Resumo
Este artigo refere-se a uma pesquisa de pós-doutorado que teve como intuito analisar o perfil e as motivações migratórias dos imigrantes chineses vinculados à Associação Chinesa Paraibana do Brasil e que residem na capital do estado, João Pessoa. Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa majoritariamente qualitativa, com a realização de entrevistas presenciais, a participação em três eventos da Associação, bem como a aplicação de questionários. Com base nesses dados, observamos que há um espalhamento desses imigrantes por capitais e demais cidades dessa região, buscando fugir de zonas comercialmente mais saturadas. Além disso, os achados demonstraram que outros fatores, como qualidade de vida, começam a desempenhar um importante papel nas motivações migratórias dos chineses. Dessa forma, a investigação pretende ampliar o estudo sobre a imigração chinesa no Brasil, especialmente no que concerne à principal contribuição da pesquisa, qual seja o espraiamento e a capilaridade desses imigrantes no Nordeste do país.
Palavras-chave:
Migração; Nordeste; China
Abstract
This article refers to a postdoctoral research which aimed to analyze the profile and migratory motivations of Chinese immigrants associated with the Paraíban Chinese Association of Brazil and residing in the capital city of the state, João Pessoa. To this end, we developed a predominantly qualitative research, conducting face-to-face interviews, participating in three events of the Association, as well as administering questionnaires through Google Forms. Based on these data, we observed that there is a dispersion of these immigrants across capitals and other cities in this region, seeking to escape from commercially more saturated areas. Additionally, the findings demonstrated that other factors, such as quality of life, are beginning to play an important role in the migratory motivations of the Chinese. Therefore, the research aims to bring contributions to the study of Chinese immigration to Brazil, especially concerning the spreading of these immigrants to the Northeast region of the country.
Keywords :
Migration; Northeast Region; China
O fenômeno migratório1 2 permanece gerando impactos significativos nos âmbitos econômicos, políticos, sociais e ambientais, sobretudo quando consideramos que, em 2020, mesmo com a pandemia da covid-19, 281 milhões de pessoas viviam fora de seus países de origem em todo o mundo, segundo dados do Relatório Mundial sobre Migrações (ONU, 2021).
Ainda que corresponda a uma pequena fração do número total de emigrantes chineses no mundo - estima-se em 300 mil a quantidade de chineses no Brasil (Véras, 2022) -, a importância do estudo sobre a diáspora3 chinesa no país se ampara no fato de a China ser o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009 e uma das principais potências globais, com o segundo maior PIB do mundo, estimado em 17,79 trilhões de dólares (Banco Mundial, 2023).
A imigração chinesa, outrora concentrada em grandes centros urbanos no Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro, passou a se espraiar por cidades de outras regiões do país, como o Nordeste brasileiro. No caso em estudo neste artigo, basta um passeio pelas ruas do comércio do centro da capital paraibana para observar a forte presença de comerciantes e vendedores chineses em algumas ruas, fenômeno que se repete em outras capitais do Nordeste (Neves, Vasconcelos, Lacerda, 2019; Goes, 2015).
Nesse sentido, tendo como esteio os aspectos destacados acima, buscamos, neste artigo, traçar um perfil da comunidade chinesa na capital paraibana, com ênfase nos chineses que integram a Associação Chinesa Paraibana do Brasil. Além disso, procuraremos compreender as motivações migratórias dos chineses em João Pessoa.
Neste rumo, na primeira parte deste artigo, discutiremos os percursos metodológicos desta pesquisa. Na sequência, faremos um debate sobre a construção da diáspora chinesa ao longo da história. Em seguida, daremos ênfase aos estudos sobre imigração chinesa no Nordeste. Por fim, nos debruçaremos sobre a análise das entrevistas e dos questionários, refletindo sobre os aspectos culturais chineses, tendo como base o Brasil como país receptor e, mais precisamente, João Pessoa como cidade de acolhida.
1. Percursos metodológicos
A pesquisa sobre imigração chinesa em João Pessoa está assentada em uma metodologia essencialmente qualitativa, embora aspectos quantitativos também possam ser incorporados para trazer contribuições para as análises. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica com o intuito de aprofundar os temas da imigração chinesa para o Brasil, com ênfase no Nordeste. Ao mesmo tempo, estabelecemos algumas estratégias4 para conseguirmos contato com os chineses.
As duas estratégias estavam relacionadas ao guanxi, entendido, grosso modo, como uma rede de relacionamentos e influências ((Véras, 2008), uma forma de conexão social, baseada na confiança pessoal e na troca de favores, estabelecida de forma simétrica. A diferença entre as estratégias se referia ao caminho percorrido até chegar ao guanxi. A primeira forma implicava a construção de uma confiança em torno das pesquisadoras, o que significava o estabelecimento de uma conexão de forma lenta, como costuma ser o percurso até o guanxi. Nesse rumo, fizemos sucessivas idas ao centro de João Pessoa, primeiro, para fazer um mapeamento dos estabelecimentos e, segundo, para ganhar a confiança dos comerciantes chineses.
A segunda estratégia consistia na utilização de intermediários (jên-ch’ing) para a construção de “um mecanismo de rede de comunicações e de relacionamento” (Sheng, 2008, p. 746), que, embora esteja relacionado ao guanxi, pode se encerrar em si mesmo. A confiança, desse modo, passaria a ser mediada, buscando alguém que pudesse facilitar o nosso acesso a eles, ao nos apresentar como pesquisadoras idôneas.
Os primeiros contatos foram iniciados a partir da primeira estratégia. Sendo assim, fizemos visitas de uma a duas vezes por semana às ruas onde se concentram a maioria dos comércios de chineses. Começamos realizando algumas compras e tirando dúvidas sobre os produtos. Aos poucos, fizemos perguntas que estavam fora do vocabulário das transações comerciais. Nessas horas, havia recuo ou respostas monossilábicas, tal como apontado por Dimenstein em pesquisas com chineses também em João Pessoa (2021).
Durante três meses, em março, abril e maio de 2022, realizamos essas visitas sem que houvesse evolução nos contatos, o que acabou gerando a desconfiança de alguns comerciantes. Embora essas visitas estivessem sendo muito valiosas do ponto de vista da observação, resolvemos fazer uma pausa nelas e tentar a segunda estratégia. Enviamos um e-mail a um professor e pesquisador chinês com o qual temos contato, que nos forneceu uma carta de apresentação em chinês, falando sobre os objetivos e importância da pesquisa. Munidas da carta, entramos em contato com o Consulado Geral em Recife, que facilitou o nosso acesso à comunidade chinesa em João Pessoa. Em poucos dias, tínhamos um convite para participar de um evento na sede da Associação Chinesa. Alguns membros dela nos sugeriram que as entrevistas fossem realizadas ali mesmo, em uma das salas da associação, no mês de junho de 2022.
Sendo assim, optamos pela aplicação de entrevistas5 estruturadas pela pouca fluência em português dos entrevistados e pelo não domínio do mandarim por parte das pesquisadoras. As entrevistas foram realizadas em português, mas contamos com a ajuda de uma das integrantes da comunidade, que mora há 20 anos no Brasil, e fazia a tradução de algum termo, quando necessário. No próprio dia do evento, fizemos a quantidade de entrevistas que foi possível, totalizando seis. A ideia era que mais entrevistas fossem realizadas em outras oportunidades. O problema é que elas acabaram sendo muito repetitivas, com respostas semelhantes, muito possivelmente porque havia sempre outros chineses próximos e pela interferência da “intérprete” da comunidade, que muitas vezes sugeria respostas. Não havia como realizar as entrevistas individualmente, porque no horário comercial eles se dedicavam exclusivamente ao comércio e, no horário de lazer, estavam juntos.
Neste rumo, como aponta Duarte (2002), quando empregamos uma metodologia qualitativa, a quantidade de entrevistados não é estabelecida previamente, sendo que o nível de aprofundamento do material coletado, assim como o grau de novidade das informações obtidas, vão dizer se devemos ampliar o número de interlocutores ou não. Na fase de pré-análise das entrevistas, constatamos que havia um nível de semelhança muito grande, o que nos levou a buscar alternativas para coletar informações distintas.
Assim, optamos pela aplicação de um questionário6, ainda no ano de 2022, com perguntas fechadas no Google Forms, tencionando fazer um mapeamento do perfil desses chineses, bem como entender a escolha de João Pessoa como cidade de acolhida. O questionário foi redigido primeiramente em português, assim como o termo de consentimento. Posteriormente, contratamos um serviço de tradução de todo o material para o mandarim. Pela ordem das respostas, conseguíamos comparar com o material original em português e iniciar o processo de análise e interpretação dos dados. Ficamos, neste sentido, com o recorte de 25 pessoas, já que foram as que se dispuseram a responder ao questionário.
