas das mulheres negras ou índias; intersecções das categorias gênero, raça/etnia e classe; profissões, trabalho, saúde e educação das mulheres negras ou índias; organizações sociais; as conferências mundiais sobre esta questão. Por outro lado, os temas categorizados em Movimentos Sociais englobaram artigos sobre ONGs; Associações Feministas e/ou Femininas; movimentos antiglobalização; movimentos sociais específicos das categorias de trabalhadoras rurais ou urbanas; movimentos sociais relacionados às causas feministas, de gênero e étnicas/raciais, como por exemplo as da saúde das mulheres que interseccionam gênero/raça/etnia, ou as do movimento feminista negro.

Chama a atenção, no eixo CMSP, a baixa incidência de artigos em Violências, 8% das publicações, já que a violência de gênero é tema histórico e importante no Movimento Feminista. Isto poderia sugerir reduzido índice de pesquisas e/ou produções acadêmico-científicas sobre a questão; ou que elas estariam sendo divulgadas em outros veículos, como livros e coletâneas; ou ainda nos canais de divulgação dos movimentos sociais. Há também que considerar o fato de a violência de gênero aparecer, em alguns artigos, relacionada de forma secundária a outros problemas, como os da saúde. Por outro lado, o micro eixo de Direitos Civis perfaz 6%, com artigos relacionados: aos direitos de propriedade das mulheres em relação às heranças; às leis do casamento e divórcio. As demandas mais específicas de direitos estão subsumidas em outros artigos cruzados com a entrada principal de temas como: família; saúde; educação.

Entretanto, a questão do Meio Ambiente, com 5% dos artigos no eixo CMSP, tem um significado especial. Evidencia o crescimento do interesse sobre o problema ambiental na área mais ampla das Ciências Humanas e Sociais nos últimos anos no país e, consequentemente, o aumento de produção científica em diversos campos científicos, como o de gênero. De fato, o primeiro artigo publicado sobre meio ambiente, na REF durante o período analisado, data de 2003; depois, em 2010 há a publicação de um dossiê sobre Mulheres e Meio Ambiente e, em 2011, uma Seção Temática de Ecofeminismos e Ecologias Queer. Isto sugere que a questão ecológica/ambiental está brotando na produção acadêmica dos estudos de gênero, feministas e queer; e que a REF está em sintonia com esta tendência.

O segundo eixo temático – Cultura, Educação e Mídia (CEM) – tem quase a mesma posição que o primeiro eixo, como mostra o Quadro I, sendo composto de 122 artigos, com seis micros eixos temáticos: Publicações Feministas, 30%; História e Memória, 19%; Artes e Literatura, 15%; Educação, 15%; Mídia e Redes, 13%; Religiões, 8%. Os artigos publicados em Publicações Feministas versam sobre: Editoria de Gênero e Feministas; Políticas Editoriais; Editoras de Livros sobre Mulheres e/ou Feministas; Revistas Acadêmicas Feministas de diferentes países, inclusive o Brasil e análises e autoavaliações da REF. Também incluem artigos sobre a Imprensa Feminista, Jornalismo Feminista, Publicações Eletrônicas Feministas. A relevância desta temática evidencia o lugar que a REF reserva ao debate sobre as publicações feministas, não só nacionais como internacionais, o que pressupõe uma busca constante de seu aperfeiçoamento editorial. No micro eixo História e Memória estão reunidos artigos que contêm análises sobre: História das Mulheres; História do Feminismo; História e Memória de Escritoras ou de Artistas; Memória de Mulheres Viajantes; Memória e Estética; Divulgação Histórica. Em Artes e Literatura há temas como: análises de obras literárias de escritoras; arte popular; artes visuais; crítica literária; escrita feminina; literatura contemporânea; literatura epistolar, todos analisados sob a perspectiva de gênero.

Já o micro eixo Educação, trata das questões de educação: formal; fundamental; superior; física; sexual. Contempla também assuntos sobre práticas pedagógicas; sistemas educacionais e avaliação. É bom lembrar que o tema da educação cruzou, algumas vezes, de forma secundária, com outros temas como: meio ambiente; sexualidade, teoria queer, o que nos leva a supor que ele pode ser mais importante na REF do que a sua frequência simples evidencia. Mídia e Redes aborda principalmente a mídia televisiva, com artigos variados desde análises de gênero e de discurso em novelas, propagandas, até análises de revistas de assuntos variados; da Internet e da Cultura produzida no ciberespaço. Por fim, o último micro eixo de CEM, Religião, aporta questões de diferentes credos religiosos relacionados ao gênero: catolicismo; budismo; pentecostalismo; islamismo; umbanda; cultos afro-brasileiros; além de questões mais específicas sobre religião e justiça medieval, possessão, religião e política; a ausência de ordenação feminina na Igreja Católica, entre outros.

