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“CHEGOU A HORA DE NA IMPRENSA APRESENTARNOS”: MULHERES E OS ÓBICES PROFISSIONAIS NO JORNALISMO, RIO DE JANEIRO, SÉCULO XIX1 1 Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e bibliografia utilizadas são referenciadas no artigo. O acer vo documental utilizado foi a Hemeroteca Digital Brasileira, sessão de periódicos, sob guarda na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A pesquisa de que resulta este artigo foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo número 141867/2020-5.

“IT IS TIME FOR THE PRESS TO INTRODUCE US”: WOMEN AND PROFESSIONAL OBSTACLES IN JOURNALISM, RIO DE JANEIRO, 19TH CENTURY

Resumo

O artigo almeja discutir os labores profissionais de mulheres na imprensa do século XIX, no Rio de Janeiro, especialmente o caso de Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar. Dentro das epistemologias feministas, buscamos elencar a constituição de desigualdades e hierarquias que excluiu as mulheres do acesso igualitário ao universo impresso, isto é, trabalhadoras dos quadros pessoais dos jornais e com remuneração adequada. Como em meados do século isso foi impossível, a saída encontrada foi a criação de seus próprios jornais, em que temas relacionados a suas reivindicações despontam como centrais, seguido a uma busca por valorização e remuneração adequadas. Utilizamos como fonte o jornal Bello Sexo, publicado em 1862, para guiar nossas conclusões, uma vez que nele é possível constatar uma série de questões relacionadas às dificuldades no trabalho jornalístico para mulheres.

Palavras-chave
Mulheres Intelectuais; Imprensa; Gênero; Século XIX; Bello Sexo

Abstract

The article aims to discuss the professional labors of women in the 19th century press in Rio de Janeiro, especially the case of Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar. Within feminist epistemologies, we seek to list the constitution of inequalities and hierarchies that excluded women from equal access to the printed universe, that is, workers of the personal staff of newspapers and with adequate remuneration. As in the middle of the century this was impossible, the exit found was the creation of their own newspapers, in which themes related to their claims emerge as central, followed by a search for adequate valuation and remuneration. We use as source the newspaper Bello Sexo, published in 1862, to guide our conclusions, since it is possible to note a number of issues related to the difficulties in the journalistic work for women.

Keywords
Intellectual Women; Press; Gender; 19th century; Bello Sexo

Introdução

Se há que partir de algum começo, partamos da ausência envolvendo mulheres, literatura e imprensa durante o século XIX no Brasil, uma vez que os impressos (obras e jornais) permaneceram por décadas como um lugar essencialmente masculino, onde os homens monopolizavam o discurso literário e a opinião na esfera pública. Graças às epistemologias feministas, que têm mobilizado a categoria gênero, novas histórias têm sido contadas, em que a fgura feminina assume papel de destaque a partir de um novo olhar para as fontes (HOLANDA, 2019HOLANDA, Heloísa Buarque. Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.; RAGO, 1998RAGO, Margareth. Epistemologia feminista, gênero e história. In: PEDRO, Joana; GROSSI, Mirian (org.). Masculino, feminino, plural. Florianópolis: Mulheres, 1998.; SCOTT, 1995 [1989]SCOT T, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, p. 71-99, 1995. Disponível em: htps://seer.ufrgs.br/index.php/educacao-erealidade/article/view/71721. Acesso em: 20 dez. 2021.
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). Por meio de suas experiências, muitas buscaram reivindicar seus direitos e a inserção no universo da imprensa, sobretudo por meio da publicação de seus próprios periódicos e obras, que trouxeram páginas repletas de insatisfação com a condição que se encontravam, principalmente aquelas com aspirações intelectuais. O principal meio de mobilização nesse período foi a pena, que reproduzia o descontentamento de muitas com a desigualdade colocada. Uma dessas penas foi a de Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar, responsável pela redação e circulação da efêmera folha Bello Sexo.

Esse periódico foi publicado entre os meses de agosto e setembro do ano de 1862, e contou com Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar como redatora-chefe e diversas outras colaboradoras, as quais assinavam apenas com o primeiro nome, o que dificultou uma pesquisa mais detida sobre suas trajetórias. Logo na primeira edição, em uma tentativa de valorizar seu trabalho, a redatora buscou demonstrar a competência das mulheres em igualdade com os homens e, segundo suas palavras:

A essas senhoras pedirei que exerçam para comigo a benignidade do coração de que é capaz e natural em nós; a elas pertence esta folha: dignem-se, pois, cooperarem para a sua importância com o fruto de suas inteligências, assinando-os sempre com os seus nomes. Trabalhemos, pois, porque nós temos a ambição de glória, e a maior glória que podemos alcançar na terra entre os homens é tentarmos a competência com os trabalhos inteligentes de suas penas. (BELLO SEXO, 1862, ed. 1, p. 1BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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).

