Open-access Cinedemografia: filmes brasileiros e fluxos migratórios no século XXI

Cinedemography: Brazilian films and migratory flows in the 21st century

Resumo

O cinema consolidou-se como objeto de estudo acadêmico a partir da década de 1970, quando diversas áreas do conhecimento passaram também a utilizar os filmes como método de pesquisa. Neste artigo é proposto o desenvolvimento da Cinedemografia, em que métodos demográficos e análise fílmica são associados para a compreensão do fenômeno migratório. Para isso, analisamos os perfis das personagens e os fluxos migratórios representados em longas-metragens brasileiros selecionados, lançados entre 2001 e 2020, comparando representações cinematográficas e os fluxos migratórios captados pelos Censos Demográficos 2000 e 2010. Além disso, destacamos filmes recentes, que sugerem novos fluxos que devem ser passíveis de análise a partir dos dados do Censo Demográfico 2022. Os resultados indicaram que os filmes corroboram e complementam os dados dos Censos Demográficos, aproximam os temas abordados pelo cinema do público, além de poderem ser usados como fonte de dados alternativos na ausência de estatísticas oficiais.

Palavras-chave:
Cinedemografia; Migração; Censos Demográficos; Filmes brasileiros

Abstract

Cinema was consolidated as an object of academic study from the 1970s onwards, when some areas of knowledge have also began to use films as a research method. This article proposes the development of Cinedemography, a combination of demographic methods and film analysis, to understand the migratory phenomenon. For this purpose, we analyze the characters profiles and migratory flows represented in selected Brazilian movies, released between 2001 and 2020, comparing cinematographic representations with migratory flows collected by the 2000 and 2010 Demographic Censuses. Furthermore, we highlight recent films, which suggest new flows, which should be subject to analysis based on data from the 2022 Demographic Census. The results indicate that the films corroborate and complement data from the Demographic Censuses, bringing the themes addressed by cinema closer to the public, and can also be used as an alternative source of data in the absence of official statistics.

Key-words:
Cinedemography; Migration; Demographic Censuses; Brazilian films

Introdução

Assim como os dados demográficos, o cinema também oferece um retrato da sociedade que o produz, das condições de vida da população, suas hierarquias e desigualdades. O presente trabalho contribui para o debate sobre o uso do cinema como método de análise das sociedades e, também, sobre os impactos do processo migratório no Brasil no cotidiano da população. O artigo apresenta alguns filmes brasileiros que abordam fluxos migratórios no presente século, entrelaçados com dados de censos demográficos, nos permitindo apontar a relevância do cinema na interpretação da estrutura social brasileira, bem como da magnitude notável do Censo Demográfico.

Na demografia e, especificamente, nos estudos migratórios, o Censo Demográfico se destaca como a base de dados mais completa no Brasil (Campos, 2018). Ele subsidia pesquisas sobre diversas modalidades migratórias e permite cruzamentos entre estas e as diversas informações socioeconômicas. Já o cinema, desde os anos 1970, vem sendo considerado não só como objeto de estudo pela antropologia, pela história, pela psicanálise, pela filosofia e por outros campos do conhecimento, mas também passou a ser utilizado como método de pesquisa, inclusive na demografia.

Segundo José Ribeiro (2005), tanto a antropologia como o cinema fizeram parte da estruturação da percepção socioespacial impulsionada pela expansão industrial tanto capitalista quanto socialista. Algumas sociedades e culturas passaram a ser constantemente analisadas e cinematografadas, enquanto outras se colocaram como observadoras e produtoras de imagens.

Uma obra marcante na história da relação entre a antropologia e o cinema é o livro The Study of Culture at a Distance, organizado por Margaret Mead e Rhoda Métraux (2000, originalmente publicado em 1953), em que a análise fílmica faz parte dos métodos propostos para a análise de culturas à distância, ou seja, de sociedades inacessíveis à observação direta, por exemplo, por conta de guerras. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos pediu ajuda a antropólogos para lidar com inimigos cujas culturas e tradições eram tão diferentes das suas. O resultado foi uma pesquisa que continuou muito depois da guerra, cujo livro é uma compilação dos trabalhos realizados no período e apresenta uma rica metodologia de estudo de culturas através, por exemplo, de filmes (nazistas, japoneses, franceses, russos e outros).

Para Schvarzman (2007), a chamada Nova História no Brasil nos anos 1970 possibilitou a tomada do cinema como objeto da história e fonte de documentos audiovisuais, mas principalmente possibilitou também a consideração do cinema para além do filme. Segundo a autora, “o foco sai da tela para a sala, o espectador, as significações simbólicas do cinema, a frequentação e as práticas sociais. [...] Ou seja, o cinema é um foco privilegiado de observação de algo que é mais ampliado - o cotidiano, a vida na fábrica ou na cidade” (Schvarzman, 2007, p. 36).

Isso decorre da potência do cinema como instrumento para compreender “outras sociedades” (as que são filmadas), sendo os filmes materiais etnográficos de culturas, costumes, mentalidades e, ademais, portadores de elementos das sociedades que os produzem e os consomem. As visões sobre o outro construídas pela câmera cinematográfica carregam interpretações, discursos e objetivos, científicos ou conquistadores, de quem a comanda (Peña, 2014).

Na demografia, Serge Daney (1997) foi o primeiro autor a considerar as relações com o cinema, notando a diferença entre as populações dos filmes do início da história do cinema e nos anos 1980. Seu argumento é de que, quando o cinema surgiu, assistir a um filme devia causar uma "sensação de pertencimento ao mundo”, quando as projeções “eram então muito densamente povoadas” (Daney, 1997, p. 1). Os filmes continham, além de grandes estrelas e astros, atrizes e atores coadjuvantes, muitos figurantes e elenco de apoio, e contavam histórias de “multidões, máfias, lutas de classes e nações em guerra”. Havia, portanto, uma noção de quantidade: muitas pessoas em muitas salas de cinema, assistindo a filmes com muitas pessoas nas telas. Já nos anos 1980, tanto os filmes quanto as salas de cinema se esvaziaram, tornaram-se menos povoados. Considerando tais transformações, o autor sugere então um estudo das populações dos filmes, uma demografia dos seres filmados (Daney, 1997, p. 1).

A maior parte dos textos que lançam mão da demografia como perspectiva de análise do cinema se dedica à composição do público (por sexo, idade, raça/etnia, poder econômico, níveis educacionais) e suas preferências cinematográficas (como Fischoff et al., 1998; Nielsen, 2013; Independent Cinema Office, 2013) e mostram como dados demográficos têm sido usados para compreender o público em questões de mercado, como na abertura de uma nova sala de cinema.

Outros trabalhos se voltam para a composição demográfica das equipes, personagens, festivais, premiações. Este é o exemplo do site The Stream Team (2014), que mostrou a composição por sexo e cor/raça da Academy of Motion Picture Arts and Sciences, que concede o prêmio Oscar. A pesquisa The Celluloid Ceiling, realizada anualmente desde 1998 pelo Center for the Study of Women in Television and Film, liderada pela pesquisadora Martha Lauzen (2024), traz a participação das mulheres nas equipes dos filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos da América em diversas funções.

Em outra perspectiva, grande parte das pesquisas se debruça sobre análises de filmes específicos. Sully (2011), por exemplo, investiga três momentos em que os discursos demográficos podem ser interpretados através do cinema: o medo de superpopulação que permeou o imaginário norte-americano no final dos anos 1960 e início dos 1970, a ansiedade sobre o declínio da população nos países do Leste Europeu nos anos 1990, e o envelhecimento da população no final do século XX, especialmente na Europa Ocidental, Japão e América do Norte.

Especificamente, sobre cinema e migração, alguns trabalhos citam e analisam filmes internacionais que abordam a migração de uma forma geral (Arranz, 2013; D’Lugo, 2012; Monterde, 2008) ou em temas transversais como multiculturalidade, diáspora e exílio (Martin, 1996; Naficy, 2001).