O terceiro eixo temático do Quadro I, Corpo, Identidade, Geração e Sexualidade (CIGS), com 64 artigos, agrega seis micros eixos temáticos: Sexualidade e Erotismo, 37%; Corpo, 22%; Transexualidade, 16%; Identidade e Geração, 14%; e Masculinidade, 11%. Sexualidade e Erotismo perfaz mais de um terço dos artigos deste micro eixo que trata das manifestações da sexualidade – heterossexual e homossexual –, práticas sexuais; estudos sobre sexualidade; desejos; sexualidade brasileira; educação sexual; arte e sexualidade e erotismo. A questão do corpo aparece relacionada com temas da sexualidade, como lesbianismo, transexualismo, mas também com assuntos sobre a prática de esportes e musculação; com canto e dança; como objeto da medicina, da mídia, da propaganda. No eixo temático CIGS, a questão da sexualidade também é discutida com enfoque na transexualidade em artigos avulsos e, sobretudo, em um dossiê específico. Os artigos dos dois últimos micros eixos também estão inter-relacionados com as questões da sexualidade e erotismo: identidades lésbicas; homoerotismo; juventude; envelhecimento; masculinidade e transexualidade.

O quarto eixo temático, Migração, Trabalhadoras e Trabalho (MTT), reúne 58 artigos distribuídos em seis micros eixos temáticos: Trabalho Rural e Familiar, 36%; Trabalho Urbano, 21%; Migração Internacional, 16%; Enfermagem e Parteiras, 15%; Prostituição, 7%; Trabalho Doméstico Remunerado, 5%. Em destaque neste micro eixo os artigos que abordam a questão do trabalho rural: agricultura familiar; ecofeminismo; mulheres na avicultura, na pesca; assentamentos e sindicalismo rural. Em Trabalho Urbano encontram-se análises de profissões de engenheiras, arquitetas e mulheres nas Forças Armadas. No micro eixo Enfermagem e Parteiras há análises sobre aspectos históricos da profissão, além de artigos relacionados ao parto: enfermagem obstétrica, parteiras; assistentes do parto. Migração Internacional compreende artigos sobre a busca de sobrevivência no exterior, geralmente em condições precárias, inclusive o 'turismo sexual'. O micro eixo Prostituição aparece relacionado também ao trabalho tanto de jovens homens, como de mulheres adultas.

O quinto eixo temático, Teorias de Gênero (TG), aglutina 51 artigos que dividimos em quatro micros eixos temáticos: Teorias de Gênero e Feministas, 68%; Teoria Queer, 14%; Autor@s 12%; Tradução, 8%. Este eixo temático é composto majoritariamente por artigos que discutem teorias feministas e de gênero em sua ampla diversidade, com temas como: epistemologia feminista; igualdade/diferença; papéis de gênero, bioética feminista, sociologia feminista, ciência feminista. Além das teorias: pós-estruturalistas; pós-feministas; pós-coloniais, incluindo nesta as teorias da Tradução, que abordam a questão da tradução cultural e transnacional. Os artigos sobre Teoria Queer fazem reflexões teóricas, metodológicas e políticas em relação à transexualidade, como também intersecção com educação e meio ambiente, ecofeminismo queer; ecopolítica queer. Em Autor@s encontram-se as análises de pensador@s que de alguma maneira podem ser relacionados com os Feminismos, como por exemplo Michel Foucault, Emmanuel Lévinas; ou com criações e/ou ativismos feministas, como Maria de Moura Lacerda; Nísia Floresta Hiromi Ito; Nikki Craft.