Para a realização das análises das entrevistas e respostas dos questionários, empregamos a Análise de Conteúdo (AC) de Bardin (2016), que busca compreender os sentidos e significados atribuídos pelos sujeitos da pesquisa no que se refere a um tema ou problema. Dentre as diversas técnicas da AC, optamos pela Análise Categorial, buscando identificar os temas mais frequentes. Na etapa de exploração do material, partimos para a codificação a partir das seguintes categorias apriorísticas: “escolha de João Pessoa como cidade receptora” e “qualidades associadas à cidade”.
Desse modo, as fontes secundárias (como matérias jornalísticas), as entrevistas, os questionários e as observações de campo compõem o conjunto de dados sobre os quais nos debruçaremos. A partir do material coletado, iremos estabelecer relações entre os dados, buscando extrair os significados presentes neles (Lakatos, Marconi, 1995).
2. A mão de obra coolie
Historicamente, como aponta Véras (2022), desde a Dinastia Qing (1644-1912), Guangdong e Fujian7, províncias com alta densidade populacional, padeciam com a criminalidade e a pobreza, além de serem regiões costeiras e portuárias, o que facilitava o acesso ao Pacífico e, consequentemente, a migração. Peres (2009), por sua vez, chama a atenção para o fato de que, apesar de haver fragilidades nas estruturas produtivas e políticas no período Qing, que justificavam o impulso migratório, há que se considerar a interferência das potências coloniais da época, sobretudo Portugal e Inglaterra, no intuito de corroer essas estruturas.
Neste sentido, os fatores internos da China, aliados às pressões exercidas pelas nações colonizadoras, conduziram à migração massiva de chineses, que muitas vezes acontecia por meio de sequestros ou sendo ludibriados com a promessa de uma vida melhor nas Américas (Véras, 2022; Peres, 2009). Essa migração acontecia por meio de agências que recrutavam chineses para trabalhar em outros países. Esse tipo de mão de obra passou a ser denominada de coolie, oriunda do hindu kuli, que se referia aos Sudras, quarta e mais baixa casta hindu, relacionada aos trabalhos braçais (Véras, 2008; Yang, 1977). As agências se instalavam em Macau e Hong Kong, já que o governo da China proibia a emigração, e utilizavam boa parte das técnicas aprendidas em três séculos de escravidão, prendendo os chineses em barracões até o dia do embarque. O tratamento não diferia muito do dispensado aos africanos escravizados: maus-tratos, privação alimentar e violência física. Eles eram “marcados a ferro, chicoteados e insultados” (Yang, 1977, p. 425), além disso, tinham que descontar de sua parca remuneração todo o custo da viagem, o que os colocava em regime de servidão em relação aos patrões. Não raro, os chineses recorriam ao suicídio, pois a morte aparecia como “única alternativa” (Yang, 1977, p. 425).
Enquanto isso, no Brasil, os latifundiários, diante das pressões da Inglaterra pelo fim da escravidão no país e vendo crescer as vozes antiescravagistas, começaram a pensar também em estratégias para substituir a mão de obra dos escravizados. Os trabalhadores europeus não aceitariam as péssimas condições de trabalho que as fazendas brasileiras tinham a oferecer, como enfatizou o ministro da agricultura, em 1880, Manuel Buarque de Macedo (Leite, 1999). O jeito seria copiar o que já vinham fazendo outros países das Américas, como Cuba e Peru, e importar trabalhadores chineses. Porém, as ideias eugênicas, propagadas por médicos e outros cientistas, já encontravam terreno fértil no país, o que representava um entrave a esse plano. Se se buscava “desafricanizar” o Brasil, ao trazer mão de obra chinesa, a nação corria o perigo de “mongolização da raça” (Leite, 1999; Nabuco, 1983), ou seja, da introdução de fenótipo e da cultura de países do Oriente entre os brasileiros.
Desse modo, apesar dos ecos das vozes eugênicas, alguns navios aportaram no Brasil trazendo trabalhadores chineses. A importação de chineses, todavia, encontrava cada vez mais oposição em solo brasileiro. A situação tomou uma proporção tão grande que, como aponta Leite (199, p. 116), ocorreu, em 1870 um debate acalorado na Câmara, bem como na imprensa, com posicionamentos contrários e favoráveis ao que se denominou de “Questão Chinesa8”. De um lado, os que enxergavam nos chineses a salvação da lavoura e, de outro, os que temiam pelo “achinesamento” do Brasil, que se esforçava para alcançar o ideal de civilização europeia (Freyre, 2011, 2013), contrariando os investimentos numa política de embranquecimento de sua população.
Nesse rumo, a tentativa de trazer, de maneira massiva, mão de obra chinesa para o Brasil não prosperou. Nas palavras de Marco Aurélio dos Santos (2022, p. 30): “a imigração chinesa no século XIX não passou de um conjunto de projetos e perspectivas que estiveram no radar de homens da cúpula do poder em diferentes contextos históricos”, mas sem conseguir, de fato, impulsionar uma corrente mais expressiva de imigração chinesa. Os que vieram, enganados ou trazidos à força, ficaram entregues “à própria sorte, praticando os mais humildes ofícios ou então reduzidos à mendicância ou à vagabundagem” (Leite, 1999, p. 123). O fluxo migratório de chineses para o Brasil, entretanto, só ganharia força no século XX, mais precisamente a partir de 1950, como veremos no próximo tópico.
3. Os chineses ultramarinos nos séculos XX e XXI
O marco do fluxo migratório de chineses na história recente inicia-se em 1949, com a derrota dos Guomindang - partido conservador chinês, apoiado pelos americanos - pelo Partido Comunista. Naquele ano, Mao Zedong fundava a nova República Popular da China e expulsava os líderes e integrantes dos Guomindang do país, que findaram por se estabelecer em Taiwan (Spence, 1995). A primeira leva de chineses migrantes, neste sentido, era proveniente de Taiwan, muitos deles haviam fugido da China continental para lá e, por temer as tensões locais e pela escassez de empregos, resolveram emigrar.
Entre as décadas de 1970 e 1980, os taiwaneses continuaram a compor a massa migratória para os Estados Unidos, a Europa e a América do Sul. Isso se deve ao fato de que, antes da abertura econômica da China, havia em Taiwan uma grande quantidade de empresas, informais e “caseiras”, que produziam “bugigangas e produtos falsificados” (Pinheiro-Machado, 2009, p. 225). Essas empresas alimentavam os comércios de diversos países, incluindo o Paraguai e o Brasil. Sendo assim, teve início uma emigração de taiwaneses para o Paraguai com o intuito de comercializar o que era produzido de maneira ampla naquela ilha asiática.
Com a abertura econômica da China, no fim da década de 1970, Deng Xiaoping estabeleceu as quatro bases para a modernização da nação - Indústria, Agricultura, Defesa Nacional e Ciência e Tecnologia - transformando o país em um grande polo industrial. Aliado a isso, a criação das Zonas Econômicas Especiais - áreas voltadas ao desenvolvimento industrial e com vantagens para investimentos estrangeiros - transforma Guangdong9 em um dos principais polos emissores de chineses para o mundo, por conta de sua localização geográfica e de sua base exportadora (Pinheiro-Machado, 2009). Ao mesmo tempo, há um incentivo, por parte de Deng Xiaoping, ao empreendedorismo, com o estímulo à abertura de fábricas e ao desenvolvimento de atividades comerciais.
O incentivo governamental à prosperidade, bem como o desenvolvimento de regiões geograficamente vocacionadas para a emigração, resulta em uma mudança na motivação migratória, pois os chineses passam a emigrar mais intensamente por razões comerciais, dedicando-se a atividades no comércio atacadista. É esse perfil de migrante chinês que encontramos de maneira mais intensa atualmente no Brasil. Embora o estado de São Paulo continue encabeçando a lista dos estados brasileiros que mais recebem imigrantes da China no país (OBMigra, 2024), podemos falar em um deslocamento dos chineses para outros estados brasileiros, principalmente no Nordeste do país, buscando localidades com menor concorrência. Aliado a isso, há também o aumento dos investimentos chineses na região, o que pode ter contribuído para a mudança de rota desses imigrantes em território nacional (Dimenstein, 2021).
4. A presença chinesa no Nordeste do Brasil
O fenômeno da imigração de chineses para o Nordeste do Brasil vem ganhando relevância recentemente o que se reflete no aumento de pesquisas e estudos sobre o tema (Dimenstein, 2021; Fusco, Queiroz, 2018; Silva, 2008; Neves, Vasconcelos, Lacerda, 2019; Goes, 2015; Ferreira, 2016), apontando para o impacto da presença desses imigrantes, sobretudo nos centros comerciais de capitais e demais cidades dessa região brasileira.
