Acessibilidade / Reportar erro

DICIONÁRIOS INFANTIS DE PEDRO BLOCH: COMPÊNDIOS SOBRE A GRACIOSA SABEDORIA DA CRIANÇA

PEDRO BLOCH’S CHILDHOOD’S DICTIONARIES: COMPENDIUMS ABOUT THE CHILD’S GRACEFUL WISDOM

Resumo

Na segunda metade do século XX, o médico foniatra e escritor Pedro Bloch (1914-2004) publicou livros infantis e tratados sobre a voz e a fala de crianças. Bloch ouvia os pequenos e registrava suas interpretações do mundo, que soavam engraçadas. Neste artigo analisamos como fontes seus dois dicionários infantis (1998 e 2001), partindo da hipótese de que eles marcam o surgimento de uma nova posição da criança na cultura e na sociedade, na qual ela passa a exercer papel de interlocutora legítima. Metodologicamente nossa leitura se escora no ideário de autores como R. Darnton, J. Huizinga, R. Williams e, especialmente, da História cultural do humor de J. Bremmer e H. Roodenburg, que apostam na comicidade como chave para a compreensão de fenômenos históricos e culturais, o que concluímos ter ocorrido nesses volumes que consideram o posicionamento infantil e apontam a possibilidade de uma nova escrita da história da criança.

Palavras-chave:
Criança; dicionário; história; humor; Pedro Bloch

Abstract

In the second half of the twentieth century, the medical doctor and writer Pedro Bloch (1914-2004) published children’s books and treatises on the voice and speech of children. Bloch listened to the children and recorded their interpretations of the world, which sounded funny. In this article we take as sources their two children’s dictionaries (1998 and 2001), starting from the hypothesis that they mark the emergence of a new position of the child in culture and society, in which it takes on the role of legitimate interlocutor. Methodologically, our reading is based on the ideas of authors such as R. Darnton, J. Huizinga, R. Williams and especially the Cultural history of humor by J. Bremmer and H. Roodenburg who focus on comedy as a key to understanding historical and cultural phenomena, which we concluded to have occurred in these volumes, which consider the positioning of children and point to the possibility of a new writing of the history of the child.

Keywords:
Child; dictionary; history; humour; Pedro Bloch

Ingressando na cosmologia da criança

...Um homem de letras Dizendo ideias Sempre se inflama.

(PERES, Sandra & TATIT, Luiz. Gramática)

Desde a segunda metade do século XX, no Rio de Janeiro, o médico foniatra e escritor Pedro Bloch (1914-2004) realizou um importante trabalho no sentido de resgatar a voz de seus pacientes pequenos tanto no sentido literal, ao ajudá-los em suas dificuldades na fala, como no sentido social, ao reconhecê-los como sujeitos interlocutores legítimos, donos de uma sabedoria original. Para divulgar seu “achado” passou a escrever e publicar enunciações infantis que revelavam aquelas originais interpretações do mundo, primeiro nas revistas Manchete e Pais & Filhos e, desde 1960, em livros de anedotas (anedotários) a respeito de elocuções de crianças (RODRIGUES, 2018RODRIGUES, Camila. Pedro Bloch: um escutador da graça das crianças. Childhood & Philosophy, vol. 14, n. 29, Rio de Janeiro, jan.-abr. 2018, p. 109-128., p. 114-19). 1 1 Cf. RODRIGUES, Camila. Pedro Bloch: um escutador da graça das crianças. Childhood & Philosophy, vol. 14, n. 29, Rio de Janeiro, jan.-abr. 2018, p. 114-19. Embora Bloch tenha escrito muitos livros de ficção para a meninada e até seja reconhecido como autor de literatura infantil (COELHO,1995COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira: séculos XIX e XX. São Paulo: Edusp , 1995. , p. 933), 2 2 COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira: séculos XIX e XX. São Paulo: Edusp, 1995, p. 933. para abordar a problemática da história cultural do humor, neste artigo trataremos de dois compêndios sobre humor e crianças que publicou na virada do século XX para o XXI, o Dicionário de humor infantil (1998) e o Dicionário de anedotas: de crianças para adultos (2001), nos quais estão aglutinadas as melhores definições do mundo recolhidas por Bloch. Nossa hipótese principal centra-se na problematização do riso como intermediário cultural entre a meninada e os adultos, com o objetivo de destacar uma nova sensibilidade em relação à criança como sujeito legítimo de interlocução em todo o século XX, (BENJAMIN,2015BENJAMIN, Walter. A hora das crianças: narrativas radiofônicas de Walter Benjamin. Tradução de Aldo Medeiros. Rio de Janeiro: NAU, 2015.) 3 3 BENJAMIN, Walter. A hora das crianças: narrativas radiofônicas de Walter Benjamin. Tradução de Aldo Medeiros. Rio de Janeiro: NAU, 2015. tendência que teria atingido seu auge a partir de sua segunda metade, período da produção bloquiana.

Como toda a história cultural (BONNELL;HUNT;BIERNACKI, 1999BONNELL, Victoria E.; HUNT, Lynn; BIERNACKI, Richard. Beyond the cultural turn: new directions in the study of society and culture. Berkeley: University of California Press, 1999.), 4 4 BONNELL, Victoria E.; HUNT, Lynn; BIERNACKI, Richard. Beyond the cultural turn: new directions in the study of society and culture. Berkeley: University of California Press, 1999. a modalidade referente aos estudos sobre o risível também nasceu da desconfiança em relação aos grandes esquemas rígidos propostos pelo historicismo. Trabalhando com a impossibilidade de construir um todo, tais estudos apostam no fragmento, nos projetos interrompidos esquecidos ou em vias de esquecimento. Na intenção de contribuir com a constante renovação historiográfica, neste artigo sobre o cômico relacionado a crianças na produção de Pedro Bloch no século XX, nos propomos a interpretar fontes originais e ricas para os estudos na área da história cultural do humor brasileiro, pois acreditamos que tal material pode problematizar processos e práticas humanas referentes à comicidade e, com isso, construir novos sentidos e significados para uso histórico-social.

Alertamos, de antemão, que nossas fontes são fragmentadas e de difícil interpretação, dada a compreensão de que o tema humor é mais amplo e não se reduz a conceitos inflexíveis ou a teorias rígidas. Assim, para enfrentar aqui o desafio de examinar fontes humorísticas, utilizamos um procedimento sugerido por E. T. Saliba e que corresponde a uma “subjetividade epistemológica combinada e controlada com uma rigorosa objetividade metodológica”, (SALIBA,2018SALIBA, Elias Thomé. Crocodilos, satíricos e humoristas involuntários: ensaios de história cultural do humor. São Paulo: Intermeios; Programa de Pós-Graduação em História Social, USP, 2018. (Coleção Entr(H)istória), p.10) 5 5 SALIBA, Elias Thomé. Crocodilos, satíricos e humoristas involuntários: ensaios de história cultural do humor. São Paulo: Intermeios; Programa de Pós-Graduação em História Social da USP, 2018, p. 10. ou seja, para interpretarmos nossos verbetes/anedotas, podemos lançar mão de um variado grupo de debatedores, mas sempre moderados pelos limites do que está expresso na mensagem analisada.

Neste artigo, através do registro de graciosas expressões infantis escritas, organizadas e publicadas por Pedro Bloch, vamos sondar o nascimento e o desenvolvimento de uma nova sensibilidade(WILLIAMS, 1997WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir. In: Idem. Maxismo y literatura. Tradução de Pablo di Masso. Barcelona: Ediciones Península, 1997, p. 150-8. , p. 150-8) 6 6 WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir. In: Idem. Maxismo y literatura. Tradução de Pablo di Masso. Barcelona: Ediciones Península, 1997, p. 150-8. em relação à criança que foi paulatinamente percebida no decorrer do século XX. , Neste processo, o infante não será mais aquele que não fala, .(CASTELLO; MÁRSICO, 2007CASTELLO, Luís Alberto. & MÁRSICO, Claudia Teresa. O oculto nas palavras: dicionário etimológico para ensinar e aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.) 7 7 Etimologicamente, a palavra infância vem do latim in fans que significa “ausência de fala”. CASTELLO, Luís Alberto. & MÁRSICO, Claudia Teresa. O oculto nas palavras: dicionário etimológico para ensinar e aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2007 mas o que poderá expor de forma oral a sua sabedoria e esboçar uma narrativa contando sua própria história, (RODRIGUES, 2016RODRIGUES, Camila. A hora da história das crianças. Revista História da Historiografia, vol. 22, Ouro Preto, Rio de Janeiro, 2016, p. 289-294., p. 289-294) 8 8 RODRIGUES, Camila. A hora da história das crianças. Revista História da Historiografia, vol. 22, Ouro Preto; Rio de Janeiro, 2016, p. 289-294. ainda que de maneira cômica.

Uma questão extratexto que pode ser interessante para iniciarmos nosso estudo crítico sobre esses dicionários é perguntarmos quem eram as crianças com as quais Bloch dialogava. Embora sua coleção de ditos espirituosos de meninos e meninas contasse com contribuições de crianças em geral, a maior parte delas tinha sido mesmo recolhida em consulta com seus pacientes. Durante toda sua vida de médico, ele atendeu em seu consultório particular em um bairro nobre do Rio de Janeiro e daí presumirmos que, normalmente, as crianças que eram suas pacientes faziam parte da classe média ou abastada carioca. Mas como ele era uma referência médica em sua época, acabou sendo procurado por famílias do Brasil todo para cuidar de problemas de fala infantil e isso fica sugerido quando ele conta, em seus livros, algumas histórias de crianças de diversos lugares(Cf. BLOCH, 1963BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma. Rio de Janeiro: Biblos, 1963., p. 162; BLOCH,1980BLOCH, Pedro. Criança é isso aí. Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1980., p.59; BLOCH, 1970BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1970., p.123) 9 9 Cf., por exemplo, BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma! Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1963, p. 162; Idem. Criança é isso aí. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1980, p. 59 e Idem. Essas crianças de hoje. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1970, p. 123. que o procuraram por estarem com problemas de gagueira ou outras complicações fonoaudiológicas. (BLOCH,1958BLOCH, Pedro. O problema da gagueira. Rio de Janeiro: Brasiluso, 1958. (Coleção Fala), p. 59,79; BLOCH, 1970BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1970., p. 123)10 10 Cf. BLOCH, Pedro. O problema da gagueira. Rio de Janeiro: Brasiluso,1958, p. 59, 79 e Idem. Essas crianças de hoje!, op. cit., 1970, p. 123. De qualquer forma, o perfil geral das crianças abordadas no plano de Bloch correspondia a uma meninada cujas famílias eram compostas por pessoas inseridas na cultura letrada, o que pode limitar a abrangência de seu projeto, ainda que considerando seu grau de pioneirismo na ideia de inserir a meninada no diálogo social no Brasil.

Além de conversar com seus pacientes para recolher traços da mente infantil, Bloch também defendeu a prática do diálogo com crianças entre seus conhecidos adultos - em geral pessoas reconhecidas no teatro, literatura e televisão -, aventando que criassem o hábito de ouvir os pequenos e narrassem a ele as tiradas proferidas por suas crianças e, assim, experimentassem o contato revelador com a percepção daqueles seres que continuamente estão ao redor, mas sempre apreendem o entorno de modo diverso.

