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Financeirização e o consumo privado português: dois efeitos contraditórios?

RESUMO

Este artigo faz uma avaliação empírica da relação entre a financeirização e o consumo privado português, realizando uma análise econométrica de séries temporais, do primeiro trimestre de 1996 ao terceiro trimestre de 2019. Emoldurada na literatura pós--keynesiana, a financeirização tem dois efeitos contraditórios sobre o consumo privado. O primeiro corresponde à queda do rendimento do trabalho das famílias, o que favorece uma desaceleração do consumo privado. O segundo corresponde ao aumento da dívida das famílias e ao aumento da riqueza financeira e habitacional das famílias, o que favorece uma aceleração do consumo privado. O efeito líquido global da financeirização tende a ser positivo porque o efeito benéfico da riqueza suprime o efeito prejudicial do rendimento. Estimamos uma equação de consumo privado que inclui quatro variáveis de controle (taxa de desemprego, taxa de inflação, taxa de juros de curto prazo e taxa de juros de longo prazo) e três variáveis ligadas à financeirização (rendimento do trabalho, riqueza financeira líquida e riqueza habitacional). Os nossos resultados confirmam que o rendimento do trabalho, a riqueza financeira líquida e a riqueza habitacional são determinantes positivos do consumo privado português. Os nossos resultados mostram também que a financeirização representou um importante motor do consumo privado português, principalmente devido aos efeitos benéficos da riqueza financeira líquida.

PALAVRAS-CHAVE:
Consumo privado; financeirização; rendimento do trabalho; riqueza financeira líquida; riqueza habitacional; Portugal; modelo ARDL

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