Hikiji e Kishimoto (2008) construíram um acervo com filmes, produzidos entre 1908 e 2008, sobre a imigração japonesa nas Américas. Deste, cerca de cem produções tratavam da imigração ao Brasil. Já Teixeira (2016) aborda as representações cinematográficas das identidades brasileiras no exterior e as interpretações dos sujeitos migratórios a partir de dois filmes nacionais realizados no período da retomada (1995) e pós-retomada (2006) do cinema brasileiro, além de refletir sobre as representações no cinema dos fluxos migratórios contemporâneos.

É neste contexto que o artigo propõe uma aplicação da Cinedemografia (Alves, 2019; Daney, 1997; Sully, 2011) no contexto da dinâmica migratória brasileira, na associação entre métodos demográficos e análise fílmica. Destaca-se a análise de como o cinema representa o fenômeno, incluindo as relações entre a população filmada (as personagens), a população que filma (as equipes) e a população real (a partir das fontes de dados demográficos). Especificamente para a migração, consideramos as três possibilidades de relação entre as populações do cinema:

Quando os cineastas se voltam para os grupos sociais aos quais pertencem, representando seus semelhantes. Nesse caso, a população filmada se assemelha à população que filma;

Quando os filmes representam grupos sociais diferentes dos quais pertencem os cineastas. É quando os cineastas representam “os outros” e não a si mesmos. Nesse caso, a população filmada é representada a partir dos valores e preconceitos da população que filma;

As ausências. Quando determinados grupos sociais não são incluídos, tanto entre a população que filma como na população filmada.

A grande questão é se a população real está ou se sente representada por essas populações do cinema, e como é essa representação. Em termos específicos, destaca-se o fenômeno migratório, uma das temáticas sociodemográficas mais presentes no cinema brasileiro.

Propomos, então, uma reflexão sobre as possibilidades, os desafios e as formas de trabalho da Cinedemografia, que seria o estudo das populações dos filmes, mais especificamente da população que filma e da população filmada (profissionais que compõem as equipes dos filmes e as personagens que habitam o mundo da diegese - que são, obviamente, retratos da população dos contextos em que o cinema é produzido e das realidades às quais se refere). Nossa proposta é mostrar a viabilidade e a aplicabilidade da Cinedemografia no contexto migratório nacional, ressaltando também relações e hierarquias de gênero e raciais na produção de longas-metragens brasileiros. Para isso, são propostos recortes da população que filma, a partir da seleção de determinados cargos que concentram poder decisório nas abordagens fílmicas, e, na população filmada, selecionando as personagens protagonistas.

Para tal, o artigo emprega três principais estratégias: a observação da presença de questões migratórias na produção cinematográfica deste século; uma breve análise de oito filmes que contemplam a questão migratória; e, por fim, a investigação da relação entre tais produções e a dinâmica migratória tal qual presente nos dados demográficos.

Além desta introdução, o artigo contém três seções. A primeira expõe as fontes de dados e métodos utilizados, que é seguida da análise com os resultados e discussões, e, finalmente, uma seção com as conclusões. A seção de resultados está estruturada em quatro itens. Primeiramente, há a análise sociodemográfica, que apresenta resultados para uma amostra de filmes de longa-metragem brasileiros quanto à abordagem de temáticas sociodemográficas, aos tipos de movimentos migratórios representados e aos perfis de diretores e roteiristas (população que filma) e protagonistas (população filmada) quanto ao sexo e à raça/cor. O segundo item contempla a análise fílmica de cinco filmes selecionados e os retratos censitários. Os filmes foram produzidos entre 2001 e 2015 e comparados às informações de migração obtidas nos Censos Demográficos 2000 e 2010. Em sequência, coloca-se a análise de filmes recentes produzidos entre 2022 e 2024. Por fim, discutimos o tema da cinedemografia.

Fontes de dados e Métodos

O primeiro passo metodológico deste trabalho foi elaborar uma base de dados com informações sobre filmes brasileiros com duração igual ou superior a 60 minutos. As principais fontes de dados foram: ANCINE - Agência Nacional do Cinema, o portal de pesquisa sobre o mercado exibidor brasileiro Filme B, o Dicionário de Filmes Brasileiros - Longa Metragem, de Antônio Leão da Silva Neto (2009), o Dicionário de Cinema Brasileiro, de Mauro Baladi (2013), e a pesquisa realizada por Eduardo Valente sobre os longas brasileiros lançados em festivais e mostras (2021). Verificou-se que essas fontes continham muitas informações desencontradas ou incompletas, de modo que foi necessário recorrer a outras fontes complementares para adicionar ou confirmar as informações. Nessa segunda fase foram consultados catálogos e sites de festivais de cinema, sites dos filmes, das empresas produtoras e distribuidoras, outros portais especializados em cinema, trailers e outros materiais de divulgação dos filmes e, por fim, os próprios filmes.

Posteriormente, para avaliar se e como o cinema brasileiro aborda temáticas demográficas, foram descritos os principais temas abordados em cada filme, criadas categorias de temas sociodemográficos de interesse e verificada a intensidade com que o filme aborda cada tema (como uma temática principal, secundária ou ausente). Quando a temática foi fundamental para o desenvolvimento da trama, foi considerada como uma abordagem principal. E, ao contrário, quando foi apenas um pano de fundo da história contada, não sendo necessário o seu desenvolvimento para o desenrolar do filme, foi considerada uma abordagem secundária. Além disso, para melhor definirmos o quanto e a forma como as temáticas de interesse são abordadas nos filmes, para cada temática pesquisada listamos uma série de aspectos e classificamos se os mesmos estão presentes nos filmes ou não. Exemplificando com o tema migração, observamos se o movimento representado no filme é nacional, internacional, se está relacionado a refúgio ou exílio, se é uma migração econômica ou por motivos de trabalho, se é migração de retorno, entre outros aspectos. O método de análise incluiu a visualização dos filmes e o estudo dos conteúdos abordados neles. A amostra aleatória contou com 1.551 filmes, de um total de 3.486 filmes lançados entre 2001 e 2020. Dentre esses, 22% (178 filmes) dos longas-metragens brasileiros versaram sobre migração.

Em um terceiro momento foram selecionados filmes que abordam a migração para a realização de análises sobre os perfis das personagens protagonistas e os fluxos migratórios representados, comparando representações cinematográficas e os fluxos migratórios captados pelos Censos Demográficos. Os filmes selecionados foram: “Que horas ela volta?” (Anna Muylaert, 2015), “O caminho das nuvens” (Vicente Amorim, 2003), “O migrante” (Carlos Machado, 2008), “Nas terras do bem-virá” (Alexandre Rampazzo, 2007), e “Saudade do futuro” (César Paes, 2001). Foram consultadas informações estatísticas como os quesitos de migração de data fixa (local de residência 5 anos antes da data de referência do Censo) e última etapa (último local de residência), e população residente por lugar de nascimento nos Censos Demográficos 2000 e 2010. Também foram analisados filmes mais recentes, que representam fluxos migratórios potencialmente presentes nos dados do Censo Demográfico 2022. Contudo, como tais informações censitárias não foram divulgadas até a data da execução da pesquisa, a análise fílmica ratifica sua potencialidade para o estudo de problemáticas atuais da realidade brasileira. São eles: “Cidade; Campo” (de Juliana Rojas, 2024), “Vento na Fronteira” (Marina Weis e Laura Faerman, 2022) e “Aqui en la Frontera” (Marcela Ulhoa e Daniel Tancredi, 2022).

Resultados e Discussão

Análise sociodemográfica

Dentre os 1.551 filmes da amostra, 737 não abordaram nenhuma temática sociodemográfica, e 814 abordaram de alguma maneira uma ou mais temáticas. O Gráfico 1 traz a ordenação dos temas mais representados.