O fato de as crianças atendidas por ele serem financeiramente bem estabelecidas não significava que elas se sentissem seguras para expressar suas vozes e falar fluentemente. Longe disso. Bloch percebia que elas apresentavam problemas de comunicação básicos, advindos de sua não inserção no diálogo com outros ao seu redor, por isso ele recomendava:

Só se aprende a falar ouvindo, participando do meio ambiente. (...) Hoje, mais do que nunca é preciso ouvir a criança, estabelecer diálogo com ela, mesmo que ela ainda não se comunique por palavras. Quando temos a sorte de lidar com criança sem maiores problemas, então, é indesculpável que não se lhe faça brotar o que tem de mais importante, mais rico, mais valioso: - a palavra, cada vez mais significativa, cada vez dizendo mais, cada vez traduzindo melhor o que vai na mente, o que vai no sentir. (BLOCH, 1980BLOCH, Pedro. Criança é isso aí. Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1980., p. 4-5) 11 11 BLOCH, Pedro. Criança é isso aí, op. cit., 1980, p. 4-5.

Embora inicialmente as ideias de Bloch estivessem centradas em inquietações médicas, podemos ampliar nossa visão sobre elas lembrando que, ao resgatar a capacidade de expressão oral infantil e reforçar o processo de subjetividade da criança, ele acabava inserindo aquelas vozes no diálogo público, permitindo que suas opiniões também pudessem ser consideradas socialmente, ainda que sempre em processo de negociação com as estruturas dominantes para expressar e garantir sua autonomia. (TOURAINE, 1984TOURAINE, Alain.O retorno do actor: ensaio sobre sociologia. Tradução de Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1984. (Coleção Economia e Política) , p.9) 12 12 TOURAINE, Alain.O retorno do actor: ensaio sobre sociologia. Tradução de Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1984, p. 9. Mas se estas questões sociológicas são pertinentes a nós, intérpretes sociais, para Pedro Bloch o mais encantador era mesmo a aproximação do universo da criança, (Cf. OLARIETA,2017OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças: um trabalho sobre o excesso das palavras. Childhood & Philosophy, vol. 13, n. 26, jan.-abr. 2017, p. 21-34. , p.21-34) 13 13 Cf. OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças: um trabalho sobre o excesso das palavras. Childhood & Philosophy, vol. 13, n. 26, jan.-abr. 2017, p. 21-34. tanto que em um de seus primeiros livros sobre falas infantis ele explica que seria importante para o adulto ouvir as palavras ditas pelos pequenos ao seu redor, pois nelas o que se percebe “são pedacinhos de alma dessa criança”. (BLOCH, 1963BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma. Rio de Janeiro: Biblos, 1963., p. 15) 14 14 BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma, op. cit., 1963, p. 15. Colher tais manifestações pode nos apontar o momento quando aquele “cerebrozinho começou a olhar o mundo, a descobrir coisas, criar, a dizer coisas inesperadas, a fazer comentários imprevisíveis, a definir, a ser gente”. (BLOCH, 1977BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1977., p.7) 15 15 BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos! Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1977, p. 7.

Mesmo reconhecendo a importância da expressão verbal na construção da subjetividade da criança, Bloch sabia que o precioso mesmo seria tentar facilitar a conversação entre elas e os adultos, por isso pensou bastante sobre como se operava esse ruído e até mesmo tentou uma definição de humor a partir do diferencial observado nas elocuções da meninada:

...o humor infantil, o que a criança diz, tem características tão próprias, tão originais, tão suas, que os referenciais do adulto não conseguem fixar com facilidade. Essa originalidade faz com que o diálogo de adulto e criança mixe tantas vezes. Falam línguas diferentes. (...) É que as palavras, as mesmas palavras, significam coisas diferentes para um e outro. (BLOCH, 1980BLOCH, Pedro. Criança é isso aí. Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1980., p. 111-2) 16 16 BLOCH, Pedro. Criança é isso aí, op. cit.,1980, p. 111-2.

Foi a partir desta descoberta que, sintetizando anos de experiência em dialogar com crianças, Bloch escreveu os dois dicionários de expressões infantis que aqui analisaremos, (BLOCH,2001ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
) 17 17 BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição ilustrada. Ilustrações: Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998 e Idem. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. inserindo suas colocações no mundo dos compêndios organizadores do saber universal e, portanto, na epistemologia; é sobre eles que tratamos neste artigo.

A sabedoria da criança e a história

Em 1977 Pedro Bloch publica mais um de seus livros contendo falas de crianças. Nele nos revela: “aqui vai o que aprendi com a menininha Edith (...) que me diz que sabe explicar tudo, mas, às vezes, só faltam as palavras”. (BLOCH, 1977BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1977., p. 141) 18 18 BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos!, op. cit., 1977, p. 141. Podemos olhar esta citação a partir de pelo menos dois pontos de vista: o primeiro está centrado na substância da fala da pequena Edith que, apesar da dificuldade na plena expressão vocabular, manifesta a certeza de certo saber próprio sobre o mundo, adquirido de forma independente da ótica verbal e didática do adulto. Por outro lado, temos a posição assumida pelo médico da fala em relação àquele saber que “aprendeu” com a menininha e que reconhece ser diverso do seu, (Cf. OLARIETA, 2017OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças: um trabalho sobre o excesso das palavras. Childhood & Philosophy, vol. 13, n. 26, jan.-abr. 2017, p. 21-34. ,p.21-34) 19 19 Cf. OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças..., op. cit., 2017, p. 21-34. flagrando um instante em que o contraste entre ambas as perspectivas pode lhe revelar novos olhares sobre o mundo e a vida.

Afora sua prática como médico, dentre outras atividades, o hábito de ouvir os “pirralhos” (BLOCH, 1970BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1970., p. 22) 20 20 BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1970, p. 22. foi algo que muito lhe cativou, como o próprio chegou a declarar: “os ‘achados’ da criança sempre me empolgaram”. (BLOCH,1998BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a., p.13)21 21 BLOCH, Pedro.A sabedoria da criança: você conhece seu filho ? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a, p. 13. Além de escutar e tomar nota, o doutor também transformou aquelas enunciações em registros escritos que foram publicados em revistas de posse de sua família e depois sintetizados em livros. Desde o seu primeiro momento, a divulgação dos resultados da operação de incitar e manter diálogo com crianças teve, para ele, uma função terapêutica. Isso fica claro já em sua primeira publicação, (BLOCH,1958BLOCH, Pedro. O problema da gagueira. Rio de Janeiro: Brasiluso, 1958. (Coleção Fala)) 22 22 BLOCH, Pedro. O problema da gagueira, op. cit., 1958. na qual destaca que tantos problemas de linguagem enfrentados por seus pequenos pacientes poderiam ter sido evitados caso os pais e outros adultos conhecessem melhor a lógica infantil de seus filhos, ao invés de apenas criticar seu modo diverso de pensar.

Ampliando a análise, se tomarmos aquelas produções textuais como fontes históricas, destacamos que elas desenham faces do ponto de vista infantil sobre a existência. Entrando em contato com esses textos, o historiador da infância se aproxima de uma percepção do que foi apreendido no tempo a partir do ponto de vista da criança, algo que até meados do século XX não era primordialmente considerado em seus trabalhos, mas que mostra flashs da percepção dos próprios pequenos sobre si mesmos e em relação a tudo que os cerca. Com a entrada dessa nova voz, pode-se pensar em escrever uma história das crianças(Cf. FREITAS; KUHLMANN, 2002FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância. São Paulo: Cortez Editora, 2002., p.7) 23 23 Como Freitas e Kuhkman Jr definem ser a história das crianças: “a história da relação das crianças entre si e com os adultos, com a cultura e a sociedade”. FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância. São Paulo: Cortez Editora, 2002, p. 7. que seja também contígua das compreensões que os pequenos vão assumindo.(FREITAS; KUHLMANN, 2002FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância. São Paulo: Cortez Editora, 2002., p.7) 24 24 Ibidem, p. 7.

Além das seções nas revistas e dos livros sobre seu diálogo com crianças, Pedro Bloch também inseriu o conteúdo adquirido com a meninada no universo de conhecimento adulto quando escreveu dicionários de expressões infantis que são legítimos veículos de intermediação cultural. Na Copacabana da segunda metade do século XX, Bloch foi um homem bem relacionado que conviveu e aglutinou escritores, atores, cantores, artistas em geral e militou com todos para que anotassem e lhe trouxessem as falas ouvidas de crianças. (BLOCH, 1974BLOCH, Pedro. Você tem personalidade? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1974.) 25 25 BLOCH, Pedro. Você tem personalidade? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1974. Podemos, portanto, pensar nele como um intelectual em sua época, daí ser possível aludir a uma herança daquele tipo social que o historiador Robert Darnton, especialista na história cultural francesa no século XVIII, chamou de “homem de letras”: aquele que “sintetizava ideias e pretendia colocá-las em uso, persuadir, propagar e transformar o mundo ao redor”. (DARNTON, 2005DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo. In: Idem. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Cia das Letras , 2005, p. 17-39., p. 19) 26 26 DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo. In: Idem. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Cia das Letras, 2005, p. 19. Por essa ótica, parece lógico que o doutor Bloch tivesse pensado em sintetizar seus conhecimentos sobre aquela nova alteridade apresentada pelas crianças em dicionários próprios para tornar esse saber acessível às “classes instruídas”(DARNTON, 2005DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo. In: Idem. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Cia das Letras , 2005, p. 17-39., p.22) 27 27 Ibidem, p. 22. que, como já adiantamos, correspondiam ao perfil familiar de seus pacientes. É exatamente por esse caminho quase que didático que segue a justificativa que apresentou sobre o motivo de sintetizar expressões infantis na arbitrária forma de dicionário: (Cf. DARNTON, 1986DARNTON, Robert. Os filósofos podam a árvore do conhecimento: a estratégia epistemológica da “Encyclopédie”. In: Idem. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. 5ª edição. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1986, p. 247-276. (Biblioteca de História, 13) , p. 247-276; FOUCAULT, 1999FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das Ciências Humanas. 8ª edição. Tradução de Salma Tannus Muchail. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1999. (Coleção Tópicos), p. 224 ) 28 28 Cf. DARNTON, Robert. Os filósofos podam a árvore do conhecimento: a estratégia epistemológica da Encyclopédie”. In: Idem. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. 5ª edição. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal,1986, p. 247-276 e FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das Ciências Humanas. 8ª edição. Tradução de Salma Tannus Muchail. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1999, p. 224.

A criança é um espanto permanente. Seu dicionário não é o nosso.(Grifo nosso) 29 29 Grifo nosso. Por isso, nem sempre é fácil estabelecer um repertório comum. Falar a mesma língua. (...) Já afirmei que a criança entende mais o adulto que o adulto a infância. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., P.7) 30 30 BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho?, op. cit., 1998a, p. 7.

Vejamos melhor, então, como Pedro Bloch se saiu na empreitada de apresentar a percepção da criança aos adultos nos seus Dicionário de humor infantil (1998) e Dicionário de anedotas: de criança para adulto (2001).

Figura 1
Capa do Dicionário de humor infantil, de Pedro Bloch (1998)BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., com ilustração de Mariana Massarani.

Dicionário de humor infantil (1998)

Em 1998, com então oitenta e quatro anos de idade e depois de ter passado a vida ouvindo tiradas infantis, Pedro Bloch publicou seu Dicionário de humor infantil, 31 31 Este dicionário possui uma página exclusiva no Facebook, contendo grande parte de seus verbetes, no endereço: https://www.facebook.com/pages/Dicion%C3%A1rio-de-Humor-Infantil/170803803059891?pnref=lhc. Acesso em: 30 jul. 2019. com 883 verbetes. Este foi o primeiro volume em que ele manifestou o desejo de reunir um apanhado da percepção das crianças sobre o mundo em um epítome, ou se quisermos, escrever um compêndio infantil. (BUTTI,2007BUTTI, Cassiano. Léxico e cognição: as representações de mundo por meio de designações infantis. Dissertação de mestrado na área de Letras, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2007.)32 32 BUTTI, Cassiano. Léxico e cognição: As representações de mundo por meio de designações infantis. Dissertação de mestrado na área de Letras, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2007. No final da década de 1990 a Bloch Editores, de posse de sua família, ainda estava ativa, mas já apresentando problemas administrativos que a levaria a abrir falência em 2000, o que acabou fazendo com que esse significativo livro acabasse sendo publicado pela Ediouro - antiga Edições de Ouro -, que foi a editora pela qual Pedro já havia publicado muitos de seus livros infanto-juvenis desde a década de 1970. (COELHO,1995COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira: séculos XIX e XX. São Paulo: Edusp , 1995. , P. 933)33 33 COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira..., op. cit., 1995, p. 933.

