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Condutas de risco: dos jogos de morte ao jogo de viver

Risky conduct: from death games to life game

Conductas de riesgo: de los juegos mortales al juego de la vida

RESENHA

Condutas de risco: dos jogos de morte ao jogo de viver

Andréa Márian VeroneseI; Dora Lúcia Corrêa de OliveiraII

IMestre em Enfermagem, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enfermeira do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Membro do Grupo de Estudos em Promoção da Saúde (GEPS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

IIPhD em Educação, Professora do PPGEnf/UFRGS, Coordenadora do GEPS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Endereço da autora Endereço do autor: Andréa Márian Veronese Rua Comendador Castro, 140, Ipanema 91760-200, Porto Alegre, RS E-mail: andreamv@terra.com.br

Le Breton faz uma abordagem sociocultural de condutas de risco(1). O olhar do autor vai de encontro aos discursos e práticas da promoção da saúde, onde é hegemônica a idéia de que risco é algo negativo, um perigo que uma racionalidade, bem aplicada, deve neutralizar. Os promotores embasam-se em cálculos epidemiológicos para ditar comportamentos. Para eles, a prevenção demanda dos sujeitos comportamentos seguros, isentos de fatores de risco. O livro mostra, entretanto, que risco tem uma profusão de significados resultantes de construções coletivas, e que cada sujeito responde à exposição de modo peculiar.

O autor enfatiza que, tanto entre adultos como entre jovens, não existe um arquétipo de quem se arrisca. Uma diferença, apontada por Le Breton, entre condutas de risco de jovens e de adultos é a de que os jovens não possuem a visão fatal e irreversível da morte. O arriscar do jovem provém de pequenas transgressões: mentir para os pais, furtar no supermercado, subir em uma árvore. Outros eventos como a anorexia, a bulimia, a toxicomania e andar de motocicleta costurando o trânsito podem aparecer, nos jovens, como um fascínio pela perda do equilíbrio, como se o solo desaparecesse sob os pés. Daí, o sentimento de vertigem, queda e perda de toda contenção ocorreria em função de um sentimento de insignificância aos olhos dos outros.

O livro exemplifica condutas de risco contemporâneas: atividades esportivas radicais (rafting, escalada, parapente), wilderness (enfrentar a natureza com recursos pessoais em ambientes planejados), tentação ordálica (superação incessante dos limites, como esquiadores que tentam recordes de altitude) e a capacitação outdoor em empresas (transferir, para a empresa, as qualidades esportivas: reconhecer balizas, colaborar com os outros).

O argumento destacado pelo autor partir dos exemplos acima é que arriscar-se pode ser bom e pode ter resultados positivos. Neste sentido, pontua que, nos esportes radicais, são associados o lazer e o prazer, em oposição às atividades físicas baseadas em treinamento e competição. Também seria positivo enfrentar a natureza apenas com os recursos pessoais, o que faria emergir o significado da própria existência. Já a positividade do ordálio estaria no fato de que é possível, sempre, empurrar o limite para mais longe, numa superação sem fim, podendo levar ao autoconhecimento. Quanto à capacitação outdoor, o escritor demonstra ser conveniente, às empresas, utilizar o risco de forma pedagógica para qualificar os seus funcionários.

O autor conclui mencionando que aqueles que se submetem a jogos simbólicos com a morte e a jogos de viver, ao enfrentarem um perigo deliberado ou imposto e saírem ilesos do mesmo, sentem-se poderosos. A partir da conclusão de Le Breton, pode-se considerar que, muitas vezes, os interesses daqueles que atuam na prevenção de riscos podem se contrapor aos interesses dos sujeitos, o que, provavelmente, é causa de muitas das frustrações que envolvem os investimentos promocionais.

A obra pode contribuir para a análise, a crítica e o redirecionamento das ações de promoção da saúde que desconsideram as perspectivas de risco dos sujeitos a quem são endereçadas.

Recebido em: 31/05/2010

Aprovado em: 13/08/2010

  • 1 Le Breton D. Condutas de risco: dos jogos de morte ao jogo de viver. Campinas: Autores Associados; 2009.
  • Endereço do autor:
    Andréa Márian Veronese
    Rua Comendador Castro, 140, Ipanema
    91760-200, Porto Alegre, RS
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Fev 2011
    • Data do Fascículo
      Set 2010
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