Os textos dessa primeira edição trouxeram uma apresentação dos propósitos da jornalista, com o intuito de clamar por mais mulheres na imprensa e buscar aceitação masculina por meio das palavras de seu marido aos homens das letras. A inauguração da folha também trouxe palavras da jornalista em agradecimento ao seu saudoso pai, aquele que teria sido o responsável por propiciar seu forescimento intelectual devido a oportunidade da instrução, a transcrição da primeira reunião deliberativa de senhoras que compunham a redação e um pequeno artigo com o título “A Mulher”.

Júlia reivindicava, com isso, a inserção e a valorização do trabalho intelectual das mulheres em uma imprensa que há décadas as vinha negligenciando, isso em consonância com outras propostas periodistas que também circularam na época, como foi o caso do percussor Jornal das Senhoras, inaugurado em 1854 pela argentina Joana Paula Manso de Noronha. Segundo Zahidé Muzart, uma das razões para a criação desses periódicos ao longo do século XIX foi a necessidade de elas conquistarem direitos.

Em primeiro lugar, o direito à educação; em segundo, o direito à profssão e, bem mais tarde, o direito ao voto. Quando falamos dos periódicos do século XIX, há que se destacar, pois, essas grandes linhas de luta. O direito à educação era, primordialmente, para o casamento, para melhor educar os filhos, mas deveria incluir também o direito de frequentar escolas, daí decorrendo o direito à profssão. (MUZART, 2003, p. 226MUZART, Zahidé Lupinacci. Uma espiada na imprensa das mulheres do século XIX. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, p. 225-233, 2003. Disponível em: htps://periodi-cos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2003000100013. Acesso em: 31 mar. 2022. DOI: htps://doi.org/10.1590/S0104-026X2003000100013.
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)

O aspecto das relações de gênero foi fator determinante, uma vez que era inimaginável para os homens de letras aceitarem que mulheres também eram excelentes escritoras, que, ainda que os construtos sociais ditassem serem elas intelectualmente inferiores, seus escritos comprovavam o contrário. Muitas escreviam tão bem, ou até mesmo melhor, que muitos homens que tinham livre acesso aos círculos jornalísticos. Para Constância, “a publicação de uma obra [e também jornais] costumava ser recebida com desconfiança, descaso ou, na melhor das hipóteses, condescendência. Afinal, era só uma mulher escrevendo” (DUARTE, 2009, p. 11DUARTE, Constância L. Arquivos de mulheres e mulheres anarquivadas: histórias de uma história mal contada. Revista Gênero, Niterói, v. 9, n. 2, p. 11-17, 2009. Disponível em: htps://periodicos.uf.br/revistagenero/article/view/30901. Acesso em: 28 mar. 2022. DOI: htps://doi.org/10.22409/rg.v9i2.78.
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), o que foi determinante para a pouca valorização dada aos seus trabalhos, bem como a descrença em seus negócios com os jornais.

Zahidé Muzart é referência nos estudos que se debruçaram sobre o resgate de mulheres escritoras e jornalistas ao longo do século XIX, trazendo à tona uma série de nomes que passaram despercebidos aos olhos do cânone literário, ou melhor dizendo, nem sequer foram consideradas. Os trabalhos produzidos buscaram publicizar textos de autoras, as quais permaneceram no anonimato histórico como refexo de uma ciência masculina (MUZART, 1999MUZART, Zahidé L. (org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Florianópolis: Mulheres; Santa Cruz do Sul; EDUNISC (v. 1, 1999, 960 p.; v. 2, 2004, 1184 p.; v. 3, 2009, 1144 p.).). Michele Perrot, por sua vez, afirmou que a história, por muito tempo, havia se esquecido das mulheres. A historiadora francesa referia-se principalmente à produção intelectual que deixou de lado a experiência das mulheres. Para ela, as mulheres eram “mais imaginadas do que descritas ou contadas”, portanto, fazer a história delas seria “chocar-se com os blocos de representações que as cobre” (PERROT, 2005 [1998]PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Florianópolis: Edusc, 2005.). O desafo de uma escrita da história que proponha novas interpretações sobre o passado por meio da categoria gênero é o que aqui nos interessa.