A temática mais presente foi de relações de gênero, abordada como tema principal em 23,2% dos filmes e secundária em 10,0%. Direitos humanos e questões sociais foram temas principais em 20,4% dos filmes e secundária em 7,6%. Já as relações raciais estiveram presentes em 16,5% e 8,1%, como tema principal e secundário, respectivamente. A migração se destaca como quarta temática sociodemográfica mais presente na amostra de filmes brasileiros selecionada (das 13 que foram elencadas), em 12,5% dos filmes como temática principal e em 9,3% como temática secundária.

Gráfico 1 -
Percentual de filmes brasileiros que abordam cada uma das 13 temáticas demográficas pesquisadas - Brasil, 2001-2020

Dentre estes, 36,5% dos filmes versaram sobre movimentos migratórios nacionais e 66,9% referem-se a movimentos internacionais. Do total de filmes que retratam migrações, 51,7% abordam imigrações, 29,2% emigrações, 10,7% dos movimentos abordados estão relacionados ao processo de colonização. Tais migrações são motivadas por questões econômicas e/ou trabalho (em 33,6% dos movimentos), enquanto a migração de retorno e as questões relacionadas a exílio ou refúgio são responsáveis por 11,8% e 12,4% dos movimentos, respectivamente. Dentre os filmes que abordam movimentos migratórios nacionais, 36,9% deles se referem a movimentos da região Nordeste para o Sudeste, 12,3% à migração rural-urbana, enquanto 30,8% versam sobre movimentos de pequenas para grandes cidades.

Na dimensão da população que filma (diretores e roteiristas) e é filmada (protagonistas), nos filmes que abordam migração (quando comparados ao total de filmes da seleção), o panorama sociodemográfico indica que a participação das mulheres é um pouco maior na direção (16,0%), no roteiro (15,1%) e no protagonismo (30,3%) nos filmes que abordam a temática migração em relação ao total de filmes da seleção (13,6%, 10,5% e 23,2%, respectivamente). A desproporção entre a representação feminina e a masculina é expressivamente grande nas três funções analisadas, independentemente da temática abordada pelo filme.

A classificação de cor/raça foi realizada a partir de heteroatribuição, dado que não estão disponibilizadas as autodeclarações de pertencimento racial dos profissionais de cinema em nenhuma fonte de dados. Para isso preparou-se um teste a partir de uma população de controle. A concordância observada no teste foi de 95,6% e o coeficiente de concordância Kappa (Paes, Silva, 2012) foi de 0,89, concluindo-se em favor da existência de concordância entre a autodeclaração e a heteroclassificação de cor/raça realizada. Outros pesquisadores foram convidados a atribuir a cor/raça dos profissionais dos filmes, a fim de reduzir vieses de classificação. A concordância observada entre as atribuições realizadas pelos autores do artigo e a heteroatribuição modal (a partir das classificações realizadas pelos pesquisadores convidados) foi de 99,5%, com valor 0,96 para a estatística K, indicando uma concordância excelente. O grupo de colaboradores foi composto por 8 homens e 5 mulheres, que se autodeclararam amarelos (2), brancos (3), indígena (1), pardos (3) e pretos (4), residentes em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sergipe.

A desproporção encontrada na distribuição dos filmes por cor/raça de diretores, roteiristas e protagonistas é ainda maior do que a desigualdade de gênero, tanto nos filmes que abordam migração, quanto no total de filmes da amostra. A participação de pessoas classificadas como negras (pretas ou pardas) na direção (2,5%), no roteiro (8,4%) e no protagonismo (11,8%) nos filmes que abordam a temática migração é semelhante à observada no total de filmes da amostra (3,0%, 8,2% e 16,5%, respectivamente). Da mesma forma, foi semelhante a participação de pessoas classificadas como brancas nos filmes que abordam a migração e no total da amostra, para direção (95,0% e 95,8%), roteiro (90,8% e 91,3%) e protagonismo (85,7% e 82,2%). Embora pequena, verificou-se maior presença de pessoas classificadas como amarelas nos filmes que abordam migração do que no total de filmes, nas três funções analisadas: direção (2,5%), roteiro (0,8%) e protagonismo (1,7%). A discrepância entre a participação de brancos em relação às demais categorias é enorme em todas as funções, independentemente do tema abordado pelo filme. Em síntese, os resultados apresentados para os protagonistas indicaram o perfil do migrante nas representações fílmicas como branco (86%) e masculino (60%).

Análise fílmica e retratos censitários

A seguir analisamos os filmes selecionados.

A ficção “Que horas ela volta?” retrata a história de Val (interpretada por Regina Casé), que mora na casa dos patrões, em São Paulo, e trabalha como babá de Fabinho, com quem construiu laços de afeto. A protagonista é mãe de Jéssica, que residia em Pernambuco e para quem Val enviava dinheiro para a criação. Jéssica (interpretada por Camila Márdila) resolve prestar vestibular em São Paulo, hospeda-se na casa dos patrões da mãe e não aceita o lugar de filha da empregada, restrito à área de serviço da casa.“Que horas ela volta?” quebra os padrões no cinema brasileiro ao colocar a empregada doméstica, negra e nordestina, como protagonista do filme. A caracterização representa a história de milhares de mulheres brasileiras reais, emigrantes de diferentes estados no Nordeste em direção ao Sudeste. Muitas encontram oportunidades no trabalho doméstico em casas de famílias em bairros nobres das capitais. Elas se afastam de seus filhos e filhas, que ficam com parentes, enquanto cuidam dos filhos de seus patrões. O filme levantou várias questões sobre as relações, muitas vezes abusivas, entre trabalhadores domésticos e seus patrões. Com moradias no mesmo local de trabalho, as domésticas acabam por ficar à disposição das famílias contratantes a qualquer hora do dia ou da noite. Elas criam relações de afeto com os patrões, que se aproveitam disso para burlar regras e direitos trabalhistas.

Já a personagem Jéssica, de uma geração diferente de Val, representa outro tipo de migrante: busca estudar em uma instituição conceituada, não se deixa subjugar por sua característica de migrante nordestina e pretende ascender socialmente através dos estudos.

“Que horas ela volta?” retrata o fluxo de mulheres nordestinas (no caso do filme, de Pernambuco) para São Paulo. O filme é de 2015, e Regina Casé (Val) tinha 62 anos à época. A atriz Camila Márdila (Jéssica) tinha 28 anos à época. Podemos supor que Val tenha migrado para SP há ao menos 15 anos (uma das primeiras cenas do filme é Val com o menino Fabinho pequeno). A exemplificação de tal fluxo pode ser dada pelos migrantes de data fixa do Censo 2000, que migraram entre 1995 e 2000. Nesse período, a personagem Val teria entre 40 e 45 anos. As mulheres representaram em torno de 35% do total de migrantes de data fixa do NE para SP. Analisando a distribuição etária das mulheres migrantes, verificamos que as mulheres de 20 a 29 anos (exemplificadas pela personagem Jéssica) representaram entre 37% e 47% do total de mulheres nordestinas que migraram para SP, dependendo do estado de origem. As mulheres de 40 a 49 anos (personagem Val) representaram de 4% a 6% do total de mulheres migrantes. Esse resultado é coerente com as curvas das taxas de emigração por idade e sexo predominantes. Em relação à cor/raça, em algumas Unidades da Federação houve migração proporcionalmente maior de pessoas brancas (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Sergipe), e em outras mais de pessoas pardas (Maranhão, Piauí, Alagoas e Bahia).

Figura 1 -
Imagens de divulgação do filme “Que horas ela volta?”.