Os dados do Relatório Anual da OBMigra (2024) mostram que a China liderou entre os países que receberam mais autorizações de trabalho formal no Brasil, de 2022 a 2024, com acréscimo expressivo neste último ano, com 1.072 concessões registradas, refletindo as parcerias comerciais e econômicas entre a China e os estados desta região (OBMigra, 2024). Fusco, Queiroz (2018), em artigo sobre a imigração de asiáticos para o Nordeste, fazem uma análise dos registros de autorização de trabalho para estrangeiros com o intuito de traçar um perfil desses trabalhadores. Com base nesses dados, que correspondem ao período de 2000-2015, os chineses lideraram com 55,7 % dos vistos, seguidos dos sul-coreanos com 28,6% e dos japoneses com 15,7 %.
Por seu turno, Neves, Vasconcelos, Lacerda (2019) discutem as implicações da imigração nos centros históricos das cidades brasileiras, com ênfase na cidade de Recife. Para os autores, a maior concentração de chineses nos centros históricos de cidades como Recife, Salvador, Fortaleza, Aracaju e São Paulo está relacionada com o fato de esses locais serem espaços dedicados ao comércio de produtos populares, o que encontra ressonância no que foi debatido anteriormente sobre o estímulo do estado chinês ao empreendedorismo. Outro aspecto levantado pelos autores, e que também aparece em pesquisas sobre imigração chinesa, é a incorporação da diáspora chinesa como ferramenta de governança da política externa, ou seja, o Estado chinês acaba incentivando a participação dos chineses ultramarinos em associações comerciais e culturais chinesas nos países de destino, para que, de um lado, eles possam divulgar as mercadorias chinesas e, de outro, retornar investimentos para a China (Teixeira, Mandelbaum, 2017). Rocha (2017), em pesquisa sobre práticas comerciais de imigrantes chineses e senegaleses em Córdoba, na Argentina, constatou que um dos aspectos fundamentais das associações chinesas nos países receptores é o fato de funcionarem como pontes entre os agentes aduaneiros e os comerciantes chineses locais, auxiliando, assim, o processo de importação de mercadorias.
Desse modo, a estratégia de governança da diáspora pelo governo chinês passa, muitas vezes, pelo estímulo à constituição de associações chinesas ou, dependendo do tamanho da comunidade de migrantes, de associações de províncias chinesas específicas, o que traz implicações para esta pesquisa em particular, dado que enfatizamos aqui os imigrantes chineses integrantes da Associação Chinesa Paraibana.
5. Do império do meio10 ao centro do extremo oriental11
João Pessoa é uma cidade de 833.932 habitantes e, das 20 maiores cidades do Brasil, foi a que mais cresceu segundo os dados do IBGE (2022), aumentando sua população em 15,3% em relação a 2010, ano do Censo Populacional anterior. Segundo dados do Relatório Anual da OBMigra (2024), a capital paraibana foi a quarta cidade com mais registros de imigrantes no Nordeste, entre os anos de 2022 e 2024, perdendo apenas para Salvador, Fortaleza e Recife. No que se refere aos registros de autorização formal de trabalho para imigrantes na Paraíba, 28,2% deles foram concedidos a chineses, entre 2022 e 2024 (OBMigra, 2024).
Os estabelecimentos comerciais desses imigrantes estão localizados nas avenidas General Osório, Visconde de Pelotas e Dom Pedro I e nas ruas Duque de Caxias e Santo Elias (Dimenstein, 2021), no centro da cidade de João Pessoa, conforme o mapa abaixo. Nossa pesquisa, contudo, enfatizou os chineses da rua Duque de Caxias, dado que muitos dos integrantes da Associação Chinesa Paraibana do Brasil possuem estabelecimentos comerciais nessa rua, que também é onde está situada a sede dela.
Lojas de chineses nas ruas General Osório, Duque de Caxias, Santo Elias, Pedro I e Visconde de Pelotas - Elaboração própria (2025) - O pin verde marca o endereço da sede da Associação Chinesa Paraibana do Brasil.
5.1. A Associação Chinesa Paraibana no Brasil
Embora não seja possível estabelecer uma correlação entre os fatos, entre 2012 e 2018 (Dimenstein, 2021) houve um aumento dos investimentos da China no Nordeste, correspondendo ao período em que 36% dos interlocutores da pesquisa chegaram a João Pessoa (ou seja, aproximadamente 10 anos). De qualquer forma, a importância da Paraíba e de João Pessoa na rota migratória dos chineses passa a ganhar significado quando a Associação Chinesa Paraibana é criada, em julho de 2021, com o intuito de oferecer amparo aos comerciantes chineses de João Pessoa, Campina Grande e Patos. A constituição da Associação contou com um aporte financeiro inicial fornecido pelos comerciantes mais abastados, com o intuito de viabilizar o seu funcionamento. Ela está organizada da seguinte forma: há um presidente e um secretário, que são trocados a cada 2 anos. Segundo o presidente da Associação à época da pesquisa, Roberto Wang, por se tratar de um grupo pequeno, não há a necessidade de votação, visto que eles chegam a um consenso sobre aqueles que podem assumir esses cargos. Além disso, conforme disse uma das interlocutoras em áudio no Whatsapp, “cada um, assim, não tem específico o que cada um pode fazer, é mais ver quem tem tempo de fazer e aí é quem faz, (...) é tudo a mesma coisa, é tudo igual”; ou seja, as funções se confundem, sem que haja necessariamente uma hierarquia entre eles; ainda que, do ponto de vista da nossa observação durante os eventos, nos pareceu que o presidente normalmente é uma figura mais proeminente da comunidade.
Na época da pesquisa, a Associação era composta de 62 membros vinculados a 30 estabelecimentos. Trata-se de uma associação de cunho mais comercial, dado que integra apenas comerciantes das regiões centrais das cidades mencionadas, embora, como veremos mais à frente, também auxilia na manutenção do sentimento de pertencimento à China, tendo em vista que realiza festas de celebração de importantes datas comemorativas chinesas. Em entrevista, o presidente à época disse que: “na associação a gente tem um espaço pra se reunir, tomar chá e também tem a ajuda da prefeitura, quando precisa de alguma coisa”. O objetivo é dar uma segurança jurídica e financeira maior aos associados, bem como funcionar como um espaço de convivência tendo como base a cultura chinesa. Em outras palavras, garantir a manutenção do vínculo com a China.
Os eventos da Associação celebram o Festival do Barco-Dragão (em maio ou junho), o aniversário da Associação (comemorado em agosto) e o Ano Novo Chinês. Todos esses três são eventos celebrados com bastante comida, bebida alcóolica, música, jogos e troca de presentes. O primeiro evento que uma das pesquisadoras participou, em 2022, foi o do Barco-Dragão, que foi realizado, de maneira mais modesta, na sede da Associação. Os outros três eventos, que contaram com a participação de uma das pesquisadoras, foram o aniversário da Associação (2022 e 2023) e o Ano Novo Chinês (2023). Esses eventos foram realizados no salão de festas de um condomínio horizontal, de classe média alta, no Litoral Sul da Paraíba, onde morava o então presidente da Associação. Eles foram celebrados com muita comida chinesa preparada por alguns membros da Associação e servida no formato de buffet. No começo dos eventos, havia sempre uma parte mais formal, com falas dos membros da Associação e de convidados considerados importantes. Depois, o buffet era iniciado e, após o almoço, começava o karaokê. Alguns dos integrantes preferiam jogar o xiangqi, uma espécie de xadrez. Neste sentido, podemos dizer que boa parte dos elementos que fortalecem o guanxi estavam presentes nos eventos da Associação, comida, bebida e familiaridade, consolidando, ao mesmo tempo, os elos entre os integrantes e o vínculo com a China.
No que concerne a esse aspecto, Xiang (2007) escreve que a governança migratória, por meio do Overseas Chinese Affairs Office, tem não só estimulado o contato com chineses ultramarinos, como também incentivado a formação de associações nos países receptores. Na perspectiva de Silva (2018), as associações têm como fundamento garantir a manutenção dos laços entre a China continental e os chineses diaspóricos, atuando para “unir os compatriotas”, fomentando os “interesses e o desenvolvimento da sociedade local” (Xiang, 2007, p. 15 apudSilva, 2018, p. 235). Ainda na pesquisa de Silva (2018, p. 236) sobre os chineses em São Paulo, ele complementa que as associações e as câmaras de comércio funcionam como braços dos assuntos chineses no exterior, garantindo a articulação da relação entre o Brasil e a China, bem como atuando para possibilitar a circulação de pessoas e mercadorias.
