Resumo
Este artigo analisa a trajetória profissional do sociólogo argelino Abdelmalek Sayad com base nos arquivos de pesquisa. A partir deste caso, propõe uma reflexão sobre as condições de ingresso na profissão de sociólogo durante os anos 1960-70 para melhor compreender as condições ordinárias ou extraordinárias enfrentadas pelo pesquisador, tanto no início da carreira quanto após sua integração como pesquisador no Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS).
Palavras-chave: Abdelmalek Sayad; sociohistória; profissões; trabalho científico; sociologia; CNRS
Abstract
This article analyzes the professional career of Algerian sociologist Abdelmalek Sayad, based on research archives. Based on this case study, it examines the conditions under which sociologists entered the profession in the 1960s-70s, to better understand the ordinary and extraordinary conditions encountered by researchers at the start of their careers and after joining the Centre National des Recherches Scientifiques (CNRS).
Keyword: Abdelmalek Sayad; sociohistory; professions; scientific work; sociology; CNRS
Introdução
Se a conversão de Abdelmalek Sayad à sociologia está bem documentada graças aos trabalhos de Amin Pérez (Pérez, 2022), sua trajetória social, familiar e escolar, bem como seu encontro com Pierre Bourdieu (Bourdieu, 2008a), foram centrais para entender como Sayad se tornou sociólogo em um contexto de guerra de independência e decolonização (Hadj Belgacem, Taalba, 2018). No entanto, sua trajetória profissional, especialmente na França, ainda é pouco estudada. Dessa forma, nesse artigo, gostaria de me debruçar sobre sua entrada na carreira de sociólogo durante os anos 1960-1970, sob uma perspectiva sociohistórica. Trata-se, em particular, de restituir as atividades científicas realizadas antes de sua integração ao Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e, em seguida, concentrar-se em sua carreira uma vez em posição. Assim, pude consultar diversos arquivos para reconstruir o itinerário de pesquisa de Abdelmalek Sayad, reconstruindo os vínculos entre seus arquivos de pesquisa (trabalho de documentação, materiais de campo, rascunhos, trocas epistolares e documentos administrativos) e os arquivos administrativos, especialmente os do CNRS (cf. Quadro metodológico).
Buscarei entender se a trajetória profissional e a carreira acadêmica de Sayad são uma exceção ou, ao contrário, uma via relativamente comum durante os anos 1960-70. A trajetória profissional de Sayad é exemplar ou, inversamente, é marcada por um tratamento desfavorável? Responder a essa pergunta implica investigar as condições de ingresso na profissão durante os anos 1960-70, um momento em que a sociologia francesa se institucionaliza (Chapoulie, Kourchid, Sohn, 2005). Isso também exige considerar o "inconsciente" da disciplina, ou seja, sua história (Bourdieu, 2008b). A integração de Sayad ao CNRS apenas em 1977 representa uma falta de reconhecimento de seu trabalho e de seus objetos de pesquisa no campo acadêmico? Um reconhecimento tardio? Sua trajetória profissional é atípica ou, afinal, relativamente clássica? Focando no caso de Sayad, formularei diferentes elementos de resposta, enquanto tento destacar tendências mais gerais relativas ao ingresso na profissão de sociólogo na França dos anos 1960-70.
Quadro Metodológico: investigar os arquivos de Sayad entre desafios científicos e políticos
Meu trabalho de pesquisa sobre Abdelmalek Sayad começou no início de 2010, quando fui solicitado para realizar workshops de formação sobre sua obra pela Association de Prévention Site la Villette (APSV)1. Propus que essa formação pudesse ser utilizada por um coletivo de mulheres (que acompanhei no âmbito da minha pesquisa de doutorado) para criar uma peça de teatro utilizando trechos de entrevistas do autor. Iniciei esse trabalho de formação e sensibilização com a ajuda de Farid Taalba, que atuava como professor e pesquisador independente e conhecia muito bem a história da pequena Cabília e sua língua. Nosso trabalho de documentação para preparar essa formação nos levou a consultar pela primeira vez os arquivos de Sayad, então depositados na Cité Nationale d’Histoire de l’Immigration (CNHI)2.
Após a morte de Sayad em 1998, Pierre Bourdieu iniciou a criação de uma associação chamada "Association des Amis d’Abdelmalek Sayad" (AAS)3, composta por pesquisadores e pessoas próximas do autor, tendo Christian De Montlibert4 como o primeiro presidente. A associação organizou vários eventos e publicações (Association des Amis d’Abdelmalek Sayad, 2010) principalmente para divulgar a fecundidade e a posteridade de suas pesquisas e honrar a memória do autor. Ela contribui ativamente para a consagração póstuma do "autor e de sua obra". A disponibilização dos arquivos de Sayad começou em 2004 a pedido de Rébecca Sayad e foi iniciada pela Association Génériques5. Inicialmente, Karim Abboub e Saïd Bouziri foram até sua residência e realizaram a transferência dos arquivos do depósito para o sótão. Em um segundo momento, Patrick Veglia e Virginie Beaujouan procederam, em três visitas ao local, à verificação do fundo, bem como à sua limpeza e recondicionamento. Após algumas reuniões com a Cité nationale de l’histoire de l’immigration e para respeitar o desejo de Rébecca, o fundo foi integrado à CNHI em 2006.
O fundo Sayad foi inicialmente classificado por aprendizes de arquivistas no âmbito de uma sessão de formação profissional ministrada pela APSV6. O seu depósito na CNHI deu nome à mediateca, que foi inaugurada em 30 de março de 2009. O fundo foi depositado após um primeiro inventário, que ainda solicita uma análise mais aprofundada. No entanto, a CNHI não desejou continuar com a APSV e considerou o inventário suficiente. Assim, o fundo foi disponibilizado ao público em 2009, em condições de consulta que variaram de leitor para leitor. De fato, desde a proibição de tirar fotos até a possibilidade de fotocopiar documentos, passando pelo uso de luvas, e depois restringindo os dias e as possibilidades de consulta, o fundo teve uma gestão irregular. Funcionários da mediateca, encarregados da consulta dos arquivos, não pareciam ter orientações claras sobre os documentos, alguns dos quais requerem aprovação hierárquica, sem realmente saber quais. Eu só fui autorizado a fazer anotações manuscritas e nenhuma fotografia. A consulta das caixas levou mais tempo do que o previsto e, com isso, eu pude observar a natureza sumária do inventário. O fundo teve um número limitado de leitores, mas alguns elementos podem ter sido perdidos ou furtados. Em uma última visita em julho de 2012, fui informado de que era necessário um despacho para poder consultar o fundo. Ao solicitar o despacho, fui informado de que o fundo não estava mais acessível, pois estava passando por um controle técnico do Ministério da Cultura e Comunicação, realizado por arquivistas dos Archives Nationales (AN) desde o início de 2013. Descobri, finalmente, que, em resposta a uma solicitação da AAS, que desejava exercer controle sobre o uso do fundo (relacionado ao acesso) e ter direito de supervisão sobre as produções derivadas, os AN foram consultados e responderam negativamente. Seguiu-se uma solicitação de controle técnico sobre o fundo para considerar um possível repatriamento para os Archives Nationales de France, em Pierrefitte-sur-Seine, em 2015, visando fornecer melhores condições de depósito e consulta.
Fui levado a consultar o fundo antes de sua transferência para os Arquivos Nacionais em 2013-14. Foi durante o período de controle técnico, sob a supervisão do CNRS7, que solicitei a consulta aos arquivos, particularmente aos dossiês de carreira de Sayad. A consulta a esse fundo de forma complementar revelou-se essencial para entender os projetos científicos por trás das caixas, das notas e dos documentos reunidos nos arquivos do pesquisador. Voltei a consultar o fundo em 2017-18 e essa passagem pelos arquivos do CNRS permitiu-me compreender melhor seu conteúdo, assim como meus intercâmbios com Farid Taalba, que trabalhou nos arquivos de Sayad e na história da pequena Cabília (Taalba, 2014), e com Amin Perez-Vargas, que, durante sua tese de doutorado, desenvolveu pesquisa sobre Sayad e suas primeiras investigações em etnologia cabília com Pierre Bourdieu.