Inspirado em uma história real, “O caminho das nuvens” acompanha a jornada de uma família que viaja de bicicleta da Paraíba até o Rio de Janeiro em busca de um trabalho decente e uma vida digna. Romão (Wagner Moura) é caminhoneiro, mas está desempregado e precisa sustentar sua mulher Rose (Claudia Abreu) e seus cinco filhos. Desesperado e sem perspectivas, ele decide partir em busca de um local onde possa conseguir um emprego, levando junto sua família (que ele recusa “deixar para trás”). Sem dinheiro para comprar passagens de ônibus, eles partem em quatro bicicletas. Para driblar a fome e a miséria, mãe e filhos ganham algum dinheiro cantando em bares e lavando carros. O filme, de 2003, é inspirado em uma história real ocorrida em 1998. Desse modo, também podemos usar a informação de migração de data fixa do Censo 2000. Considerando as idades dos atores como as mesmas dos personagens, o ator Wagner Moura tinha 26 anos em 2003, e a atriz Claudia Abreu, 32 anos. As mulheres de 25 a 34 anos representaram entre 23% e 27% do total de mulheres migrantes do Nordeste (NE) para o Rio de Janeiro, dependendo da UF de origem, e em torno de 8% do total de migrantes de data fixa do NE para este estado. Os homens do mesmo grupo etário representaram cerca de 25% do total de homens migrantes do NE para o RJ, e 16% do total de migrantes. Em relação à cor ou raça, os resultados são semelhantes para São Paulo (como apresentados no filme “Que horas ela volta?”), ou seja, a maioria dos migrantes se autodeclararam brancos (CE, RN, PB, PE, AL) ou pardos (MA, PI, SE, BA). Destaca-se, apenas, uma maior migração proporcional de pessoas pretas do MA (9,8%) e da BA (14%) para o RJ do que para SP (6,9% e 9,4%, respectivamente).

Figura 2 -
Imagens de divulgação do filme “O Caminho das nuvens”.

“O Migrante” é um documentário que acompanha a história de trabalhadores de comunidades rurais no Vale do Jequitinhonha (MG), que deixam suas casas durante nove meses por ano para trabalhar no corte da cana-de-açúcar no interior de São Paulo. Segundo o filme, todos os anos, há várias décadas, milhares de trabalhadores do Norte de Minas Gerais e do Nordeste migram em busca de trabalho. No interior de São Paulo e em outras áreas, no meio de extensas monoculturas de cana-de-açúcar, os migrantes enfrentam a saudade da família, o trabalho penoso, riscos de acidentes, entre outros percalços. Há, inclusive, registros de morte por exaustão durante o trabalho. “O Migrante” foi filmado entre julho de 2007 e março de 2008. O filme acompanha trabalhadores homens, brancos, pardos e pretos, aparentando entre 20 e 40 anos, e tem como foco a trajetória de moradores do Vale do Jequitinhonha. Logo no início do filme, acompanhamos o momento em que os ônibus partem do município de Araçuaí, em direção a Ribeirão Preto. Apesar de se tratar de uma migração sazonal, podemos investigar o que indicam os quesitos do Censo 2010 sobre migração de data fixa e de última etapa do NE e de MG, para SP. Os imigrantes com origem no NE e MG representam juntos cerca de 55% do total de migrantes de data fixa em SP em 2010. Do total das pessoas que emigraram entre 2005 e 2010 dessas regiões, em média 36% foram para SP, chegando a 46% dos oriundos da BA e 42% de MG. Ainda, os imigrantes dessas regiões representam juntos cerca de 57% do total de migrantes de última etapa em SP em 2010. Do total das pessoas que emigraram entre 2000 e 2010, em média 32% foram para SP, sendo 43% dos oriundos da BA, 36% de PE e AL, e 34% dos que deixaram MG.

“Nas terras do bem-virá” é um documentário de 2007 construído com imagens de arquivo e depoimentos de migrantes, seus familiares, agentes do governo, fazendeiros, representantes religiosos e de movimentos sociais que atuam na região amazônica. O filme aborda temas relacionados aos conflitos por terras na Amazônia, à exploração de trabalhadores por grandes latifúndios, inclusive trabalho escravo, à falta de fiscalização pelo Estado e à impunidade, à degradação ambiental e à desconsideração pelos direitos humanos. Segundo o filme, até hoje o Brasil estaria vivendo consequências da política de investimentos na região Norte, iniciada na década de 1970, que incluiu incentivo para a migração de nordestinos. O documentário tem como principal foco os migrantes do sexo masculino, porém em pouquíssimos momentos faz menção à exploração sofrida pelas mulheres através da prostituição. Essas, assim como os trabalhadores que ficam devendo a seus empregadores desde a viagem, a hospedagem, a comida, os equipamentos de trabalho, etc., também ficam devendo às cafetinas que, geralmente, fazem parte da grande rede de exploração formada pelas donas das pensões, pelos “gatos” (aliciadores de trabalhadores migrantes), entre outros personagens. O filme também revela situações que desencadeiam conflitos de terra: muitos peões, cansados de serem explorados, entram na luta para conquistar seu próprio pedaço de terra; posseiros, indígenas e ribeirinhos que foram expulsos de suas casas por grileiros também brigam para reconquistar suas terras. O filme retrata especialmente homens brancos, pretos e pardos (esses últimos a maioria), aparentando de 15 a 45 anos, com origem, segundo o filme, principalmente, nos estados do PI e MA. Verificou-se, entre os migrantes de data fixa do Censo 2010, que mais pessoas migraram do MA para o PA (23,1% dos migrantes de data fixa que deixaram o MA) do que para SP (14,5%), que é o principal destino de quase todos os estados.

Figura 3 -
Imagens de divulgação dos filmes “O Migrante” e “Nas terras do bem-virá”.

O documentário “Saudades do futuro” destaca a presença de nordestinos em São Paulo. Ao ritmo dos repentes e das rimas improvisadas, os imigrantes nordestinos (ilustres ou anônimos) traçam um retrato da cidade. Ao migrar, buscavam fugir da seca, fazer fortuna ou simplesmente trabalhar. Os protagonistas são empregadas domésticas, diretor de galeria de artes, trabalhadores da construção civil, jornalistas, prefeita, músicos, donos de bar, taxistas, etc. Alguns entrevistados são: a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, o violonista paraibano Ezequias Lira, o caminhoneiro Brito, os emboladores Sonhador e Peneira, a Banda de Pífanos de Caruaru, as repentistas Terezinha e Lindalva, o artista plástico baiano e diretor da Pinacoteca do estado Emanoel Araújo, Zé Honório, tocador de oito-baixos e dono de bar, o jornalista Assis Ângelo, entre outros. Segundo o filme, estima-se que havia, na época (o filme é de 2003), 6 milhões de nordestinos e seus descendentes vivendo na grande São Paulo, o equivalente a 30% da população da região. Observamos, então, a população residente, por lugar de nascimento, na UF e na Região Metropolitana de São Paulo, pelo Censo Demográfico 2000.

Verificou-se que os nordestinos que viviam em 2000 no estado de SP eram quase 5 milhões de pessoas (4.983.949) e, na região metropolitana de São Paulo, ultrapassavam a marca dos 3,6 milhões de pessoas (3.681.149), a maior parte oriundos da BA (cerca de 1,8 milhão na UF e 1,3 milhão na RM) e PE (1,1 milhão na UF e 870 mil na RM). Os nordestinos representavam 21% dos residentes na RM em 2000. Se considerarmos também seus descendentes, é muito provável que o filme esteja correto em afirmar que esses chegam a representar 6 milhões de pessoas.

Figura 4 -
Imagens de divulgação do filme “Saudades do futuro”.

Até aqui analisamos filmes cujas representações puderam ser comparadas aos Censos Demográficos realizados em 2000 e 2010. Verificamos que as representações cinematográficas das personagens migrantes e dos fluxos migratórios representados pelos filmes estão em acordo com os dados coletados pelos Censos, demonstrando que o cinema brasileiro pode corroborar e complementar as informações demográficas de fontes oficiais.