Nas observações feitas em campo junto à Associação Chinesa Paraibana, verificamos a existência de vínculo entre os seus integrantes e as instituições consulares da China, com o envio de presentes pela Embaixada da China, nas datas comemorativas chinesas - o que de fato pode indicar um esforço para a manutenção dos laços com o país de origem. Além disso, percebemos que algumas das práticas realizadas por outras associações eram também reproduzidas aqui, possivelmente apontando que algumas associações podem funcionar como modelo norteador para associações menores. A Associação dos Chineses do Recife tem realizado atividades filantrópicas em situações específicas, como doação de máscaras e álcool em gel durante a pandemia de covid-1912 e de produtos para pessoas atingidas pelas chuvas na cidade13, algo que acabou se refletindo entre os chineses associados de João Pessoa, que fizeram uma doação de 100 cestas básicas para o Natal Sem Fome14 e de brinquedos para crianças carentes no Dia das Crianças.
As ações filantrópicas aparecem, neste sentido, como uma forma de constituir uma perspectiva positiva dos chineses perante a sociedade local, dado que, no Brasil, muito em função da moral cristã, a caridade é bem-vista. Assim, os chineses ultramarinos, como representantes da imagem da China no exterior, buscariam formas de melhorá-la para fortalecer as relações entre seu país de origem e as sociedades receptoras. To (2009, p. 2 apud Silva 2018, p. 237) aponta que as políticas de orientação aos compatriotas no exterior não é exclusividade da China. Contudo, nada se compara à “superestrutura de vários níveis” que congrega organizações não governamentais, agências governamentais e diplomáticas. Ainda que possamos de fato perceber uma grande estrutura do Estado chinês empenhada na governança da política migratória, envolvendo a circulação de pessoas e mercadorias, é importante não perder de vista que há uma capacidade de agência por parte desses imigrantes, algo, aliás, extremamente arraigado na cultura chinesa. Trata-se da capacidade de auto-organização por parte dos chineses, que persiste desde o período imperial, metaforizada no provérbio “o céu é alto e o imperador está longe”, o que pode explicar, em parte, a criação de associações pelos chineses diaspóricos (Xia, 2014; Xiaotong, 1992).
Guang Xia (2014), ao discorrer sobre a necessidade de interpretação do Estado chinês à luz da cultura civilizatória chinesa, escreve que, na China imperial, devido ao tamanho do país e às dificuldades de comunicação e transporte à época, era pouco provável que o governo conseguisse exercer um controle efetivo das mais distintas localidades. Desse modo, com base na moral confuciana, possibilitou-se a auto-organização ou autogestão por parte da sociedade civil chinesa. Um elemento central da compreensão sobre a capacidade de auto-organização é o que o autor intitula de “familismo”, que está assentado na moral confuciana. Isso porque, na perspectiva confuciana, a família é o protótipo das relações sociais, visto que a sociedade chinesa como um todo foi concebida como uma espécie de família ampliada. Fei Xiaotong (1992) complementa esse argumento ao dizer que, diferentemente das famílias ocidentais, nas quais os membros são fixos, as famílias chinesas são percebidas como redes, com a capacidade de expandir-se para fora. Além disso, essas redes têm seus limites embaçados, embora os parentescos mais próximos, como entre pais e filhos, sejam relativamente mais fixos.
5.2. Guanxi e familismo
Nessa investigação, tencionamos também fazer algumas observações iniciais sobre aspectos culturais chineses, como o guanxi e o familismo entre os chineses da capital paraibana. O familismo apareceu de tal forma entre os chineses de João Pessoa que algumas vezes chegava a dificultar a compreensão das relações de parentesco consanguíneo entre eles. De fato, a família expandida, ou o que Fei Xiaotong (1992) intitula de “projeção da consaguinidade no espaço” - com os laços da terra (pertencimento a uma mesma província) sobrepondo-se aos laços consanguíneos - se mostrou presente no grupo estudado, que, muitas vezes, estabelecia poucas relações com a comunidade local.
Embora nas entrevistas alguns tenham mencionado o estabelecimento de amizade com brasileiros, a maioria disse não ter amigos brasileiros: “Só tenho amigos chineses, falo pouquinho português” (interlocutor 1); “Não. Mais ou menos difícil lidar com brasileiros” (interlocutora 5) ou “Tenho. Não melhor amigo, porque cultura diferente. Difícil” (interlocutor 2). Além disso, nos eventos que participamos na associação, encontramos apenas dois ou três brasileiros, incluindo uma das pesquisadoras e a cônjuge de um dos chineses. Nas visitas em campo, as relações com brasileiros, mesmo com lojistas da mesma rua, eram meramente comerciais. Só presenciamos momentos de descontração e brincadeira entre chineses e brasileiros quando se tratava dos chineses de 2ª geração.
Por outro lado, a relação entre os chineses integrantes da Associação parecia bem próxima, com muitos deles se comportando como integrantes de uma mesma família de fato. Sobre esse ponto, aliás, Xiaotong (1992, p. 33) aponta que as relações familiares se estendem à própria economia, de forma que, ao migrarem para estabelecer relações comerciais, os chineses criam laços nos países receptores com outros chineses provenientes de sua mesma localidade, o que ele define como “projeção da consaguinidade no espaço”, ou seja, a capacidade de estabelecer laços com outros conterrâneos com a confiabilidade de uma relação de parentesco consanguíneo.
Sobre esse aspecto, não foram poucas as vezes que precisamos especificar o grau de parentesco para que pudéssemos entender as relações familiares entre os chineses locais, como quando uma vendedora chinesa nos reconheceu de um dos eventos da associação e disse que morava na casa de um parente. Quando começamos a perguntar se era tio ou primo, ela disse que não “era de sangue”, mas que, como tinham vindo da mesma província, ela considerava como um tio e que ele a ajudava muito. Um outro entrevistado falou que havia ido inicialmente para São Paulo trabalhar na loja de uma tia, porque não tinha condições de abrir sua própria loja. Em outro momento, conversamos com ele e descobrimos que a tia, na verdade, era uma amiga da família.
O familismo, dessa forma, nos leva a outro conceito central para o entendimento de qualquer aspecto relacionado à China: o guanxi. Para isso, precisamos recorrer mais uma vez a Fei Xiaotong (1992) para compreender o modo de associação chinês. Na perspectiva desse autor, as sociedades ocidentais se estabelecem a partir de um “modo organizacional de associação”, em que os grupos e seus membros têm limites bem-definidos e direitos e deveres bem-estabelecidos, enquanto na China vigora o “modo diferencial de associação”, no qual há uma sobreposição de redes, ou, dito de outra forma, as pessoas estão ligadas entre si por relacionamentos pessoais sobrepostos, com cada pessoa estabelecendo múltiplas ligações entre o “eu” e os “outros”.
O guanxi, desse modo, é uma rede de conexões sociais, baseada no modo diferencial de associação apontado por Xiaotong, em que há trocas de favores tendo a confiança como esteio. O autor emprega a metáfora da pedra jogada no lago para representar essa rede de relacionamentos, na qual, a partir do lançamento da pedra, vários círculos vão se formando, alguns mais fracos outros mais fortes, ora se tocando, ora não. Assim são as redes guanxi, que se formam tendo a confiança como centro irradiador. Ele escreve que essa confiança, porém, precisa ser constantemente alimentada; mesmo na relação entre pai e filho é preciso que a “fiabilidade do filho” seja constantemente provada (Xiaotong, 1992, p. 24). O guanxi também precisa estar assentado no equilíbrio das relações, ou seja, é necessário que os envolvidos tenham algo a oferecer. Uma relação desequilibrada entre duas ou mais pessoas não constrói um guanxi.
Sheng (2008) acrescenta que a construção de um guanxi, por estar baseada na confiança, leva tempo e precisa ser alimentada para que não se desfaça, o que implica uma constante interação social entre os envolvidos no relacionamento. Entre os chineses residentes em João Pessoa, não surpreendentemente, o guanxi permanece vivo. Embora esta pesquisa não tenha tido o intuito de fazer um estudo exaustivo da presença desse elemento entre os chineses da cidade, podemos tecer algumas considerações iniciais sobre isso. A principal expressão do guanxi na capital paraibana é a própria Associação, visto que ela funciona como uma rede que possibilita a troca de favores e ajuda mútua entre seus membros. O presidente da Associação no período da pesquisa se referia à ajuda financeira e ao apoio com questões burocráticas como objetivos dela. A impressão é de que ela foi criada para institucionalizar uma prática de guanxi já presente, pois alguns chineses que migraram para João Pessoa vieram de outras cidades no Brasil e, por intermédio dos chineses mais antigos, conseguiram abrir o seu próprio negócio. De fato, percebíamos uma lealdade de alguns desses chineses com estabelecimentos mais modestos em relação a chineses mais emblemáticos dentro da comunidade. Além disso, os eventos da Associação funcionam também como momentos tanto de estímulo à constante interação social quanto de fortalecimento do pertencimento à China.