A inserção das mulheres nos debates intelectuais, sociais, culturais e também políticos ao longo do século XIX deu-se, sobretudo, ao jornalismo (THÉRENTY, 2019THÉRENTY, Marie-Ève. Femmes de presse, femmes de letres: de Delphine de Girardin à Florence Aubenas. Paris: CNRS Éditions, 2019.). Pesquisas apontam que, em vários países, o número de mulheres como intelectuais e jornalistas cresceu de modo acentuado apenas no decorrer do século XX. Um estudo de 1928, por exemplo, realizado pela International Rabour Office, constatou que elas representavam 2,5% na Alemanha, 2% na França, 4,5% na Austrália, 7,7% na Grã-Bretanha e 17% nos EUA. Já em 1984, a OIT listou 21% na França, 31% na Alemanha, 30% no Reino Unido e 35% nos EUA. No Brasil, por sua vez, dados coletados em São Paulo indicam que em 1939 havia apenas 2,8% de jornalistas com registro profssional; em 1950, o número aumentou para 7%; em 1970, para 10%; em 1980, já se tinha 40,2% até chegar 1995, quando o número subiu para 69,8%, caminhando rumo a uma feminização da profissão (RIBEIRO, apud ASSIS, 2018).

Foi na imprensa do século XIX que encontramos as raízes desse processo, ocasião que as mulheres publicavam, ainda que timidamente, seus romances, suas opiniões e suas reivindicações no que tange à aquisição de direitos, inicialmente em jornais feito por elas próprias, e à medida que as décadas foram passando também nos jornais diários, lócus em que se delineiam novas relações profssionais. O surgimento, em 1852, do Jornal das Senhoras, considerado o primeiro periódico em solos cariocas feito por e para mulheres, é um marco fundamental para entendermos os empreendimentos jornalísticos de mulheres que surgiram em meados desse longínquo século, uma vez que após ele vários outros apareceram na arena pública. Exemplos desses negócios no decorrer das décadas de 1860 e 1870 foram o Bello Sexo, objeto de análise deste trabalho, redigido por Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar; O Sexo Feminino, à cargo de Francisca Senhorinha da Mota Diniz; O Domingo, sob redação de Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco, uma das antigas redatoras do já citado Jornal das Senhoras e o Echo das Damas, de Amélia Carolina da Silva Couto. Para Constância L. Duarte, o fato de o Bello Sexo insistir na explicitação da autoria, “só vem reforçar o espírito de coletividade a engajar suas colaboradoras, também expressos nos br iefings semanais, para a composição das pautas” (DUARTE, 2016, p. 160DUARTE, Constância L. Imprensa feminina e feminista no Brasil século XIX. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. Dicionário ilustrado.).

Segundo Marie-Eve Thérenty, “car le dilemme de la femme journaliste est encore plus complexe que celui de la simple femme de letres” (THÉRENTY, 2019, p. 27THÉRENTY, Marie-Ève. Femmes de presse, femmes de letres: de Delphine de Girardin à Florence Aubenas. Paris: CNRS Éditions, 2019.), devido ao fato de que no século XIX o espaço do jornalismo não era reconhecido como legítimo para as mulheres, cabendo estritamente aos homens. Na França, por exemplo, aquelas que ocuparam a imprensa diária, como trata o caso de George Sand, foram categorizadas como anomalias transgressoras, sendo alvo constante de ridicularizações e ataques de seus companheiros das lides, inclusive com aqueles que compartilhavam a redação cotidianamente (FONTANA, 2011FONTANA, Michèle. George Sand fecit soi-meme: George Sand face à sa caricature. In: THÉRENTY, Marie-Eve (org.). George Sand Journaliste. Saint Étienne: Publications de l’Université de Saint Étienne, 2011. p. 237-257.). Devido a isso, muitas necessitaram tecer estratégias de escrita e inserção nas casas das famílias oitocentistas, escrevendo, inicialmente, sobre temas considerados “femininos”, já que o jornalismo tinha especificidades próprias que transcendem o universo da literatura. Isso significa dizer que essas mulheres jornalistas do século XIX estrearam no ofício escrevendo sobre muita coisa, desde crônicas sobre modos, costumes, bailes, modas, instrução até o motor das publicações: a reivindicação por direitos.

