Editorial - Fenomenologia, Mundo, OikologiaMantendo uma tradição de diálogo, colaboração e fomento filosófico, a Revista de Filosofia Aurora apresenta o dossiê Fenomenologia, Mundo, Oikologia, organizado pelos professores Dr. Claudinei Freitas (UNIOESTE) e Dr. José Weber (UEL). Sem dúvida alguma, os textos apresentados neste dossiê são expressão de que problemas filosóficos, pensados em diferentes momentos, continuam desafiando, por um lado, a nossa posição no mundo e, por outro, a forma como somos capazes de dissolvê-los.
Nas palavras dos organizadores, “desde seu surgimento com a obra de Husserl, a fenomenologia se configurou como uma filosofia para a qual o mundo é um problema fundamental, a tal ponto decisivo que chega a se fundir com o próprio sentido, propósito e singularidade metódica da operação fenomenológica.
Eugen Fink, o último assistente de Husserl, no artigo A Filosofia Fenomenológica de Edmund Husserl na Crítica Contemporânea, publicado em 1933 nos Kant-Studien, defende que “A fenomenologia sustenta a pretensão de realizar uma compreensão filosófica do mundo [...]. Ela intenciona tornar o mundo apreensível conceitualmente a partir do fundamento último do seu ser. Ela aspira a um conhecimento absoluto do mundo” (1966, p. 103). Em outro artigo, este de 1934, intitulado O que pretende a Fenomenologia de Husserl?, o jovem filósofo sustenta que “No trabalho realizado por Husserl, existe a possibilidade de assegurar para sempre uma interpretação verdadeiramente bem-sucedida do mundo por meio do espírito, a partir da subjetividade transcendental” (Fink, 1966, p. 177).
A despeito das tensões resultantes da vinculação entre a centralidade do mundo para a fenomenologia de Husserl e a sua orientação subjetivista transcendental - o que impediria uma adequada e efetiva apreensão do sentido do mundo - não seria exagero afirmar que a fenomenologia pós-Husserl se desenvolveu em grande medida sob a sombra desta dificuldade, buscando caminhos alternativos nos quais a centralidade do problema do mundo se destaca com mais força à medida que decai a importância, constituidora e instituidora, de uma subjetividade transcendentalmente considerada.
Horizonte, constituição, região, mundo da vida, ser no mundo, intersubjetividade, corpo, carne, são noções catalizadoras do ininterrupto esforço da fenomenologia em pensar o mundo. Somam-se a elas, mais recentemente, a noção de estranho/estrangeiro (Fremd), devida a Bernhard Waldenfels, de oikologia (Oikologie), desenvolvida por Hans-Rainer Sepp e de pertencimento (Appartenance), defendida por Renaud Barbaras. Portanto, um modo cifrado, mas nem por isso menos exato, de sumariar as diferentes tendências do “movimento fenomenológico”, é dizer que a fenomenologia é uma filosofia do mundo!”.
A Revista de Filosofia Aurora agradece aos organizadores, aos autores e às autoras do dossiê Fenomenologia, Mundo, Oikologia pelo cuidadoso trabalho de curadoria e pela oportunidade de participar desta instigante interlocução. A pluralidade de abordagens presentes nos textos reunidos evidencia a vitalidade e a abertura do pensamento fenomenológico, reforçando seu compromisso com a ampliação dos horizontes do sentido e com a escuta atenta às múltiplas dimensões da experiência.
Que este dossiê siga inspirando novos encontros, leituras e desdobramentos críticos. Boa leitura!
Prof. Dr. Léo Peruzzo Júnior - PUCPR
Prof. Dr. Jelson Oliveira - PUCPR
Editores
-
Como citar:
PERUZZO JÚNIOR, Leo; OLIVEIRA, Jelson Roberto de. Editorial - Fenomenologia, Mundo, Oikologia. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: Editora PUCPRESS, v. 37, e202533452, 2025. DOI: https://doi.org/10.1590/2965-1557.037.e202533452
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
24 Out 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
02 Set 2025 -
Aceito
02 Set 2025 -
Publicado
04 Set 2025