Um aspecto que nos chamou a atenção no que concerne ao guanxi foi notar que as novas tecnologias também são usadas para alimentá-lo. Como a rotina de trabalho deles não permitia uma frequência de encontros sociais, que aconteciam, mais frequentemente, nos eventos comemorativos, a principal interlocutora da pesquisa (por ser a que dominava melhor o idioma) nos enviava mensagens frequentes para manter a rede ativa. Desde mensagens-padrão, de bom dia, boa tarde, uma ótima semana, até áudios para saber como estávamos. Algumas vezes, as mensagens vinham com pedido de ajuda, como, por exemplo, para que eles pudessem realizar uma doação de brinquedos no Dia das Crianças; outras vezes, eram mensagens de agradecimento, que vinham sempre com falas como, “você sempre nos ajudando” ou “você é quase chinesa”, denotando como esse guanxi precisava ser alimentado, de tal forma que era preciso “achinesar” uma das pesquisadoras para justificar seu enredamento. A Associação também possui um grupo no Wechat15, por meio do qual os membros divulgam informações úteis para os seus compatriotas, bem como podem auxiliar-se mutuamente.
Assim, podemos dizer que o guanxi continua sendo acionado pelo grupo de chineses locais, ainda que outras ferramentas, como os aplicativos de mensagens automáticas, possam ser utilizadas para garantir a manutenção dessa conexão, constituída, também, no equilíbrio entre a necessidade do grupo de acesso a serviços locais, muitas vezes dificultado pela pouca fluência no português, e a necessidade das pesquisadoras de realização do trabalho investigativo.
Os achados desta investigação, dessa forma, corroboram os de outras pesquisas sobre imigrantes chineses, nas quais o estabelecimento de conexões baseadas na confiança e que necessitam de constante estímulo continuam a desempenhar um papel importante entre os chineses ultramarinos, inclusive com implicações para as formas de estabelecimento de relações tanto sociais quanto econômicas. O único ponto um pouco distinto de outros estudos é a percepção de que as novas tecnologias podem ser utilizadas também para a alimentação dessas conexões, algumas vezes, dispensando os contatos sociais face a face.
5.3. Qualidade de vida e demais motivações migratórias
O perfil dos interlocutores da pesquisa é composto majoritariamente por homens, na faixa etária dos 30 aos 50 anos, todos nascidos na China, ou seja, nesta pesquisa os entrevistados são da 1ª geração. Os chineses de 2ª geração encontrados no grupo estudado são formados por crianças e adolescentes e não fizeram parte das entrevistas e questionários. Esses chineses trabalham no comércio, sendo proprietários ou funcionários de lojas que vendem bijuterias, maquiagem, bolsas, calçados, assessórios para celulares, computadores e tablets ou vestuários (cópias das grandes marcas). Boa parte deles mora em bairros próximo ao local de trabalho, conforme veremos mais à frente, o que aponta para importância dessa categoria na organização da vida desses imigrantes. 56% desses são oriundos das províncias de Fujian16 e Guangdong, o que revela a manutenção, ao longo da história, dessas províncias como polos emissores de emigrantes chineses. Após a abertura econômica da China, como escreveu Silva (2018), houve incentivos dos governos locais de Guangdong, Fujian e Zhejiang no intuito de fomentar a emigração. Dessa forma, há que se considerar o quanto as migrações internacionais estão entranhadas em Fujian, em uma intrincada relação entre o trânsito de mercadorias e a mobilidade humana, devido à sua posição geográfica e à vocação exportadora (Thunø, Pieke, 2005).
No que se refere ao perfil socioeconômico dos chineses da Associação, na nossa amostra, 80% são proprietários de lojas, 12% são fornecedores de produtos chineses para essas lojas, trabalhando mais no ramo de importação, e apenas 8% são funcionários dos estabelecimentos. 87,5% dos chineses que têm filhos os matriculam em escolas particulares, sobretudo instituições bem-conceituadas na capital pessoense que, conforme pudemos observar em pesquisa de campo, cobram mensalidadades mais caras. Esse investimento na educação dos filhos é algo que se repete em outras cidades receptoras no Brasil, como foi demonstrado por Piza (2012), ao pesquisar os imigrantes chineses da rua 25 de Março, em São Paulo, e por Minnaert (2015), sobre os chineses em Salvador. Para além deste investimento na educação visto individualmente, é importante considerar, como aponta Xiang (2007), que a forma como a mobilidade humana passa a ser percebida pelo governo chinês a partir da década de 1990 tem o incentivo à educação como um dos seus principais pilares, o que de certa maneira pode explicar o peso que a educação ganha entre os chineses diaspóricos.
Outro ponto que pudemos observar in loco é que eles não utilizam transporte público; a maioria possui automóveis - alguns possuem grandes caminhonetes importadas, outros têm carros populares. Boa parte deles possui plano de saúde, embora alguns tenham mencionado que cancelaram a assistência médica privada no período da pandemia da covid-19: “Antigamente eu tinha plano de saúde, depois da pandemia, cancelei” (interlocutora 6). Alguns deles relataram nas entrevistas que, quando adoecem (o que ocorre raramente), preferem pagar as consultas a utilizar o sistema público de saúde, já que não teriam tempo para esperar horas pelo atendimento, pois precisam trabalhar: “Moro aqui há quase 20 anos e nunca adoeci” (interlocutor 1); “Quando preciso de médico, a gente paga” (interlocutora 4).
Apesar de nossa amostra apontar para um perfil socioeconômico de classe média a média alta, isso não significa que não há disparidades econômicas entre os integrantes da associação. O próprio presidente da associação, à época, disse que nem todos os membros conseguiram contribuir financeiramente para a abertura e o funcionamento dela, porque alguns estavam em situação econômica mais difícil. Ele completou dizendo que a Associação também procurava dar apoio comercial e financeiro aos que estavam em mais dificuldade.
Nas observações em campo, pudemos notar também que, mesmo entre aqueles que são proprietários de loja, há alguns que possuem uma relação de dependência no que se refere a proprietários mais abastados. Esses dois aspectos, tanto a perspectiva da Associação como uma espécie de provedora para os chineses em dificuldades quanto a interface de dependência, encontram amparo no conceito de guanxi. Dessa forma, não podemos descartar que a própria construção do guanxi nas cidades receptoras venha a condicionar a escolha dessas cidades.
Entretanto, nas entrevistas realizadas, ouvimos relatos de chineses que se referiram à escolha de João Pessoa como cidade de destino pelo fato de ser mais fácil abrir o próprio negócio, em razão dos aluguéis mais baratos, do custo de vida e da menor concorrência. Um dos chineses nos disse em entrevista que: “Eu vim primeiro para São Paulo, São José dos Campos, fiquei quase dois anos lá, ajudando minha tia, quando eu cheguei eu não tinha condições de abrir loja. Ela tinha uma lanchonete lá. Aí depois de dois anos, eu vim pra cá. Por quê? Eu tinha um amigo em Campina Grande, aí me indicou João Pessoa. Por conta da concorrência menor” (interlocutor 3). Outra entrevistada também foi na mesma direção ao dizer: “Quando a gente vem pra Brasil, não trabalhava pra gente mesmo, trabalhava pra outra pessoa. Aí vem pra cá (João Pessoa) pra abrir negócio” (interlocutora 6). Um terceiro entrevistado endossou esta perspectiva ao dizer: “Eu cheguei em 2008 no Brasil e morei mais ou menos 1 ano em São Paulo. Depois fui para Manaus, Amazonas. Depois morei em Fortaleza. Fiquei procurando onde era melhor pra trabalhar, né? Acho João Pessoa melhor, porque tem menos concorrência. São Paulo é muita concorrência” (interlocutor 2). Neste sentido, podemos dizer que João Pessoa, assim como outras cidades do Nordeste, descortina-se como uma localidade menos custosa para que os imigrantes deem vazão ao empreendedorismo, que tem sido estimulado pelo governo chinês como forma de geração de renda e empregos (Pinheiro-Machado, 2009) para uma população de 1 bilhão e 408 milhões de pessoas (Agência Brasil, 2025).