É possível constatar a presença constante de ideias similares nos impressos dirigidos por mulheres ao longo do século XIX, constituindo uma rede daquelas que tinham concepções equivalentes e que as expunham via jornalismo. Para Christine Plante, o sucesso em um gênero considerado universal, o que significa masculino, é para as mulheres muito difícil, já em um gênero tido como feminino, aquele mais íntimo e frívolo, é um sucesso desvalorizado (PLANTÉ, 2003PLANTÉ, Christine. La place des femmes dans l’histoire litéraire: annexe, ou point départ d’une relecture critique? Revue d’Histoire Litéraire de la France, [s.l.], v. 103, p. 655-668, 2003. Disponível em: htps://www.jstor.org/stable/40534996. Acesso em: 18 jan. 2022.
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), o que nos faz pensar nos caminhos e contornos que esses negócios irão tomar. A escolha centrada no Bello Sexo deu-se ao fato de que a análise das edições preservadas possibilitou constatações sobre o trabalho intelectual feminino e as constantes reivindicações por seu valor dentro do grupo de mulheres que atuaram nesse espaço, como mostraremos a partir do caso de Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar. Também se deu com o objetivo de compreender o processo da evolução da profssão jornalística para as mulheres, em que esse jornal desponta como um dos primeiros a aparecerem na cidade do Rio de Janeiro. Os textos analisados manifestavam-se em favor do viver da escrita como direito também de acesso às mulheres.

A categoria gênero será mobilizada dentro da epistemologia feminista, que carrega o compromisso com a desconstrução de estereótipos que levaram a exclusão das mulheres ao longo do processo histórico, comprovando a desigualdade como um construto social. Assim, as concepções teóricas e metodológicas desses estudos devem adequar-se às complexidades das experiências históricas, uma vez que a categoria mulheres não é homogênea (LERNER, 1975LERNER, Gerda. Placing women in History: definitions and challenges. Feminist Studie, Autumn, [s.l.], v. 3, n. 1/2, p. 5-14, 1975. Disponível em: https://www.jstor.org/sta-ble/3518951?origin=crossref. Acesso em: 2 jan. 2022. DOI: htps://doi.org/10.2307/3518951.
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). Logo, é importante salientar que as personagens dessa história que aqui serão narradas são mulheres brancas com todos os privilégios atenuantes as suas condições. Segundo bell hooks:

Problemas e dilemas específicos de donas de casa brancas da classe privilegiada eram preocupações reais, merecedores de atenção e transformação, mas não eram preocupações políticas urgentes da maioria das mulheres, mais preocupadas com a sobrevivência econômica, a discriminação étnica e racial. (HOOKS, 2015 [2000], p. 194HOOKS, bell. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 16, p. 193-210, jan./abr. 2015. Disponível em: htps://www.scielo.br/j/ rbcpol/a/mrjHhJLHZtfyHn7Wx4HKm3k/abstract/?lang=pt. Acesso em: 21 dez. 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-335220151608.
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)

Logo, estamos falando de realidades bem distintas, sobretudo voltadas para a insatisfação colocada com o âmbito doméstico pelas jornalistas. As mulheres negras, em um universo oposto, já ocupavam o espaço público desde o início da colonização, realizando trabalhos em igualdade com os homens nas lavouras, nas minas e pelas ruas, local que exerciam diversos ofícios subalternizados como vendedoras, lavadeiras e até mesmo a prostituição. A maternidade não era vista como um direito para as negras, que se tornavam mães apenas dentro da lógica escravista. Assim, a categoria gênero será pensada dentro das suas interligações com a raça, problematizando para quem as jornalistas estavam falando ao reproduzirem o discurso de direitos e acesso a espaços e instituições masculinas.

O efêmero Bello Sexo como um dos marcos na profssionalização de mulheres jornalistas

No dia 21 de agosto de 1862, saiu divulgada a primeira edição do jornal Bello Sexo que, em seu cabeçalho, anunciava ser um periódico “religioso, de instrução e recreio, noticioso e crítico moderado”. A religião, ao lado de uma crítica moderada, aparecia como temas a serem discutidos naquelas páginas, isso porque o jornal não aparecia como uma folha rebelde e revolucionária, pelo contrário, estava de acordo com os preceitos morais defendidos pela sociedade, em que a religião deveria sobressair acima de qualquer coisa. As reivindicações, como veremos, apareceram de forma tímida, sem falar em temas polêmicos como divórcio e política, que serão objeto de discussões jornalística apenas em meados de 1880, porém já de interesse de mulheres antes3 3 Em 1868, por exemplo, Anna Rosa Termacsics dos Santos resolveu publicar um livro que trazia insatisfações diversas com a condição das mulheres intelectuais em meados do século XIX. Em sua obra, Tratado sobre a emancipação política da mulher e direito de votar, a autora escreveu uma série de denúncias sobre a privação das mulheres na educação, no trabalho e na política, bem como criticou o papel histórico da maternidade e seus impactos no acesso feminino a alguns espaços (RIBEIRO, 2019). , reafirmando o papel divino como boas mães e esposas devotas – o que comumente tem sido caracterizado como um incipiente feminismo maternalista. Segundo Gerda Lerner, essas mulheres:

(...) transformaram a doutrina da esfera específica em um debate feminista ao argumentar que as mulheres tinham direito à igualdade por serem cidadãs, logo, possuíam os mesmos direitos naturais que os homens, e também porque, como mães, tinham mais condições que os homens de melhorar a sociedade. (LERNER, 2019 [1977], p. 55-56LERNER, Gerda. A criação do Patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. São Paulo: Cultrix, 2019.)

O acesso à educação foi o tema inicial das reivindicações das jornalistas que nesse momento ousaram ocupar a imprensa periódica, logo, as folhas redigidas pelo sexo feminino tiveram também um papel educativo (ALVARADO, 1999ALVARADO, Lourdes. La prensa como alternativa educativa para las mujeres de principios del siglo xix. In: AIZPURU, Pilar Gonzalbo (org.). Familia y educación en Iberoamérica. Cidade do México: El Colégio de Mexico, 1999. p. 267-284.). O Bello Sexo era colaborado por várias senhoras e tinha como redatora chefe Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar, uma mulher que tinha como propósito propagar a emancipação e reivindicar direitos como uma boa cristã. Apesar das poucas edições que sobreviveram ao tempo, seis no total4 4 As edições do Bello Sexo encontram-se disponíveis e preservadas pela Biblioteca Nacional, através de sua plataforma on-line, a Hemeroteca Digital Brasileira. Para acesso, consultar link: http://memoria. bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq= , o mesmo é de suma importância para compreender questões relacionadas à experiência das mulheres intelectuais no universo dos jornais. Não sabemos, todavia, quantas de fato foram publicadas, e nem os motivos reais pelos quais poucas sobreviveram. As preservadas são as dos dias 21 e 31 de agosto e 7, 12, 21 e 28 de setembro do ano de 1862. O jornal, organizado em quatro folhas e duas colunas, foi vendido na Corte pelo preço anual de 6$000 réis, semestral 3$000 réis e avulso 80 réis. A folha também teve o objetivo de ampliar seus horizontes já que a venda para fora da Corte era de 7$000 réis, 3$500 réis e 100 réis, respectivamente. O aumento do valor justifica-se pelos gastos com transporte, e a informação sobre essa possibilidade denota o objetivo dessas mulheres em levar sua circulação para além do Rio de Janeiro, em uma tentativa de se tornarem conhecidas em outras localidades. Não sabemos sobre a real materialização dessa informação, já que a sua breve periodicidade possa ter impedido os desejos de ampliação.

O valor das assinaturas, comparado a outros jornais do período, pode ser avaliado como modesto. O Correio da Tarde, no mesmo ano de 1862, cobrava 8$000 réis por seis e 4$000 réis por 3 meses, todavia, era de caráter noticioso e tinha um formato mais elaborado em até seis colunas por página, além de sua tiragem ter sido diária. Já o periódico A Formiga, que, como veremos, manteve significativa relação com as jornalistas aqui analisadas, a assinatura anual era de 7$000 réis e semestral 4$000 réis. Os valores permitem conjecturarmos a partir de alguns raciocínios. O primeiro é ao lado da imprensa diária e informativa, que cobrava preços mais acessíveis, normalmente por serem feitos com materiais mais baratos e de fácil acesso aos seus empreendedores. Folhas com imagens, que demandavam maior trabalho litográfico, por exemplo, tinham mais custo, logo, valiam mais por também demandarem maior trabalho. Do outro lado, por sua vez, havia a imprensa recreativa, aquela que saía poucas vezes na semana, dispunha de diminutos recursos tipográficos e possuía tiragens bem inferiores ao da imprensa diária. Além disso, há de considerarmos o tamanho de impressão do Bello Sexo, que era de 27 por 18 centímetros, um folheto modesto e com distinções bastante explícitas em comparação com outras folhas que circularam no período. O formato seguia o modelo de alguns folhetos esporádicos que eram distribuídos naquele século.