Para isso, minha abordagem associa tanto a sociologia quanto a história das ciências sociais, a sociologia do trabalho e das profissões científicas, bem como a dos intelectuais (Chaubet, 2003). Tentarei assim evitar os equívocos inerentes ao questionamento biográfico, evitando inscrever a trajetória de Sayad “nos traços do herói científico e social, trajetórias que são ainda mais rapidamente tentadas a serem representadas como excepcionais quanto mais excepcional é quando se fala de sucesso científico” (Laferté, 2009, p. 46). Para isso, tentarei comparar sua trajetória com a de outros pesquisadores, a fim de considerar “o que está relacionado a outro determinismo social, um fenômeno de geração científica impulsionado por um contexto social mais amplo” (Laferté, 2009, p. 46). Este trabalho baseia-se principalmente em materiais arquivísticos (arquivos Sayad da CNHI, depois nos AN e, por fim, nos arquivos do CNRS), embora algumas entrevistas também sejam mobilizadas. A partir desses materiais, tentarei mostrar que, dadas as condições de ingresso no CNRS no início dos anos 1960, sua trajetória profissional, marcada por um primeiro fracasso (em 1964) e depois uma sucessão de contratos de pesquisa até sua titularização como Chargé de Recherche (CR) no movimento dos “fora do quadro” no final dos anos 1970, constitui uma forma de entrada compartilhada por uma geração de sociólogos. No entanto, Sayad é 10 anos mais velho em relação aos outros recrutados do mesmo período. Sua carreira no CNRS também é marcada por um real descompasso entre o reconhecimento unânime de seu trabalho e sua baixa promoção estatutária, amplamente destacada ao longo de sua carreira.
Inscrever-se para um doutorado e candidatar-se ao CNRS: o fracasso de uma estratégia de integração na pesquisa de "cima para baixo"
A ida de Sayad para a França em 1963 é consequente de estadias anteriores, e se insere em um contexto tanto profissional quanto político. O encontro com Pierre Bourdieu, durante seus primeiros anos universitários na Faculdade de Alger e as pesquisas realizadas no âmbito da ARDES8, desempenhou um papel predominante em sua vinda para a França. No entanto, Sayad já havia considerado a possibilidade de continuar seus estudos na França ao sair da École Normale. Após trâmites junto à inspeção acadêmica argelina, ele recebeu, em 1955, um parecer favorável para se preparar para o concurso de entrada na École Normale de St-Cloud, logo após ter recebido sua primeira designação.
Foi-me oferecido, se assim eu quisesse, a oportunidade de ingressar nas classes preparatórias do Lycée Pierre de Fermat em Toulouse. Eu manteria meu salário e o tempo dos meus estudos seria contado como serviço ativo. Não conseguia acreditar no que via!... Eu, que estava tão contente com minha nomeação em Ménerville, achava que era relativamente perto de Argel e da faculdade. No dia 25/11/55, estava em Toulouse. O resto é conhecido: a greve de março de 1956. Na Páscoa de 19569, todos voltamos a Alger para saber o que seria decidido10.
A formação escolar secundária de Sayad, no contexto da guerra de independência argelina, contribuiu fortemente para sua politização (Pérez, 2009). Assim se pode entender seu retorno a Alger e a interrupção de sua classe preparatória na França.
Ele se inscreve na Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Alger em 1956 e se torna adjunto de ensino. De professor estagiário no final de 1956, ele se torna titular em 1957 antes de ser afastado duas vezes para a ARDES entre 1958 e 1960 e depois de 1960 a 1963, como pesquisador associado. Sayad retorna à França no início dos anos 1960, convidado por Bourdieu a Denguin, na sua terra natal no Béarn. Bourdieu propôs várias vezes a Sayad para que ele se juntasse a ele na França. Sayad inicia esforços para realizar um doutorado a partir de 1961. Ele envia uma carta solicitando autorização para se inscrever em um doutorado na Universidade de Paris-Sorbonne, com o projeto de doutorado em sociologia do terceiro ciclo: “Os intercâmbios linguísticos entre o francês e o árabe na Argélia”11. O diretor de tese previsto na época era Raymond Aron, diretor do Centre de Sociologie Européenne (CSE).
Embora a emigração de Sayad para a França se assemelhe a uma emigração de tipo estudantil, é importante lembrar o contexto de violência decorrente da independência argelina e seu envolvimento político no Front des Forces Socialistes (FFS), o que também alimenta a hipótese de uma saída por causas políticas. O jogo dos oportunistas, os acertos de contas violentos e a hegemonia dos nacionalistas pesaram consideravelmente na sua decisão, que se alinhava com os liberais (Sprecher, 2000), de deixar o país (Pérez, 2022, p. 53-69). A morte de seu pai, Bachir Sayad, em circunstâncias obscuras12, em 10 em fevereiro de 1963, também afetou profundamente Sayad. Em sua entrevista com Arfaoui, ele menciona uma “depressão total” que seguiu a independência: “A morte do meu pai me afetou muito, porque eu sentia um sentimento de culpa em relação a ele, mas também, de certa forma, um alívio” (Sayad, 2002, p. 82). Assim, a contragosto e com a moral em baixa, Sayad deixa a Argélia independente sob as pressões de vários de seus parentes, incluindo um amigo que compra sua passagem para Paris (Sayad, 2002, p. 83-84).
Ao chegar em Paris em 1963, Sayad, que ainda negociava sua demissão durante a liquidação da ARDES, não se inscreve diretamente em um doutorado, mas integra o Centro de Sociologia Europeia (CSE) dirigido na época por Raymond Aron e do qual Pierre Bourdieu é o diretor adjunto. Ele se junta ao laboratório em agosto de 1963 como colaborador vinculado à École Pratique des Hautes Études13. Com o apoio de Bourdieu, ele se candidata para integrar o CNRS em 1964 com base em seu projeto de doutorado sobre bilinguismo14. Nesse projeto, redigido em 14 de março de 196415, ele pretende continuar os trabalhos do linguista e sociólogo Antoine Meillet (Mucchielli, 1998), que constituem uma das principais referências teóricas. Ele utiliza particularmente o sociólogo da linguagem para analisar a linguagem como um fato social e revelador dos empréstimos culturais decorrentes da colonização. Ele leu os trabalhos de Meillet sobre o bilinguismo dos eslavos de Lusácia e propôs um estudo análogo para o caso argelino em uma perspectiva trilíngue, já que ele se interessava tanto pelos usos do francês para o árabe argelino quanto para o berbere cabila. Sayad questiona, em particular, a articulação entre empréstimo linguístico e empréstimo cultural, que não é evidente. Ele se recusava a reduzir o estudo dos intercâmbios culturais apenas à dimensão linguística. Para tal concentra seu interesse nos “vai e vem” linguísticos, que dizem mais e mais do que se imagina. Através da etnologia, ele propõe captar mudanças na visão de mundo, atitudes globais em situação. Assim, Sayad resume sua posição: “Mudar de língua é, no fundo, dizer outra coisa e não apenas dizer de outra maneira”. Ele propõe então uma dupla investigação linguística e etnológica para enriquecer e “melhor interpretar os resultados da investigação linguística”16. Sua investigação visava captar, em particular, a aceleração das mudanças culturais relacionadas ao contexto colonial, abrangendo os efeitos da “penetração da cultura e da língua da sociedade ocidental” tanto pelo “serviço militar e o trabalho nas fazendas de colonização, mais recentemente, a escola, a emigração para a França, o trabalho em empresas artesanais urbanas ou industriais, a disseminação de informações em francês, pela imprensa, rádio...”17. Ele então projeta estudar as populações rurais masculinas, especialmente trabalhadores agrícolas do vale do Chélif que trabalham nas fazendas coloniais e aqueles que permanecem como camponeses tradicionais, além dos trabalhadores emigrados para a França, particularmente em Saint-Etienne.