Esse aspecto encontra ressonância na pesquisa de Silva (2008) sobre os chineses em Recife. Nela, ele aponta que muitos chineses optam por Recife como cidade receptora devido à saturação do mercado de produtos populares na cidade de São Paulo. Aqui podemos já acompanhar um movimento de deslocamento desses chineses em direção a João Pessoa em virtude da forte concorrência na capital pernambucana, o que também se reflete nos dados, visto que 25% dos chineses que residem em João Pessoa já moraram em Recife. Essa perspectiva exemplifica a construção das rotas migratórias e o escoamento de mercadorias populares chinesas, isso porque 50% dos chineses residentes em João Pessoa já moraram no Paraguai e 37,5%, em São Paulo.
Em sua tese de doutorado, Rosana Pinheiro-Machado (2009) escreve sobre o circuito de produção e circulação de mercadorias populares entre a China, o Paraguai e o Brasil, mostrando como os imigrantes chineses oportunizavam o crescimento econômico da China para importar os “bens chineses” e vender em outros países. Isso começa com os chineses de Taiwan no Paraguai, pois o país era um dos únicos que mantinha relações comerciais com a ilha após a criação da República Popular da China. Com a abertura da China continental e a criação das Zonas Econômicas Especiais, os chineses do continente passam a fazer o mesmo processo. O aumento da fiscalização na fronteira entre o Paraguai e o Brasil acaba incluindo São Paulo nessa rota dentro das “cadeias globais de mercadorias17”.
Por outro lado, o resultado do questionário mostrou que quase 40% dos interlocutores disseram ter escolhido a capital paraibana devido à qualidade de vida. O termo qualidade de vida não é uma categoria nativa que apareceu espontaneamente nas entrevistas, mas precisávamos de algo que condensasse termos mencionados nas entrevistas como “praia”, “lugar bom para morar”, “cidade barata”, “cidade pequena”, “agradável”, “mais tranquilo” e “aqui pra viver é bom”. Sendo assim, a partir do agrupamento de semelhanças, com base na perspectiva de que “essas categorias permitem compreender, descrever, explicar e evidenciar, a partir de um conjunto de contribuições e aproximações” (Dalla Valle, Ferreira, 2025, p. 11), incluímos o termo “qualidade de vida” como uma categoria de análise das motivações migratórias desses chineses. Essa vinculação entre a cidade de João Pessoa e qualidade de vida é algo que também vigora entre migrantes internos, inclusive impactando o aumento da população da cidade, conforme os dados do IBGE (2022) deixaram transparecer.
Neste sentido, a escolha de João Pessoa como cidade de acolhida revela um aspecto um pouco distinto do encontrado na abordagem etnográfica de Pinheiro-Machado (2007) sobre os chineses de Cidade do Leste, Paraguai. Na pesquisa, a autora faz uma analogia entre a moral e a ascese confucianas com esses mesmos elementos na ética protestante, à guisa de Weber (2004), mostrando como em geral os imigrantes chineses se dedicam ao trabalho árduo e repudiam o consumo no intuito de encontrar a prosperidade financeira, tendendo a renegar o lazer e os prazeres.
Em nossa pesquisa, podemos dizer que persiste essa “ética” do trabalho árduo entre os chineses residentes em João Pessoa. Basta observamos como a dinâmica do trabalho rege boa parte de suas vidas. A escolha do bairro de moradia, com 80% deles morando no centro da cidade, próximo ao trabalho, é um indicador disso; o horário mais estendido de funcionamento dos estabelecimentos comerciais deles, em comparação com outras lojas, também corrobora essa percepção, até a ideia de preferir pagar uma consulta médica para ser atendido na hora a ter que esperar por um atendimento na rede pública de saúde local. A pesquisadora acrescenta que essa devoção ao trabalho não é exclusiva dos chineses - outros imigrantes também se dedicam arduamente ao trabalho nos países receptores. Contudo, entre os chineses se observa a “privação dos prazeres e do lazer” (Pinheiro-Machado, 2007, p. 23), o que acarreta inclusive conflitos geracionais entre os imigrantes mais antigos e a geração subsequente, que tende a questionar os valores trazidos por seus pais e avós.
Diferentemente do que foi verificado pela autora em Cidade do Leste, entre os chineses de João Pessoa, o lazer e a qualidade de vida aparecem como elementos importantes da escolha da cidade para fazer a vida, ainda que isso acabe levando a um lucro menor, como alguns deles evidenciaram em suas falas nas entrevistas. Quando perguntamos o que eles faziam quando não estavam trabalhando, além de ir à praia, apareceu comer em churrascarias, além dos encontros feitos pela Associação, tanto em sua sede quanto no salão de festas de um condomínio de casas, como podemos perceber nos seguintes trechos: “A gente ia pro Tererê18, praia, passear, encontrar os amigos” (interlocutor 1); "Meu lazer é praia, sair pra jantar e aqui na associação com os amigos chineses" (interlocutor 3); “No lazer, é só reunir com amigos, no prédio tem salão de festas, aí faz alguma coisa lá” (interlocutora 4).
Embora a menção ao lazer não tenha surgido espontaneamente, já que as entrevistas foram estruturadas, chamou a atenção o fato de os chineses darem não só importância a este aspecto como também considerarem a praia, como um espaço de sociabilidade, algo que não tem aparecido em outras pesquisas. A praia, neste sentido, foi mencionada em dois momentos distintos, quando perguntamos sobre o que mais gostam em João Pessoa e sobre o que fazem durante o lazer, apontando mais uma vez para a relevância desse espaço na experiência migratória dos chineses na capital paraibana. É importante destacar que os interlocutores da pesquisa são todos de 1ª geração, destoando de pesquisas anteriores, como a da Pinheiro-Machado (2007), em que a “ética” do trabalho árduo se mostra de maneira mais intensa entre esse grupo de chineses.
Considerações finais
A pesquisa com os imigrantes chineses vinculados à Associação Chinesa Paraibana, dessa forma, buscou verificar, a partir dos dados coletados nas entrevistas, nos questionários e nas observações em campo, as motivações migratórias dos chineses para João Pessoa, tencionando perceber quais elementos atraem os chineses para a capital pessoense. Com base nessas análises, observamos que o excesso de imigrantes chineses em cidades já consolidadas dentro das rotas migratórias de chineses, como São Paulo e Recife, faz com que esses imigrantes encontrem outros espaços onde enfrentem uma concorrência menor. João Pessoa, dessa feita, aparece como uma localidade em que o custo de vida mais baixo, aliado à qualidade de vida, torna-se atrativa para esses migrantes.
Apesar de a questão econômica ter um papel importante na escolha de João Pessoa como cidade de residência, notamos que, nas entrevistas e nos questionários, a qualidade de vida - compreendendo o acesso fácil à praia e o custo de vida mais baixo - apareceu como uma das motivações para essa opção, destoando de outras pesquisas sobre imigrantes chineses no Brasil e em outros países receptores. Daí a importância de investigação de migrações menos expressivas numericamente, já que conseguimos observar nuances nem sempre presentes em migrações mais massivas.
Desse modo, podemos dizer que a Associação Chinesa Paraibana funciona como uma grande rede de guanxi, abrigando outras conexões de rede menores, talvez representando a pedra lançada no lago, na metáfora empregada por Fei Xiaotong (1992). A Associação, contudo, não deixa de também ser uma ponte de vinculação entre os chineses de João Pessoa e a China continental, dado que pudemos verificar que muitos das datas comemorativas e dos eventos importantes da China são celebrados por ela, muitas vezes com estímulo das autoridades consulares, com o envio de presentes típicos chineses.
As contribuições desta pesquisa, nesse rumo, concernem à compreensão de como a migração chinesa se estrutura, muitas vezes buscando rotas menos óbvias não só por questões econômicas, mas também mirando uma melhor qualidade de vida, ao mesmo tempo em que aponta para a expansão e capilaridade das migrações de chineses pelo país. A consolidação ou não dessa rota migratória é algo que precisará ser investigado ao longo do tempo.
Esta pesquisa representa, dessa forma, uma primeira incursão com o intuito de traçar um perfil geral desses imigrantes chineses vinculados à Associação Chinesa Paraibana do Brasil, para, posteriormente, pensarmos em outros recortes, como gênero e geração, buscando perceber, por exemplo, se as motivações migratórias permanecem as mesmas a partir da perspectiva das mulheres, talvez indicando que se trate de um projeto familiar, ou se há distinções que precisem ser enfatizadas a partir de um análise sob o viés do gênero.
Agradecimentos
Agradecemos ao professor Daniel Bicudo Véras (PUC-Minas) e ao pesquisador Victor Hugo Luna Peres (Céasia-UFPE) pelas importantes observações que contribuíram para este trabalho. Esta pesquisa contou com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB), por meio de bolsa de pós-doutorado.