As observações indicam que os valores das assinaturas de jornais variavam na medida dos seus objetivos e também recursos pecuniários para os colocar em circulação, os quais muitos utilizaram das propagandas para investir em qualquer melhora da qualidade do material, seja no número das tiragens, na qualidade tipográfica, no tamanho e no acabamento. Todavia, esse não foi o caso do Bello Sexo, que não contou esse tipo de serviço, ou, quem sabe, dado a sua efemeridade, não teve tempo de buscar patrocinadores e investimentos. A única informação que consta ao final de suas páginas é sobre os locais que o jornal poderia ser adquirido.

Além disso, temos que levar em consideração que essa imprensa feminina que surgiu em meados do século XIX tinha especificidades próprias, as quais não podem ser pensadas em comparação direta com aquela feita por homens. Isso é importante de ser destacado, pois as condições e oportunidades não eram as mesmas, uma vez que as mulheres enfrentaram muito mais empecilhos que seus pares de profissão, a começar pelo fato de não serem consideradas profissionais. Era inimaginável para a cultura hegemônica adequar seus ofícios com as senhoras que eles acreditavam servir unicamente para serem esposas e mães. Isso também ao pensarmos as suas negociações com tipógrafos e impressores, que podem ter sido dificultadas ao fato de serem mulheres que estavam estreando seus trabalhos no universo jornalístico, até então um lugar delimitado ao sujeito universal iluminista.

Logo no lançamento, Júlia de Albuquerque dirigiu-se a dois públicos específcos: os senhores redatores dos jornais diários, e as mulheres, que, a partir daquele momento, seriam suas leitoras. O objetivo foi o de explicitar seus propósitos e ter aceitação e venda na sua empreitada no trabalho com o periodismo:

Aí vai nosso jornal queridas amigas; e depois de ter ouvido os conselhos de meu marido, que tanto tem praticado na vida de escritor, peço-vos licença por instantes para cumprir com um dever de cortesia para com todos os ilustres senhores redatores das folhas diárias e periódicas, e depois serei convosco. Senhores redatores, eu sou a primeira que conheço o acanhamento de minha inteligência e instrução, e por isso a ousadia que tomo em apresentar em público essa folha, que por força será imperfeita em todos os lugares por onde a minha pobre pena tem de marcar o meu pensamento; mas eu só tenho em mente obrigar o meu sexo a vir a imprensa concorrer com o seu contingente para o progresso social, para esse grande bem público, e assim fazer com que se desenvolvam grandes inteligências, grandes capacidades, grandes gênios que existem em meu sexo, olhados com pia indiferença, abandonados pelos homens de letras, esquecidos pela fraqueza de sua constituição própria. (BELLO SEXO, 1862, ed. 1, p. 1BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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)

É interessante observar a forma com que, com a licença e o incentivo do marido, aquele que teria dado o aval necessário para o seu trabalho no jornal, dirigiu-se aos primeiros, homens de letras que ocupavam a grande imprensa, pedindo licença, reafirmando o acanhamento do sexo feminino; porém, caracterizando-se como ousada e colocando o seu objetivo em incentivar outras tantas mulheres a ocuparem a imprensa e demonstrarem seus respectivos talentos intelectuais como jornalistas. A iniciativa da redatora demonstra sua determinação em inserir-se na imprensa periódica, criticando, mesmo que timidamente, “a pia indiferença” com que os homens vinham tratando mulheres que tinham aspirações intelectuais, seja ao não ceder espaço para suas publicações nos jornais, como ao tecerem críticas àquelas que optaram pela criação de seus negócios, alguns casos até mesmo considerando suas ações como transgressoras as normas impostas ao sexo.

Uma originalidade do jornal é que as colaboradoras foram incentivadas a assinarem seus trabalhos, o que não foi comum, por exemplo, no Jornal das Senhoras, que contou com uma extensa lista de pseudônimos (BARBOSA, 2016BARBOSA, Everton. Páginas de sociabilidade feminina: sensibilidade musical no Rio de Janeiro oitocentista. Dissertação de mestrado, História, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2016.), em um momento em que a novidade poderia ocasionar danos, e que a aceitação feminina nos jornais não era comum. No discurso fundador, Júlia escreveu que “dignem-se, pois [mulheres], cooperarem para sua importância com o fruto de suas inteligências, assinando-os sempre com os seus nomes” (BELLO SEXO, 1862, ed. 1, p. 1BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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). A obrigatoriedade da assinatura, no entanto, ficou restrita apenas ao primeiro nome, o que para buscas com informações mais precisas sobre suas trajetórias e relações com outras folhas é uma dificuldade para a pesquisa histórica. Mas, ainda assim, percebemos que um dos objetivos do jornal foi o reconhecimento de mulheres intelectuais, muitas das quais até aquele momento não tinham essa oportunidade de divulgarem seus textos e opiniões. A folha também trazia ao final, na sessão de Anúncios, a informação de que “Recebe qualquer artigo na forma de seu programa para publicar gratuitamente, sendo da pena de alguma senhora, e mediante retribuição razoável fora deste caso” (BELLO SEXO, 1862, ed. 1, p. 4BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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), assinalando esse estímulo para que enviassem os seus textos para apreciação e sem qualquer custo. Assim como as propagandas, não conseguimos visualizar esse incentivo materializado diretamente, já que as poucas edições não dão conta de comprovar todas as ambições apresentadas na edição inaugural.