Esse projeto de pesquisa parece recobrir as reflexões comuns a Bourdieu e Sayad. O projeto de Sayad parece estar na continuidade das reflexões dos últimos capítulos de Sociologia da Argélia (Bourdieu, 1958). Uma das hipóteses de Bourdieu é que as “culturas tradicionais”, sejam berberes ou arabófonas, foram profundamente alteradas pela colonização francesa a partir de 1830. Ele aborda assim as questões de interpenetração cultural para, entre outras coisas, sublinhar os processos de aculturação em situação colonial. Inspirando-se na abordagem culturalista da antropóloga Ruth Benedict, mas também em Jacques Berque e Georges Balandier sobre a “situação colonial”, Sayad contrapõe-se às teses de Tillon, que explicam o estado de desintegração social da sociedade argelina pelo contato entre uma civilização europeia considerada “moderna” e uma civilização rural considerada “arcaica”, incapaz de se modernizar (Bourdieu, 2008a, p. 37-39). A principal crítica que Bourdieu faz a Tillon é negligenciar o trabalho metódico de minar e desapossar feito pelo poder colonial e sua violência, tanto física quanto propriamente simbólica. A abordagem do bilinguismo desenvolvida por Sayad inscreve-se em uma perspectiva próxima, questionando os efeitos mais profundos e duradouros dos empréstimos linguísticos sobre os modos de pensar (Sayad, 1967). Ele prossegue com essa reflexão ao desenvolver o conceito de “espírito de cálculo” como uma etapa necessária e complementar que liga colonização e desenvolvimento do espírito do capitalismo (Weber, 2008).
No entanto, essa primeira candidatura, quando é publicado Le déracinement (Bourdieu, Sayad, 1964), não é aceita pelo comitê de seleção da seção 31 (Sociologia - Demografia, atualmente seção 36). O apoio de Pierre Bourdieu, que ainda tinha uma notoriedade científica modesta e uma autoridade administrativa dependente da de Aron (para a orientação da tese), não parece ter preenchido a lacuna de Claude Lévi-Strauss (seu relator), o baixo número de publicações em periódicos científicos ou o seu status de pesquisador estrangeiro. A informação mais esclarecedora sobre o fracasso dessa candidatura está em uma nota lacônica de Marc Le Pape18 explicando que “seu relatório foi pouco comum...”19. Parece que o fraco apoio do relator foi o fator mais prejudicial nessa primeira candidatura. Por sua parte, Sayad considera que seu projeto de pesquisa, que mistura etnologia, sociologia e linguística, teve como consequência o fato de não ter sido claramente identificado por nenhum comitê. No entanto, no início dos anos 1960, o número de postos de Attaché de Recherche (AR, o primeiro grau) é relativamente limitado, assim como os de Chargé de Recherche (CR) nas seções de Ciências Humanas e Sociais. A abertura de um número maior de postos ocorre a partir de 1968 (Dumoulin, 1985). Os pesquisadores estrangeiros são poucos e a idade de entrada é relativamente alta, refletindo o número de publicações dos candidatos selecionados.
Entrar na pesquisa contratual e realizar investigações sociológicas
Sayad, então, continua com suas atividades temporárias e integra o mundo da pesquisa "contratual". O início dos anos 1960 é marcado pelo lançamento de vários grandes projetos de investigação (Masson, 2008), utilizando numerosos pesquisadores contratados (Cuisenier, 1966). Seu projeto de tese sobre bilinguismo com Aron, sem financiamento, é abandonado, especialmente após 1968, quando a ruptura entre Bourdieu e Aron resulta na criação de dois centros distintos. Sayad segue Bourdieu para o Centro de Sociologia da Educação e da Cultura (CSEC)20. Além disso, realizar uma tese na década de 1960 ainda não se impõe como um caminho essencial para a carreira. Embora a tese esteja se tornando a principal via de inserção ou "por cima", existem alternativas. Pierre Bourdieu, por exemplo, não concluiu uma tese21. Ademais, os postos de sociólogos nas universidades ainda são escassos22. Entre as vias alternativas para conseguir um cargo de titular, está a possibilidade de ser recrutado após vários anos de pesquisa contratual. No entanto, essa via de entrada "por baixo" não resiste aos anos 1980 e à institucionalização da disciplina, que leva à racionalização dos processos de recrutamento e qualificação.
Entre 1964 e 1972, Sayad é, sobretudo, um colaborador temporário no CSE, depois no CSEC. Este período é marcado por "férias alimentares" onde ele afirma realizar "estudos sobre qualquer coisa", acumulando até "cinco contracheques" (Sayad, 2002, p. 85). Ele também realiza contratos para a Association Marc Bloch (AMB). Por exemplo, a pesquisa contratual para a AMB como colaborador técnico é variável e pode abranger desde um mês até seis meses consecutivos ou vários meses de forma não consecutiva23. Essas duas atividades constituem suas principais fontes de renda e são registradas no dossiê de candidatura ao CNRS, mantido para sua segunda candidatura, que será aceita 13 anos depois, em 1977. Embora tenhamos poucos detalhes sobre a natureza exata dessas atividades de pesquisa, sabemos que não foram as únicas. Sayad realizou várias missões no exterior, no Irã, no Curdistão, na Tunísia, além de Vietnã e Camboja para a UNESCO (alfabetização) (Sayad, 2002, p. 85). Ele escreve relatórios para a Société Nationale de Sidérurgie (SNS)24. Realiza uma pesquisa para a construção de uma Cidade Operária da Siderurgia em Annaba (nordeste da Argélia), destinada a receber jovens estagiários formados na França. Ele acompanha os aprendizes e estagiários da SNS desde o recrutamento até a formação e sua inserção profissional. Ele também atua como consultor para instituições públicas como o Office National de la Main d’Oeuvre, especialmente sobre a emigração argelina na RDA25. Sayad participa em 1968 do censo nas favelas de Nanterre, nos acampamentos de Aubervilliers ou nas cidades de trânsito (Les Émouleuses em Créteil) para a associação Appel à Toute Détresse (que se tornará ATD Quart-Monde) no âmbito do censo do INSEE em 1968. Ele encontra outros sociólogos, também membros do CSE, como Michel Pialoux. Suas anotações durante o censo atestam que ele ainda não havia abandonado em 1968 suas pesquisas sobre bilinguismo (Pialoux, 2019, p. 498). Seu trabalho sobre a favela de Nanterre será publicado muito mais tarde (Sayad, Dupuy, 1995). Sayad também se interessa pelas políticas de auxílio ao retorno implementadas pela OCDE, que, desde o início do final dos anos 1960, se preocupava com a sedentarização dos trabalhadores estrangeiros.
Essas diferentes missões e contratos contribuem para criar uma rede significativa de contatos durante esse período. Assim, o encontro com Alain Gillette, alto-funcionário, ocorre durante um seminário na ENA sobre questões migratórias. Paul-Marc Henry, que dirige o seminário, solicita a Sayad e a outros pesquisadores para contribuir com as sessões. Esse diplomata "heterodoxo", então presidente do centro de desenvolvimento da OCDE, conheceu Sayad no âmbito de seu estudo sobre políticas de auxílio ao retorno, que resultou em um artigo na revista Options Méditerranéennes (Sayad, 1973). Foi durante este seminário que Alain Gillette e Sayad se conheceram e que se iniciou uma colaboração, bem como uma amizade entre o sociólogo e o alto-funcionário, que continuaria por vários anos. Gillette propôs a Sayad escrever um livro para inaugurar a coleção "Minorités", da qual ele foi nomeado diretor nas edições Entente26. Esse livro, no qual Sayad é o principal colaborador, foi publicado pela primeira vez sob o nome familiar argelino "Ath-Messaoud" e o prenome de uso "Malek" (Ath-Messaoud, Gillette, 1976), antes de ser alterado para seu nome de estado civil francês na reedição (Sayad, Gillette, 1984). Os vínculos com este alto funcionário da Corte de Contas serão igualmente reativados quando ele se tornar diretor do gabinete do secretariado de Estado de Georgina Dufoix, ministra das Assuntos Sociais e da Solidariedade Nacional, encarregada da família, da população e dos trabalhadores imigrantes (1983-84)27. Sayad foi assim solicitado várias vezes durante as comissões do Fundo de Ação Social. A multiplicação dessas diferentes atividades, em parte resultantes da pesquisa contratual, deixa pouco tempo para publicação e pesquisa científica. Ele viria a se dedicar mais plenamente a isso a partir do início dos anos 1970. Entre dezembro de 1972 e janeiro de 1977, Sayad se torna colaborador técnico da EHESS no CSEC em tempo integral e parece poder se concentrar mais exclusivamente em sua atividade de pesquisa. Ele publica seu primeiro artigo nos Actes de la Recherche en Sciences Sociales em 1975 (Sayad, 1975).