Análise fílmica e traços contemporâneos

Os quesitos sobre migração presentes no questionário da amostra do Censo Demográfico de 2022 foram iguais aos da edição de 2010. Já no bloco de universo, a questão que investigou a emigração internacional foi retirada. No entanto, tais informações ainda não haviam sido disponibilizadas no momento da presente pesquisa. Desta forma, as representações cinematográficas surgem como uma das fontes alternativas para observar fluxos migratórios atuais, que inclusive serão, potencialmente, também representados no Censo. Filmes mais recentes destacam problemáticas atuais da realidade brasileira, dos quais destacamos para análise: “Cidade; Campo” (de Juliana Rojas, 2024), “Vento na Fronteira” (Marina Weis e Laura Faerman, 2022) e “Aqui en la Frontera” (Marcela Ulhoa e Daniel Tancredi, 2022).

“Cidade; Campo” (de Juliana Rojas, 2024) apresenta a migração entre o urbano e o rural sob as perspectivas das duas direções. O filme acompanha a história de três mulheres migrantes e suas necessidades de adaptação a novos contextos. O filme utiliza os binarismos entre campo e cidade, separações e encontros, fim e começo, morte e vida, tecnologia e natureza, para contar a história de luta e força dessas mulheres e a busca pelas origens (AdoroCinema, 2024).

O filme é dividido em duas partes, que não são independentes. Estas se entrelaçam e são complementares, com referências mútuas durante todo o filme. Na primeira parte, após um desastre devastar suas terras, a trabalhadora rural Joana (interpretada por Fernanda Vianna) se vê obrigada a se mudar para São Paulo. As terras de Joana são inundadas pelo rompimento da barragem de Brumadinho. Joana parte então para São Paulo, onde mora sua irmã Tânia, que cuida do neto Jaime (que mantém contato com a mãe apenas pelas redes sociais). Joana precisa recomeçar num lugar totalmente desconhecido, com outro ritmo, outra realidade completamente diferente da que estava acostumada.

Joana sofre bastante com a perda de suas terras, de suas raízes e do contato mais próximo com a natureza, de colocar os pés na terra. Por outro lado, se reconecta com a família, especialmente com o sobrinho-neto Jaime (interpretado por Kalleb Oliveira). Através de Jaime, Joana toma contato com a tecnologia e, por outro lado, através da relação com Joana, o menino passa a se conectar com a natureza. É Jaime que a ajuda a encontrar um emprego, numa empresa que terceiriza a contratação de diaristas. Joana começa, então, a trabalhar nas casas de outras pessoas, enquanto ela mesma perdeu a sua. É justamente sua relação com outras mulheres que executam a mesma função que a fortalece. O filme, aliás, é todo pautado pela força feminina e pelas relações entre mulheres (AdoroCinema, 2024).

Na segunda parte do filme, Flávia (interpretada por Mirella Façanha) se muda com sua companheira, a veterinária Mara (Bruna Linzmeyer), para a fazenda que herdou do pai, falecido recentemente. As duas precisam lidar com enormes desafios para se adaptarem à vida no campo. Aqui também as mulheres precisam se adaptar a um tempo diferente, a uma relação com a natureza diferente, enfrentar frustrações, memórias e fantasmas (Globo Filmes, 2024).

Em entrevista à RFI Brasil, Juliana Rojas disse que pensou em construir um filme que mostrasse as duas perspectivas: de quem sai do campo para a cidade e de quem vai da cidade para o campo, mas em que o campo estivesse na parte final como um regresso à nossa origem, à nossa ancestralidade (Franco, 2024).

Na fazenda que pertencia ao pai, num caminho inverso ao percorrido por Joana, Flávia se reconecta com a terra, com a natureza. Em meio a um clima de mistério, ela precisa lidar com suas memórias, seu passado com o pai e o futuro representado pelo relacionamento com a esposa Mara (AdoroCinema).

Isabella Melo (2024) define muito bem “Cidade; Campo” como um “filme sobre migração e luto”, até porque “toda migração exige um luto do lugar de que viemos e o luto, às vezes, nos faz migrar”.

Figura 5 -
Imagens de divulgação do filme “Cidade; Campo”.

“Vento na Fronteira” (Marina Weis e Laura Faerman, 2022) acompanha a disputa territorial entre fazendeiros e o povo Guarani-Kaiowá na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. A Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, situada no sudoeste do Mato Grosso do Sul, vinha sendo alvo de disputas entre herdeiros latifundiários das invasões de terras indígenas nos anos 1950 e os povos originários tratados por esses herdeiros e pelo governo de extrema-direita à época das filmagens como invasores. A terra havia sido oficialmente destinada ao povo Guarani-Kaiowá em 2002 e homologada por decreto presidencial em 2005, porém, a demarcação foi suspensa pelo STF poucos meses depois (Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais - CONAFER, 2024). O documentário registra o cotidiano da comunidade Guarani-Kaiowá, especialmente da protagonista, a professora e líder guarani Alenir Aquino Ximendes, porta-voz dos Guarani-Kaiowá na disputa judicial em andamento, envolvendo o domínio das terras na região de fronteira com o Paraguai. O território Ñande Ru Marangatu é considerado um dos centros cosmológicos do povo Guarani-Kaiowá (Souza, Klein, 2024). Após anos de invasão, as terras são marcadas pelo desmatamento e a degradação provocada pelos fazendeiros, além de serem usadas pelo narcotráfico, por sua localização na fronteira com o país vizinho. O filme se utiliza dessa metáfora da fronteira, dos limites territoriais, para fazer refletir sobre outras fronteiras, entre duas visões de mundo distintas, a dos povos originários e a dos fazendeiros ultraconservadores, entre o interesse coletivo, de preservar e cuidar, e o interesse particular de explorar e devastar - quem seria mais dono dessa terra? Quem seriam os estrangeiros? Os invasores? Em contraponto ao cotidiano da comunidade indígena, o filme dá voz à família de fazendeiros, representada pela herdeira e advogada Luana Queiroz, a antagonista do documentário, que destila suas visões estereotipadas dos indígenas como violentos, selvagens e invasores, contra os quais os brancos - “pessoas de bem” - teriam direito de se defender, inclusive exterminar. Suas falas são intercaladas com a família Bolsonaro e sua postura contrária à demarcação de terras indígenas e a favor da liberação de armas para o povo “de bem” se defender. O filme explora a relação do então governo com o agronegócio brasileiro e o crescimento do poder político ruralista. O filme mostra, por um lado, a destruição das terras apropriadas por fazendeiros e, por outro, a formação de crianças indígenas para seguirem a luta em defesa de sua comunidade e da preservação ambiental. Ainda são retratadas inúmeras brigas jurídicas envolvendo o direito à propriedade e os direitos dos povos originários. O desfecho da história não está no filme, que foi lançado em 2022, dado que em 2024 o STF concluiu acordo que assegura aos Guarani-Kaiowá a posse da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu. Pela decisão, a família de invasores receberá um total de quase R$ 145 milhões da União e do estado do Mato Grosso do Sul, depois de décadas de exploração e desmatamento da área (CONAFER, 2024).

Figura 6 -
Imagens de divulgação do filme “Vento na Fronteira”

“Aqui en la Frontera” (Marcela Ulhoa e Daniel Tancredi, 2022), filmado na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, retrata o processo migratório na América do Sul a partir da história de três protagonistas. O filme retorna com Stephanne, uma jovem mãe de 21 anos, até El Tigre, na Venezuela, para buscar sua filha que deixou com poucos dias de vida há quase 4 meses, onde testemunha uma tradicional reunião familiar, com direito a música e pratos típicos da culinária venezuelana. O documentário também acompanha a luta de Argenis e o fim da ocupação Criança Feliz, com mais de 300 venezuelanos em Boa Vista, Roraima. Fechando o trio de protagonistas, Francis, uma mulher trans e liderança do abrigo militarizado do governo brasileiro São Vicente, também localizado em Boa Vista, é retratada até sua interiorização para o Rio de Janeiro.

Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública (2022), entre janeiro de 2017 e fevereiro de 2022, o Brasil registrou a entrada de mais de 700 mil venezuelanos, dos quais 20% voltaram para a Venezuela, 35% partiram para outros países e cerca de 325 mil permaneceram no país. Quanto ao perfil, 53% são homens e 47% mulheres, 49% têm entre 30 e 59 anos, 30% entre 18 e 29 anos, 16% entre 0 e 17 anos. Sobre o fluxo migratório, além da cidade de Pacaraima (RR), outros dois principais pontos de entrada foram as cidades de São Paulo e Manaus, por via aérea (Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2022). Mas o objetivo do documentário não é apresentar estatísticas. Ao contrário, é despertar a sensibilidade do público para a dimensão humana da migração forçada através da intimidade de três protagonistas.

O filme é uma produção da Platô Filmes, produtora com sede em Roraima, focada em conteúdos amazônicos. Em entrevista, o casal de diretores contou que a ideia não era fazer um documentário clássico com depoimentos de especialistas ou entidades envolvidas no acolhimento, mas construir a narrativa a partir do ponto de vista dos próprios migrantes (Leitão, 2023).

O documentário toca em assuntos como inseguranças e incertezas ao migrar, a intolerância no local de destino, a falta de pertencimento, a importância das redes de apoio e a ideia de que migrar não é apenas cruzar fronteiras físicas, mas inclui outras rupturas emocionais, psicológicas, culturais, e o desenvolvimento de novas relações (Leitão, 2023).

Figura 7 -
Imagens de divulgação do filme “Aqui en la Frontera”

Esses três filmes exploram os desafios enfrentados pelas protagonistas em novas paisagens, seja a partir de refúgio internacional, de mudanças provocadas por desastres ambientais, por disputas de terras em áreas de fronteira, por expulsão (e retomada) de povos de seus territórios, representando a multiplicidade das mobilidades contemporâneas, com deslocamentos também no sentido urbano-rural.

Cinedemografia - uma perspectiva frutífera

É interessante pontuar que o surgimento do cinema é contemporâneo a transformações sociodemográficas. Para Ismail Xavier (2017), a imagem em movimento era a única forma de expressão capaz de responder aos anseios das populações naquele momento de mudanças tão dinâmicas. O cinema é produto da indústria e da ciência modernas, e foi no contexto da modernidade que foram iniciadas uma série de transições: a demográfica, urbana, da estrutura etária, além de uma série de mudanças socais, espaciais, culturais e comportamentais.

Para lidar com tais fenômenos, os estudos populacionais se consolidaram como eminentemente interdisciplinares, na interação com as várias ciências que inclusive fazem parte da formação de seus pesquisadores, como economia, sociologia, antropologia, ciências políticas, geografia, saúde pública, estatística, entre outras. Esta seria uma das características da demografia a ser melhor explorada, especialmente porque seus instrumentos, técnicas e as informações sociodemográficas utilizadas adequadamente permitem a construção de cenários futuros e de estratégias de planejamento (Martine, 2006, p. 9).

A perspectiva demográfica se faz muito útil para o cinema especialmente na abordagem extratelas: na análise da composição das equipes e de aspectos socioeconômicos da produção audiovisual, como distribuição geográfica e orçamentária, recursos e políticas. Também apontamos para a análise fílmica como método de pesquisa de temas estudados pela demografia, como movimentos migratórios, relações de gênero e intergeracionais, família, cor/raça, sexualidade e reprodução, infância e juventude, envelhecimento e longevidade, população e meio ambiente, mortalidade e morbidade, violência, política e direitos humanos, entre outros. Essas análises revelam o que os filmes brasileiros contemporâneos nos dizem sobre diferentes aspectos de nossa população, oferecendo um panorama não só sobre a produção cinematográfica brasileira atual, mas sobre o próprio país, sua população e suas características sociais e culturais, bem como uma reflexão acerca das hierarquias, posições e ausências dos grupos sociais nas representações cinematográficas (nas telas e nos sets de filmagem).

Como Aumont e Marie (2003, p. 168-169) explicam, o cinema compreende dimensões anteriores e posteriores à produção dos filmes propriamente dita, que englobam desde a infraestrutura econômica da produção, captação de recursos, legislações e regulamentações, influência social e política do filme nos diferentes públicos, modelos de comportamento para os espectadores, estudos de recepção, entre outros. Por outro lado, a análise fílmica se mostra oportuna para a demografia, especialmente ao dedicar-se a narrativas sobre temas que lhe são caros.

Neste âmbito poderia haver um paralelo entre a cinedemografia e outros campos dos estudos populacionais mais bem desenvolvidos, como a demografia dos negócios. Esta seria, segundo Hakkert (2006), uma área eminentemente interdisciplinar, que parte das técnicas demográficas para subsidiar decisões no âmbito comercial e que se desenvolveu com o impulso da disponibilidade de grandes quantidades de dados, mais do que pela evolução de métodos ou teorias. No caso da cinedemografia há, ao contrário, uma falta de dados confiáveis disponíveis que deem conta da totalidade da produção audiovisual brasileira. Existem, por exemplo, dados de produção e finalização de filmes cujos produtores enviaram projetos de captação de recursos via leis de incentivo ou editais de patrocínio, ou informações sobre filmes exibidos e lançados no circuito comercial de exibição. Contudo, faltam dados completos sobre a produção de curtas-metragens ou de filmes que não tiveram projetos enviados à ANCINE ou ao Ministério da Cultura, além de faltarem dados de filmes exibidos e lançados somente fora das salas comerciais, como em festivais e mostras de cinema.

A partir da definição de Hakkert (2006) para a demografia de negócios, definimos a Cinedemografia como um conjunto de técnicas e métodos práticos cuja utilidade deriva do estudo da produção cinematográfica de um país ou sociedade. Engloba a aplicação de conceitos, dados e técnicas demográficas às análises de equipes, orçamentos, recursos, políticas e outros aspectos socioeconômicos da produção audiovisual. Inclui, mas não se limita a descrever a composição demográfica das equipes dos filmes e/ou das personagens, relacionar aspectos dos filmes com a recepção do público, descrever perfis de público e associações com gênero, temáticas e outras características dos filmes. Uma contribuição importante da cinedemografia seria a dedicação ao problema da falta de bases de dados confiáveis e completas, além da perspectiva relacional, investigando as associações entre características de interesse ou contribuindo através de análises quantitativas. Sua especificidade seria pensar a produção fílmica a partir do ponto de vista populacional, tanto em análises qualitativas a respeito das narrativas fílmicas, quanto trabalhando com as populações humanas envolvidas em seu processo de realização (como já citamos os profissionais desse mercado de trabalho, as personagens que povoam o mundo diegético, o público, etc.), ou ampliar a noção de população para não humanos, como por exemplo, população de filmes.

Conclusões

Os resultados obtidos a partir da exploração da base de dados de filmes brasileiros de longa-metragem confirmam que há, inegavelmente, uma distribuição desigual na produção cinematográfica brasileira contemporânea em termos de gênero e cor/raça dos cargos de direção, roteiro e protagonismo. Indicam também, especialmente a partir do exame de alguns filmes da base de dados, as possibilidades de utilização do cinema para uma análise dos contextos em que é produzido através da observação das temáticas abordadas nos filmes numa perspectiva sociodemográfica.

A migração ocupa um lugar de destaque entre os aspectos retratados nos filmes brasileiros contemporâneos, superada somente por temas mais abrangentes como família, questões de gênero e questões raciais e sociais. O cinema nacional está em sintonia com as mudanças sociais, de modo que a relação entre o cinema e a demografia, a Cinedemografia, pode ser proveitosa para subsidiar análises sociológicas e demográficas, dentre outras.