Datos de investigação
Os dados da pesquisa estão parcialmente disponíveis no manuscrito; os demais apenas sob demanda
Referências bibliográficas
-
AGÊNCIA BRASIL. População da China diminui pelo terceiro ano consecutivo. Agência Brasil, 17 jan. 2025. Disponível em: Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-01/populacao-da-china-diminui-pelo-terceiro-ano-consecutivo?utm_source=chatgpt.com Acesso em: 07.04.2025
» https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-01/populacao-da-china-diminui-pelo-terceiro-ano-consecutivo?utm_source=chatgpt.com -
ASSOCIAÇÃO da Comunidade Chinesa no Recife doa máscaras e álcool em gel para PCR. Prefeitura do Recife, Recife, 27 mar. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/27/03/2020/associacao-da-comunidade-chinesa-no-recife-doa-mascaras-e-alcool-em-gel-para-pcr Acesso em: 01.08.2023
» https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/27/03/2020/associacao-da-comunidade-chinesa-no-recife-doa-mascaras-e-alcool-em-gel-para-pcr -
ASSOCIAÇÃO Geral de Chineses da Província de Fujian no Brasil. Mapa das Organizações da Sociedade Civil Brasília: Ipea, [s.d.]. Disponível em: Disponível em: https://mapaosc.ipea.gov.br/detalhar/670285 Acesso em: 01.08.2023
» https://mapaosc.ipea.gov.br/detalhar/670285 -
BANCO MUNDIAL. GDP. China Disponível em: Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?locations=CN Acesso em: 14.06.2023
» https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?locations=CN - BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo São Paulo: Edições 70, 2016.
-
BESTOR, Nestor. Supply-side sushi: commodity, market, and the global city. American Anthropology, v. 1, n. 103, p. 76-95, 2001. Disponível em: Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://dourish.com/~dourishc/classes/readings/Bestor-SupplySideSuhi-AA.pdf Acesso em: 01.02.2024
» chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://dourish.com/~dourishc/classes/readings/Bestor-SupplySideSuhi-AA.pdf -
COMUNIDADE Chinesa doa R$ 100 mil em produtos para as famílias atingidas pelas chuvas no Recife. Prefeitura do Recife, Recife, 02 jun. 2022. Disponível em: Disponível em: https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/02/06/2022/comunidade-chinesa-doa-r-100-mil-em-produtos-para-familias-atingidas-pelas Acesso em: 01.08.2023
» https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/02/06/2022/comunidade-chinesa-doa-r-100-mil-em-produtos-para-familias-atingidas-pelas -
CREA-PB. CREA-PB recebeu nessa terça-feira a doação de 100 cestas básicas para a campanha do Natal sem Fome, promovida pela ONG ação cidadania e apoiada pelo Conselho João Pessoa, 21 dez. 2022. Instagram: @creapb. Disponível em: Disponível em: https://www.instagram.com/p/Cmb1krBunfp/?img_index=1 Acesso em: 01.08.2023
» https://www.instagram.com/p/Cmb1krBunfp/?img_index=1 -
DALLA VALLE, Paulo Roberto; FERREIRA, Jacques de Lima. Análise de Conteúdo na perspectiva de Bardin: contribuições e limitações para a pesquisa qualitativa em educação. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 41, p. 1-21, 2025. Disponível em: Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/edur/a/hhywJFvh7ysP5rGPn3QRFWf/?format=pdf⟨=pt Acesso em: 01.08.2025
» chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/edur/a/hhywJFvh7ysP5rGPn3QRFWf/?format=pdf⟨=pt - DIMENSTEIN, Marcela. Experiências urbanas da imigração: reflexões sobre chineses e venezuelanos na cidade de João Pessoa/PB. Tese Doutorado em Arquitetura e Urbanismo - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.
- DUARTE, Rosália. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p. 139-154, mar. 2002.
-
FERREIRA, Elidiane Silva. Migração Internacional e economia urbana: os chineses no território cearense. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016. Disponível em: Disponível em: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=82973 Acesso em: 05.07.2023
» https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=82973 - FREYRE, Gilberto. China Tropical São Paulo: Global Editora, 2011.
- ______. Sobrados e Mucambos São Paulo: Lê Livros, 2013. E-book
- FUSCO, Wilson; QUEIROZ, Silvana Nunes de. Asiáticos no Nordeste Brasileiro. In: BAENINGER, Rosana et al. (orgs.). Migrações Sul-Sul Campinas, SP: Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”: Nepo-Unicamp, 2018. p. 526-536.
-
GOES, Alisson Gomes dos Santos. A imigração chinesa em Aracaju: percursos e discursos de uma presença em construção. Revista Tomo, Aracaju, n. 26, p. 303-330, jan./jun. 2015. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufs.br/tomo/article/view/4410 Acesso em: 14.01.2023
» https://periodicos.ufs.br/tomo/article/view/4410 -
IBGE. Censo 2022 Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/ Acesso em: 20.07.2023
» https://censo2022.ibge.gov.br/ - LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de. Fundamentos de metodologia científica São Paulo: Atlas, 1995.
- LEITE, José Roberto Teixeira. A China no Brasil Influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na sociedade e na arte brasileiras. Campinas: Editora da Unicamp, 1999.
- MINNAERT, Ana Cláudia de Sá Teles. O dendê no wok: um olhar antropológico sobre a comida chinesa em Salvador, Bahia. Tese (Doutorado em Antropologia) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.
-
MUNDO registrou cerca de 281 milhões de imigrantes internacionais no ano passado. ONU News, Nações Unidas, 2021. Disponível em: Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2021/12/1772272#:~:text=As%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas%20lan%C3%A7aram%2C%20esta,%2C6%20%25%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20global Acesso em: 14.06.2023
» https://news.un.org/pt/story/2021/12/1772272#:~:text=As%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas%20lan%C3%A7aram%2C%20esta,%2C6%20%25%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20global - NABUCO, Joaquim. Discursos parlamentares Brasília: Câmara dos Deputados, 1983.
-
NEVES, Taynara Carvalho; VASCONCELOS, Priscila Batista; LACERDA, Norma. Implicações da imigração chinesa nos centros históricos do Brasil: aproximações a partir do caso Recife-PE. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE GEORGRAFIA URBANA, 16, 2019, Vitória. Anais do XVI Simpurb, Vitória: UFES, 2019, p. 1506-1524. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufes.br/simpurb2019/article/view/26649 Acesso em: 02.08.2023
» https://periodicos.ufes.br/simpurb2019/article/view/26649 -
OBMIGRA. Portal de Imigração Brasília: Ministério da Justiça e da Segurança Pública, s.d. Disponível em: Disponível em: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/dados/1715-obmigra Acesso em: 02.03.2025
» https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/dados/1715-obmigra -
PERES, Victor Hugo Luna. Os migrantes chineses do açúcar: da produção em regime de economia familiar à “plantation” caribenha. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 6, n. 6, p. 1-12, 2009. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/cadernosdehistoriaufpe/article/view/110057 Acesso em: 15.07.2023
» https://periodicos.ufpe.br/revistas/cadernosdehistoriaufpe/article/view/110057 -
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. A ética confucionista e o espírito do capitalismo: narrativas sobre moral, harmonia e poupança na condenação do consumo conspícuo entre chineses ultramar. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, n. 28, p. 145-174, jul./dez. 2007. Disponível em: Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/MRZ7ZQg97mQJGjKPByKv3gt/ Acesso em: 20.08.2023
» https://www.scielo.br/j/ha/a/MRZ7ZQg97mQJGjKPByKv3gt/ - ______. Made in China: Produção e circulação de mercadorias no circuito China-Paraguai-Brasil. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
- PIZA, Douglas de Toledo. Um pouco da mundialização contada a partir da região da Rua 25 de Março: migrantes e chineses e comércio informal. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Programa de Pós-Graduação em Sociologia, USP, São Paulo, 2012.
-
ROCHA, Eduardo Rodríguez. Prácticas económicas de migrantes chinos y senegaleses en la ciudad de Córdoba. REMHU, Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, Brasília, v. 25, n. 49, abr. 2017, p. 215-231. Disponível em: Disponível em: https://www.scielo.br/j/remhu/a/8gMFTMdqtkLpydFWxnqBzZF/ Acesso em: 02.04.2025
» https://www.scielo.br/j/remhu/a/8gMFTMdqtkLpydFWxnqBzZF/ - RÉ, Henrique Antonio. Os esforços dos abolicionistas britânicos contra a imigração de chineses para o Brasil no final do século XIX. Varia Historia, v. 34, n. 66, p. 817–848, set. 2018.