A entrada no CNRS e o reconhecimento tardio dos pesquisadores contratados
Sayad se candidata mais uma vez ao CNRS em 1977, aos 44 anos, quase 13 anos após sua primeira tentativa. Se Sayad levou tanto tempo para se candidatar novamente, isso pode ser explicado também por seus problemas de saúde, que o obrigaram a ser hospitalizado com frequência. Ele também lidou mal com esse fracasso, que o fez "nunca mais ousar, até 1977, reapresentar sua candidatura". Sayad ainda conta com o apoio de Pierre Bourdieu, que é ao mesmo tempo diretor do laboratório de acolhimento (LA210) e diretor de pesquisa28. Ele redige uma carta de apoio vibrante que, embora destaque as qualidades do pesquisador e de seu trabalho, oferece uma análise de seu percurso profissional e também aponta as perspectivas científicas que reserva para Sayad.
A. Sayad dedicou muitos anos a pesquisas em etnologia e sociologia da Argélia, realizadas em conjunto com outros trabalhos no CSEC. Inicialmente realizadas na Argélia, sobre problemas de mudanças culturais em áreas rurais, as primeiras pesquisas resultaram, entre outras coisas, em duas publicações: Le Déracinement e Paysans déracinés. Bouleversements morphologiques et changements culturels en Algérie na revista Études Rurales.
Posteriormente, uma longa e grave doença impediu A. Sayad de desenvolver mais a segunda etapa de seus trabalhos, dedicada ao estudo dos fenômenos de aculturação, especialmente ao estudo do bilinguismo ("Bilinguisme et éducation en Algérie" em Éducation, développement et démocratie). Após ter passado por várias operações, A. Sayad superou agora de forma duradoura seus problemas de saúde. Há três anos, ele vem realizando pesquisas na área da sociologia da imigração, uma escolha que logicamente prolonga suas pesquisas anteriores e que, embora o leve a um tema bastante explorado, não se deve à moda. De fato, a experiência adquirida com os trabalhos de campo, o conhecimento etnológico e sociológico que ele tem da Argélia, permitem-lhe abordar de maneira nova os problemas da emigração (cf. Projeto de Pesquisa). Ele planeja continuar na região de Marselha o estudo iniciado sobre os emigrantes da região parisiense. Embora ainda não tenha sido publicada na forma de uma série de artigos que retratam a história social da emigração argelina para a França, essa pesquisa já resultou em um artigo notável (El Ghorba).
A. Sayad, tendo sido durante muito tempo, de forma intermitente, remunerado por diárias do CNRS, considero especialmente urgente que o CNRS possa regularizar sua situação, atribuindo-lhe finalmente um cargo e recursos de trabalho dignos de um pesquisador cuja carreira e projeto científico são exemplares29.
Embora a lista de publicações de Sayad não tenha se expandido muito (o artigo nos Actes foi notado), a notoriedade de Bourdieu, por sua vez, está agora bem estabelecida. Seu último parágrafo expressa bem a situação de vários colaboradores técnicos e outros pesquisadores temporários que ainda não têm posições estáveis e são pesquisadores contratados há vários anos, ou mesmo décadas. As informações contidas em seu dossiê de carreira mostram as grades de avaliação e os critérios aplicados pelos membros do Comitê Nacional da seção 31. Um conjunto de critérios supostamente "objetivos" figura no dossiê de candidatura, como o nível escolar (mestrado ou licenciatura) e sua natureza, o interesse do tema, as publicações, as outras experiências e o interesse para o desenvolvimento da equipe do diretor. No entanto, esses critérios são preenchidos de forma muito sucinta e lacônica (marcas para o interesse do tema, uma seta para sinalizar o interesse pela equipe e pelo diretor, avaliações do tipo "bom ou muito bom" para o nível de formação ou ainda "coautor e vários artigos em boas revistas"). Desta vez, seu relator é o sociólogo Jacques Lautman (normalien e agrégé de filosofia, que ingressou no CNRS em 1965, ou seja, no ano seguinte ao fracasso de Sayad, e voltou a ser acadêmico em 1975). Ele não deixa de destacar a qualidade do candidato e, em particular, do projeto de pesquisa.
Sayad é sociólogo há mais de 15 anos após ter sido professor. É um cabila que fez seus estudos em Argel, descobriu Bourdieu e foi descoberto por ele. É coautor de Le Déracinement e seria um erro considerar apenas os mais ricos...
Sua parte em Bilinguisme et éducation en Algérie no livro Éducation, développement et démocratie foi notada e reproduzida em inglês. De 1967 a 1973, Sayad viveu anos sombrios com graves problemas de saúde, que foram finalmente diagnosticados como uma causa alérgica. Sua produção retomou inicialmente com Bourdieu e depois de forma independente. De sua nova fase, destaca-se El Ghorba. Seu projeto aborda as três fases da emigração argelina na França e a construção na França de uma sociedade de argelinos que não é uma sociedade argelina (…). Na minha opinião, a admissão é imperativa30.
O estilo telegráfico de Lautman (então professor de sociologia na Universidade René-Descartes de Paris V) e a etnicidade ressaltada pelo relator intrigam a princípio, mas o tom do relatório é muito positivo. Ele explica de maneira quase explícita a importância da contribuição de Sayad no livro Le Déracinement, copublicado com Pierre Bourdieu. Sua conclusão não deixa dúvida quanto à admissão, que é aprovada por unanimidade dos 17 votos. O projeto de pesquisa intitulado “Émigration et immigration” é destacado como muito promissor e, de fato, é a base já bastante avançada de um artigo que será publicado poucos meses depois nos Actes com o título “Les trois 'âges' de l’émigration algérienne en France” (Sayad, 1977). Nesse projeto de 1977, Sayad propõe estudar “o sistema completo de determinações da emigração”31. Com base nos resultados de sua pesquisa “Trajectoire d’émigration”, mobilizando cerca de cinquenta biografias de emigrantes32, ele apresenta tanto as variáveis de origem quanto de desfecho que permitem compreender as trajetórias de emigração, bem como os três períodos (o camponês “autêntico”, o camponês “desenraizado”, a “comunidade emigrada” na França). Ele propõe trabalhar especificamente sobre esse terceiro período e o “sentimento de provisório” que contribui para reforçar as contradições inscritas na condição de emigrante, ou seja, “por um lado, a exclusão da sociedade anfitriã, que, em graus variados, afeta todos os emigrantes, por outro lado, a ruptura que não é apenas espacial com a terra natal”33. As denominações dos três períodos ainda não estão estabilizadas e os trechos de entrevistas ainda não são evidentes, mas as bases essenciais de seu artigo, que se tornará um clássico, estão incontestavelmente presentes. Seu projeto de pesquisa baseia-se em uma metodologia diversificada: análise monográfica de casos, análise por questionários, análise secundária de estudos estatísticos e observação etnográfica de grupos tanto na França quanto na Argélia. Ele considera um trabalho em várias temáticas de pesquisa, como a análise interna da comunidade argelina na França (particularmente o campo matrimonial e os circuitos comerciais), as relações dos emigrantes com a sociedade francesa (relação com a escola, os jovens com a instituição escolar, o sistema de formação, os problemas da “delinquência”, da identidade social e cultural), a relação dos emigrantes com a sociedade argelina, o fenômeno da emigração/imigração e a política com a constituição de grupos específicos em cada uma das sociedades34.