Além de analisar o filme sob uma perspectiva demográfica, destaca-se o potencial da incorporação da narrativa audiovisual como método de observação das dinâmicas e transformações sociais e populacionais. Para a demografia, a análise fílmica se mostra oportuna ao apropriar-se de narrativas sobre temas que lhe são caros, além de trabalhar com a composição demográfica das personagens dos discursos cinematográficos.

Além de corroborar e complementar os dados obtidos por fontes oficiais, trazendo uma “personificação” aos números - “frios e distantes” - através das histórias de personagens que aproximam os temas abordados pelo cinema do público, os filmes também auxiliam a compreensão da temática como fonte alternativa de informações. Isso se mostra mais importante no contexto da ausência de dados oficiais mais frequentes, como no caso da migração interna. Para essa, a principal fonte de dados, o Censo Demográfico, só vai a campo de 10 em 10 anos.

Vale destacar o potencial dos filmes na percepção pública sobre a migração. Temas como refúgio ou disputas de terras pertencentes a povos originários, por exemplo, podem parecer mais distantes da realidade próxima do público em geral, mas o cinema tem a possibilidade de trazê-los a maior protagonismo. Outros temas, como o rompimento da barragem de Brumadinho, que foi amplamente divulgado pela mídia à época, é abordado anos depois através de suas consequências nas vidas das pessoas, que não foram difundidas ou acompanhadas. Além disso, a análise dos filmes recentes reforça temas que ascendem nos estudos migratórios contemporâneos, como o refúgio e as migrações dos venezuelanos (Baeninger et al., 2021), as (des)continuidades regionais das migrações (Rigotti et al., 2017), e novas perspectivas da relação cidade-campo (Souza, Maia, 2020).

O potencial da Cinedemografia não se restringe a analisar a distribuição por sexo/gênero e cor/raça de profissionais e protagonistas ou da representação da migração no cinema brasileiro. Pesquisas futuras podem se debruçar sobre outras características das filmografias nacionais ou sobre a análise de outros temas sociodemográficos abordados pelo cinema.

Datos de investigação

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito; os dados dos Censos estão disponíveis em: Censo 2000: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2000/amostra-migracao-e-deslocamento; Censo 2010: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2010/amostra-nupcialidade-fecundidade-e-migracao