O volume foi publicado com desenhos da ilustradora de livros infantis Mariana Massarani e, na divertida capa amarela, o título é escrito em azul, em letra de forma, e abaixo vemos um desenho evocando um mundo que, para o adulto, equivale ao universo de interesse da criança, pois se vale de elementos do vocabulário artístico convencionado como infantil. No centro vemos a representação gráfica de um simpático palhaço, a traços bem simples, com as áreas preenchidas de maneira bruta e desordenada, sem domesticação, como se tivesse sido obra de um mirim, e usando uma paleta básica de cores facilmente encontrada em lápis de cor: preto, vermelho e azul. Na fantasia do palhaço, além das sapatanchas vermelhas, o vemos vestindo um macacão com babados azuis no colo e estampado com os títulos dos verbetes do dicionário, escritos de forma caligráfica de quem recém aprendeu a escrever e ainda não experimenta a forma cursiva de escrita, indicando que, naquele dicionário, nada é tão sério assim. Características jocosas, desse modo, também são observadas nas ilustrações no corpo do volume, nas quais vemos largas figuras em preto e branco, vazadas, como se fossem destinadas a um livro para colorir, ou então extraídas de uma ágil história em quadrinhos, mostrando um dos principais diferenciais desse volume: muito mais do que determinar significados universais, ele pretendia sensibilizar a percepção e indicar alterações de direção. Aqui começamos a entender o motivo deste livro não ser apenas um dicionário de crianças, mas sim de humor infantil, pois uma das características constantes das narrativas humorísticas é a de executar a alteração de sentidos e reversão de significados através de saltos mentais que resultam em um sorriso humanizador. (SALIBA, 2002SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Cia das Letras, 2002.) 34 34 SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Cia das Letras, 2002.

Como apresentação inicial do volume, temos um texto intitulado “Definições e outras coisas”, no qual Bloch começa assumindo a importância dos ditos infantis:

Sempre me assombrou o fato de que o que as crianças me diziam, quando solicitadas com compreensão e ternura, era bem mais inteligente, curioso e engraçado do que os livros internacionais de “citações” apresentavam em milhares e milhares de suas frases. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985.,p.9) 35 35 BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 9.

Ao comparar as enunciações infantis a breviários mundiais, Bloch coloca, inquestionavelmente, aqueles entendimentos dos mirins para concorrerem no grupo da sabedoria universal, de maneira que ele mesmo justifica: “colher esse material, provocá-lo, anotá-lo e difundi-lo passou a ser um hábito, quase vício”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985.,p.9) 36 36 Ibidem, p. 9. Então, naquele volume, estavam reunidas as melhores “definições”, “observações”, “criações de todo gênero”, retiradas de conversas com crianças e também de “contribuições de pais, amigos, leitores e pessoas que sabem ouvir a criança”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a.,p.10) 37 37 Ibidem, p. 10. No que se refere ao perfil dos pequenos que contribuíram diretamente para aquele léxico, o autor explica que a maioria deles estava entre os três e os nove anos de idade, embora ele tenha preferido, naquela publicação, não delimitar a idade do pequeno autor de cada dito, pois julgou que isso não contribuiria para maior aprofundamento. Nota-se que, ao não especificar dados pessoais das crianças, como nome e idade, juntamente a cada colaboração, Bloch poderia ter dado a elas uma importância generalizadora, como se aquelas definições representassem o posicionamento geral das crianças sobre os termos. Isso até seria tolerável em um léxico comum, porém naquele dicionário é diferente, pois muitos vocábulos são definidos diversas vezes, o que flexibiliza os significados. Ainda na apresentação, Pedro Bloch diz que aquela é uma leitura para “crianças e adultos” e chega até a sugerir que ela pudesse ser usada em salas de aula, (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a.,p.11) 38 38 Ibidem, p. 11. servindo de estímulo para incitar outras crianças a também exprimirem suas próprias citações originais, ou seja, dando continuidade ao seu projeto de inserir a criança no mundo dialógico e social.

Em relação aos verbetes, como se trata de um dicionário atípico, nem sempre Bloch obedece rigorosamente aos métodos tradicionais da lexicografia. (BORBA, 2003APUD, Adriana. Participación infantil. In: Enredate con Unicef, s. d. Disponível em: http://www.sename.cl/wsename/otros/unicef.pdf. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.sename.cl/wsename/otros/unice...
) 39 39 BORBA, Francisco da Silva. Organização de dicionários: uma introdução à lexicografia. São Paulo: Edusp, 2003. Afinal, ele se propõe a abordar um campo tão curioso e até então quase que inexplorado sintetizando ditos tão peculiares, que acaba se permitindo certas liberdades, todas elas relacionadas ao método de coleta das falas de crianças. Para exemplificar que estava pensando em uma nova gramática a partir das apreensões infantis, ainda que ali os termos também estejam dispostos em ordem alfabética como em toda publicação deste tipo, reparamos que não existem termos iniciados com a letra K e que certamente isso não aconteceu porque naquela época ela não fazia parte do alfabeto oficial da língua portuguesa. Afinal, nessa mesma situação, também estavam as letras W e Y que receberam definição ou observação das crianças e por isso são contempladas no vocabulário :“W: São dois vês que nasceram gêmeos”, (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p,177) 40 40 BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 177. e “Y: “É uma letra que nem precisava existir”. (BLOCH, 1998, p,185) 41 41 Ibidem, p. 185. Assim vemos que a principal preocupação desse dicionário era mesmo valorizar o que e como, no universo de apreensão infantil, tinha ou não significado. Se o desejo de Pedro Bloch era encorajar as crianças a falarem mais sobre sua interpretação do mundo, para mostrar o quanto elas podem explicar as coisas de forma muito diferente daquela que os adultos tentam lhes impor(Cf.BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a., p. 2-7) 42 42 Cf. Ibidem, p. 2-7 , em um volume publicado no mesmo ano do Dicionário de humor infantil, o foniatra comenta sucintamente o método utilizado para obter das crianças tantas definições do mundo em seu consultório, onde a comunicação oral era meta principal: “é no diálogo permanente, no lúdico constante, com desenhos, brinquedos e bom humor que conseguimos colher tanta coisa”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p,7) 43 43 BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho?, op. cit., 1998a, p. 7.

No que se refere especificamente às brincadeiras verbais, no dicionário flagramos alguns registros de charadas e enigmas que tradicionalmente são apresentadas às crianças para fazê-las refletir sobre a forma com a qual o mundo adulto em que vivem está organizado. O mais interessante a ser observado é que, nesses registros de jogos conhecidos como adivinhas - nas quais existe uma pergunta enigmática e uma resposta clássica que geralmente é amplamente conhecida -, as crianças podem até saber as respostas “corretas”, mas isso não significa que elas a assimilam assim, pois o que elas fazem é ressignificar completamente o desafio, tornando-o ainda mais divertido: “Adivinhação: Uma coisa que tem cabeça e não fala, parece alfinete, né? Não é não. É leão”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p,17) 44 44 Ibidem, p. 17.

Ainda com a preocupação de abrir o portal para o admirável universo infantil através de jogos orais com as crianças, e muito inspirado nas dinâmicas dos seus enigmas verbais, nesse dicionário especial são criadas algumas categorias próprias como testes. Nestes, aparece uma pergunta provocadora do adulto que, diferente das charadas, não possui respostas “corretas”, deixando que as resoluções saiam livremente da mente infantil, porque meninos e meninas, como escreveu Bloch, “conseguem responder ao que muitos adultos não logram. Encontram saída em becos sem saída”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p.11) 45 45 Ibidem, p. 11.

Um teste apresentado no volume é: “Barco: - Você está num barco com seu pai e sua mãe. Só você sabe nadar e só pode salvar um deles. Quem você salvaria?”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p.29) 46 46 Ibidem, p. 29. A essa indagação, constam no dicionário onze respostas que, forjando um debate de ideias entre Bloch e as crianças, dividimos em três grupos. As primeiras quatro elencadas no volume apresentam reações mais imediatas, mas cada uma de forma diferente: “Eu salvo quem estiver mais perto”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 47 47 Ibidem, p. 29. ou então invocam forças transcendentes: “Eu rezo”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29)48 48 Ibidem, p. 29. ou procuram decidir usando atividade comum às crianças, que é o jogo: “Eu salvo quem for mais leve. Eu tiro cara ou coroa” (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 49 49 Ibidem, p. 29. ou simplesmente procuram se enquadrar na lógica comum: “Eu viro o barco e mando segurar”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 50 50 Ibidem, p. 29. Além destas, temos as respostas que tentaram incorporar a situação às possibilidades e impossibilidades da sua vida real: “Quando papai tiver dinheiro pra comprar esse barco eu respondo”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.30) 51 51 Ibidem, p. 30. ou mesmo relacionadas às fragilidades físicas infantis: “Nunca saio de barco com papai e mamãe. Eu enjoo”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 52 52 Ibidem, p. 29. ou que acreditam na compreensão adulta a respeito das suas eventuais inabilidades técnicas: “Você pensa que meu pai é burro? Ele sabe que eu não sei nadar”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 53 53 Ibidem, p. 29. Por fim, o grupo de respostas mais instigante para nosso objetivo de abordar a especificidade da sabedoria da criança a partir da apreensão que ela possui de si própria, é o que apresenta reações questionadoras em relação ao desafio: “Isso é pergunta que se faça a uma criança?”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 54 54 Ibidem, p. 29. ou até duvidando da inteligência adulta: “Eu só queria saber quem foi o burro que fez esta pergunta”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 55 55 Ibidem, p. 29. ou destacando seu próprio saber infantil: “Um cara inteligente como eu nem responde a um teste tão bobo como este”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.29) 56 56 Ibidem, p. 29. e, finalmente, uma reação mais enérgica e irritada com o fato de ser submetido a tantas perguntas: “Se isto é teste, eu boto cruzinha; se é só pergunta... eu xingo”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.30) 57 57 Ibidem, p. 30.

Outro teste desafiador registrado neste dicionário é: “Deserto: - Você está no deserto com seu melhor amigo e só tem um gole de água que pode salvar a vida de um dos dois. Você dava ou bebia?”. Para este desafio Bloch nos relatou dez respostas que também dividimos em três grupos: temos as mais amistosas: “Eu mandava meu amigo escolher”; (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p.52) 58 58 Ibidem, p. 52. ou mesmo: “Dava pro meu amigo. Eu nem estou com sede”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 59 59 Ibidem, p. 52. Há também as que refletem sobre as possibilidades e impossibilidades da vida infantil diante do cenário apresentado pelo desafio: “Eu respondo, mas primeiro você vai me explicar como é que eu fui parar nesse deserto. E como foi que meus pais deixaram eu ir”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 60 60 Ibidem, p. 52. ou mesmo as que apostam em saídas mirabolantes: “Eu procurava um oásis”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 61 61 Ibidem, p. 52. ou então: “Eu cavava um poço”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 62 62 Ibidem, p. 52. Correspondendo à metade das respostas, temos as questionadoras: “Quem foi que disse que um gole de água pode salvar a vida de alguém?”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 63 63 Ibidem, p. 52 ou então: “Eu não dava nem bebia. Com aquele calorão a água já evaporou faz tempo”; (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 64 64 Ibidem, p. 52. ou mesmo “Naquele calorão não dá pra salvar ninguém”; (BLOCH, 1998, p.52) 65 65 Ibidem, p. 52. ou ainda: “Um gole? Se não encontrar logo, logo um oásis, está frito junto com seu amigo”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52) 66 66 Ibidem, p. 52. Por fim, uma última resposta definitiva, a qual nenhum adulto pode retrucar: “Eu nem quero entrar nessa história, tá?”. (BLOCH, 1998BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998., p.52)67 67 Ibidem, p. 52.