Sayad é admitido na seção de sociologia-demografia do CNRS, na primavera de 1977, no cargo de Chargé de Recherche de 3ª classe. Ele se junta ao CSEC, que agora conta com 4 pesquisadores do CNRS e 19 no ensino superior. Embora o caso de Sayad tenha sido rapidamente ouvido e tenha aparentado unanimidade, não foi o caso das candidaturas de todos os pesquisadores contratados da época. Desde o início dos anos 1970, a integração dos pesquisadores denominados “fora de estatuto” (HS) torna-se uma preocupação importante para o comitê nacional do CNRS, especialmente para a seção de demografia-sociologia. As atas do comitê nacional da seção 31 mencionam o desenvolvimento dos problemas dos HS a partir de 1975. É especialmente Jean Cuisenier35 quem levanta a questão das especificidades das SHS e das dificuldades de recrutamento:
Os recursos humanos são essenciais nas ciências humanas, pois a pesquisa depende de pesquisadores e prestadores de serviços. Os pesquisadores fora de status (HS) são, portanto, os verdadeiros recursos de pesquisa da sociologia. Além disso, M. Cuisenier observa que a alta idade média da pirâmide de idade é devido ao fato de que a saída do CNRS é quase impossível, o que resulta em um número muito pequeno de entradas e, portanto, em um recrutamento altamente seletivo. Apenas pesquisadores já confirmados e mais velhos, com títulos e publicações, podem atualmente apresentar suas candidaturas com alguma chance36.
A introdução dos primeiros contingentes de recrutamento reservados para os HS corresponde ao 6º Plano, que visa permitir a integração desses pesquisadores nas categorias do CNRS. A lei de titularização "Lepors", a partir de 1985, oficializou os HS em corpos de funcionários criados para essa finalidade. Desde 1976, a seção 31 enfrenta o desafio da integração dos HS, que são excessivos em relação ao número de vagas e enfrentam critérios de seleção cada vez mais exigentes.
Durante a análise dos dossiês dos HS, a seção debate a posição a adotar. M. Delors defende uma interpretação ampla do conceito de fora de status, argumentando que os jovens pesquisadores não poderiam imaginar há alguns anos os critérios que enfrentam hoje37.
Diante do impasse nas primeiras tentativas de integração dos HS, a seção decide redigir uma plataforma solicitando a ampliação do contingente de recrutamento dos HS38.
A seção de sociologia e demografia do CNRS reconhece, pela primeira vez, a criação de vagas reservadas para a integração de alguns pesquisadores fora de status. A seção, no entanto, quer chamar a atenção da direção do CNRS e dos poderes públicos para o fato de que a definição extremamente restritiva de fora de status não resolverá o problema. Apesar de todos concordarem sobre a urgência e a magnitude das soluções a serem adotadas, a seção expressa seu espanto diante da modéstia dos recursos previstos.
Portanto, a seção sociologia e demografia deseja fortemente que, para resolver esse problema, a definição de fora de status seja tal que reduza a realidade fora de status da pesquisa e que as vagas necessárias sejam liberadas em número suficiente o mais rapidamente possível39.
Esse apelo será atendido para o ano de 1977. O diretor científico do CNRS, Edmond Lisle40, anuncia durante a sessão de outono do comitê nacional um aumento no orçamento para vagas. O setor de SHS se beneficiará de "38 novas vagas para pesquisadores, contra 33 no ano anterior, e 31 vagas reservadas para integrações contra 14 no ano passado", enquanto os ITA terão "35 novas vagas em 77 contra 20 no ano anterior e 39 vagas para a integração de fora de status"41 . Para as ciências humanas, é na sociologia que a integração dos HS é mais significativa, com o número de efetivos mais do que dobrando (Chenu, 2002). Durante a sessão da primavera de 1977, quando o recrutamento de HS atinge recordes, Sayad se junta ao CNRS com outros sociólogos. No entanto, essa situação gerou protestos e debates acalorados durante a sessão dos Presidentes de seções do outono de 1977.
Um longo debate sobre os fora de status se instaura, sem chegar a uma solução concreta. Diversas opiniões surgem. No entanto, parece evidente que a comissão teme que a seção de sociologia se torne uma espécie de "depósito" devido à integração massiva de fora de status com critérios não científicos. Os problemas humanos devem ser levados em conta, mas a comissão acredita que o CNRS não deve ser o único a suportar uma situação que não foi criada por ele. Devem ser encontradas possibilidades de "recolocação" dos fora de status em administrações e diversos organismos responsáveis.
"Há uma missão social e uma missão científica", afirma Crozier. "A tarefa da comissão é científica".
M. Benguigui considera que não se trata de uma política social, mas de uma política de pessoal, de gestão de pesquisadores. Segundo ele, não existe uma gestão centralizada dos contratos. Na sociologia, a demanda social é reduzida à demanda administrativa: apenas aqueles que pagam podem ser solicitantes; entretanto, organismos de consumidores, comitês de bairros, sindicatos, etc. não podem pagar. Os únicos solicitantes são as administrações.
Por outro lado, um crescimento exponencial é impensável. Portanto, deve-se enfatizar a formação dos pesquisadores e a formação contínua. M. Brams acredita que um exame muito amplo dos fora de status, mesmo não integráveis, é indispensável se quisermos fazer uma verdadeira política científica.
Mme Duflos faz uma intervenção sobre as diferenciações geralmente estabelecidas entre ITA e pesquisadores. O perfil dos ITA é herdado, segundo ela, das "Ciências Duras", pois nas ciências humanas, os ITA frequentemente têm a mesma formação que os pesquisadores42.
A disputa em torno dos HS assim opôs os defensores de uma forte limitação, ou até mesmo de um fechamento, como Michel Crozier, e os partidários de uma abertura, representados por Jean Cuisenier ou Georges Benguigui, entre outros. São, sobretudo, as visões divergentes sobre o papel da pesquisa em ciências humanas e sociais, assim como as questões de organização e divisão do trabalho científico, que alimentam as desigualdades entre os diferentes status: contratual, titular e engenheiro de pesquisa. As mobilizações para influenciar as atribuições ou o número de vagas também são importantes. Assim, Michel Crozier utiliza seus contatos governamentais, incluindo Yves Cannac (secretário-geral adjunto da Presidência), Romain Rolland (delegado-geral interino do CNRS), Jean-Claude Casanova (conselheiro do Primeiro-Ministro Raymond Barre), Delaporte (diretor do orçamento) e Bernard Grégory (diretor-geral de Pesquisa), para alertar sobre os “riscos” da integração excessiva de HS, o que daria “plenos poderes à CGT” (Crozier, 2004). Ele propõe assim uma classificação “aceitável” que rejeitava 60% dos candidatos fora do status. No entanto, é o colaborador de Crozier, Erhard Friedberg, que é recrutado como HS na sessão de 1976. Edmond Lisle explica que essas tensões decorrem tanto das lutas entre sociólogos estabelecidos para promover seus colaboradores quanto das condições de acesso aos trabalhos, que não estão relacionadas aos títulos universitários, especialmente à tese de doutorado.
Essa decisão foi uma decisão política. Houve evidentemente alguns tumultos entre os próprios acadêmicos e pesquisadores em relação a essa decisão: cada um queria ver integrados seus próprios colaboradores, mas protestava quando se tratava da integração dos colaboradores dos colegas! […]
Os fora-de-status escaparam a essa regra tradicional. Eles ingressaram no CNRS após terem adquirido sua experiência em campo. Essa experiência às vezes vale mais do que todos os diplomas do mundo; pode resultar de longos anos de trabalho e ser insubstituível. No entanto, eles não passaram por nenhum concurso seletivo e não possuem nenhum título acadêmico ou científico reconhecido e incontestável. Esse é o seu defeito congênito: quando foram integrados ao CNRS, o establishment universitário e científico perguntou: “Quem são essas pessoas?” e “Por que elas merecem seu lugar?”. A esse primeiro defeito somava-se o fato de que, muito frequentemente, esses pesquisadores nunca haviam publicado em revistas internacionais, revistas reconhecidas ou jornais com comitê editorial. Como vimos, suas publicações eram principalmente compostas de relatórios e literatura cinza. Em resumo, independentemente do interesse de seus trabalhos, eles não possuíam nenhum dos atributos que lhes permitiriam postular, com total legitimidade, ao CNRS: nem título acadêmico incontestável; nem publicações incontestáveis. (Lisle, 2002, p. 7)
Sayad compartilha, em sua integração ao CNRS, o destino de vários pesquisadores que atuaram durante muitos anos na pesquisa contratual (Pialoux, 2019). Entre os critérios de seleção dos HS, o número de anos de pesquisa contratual desempenha um papel importante. No entanto, a titularidade tardia de Sayad não é compensada por um avanço mais rápido na carreira.