O sexto eixo temático, Saúde Reprodutiva e Sexual (SRS), com 26 artigos, comporta: 42% relativos à Saúde Sexual, Reprodutiva e Doenças. Aí aborda temas como: HIV/AIDS; Saúde Reprodutiva masculina e feminina; Planejamento Familiar/Contracepção; Câncer de Mama; Anemia Falciforme; Práticas Clínicas. Em seguida temos 39% dos artigos sobre Aborto, questão nodal do Feminismo brasileiro. O primeiro artigo foi publicado em 2001, sobre o discurso do aborto na Igreja Pentecostal, que fornece elementos sobre o cruzamento do aborto com a religião. Em 2008, foi publicado um Dossiê Aborto, em um momento no qual a discussão política nacional sobre o tema estava em evidência. Os artigos que lhe compõem evidenciam os embates do momento: discurso católico sobre aborto no Congresso Nacional; aborto de feto anencéfalo rejeitado, então, na Suprema Corte;9 9 Foi finalmente aprovado aborto em fetos com anencefalia em 2012. aborto e práticas profissionais; aborto e políticas feministas; aborto e emancipação feminina; debate parlamentar sobre a questão; silêncio histórico sobre as práticas do aborto. Em 2009, há um artigo sobre feto anencéfalo e em 2012, um sobre aborto e democracia.

Embora em termos absolutos haja poucos artigos sobre a questão do aborto na REF no período de nosso estudo, cabe ressaltar que eles são significativos no que concerne ao acompanhamento do debate público sobre aborto no país. Por fim, o último micro eixo de SRS, Tecnologias Reprodutivas, com 19% de artigos com reflexões sobre: Infertilidade; Reprodução Humana; Tecnologias Conceptivas; Reflexões Teóricas sobre estas Tecnologias da Ciência, do Feminismo e da Bioética.

Finalmente, o eixo temático Famílias (F) conta com 23 artigos, os quais abordam a questão social e subjetiva da Maternidade, 35% deles: na relação entre os gêneros; nos cuidados com o corpo; na pastoral da criança; no discurso médico sobre aleitamento; nos modos de subjetivação; nas mães abandonantes. O Parentesco representa 22% de artigos deste eixo temático e está articulado a problemas como: Tecnologias de Reprodução; Família; Pensamento Social Brasileiro; Representações Culturais; Adoção; Análises Genéticas. Já a Homoparentalidade representa 17% das reflexões com temas sobre homo-afetividade; famílias homoparentais de gays e lésbicas; conjugalidade de travestis. Abrange o tema da Paternidade, 13% de artigos, que tratam da paternidade nas pesquisas demográficas; da tecnologia do DNA. Por fim, incluí os Direitos Sexuais, 13% de artigos, relacionados com decisões judiciais de parentesco; acesso ao casamento homossexual.

Características d@s autor@s

Buscamos caracterizar alguns aspectos d@s autor@s dos artigos publicados, sendo o primeiro referente ao sexo. Observamos no gráfico abaixo que os homens são minoria na publicação de artigos na REF, no período pesquisado. Entretanto, é interessante observar a curva ascendente, embora não contínua, da participação masculina nos artigos. Os homens começaram a publicar em 2001, depois publicaram em 2003/4/5 e têm o maior pico em 2006, quando publicaram sobre masculinidade, homossexualidade, transexualidade. Posteriormente, embora tenham caído um pouco, mantiveram uma média de publicações que inclusive aponta para o crescimento, conforme gráfico abaixo.


Em relação à origem geográfica d@s autor@s nacionais todas as regiões estão comtempladas, entretanto, observamos que a grande maioria está sediada nas regiões Sudeste, 47%, e Sul, 34%. Do Nordeste, há 10%; Centro-Oeste, 7% e Norte, 2%. E d@s autor@s estrangeiros, por continente, temos: América Latina, 46%; Europa, 25%; América do Norte, 24%; Oceania, 3%; Ásia, 1%; África, 1%. Observa-se que há uma inserção nacional e internacional já consolidada, mesmo que haja regiões com maior concentração.

Quanto à área de formação d@s autor@s temos: Ciências Humanas, 73%; Ciências Sociais Aplicadas, 12%; Linguística, Letras e Artes, 8%; Ciências da Saúde, 4%; Ciências Exatas e da Terra, 2%; Ciências Biológicas, 1%. Nas Ciências Humanas: Sociologia, 25%; Antropologia, 22%; História, 16%; Psicologia, 15%; Educação, 12%; Política, 6%; Filosofia, 4%; Geografia, 1%. Já no segmento de Linguística, Letras e Artes 83% de artigos são da área de Letras, 15% da área de Linguística e 2% de Cinema. Embora haja concentração em algumas grandes áreas, há que se destacar o caráter inter e multidisciplinar das abordagens da REF, já que a própria questão de gênero e feminista as propicia. A complexidade de determinados temas deste campo gera a necessidade de mais de uma área do conhecimento para explicá-los. Isto favorece também a intersecção temática do objeto em análise, conforme constatamos em temas acima analisados.