Daí vemos que, em tantos retornos aos testes assinalados, para a metodologia de registro de Pedro Bloch é fundamental que a criança tenha chance de reagir livremente e, com isso, muitas vezes somos levados a concordar com ele quando afirmou, em citação acima, que a garotada possui uma noção mais clara da diferença cultural entre ela e o adulto.

Isso aparece, por exemplo, na relação descomprometida que elas mantêm com compêndios organizadores de saber, por exemplo: “Dicionário: É um livro que tem tanta palavra, que tem palavra que você pensa que nem existe”.68 68 (BLOCH, 1998, p.55). Para meninos e meninas de pouca idade e ainda não amplamente envolvidos intelectualmente, e tão somente comprometidos com o mundo e a vida, tantos termos assim, com seus significados rígidos, não existem mesmo, pois não possuem maiores acepções. Para a criança, o fato de eles fazerem parte de um léxico não lhes atribui maior valor.

Embora de maneira diversa, quem pensou a relação entre a meninada e os dicionários foi o filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) que, entre 1920 e 1926, quando trabalhou como alfabetizador infantil em uma aldeia na Áustria, compôs o inovador Dicionário ortográfico para escolas primárias, com a participação ativa dos alunos elencando os termos que mais usavam em seu cotidiano e as definições que davam a eles. Para o filósofo um dicionário tradicional não seria ideal para a utilização dos pequenos, já que ele era muito grande para o manejo, “contém uma grande quantidade de palavras que a criança nunca usa (...) e, por outro lado, não contém muitas palavras que seriam necessárias às crianças”. (WITTGENSTEIN, apud REIS, 2010REIS, Maria Fernanda de Moura. O dicionário para escolas primárias de Ludwig Wittgenstein e a virada linguística. Dissertação de mestrado em Educação, USP, 2010.,P. 133) 69 69 WITTGENSTEIN, Ludwig. Prefácio. In: REIS, Maria Fernanda de Moura. O dicionário para escolas primárias de Ludwig Wittgenstein e a virada linguística. Dissertação de mestrado em Educação, USP, 2010, p. 133. Além disso, a organização dos vocábulos em um dicionário adulto não seria boa opção para a utilização dos infantes, pois a “ordem alfabética demanda muito poder de abstração da criança”. (WITTGENSTEIN, apud REIS,2010BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.,P. 137)70 70 Ibidem, p 137. Mas os mirins, por sua vez, parecem possuir uma compreensão mais avançada da importância que os compêndios assumem para a cultura adulta, como observamos em uma das várias definições de “adulto” apresentadas por Pedro Bloch, na qual um infante mostra que conhece a saída comum de gente crescida para quando lhe surge qualquer dúvida: “Adulto: É uma pessoa que sabe tudo, mas quando não sabe diz logo: ‘veja na enciclopédia’”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p.17) 71 71 BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 17.

De qualquer forma, a sabedoria da criança já estaria representada no mundo dos grandes compêndios apenas com esse dicionário, porém, poucos anos depois, Pedro Bloch voltaria a sintetizar sua coleção de ditos infantis em outra súmula da qual trataremos agora.

Figura 2
Capa do Dicionário de anedotas: de crianças para adultos, de Pedro Bloch (2001)BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos. Rio de Janeiro: Revinter, 2001..

Dicionário de anedotas: de crianças para adultos (2001)

Se em boa parte do século XX o foniatra Bloch trabalhou na divulgação das interpretações do mundo construídas pelas crianças, logo no começo do novo século, então com oitenta e sete anos de idade, nos apresentou mais um compêndio da sabedoria infantil, o seu Dicionário de anedotas: de crianças para adultos, com 754 verbetes. Da mesma forma que a primeira publicação bloquiana foi por um selo editorial de foniatria, (BLOCH, 1958) 72 72 BLOCH, Pedro. O problema da gagueira, op. cit., 1958. muitos anos depois, este compêndio - que acabaria sendo um dos seus últimos livros - também foi publicado pela editora de livros médicos Revinter.

Muito provavelmente, por ter novos editores, inicialmente o volume se mostra muito diferente do divertido dicionário de humor, já que parece ter se enquadrado no projeto editorial básico da Revinter e, por isso, é mais sisudo, com capa em tons de azul escuro e dourado, mas sem ilustrações ou cores vibrantes, indicando que tínhamos em mãos um volume mais voltado para reflexões científicas, do que ocupado em apontar manifestações cômicas. Mas a impressão de total severidade é um pouco amenizada logo na introdução da obra, na qual Pedro Bloch é mais conciso, tanto que podemos citá-la quase que integralmente:

Não é um dicionário, a não ser pela ordem alfabética das dezenas e dezenas de coisas divertidas, pensamentos, definições e mil coisas mais, que brotam da mente infantil e que divertem os adultos. Cada um desses itens encerra o ponto de vista que a criança tem da vida, dos pais, da escola, do comportamento, do mundo. Quase tudo que aí está faz rir, sentir e pensar.

Não são coisas inventadas, mas vividas e proferidas por crianças. (BLOCH, 2001ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
,s,p.)
73 73 BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos. Rio de Janeiro: Revinter, 2001, s/p. Grifo nosso.

Nesta apresentação, chama a atenção que Bloch comece alertando que, ao contrário do que diz o título, o que segue ali não corresponde propriamente a um dicionário, o que acaba dispensando-o do compromisso de ser um compêndio e de dialogar, de alguma forma, com toda a história da sabedoria universal, embora ali ainda se encontre um rico material que versa sobre os mesmos temas dos verbetes do Dicionário de humor infantil: ambos desenham faces das vivências e percepções das crianças. Uma diferença importante é que, ao invés de breves verbetes em forma de nota ou apontamento, temos um grupo de anedotas narradas por Bloch que ali compõem um anedotário.

Como anedota, em primeira instância, entendemos qualquer narrativa curta de um fato jocoso ou curioso, mas o termo também é sinônimo de piada. Em relação a estas que estamos tratando, elas são breves narrativas mesmo, diferentes da forma dos verbetes do primeiro dicionário, e todas elas possuem títulos que estão dispostos em ordem alfabética. Também em relação ao livro de 1998, cabe destacar outra diferença: aqui algumas crianças são nomeadas e, não raro, aparecem suas idades, o que acaba afastando um pouco a possibilidade de generalizações.

É importante destacar que, neste volume, tratamos de anedotas. Este gênero narrativo pode sintetizar anos de imaginário, contrastes e rupturas, combatendo cristalizações. Historiograficamente, a anedota é uma narração que sempre foi tomada como “artigo descartável”, que só poderia ser eventualmente tolerada pelos historiadores. Porém, com o auge da crise dos paradigmas no século XX, ela foi associada à ruptura e incorporada por “aqueles [historiadores] dentre nós que queriam interromper as Grandes Histórias (...) introduzindo uma pausa ou mesmo um lapso no limiar da história”. (GALLAGHER; GREENBLATT, 2005GALLAGHER, Catharine & GREENBLATT, Stephen. Contra-história e anedota. In: Idem. A prática do novo historicismo. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. Bauru: Edusc, 2005, p. 59-88. (Coleção História),P. 59) 74 74 GALLAGHER, Catharine & GREENBLATT, Stephen. Contra-história e anedota. In: Idem. A prática do novo historicismo. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. Bauru: Edusc, 2005, p. 59. (Coleção História) Essa “pausa” ou “lapso” também pode ser um salto de percepção, a mesma reação buscada pelas narrativas humorísticas para provocar o sorriso, o que as enunciações infantis efetuam todo o tempo, provocando, não raramente, o riso em adultos.

Se neste artigo procuramos problematizar como se opera a relação humana com as maneiras de acumulação e organização de saberes, nos dicionários temáticos de Bloch, que tratam do mundo infantil, parece-nos mais interessante destacar as visões que as crianças expressam sobre a relação entre os adultos e seus compêndios, pois isso pode apresentar momentos nos quais o choque cultural estabelecido entre crianças e adultos se opera claramente, como nesta anedota em forma de diálogo:

Cultura

- Eu tinha uma professora que, toda vez que eu ia fazer uma pergunta, me dava a maior espinafração.

- Por quê? Você perguntava besteira?

- Até pensei isso. Depois é que descobri que ela mandava eu ver na enciclopédia ou no dicionário porque ela é que não sabia.

Leonardo contava isso desolado. Quando pensei que ele tinha encerrado o assunto, disse baixinho:

- É, Pedro Bloch. Foi aí que descobri uma coisa.

- Que foi?

E ele, de cara fechada:

- Descobri que “ignorância também é cultura”. (BLOCH,2001ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, p.53) 75 75 BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos, op. cit., 2001, p. 53.

Neste apontamento é de se notar não apenas o alto grau de proximidade entre Pedro Bloch e o menino Leonardo, já que a anedota indica que a criança sentiu-se à vontade para narrar a ele uma descoberta incômoda que havia feito sobre o conflito cultural no qual estava envolvido: Leonardo sofre, fica “de cara fechada” porque descobriu que nem sempre os adultos agem lealmente em relação ao seu próprio conhecimento e desconhecimento, mas, de qualquer forma, sempre se colocam acima da compreensão infantil. No registro detalhado desta conversa, Bloch destaca sua tentativa de respeitar os tempos da criança em expressar sua apreensão do mundo. Por isso, ainda que sejam reescritas por ele - até usando termos complicados como “espinafração” -, destacamos que as falas do diálogo não foram parafraseadas de forma linear, mas foi mantido o ritmo do diálogo e, na última linha, vemos até uma fala direta, expressa, entre aspas, de Leonardo a Bloch, na qual ouvimos propriamente a voz da criança registrada por um adulto que desejou ouvi-la, na intenção de se aproximar de sua sabedoria.

As crianças sempre constroem interpretações próprias sobre o conhecimento adulto, como neste verbete:

Saber

Houve tempo em que havia gente que dominava praticamente todo o conhecimento. Hoje, para você saber um tiquinho de nada de qualquer especialidade, a coisa fica tão complicada que nem dá para acompanhar a velocidade do que surge de novo, em torno daquele quase nada.

Quando Valtinho me ouviu explicando isso, concluiu logo:

- Então nem adianta fazer dever. Nem adianta estudar!

- Claro que adianta! É só você não imaginar que pode saber tudo a respeito de qualquer coisa.

- Eu sei tudo de uma coisa - diz.

- Por exemplo...

- Eu sei tudo do corpo humano.

E vitorioso:

- O corpo humano se divide em cabeça, tronco e membros.

- Mas isso não é tudo - digo eu.

E ele, na maior inocência:

- Ué, tem mais? (BLOCH,2001ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, p.185) 76 76 BLOCH, Pedro. Ibidem, p. 185.