Um pesquisador exemplar, mas com uma promoção estatutária limitada
Para entender a carreira de Sayad no CNRS, é necessário considerar as vias de entrada na pesquisa sociológica no final dos anos 1970, um período em que cada vez mais pesquisadores possuíam doutorado em sociologia43 e isso se tornava uma das principais formas de acesso à Universidade. Segundo Jacques Lautman, relator de Sayad e que, em 1986, tornou-se o diretor científico do departamento de SHS no CNRS:
Eu gostaria de dizer duas ou três coisas sobre os erros dos grandes mandarins das nossas disciplinas no passado, mesmo que seja fácil dizer isso retrospectivamente. Eu dei o exemplo da sociologia, cujo desenvolvimento ocorreu em torno de algumas personalidades de esquerda, exceto Le Bras, e com a bênção ou favor do CNRS, na época em que era de esquerda, ou seja, antes da saída do Senhor Teissier. Parece-me que nas disciplinas 'clássicas', os maiores mandarins tinham a seguinte política - e é nisso que meu mestre Aron não era realmente clássico -: "O CNRS é bom para jovens mulheres, para estrangeiros não naturalizáveis, para gaguejantes, para padres e para discípulos de segunda ordem! Mas nossos bons alunos, orientamos para as carreiras universitárias". (Lautman, Picard, Pradoura 1987)
A desvalorização inicial da pesquisa no CNRS mencionada por Lautman permite observar a evolução das hierarquias entre os postos universitários e aqueles abertos no CNRS. A carreira de pesquisador no CNRS de Sayad é exemplar em vários aspectos. Ele se submete às regras de avaliação e apresenta relatórios de atividade muito detalhados e desenvolvidos. Esses relatórios frequentemente têm mais de uma dúzia de páginas, chegando a até vinte com os anexos. Sayad parece dar uma atenção especial ao exercício, pois ele é frequentemente um espaço para uma revisão dos trabalhos em andamento e de algumas hipóteses de pesquisa. Os relatórios dos avaliadores solicitados pela Direção de Pessoal e Assuntos Sociais (DPAS) reconhecem de maneira unânime a qualidade dos trabalhos e do pesquisador, e às vezes escrevem para ele:
Caro camarada, aqui está uma cópia do meu relatório sobre sua atividade de 1979 na comissão de sociologia. Tenho o prazer de te informar ou confirmar, se você ainda não sabe, que a comissão te classificou em 3ª posição para a inclusão na lista de aptidão. Você tem uma grande chance de ser selecionado pela direção do CNRS. Embora eu não trabalhe nos mesmos temas, sua abordagem e seus trabalhos me interessaram muito44.
Apenas uma longa doença em 1981 pode justificar que ele não tenha podido, até agora, se candidatar à posição, que me pareceria, no entanto, uma consequência natural.
Sayad merece incontestavelmente a promoção máxima e não deve demorar a se candidatar ao cargo de MR (Mestre de Pesquisa).45
No entanto, o pedido para passar a Maître de Recherche (MR) não é aceito antes da metade dos anos 1980. Em 1985, o relatório de seu diretor de pesquisa, Pierre Bourdieu, pede uma promoção rápida para esse pesquisador, que ainda é pesquisador de 6º escalão aos 52 anos. Sua atividade de publicação aumentou consideravelmente desde sua entrada no CNRS. Embora Sayad tenha todos os recursos necessários para ser promovido, ele só se candidata ao cargo de Directeur de recherche deuxième classe (DR2) em 1990. Seu relatório de atividade (como CR1) é detalhado. Ele apresenta os trabalhos já realizados e os projetados, pois constitui uma candidatura ao cargo de DR2. O texto é muito elaborado e utiliza vários conceitos de Pierre Bourdieu (doxa, illusio, collusio, legitimidade), principalmente no início do relatório. O documento demonstra um trabalho significativo de redação, que certamente contou com a revisão de vários leitores. A demonstração das "ilusões do provisório" para perpetuar a imigração marca a introdução, assim como a "condição imigrante" superdeterminada pelo trabalho, que legitima a presença no território nacional e marca a diferença entre o nacional e o estrangeiro. Essa condição se traduz em uma ilegitimidade fundamental, tanto para os pais quando perdem seus empregos quanto para seus filhos (Sayad, 1979). Encontram-se os principais elementos que caracterizam a sociologia política de Sayad e que são formalizados alguns anos depois no artigo publicado postumamente sobre a pensamento de Estado (Sayad, 1999). Neste relatório, Sayad integra seus trabalhos sobre naturalização, direito de voto, nacionalidade e discriminações: "A exclusão política à qual o imigrante (o não-nacional) está sujeito por direito resume em si todas as outras características às quais fornece seu fundamento político e que serve como justificação última, tanto mental, política, ética, etc."46. Sayad esclarece que "é essa reflexão sociológica sobre o Estado, introduzida pela reflexão sobre a imigração, que gostaríamos de prolongar"47.
Sayad planeja continuar suas pesquisas em duas direções. Ele deseja concluir uma investigação iniciada ainda nos anos 1960 em Aghbala e em Saint-Étienne, com o objetivo de retratar a história social de um grupo de uma sociedade de emigração para uma sociedade de imigração, desde o douar original de Aghbala até os bairros de imigrantes em Saint-Étienne. Essas duas monografias se baseiam em dados etnológicos e em um trabalho genealógico realizado na Argélia a partir de documentos do Estado Civil, e Sayad gostaria de continuar esse trabalho explorando os arquivos do pessoal da Société des Houillères de la Loire. Sayad queria desenvolver uma história social paralela, acompanhando os deslocamentos dos emigrantes/imigrantes tanto aqui quanto lá, baseada em uma antropologia da parentela e dos intercâmbios matrimoniais e fundiários, permitindo compreender as transformações sociais, econômicas e culturais causadas pela colonização e, depois, pelas migrações nos dois espaços sociais considerados, ao longo de várias gerações48. Secundariamente, ele também contempla um trabalho sobre a relação com a instituição escolar dos filhos de imigrantes, com uma "pesquisa (por meio de entrevistas e questionários) com estudantes, filhos de famílias imigrantes (argelinas, marroquinas, tunisianas), matriculados em instituições de ensino superior"49 em conexão com sua participação anterior na Comissão Jacques Berque intitulada "A Imigração na Escola da República" (Sayad, 2014). Essa pesquisa foca nas histórias familiares (trajetórias de emigração, condições de emigração), nas funções atribuídas à instituição e nos encontros que podem ter favorecido a continuidade dos estudos além das expectativas, na perspectiva de uma "sociologia dos transgressores" ou dos "milagres sociais". Neste último projeto, é possível que Sayad se inspire nos trabalhos de Smaïn Laacher, publicados no mesmo ano (Laacher, 1990), talvez mais nos primeiros trabalhos de Pierre Bourdieu sobre o tema. De qualquer forma, nesses dois projetos futuros, a dimensão autobiográfica aparece de forma muito clara.
O procedimento de promoção ao cargo de DR requer uma dupla avaliação. Na sessão de outono de 1990, Sayad é promovido a Directeur de recherche deuxième classe e seus avaliadores destacam e tentam justificar o grande descompasso entre a qualidade do pesquisador e sua falta de promoção estatutária.
Um relatório excelente foi feito por Le Pape neste ano de 1990. Confirmo totalmente seu sentimento sobre a importância do trabalho deste pesquisador (57 anos, CR)50.
Começa uma carreira difícil do ponto de vista estatutário, já que Sayad só é integrado ao CNRS em 1977, o que é realmente tardio em relação às tarefas de pesquisa que realizava. Daí esta candidatura apenas51.
