Manejo da dor de crianças hospitalizadas: desvelando barreiras sob a perspectiva da enfermagem

Souza, Danton Matheus de; Lestinge, Giovanna Sanches; Carvalho, Joese Aparecida; Rossato, Lisabelle Mariano

doi:10.1590/1983-1447.2024.20230151.pt

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Revista Gaúcha de Enfermagem

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Sumário

Artigo Original • Rev. Gaúcha Enferm. 45 • 2024 • https://doi.org/10.1590/1983-1447.2024.20230151.pt copiar

Manejo da dor de crianças hospitalizadas: desvelando barreiras sob a perspectiva da enfermagem

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivo:

Compreender as percepções da equipe de enfermagem sobre as barreiras no manejo da dor na assistência às crianças hospitalizadas.

Método:

Estudo descritivo-exploratório, com abordagem qualitativa, realizado com oito enfermeiras e sete técnicas de enfermagem. Os dados foram coletados no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, entre junho e setembro de 2022, por meio de entrevistas individuais, analisados sob a ótica da análise temática de conteúdo e à luz do Interacionismo Simbólico.

Resultados:

Emergiram as seguintes categorias: 1) Tradução de conhecimento: o manejo da dor de fato é realizado? e 2)Refletir mudanças:como atingir a potencialidade do manejo da dor? Os profissionais possuem conhecimento teórico sobre o manejo da dor, porém listaram inúmeras barreiras frente a cada etapa, principalmente relacionadas à rotina institucional, e, ao refletirem sobre esse contexto, indicaram a necessidade de um protocolo institucional.

Considerações finais:

As barreiras se sobressaem ao conhecimento teórico, e tornam o manejo da dor às crianças hospitalizadas desconsiderado. Conhecer esse contexto é relevante para aplicar estratégias de mudanças.

Descritores:
Dor; Manejo da dor; Criança hospitalizada; Barreiras ao acesso aos cuidados de saúde; Enfermagem pediátrica

CATEGORIA TEÓRICA: “Tradução de conhecimento: o manejo da dor de fato é realizado?”
Subcategoria: “Avaliação: o mecanicismo de uma avaliação subjetiva”
O que eu percebo é que a avaliação é feita pela nossa experiência do que por uso de escalas. Já olhamos o paciente, vemos que não está com dor, nem aplicamos a escala, já colocamos lá (instrumento) zero. (E1) Quando a criança está em procedimento, vai intubar, e está meio acordada, você percebe que a criança faz movimento de dor, deve ser horrível. Punções venosas também, mas não avaliamos essa dor. [...] não pontuamos essa dor, não anotamos de jeito nenhum. E a criança grita, chora... nenhum tipo de procedimento é anotado a dor que a criança está sentindo... a gente não faz isso. (E3) Uma criança que, na teoria, não teria um diagnóstico, como uma fratura e uma cirurgia, não teria porquê ter dor. (E2) A avaliação é mecânica, no sentido de avaliar apenas se o paciente reclama. (E2) Temos barreiras como a escala profissional, acúmulo de tarefas, a rotina, a alta demanda, a taxa de ocupação alta. Há sobrecarga. (E5) Em sala de emergência, eu nunca vi alguém pensar em dor. (E6) A avaliação da dor ocorre pela experiência, já que antes não tínhamos escalas. (E12)
Subcategoria: “Intervenção: A cultura farmacológica e desvalorização das estratégias não farmacológicas”
Precisamos da avaliação do médico para medicar. Mesmo que provamos que a criança está com dor, que falemos que aplicamos a escala, sempre há a barreira de depender da avaliação clínica, e eles têm dificuldade de medicar. (E1) Há a cultura de que neonatos não sentem dor. [...] quando você diz que a criança está com dor, os pediatras te ouvem mais do que os neonatologistas. (E9) A aplicação das intervenções não farmacológicas vai de cada profissional, mais uma vez da subjetividade. (E1) Eu tenho capacitação em PICS, mas eu me sinto receosa e coagida, porque existe preconceito, principalmente por parte médica. É como se estivesse praticando charlatanismo. Eu sei que aquilo* (PICS) vai ajudar, mas eu fico com medo de alguém ver, qualquer pessoa, e criar uma situação, mesmo que a mãe autorize.* [...] eu tenho medo de ser punida: “Quem mandou você fazer isso? Você não está contratada para isso.” (E6) Como te falei, eu faço acalento, pego no colo, dou carinho, massagem, mas sempre conduta médica. (E15)
Subcategoria: “Reavaliação: intuição é a nova reavaliação?”
A reavaliação é intuitiva, deduzimos que, se parou de chorar, melhorou a dor. Não vamos lá rever, mas vai ter o próximo registro (a cada 4 horas) de que passou a dor. (E1) Nós sabemos que, uma vez que o paciente está com dor, que eu fiz uma intervenção, eu tenho que reavaliar. Temos isso no próprio instrumento, mas não é uma rotina, não há um protocolo, isso é negligenciado. (E1) Não uso escala, vemos se a criança acalmou. Se acalmou, é porque não tem dor. (E15)

CATEGORIA TEÓRICA: Refletir mudanças: como atingir a potencialidade do manejo da dor?

Subcategoria: Caminhando para a solução: ressignificar rotinas aplicando novas rotinas

Acredito que o instrumento precise ser readaptado. (E6) É necessário implementar um treinamento. De como serão feitas as etapas, quando vai fazer. A multiplicação dessa informação. (E7) Eu acho que precisa implementar um protocolo e treinamentos. Isso faz falta, deviam ter esse estimulo. (E3) Eu acho que, no pronto-socorro, as coisas devem ser práticas, não adianta inventarmos protocolos que não agilizem e travem nosso atendimento. Na prática, vai ficar de lado. Deve ser algo prático, como um checklist. Depois de um tempo, podemos adaptar melhor e fazer ele de cabeça por conhecer os passos. (E14)

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[1] Corresponding author:
Danton Matheus de Souza E-mail: danton_souza@usp.br