Nessa anedota, novamente, percebemos um choque de percepção: se para o adulto, no século XXI, já não era mais possível reunir de alguma forma todo o conhecimento acumulado pela humanidade, para a criança e sua apreensão menos presa a detalhes complexos tudo poderia ser facilmente sintetizado em pequenas sequências, o que não torna sua explicação errada, menor ou irreal, mas salienta sua outra maneira de descrever as coisas que se vai apreendendo do mundo, pois como defende a antropóloga da criança, Clarice Cohn, “a criança não sabe menos, sabe outra coisa”. (COHN, 2009COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009., p. 33) 77 77 COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009, p. 33. Ainda sobre a diferenciada compreensão infantil, selecionamos uma das várias anedotas do dicionário que são intituladas “crianças”:

Crianças 1: Bruninho sempre entendeu palavras à sua maneira. Querem um exemplo? Dois? Tudo bem.

Cordialmente é uma porção de meninos brincando de pular corda.

Caridade é quando a gente tem muito carinho para dar.

Já Lenise tem suas definições próprias também.

Coração de galinha, por exemplo, devia ser coracinho. Garoto que pintar o sete não pode ser muito levado. Levado mesmo seria um garoto que pintasse o mil. (BLOCH,2001ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, p.52) 78 78 BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas..., op. cit., 2001, p. 52. Grifo do autor.

As definições de palavras criadas por Bruninho contrastam com os significados rigorosos assumidos nos dicionários tradicionais e por isso acabam arrancando pelo menos um sorriso em nós adultos. Recuperar esse poder fantástico da palavra é atividade comum às crianças que adentram o mundo verbal, pois “para compreender a poesia precisamos ser capazes de enxergar a alma da criança como se fosse uma capa mágica e admitir a superioridade da sabedoria infantil sobre a do adulto”. (HUIZINGA,2001HUIZINGA, Johan. Homo ludens - o jogo como elemento da cultura. 5ª edição. Tradução de João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva. 2001., p. 133-4 ) 79 79 HUIZINGA, Johan. Homo ludens - O jogo como elemento da cultura. 5ª edição. Tradução de João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 133-4. Foi o próprio Bloch quem lembrou que “só olhos puros enxergam as coisas como elas são, que só a criança sabe ver a essência das coisas e restituir à palavra sua mais pura dimensão poética. Poesia nascente, poesia na fonte”. (BLOCH,1963BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma. Rio de Janeiro: Biblos, 1963., p.15) 80 80 BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma, op. cit., 1963, p. 15. Quando percebemos os diferenciais criativos da linguagem das crianças que operam frequentemente como uma “máquina imprevisível de produção de sentidos”, (POSSENTI,1998POSSENTI, Sírio. Fazendo as palavras render: o inconsciente é infantil? In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 93-108., p. 105) 81 81 POSSENTI, Sírio. Fazendo as palavras render: o inconsciente é infantil? In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 105. questionando constantemente qualquer relação clara entre som e sentido, a julgamos somente poéticas, mas, na realidade, elas são mais do que isso, são portas para o acesso à apreensão infantil que se estrutura de outra forma em relação à razão do adulto, pois o pequeno até pode “não compreender intelectualmente, mas sente sempre”, (BLOCH,1970BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1970., p.14) 82 82 BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje!, op. cit.,1970, p. 14. percebendo o mundo primeiramente pela emoção, e explicações, se surgirem, entram sempre depois. Por se sustentar sobre elementos irracionais ou então bastante simplificados, a lógica infantil é de tão difícil compreensão para os adultos. (POSSENTI,1998, p. 105) 83 83 POSSENTI, Sírio. Fazendo as palavras render..., op. cit., 1998, p. 105. Por isso, acabamos por tentar enquadrar os pequenos “dentro das regras do nosso jogo, dentro da nossa mentalidade condicionada”. (BLOCH, 1970BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1970., p. 15) 84 84 BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje!, op. cit., 1970, p. 15. Por outro lado, nas definições de Lenise também observamos uma tentativa de reelaboração dos significados, mas no sentido de adequá-los estritamente à lógica comum, sem abertura para o sentido figurado. Afinal, se o coração de galinha é tão pequeno, mais adequado seria chamá-lo “coracinho” e também, se sete é menor que mil, o verdadeiramente “levado” não é quem pinta o sete, mas quem pinta o mil. Isso acontece porque a criança, em pleno contato com a bizarrice absoluta do mundo, acaba buscando alguma espécie de segurança em qualquer forma de regularidade. (SIMÕES,2006SIMÕES, Darcilia Marindir Pinto. Considerações sobre a fala e a escrita: fonologia em nova chave. São Paulo: Parábola, 2006., p.49) 85 85 SIMÕES, Darcilia Marindir Pinto. Considerações sobre a fala e a escrita: fonologia em nova chave. São Paulo: Parábola, 2006, p. 49. Esses dois casos, aparecendo na mesma anedota do dicionário, exemplificam que, em relação ao adulto, as crianças possuem uma “autonomia cultural relativizada” porque elas refazem os significados para o mundo, mas “os sentidos que elaboram partem de um sistema simbólico compartilhado com os adultos”. (COHN,2009COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009., p.33) 86 86 COHN, Clarice. Antropologia da criança, op. cit., 2009, p. 33.

Ainda seguindo pela trilha do compartilhamento, as culturas da criança e dos adultos são diferentes e não raro acabam colidindo, por isso, eventualmente, as chamamos de conflito. Como vimos, na intenção de aliviar os choques entre as culturas do adulto e a da criança, Pedro Bloch experimentou sintetizar a complexa sapiência infantil em dicionários e, para isso, usou duas formas diferentes de estruturar seus compêndios: em verbetes e em anedotas. Em uma rápida comparação entre as duas tentativas, percebemos que há um elemento constante atuando entre as duas lógicas em questão: o humor, aquele que “não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo”, (WITTGENSTEIN,1995WITTGENSTEIN, Ludwig. Aforismos: cultura e valor. Tradução de Elsa Cecilia Frost. Madri: Espasa Calpe, 1995.) 87 87 WITTGENSTEIN, Ludwig. Aforismos: cultura e valor. Tradução de Elsa Cecilia Frost. Madri: Espasa Calpe, 1995. e que as apreensões do adulto e da criança nestes dicionários estão em constante movimento graças à intermediação humorística. Mas como e por qual motivo o riso poderia operar essa interposição cultural tão complexa e contribuir para uma história cultural do humor e da criança?

O riso como intermediador cultural entre crianças e adultos

Desde o limiar do século XXI, especialistas em estudos sobre infância, como Roger A. Hart, vêm divulgando resultados de suas pesquisas sobre a participação das crianças na sociedade em periódicos ligados a instituições internacionais como a Unicef, mostrando uma nova tendência forte em considerar o ponto de vista dos meninos e meninas. (APUD, s. d., p. 10) 88 88 APUD, Adriana. Participación infantil. In: Enredate con Unicef, s. d., p. 10. Disponível em: http://www.sename.cl/wsename/otros/unicef.pdf. Acesso em: 30 jul. 2019. Em geral, a partir dos resultados obtidos por Hart, uma das conclusões às quais se chega é a de que, por terem mantido calada a voz das crianças a seu redor por tanto tempo, quando enfim aquelas manifestações infantis são consideradas, as pessoas adultas passam a perceber quão pouco conhecem dos desejos e necessidades reais delas. (HART,1992HART, Roger A. Children participation: from tokenism to citizenship. Innocenti Essays, nº 4, Unicef International Child Development Centre, Florença, Itália, 1992., s.p.) 89 89 HART, Roger A. Childrens participation: from tokenism to citizenship. Innocenti Essays, n. 4, Unicef International Child Development Centre, Florença, Itália, 1992.

Nesse contexto, defendemos que, devido a sua experiência e interesse pelos infantes desde a segunda metade do século XX, Pedro Bloch refletiu muito sobre eles, apresentando colocações que conversariam facilmente com um novo ideário a respeito da infância que observamos atualmente. Aquelas ideias bloquianas que consideravam mais amplamente as interpretações que a criança fazia do mundo, propondo sua maior inserção no campo dialógico e que não eram comuns no Brasil até metade do século passado, ainda seguem fazendo sentido para diversas áreas da ciência no século XXI. Um exemplo já citado e que nos parece dialogar bastante com as colocações de Bloch são os avanços de uma modalidade da antropologia que já considera a criança não só como dona de um saber próprio - como apontava nosso foniatra em seus compêndios infantis -, mas também como constante produtora de cultura, uma vez que ela reelabora, a seu modo, todo o repertório simbólico que lhe é apresentado(COHN, 2009COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009., p. 33-6) 90 90 COHN, Clarice. Antropologia da criança, op. cit., 2009, p. 33-6. em uma brincadeira repleta de significado.

Estudos indicam que a criação cultural dividida entre adultos e crianças muitas vezes é manifestada através do humor(ATTARDO,2014)91 91 ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014. Este livro foi consultado em arquivo eletrônico, por isso não possui número de páginas, cabendo apenas indicar que se trata do verbete “Children’s humor research”. que, devido à sua ampla ação comunicativa, desempenha papel importante na socialização da criança desde os primeiros tempos da vida. (APTE, 1985, p. 83) 92 92 APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985, p. 83. Como explica Karina Hess Zimmermann, partindo de um levantamento sobre a comicidade da criança, existem muitos estudos que experimentam explorar a relação entre humor e riso desde os primeiros momentos e que, acima dos dois anos de idade, é mais frequente que as crianças usem “o riso em situações engraçadas para fins sociais, mesmo que elas não entendam completamente a incongruência atrás do humor”, (ATTARDO,, 2014ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014. , s.p.) 93 93 Tradução nossa; o texto original é: “children will often use laughter in humorous situations for social purposes, even if they do not fully understand the incongruity behind humor”. ZIMMERMANN, Karina Hess. Children’s humor research. In: ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014, s. p. demonstrando a importância social da comicidade na infância. Outros estudos descobriram que “o riso é influenciado por situações sociais porque as crianças riem mais com os outros do que de si mesmas”. 94 94 Tradução nossa; o texto original é: “Other studies have discovered that laughter is influenced by social situations because children laugh more with others and as a response to others than when they appreciate humor by themselves”. Ibidem, s. d.

Também no Brasil, onde as pesquisas envolvendo história e humor são ainda incipientes com esporádicas contribuições epistemológicas gerais sobre o tema, (SALIBA, 2017SALIBA, Elias Thomé. História cultural do humor: balanço provisório e perspectivas de pesquisas. Revista de História, n. 176, 2017, p. 1., p. 1) 95 95 SALIBA, Elias Thomé. História cultural do humor: balanço provisório e perspectivas de pesquisas. Revista de História, n. 176, 2017, p. 1. já estão sendo desenvolvidas pesquisas sobre a “emergência do humor na criança”, (DEL RÉ,2014DEL RÉ, Alessandra. et al. Diversão partilhada, humor e ironia. In: DEL RÉ, Alessandra & MENDONÇA, Luciane P. M. C. (org.). Explorando o discurso da criança. São Paulo: Contexto, 2014, p. 35-54., p.36) 96 96 DEL RÉ, Alessandra. et al. Diversão partilhada, humor e ironia. In: DEL RÉ, Alessandra & MENDONÇA, Luciane P. M. C. (org.). Explorando o discurso da criança. São Paulo: Contexto, 2014, p. 36. ou seja, já se estuda como os mirins produzem intencionalmente expressões cômicas para compartilhar a diversão entre eles próprios e também com os adultos, (DEL RÉ,2014DEL RÉ, Alessandra. et al. Diversão partilhada, humor e ironia. In: DEL RÉ, Alessandra & MENDONÇA, Luciane P. M. C. (org.). Explorando o discurso da criança. São Paulo: Contexto, 2014, p. 35-54., p.36) 97 97 Idem, p. 36. fabricando uma espécie de intermediário gracioso entre as esferas culturais. Na tentativa de apresentar aos adultos didaticamente o seu conhecimento sobre o “mundo encantado” da criança, “sua engenhosidade, sua criatividade, sua potencialidade”, (BLOCH, 1989BLOCH, Pedro. O incrível humor infantil. Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1989., capa) 98 98 BLOCH, Pedro. Incrível humor infantil. Rio de Janeiro: Editora Bloch,1989, capa. Pedro Bloch não teve pudores em reconhecer certo aspecto cômico naquelas manifestações, pelo contrário, atribuía ao riso um caráter positivo, como quando no prefácio de um de seus livros escreve:

...histórias de rir não é um livrinho apenas DE RIR. Verão que aqui também estão coisas de sentir e de pensar. A maioria das histórias, entretanto, são de RIR 99 99 Destaque do autor. mesmo. Não o riso barato, estéril, mas aquele riso que humanizou o homem, que faz ecoar sua alma, sua maneira de ser. Se não puder rir, sorria. Se não puder sorrir... compreenda. (BLOCH, s.d., p.3) 100 100 BLOCH, Pedro. Histórias de rir, de sentir e pensar. Rio de Janeiro: Editora Bloch, s. d., p. 3.