-
SANTOS, Marco Aurélio dos. Reformismo Ilustrado, reorganização do “poderoso império” e os primórdios da imigração chinesa para o Brasil (1808-1821). In: PORTO, Ana Carolina Costa; BUENO, André; CZEPULA, Kamila; PERES, Victor Hugo Luna (orgs.). Chineses no Brasil e brasileiros na China: trajetórias em movimento. Rio de Janeiro: Uerj, 2022. p. 17-32. E-book. Disponível em: Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1cXStwHxSGfXmtb1L_RTJWknI-HVTP0NO/view Acesso em: 02.04.2025
» https://drive.google.com/file/d/1cXStwHxSGfXmtb1L_RTJWknI-HVTP0NO/view -
SHENG, Hsia Hua. Modelos de Financiamento Baseados em Relações Pessoais: Experiência de Empreendedores Chineses no Brasil. RAC, Curitiba, v. 12, n. 3, p. 741-761, 2008. Disponível em: Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/gGxSRMstxq4qWBRn5DPRcJs/?lang=pt Acesso em: 15.07.2023
» https://www.scielo.br/j/rac/a/gGxSRMstxq4qWBRn5DPRcJs/?lang=pt -
SILVA, Carlos Freire da. Conexões Brasil-China: a migração chinesa no centro de São Paulo. Cad. Metropolitano, São Paulo, v. 20, n. 41, p. 223-243, 2018. Disponível em: chrome-Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/cm/a/XBLWmFcsdKKnNvPSyb6CHYc/?format=pdf⟨=pt Acesso em: 05.06.2023
» extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.scielo.br/j/cm/a/XBLWmFcsdKKnNvPSyb6CHYc/?format=pdf⟨=pt - SILVA, Lúcia Anderson Ferreira da. Executivos brasileiros na China: adaptação e dificuldades em empresas brasileiras. 2020. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2020.
- SILVA, Marcos de Araújo. Guanxi nos trópicos: um estudo sobre a diáspora chinesa em Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.
- SPENCE, Jonathan D. Em busca da China moderna: quatro séculos de história. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
-
TEIXEIRA, Carlos Gustavo Poggio; MANDELBAUM, Henoch Gabriel. A diáspora chinesa como instrumento da política externa: de Pequim e suas implicações para a China Maior. Revista de Estudos Internacionais (REI), Campina Grande, v. 8, n. 2, p. 55-78, 2017. Disponível em: Disponível em: http://www.imigracaohistorica.info/posts/a-diaspora-chinesa-como-instrumento-da-politica-externa-de-pequim-e-suas-implicacoes-para-a-china-maior-por-carlos-gustavo-poggio-teixeira-henoch-gabriel-mandelbaum Acesso em: 25.08.2023
» http://www.imigracaohistorica.info/posts/a-diaspora-chinesa-como-instrumento-da-politica-externa-de-pequim-e-suas-implicacoes-para-a-china-maior-por-carlos-gustavo-poggio-teixeira-henoch-gabriel-mandelbaum -
THUNØ, Mette; PIEKE, Frank N. Institutionalizing Recent Rural Emigration from China to Europe: New Transnational Villages in Fujian. The International Migration Review, v. 39, n. 2, p. 485-514, 2005. Disponível em: Disponível em: https://www.jstor.org/stable/27645506 Acesso em: 10.07.2023
» https://www.jstor.org/stable/27645506 -
VÉRAS, Daniel Bicudo. A diáspora chinesa no Brasil: dispersão, mitologia da terra de origem e promessa de retorno. Janus.net, e-jornal of International Relations, v. 13, n. 2, p. 19-37, 2022. Disponível em: Disponível em: https://observare.autonoma.pt/janus-net/en/janusnet/a-diaspora-chinesa-no-brasil-dispersao-mitologia-da-terra-de-origem-e-promessa-de-retorno/ Acesso em: 23.06.2023
» https://observare.autonoma.pt/janus-net/en/janusnet/a-diaspora-chinesa-no-brasil-dispersao-mitologia-da-terra-de-origem-e-promessa-de-retorno/ - ______. As diásporas chinesas e o Brasil: a comunidade sino-brasileira em São Paulo. 2008. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.
- WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
-
XIA, Guang. China as a ‘Civilization-State’: A Historical and Comparative Interpretation. Procedia, Social and Behavioral Sciences, v. 140, p. 43-47, 2014. Disponível em: Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042814033102 Acesso em: 30.06.2023
» https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042814033102 -
XIANG, Biao. A new mobility regime in the making: what does a mobile China mean to the world? Idées pour le débat, n. 10, p. 1-19, 2007. Disponível em: Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.iddri.org/sites/default/files/import/publications/id_0710_b.xiang_migration%26dvpt.pdf Acesso em: 20.06.2023
» chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.iddri.org/sites/default/files/import/publications/id_0710_b.xiang_migration%26dvpt.pdf - XIAOTONG, Fei. From the soil. The fondations of chinese sociaty California: University of California, 1992.
- YANG, Alexander Chung Yang. O comércio dos ‘coolie’ (1819-1920). Revista de História Brasil, v. 56, n. 112, p. 419-428, 1977.
-
1
Esta pesquisa contou com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB), por meio de bolsa de pós-doutorado.
-
2
O título deste artigo é um trocadilho com o fato de João Pessoal ser o ponto mais oriental das Américas.
-
3
Daniel Véras (2022, p. 5) define diáspora a partir das leituras de Stuart Hall e Adam McKeown que consideram que esse conceito está atrelado a três aspectos: 1) “dispersão física pelo mundo”, 2) “criação de uma mitologia e narrativas sobre a terra de origem” e 3) “a promessa de retorno”. Contudo, não é nosso intuito discutir aqui se a migração chinesa é uma diáspora ou não. Empregaremos o termo diáspora, dessa forma, mais como uma expressão lato sensu do que como um conceito propriamente dito.
-
4
Em relação a esse tema, as pesquisas de Rosana Pinheiro-Machado (2009), Marcela Dimenstein (2021) e Hsia Hua Sheng (2008), bem como as conversas com a pesquisadora Lúcia Anderson Silva (2020), foram fundamentais para o desenho dessas estratégias.
-
5
Antes das entrevistas, foram assinados os termos de consentimento livre e esclarecido na versão em português, após a leitura da versão em chinês.
-
6
Os questionários continham o termo de consentimento livre e esclarecido, de preenchimento obrigatório, na primeira aba.
-
7
Aliás, 56% dos entrevistados desta pesquisa são provenientes dessas duas províncias, como discutiremos mais à frente.
-
8
Para aprofundar o debate sobre as vozes contrárias à vinda massiva de chineses, ver o artigo de Ré (2018) sobre os esforços dos abolicionistas britânicos contra a imigração chinesa para o Brasil.
-
9
Na divisão administrativa da China, há as províncias ou regiões autônomas (que equivalem aos estados no Brasil), os municípios centrais (grandes cidades que possuem sistema comparável ao Distrito Federal) e regiões administrativas especiais (ex-colônias de outros países que voltaram a ser parte da China). As cidades podem ser um município dentro de uma província ou municípios centrais, como mencionado acima.
-
10
Tradução mais comum do nome China, Zhōngguó (中国).
-
11
Ver primeira nota de rodapé.
-
12
https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/27/03/2020/associacao-da-comunidade-chinesa-no-recife-doa-mascaras-e-alcool-em-gel-para-pcr
-
13
https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/02/06/2022/comunidade-chinesa-doa-r-100-mil-em-produtos-para-familias-atingidas-pelas
-
14
https://www.instagram.com/p/Cmb1krBunfp/?igshid=YzcxN2Q2NzY0OA==
-
15
É um aplicativo de troca de mensagens instantâneas, equivalente ao Whatsapp.
-
16
Algumas matérias jornalísticas ilustram bem a dimensão da província de Fujian como principal centro irradiador de chineses para o mundo. Sobre isso, ver: https://thedragontrip.com/blog/china/fujian-the-province-that-brought-china-to-the-world/. O Brasil, a exemplo de outros países receptores, tem uma Associação Geral de Chineses da Província de Fujian, sediada em São Paulo: https://mapaosc.ipea.gov.br/detalhar/670285.
-
17
Por cadeias globais de mercadorias, Rosana Pinheiro-Machado (2009, p. 18) compreende, à luz de Bestor (2001, p. 80), “as ligações, os estágios, as fases e as mãos através dos quais um produto passa e é transformado, combinado, fabricado e distribuído entre produtores e consumidores”.
-
18
Uma das churrascarias mais famosas da cidade, que fechou em 2018.
-
Editores de seção
Roberto Marinucci, Barbara Marciano Marques
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
06 Jun 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
04 Dez 2024 -
Aceito
28 Abr 2025