A comparação entre a posição e a idade como único comentário foi encontrada várias vezes nos dossiês de avaliação de Sayad. Os avaliadores são obrigados a constatar uma carreira estatutária difícil e a tentar explicar essa ausência de promoção interna, dada a excepcionalidade dessa situação. Assim, remetido a esses problemas de saúde ou sua entrada tardia no CNRS, Sayad não conheceu um avanço de carreira clássico. Sua posição estatutária é marcada por um real descompasso entre o reconhecimento de seu trabalho (por parte dos diferentes avaliadores) e uma promoção fraca, várias vezes mencionada (“Pesquisador por 13 anos, chegou ao nível 11”). Se Sayad era, sem dúvida, pouco inclinado à autopromoção, seu fracasso em passar a MR pode ter contribuído para adiar pedidos posteriores, assim como seu primeiro fracasso pode ter desanimado a apresentar uma nova candidatura antes de 1977. O fracasso de sua primeira candidatura ao CNRS pode encontrar explicações nas condições de ingresso no CNRS no início dos anos 1960 (poucos postos, poucos pesquisadores estrangeiros, idade média de entrada elevada de 35-40 anos e uma lista significativa de publicações). Sua entrada na carreira de sociólogo pela pesquisa em contrato, as substituições e as missões por um longo período até sua titularização como CR no movimento dos «”fora do estatuto » no final dos anos 1970 constitui uma forma de entrada compartilhada por uma geração de sociólogos. No entanto, Sayad ingressou neste organismo aos 44 anos, sendo mais velho (10 anos) em relação aos outros sociólogos que entraram no CNRS ao mesmo tempo (nascidos nos anos 1940). Se a entrada na profissão de Sayad pode parecer relativamente clássica para sua época, sua carreira no CNRS parece manchada por uma promoção estatutária fraca e tardia. Essa situação pode explicar sua ausência de orientação de tese, assim como de doutorandos inscritos administrativamente sob sua orientação. Da mesma forma, ele lecionou pouco na Universidade e não participou de nenhum júri de tese, até onde sabemos52.
Conclusão
O estudo da trajetória profissional de Sayad informa sobre os modos de organização e divisão do trabalho no campo da pesquisa em sociologia. As décadas de 1960 e 1970 são, assim, cruciais para entender a institucionalização da sociologia como disciplina que se desenvolve tanto no campo das pesquisas contratuais com o apoio de instituições públicas, quanto na criação de cargos no CNRS e na Universidade, com a criação de numerosas cadeiras e dos primeiros diplomas de graduação (Pollak, 1983). As estratégias de "colocação" dos pesquisadores ao redor de Bourdieu, Aron ou Crozier permitem observar um ambiente organizado em torno de alguns grandes laboratórios e pesquisadores reconhecidos (Mendras, 1995), antes de se constatar uma normalização das vias de acesso à profissão de sociólogo. As vias de entrada na profissão foram, assim, progressivamente reduzidas. O movimento de integração dos fora do estatuto reflete um movimento de racionalização dos procedimentos de recrutamento e qualificação. A tese torna-se progressivamente uma norma que se impõe aos novos entrantes, e as vias alternativas ou excepcionais tornam-se obsoletas. Se a pesquisa contratual é abandonada pelo CNRS, ela não desaparece, mas as missões e especializações são atribuídas a doutores ou pesquisadores em cargo. As missões contratuais também recorrem menos à sociologia e mais à psicologia ou à economia. A criação relativamente tardia dos departamentos de sociologia no campo universitário teve como corolário o fato de que o CNRS ocupa um lugar específico no modo de ingresso na profissão, enquanto está relativamente desvalorizado em outras disciplinas.
A trajetória profissional de Sayad, sob certas dimensões, parece relativamente ordinária para um pesquisador contratual, sem doutorado, mas também pode refletir uma forma de desvalorização devido ao seu status de pesquisador estrangeiro, sua disciplina ou seus objetos de pesquisa. Se seu lento progresso na carreira no CNRS pode estar relacionado a esses problemas de saúde recorrentes, pode-se também perceber uma tendência a censurar ou a frear pedidos de promoção, talvez relacionada a um sentimento de ilegitimidade. Sayad não publicou muitos livros em seu próprio nome (Sayad, 1992) nem coorganizou livros (exceto com Pierre Bourdieu), apesar de sua participação em vários livros e pesquisas coletivas. Seu trabalho de publicação assemelha-se ao de outros sociólogos, cuja contribuição científica se manifesta mais pela escrita de artigos do que por livros pessoais, como no caso de Jean-Claude Chamboredon (Pasquali, 2015) ou Véronique de Rudder (Cognet et al., 2019). Essa forma de heterodoxia também pode fornecer uma explicação adicional para entender a lenta evolução profissional de Sayad ao longo de sua carreira.
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1
A associação estava finalizando uma primeira classificação do fundo e entrava em uma segunda fase, consistindo em uma campanha de valorização dos arquivos e do pensamento de Abdelmalek Sayad na França e na Argélia. É nesse último contexto que o coordenador da formação, Yves Jammet, me contatou para intervenções na região parisiense.
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2
Hoje é o Musée National d’Histoire de l’Immigration.
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3
O anúncio deste projeto pode ser considerado na conclusão da homenagem que ele presta ao Instituto do Mundo Árabe, no dia 2 de abril de 1998, por ocasião, durante uma reunião em memória de Abdelmalek Sayad: “Farei tudo, com todos os seus amigos, para assegurar à sua obra, mas também à figura exemplar do pesquisador que ele encarnou, a única forma de eternidade que os homens podem dar” (Bourdieu, 1998).
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4
A associação não tem mais uma página na internet. Contudo, entre seus membros, podemos contar com Karim Abboub, Sabah Chaïb, Karim Driouche, Fatima Hasni, Rémi Lenoir, Christian de Montlibert e Rebecca Sayad.
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Fundada em 1987, a Génériques é uma associação especializada na história e na memória da imigração, na salvaguarda, preservação e inventário dos arquivos de imigração na França e na Europa, por meio de atividades tanto culturais quanto científicas. Esta associação é presidida por Jamel Oubechou (filho de harkis, formado no IEP Paris e na Normal’ Sup), com Driss El Yazami (militante franco-marroquino da FIDH) como vice-presidente e Amina Enceiri (filha de pais marroquinos, com DEA em psicologia social, FASILD, secretária-geral do HCI, encarregada de missão na OFI) como vice-presidente.
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Génériques. Histórico do tratamento. Fundo Adelmalek Sayad, Recolhimento, Paris, 2009.
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Gostaria de agradecer a Marie-Laure Bachèlerie, responsável pelo setor de arquivos na direção do CNRS, por ter facilitado o meu acesso aos documentos solicitados sob derrogação durante este período.
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Association pour la Recherche Démographique, Économique et Sociale.
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Os movimentos de greve ocorreram após o governo Mollet aprovar, em 12 de março de 1956, a lei sobre os “poderes especiais” do exército.
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Carta de Sayad enviada em resposta a Nadia (não identificada), s.d. (provavelmente em 1981).
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Carta de Sayad ao decano da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Paris Sorbonne, datada de 2 de novembro de 1961. ARCH AS 6.
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Ele encontra a morte após ter denunciado os combatentes da 25ª hora e, em particular, ameaçado denunciar publicamente um primo da família por suas ações durante a colonização e a guerra de independência. Ver as cartas de Bachir Sayad, pai de Abdelmalek, contextualizadas e analisadas por Farid Taalba (Taalba, 2014).
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Embora em alguns documentos Sayad indique ter sido colaborador técnico da EHESS, parece que foi o status de vacatário da EPHE que explica sua ausência na apresentação do CSE realizada em dezembro de 1965, na qual, no entanto, constam os colaboradores técnicos da EPHE (Collectif, 1965).
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“Para as disciplinas das ciências humanas e sociais, o CNRS constituiu um local de acolhimento temporário: durante 4 anos, no máximo 6 anos, os jovens agregados ou os jovens universitários vinham fazer sua tese no CNRS. O CNRS, nos anos 1960, foi um local onde foram preparadas teses do ensino superior” (Lisle, 2002, p. 4).
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Agradeço a Gustavo Dias por ter me enviado este documento, presente nos Archives Nationales de France (ANF, 20150645/39).
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Abdelmalek Sayad, “Projet de recherche sur les échanges linguistiques en Algérie”, texto datilografado, 14 de março de 1964, p. 16. (ANF, 20150645/39).
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Ibidem, p. 2.