Ponderar a respeito das “coisas de sentir e de pensar” como uma “visão de mundo” nos indica que, naquelas apreensões, flagramos inscrições da vida em que ela aparece com alto grau de perplexidade ou indiferença com as convenções, denunciando a insensatez das coisas. Por isso elas apresentam aos adultos uma visão bizarra de mundo, próxima a um “estranhamento” - que é o processo de apreensão que transforma uma realidade familiar em algo insensato(GINZBURG, 2007GINZBURG, Carlo. Tolerância e comércio: Auerbach lê Voltaire. In: Idem. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Cia das Letras , 2007, p. 112-38., p. 116) 101 101 GINZBURG, Carlo. Tolerância e comércio: Auerbach lê Voltaire. In: Idem. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 116. -, fazendo com que, antes de zombar da criança, o adulto já comece rindo de si próprio, ao ver evidenciado o desatino da sua forma de ver o mundo. Assim, esse material também é rico para pensarmos em história cultural, pois ele nos mostra marcas de ruptura, “registros de alguns silêncios e as manifestações pontuais e fragmentadas”, (SALIBA, 2002SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Cia das Letras, 2002., p. 31) 102 102 SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira, op. cit., 2002, p. 31. dando destaque especial ao universo da criança.

Nesse contexto, aventamos a possibilidade de uma ligação entre a produção humorística de Bloch e certo “humor produzido por crianças” (POSSENTI,1998a, p. 142)APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985. 103 103 POSSENTI, Sírio. Humor de criança. In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998a, p. 142. que intitulamos “humor de criança”, já que elas também participam da produção das narrativas, o que resulta em uma modalidade em que a comicidade atua como filtro intermediador das esferas culturais entre adultos e crianças. Lembramos que este tipo de jocosidade não necessariamente pertence ao gênero “humor infantil” - aquela narrativa em que a “personagem principal da piada é [sempre] uma criança” (POSSENTI,1998aPOSSENTI, Sírio. Humor de criança. In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras , 1998a, p. 141-50., p. 142) 104 104 Idem, p 142. -, pois, nessa forma, invariavelmente achamos graça apenas nas compreensões do pequeno Outro. Já na mediação cultural bloquiana, a comicidade aparece como um filtro interventor mais complexo, regulando o movimento entre as percepções infantis e as adultas, criando uma zona de compartilhamento e de influências recíprocas. (GINZBURG,1987GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. São Paulo: Cia das Letras , 1987., p.12) 105 105 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. São Paulo: Cia das Letras, 1987, p. 12.

Como Pedro Bloch pertenceu à geração de médicos que introduziram a prática da foniatria, inaugurando a área de tratamento da fala e da linguagem no Brasil, (ALMEIDA, 1987ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001. Acesso em: 30 jul. 2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, p. 12.) 106 106 ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol. (impr.), vol. 76, n. 3, São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001>. Acesso em: 30 jul. 2019. seu trabalho parece caminhar sempre no sentido de fazer emergir a voz infantil, inclusive literalmente. É bom lembrar que, no trato com esse interessante material, não encontramos a criança representada como simples personagem, mas, sim, através de registros de suas expressões verbais devidamente “traduzidos” para a linguagem do adulto, como diz o subtítulo de um de seus dicionários: trata-se de uma mensagem “de crianças para adultos”. Se aqui sublinhamos o surgimento da comicidade nas expressões da garotada narradas por Bloch, não é apenas porque ela é visível já nos nomes dos dicionários - de “humor infantil”; de “anedotas infantis” - ou porque foi destacada pelo próprio autor, mas é também porque, com isso, passamos a dialogar com o campo de estudos da história cultural do humor 107 107 BREMMER, Jan & ROODENBURG, Herman (org.). Humor e história. In: Idem. Uma história cultural do humor. Tradução de Cynthia Azevedo e Paulo Soares. Rio de Janeiro: Record, 2000. que aqui pretende problematizar o choque entre códigos e normas de adultos quando percebidos pela criança, o que pode ampliar a percepção comum.

Quando dispostas em compêndios por um “homem de letras”, herdeiro da cultura iluminista(BREMMER; ROODENBURG org., 2005BREMMER, Jan & ROODENBURG, Herman (org.). Humor e história. In: Idem. Uma história cultural do humor. Tradução de Cynthia Azevedo e Paulo Soares. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 13-25., p.19)108 108 DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo, op. cit., 2005, p. 19. como Pedro Bloch, aquela sabedoria também passa a cooperar para um levantamento geral do conhecimento universal. Nesse contexto de indagações acerca das probabilidades culturais da criança, tomá-las como possibilidades históricas através dos escritos de Bloch pode concorrer para uma nova narrativa da história da meninada. Como a consideração da voz infantil pela historiografia ainda é recente, conhecemos esporádicas contribuições que caminham nesse sentido, como os trabalhos das historiadoras da infância Egle Becchi e Dominique Julia(BECCHI; JULIA, 1998BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance. Paris: Seuil, 1998. (L’Univers historique)) 109 109 BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance. Paris: Seuil, 1998. que defendem uma perspectiva multidisciplinar para a interpretação das vivências das crianças atualmente e em outros tempos. Também no Brasil já encontramos algumas contribuições que se propõem a pensar em uma história em que a criança e sua lógica sejam protagonistas. Isso ocorre sempre quando elas estão imersas em suas “práticas tipicamente infantis”, como é o brincar, que é seu principal meio de assimilação, mas que o adulto percebe sempre de forma muito desfocada. (PIACENTINI, 2013PIACENTINI, Telma Anita. Imagens da infância: uma possível historiografia da infância. Revista Linhas, vol. 14, n. 26, Florianópolis, jan.-jun. 2013, p. 157-170., p. 157-170) 110 110 PIACENTINI, Telma Anita. Imagens da infância: uma possível historiografia da infância. Revista Linhas, vol. 14, n. 26, Florianópolis, jan./jun. 2013, p. 157-170. Essa falta de foco é claramente percebida pelos mirins, como constatamos nesta definição: “Brincar: Gente grande pergunta, sempre, o que a gente está fazendo, porque não sabe que uma menina de seis anos só pode estar brincando”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p.33) 111 111 BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 33.

Partindo destas questões, a mediação cultural proposta pelos textos de Pedro Bloch - que lidam o tempo todo com as brincadeiras de fala e linguagem de crianças - ganha maior relevância crítica para que se comece a pensar concretamente na produção de uma historiografia na qual a criança não seja privada de sua voz e, sim, considerada como sujeito protagonista da sua própria história, (Cf. BECCHI; Julia, 1998 e PIACENTINI,, 2013) 112 112 Cf. entre outros, BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance, op. cit., 1998 e PIACENTINI, Telma Anita. Imagens da infância..., op. cit., 2013. o que historiograficamente podemos chamar de “história da criança”. (FREITAS; KUHLMANN, 2002, p.7) 113 113 FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância, op. cit., 2002, p. 7.

Ainda que possamos elogiar o trabalho de Bloch pela elevada consideração da sabedoria infantil, destacamos que ele mesmo acreditava que naqueles textos que escreveu estavam as puras expressões da criança, como expôs: “se me perguntarem se esse livro é bom, direi sem o menor pudor: é ótimo! Ótimo, claro! Pelo que as crianças dizem nele”. (BLOCH, 1998APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985., p.7) 114 114 BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança..., op. cit., 1998a, p. 7. Se questionarmos esse posicionamento perguntando até que ponto aquelas narrativas escritas por um adulto podem se configurar como um local de enunciação da criança, Bloch nos retruca. Ele explica que, de início, ele também pensou que seus textos sobre vivências infantis serviriam tão somente para o adulto “pensar e sentir, rir e admirar” o mundo da meninada. No entanto, percebeu que também os infantes conheciam profundamente o seu trabalho, mostrando sua importância entre a meninada, pois uma criança “não só admira o que outra criança diz, como se sente capaz do mesmo tipo de criação, se identifica, se realiza de alguma forma”, (BLOCH, 1977BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1977., p.7)115 115 BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos!, op. cit., 1977, p. 7. demonstrando que os pequenos mantêm relações culturais engendradoras com os adultos e entre si.

Considerações finais: Ouvidos abertos para ouvir a infância

Devido à peculiaridade dos objetos sobre o qual nos centramos neste texto, para destacá-los optamos por sua análise detalhada, assumindo-os sempre como documentos históricos. Ainda que eles não nos apresentem provas ou retrato fiel de alguma realidade, nos fornecem registros de experiências que são pistas valiosas para compreender processos culturais, não apenas das crianças, mas também de Pedro Bloch e seu trabalho em tentar apreendê-las plenamente em sua elaboração de saberes, em seus aspectos cognitivo, social(OLARIETA, 2017OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças: um trabalho sobre o excesso das palavras. Childhood & Philosophy, vol. 13, n. 26, jan.-abr. 2017, p. 21-34. , p. 21-34) 116 116 OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças..., op. cit., 2017, p. 21-34. e também histórico.

Sublinhamos a atitude de Bloch como autor, pois, já na década de 1960, ao assumir a criança não apenas como personagem representada em suas narrativas, mas também como sujeito coautor delas, deixando que o mirim expressasse sua voz via comicidade, faz do humor uma chave para uma melhor a compreensão do fenômeno infância.(BREMMER; ROODENBURG org., 2000BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance. Paris: Seuil, 1998. (L’Univers historique)) 117 117 BREMMER, Jan & ROODENBURG, Herman (org.). Humor e história..., op. cit., 2000. Contribui assim para o desenvolvimento de uma nova sensibilidade em relação à criança e à infância que, depois, Raymond Williams denominaria como nova “estrutura do sentimento”, (WILLIAMS, 1997WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir. In: Idem. Maxismo y literatura. Tradução de Pablo di Masso. Barcelona: Ediciones Península, 1997, p. 150-8. , p. 150-8)118 118 WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir, op. cit., 1997, p. 150-8. de grande interesse para a história cultural.

Colocando o trabalho em diálogo com outras obras sul-americanas, lembramos que, em 2013, foi traduzido no Brasil o livro Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças do professor primário colombiano Javier Naranjo(NARANJO, 2013) 119 119 NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Ilustrações de Lara Sabatier. Tradução de Carla Branco. Rio de Janeiro: Foz, 2013. com definições do mundo feitas por seus pequenos alunos que, muito ao modo dos compêndios de Bloch, são alfabeticamente classificadas, porém não estão organizadas em um volume chamado de dicionário. Comparando o método de ambos os escritores, inicialmente percebemos uma diferença importante que implica na distinção entre as formas de mediação cultural: enquanto o foniatra Bloch se atém à fala e ao diálogo em que a voz da criança é ouvida em idades diversas, o professor Naranjo coleta as definições já escritas por seus alunos alfabetizados em sala de aula. (NARANJO, 2013NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Ilustrações de Lara Sabatier. Tradução de Carla Branco. Rio de Janeiro: Foz, 2013., p.13) 120 120 Ibidem, p. 13. Outra distinção notável é que, enquanto Naranjo escolhe manifestações de maior força poética nos escritos da meninada e prefere apostar na força “primordial e ingênua das palavras costuradas docilmente ao que era nomeado. Poesia pura”, (NARANJO, 2013NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Ilustrações de Lara Sabatier. Tradução de Carla Branco. Rio de Janeiro: Foz, 2013., p.13) 121 121 Ibidem, p. 13. Bloch optou pelo filtro do humor, pois percebeu que, desde há muito, o terreno da jocosidade está na origem da percepção estética humana. (SCHILLER, 2014SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem numa série de cartas. Tradução de Roberto Schwarz e Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 2014. (Biblioteca Pólen), p. 134)122 122 SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem numa série de cartas. Tradução de Roberto Schwarz e Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 2014, p. 134. Guardadas estas distinções, ressaltamos que ambos os escritores se irmanam no interesse em sublinhar a descoberta de uma nova “estrutura de sentimento” (WILLIAMS, 1997WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir. In: Idem. Maxismo y literatura. Tradução de Pablo di Masso. Barcelona: Ediciones Península, 1997, p. 150-8. , p. 150-8) 123 123 WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir, op. cit., 1997, p. 150-8. em relação ao universo da garotada, ao respeitar suas particularidades, vontade de “esquecimento ou profunda memória. Sinceridade na intenção. Voz que acontece alheia ao que quer impor o já sabido”. (NARANJO, 2013NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Ilustrações de Lara Sabatier. Tradução de Carla Branco. Rio de Janeiro: Foz, 2013., p. 15) 124 124 NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas, op. cit., 2013, p. 15. Essa intenção respeitosa no trato com a criança, tão buscada neste início de século, também é ratificada por Pedro Bloch, quando este sublinha seu posicionamento sobre os ditos da criançada: “eu sempre respeitei muito, [tomei como] fontes de inspiração permanente, sua VERDADE”. (BLOCH, 1989BLOCH, Pedro. O incrível humor infantil. Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1989., p. 3) 125 125 BLOCH, Pedro. O incrível humor infantil. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1989, p. 3. Destaque do autor. Esforços em elevar o que é característico da criança como esses procuram resgatar a importância de suas atuações sociais e epistemológicas, e não devem ser deixados de lado, especialmente pela historiografia.

  • 1
    Cf. RODRIGUES, Camila. Pedro Bloch: um escutador da graça das crianças. Childhood & Philosophy, vol. 14, n. 29, Rio de Janeiro, jan.-abr. 2018, p. 114-19.
  • 2
    COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira: séculos XIX e XX. São Paulo: Edusp, 1995, p. 933.
  • 3
    BENJAMIN, Walter. A hora das crianças: narrativas radiofônicas de Walter Benjamin. Tradução de Aldo Medeiros. Rio de Janeiro: NAU, 2015.
  • 4
    BONNELL, Victoria E.; HUNT, Lynn; BIERNACKI, Richard. Beyond the cultural turn: new directions in the study of society and culture. Berkeley: University of California Press, 1999.
  • 5
    SALIBA, Elias Thomé. Crocodilos, satíricos e humoristas involuntários: ensaios de história cultural do humor. São Paulo: Intermeios; Programa de Pós-Graduação em História Social da USP, 2018, p. 10.
  • 6
    WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir. In: Idem. Maxismo y literatura. Tradução de Pablo di Masso. Barcelona: Ediciones Península, 1997, p. 150-8.
  • 7
    Etimologicamente, a palavra infância vem do latim in fans que significa “ausência de fala”. CASTELLO, Luís Alberto. & MÁRSICO, Claudia Teresa. O oculto nas palavras: dicionário etimológico para ensinar e aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2007
  • 8
    RODRIGUES, Camila. A hora da história das crianças. Revista História da Historiografia, vol. 22, Ouro Preto; Rio de Janeiro, 2016, p. 289-294.
  • 9
    Cf., por exemplo, BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma! Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1963, p. 162; Idem. Criança é isso aí. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1980, p. 59 e Idem. Essas crianças de hoje. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1970, p. 123.
  • 10
    Cf. BLOCH, Pedro. O problema da gagueira. Rio de Janeiro: Brasiluso,1958, p. 59, 79 e Idem. Essas crianças de hoje!, op. cit., 1970, p. 123.
  • 11
    BLOCH, Pedro. Criança é isso aí, op. cit., 1980, p. 4-5.
  • 12
    TOURAINE, Alain.O retorno do actor: ensaio sobre sociologia. Tradução de Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1984, p. 9.
  • 13
    Cf. OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças: um trabalho sobre o excesso das palavras. Childhood & Philosophy, vol. 13, n. 26, jan.-abr. 2017, p. 21-34.
  • 14
    BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma, op. cit., 1963, p. 15.
  • 15
    BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos! Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1977, p. 7.
  • 16
    BLOCH, Pedro. Criança é isso aí, op. cit.,1980, p. 111-2.
  • 17
    BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil. 3ª edição ilustrada. Ilustrações: Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998 e Idem. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
  • 18
    BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos!, op. cit., 1977, p. 141.
  • 19
    Cf. OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças..., op. cit., 2017, p. 21-34.
  • 20
    BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1970, p. 22.
  • 21
    BLOCH, Pedro.A sabedoria da criança: você conhece seu filho ? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a, p. 13.
  • 22
    BLOCH, Pedro. O problema da gagueira, op. cit., 1958.
  • 23
    Como Freitas e Kuhkman Jr definem ser a história das crianças: “a história da relação das crianças entre si e com os adultos, com a cultura e a sociedade”. FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância. São Paulo: Cortez Editora, 2002, p. 7.
  • 24
    Ibidem, p. 7.
  • 25
    BLOCH, Pedro. Você tem personalidade? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1974.
  • 26
    DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo. In: Idem. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Cia das Letras, 2005, p. 19.
  • 27
    Ibidem, p. 22.
  • 28
    Cf. DARNTON, Robert. Os filósofos podam a árvore do conhecimento: a estratégia epistemológica da Encyclopédie”. In: Idem. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. 5ª edição. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal,1986, p. 247-276 e FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das Ciências Humanas. 8ª edição. Tradução de Salma Tannus Muchail. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1999, p. 224.
  • 29
    Grifo nosso.
  • 30
    BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho?, op. cit., 1998a, p. 7.
  • 31
    Este dicionário possui uma página exclusiva no Facebook, contendo grande parte de seus verbetes, no endereço: https://www.facebook.com/pages/Dicion%C3%A1rio-de-Humor-Infantil/170803803059891?pnref=lhc. Acesso em: 30 jul. 2019.
  • 32
    BUTTI, Cassiano. Léxico e cognição: As representações de mundo por meio de designações infantis. Dissertação de mestrado na área de Letras, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2007.
  • 33
    COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira..., op. cit., 1995, p. 933.
  • 34
    SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
  • 35
    BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 9.
  • 36
    Ibidem, p. 9.
  • 37
    Ibidem, p. 10.
  • 38
    Ibidem, p. 11.
  • 39
    BORBA, Francisco da Silva. Organização de dicionários: uma introdução à lexicografia. São Paulo: Edusp, 2003.
  • 40
    BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 177.
  • 41
    Ibidem, p. 185.
  • 42
    Cf. Ibidem, p. 2-7
  • 43
    BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho?, op. cit., 1998a, p. 7.
  • 44
    Ibidem, p. 17.
  • 45
    Ibidem, p. 11.
  • 46
    Ibidem, p. 29.
  • 47
    Ibidem, p. 29.
  • 48
    Ibidem, p. 29.
  • 49
    Ibidem, p. 29.
  • 50
    Ibidem, p. 29.
  • 51
    Ibidem, p. 30.
  • 52
    Ibidem, p. 29.
  • 53
    Ibidem, p. 29.
  • 54
    Ibidem, p. 29.
  • 55
    Ibidem, p. 29.
  • 56
    Ibidem, p. 29.
  • 57
    Ibidem, p. 30.
  • 58
    Ibidem, p. 52.
  • 59
    Ibidem, p. 52.
  • 60
    Ibidem, p. 52.
  • 61
    Ibidem, p. 52.
  • 62
    Ibidem, p. 52.
  • 63
    Ibidem, p. 52
  • 64
    Ibidem, p. 52.
  • 65
    Ibidem, p. 52.
  • 66
    Ibidem, p. 52.
  • 67
    Ibidem, p. 52.
  • 68
    (BLOCH, 1998, p.55).
  • 69
    WITTGENSTEIN, Ludwig. Prefácio. In: REIS, Maria Fernanda de Moura. O dicionário para escolas primárias de Ludwig Wittgenstein e a virada linguística. Dissertação de mestrado em Educação, USP, 2010, p. 133.
  • 70
    Ibidem, p 137.
  • 71
    BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 17.
  • 72
    BLOCH, Pedro. O problema da gagueira, op. cit., 1958.
  • 73
    BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos. Rio de Janeiro: Revinter, 2001, s/p. Grifo nosso.
  • 74
    GALLAGHER, Catharine & GREENBLATT, Stephen. Contra-história e anedota. In: Idem. A prática do novo historicismo. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. Bauru: Edusc, 2005, p. 59. (Coleção História)
  • 75
    BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos, op. cit., 2001, p. 53.
  • 76
    BLOCH, Pedro. Ibidem, p. 185.
  • 77
    COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009, p. 33.
  • 78
    BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas..., op. cit., 2001, p. 52. Grifo do autor.
  • 79
    HUIZINGA, Johan. Homo ludens - O jogo como elemento da cultura. 5ª edição. Tradução de João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 133-4.
  • 80
    BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma, op. cit., 1963, p. 15.
  • 81
    POSSENTI, Sírio. Fazendo as palavras render: o inconsciente é infantil? In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 105.
  • 82
    BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje!, op. cit.,1970, p. 14.
  • 83
    POSSENTI, Sírio. Fazendo as palavras render..., op. cit., 1998, p. 105.
  • 84
    BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje!, op. cit., 1970, p. 15.
  • 85
    SIMÕES, Darcilia Marindir Pinto. Considerações sobre a fala e a escrita: fonologia em nova chave. São Paulo: Parábola, 2006, p. 49.
  • 86
    COHN, Clarice. Antropologia da criança, op. cit., 2009, p. 33.
  • 87
    WITTGENSTEIN, Ludwig. Aforismos: cultura e valor. Tradução de Elsa Cecilia Frost. Madri: Espasa Calpe, 1995.
  • 88
    APUD, Adriana. Participación infantil. In: Enredate con Unicef, s. d., p. 10. Disponível em: http://www.sename.cl/wsename/otros/unicef.pdf. Acesso em: 30 jul. 2019.
  • 89
    HART, Roger A. Childrens participation: from tokenism to citizenship. Innocenti Essays, n. 4, Unicef International Child Development Centre, Florença, Itália, 1992.
  • 90
    COHN, Clarice. Antropologia da criança, op. cit., 2009, p. 33-6.
  • 91
    ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014. Este livro foi consultado em arquivo eletrônico, por isso não possui número de páginas, cabendo apenas indicar que se trata do verbete “Children’s humor research”.
  • 92
    APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach. Nova York: Cornell University Press, 1985, p. 83.
  • 93
    Tradução nossa; o texto original é: “children will often use laughter in humorous situations for social purposes, even if they do not fully understand the incongruity behind humor”. ZIMMERMANN, Karina Hess. Children’s humor research. In: ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014, s. p.
  • 94
    Tradução nossa; o texto original é: “Other studies have discovered that laughter is influenced by social situations because children laugh more with others and as a response to others than when they appreciate humor by themselves”. Ibidem, s. d.
  • 95
    SALIBA, Elias Thomé. História cultural do humor: balanço provisório e perspectivas de pesquisas. Revista de História, n. 176, 2017, p. 1.
  • 96
    DEL RÉ, Alessandra. et al. Diversão partilhada, humor e ironia. In: DEL RÉ, Alessandra & MENDONÇA, Luciane P. M. C. (org.). Explorando o discurso da criança. São Paulo: Contexto, 2014, p. 36.
  • 97
    Idem, p. 36.
  • 98
    BLOCH, Pedro. Incrível humor infantil. Rio de Janeiro: Editora Bloch,1989, capa.
  • 99
    Destaque do autor.
  • 100
    BLOCH, Pedro. Histórias de rir, de sentir e pensar. Rio de Janeiro: Editora Bloch, s. d., p. 3.
  • 101
    GINZBURG, Carlo. Tolerância e comércio: Auerbach lê Voltaire. In: Idem. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 116.
  • 102
    SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira, op. cit., 2002, p. 31.
  • 103
    POSSENTI, Sírio. Humor de criança. In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998a, p. 142.
  • 104
    Idem, p 142.
  • 105
    GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. São Paulo: Cia das Letras, 1987, p. 12.
  • 106
    ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol. (impr.), vol. 76, n. 3, São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001>. Acesso em: 30 jul. 2019.
  • 107
    BREMMER, Jan & ROODENBURG, Herman (org.). Humor e história. In: Idem. Uma história cultural do humor. Tradução de Cynthia Azevedo e Paulo Soares. Rio de Janeiro: Record, 2000.
  • 108
    DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo, op. cit., 2005, p. 19.
  • 109
    BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance. Paris: Seuil, 1998.
  • 110
    PIACENTINI, Telma Anita. Imagens da infância: uma possível historiografia da infância. Revista Linhas, vol. 14, n. 26, Florianópolis, jan./jun. 2013, p. 157-170.
  • 111
    BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil, op. cit., 1998, p. 33.
  • 112
    Cf. entre outros, BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance, op. cit., 1998 e PIACENTINI, Telma Anita. Imagens da infância..., op. cit., 2013.
  • 113
    FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância, op. cit., 2002, p. 7.
  • 114
    BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança..., op. cit., 1998a, p. 7.
  • 115
    BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos!, op. cit., 1977, p. 7.
  • 116
    OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças..., op. cit., 2017, p. 21-34.
  • 117
    BREMMER, Jan & ROODENBURG, Herman (org.). Humor e história..., op. cit., 2000.
  • 118
    WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir, op. cit., 1997, p. 150-8.
  • 119
    NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Ilustrações de Lara Sabatier. Tradução de Carla Branco. Rio de Janeiro: Foz, 2013.
  • 120
    Ibidem, p. 13.
  • 121
    Ibidem, p. 13.
  • 122
    SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem numa série de cartas. Tradução de Roberto Schwarz e Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 2014, p. 134.
  • 123
    WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir, op. cit., 1997, p. 150-8.
  • 124
    NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas, op. cit., 2013, p. 15.
  • 125
    BLOCH, Pedro. O incrível humor infantil. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1989, p. 3. Destaque do autor.