Referências bibliográficas

  • ADOROCINEMA. Disponível em: Disponível em: http://www.adorocinema.com Acesso: 18.11.2024.
    » http://www.adorocinema.com
  • AGÊNCIA NACIONAL DO CINEMA - ANCINE. Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual - OCA. Listagem Completa dos Filmes com os Mecanismos de Incentivo Disponível em: Disponível em: http://oca.ancine.gov.br/producao_.htm Acesso em: 13.04.2023.
    » http://oca.ancine.gov.br/producao_.htm
  • ALVES, Paula. Cinedemografia, população que filma e população filmada: hierarquias de gênero e raciais na produção cinematográfica brasileira contemporânea. Tese de Doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas. Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Rio de Janeiro, 2019.
  • ARRANZ, David F. Las cien mejores películas sobre migración Madrid: Cacitel, 2013.
  • AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. Campinas: Papirus, 2003.
  • BAENINGER, Rosana; DEMÉTRIO, Natália B.; DOMENICONI, Jóice O. S. Migrações dirigidas: estado e migrações venezuelanas no Brasil. Revista Latinoamericana de Población, v. 16, e202113, 2021. DOI: https://doi.org/10.31406/relap2022.v16.e202113
  • BALADI, Mauro. Dicionário de cinema brasileiro: filmes de longa-metragem produzidos entre 1909 e 2012. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
  • CAMPOS, Marden. Ciclo de vida, estrutura domiciliar e migração no início do século XXI: o caso da Região Metropolitana de São Paulo. Cadernos Metrópole Dossiê Mobilidade Espacial. São Paulo, v. 20, n. 41, p. 191-208, jan/abr 2018. Disponível em: Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/2236-9996.2018-4109/25189 Acesso em: 27.10.2022.
    » https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/2236-9996.2018-4109/25189
  • CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE AGRICULTORES FAMILIARES E EMPREENDEDORES FAMILIARES RURAIS - CONAFER. Marco ancestral: STF assegura aos Guarani-Kaiowá a Terra Indígena Ñande Ru Marangatu. Disponível em: Disponível em: https://conafer.org.br/marco-ancestral-stf-assegura-aos-guarani-kaiowa-a-posse-a-ti-nande-ru-marangatu/ Acesso em: 20.10.2024.
    » https://conafer.org.br/marco-ancestral-stf-assegura-aos-guarani-kaiowa-a-posse-a-ti-nande-ru-marangatu/
  • DANEY, Stéphane. Pour une ciné-démographie. In: DANEY, Stéphane. Devant la recrudescence des vols de sacs à main Lyon: Aléaséditeur, 1997.
  • D’LUGO, Marvin. El cine sobre la inmigración: crónicas de un género anunciado. In: VALLIEW, Maria; CANTERO-EXOJO, Mónica; SUÁREZ, Juan Carlos. Fotogramas para la multiculturalidad: migraciones y alteridad en el cine español contemporáneo. Valencia: Cine Derecho, 2012.
  • FEMINA - FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA FEMININO. Disponível em: Disponível em: http://www.feminafest.com.br Acesso: 20.12.2023.
    » http://www.feminafest.com.br
  • FILME B. Database Brasil 2018. Ranking filmes nacionais 1995-2022 (por público e renda). Disponível em: Disponível em: http://www.filmeb.com.br/conteudo-exclusivo?r=node/385735 Acesso em: 20.05.2023.
    » http://www.filmeb.com.br/conteudo-exclusivo?r=node/385735
  • FISCHOFF, Stuart; ANTONIO, Joe; LEWIS, Diane. Favorite Films and Film Genres as a function of Race, Age and Gender. Journal of Media Psychology, v. 3, n. 1, 1998.
  • FRANCO, Daniella. “O cinema brasileiro ainda é dominado por homens brancos”, diz cineasta Juliana Rojas em Berlim. RFI, 22.02.2024. Disponível em: Disponível em: https://www.rfi.fr/br/podcasts/rfi-convida/20240222-o-cinema-brasileiro-ainda-%C3%A9-dominado-por-homens-brancos-diz-cineasta-juliana-rojas-em-berlim Acesso: 14.10.2024.
    » https://www.rfi.fr/br/podcasts/rfi-convida/20240222-o-cinema-brasileiro-ainda-%C3%A9-dominado-por-homens-brancos-diz-cineasta-juliana-rojas-em-berlim
  • GLOBO FILMES. Cidade; Campo Disponível em: Disponível em: https://globofilmes.globo.com/filmografia/drama/filme/cidade-campo.ghtml Acesso: 14.10.2024.
    » https://globofilmes.globo.com/filmografia/drama/filme/cidade-campo.ghtml
  • HAKKERT, Ralph. Demografia de negócios: campo de estudo, tendências e possibilidades. In: GUIMARÃES, José Ribeiro Soares (org.). Demografia dos negócios: campo de estudo, perspectivas e aplicações. Campinas: ABEP, 2006.
  • HIKIJI, Rose; KISHIMOTO, Alexandre. Nikkeis no Brasil, dekasseguis no Japão: identidade e memória em filmes sobre migrações. Revista USP, São Paulo, n. 79, p. 144-164, set./nov. 2008. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i79p144-164
  • INDEPENDENT CINEMA OFFICE. How to start a local cinema 2013. Disponível em: Disponível em: http://www.independentcinemaoffice.org.uk/resources/how-to-start-a-local-cinema/ understanding-audiences/demographic Acesso em: 20.08.2014.
    » http://www.independentcinemaoffice.org.uk/resources/how-to-start-a-local-cinema/ understanding-audiences/demographic
  • INTERNET MOVIE DATEBASE - IMDB. Disponível em: Disponível em: http://www.imdb.com Acesso em: 25.10.2024.
    » http://www.imdb.com
  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS - IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA Disponível em: Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/home/pms/brasil Acesso em: 22.03.2024.
    » https://sidra.ibge.gov.br/home/pms/brasil
  • LAUZEN, Martha. 26th Annual Edition - The Celluloid Ceiling: Employment of Behind-the-Scenes Women on Top Grossing U.S. Films in 2023. San Diego, 2024. Disponível em: Disponível em: https://womenintvfilm.sdsu.edu/wp-content/uploads/2024/01/2023-Celluloid-Ceiling-Report.pdf Acesso em: 04.03.2024.
    » https://womenintvfilm.sdsu.edu/wp-content/uploads/2024/01/2023-Celluloid-Ceiling-Report.pdf
  • LEITÃO, João Gabriel. Documentário gravado em RR sobre jornadas de três migrantes venezuelanos no Brasil estreia em festival nacional de cinema em SP. g1 RR - Boa Vista, 03.06.2023. Disponível em: Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/06/03/documentario-gravado-em-rr-sobre-jornadas-de-tres-migrantes-venezuelanos-no-brasil-estreia-em-festival-nacional-de-cinema-em-sp.ghtml Acesso em: 22.06.2024.
    » https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/06/03/documentario-gravado-em-rr-sobre-jornadas-de-tres-migrantes-venezuelanos-no-brasil-estreia-em-festival-nacional-de-cinema-em-sp.ghtml
  • MARTIN, Michael T. (ed.). Cinemas of black diaspora: diversity, dependence and oppositionality. Detroit: Wayne State University, 1996.
  • MARTINE, George. Prólogo. In: GUIMARÃES, José Ribeiro Soares (org.). Demografia dos negócios: campo de estudo, perspectivas e aplicações. Campinas: ABEP, 2006.
  • MEAD, Margaret; MÉTRAUX, Rhoda. The Study of Culture at a Distance Oxford: Berghahn Books, 2000.
  • MELO, Isabella. Cidade; Campo acerta ao investigar migração, mas se desencontra na linguagem. Omelete, 21.08.2024. Disponível em: Disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/cidade-campo-juliana-rojas-festival-de-gramado Acesso em: 14.10.2024.
    » https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/cidade-campo-juliana-rojas-festival-de-gramado
  • MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA. Em cinco anos, Brasil recebeu mais de 700 mil imigrantes venezuelanos. Gov.br, 04.11.2022. Disponível em: Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/em-cinco-anos-brasil-recebeu-mais-de-700-mil-imigrantes-venezuelanos Acesso: 12.11.2024.
    » https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/em-cinco-anos-brasil-recebeu-mais-de-700-mil-imigrantes-venezuelanos
  • MONTERDE, José Enrique. El sueño de Europa: cine y migraciones desde el sur. Andalucia: Junta de Andalucia, 2008.
  • MOSTRA ECOFALANTE DE CINEMA. Disponível em: Disponível em: https://ecofalante.org.br/ Acesso em: 25.10.2024.
    » https://ecofalante.org.br/
  • NAFICY, Hamid. An accented cinema: exilic and diasporing filmmaking. Princeton: Princeton University, 2001.
  • NIELSEN NATIONAL RESEARCH GROUP’S 2013. Disponível em: Disponível em: http://www.nielsen.com/us/en/insights/news/2013/popcorn-people-profiles-of-the-u-s-moviegoer-audience.html Acesso em: 20.08.2014.
    » http://www.nielsen.com/us/en/insights/news/2013/popcorn-people-profiles-of-the-u-s-moviegoer-audience.html
  • PAES, A.; SILVA, R. Teste de concordância Kappa. Revista Educação Continuada em Saúde Einstein, v. 10, n. 4, p. 165-166, Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, São Paulo, 2012.
  • PAPO DE CINEMA. Disponível em: Disponível em: https://www.papodecinema.com.br/ Acesso em: 20.03.2024.
    » https://www.papodecinema.com.br/
  • PEÑA, Francisco. Por un análisis antropológico del cine Imaginarios fílmicos, cultura y subjetividad. México: Ediciones Navarra, 2014.
  • RIBEIRO, José da Silva. Antropologia visual, práticas antigas e novas perspectivas de investigação. Revista de Antropologia, v. 48, n. 2, p. 613-648, Universidade de São Paulo, São Paulo, jul./dez. 2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-77012005000200007
  • RIGOTTI, José Irineu R.; CAMPOS, Járvis; HADAD, Renato M. Migrações internas no Brasil: (des)continuidades regionais à luz do Censo Demográfico 2010. Revista Geografias, p. 8-24, 2017. DOI: https://doi.org/10.35699/2237-549X.13444
  • SCHVARZMAN, Sheila. História e historiografia do cinema brasileiro: objetos do historiador. Especiaria - Cadernos de Ciências Humanas, Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, v. 10, n. 17, p. 15-40, jan.-jun. 2007.
  • SILVA NETO, Antônio L. Dicionário de Filmes Brasileiros: longa-metragem - 2ª edição revista e atualizada. São Bernardo do Campo: Ed. do Autor, 2009.
  • SOUZA, Oswaldo B.; KLEIN, Tatiane. Após 20 anos, indígenas esperam afinal viver em paz em Ñande Ru Marangatu (MS). ISA - Instituto Socioambiental, out. 2024. Disponível em: Disponível em: https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/apos-20-anos-indigenas-esperam-afinal-viver-em-paz-em-nande-ru-marangatu Acesso: 12.11.2024.
    » https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/apos-20-anos-indigenas-esperam-afinal-viver-em-paz-em-nande-ru-marangatu
  • SOUZA, Sonale V.; MAIA, Doralice S. Notas sobre as relações cidade e campo: um esforço de síntese. In: MARAFON, Glaucio J.; COSTA, Eduarda M. (eds.). Cidade e campo: olhares de Brasil e Portugal [online]. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2020, p. 27-55. ISBN: 978-65-87949-05-5. DOI: https://doi.org/10.7476/9786587949055.
  • SULLY, Justin. Cine-Demographies: PopulationCrisis in Late TwentiethCenturyFilm Culture. (Tese Doutorado em Filosofia) McMaster University, Ontario, 2011.
  • TEIXEIRA, Rafael T. Cinema, migração e identidades: Representações cinematográficas das identidades brasileiras in between contemporâneas. Intexto, n. 35, abr. 2016, p. 76-96, DOI: 10.19132/1807-8583201635.76-96.
  • THE STREAM TEAM Diversity in Hollywood. Disponível em: Disponível em: http://america.aljazeera. com/watch/shows/the-stream/the-latest/2014/2/25/diversity-in-hollywood.html Acesso em: 20.08.2014.
    » http://america.aljazeera. com/watch/shows/the-stream/the-latest/2014/2/25/diversity-in-hollywood.html
  • VALENTE, Eduardo. Anos 2010 - Lista dos longas-metragens brasileiros lançados durante a década (2011-2020). Mostra Cinema Brasileiro, anos 2010: 10 olhares 2021. Disponível em: Disponível em: https://www.10olhares.com/anos-2010-filmes-produzidos/ Acesso em: 13.03.2023.
    » https://www.10olhares.com/anos-2010-filmes-produzidos/
  • XAVIER, Ismail. Sétima arte: um culto moderno: o idealismo estético e o cinema. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017.
  • YOUTUBE. Disponível em: Disponível em: https://www.youtube.com/ Acesso em: 14.09.2024.
    » https://www.youtube.com/
  • Editores de seção
    Roberto Marinucci, Barbara Marciano Marques

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2024
  • Aceito
    01 Abr 2025
location_on
Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios SRTV/N Edificio Brasília Radio Center , Conj. P - Qd. 702 - Sobrelojas 01/02, CEP 70719-900 Brasília-DF Brasil, Tel./ Fax(55 61) 3327-0669 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: remhu@csem.org.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro