Publicada na revista Regards Sociologiques, a entrevista de Salah Bouhedja concedida a Tassadit Yacine1 (Yacine, Bouhedja, 2023) fornece uma visão panorâmica e muito pessoal do trabalho de campo realizado por Pierre Bourdieu e sua equipe - da qual Abdelmalek Sayad fez parte - na conjuntura da Guerra de Independência da Argélia (1954-1962). Ao esclarecer certas dinâmicas cotidianas, a entrevista fornece pistas de elementos que compunham não só o contexto da guerra, mas também o contexto colonial em seus aspectos conjunturais. A partir de uma entrevista aparentemente semi-estruturada, Yacine estimula Bouhedja a falar de sua vivência na Argélia durante a guerra, mas também sobre suas origens familiares, sobre seu envolvimento com a equipe de pesquisa e a aproximação com membros do grupo, sobre elementos da violência colonial, e também sobre tensões internas à sociedade argelina, como a questão da arabização. No mais, a entrevista revela elementos de trajetórias compartilhadas entre Bouhedja e Sayad, marcadas pela experiência geracional da Guerra.
A pesquisa de campo em meio aos reagrupamentos populacionais e a publicação do livro Le déracinement: la crise de l’agriculture traditionnelle en Algérie, em 1964, foram elos entre Bouhedja, Sayad e Bourdieu. Esse livro, escrito por Bourdieu e Sayad, foi resultado do levantamento de campo realizado, o qual Bouhedja acompanhou parcialmente, e marcou a colaboração intelectual dos autores. Mas para além de Bourdieu e Sayad, outras pessoas estiveram envolvidas na pesquisa, fossem como membros da equipe criada pela Association pour la Recherche Démographique, Économique et. Sociale (ARDES), ou como intermediários nas áreas pesquisadas, assim como foi o entrevistado.
Bouhedja conheceu Sayad e Bourdieu durante o trabalho de campo realizado na região de Collo, da qual era originário e onde atuou como guia e tradutor para a equipe. Ele reencontrou Sayad na França em 1963, e depois Bourdieu, e pôde colaborar mais uma vez com a pesquisa ao trabalhar no Centre de Sociologie Européenne (CSE), onde compilou dados e compôs as tabelas do Le Déracinement, operou o mimeógrafo, perfurou os dados em cartões de programação e os registrou no computador (Yacine, 2022, p.120). Bouhedja posteriormente publicou textos em coautoria com Bourdieu, como Un contrat sous contrainte (1990) e Un placement de père de famille (1990).
Salah Bouhedja e Abdelmalek Sayad compartilharam trajetórias muito semelhantes tanto na Argélia, quanto na França. Ambos de origem berbere, Bouhedja foi neto de um bachaga 2 e filho de um caïd, enquanto Sayad foi neto de um caïd. Os caïds eram chefes locais intermediários entre os nativos e a administração colonial, um caïd (que em árabe seria “comandante”) era um notável que combinava funções administrativas, judiciais e financeiras. A ideia do notável, que aparece com recorrência na entrevista, designa os chefes locais que tinham autoridade, e até mesmo respeito, entre os outros membros da douar3.
No entanto, Salah Bouhedja não fala muito a respeito do seu pai na entrevista, mas ele se chamava Mohamed Bouhedja e enquanto caïd do douar de Ziabra (Ouled Attia), recebeu do ministro da agricultura francês a condecoração do Mérito Agrícola em 1928, como publicado no L’Écho d’Alger: journal républicain du matin.
Um drama derivado da condição de ser membro de uma família que tinha algum envolvimento com a administração colonial é que isso se convertia em uma certa desconfiança por parte de outros argelinos, sobretudo após a Guerra de Independência. Uma das questões que Bouhedja reflete na entrevista é sobre os chamados colaboradores que tinham, e precisavam ter, vínculos com a administração colonial. Conforme ele destaca, era quase impossível não se envolver com essa administração, devido à dependência de empregos proporcionados por ela, por exemplo. Só que havia um tipo de colaboradores considerados imperdoáveis por Bouhedja: os harkis4.
Bouhedja e Sayad provinham de famílias com certa autoridade local, o que lhes concedeu algumas vantagens, como o acesso à escolarização. Longe de significar que não passavam por precariedades financeiras (Bouhedja chega a falar de questões relacionadas à alimentação), ter acesso à escolarização em um contexto marcado por profundas desigualdades poderia possibilitar alguma ascensão social. A escolarização, como aponta o próprio Sayad, “significava um enorme privilégio, mas não um privilégio necessariamente ligado a uma origem social muito elevada. Nesse contexto, uma família com uma condição modesta já era uma família socialmente privilegiada” (Sayad, Neiburg, 1996, p. 156).
Como já mencionado, outro elemento comum à trajetória de Sayad e Bouhedja, é que passaram por uma experiência geracional comum, pois fizeram parte da chamada “geração da Independência” (Sayad, Neiburg, 1996). A Guerra de Independência foi uma experiência formativa brutal que marcou tanto os argelinos, quanto os franceses e ainda ressoa no campo das memórias, tendo como pano de fundo das suas vidas a colonização e a violência a ela associada, tanto no período propriamente dito da colonização, quanto durante o momento de ruptura e transição trazido pela independência.
A independência trouxe uma série de rupturas na atmosfera colonial, o que não significa que ela tenha findado com os problemas herdados. A brutalidade do conflito e as disputas políticas posteriores não deixaram de causar seu quinhão de despertencimento em parte dos argelinos: Bouhedja migrou para a França após a Guerra, assim como Sayad. Assim, foi na ex metrópole que se reencontraram e compartilharam uma nova trajetória, a de migrantes. O contato estabelecido foi retratado na entrevista por meio da descrição de um episódio de coincidência (o encontro no metrô), demonstrando como percebiam a todo momento o peso da condição de migrantes impregnada no cotidiano dos argelinos.
Bouhedja, como mencionado anteriormente, colaborou com Bourdieu e Sayad nas etapas de elaboração do Le Déracinement. Originado da pesquisa de campo empreendida por eles, o livro analisou um dos episódios mais brutais que marcou a Guerra, o dos deslocamentos forçados. Sob o termo oficial regroupement, os deslocamentos forçados afetaram mais de 2 milhões de pessoas, quase um terço de uma população rural estimada em 7 milhões em 1954 (Sacriste, 2023, p. 1377). A esses 2 milhões, somaram-se cerca de 1 milhão de pessoas que migraram para as periferias das zonas urbanas, ou para os países vizinhos. Semelhantes a campos de concentração, esses reagrupamentos foram marcados pela precariedade e deixaram uma marca profunda na sociedade rural argelina.
Bourdieu e Sayad, que se conheceram na Universidade de Argel em 1958, deram início às pesquisas sobre a violência dos deslocamentos forçados e os reagrupamentos “movidos pela necessidade de se sentirem úteis ante o panorama político em que viviam” (Pérez, 2020, p. 24). Isso ocorre em um momento em que a violência imposta pelo contexto da Guerra e pelos reagrupamentos estava despertando a atenção de algumas pessoas e começava a ser publicizada na própria França. Esses reagrupamentos, sob forte controle administrativo e militar, não eram homogêneos e possuíam diversas configurações que dependiam da região onde se encontravam e de quais populações seriam alojadas.
Bouhedja conheceu Sayad e Bourdieu, durante a etapa da pesquisa que estavam realizando na península de Collo. Uma das regiões mais perigosas durante o conflito, Collo estava sob considerável controle do Exército de libertação nacional (ALN) e por isso foi um dos alvos principais das grandes operações de “pacificação” chamadas Challe, nas palavras de Bourdieu “tão devastadoras quanto inócuas” (2005, p. 81). Um dos reagrupamentos analisados na região foi Aïn Aghbel que, conforme Bouhedja, era formado por tendas.
As regiões estudadas na pesquisa de campo para o Le Déracinement (Bourdieu, Sayad, 1964, p.43)
Cabe situar que os reagrupamentos na Argélia, com seus mais de 2 milhões de habitantes deslocados, se inseriram no contexto mais amplo dos conflitos anti-guerrilhas do século XX. A transferência em massa de populações, enquanto uma das táticas de contrainsurgência em diversas regiões do mundo, removeu cerca de 30 milhões de pessoas, onde pelo menos 4 milhões morreram durante o processo (Gerlach, 2009, p. 361). Esses deslocamentos populacionais, chamados de regroupement na Argélia, enquanto um fenômeno distinto, salvo as variações, compreendia quatro elementos: despopulação em larga escala de áreas inteiras por meio de reassentamento, expulsão e, não raramente, assassinatos; A criação de aldeias estratégicas; planos para melhorias sociais e “desenvolvimento” econômico; e o armamento de populações rurais locais em milícias e/ou unidades militares auxiliares (Gerlach, 2009, p. 361).
A violência dos reagrupamentos e o desenraizamento das populações não foram os únicos legados deixados pela ocupação francesa que durou mais de 130 anos na Argélia. Uma colonização que operou pela lógica do dividir para conquistar, opondo as populações de origem árabe às de origem berbere, como os cabilas ou os tuaregues. Uma colonização que usou até mesmo de mitos para considerar alguns grupos como mais civilizados que os outros, não poderia findar sem deixar essa divisão como legado. Ao retomarmos a questão das trajetórias compartilhadas entre Bouhedja e Sayad, como mencionado, também compartilharam a origem étnica berbere. Enquanto tal, ambos tinham uma postura crítica acerca da arabização da Argélia. Questão em aberto, e em grande disputa, a reivindicação de uma história arabizada, que sucedeu à história colonial após a guerra, reforçaria as disputas internas legadas pela colonização.
Foi dito que é preciso “descolonizar a história”. Que seja. Mas fazer a história apenas para que seja uma “história descolonizada”, e não uma história fiel, ainda é, provavelmente, a melhor maneira de fazer perpetuar a história “colonizada”, no sentido de que essa história que queremos que seja “descolonizada” é apenas a versão inversa da história “colonizada”. (Sayad, 2002, p. 28, tradução nossa)
A reivindicação pela berberidade que seria reprimida pela arabofonia, constitui uma das maiores disputas contemporâneas na Argélia. Bouhedja chega a chamar os árabes de dominadores na entrevista, pela imposição que fizeram da língua. O problema questionado pelos berberes quanto a arabização não seria referente à sua presença no território, mas sim à “dominação que é legitimada pela religião, que reconhece apenas uma língua, um direito, uma etnia, e eu diria também, um gênero (o masculino)” (Yacine, 2022, p. 113, tradução nossa). A reivindicação pela identidade berbere, ou mais especificamente cabila no caso de Sayad, reúne novamente a trajetória desses dois sujeitos perpassados pela violenta história colonial.
Retorno às investigações na região de Collo com Bourdieu e sua equipe6
Tassadit Yacine e Salah Bouhedja7
Salah Bouhedja é uma daquelas pessoas que conheceram Bourdieu e Sayad em 1960, na península de s, quando Bourdieu conduziu investigações sobre os reagrupamentos populacionais realizados pelo exército. Salah Bouhedja é natural do douar Ouled Attia e estudou em Collo, em Constantine e depois em Annaba (antiga Bône).
Jovem estudante, ele trabalhava como temporário em uma SAS8 para ganhar um pouco de dinheiro durante as férias. Ele atuou principalmente como guia, orientador e, especialmente, tradutor para a equipe de Bourdieu. Salah, de origem berbere como muitos, é falante de árabe e excelente em francês, já que sua própria mãe (nascida em 1913) era letrada, sendo uma das poucas mulheres "muçulmanas" da região a obter seu certificado de estudos. Neto de bachaga, filho de caïd, Salah conhecia as pessoas e os lugares e era especialmente respeitado pelos habitantes, o que foi uma vantagem formidável para acessar populações frequentemente relutantes em responder a um questionário em tempos de guerra.
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Esta região foi ocupada muito cedo pela ALN9 devido à sua situação topográfica (beco sem saída) e, principalmente, devido às suas florestas de sobreiros, um refúgio formidável para os guerrilheiros e uma grande fonte econômica para os colonos que exploravam a cortiça.
Homem de mente aberta e de com vasta cultura, ele acompanhou o pesquisador iniciante em seus primeiros passos na pesquisa até o momento em que ele alcançou o auge de sua carreira (no Collège de France e com uma reputação mundial).
Salah me permitiu conhecer melhor a região, seguir os diferentes grupos que a compõem, as alianças e as inimizades que a caracterizam. Este retorno a esse período permite compreender as nuances, as dificuldades de viver e sobreviver em tais condições, avançando sempre disfarçado para evitar um perigo sempre presente.
Mesmo nesse período em que a tragédia, a morte e a tortura eram comuns, aparentemente, não havia dois blocos em constante oposição, mas sim uma vida em comum "imposta" pela ordem dominante. Às vezes, existiam intervalos onde se podia encontrar um acordo. "Aprendemos a jogar, a nos camuflar e, de certa forma, a nos dividir", me disse um dia um homem que viveu em um reagrupamento.
As populações viviam em uma SAS, elas faziam de conta que10 ... O mesmo ocorria com Salah, estudante em Annaba, que militava à sua maneira, pois ele, assim como Sayad, era esperado (pelos responsáveis da FLN11) à prestar ajuda para os "irmãos" (referindo-se aos guerrilheiros). E, é claro, como poderia ser diferente para esses investigadores "urbanos" (considerados "burgueses ou pequenos burgueses" aos olhos dos camponeses) que, enquanto conviviam com o exército, estavam totalmente dedicados à sua própria missão12, que consistia em esclarecer as condições de "acampamento" dos refugiados. Fazer de conta e agir como se compartilhassem um espaço comum era uma estratégia - óbvia para aqueles que conheceram a guerra - que era tão impositiva ao ponto de ser ensinada às crianças por seus próprios pais. São esses pequenos gestos, que aparentemente não significam nada, que Salah Bouhedja expõe em toda sua crueza e clareza. É um verdadeiro prazer ouvir essas palavras de sua boca, sem que ele busque um grama de glória. Além disso, admirei sua franqueza, ele não hesita em dizer que seu pai era um "colaborador", enquanto os filhos de "colaboradores" (reais ou simbólicos), esses "marcianos"13, como eram chamados, agiram com excesso de zelo e foram os primeiros a denunciar aqueles que sinceramente trabalharam por este país. Para Salah, e todos aqueles que viveram esses momentos dramáticos, isso fazia naturalmente parte da realidade de sua época.
Entrevista:
SB: Eu estava trabalhando durante as férias na SAS. Eu trabalhava no serviço de Estado Civil. Eu tinha um primo em primeiro grau que trabalhava na SAS, ele se chamava Youssef. Ele era meu primo em primeiro grau, era o braço direito do comandante da SAS.
TY: Qual era o seu sobrenome?
SB: Abada.
TY: Eu os conheci, eles eram de Tizi-Lekhmis, incluindo um que conheci pessoalmente. Amar Abada era adjunto de árabe e tutor de berbere no INALCO14.
SB: Naquele dia (o dia da chegada da equipe), houve um acidente. Não foi um acidente, mas sim um atentado; com Vandemme (Van den, Meyer), que era o diretor da empresa de cortiça de Bessombourg15. De Collo, à beira-mar, é preciso subir até Chéraia, em direção ao interior, passando pela SAS; depois, ainda é preciso subir mais 7 km, e lá está Bessombourg16, com essa famosa empresa de cortiça. Meu avô morava em Bessombourg; ele era um bachagha aposentado do douar vizinho, Ouled Attia.
TY: Na aposentadoria ele ainda manteve sua aura, seu capital social?
SB: Seu capital social, sim, mas não o administrativo. Ele estava aposentado havia três ou quatro anos e era considerado uma figura importante. Ele era respeitado por todos. Seu douar era Béni Ishaq17, rival do meu outro douar de origem, um pouco mais acima, Ouled Attia. Eles eram mais ou menos rivais, especialmente porque o caïd anterior era do douar inimigo. Mas não importa, meu avô era um grande sábio. Honestamente.
TY: Por honestamente, você quer dizer que ele não tinha se “envolvido” com a França, como muitos nesse tipo de função? Ele fez o trabalho dele tentando proteger os seus. Havia alguns que tentaram conciliar os interesses opostos.
SB: Jamais, jamais, porque assim como no douar de origem, Ouled Attia (agora chamado Ziabra), quase todos estavam na guerrilha, era uma zona proibida. Então as pessoas que viviam em zonas proibidas faziam uma parada na casa do meu avô. Alguns vinham para consultar um médico, outros vinham para a estação de correios, outros ainda por várias razões. Eles passavam a noite na casa do meu avô, que os alimentava, os abrigava, porque meu avô era protegido pelo seu status e havia mantido todos os valores da antiga tradição berbere. Você só era considerado notável se for reconhecido pelos seus e se os ajudar. Um notável era, antes de tudo, um protetor da tribo, de seus interesses materiais e morais.
TY: O toque de recolher na zona proibida18 era às cinco horas (17 horas)?
SB: A casa do meu avô ficava perto de Bessombourg. A 50 metros dali, era uma zona proibida. Havia uma casamata. As pessoas atiravam.
TY: Quem era responsável pela casamata?
SB: O exército francês, é claro!
Depois de sua aposentadoria, ele foi substituído por outro caïd 19 ao qual foi confiada esta casa. Pouco tempo depois, ela se tornou a sede da harka19. Os harkis20 estavam em grande número. Ninguém se movia mais, nem mesmo meu avô, aliás, ele morreu por isso! Ele sucumbiu a um ataque cardíaco. Por causa do comportamento dos harkis e de suas atrocidades.
Quando eles chegaram (em que data?)21, (estamos falando da equipe da ARDES), houve o assassinato de Vanden Meyer.
TY: Um suíço alemão?
SB: Não, um alsaciano do norte.
No nosso douar, Ouled Attia, apenas 6 km acima. O agha era irmão do meu avô, quando ele morreu, foi substituído por seu filho, que se tornou um grande notável. Ele "navegava entre a FLN e a França". Ele era o inimigo jurado de Vanden Meyer. Um dia, ele teria dito: "a colonização em Collo é da HPK" (Sociedade22 dos corticeiros de Hamenda e da Pequena Cabília). Eles estavam em guerra, especialmente porque essa empresa tinha uma concessão da floresta onde a cortiça era "descolada" em seu benefício. Quando eles criaram o centro de reagrupamento em Bessombourg (Zitouna antes era o douar el Goufi), não me lembro da data exata. O centro de Bessombourg foi denunciado por uma equipe de jornalistas do Nouvel Observateur. Os habitantes de Bessombourg eram Beni-Isaèq. Em Beni-Ishaèq, ainda há falantes de berbere. Isto vai de Ouled Attia até Djidjell. Há berberofonia, mas é preciso saber que estamos mais perto de Djidjell do que de Collo... eles falavam principalmente árabe. De qualquer forma, todo mundo falava árabe. Por quê? Porque eles conviviam com os "colonos".
TY: Você quer dizer os pieds-noirs?
SB: Eles eram obrigados a falar a língua dos dominadores, era o árabe.
TY: Dos dominadores?
SB: Sim, os dominadores, eram os árabes quando chegaram. Eles impuseram sua língua.
TY: Mas eles falavam mesmo assim berbere.
SB: Claro! Minha própria avó.
TY: Falava berbere?23
SB: Não comigo! Com as mulheres da aldeia do douar.
TY: Mas são casas cabilas!
SB: Sim, são casas cabilas, isso te surpreende?
TY: Sim, mas porque não sabemos e, se não sabemos, é por falta de informações e de conhecimento da cultura argelina em sua extrema diversidade. Também é uma ocultação, até mesmo uma vontade de apagar a identidade cultural e linguística deste país. Eu não sabia disso antes de ver as fotos de Bourdieu. Depois, vi potes, belíssimas jarras de Jijel expostas no Hotel Tabet em Béjaïa. É uma decoração berbere (em sua variante cabila) das mais finas que eu jamais tinha visto até então. Entendo melhor as razões pelas quais essa região foi chamada de Pequena Cabília. Relendo a história da região e especialmente a toponímia, isso não deixa dúvidas. É interessante porque mostra a aceleração da arabofonia e o recuo da berberofonia, na Cabília. Um pouco como na região de Zemoura, Bougaâ24, etc.
SB: Minha avó materna falava berbere com as pessoas. As mulheres que vinham ajudá-la a fazer a limpeza, trazer o que ela precisava, elas faziam "l3ula"25, e uma vez por ano ela fazia potes. Elas acendiam um grande fogo, cantavam, decoravam. Uma vez que os potes estavam "cozidos", elas batiam no utensílio para ver se estava pronto.
Foram meus avós que me criaram, e quando fui para o liceu foram minhas tias (paternas), porque meu pai morreu jovem26.
Minha tia, em Collo, tinha um marido pescador. Eu comia peixe todos os dias. Todos os dias da minha vida! Quando compravam um pedaço de carne, era apenas às sextas-feiras. Às quartas-feiras e aos sábados eu ia para Bessombourg, para casa dos meus avós. Minha tia então me dizia para dizer que eu estava comendo mal... o objetivo era que eu voltasse carregado de mantimentos. Depois, fui para outra tia, seu marido era professor e conforme suas atribuições, eu os seguia.
TY: Eu também vivi isso.
SB: Meu pai tinha quatro irmãs, uma que era casada com Abada, outra com o pescador, outra com Bach-Adel, e a última com o professor.
TY: Mesmo assim, eles estavam bem posicionados… para a época.
SB: Minha mãe, que nasceu em 1913, tinha seu certificado de estudos. Era algo, com certeza! Seus irmãos eram todos pescadores, e eles são da família Dib (dizem que eles vêm do Oeste, do Marrocos).
Enfim, voltando à equipe. Quando viram o carro no barranco, eles se mandaram. Só restou Budin. Sabíamos que Collo era perigoso, já que havia muitos pieds-noirs... lembro-me de Mahfoud Nechem (membro da equipe).
TY: De onde ele era?
SB: De Argel. Era cabila, vinha visitar Sayad de vez em quando após a independência. Acho que ele montou uma empresa de ferro-velho!
TY: Jacques Budin queria continuar com a investigação?
SB: Ele ficou no local. Ele foi alojado na SAS, enquanto eu fui para a casa dos meus avós no douar do meu avô, que ficava a 7 km de distância; eu voltava para casa todas as noites. Eu tinha uma mobilete, era prático.
No dia seguinte, fomos para Ain Aghbel, que fazia parte do douar do meu avô Beni Isheq, onde tínhamos terras.
TY: Em Ain Aghbel eles falavam berbere?
SB: Não... desde nossa região até Collo, tudo tinha se arabizado. Em El Milia ainda falavam berbere por causa do que faziam: vendiam óleo e armas.
Partimos com Jacques Budin em um caminhão da SAS. Ao chegarmos em Ain Aghbel, era uma harka. O tenente não estava lá. Jacques Budin teve que se apresentar à SAS27, porque era onde estávamos alojados, na harka. Eles prenderam um cara. Foi como na televisão com Starsky e Hutch, eles o retiraram do caminhão. Alguém veio até mim e disse: é seu primo Saïd28 que eles acabaram de prender. Mas não era o caso. Quando chegamos em Collo, informei meu tio que não era seu filho que tinham prendido, mas um homônimo. Enquanto isso, continuávamos com a investigação. Entrevistávamos pessoas que já havíamos contatado. Principalmente Jacques Budin, eu traduzia de vez em quando, a maioria das pessoas falava francês. Uma vez, durante a noite, a harka foi atacada, nos escondemos debaixo das camas. Ficamos dois ou três dias, talvez.
TY: Debaixo das camas?
SB: Não, talvez por uma hora ou duas, quando parou, saímos do esconderijo. Tínhamos apagado as luzes...
Depois, voltamos para Chéraia. Eu continuei meu trabalho no serviço civil e Budin partiu novamente.
TY: E a investigação, então? Onde foi realizada?
SB: Em Ain Aghbel, sim, apesar de tudo.
Nesse primeiro momento, apenas Jacques Budin entrevistou algumas pessoas e os outros não ficaram. Eles partiram...
TY: E Bourdieu, nisso tudo? Você o viu?
SB: Não, não o vi, ele não veio desta vez. Só estavam Sayad e Mahfoud Nechem. Depois, encontrei Accardo e os outros, não lembro mais. Eram cerca de cinco ou seis. Os outros partiram. Em Ain-Aghbel, foi apenas Budin quem conduziu a investigação.
TY: E Sayad, em que idioma ele conversava com seus interlocutores?
SB: Árabe e francês. Ele falava árabe, não dava para fazer diferente29. Eu o conheci, e o ouvi falar tanto no local da pesquisa, durante os reagrupamentos, quanto na França.
Aqui, em Paris, por acaso, acabamos convivendo juntos por anos e moramos no mesmo prédio (155 Faubourg Poissonnière, Paris 18º). Um dia, nos cruzamos no hall. Nos reconhecemos. "O que você está fazendo aqui?" ele me disse. Eu disse a ele que morava em um apartamento de um cômodo e ele me disse que também alugava lá. De fato, como ele foi muito doente - ele tinha tuberculose e diabetes.
TY: E alergias...
SB: Não, no final ele não era alérgico, ele teve gangrena ou algo assim, ele já estava muito doente...
TY: Em que ano foi isso?
SB: Em 1963, ou início de 1964, teve até um dia em que ele recebeu um primo, Akli. Ele morava em um estúdio, não falava nem francês nem árabe e não conseguíamos nos comunicar (sim ou não, era tudo)... Ele estava disposto a ajudar e se virar em todas as situações. Um dia, tínhamos que ajudar Bourdieu a se mudar (do 15º para Anthony). E, foi Akli quem nos deu uma mãozinha séria na mudança para Anthony. O dia passou, mas para voltar precisávamos pegar o último metrô. Sayad me disse para não me preocupar, que Akli estava lá. Mas o tal Akli não sabia ler francês, seu conhecimento do metrô se resumia aos anúncios publicitários, ele se baseava nas imagens para se orientar. Mas simplesmente, naquele dia, houve uma mudança de publicidade. Akli não reconheceu a estação e tivemos que parar na estação Porte de Clignancourt.
TY: E depois?
SB: Voltamos a pé.
TY: A história da mudança de publicidade nos metrôs é muito comum entre os cabilas que não sabem ler nem escrever.
SB: Para corroborar o que você disse, gostaria de contar uma história semelhante sobre um cara que vi esta manhã, ele é de El-Kseur, talvez, trabalhou aqui (na França) a vida toda. Agora que está aposentado, começou a ter problemas de saúde. Na época, eu disse a ele para não devolver seu cartão de residência, já que tinha problemas de saúde e poderia voltar e receber tratamento.
Estes dias, ele me disse: "vou pegar a nacionalidade francesa". Eu disse a ele: "você deveria mesmo".
Ele não sabe ler, escrever ou usar a Internet, não sabe de nada. Não sabe em qual site encontrar informações. Eu o coloquei em contato com algumas associações. Ele também é cabila. Ele disse mais, que são coisas de argelinos. O açougue Lanvin, são cabilas. Um dia, Abdallah, o dono, repreendeu-o por falar cabila. Eu o repreendi também, porque quando estou lá, ele fala cabila com sua esposa, sabendo muito bem que não entendo.
TY: Por acaso, as investigações eram encomendadas pelo exército? Pergunto isso porque alguns pesquisadores muito mal informados tentam espalhar esse tipo de coisa. Como você participou, é bom saber.
SB: Nunca ouvi nada desse tipo. Acredito que foi a equipe de Argel, Bourdieu, Darbel, Seibel, Rivet, que decidiu fazer isso. Eles foram financiados, com certeza! Era governamental, e daí?
TY: Aliás, era possível fazer de outra forma em um país em guerra, completamente controlado por todos os lados?
SB: Isso significa que tudo relacionado ao governo era colaboração! Parabéns por essa grande descoberta! A pessoa que disse isso deveria se perguntar quem financiou seus professores, médicos, seus pais, se trabalharam para a administração. Mesmo entre os caras da FLN, havia aqueles que trabalhavam nas administrações francesas (correios, EGA, RSTA, ferrovias, educação, etc.) até serem denunciados. A administração francesa era a única fornecedora de empregos. Minha mãe também deveria ser considerada colaboradora porque recebia uma pensão da administração francesa!
Em Chéraia, no que diz respeito à SAS, com certeza eles tinham ordens de missão, não caíram do céu assim.
TY: De qualquer forma, para qualquer indivíduo, era necessário ter um salvo-conduto, não importava o motivo, e, com ainda mais razão, para acessar um campo de reagrupamento. Havia controle de entrada e saída, é óbvio. Lembro-me nos anos 59-60, quando ia visitar meus avós no PK 181 (rodovia nacional Argel-Constantine), era necessária uma autorização e éramos revistados dos pés à cabeça, mesmo sendo criança.
SB: Sim, é verdade até aí. Mas dentro do campo, eles não tinham que dar satisfações a ninguém. Com Jacques Budin, quando vimos o tenente da harka, antes de sair de Ain Aghbel, ele não prestou contas do que fez. Entramos na van e partimos.
TY: Era preciso solicitar uma van?
SB: Sim, claro, era o meio de transporte. Além disso, a região era uma zona proibida, só podíamos circular em comboio. Só havia comboios circulando.
TY: Foi isso que Budin me disse. Quando estavam em Collo, só havia transporte graças ao transporte fornecido pelo exército.
SB: Collo era um beco sem saída. Para ir a Skikda, era preciso esperar uma semana, havia um comboio por semana30. Eu ia para o liceu em Constantine, também era uma vez por semana, esperando pelo ônibus.
Mas todos os dias havia um barco que fazia Collo/Skikda (ida/volta).
TY: Quantos campos havia em sua região?
SB: Bessombourg, (tendas e depois cabanas), à noite eles iam para casa; Chéraia, havia uma SAS, o campo era permanente; Ain Aghbel eram tendas (eram os Loulouj); Chéraia (eles... eram um pouco mais pró-franceses que os Beni Isheq e os Ouled Attia).
TY: Eles tinham harkis.
SB: A harka, lá?
TY: Por que você diz que eram inqualificáveis?
SB: Eles eram canalhas. Não eram nativos da região. Cometeram as piores atrocidades.
TY: Eles vinham de outro lugar? (estou pensando em rivalidades antigas).
SB: O tenente que comandava a harka era filho adotivo de um general, o general Vanuxem31, que atuava em Collo, então ele tinha todo o poder. Eu mencionei anteriormente meu primo Abada, cujo pai tinha uma mercearia. Os harkis vieram e se serviram, ele disse a eles para pagarem, eles se recusaram a pagar. Eles começaram a espancá-lo, tinham um cachorro, um pastor alemão que soltaram nele. Alguém viu isso, foi até a SAS informar Sidi Youssef (Abada), o pai do merceeiro, do que havia acontecido. Sidi Youssef chegou, os outros partiram, ele foi levado para o hospital.
TY: Ele morreu?
SB: Não na hora. A harka, é simples, as pessoas nos vilarejos preferiam lidar com o exército ou com a Legião Estrangeira do que com os harkis. Eles foram odiosos, cruéis com a população. É por isso que digo que são inqualificáveis.
TY: E a Legião, o que estava fazendo lá?
SB: Operações em zona proibida. Eles tinham informações e intervinham. Eles jogavam napalm.
TY: Napalm?
SB: Sim, claro!
TY: Mais uma pergunta? Como as pessoas que você entrevistou reagiam?
SB: Não me lembro de tudo. Eles respondiam sinceramente, é só isso.
TY: Eles respondiam sinceramente? Você entrevistava mulheres?
SB: Não! Nunca! Mesmo que eu não as conhecesse, elas sabiam que eu era neto do bachagha. Meu avô, como eu disse, tinha uma aura, uma reputação incomparável na região. Ain Aghbel era nosso antigo douar. Eles confiavam em mim. Um exemplo: no funeral dele, todo o douar estava presente. Ele era um hadj e um sábio.
TY: Gostaria de confirmar com você. Jacques Budin me disse que não imaginava que se pudesse investigar sem a aprovação da FLN.
SB: Na minha opinião, eles não viram o subprefeito. O subprefeito estava em Collo. Eles nunca foram lá, foram direto para a SAS. Não sei se o viram. Com a autorização da FLN? Não acredito muito nisso. Ali era uma área um pouco de fronteira. Depois de Bessombourg, era a zona proibida, as pessoas eram mais pró-FLN. Antes, descendo em direção a Collo, era a rotina diária. O 20 de agosto32 mudou a paisagem.
Lembro-me como se fosse hoje, eu estava em um salão de cabeleireiro, que fechou abruptamente as cortinas. De vez em quando, dávamos uma olhada para ver o que estava acontecendo, estava estourando por todo lado. Não eram pessoas de Collo, mas de Loulouj, pessoas dos douars ao redor, Kerkera, Loulouj, que vieram para Collo, então não eram pessoas próximas a FLN.
Já em Bessombourg, não havia muitos da FLN. A prova disso foi: Um dia à noite meu avô, que tinha um jardim, cuidava das suas árvores frutíferas, quando viu os galhos de uma árvore, uma figueira, se movendo de forma anormal. Pensamos que era alguém que tinha ido fazer um ato notável. Passamos a informação adiante. De fato, era um homem do vilarejo vizinho que queria realizar uma ação notável: matar o bachagha.
TY: Seu avô?
SB: Sim, essa pessoa veio do vilarejo de Beni Ishaeq. Eles eram menos FLN do que os de Ziabra, Ouled Attia. Em Ouled Attia eram mais FLN.
TY: Por que Beni Ishaeq não era FLN?
SB: Talvez sofressem menos com a opressão. Lá havia o porto e a fábrica de cortiça. Era uma verdadeira economia. Em Bessombourg era uma vida tranquila, todos trabalhavam na fábrica. Já a cidade de Collo era muito engajada. Ali, havia a FLN, não quando eu era criança, mas depois.
Eu já frequentava a escola corânica, à tarde ia para a madraça onde aprendia árabe.
TY: E a escola?
SB: Ficava entre as duas. Aprender árabe me ajudou no liceu. Eu era quase o único a ler e escrever árabe clássico.
A nossa escola corânica em Collo se destacou na época por atos de pedofilia. O mestre da escola se refugiou em Chéraia, mas os membros da FLN o pegaram. Eles não o mataram. A melhor coisa que ele encontrou foi se entregar ao exército francês fingindo ser membro da FLN.
TY: Então você não acha que a FLN se envolvia em suas investigações?
SB: Não, não, eu não acredito…Além disso, se tivessem a aprovação da FLN, não teriam escapado tão rapidamente. Sinceramente, essas investigações não interessavam a ninguém além dos envolvidos. A FLN tinha outras preocupações e o exército estava aniquilando o que restava dos maquis, era a operação Challe. Os habitantes dos campos não eram mais uma preocupação para o exército, mas sim um fardo, pois era preciso cuidar deles no local. Isso, de certa forma, reduziu sua atividade.
TY: Alguns soldados diziam que estavam entediados e que era por isso que eles os seguiam.
SB: Eles se davam uma boa consciência dizendo que queriam garantir nossa proteção? De quem? Durante o dia? Em um campo cercado por arame farpado?
TY: Sayad não estava próximo da FLN?
SB: Na época, todos os estudantes, Sayad estava na ENS33, todos nós éramos considerados para nos juntarmos à FLN. Eu, Abada. Eu era o único muçulmano da minha turma. Os outros eram todos pieds-noirs. Um amigo foi morto logo na entrada, ele estava encarregado de vigiar os líderes pieds-noirs.
Um amigo me salvou a vida... Sufrazio ia para a aula com uma metralhadora. Eu era amigo de um que morava na Rua do Cherche-Midi, Bidet34... Eu tinha que relatar aos meus superiores da FLN os nomes dos pieds-noirs que estavam se organizando contra a FLN.
TY: Quem era esse superior? Um membro da FLN?
SB: Sim, era um cara de Annaba, uma célula local...
TY: E Sayad?
SB: Não sei quanto a FLN, isso não significa nada... o pai dele era um caïd.
TY: Não, era o avô dele.
SB: Meu pai também era um caïd.
TY: Vocês não falavam sobre isso... nem mesmo depois.
SB: Não.
TY: Eu faço essa pergunta porque Sayad, assim como Bourdieu, às vezes é retratado como colaborador (como mencionado acima), outras vezes como herói que só tinha uma ideia na cabeça, que era servir à revolução.
SB: Não, eles fizeram uma pesquisa, e isso é prova.
TY: Isso não era abertamente para a “revolução” argelina.
SB: Eles estavam fazendo o trabalho deles. Talvez Bourdieu tivesse ideias, mas não as expressava.
TY: Ele não as dizia. Ele era reservado.
SB: Ele não dizia a ninguém.
TY: Era arriscado.
SB: Mais do que arriscado... isso comprometeria a missão e as pessoas envolvidas.
TY: Eu te fiz a pergunta a título de informação, mas não acreditei nem por um único instante, pois o governo geral tinha suas próprias equipes itinerantes, compostas pelo exército, em toda a Argélia. Uma operação desse tipo (mantida em segredo até 1959) não poderia ser confiada a civis (e estudantes, ainda por cima), esse é o primeiro ponto. O segundo é que, quando Bourdieu e sua equipe começaram a conduzir as investigações, a guerra já havia alcançado sua velocidade de cruzeiro e estávamos a dois anos antes da independência, o que sugere que a administração colonial falhou, já que essas duas investigações só seriam concluídas após a independência. Por fim, eu acredito, como Sayad descreve muito bem, que permitiram as investigações sobre emprego e moradia (aqui os campos) para melhorar a imagem prejudicada da França. Foi uma maneira de dizer: "não temos nada a esconder, já que os pesquisadores podem fazer um trabalho eminentemente científico com total liberdade".
SB: Acho que você está certa em destacar isso, pois é muito prejudicial apresentar esse tipo de argumento em uma circunstância como essa, especialmente hoje em dia.
São pessoas que ignoram tudo sobre a época e as condições que foram impostas a uns e a outros. Além disso, hoje em dia, isso serve a que causa? A causa dos extremistas argelinos, franceses e do mundo (isso é de minha autoria, você pode manter ou remover conforme desejar).
TY: O Bourdieu de ontem é usado para "matar" simbolicamente o Bourdieu de hoje, aquele que propõe uma maneira diferente de ver o mundo, as sociedades e esse furacão neoliberal que promove uma cultura fascista, como aqueles que tentam reformular o sistema educacional rejeitando os trabalhos de Bourdieu, como o retorno à privatização da escola, etc.
TY: Seu pai faleceu quando? E como? Ele era diferente do seu avô, você me disse que ele era um colaborador. Você poderia contar um pouco mais?35
TY: Sayad, em 1963, estava militando?
SB: Tão doente, não sei como ele encontraria forças para militar.
TY: No FFS36?
SB: Se esse for o caso, ele nunca falava sobre isso e eu não acredito que tenha se envolvido muito, pois era um doente grave e não podia, de forma alguma, prever qualquer coisa entre os períodos de licença médica e seu trabalho. Muitos esquecem que ele viveu momentos muito difíceis, muito angustiantes. Ele viveu em uma grande precariedade. Sua grande preocupação era qual? Pagar o aluguel.
TY: Como ele fazia então?
SB: Era a comunidade, as pessoas se juntavam (aquelas que o conheciam, naturalmente!)
TY: Mas também tinha família em Saint-Étienne, acredito, talvez sua irmã. Naquela época, era difícil, muito difícil, para os argelinos, especialmente para conseguir empregos na pesquisa.
SB: Exatamente. A pesquisa, correr atrás de financiamentos, isso viria depois... estou te falando do início. Ele fez alguns trabalhos temporários.
TY: Ele me disse que também trabalhou em mercados.
SB: A questão do aluguel foi resolvida dividindo o apartamento! O resto foi uma luta para sobreviver. Essa história do FFS, ele nunca mencionou e é surpreendente pensar nele como uma figura proeminente. Além disso, sinceramente, o FFS foi criado em setembro de 1963, e Sayad estava em Paris, como poderia ter desempenhado um papel? E em 1964, o FFS acabou. Não vou dizer mais nada sobre isso, porque me surpreende, mas estou perplexo. Ele pode ter apoiado, escrito um artigo, isso ele pode ter feito, mas não era um ativista! Ser ativista onde? Quando? Como? Com quem? Quando eu sei que ele não tinha dinheiro para pagar o bilhete de metrô e comer no dia seguinte. Você está brincando, não é?
TY: Desculpe, se estou fazendo essa pergunta, é porque ela surge e não podemos descartá-la de imediato. Um colega, Amin Pérez, relata em seu livro que ele não só estava no partido (FFS), mas que também era o intelectual orgânico. Esta é uma informação importante em uma biografia e não acredito que seja um erro da parte dele nem da minha em discuti-la com você. É simplesmente lançar luz sobre sua biografia, assim como a de Bourdieu, a quem também são atribuídos fatos distorcidos. Isso pode ser, aliás, nos dois sentidos (os bajuladores e os difamadores).
SB: Eu não sei, mas nunca ouvi falar dessa história e ninguém que eu conheço (seja do FFS ou não) mencionou isso. Sério, você conhece a Argélia, os cabilas, se Sayad tivesse sido um intelectual orgânico, isso estaria na boca de todos. Eles estariam muito orgulhosos de usá-lo em suas lutas. Todo mundo falaria sobre isso. Sinceramente, não vejo as coisas dessa forma. Ele poderia até ter aprovado Ait Ahmed, mas pelo fato de que ele se opunha ao exército das fronteiras e porque queria bloquear o caminho para a ditadura "militar" em favor de uma sociedade mais democrática e igualitária, e isso é tudo.
TY: O que você diz ecoa com o que li e, se fosse o caso, ele teria tido um comportamento muito contraditório, pois em um escrito (um rascunho), ele condenava precisamente o FFS por ter organizado resistências na Cabília (entre nós, muitos cabilas compartilham essa opinião) e, para Sayad, era uma maneira de reprimir a Cabília, uma oportunidade de ouro dada ao exército para reprimir os recalcitrantes e colocar a região na linha (como o exército francês havia feito e até mais). Isso de um lado; por outro lado, Ait Ahmed é preso e condenado em.... E, portanto, não havia mais FFS. O que ainda lança dúvidas sobre essa filiação ao partido é que Sayad se tornará o elo privilegiado com a Argélia (com os oficiais da educação) quando se tratava de organizar a pesquisa. Já em 1965-66. Se ele tivesse sido uma figura oficial, as autoridades argelinas teriam desconfiado tanto de Bourdieu quanto de Sayad. Isso para dizer que, até prova em contrário, eu continuo surpresa.
TY: Sua integração na pesquisa foi difícil?
SB: Muito... um mundo fechado para estrangeiros. Naquela época, não era como hoje e a imigração como objeto de estudo, logo após a Guerra da Argélia, era inadmissível. Aliás, levou um tempo para que ele escolhesse esse tema; ele se interessou por outras coisas no início. Não gosto de voltar a esse período, foi difícil, muito difícil...
Referências Bibliográficas
- BOURDIEU, Pierre. Esboço de auto-análise São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
- BOURDIEU, Pierre; ABDELMALEK, Sayad. Le déracinement: la crise de l’agriculture traditionnelle en Algérie. Paris: Les Éditions de Minuit, 1964.
- GERLACH, Christian. Sustainable Violence: Mass Resettlement, Strategic Villages, and Militias in Anti-Guerrilla Warfare. In: BESSEL, Richard; HAAKE, Claudia (orgs.). Removing Peoples: Forced Removal in the Modern World. New York: Oxford University Press, 2009, p. 359-393.
- JAMMET, Yves. Abdelmalek Sayad, les années d’apprentissage (1933-1963). In: YACINE, Tassadit; JAMMET, Yves; MONTLIBERT, Christian de. La découverte de la sociologie en temps de guerre Nantes: Éditions Cécile Defaut, 2012, p. 17-127.
- PÉREZ, Amín. A liberação do conhecimento: Bourdieu e Sayad ante o colonialismo. In: DIAS, Gustavo; BÓGUS, Lucia; PEREIRA, José Carlos; BAPTISTA, Dulce (orgs.). A contemporaneidade do pensamento de Abdelmalek Sayad São Paulo: Educ, 2020, p. 21-36.
- SACRISTE, Fabien. Camps de Regroupement. In: QUEMENEUR, Tramor; TENGOUR, Ouanassa Siari; THÉNAULT, Sylvie (orgs.). Dictionnaire de la Guerre d’Algérie Paris: Bouquins éditions, 2023, p. 1377-1381.
- SAYAD, Abdelmalek. Histoire et recherche identitaire suivi de Entretien avec Hassan Arfaoui Saint-Denis: Bouchène, 2002.
- SAYAD, Abdelmalek; NEIBURG, Federico. Colonialismo e migrações. Mana, Estudos de Antropologia Social, v. 2, n. 1, p. 155-170, 1996.
- YACINE, Tassadit. Pierre Bourdieu en Algérie (1956-1961): Témoignages. Paris: Éditions du croquant, 2022.
- ______. Moi, Tassadit Yacine, Kabyle, Algérienne et Française. Tragédies Algériennes 1830-2022. L’Histoire, n. 95, 2022, p. 113-115.
- YACINE, Tassadit; BOUHEDJA, Salah. Retour sur les enquêtes dans la région de Collo avec Bourdieu et son équipe. Regards Sociologiques, n. 61-62, p. 139-149, 2023.
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Tassadit Yacine é antropóloga, diretora de estudos da l’École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) e membro do Departamento de Antropologia Social do Collège de France. Ela dirige a revista Awal, fundada em 1985 com o linguista e antropólogo Mouloud Mammeri (1917-1989) e o sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002). Yacine é especialista nos estudos da Cabília e da cultura berbere e também na obra de Pierre Bourdieu. Em 2022 Tassadit publicou o livro Pierre Bourdieu en Algérie (1956-1961): Témoignages, no qual podem ser encontradas outras entrevistas sobre o período da pesquisa de campo realizada por Bourdieu e Sayad na Argélia.
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Bachagha (composto por bash “cabeça” e agha “chefe”), se refereria a um dignatário da hierarquia administrativa acima do agha e do caïd. Os bachaghas intermediavam a relação entre as populações nativas e a administração colonial. Enquanto líderes locais, eles eram respeitados pelas populações, sendo considerados como sábios, como era o caso do avô de Bouhedja por ele citado.
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Trata-se de agrupamento de habitações, sejam fixas ou móveis, temporárias ou permanentes, que reúne indivíduos ligados por laços de parentesco baseados em uma ascendência comum por linha paterna.
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Harkis designa os auxiliares nativos que lutaram ao lado dos franceses contra a Independência da Argélia. Após a Guerra o termo passou a ser usado de forma genérica para categorizar quaisquer pessoas consideradas traidores da Argélia. O drama que os harkis e suas famílias enfrentaram após a guerra constitui uma das feridas deixadas abertas, pois muitos deles foram perseguidos e violentados e os que conseguiram fugir para a França lá foram colocados em campos de reassentamento. Os motivos que faziam esses sujeitos lutarem ao lado dos franceses são diversos. Todavia, para além do drama por eles vivido após a guerra, é importante destacar que muitos desses argelinos também abusaram da violência contra seus conterrâneos.
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L’Echo d’Alger: journal républicain du matin, 1928. Fonte: gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k7580385z/f4.item.r=salah%20bouhedja. Acesso em: maio de 2024.
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Publicado com o título “Retour sur les enquêtes dans la région de Collo avec Bourdieu et son équipe”, em Regards Sociologiques, n. 61 - 62, 2023, p.139-149. Traduzido para o português por Jheniffer Caroline Oliveira Souza e revisado por Gustavo Dias.
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O texto se refere a entrevista que Tassadit Yacine realizou com Salah Bouhedja. Grande parte das notas de rodapé a seguir se referem às notas originais feitas pela própria Yacine. As nossas notas, adicionadas para essa versão em português, estão indicadas pela sigla NT.
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NT: Seção Administrativa Especial. Elas foram criadas na Argélia francesa em 1955, com o objetivo de promover a presença francesa, oferecendo assistência escolar, social e médica às populações rurais muçulmanas. Em outras palavras, pretendiam conquistá-las ideologicamente para a causa francesa, além de fornecer informações militares para o controle populacional.
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NT: Exército de Libertação Nacional.
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NT: No original “Faisaient le dos rond”, é uma expressão francesa que indica uma espera passiva frente a um contexto adverso.
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NT: Frente de Libertação Nacional.
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Como relata Claude Seibel. Sem necessariamente estarem todos comprometidos com a FLN, eles estavam comprometidos em lançar luz sobre as atrocidades de uma das guerras mais terríveis do século XX.
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Aqueles que irão se declarar nacionalistas após o cessar-fogo.
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Ele ajudou na tradução dos contos cabilas coletados por Mouliéras e publicados por Camille Lacoste, além de nos auxiliar na tradução de documentos do árabe para o francês e vice-versa, em 1984, durante a criação do AWAL, Cahiers d’études berbères, fundado por Mouloud Mammeri.
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Bessombourg está localizada no grande maciço florestal (floresta de carvalhos-cortiça) da cidade costeira de Collo (antiga pequena Cabília). Bessombourg fica a 14 km de Collo e a mais de 80 km de Skikda (antiga Philipeville). Inicialmente chamada Zitouna – construída após a insurreição de 1871 – depois passou a ser chamada Bessombourg em homenagem ao fundador da companhia de cortiça, Besson. Como um maciço montanhoso muito arborizado, permitiu à ALN estabelecer resistência mais cedo do que em outros lugares. O exército francês então decidiu criar um campo de reagrupamento no verão de 1957, obrigando assim as populações a habitar lá. Este é um dos campos mais conhecidos na história, e sua descoberta por Michel Rocard em março de 1959 resultou, ao revelar a mortalidade infantil, em um relativo escândalo na França, pois os campos de reagrupamento eram (além disso) mantidos em segredo. Outros jornais se interessaram pelo assunto. O exército então decidiu abrir o campo e organizar visitas. Acredito que Bourdieu e sua equipe tenham conseguido autorizações para investigar os campos de reagrupamento após esse evento. Sayad relata isso de forma explícita em seu livro “Histoire et recherche identitaire”. Isso logicamente exclui a ideia de que o exército tenha encomendado investigações (no final da guerra em 1960!) que poderiam descrever cientificamente seus próprios crimes (como argumenta A. Kadri em Tumultos). Além disso, para André Nouschi, os resultados dessa investigação sobre os reagrupamentos foram catastróficos para o exército... era explosivo! (entrevista oral).
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Bessombourg, Rocard, veja também fotos de Macaigne, 17 de julho de 1959, Le Figaro, 22 de julho de 1959, “je reviens d’Algérie”.
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At Isheq, arabizado como Beni Ishaq, faz parte disso.
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Regiões suspeitas de fornecer ajuda a FLN ou simplesmente fortemente arborizadas, locais escarpados de difícil acesso para o exército francês enfrentando guerrilha e não uma guerra convencional, precisavam ser esvaziadas de suas populações e de toda vida, incluindo animal, nas áreas rurais e montanhosas inacessíveis para bombardear à vontade. O exército poderia atirar à vontade em tudo o que se movesse.
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NT: Tropa de harkis organizadas pelas autoridades francesas.
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Plural de harki, os nativos que se uniram ao exército. Eles também eram chamados de suplentes, agentes recrutados no exército durante a guerra e que foram abandonados ao seu destino para aqueles que permaneceram na Argélia e confinados em campos para aqueles que conseguiram ir para a França.
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NT: Mantido como no original, onde a pergunta também aparece em aberto.
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NT: Société em francês, o termo se refere a uma organização ou empresa.
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Eu digo isso porque analisei as fotos de Bourdieu, que comentei extensivamente para um estudo de Schultheis que está prestes a ser publicado (sobre sociologia da imagem a partir das fotos de Bourdieu), e fiquei impressionada com o interior das casas, a decoração dos interiores, o mobiliário, as cerâmicas, a presença dos ikufan, icbuyla. Parece que estamos na Cabília, o que indica uma continuidade cultural até os anos 60, dos quais não se fala, que é completamente negada, apagada. Muitos nativos se identificam como árabes e a história oficial adiciona um verniz de arabidade.
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Kateb Yacine dizia que em Bougaâ (ex Lafayette) os habitantes falavam cabila; Rabah Belamri também me disse que fazia parte da primeira geração a ser arabizada.
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Preparação de alimentos: massas, cuscuz, etc., que são secos e armazenados em jarros de barro para o inverno. As mulheres se reuniam em grupos de dezenas e frequentemente enrolavam o cuscuz enquanto cantavam canções antigas.
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Seria necessário contar a história desse pai do qual você diz que é colaborador. Como ele se tornou um colaborador?
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Qualquer estrangeiro no local devia se apresentar à SAS, caso contrário, corria o risco de ser considerado suspeito.
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Ele estava se referindo ao primo irmão do seu pai que estava na guerrilha.
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Veja também Yves Jammet, que relata que o nível de Sayad era bom tanto oralmente quanto por escrito (o que era raro para sua geração não alfabetizada em árabe).
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Em uma correspondência com seu editor (Plon), Mouloud Mammeri relatou que não conseguia fornecer fotos simplesmente porque não havia transporte para ir a Tizi-Ouzou e ser fotografado. Havia um ônibus uma vez por semana. Nessa mesma época, Ait Yenni, sua aldeia, estava a 30 km de Tizi-Ouzou. Como era uma zona proibida, ele não podia usar outros meios de transporte, se é que existiam, por sorte. Abdelmalek Sayad relata uma situação semelhante quando ele precisava ir a Béjaïa (antes Bougie).
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NT: General de divisão, Paul Fidèle Félicien Vanuxem (1904-1979), veterano da Segunda Guerra Mundial (FFL), prestou serviço por três vezes no decorrer da Guerra da Indochina. Vanuxem comandou tropas na Argélia durante a Guerra de Independência e apoiou o golpe militar de 1958, após o qual foi removido por De Gaulle para comandar as forças francesas na Alemanha Ocidental. Foi preso entre 1961 e 1963, acusado de pertencer ao grupo paramilitar e terrorista OAS. Se tornou jornalista e como tal, foi cobrir a Guerra do Vietnã; foi expulso do país em 1975 após a queda de Saigon acusado por crimes de guerra cometidos durante a luta pela independência indochinesa.
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32
Trata-se dos dias 20 e 21 de agosto de 1955, quando ocorreram grandes tumultos então Departamento de Constantina, onde havia uma forte tensão entre as comunidades europeia e muçulmana. Zighout Youssef, sucessor de Mourad Didouche, foi o iniciador desses eventos. Para a FLN, o objetivo era realizar um golpe espetacular para mostrar que era o único a controlar o terreno. Os eventos aconteceram na região de Collo – Philippeville – Constantine – Guelma. O saldo desse ataque foi de 123 mortos, sendo 71 na população europeia. O exército francês não hesitou em retaliar, auxiliado por milícias privadas que se formaram, encorajadas pelo prefeito de Philippeville, para caçar os muçulmanos. Uma repressão feroz – de uma imensa violência – resultou em 1.273 mortes. Para a FLN, o número real de vítimas foi muito maior, estimado em 12.000 mortos. Estes eventos, juntamente com os de El Halia, levaram Jacques Soustelle a se radicalizar, encerrando todo diálogo e dando prioridade ao exército para restaurar a ordem a qualquer custo.
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33
NT: Ecole Normale Supérieure.
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34
Salah o encontrou, depois da independência, na França, na Rua do Cherche-Midi, no 6º arrondissement, ao lado da Escola de Altos Estudos.
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35
NT: Na versão francesa essa pergunta também aparece dessa maneira, sem uma resposta por parte de Bouhedja.
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36
NT: Front des Forces Socialistes.
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Editores de seção
Tuíla Botega, Emmanuel de Nazareth Brasil
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
16 Dez 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
25 Set 2024 -
Aceito
07 Nov 2024