Referências bibliográficas

Referências bibliográficas

Fontes

  • BLOCH, Pedro. Dicionário de anedotas: de crianças para adultos Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
  • BLOCH, Pedro. Dicionário de humor infantil 3ª edição. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
    • BLOCH, Pedro. A sabedoria da criança: você conhece seu filho? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1998a.
    • BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma Rio de Janeiro: Biblos, 1963.
    • BLOCH, Pedro. Criança é isso aí Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1980.
    • BLOCH, Pedro. Essas crianças de hoje! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1970.
    • BLOCH, Pedro. Histórias de rir, de sentir e pensar Rio de Janeiro: Editora Bloch , s. d.
    • BLOCH, Pedro. O incrível humor infantil Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1989.
    • BLOCH, Pedro. O problema da gagueira Rio de Janeiro: Brasiluso, 1958. (Coleção Fala)
    • BLOCH, Pedro. Poxa, que meninos! Rio de Janeiro: Editora Bloch , 1977.
    • BLOCH, Pedro. Você tem personalidade? Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1974.
    • ALMEIDA, Sandra Irene Cubas de. 105 anos de foniatria. Braz. J. Otorhinolaryngol, vol. 76, n. 3 (impr.), São Paulo, jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001 Acesso em: 30 jul. 2019.
      » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942010000300001
    • APTE, Mahadev L. Humor and laughter: an anthropological approach Nova York: Cornell University Press, 1985.
    • APUD, Adriana. Participación infantil. In: Enredate con Unicef, s. d. Disponível em: http://www.sename.cl/wsename/otros/unicef.pdf Acesso em: 30 jul. 2019.
      » http://www.sename.cl/wsename/otros/unicef.pdf
    • ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014.
    • BECCHI, Egle & JULIA, Dominique. Histoire de l’enfance Paris: Seuil, 1998. (L’Univers historique)
    • BENJAMIN, Walter. A hora das crianças: narrativas radiofônicas de Walter Benjamin Tradução de Aldo Medeiros. Rio de Janeiro: NAU, 2015.
    • BLOCH, Arnaldo. Os irmãos Karamabloch: ascensão e queda de um império familiar São Paulo: Cia das Letras, 2008.
    • BONNELL, Victoria E.; HUNT, Lynn; BIERNACKI, Richard. Beyond the cultural turn: new directions in the study of society and culture Berkeley: University of California Press, 1999.
    • BORBA, Francisco da Silva. Organização de dicionários: uma introdução à lexicografia São Paulo: Edusp, 2003.
    • BREMMER, Jan & ROODENBURG, Herman (org.). Humor e história. In: Idem. Uma história cultural do humor Tradução de Cynthia Azevedo e Paulo Soares. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 13-25.
    • BUTTI, Cassiano. Léxico e cognição: as representações de mundo por meio de designações infantis Dissertação de mestrado na área de Letras, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2007.
    • CASTELLO, Luís Alberto. & MÁRSICO, Claudia Teresa. O oculto nas palavras: dicionário etimológico para ensinar e aprender Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
    • COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira: séculos XIX e XX São Paulo: Edusp , 1995.
    • COHN, Clarice. Antropologia da criança Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009.
    • DARNTON, Robert. Os filósofos podam a árvore do conhecimento: a estratégia epistemológica da “Encyclopédie”. In: Idem. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa 5ª edição. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1986, p. 247-276. (Biblioteca de História, 13)
    • DARNTON, Robert. Os processos do Iluminismo. In: Idem. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Cia das Letras , 2005, p. 17-39.
    • DEL RÉ, Alessandra. et al. Diversão partilhada, humor e ironia. In: DEL RÉ, Alessandra & MENDONÇA, Luciane P. M. C. (org.). Explorando o discurso da criança São Paulo: Contexto, 2014, p. 35-54.
    • FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das Ciências Humanas 8ª edição. Tradução de Salma Tannus Muchail. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1999. (Coleção Tópicos)
    • FREITAS, Marcos Cézar de & KUHLMANN, Moysés (org.). Os intelectuais e a história da infância São Paulo: Cortez Editora, 2002.
    • GALLAGHER, Catharine & GREENBLATT, Stephen. Contra-história e anedota. In: Idem. A prática do novo historicismo Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. Bauru: Edusc, 2005, p. 59-88. (Coleção História)
    • GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição Tradução de Maria Betânia Amoroso. São Paulo: Cia das Letras , 1987.
    • GINZBURG, Carlo. Tolerância e comércio: Auerbach lê Voltaire. In: Idem. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício São Paulo: Cia das Letras , 2007, p. 112-38.
    • HART, Roger A. Children participation: from tokenism to citizenship. Innocenti Essays, nº 4, Unicef International Child Development Centre, Florença, Itália, 1992.
    • HUIZINGA, Johan. Homo ludens - o jogo como elemento da cultura 5ª edição. Tradução de João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva. 2001.
    • NARANJO, Javier (org.). Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças Ilustrações de Lara Sabatier. Tradução de Carla Branco. Rio de Janeiro: Foz, 2013.
    • OLARIETA, Beatriz Fabiana. Filosofar com as crianças: um trabalho sobre o excesso das palavras. Childhood & Philosophy, vol. 13, n. 26, jan.-abr. 2017, p. 21-34.
    • OLARIETA, Beatriz Fabiana. O sol e as laranjas. Ou sobre o lugar onde as crianças e a poesia se encontram. Childhood & Philosophy, vol. 9, n. 17, jan.-jun. 2013, p. 11-23.
    • PIACENTINI, Telma Anita. Imagens da infância: uma possível historiografia da infância. Revista Linhas, vol. 14, n. 26, Florianópolis, jan.-jun. 2013, p. 157-170.
    • POSSENTI, Sírio. Fazendo as palavras render: o inconsciente é infantil? In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 93-108.
    • POSSENTI, Sírio. Humor de criança. In: Idem. Humores da língua: análises linguísticas de piadas Campinas: Mercado de Letras , 1998a, p. 141-50.
    • REIS, Maria Fernanda de Moura. O dicionário para escolas primárias de Ludwig Wittgenstein e a virada linguística Dissertação de mestrado em Educação, USP, 2010.
    • RODRIGUES, Camila. A hora da história das crianças. Revista História da Historiografia, vol. 22, Ouro Preto, Rio de Janeiro, 2016, p. 289-294.
    • RODRIGUES, Camila. Pedro Bloch: um escutador da graça das crianças. Childhood & Philosophy, vol. 14, n. 29, Rio de Janeiro, jan.-abr. 2018, p. 109-128.
    • SALIBA, Elias Thomé. Crocodilos, satíricos e humoristas involuntários: ensaios de história cultural do humor São Paulo: Intermeios; Programa de Pós-Graduação em História Social, USP, 2018. (Coleção Entr(H)istória)
    • SALIBA, Elias Thomé. História cultural do humor: balanço provisório e perspectivas de pesquisas. Revista de História, n. 176, 2017, p. 1.
    • SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio São Paulo: Cia das Letras, 2002.
    • SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem numa série de cartas Tradução de Roberto Schwarz e Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 2014. (Biblioteca Pólen)
    • SIMÕES, Darcilia Marindir Pinto. Considerações sobre a fala e a escrita: fonologia em nova chave São Paulo: Parábola, 2006.
    • TOURAINE, Alain.O retorno do actor: ensaio sobre sociologia Tradução de Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1984. (Coleção Economia e Política)
    • WILLIAMS, Raymond. Estructuras del sentir. In: Idem. Maxismo y literatura Tradução de Pablo di Masso. Barcelona: Ediciones Península, 1997, p. 150-8.
    • WITTGENSTEIN, Ludwig. Aforismos: cultura e valor Tradução de Elsa Cecilia Frost. Madri: Espasa Calpe, 1995.
    • WITTGENSTEIN, Ludwig. Prefácio. In: REIS, Maria Fernanda de Moura. O dicionário para escolas primárias de Ludwig Wittgenstein e a virada linguística Dissertação de mestrado em Educação, USP, 2010, p. 133-9.
    • ZIMMERMANN, Karina Hess. Children’s humor research. In: ATTARDO, Salvatore (org.). Encyclopedia of humor studies (versão eletrônica). Nova York: Sage Publications, 2014.

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Dez 2019
    • Data do Fascículo
      2019

    Histórico

    • Recebido
      02 Jan 2018
    • Aceito
      13 Set 2018
    Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de História Av. Prof. Lineu Prestes, 338, 01305-000 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3091-3701 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revistahistoria@usp.br