Para concluir

Os dados analisados evidenciam que o perfil temático da REF, entre 1999 e 2012, reafirma o seu compromisso científico-acadêmico e a sua posição política em relação aos movimentos sociais. De fato, observa-se que todos os eixos temáticos da REF em algum momento se relacionam entre si, sobretudo, em determinados temas, conforme demonstrado acima. Isto lhes fortalece constantemente. Os dois primeiros eixos – Cidadania, Movimentos Sociais e Políticas; Cultura, Educação e Mídia – mostram vigor e coerência com os propósitos da política editorial da REF. Por outro lado, constatamos que a REF acompanha novas tendências como a ampliação dos debates sobre sexualidades e teoria queer, os quais tiveram um crescimento significativo no período – com um pico em 2006 e outro em 2011 – mantendo-se regular deste então. Enquanto isto, os temas dos dois primeiros eixos não perderam sua dinâmica interna, ao mesmo tempo que um tema como o Aborto foi retomado em momento-chave do debate público nacional. Destaca-se, por outro lado, a emergência da questão do Meio Ambiente e Ecológica em uma perspectiva de gênero e feminista. Assim, podemos dizer que a REF continua sua Missão de fortalecer, renovar e divulgar a edição do campo científico de estudos feministas e de gênero no país.

[Recebido e aprovado em abril de 2013]

  • BOURDIEU, Pierre. "O campo científico". In: ORTIZ, R. (Org.) A sociologia de Pierre Bourdieu São Paulo: Olho d'Água, 2003. p. 112-143.
  • BRUSCHINI, Cristina; UNBEHAUM, Sandra. "Os Programas de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas e sua contribuição para os estudos de gênero no Brasil". In: BRUSCHINI, Cristina; UNBEHAUM, Sandra (Orgs.). Gênero, democracia e sociedade brasileira São Paulo: FCC/Editora 34, 2002. p. 17-58.
  • COSTA, Albertina de Oliveira; BLAY, Eva Alterman (Orgs.). Gênero e Universidade São Paulo: NEMGE/USP, 1992.
  • LAVINAS, Lena. "Editorial". Revista Estudos Feministas, n. 0, p. 3-4, 1992.
  • MINELLA, Luzinete S. "Fazer a REF é fazer política: memórias de uma metamorfose editorial". Revista Estudos Feministas, v. 16, n. 1, p. 105-116, 2008.
  • 1
    Pierre BOURDIEU, 2003.
  • 2
    Análise detalhada destes Programas em Cristina BRUSCHINI e Sandra UNBEHAUM, 2002.
  • 3
    Albertina COSTA e Eva BLAY, 1992, p. 129.
  • 4
    Lena LAVINAS, 1992, p. 3.
  • 5
    Ver análise e significados desta mudança em Luzinete MINELLA, 2008, p. 107.
  • 6
    A metodologia deste artigo está sendo utilizada em três projetos de pesquisa mais abrangentes e inter-relacionados:
    Revistas Acadêmicas de Gênero e Feministas (UNESP/CNPq, 2010-);
    Estudos de Gênero e Feministas no Brasil: implicações científicas e sócio-políticas (UNESP/CNPq, 2009-); e
    Estudos de Gênero e Feministas: relações norte e sul (UNESP/CNPq, 2006-2010).
  • 7
    A realização deste
    software para o conjunto das pesquisas tem a supervisão técnica da Profa. Dra. Daniela Gilbertoni (FATEC/UNESP/ EP/UFSCAR) e Katrini Alves da Silva (Licenciada CS/UNESP).
  • 8
    Agradeço a Helena Gomes (PIBIC) e Katrini Alves da Silva (CS/UNESP) pelo trabalho de sistematização dos dados quantitativos coletados.
  • 9
    Foi finalmente aprovado aborto em fetos com anencefalia em 2012.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Set 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 2013

    Histórico

    • Recebido
      Abr 2013
    • Aceito
      Abr 2013
    Centro de Filosofia e Ciências Humanas e Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário - Trindade, 88040-970 Florianópolis SC - Brasil, Tel. (55 48) 3331-8211, Fax: (55 48) 3331-9751 - Florianópolis - SC - Brazil
    E-mail: ref@cfh.ufsc.br