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Sociólogo, Pesquisador no CNRS, vinculado ao Centro de Estudos Africanos (CEAf).
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Nota manuscrita em um cartão de visita, Correspondência de Marc Le Pape, 13 de junho de 64, ARCH AS 57 – 3.
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Sem subscrever plenamente à tese da ruptura do modelo de excelência sociológica, parece mais provável que a recusa da herança e da sucessão aroniana seja uma das causas principais do distanciamento (Joly, 2015).
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Ele possuía, no entanto, recursos escolares de alto nível (normalien agrégé) e um percurso acadêmico impecável (codireção de laboratório, direção de obra), o que lhe permitiu superar as dificuldades da defesa de tese (Joly, 2012).
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“No que diz respeito à sociologia, é claro que, em uma época em que a sociologia quase não existia nas universidades francesas, o CNRS foi um refúgio de graça, mas com uma componente originariamente orientada politicamente. Os primeiros pesquisadores do CNRS em sociologia eram poucos: Pierre Naville, Maucorps, Jean Pierre Vernant, Jacques Maître um pouco mais tarde, Chombart de Lauwe. Todos foram recrutados pelo CNRS nos anos de 1947, 1948, 1949, ou seja, antes da saída de Teissier (diretor geral do CNRS). É evidente que houve também o aspecto de “campo novo”, que não tem a nobreza universitária e que pode encontrar seu espaço no CNRS. Antes de 1950, a sociologia não existia na Universidade: havia quatro cátedras de sociologia, uma em Bordeaux, uma em Paris, uma em Estrasburgo, uma em Lyon” (Lautman, Picard, Pradoura, 1987).
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1962: Agosto, 1964: Dezembro, 1965: Julho, Outubro, Novembro, Dezembro, 1966: Fevereiro a Dezembro, 1967: Janeiro a Dezembro, 1968: Janeiro a Julho, 1969: Janeiro a Dezembro, 1971: Janeiro a Agosto e Setembro, Dezembro, 1972: Janeiro, Junho, Julho, Agosto, Novembro, Dezembro. Carta do Presidente J. Le Goff assinando o certificado de trabalho da Associação Marc Bloch (Associação para a História e a Civilização), em 31 de janeiro de 1977. Dossiê de carreira de A. Sayad, Arquivo do CNRS, 910025 DPAA.
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Nota preliminar sobre a cidade da siderurgia destinada a M. Verry, em 4 de outubro de 1966, ARCH AS 21.
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Essas são arquivos de investigação que permitem uma melhor compreensão dos quadros com os efetivos de trabalhadores emigrantes na RDA por alocação, nível escolar, região e wilayat de origem. ARCH AS 21. Economista de formação, Edmond Lisle (1928-2023) nasceu em Marselha. Filho de um engenheiro e de uma professora, ele estudou na Inglaterra e obteve um Master of Arts em Oxford. Tornou-se doutor em ciências econômicas pela Faculdade de Direito e Ciências Econômicas de Paris em 1965. Ocupou, entre outros cargos, o de diretor adjunto (1956-1967) e, depois, diretor (1967-1974) do Crédoc. Foi fundador e secretário-geral do Centro de Pesquisa Econômica sobre a Poupança (1962-1974) e professor associado na Universidade Paris I Panthéon-Sorbonne (1968-1974). Tornou-se diretor de pesquisa no CNRS (1972-1996), depois diretor científico no CNRS (1974-1981) e diretor do programa China do ParisTech. Extraído da biografia de Edmond Lisle: https://www.whoswho.fr/
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Entrevista com Alain Gillette gravada na Cour des Comptes, em 06/03/2012.
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Extraído da biografia de Alain Gillette: https://www.whoswho.fr/
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Os princípios hierárquicos no CNRS designam cada AR, CR e MR a uma equipe e a um diretor de pesquisa, que é o superior ao qual esses últimos são “colocados à disposição” e a quem devem prestar contas.
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Parecer do diretor do laboratório onde seriam realizadas as pesquisas: Pierre Bourdieu, em 2 de fevereiro de 1977, Dossiê de carreira de A. Sayad, Arquivo do CNRS, 910025 DPAA.
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Observação do relator manuscrito de Jacques Lautman, primavera de 1977, Arquivo do CNRS, 910025 DPAA, Dossiê de carreira de A. Sayad.
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Projeto de pesquisa “Émigration et immigration“, documento datilografado, redigido por Adelmalek Sayad, em março de 1977, 19 p., Arquivo do CNRS, 910025 DPAA, Dossiê de carreira de A. Sayad.
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Abdelmalek Sayad, Trajetória de emigração: estudo comparativo de casos especialmente escolhidos devido à sua pertinência estrutural, financiamento concedido pelo CORDES, 110 p. Nota de rodapé indicada por Sayad em seu projeto de pesquisa.
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Projeto de pesquisa “ Émigration et immigration “, documento datilografado, redigido por Adelmalek Sayad, em março de 1977, p. 14, Arquivo do CNRS, 910025 DPAA, Dossiê de carreira de A. Sayad.
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Ibidem, p. 18-19.
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Jean Cuisenier é agrégé de filosofia e ingressou no CNRS na seção 31 de sociologia e demografia em 1960. Foi assistente de Raymond Aron no CSE de 1960 a 1967. Em 1968, foi nomeado para a direção conjunta do novo Musée National des Arts et Traditions Populaires e do Centre d’ethnologie française do CNRS, cargos que ocupou até 1985.
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PV do Comitê Nacional Primavera, 1975 - Seção I-XLI, p. 1, Arquivos do Comitê Nacional CNRS Font 58 SGCN art 6.
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PV do Comitê Nacional Primavera 1976 - Seção I-XLI, p. 1, em 25-05-76, Arquivos CNRS Font 59 870168 SGCN art 7.
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Em 1976, a seção dispõe de “2 postos disponíveis, 5 saídas prováveis, das quais 2 certas, e 5 postos de HS” para um total de 150 candidaturas a serem analisadas. PV do Comitê Nacional Primavera 1976 - Seção I-XLI, p. 2, em 25-05-76, Arquivos CNRS Font 59 870168 SGCN art 7.
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Folha grampeada no final do relatório – fotocópia de um documento manuscrito, truncado do lado esquerdo. PV do Comitê Nacional Primavera 1976 - Seção I-XLI, Arquivos CNRS Fonds 59 870168 SGCN art 7.
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De formação econômica...
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PV do Comitê Nacional Outono 1976 - Seção I-XLI, p. 8, Arquivos CNRS Font 59 870168 SGCN art 7.
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Relatório da reunião dos Presidentes de Seções e dos Presidentes de Seções das Ciências Humanas. PV do Comitê Nacional Outono 1976 - Seção I-XLI, Reunião de 16-17-18 de novembro de 1977, Arquivos CNRS Font 59 870168 SGCN art 7.
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43
Até os anos 1950, o número de teses no campo da sociologia era relativamente baixo nas faculdades de letras (Karady, 2001).
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Carta de 25/06/1980 da Sra. Sabine Erbès-Seguin sobre sua avaliação e relatório de atividades, ARCH AS 58.
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Carta da DPAS assinada por C. Cottrel, em 29 de outubro de 1980, Dossiê de carreira de A. Sayad, Arquivos CNRS 000009SHS, art 7.
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46
Abdelmalek Sayad, Relatório de atividades na qualidade de pesquisador e projeto de trabalhos futuros, fevereiro de 1990, p. 8, Dossiê de carreira de A. Sayad, Arquivos CNRS 000009SHS, art 7.
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47
Ibidem, p. 9.
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48
Ibidem, p. 12.
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49
Ibidem, p. 13.
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Relatório de avaliação Youri, outubro de 1990, Dossiê de carreira de A. Sayad, Arquivos CNRS 000009SHS, art 7.
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51
Relatório de avaliação Le Pape, outubro de 1990, Dossiê de carreira de A. Sayad, Arquivos CNRS 000009SHS, art 7.
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52
A base de dados Thèses.fr não menciona direção de tese ou participação em bancas de defesa para Abdelmalek Sayad.
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Editores do dossiê
Gustavo Dias, Gennaro Avallone
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
16 Dez 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
11 Jun 2024 -
Aceito
05 Nov 2024