Essas jornalistas estabeleceram um espaço de discussão importante, em que debatiam quais seriam as prioridades de publicação. Em um desses encontros, à título de exemplo, uma das colaboradoras, a senhora Carolina, proferiu as palavras:

Apareceram as artes, as letras e as ciências, e os homens fzeram delas um direito seu de exclusivismo, talvez por egoísmo, e talvez também por acreditarem que a demasiada sensibilidade de nossas amigas e nossas constituições débeis exigiram sacrifícios tão superiores à nossa natureza, que teríamos de deixá-los sós se a exigência ou consentimento fosse até aí. De tempos a tempos a história de diversos países apresenta uma mulher que domina povos, conquista o império das letras e avassala as ciências com a força das armas, da pena e da vasta inteligência; e estes acontecimentos forçou a que muitos homens estendam hoje as suas filhas maiores liberdade a educação intelectual. Aqui no Brasil já uma nossa companheira, a Exma. Sra. D. Violante de Bivar, mostrou que a cultura da inteligência é tão natural ao homem aplicado, como a senhora estudiosa, mas restava que esses ensaios não caíssem pela indiferença ou mal-entendido egoísmo dos homens, quando nós temos ascendências sobre eles. Exerçamos, pois, um ato de louvor empenhando o nosso espírito de sexo, e para obrigar os mesmos homens a cooperarem com o resultado de seus trabalhos para a nossa empresa, mostremo-nos alheias aos lucros desta folha, ofertemo-los para uma instituição pia análoga à cultivação das letras, e seja a instituição preferida o Colégio das órfãs da Imperial Sociedade Amante da Instrução. (BELLO SEXO, 1862, ed. 1, p. 2-3BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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)

Para a redatora em questão, a exclusão das mulheres das Artes, Letras e Ciências dava-se devido a um egoísmo e exclusivismo masculino, já que a pesquisa histórica empreendida por mulheres trazia dados de inúmeras que conquistaram o mundo por meio do uso de suas penas, inclusive muitas escreveram sobre isso (MELO, 2020MELO, Jeane Carla Oliveira de. Uma historiografia do esquecimento: o memoricídio e as práticas de escritura histórica de mulheres no século XIX. In: BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli de Lourdes Tonet; ZARBATO, Jaqueline. (org.). Ensino de História e estudos de gênero. Rio de Janeiro; Nova Andradina: Sobre Ontens; UFMS, 2020. p. 231-237.), o que denota a importância dada à cultura letrada. Importante, nesse sentido, destacar a percepção histórica dessas mulheres, que dispunham de conhecimento sobre diversas atuações femininas de períodos antecedentes, devido, sobretudo, ao constante estudo desenvolvido e erudição, das quais muitas foram autodidatas. Tal fato dava-se pois o sexo feminino foi excluído sistematicamente do ensino superior e, por longo período, até mesmo da Educação Básica, o que fez com que aquelas de classes sociais com condições financeiras buscassem instrução com mestres particulares ou, às vezes, cabia essa função normalmente às próprias mães, que priorizavam o ensino da escrita e leitura, vez ou outra com aprendizado de Geometria, História e Filosofa, campos considerados masculinos.

Com isso, fica perceptível que aquelas que vinham se fazendo presentes na imprensa desfrutavam de conhecimento pelo trabalho de outras mulheres, inclusive em diferentes partes do mundo, formando redes de solidariedades em prol da presença feminina no periodismo. Ao que se percebe, a colaboradora em questão, Carolina, manteve contato com os escritos da senhora Violante de Bivar, antiga redatora do Jornal das Senhoras e responsável por mais uma empreitada jornalística alguns anos depois, em 1874, dessa vez com a folha O Domingo. Não podemos desconsiderar também que talvez Carolina tenha até sustentado alguma relação pessoal com Violante, trocando opiniões sobre o nascente jornalismo feminino que estava aos poucos ganhando espaço no Rio de Janeiro (RIBEIRO, 2021RIBEIRO, Cristiane de Paula. “Não arrepiaremos na carreira encetada”: gênero e trabalho na profssionalização da jornalista (século XIX, Rio de Janeiro). Anais do Ciclo Virtual Internacional de Comunicações de História Política, Porto, v. 1, p. 943-953, 2021.).

Considerado nome importante na história do jornalismo brasileiro, Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco foi a filha mais nova fruto da relação entre o português Diogo Soares da Silva Bivar com a baiana Violante Lima de Bivar, ambos pertencentes à elite da época. Segundo evidências, desde pequena teria sido incentivada ao estudo das letras, música e aos aprendizados de bons comportamentos, como era de costume as mulheres de sua classe social. Como jornalista, empreendeu um trabalho coletivo, inicialmente ao lado de sua companheira das letras, a argentina Joana Paulo Manso de Noronha, com quem travou uma relação de carinho e admiração. Mesmo após encerrar o trabalho na redação do Jornal das Senhoras, Manso continuou como colaboradora, sendo a responsável pelo envio de vários textos que foram publicados em algumas edições posteriores ao seu afastamento.

As informações sobre a trajetória da senhora Vellasco comprovam ainda mais a solidariedade dessas mulheres no ofício de jornalistas, em que criaram uma rede de compartilhamento de ideias, opiniões e trabalho coletivo com um objetivo comum: a divulgação de suas ideias em defesa de direitos e do trabalho intelectual. Em uma outra reunião da associação do Bello Sexo, as jornalistas receberam uma carta de uma senhora com o nome de Joaquina que, direcionando-se às responsáveis, escreveu que:

A leitura do 1º número do Bello Sexo (...) despertou-me o desejo de também concorrer com nossas fracas luzes para a demonstração de uma verdade muito discutida e que sê-lo-á por muito tempo ainda; em que os interesses falam mais alto do que a razão, em que esta é esquecida pelos doutrinistas que não a procuram pelo aperfeiçoamento natural e sucessivo da inteligência e antes abafam-na como se dela pudessem ser prejudicados em seus direitos! (...) Não é nosso propósito neste momento discutir os variadíssimos pontos que sobre tão melindroso assunto ocorre-nos a imaginação, por enquanto limitamo-nos a aplaudir a ideia da criação do jornal Bello Sexo, desejando sinceramente que pela sua moderação e conveniente linguagem possa granjear justas e merecidas simpatias e um crescido número de leitores (assinantes). (BELLO SEXO, 1862, ed. 2, p. 1BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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)

O que chama a atenção é a recepção do periódico por outras mulheres que, logo de sua primeira edição, buscaram assinar e respectivamente se interessar pelas ideias ali expostas, inclusive escrevendo para parabenizar a iniciativa. Joaquina afirmou que a publicação a havia despertado o estímulo pelas letras, demonstrando um compartilhamento de ideias que era de interesse do que ela denominou de “uma classe tão numerosa na nossa sociedade”. A assinante e leitora também se dispôs a oferecer algumas traduções com o propósito de auxiliar a empresa jornalística, o que indica um forescimento de interesse intelectual por outras mulheres que até o momento não tinham em mente tais aspirações. As folhas dirigidas por mulheres despontaram como um espaço seguro em que muitas se viram representadas, bem como almejavam também colaborar com suas produções intelectuais, já que dentro da imprensa hegemônica não eram aceitas e muito menos representadas nos textos.

Novamente, um fato curioso aconteceu. Antes de abrir uma das sessões e deliberar sobre os temas, a presidente informou as companheiras que três senhoras se encontravam na antessala interessadas em participar como consocias. Então, Heduviges, uma das redatoras e prima de Júlia de Albuquerque, ponderou que não se devia hesitar em fazer concessões dessa ordem, o que devia ser impedido era a participação de homens. Ao constatarmos uma prima de Júlia na colaboração da folha, é possível afirmarmos que as relações familiares apareceram como uma constante na colaboração do jornal, ainda que não conste maiores informações sobre isso, e também faz questionar sobre o papel do marido e sua relação com a prima, que era contrária à entrada masculina no jornal. O interessante, entretanto, foi a divergência de ideias entre as próprias redatoras, no qual Adelaide discordou de Heduviges e disse ser adepta a qualquer presença masculina que tenha relação com alguma das mulheres ali presentes, já que considerava que eles contribuíam sobremaneira para o funcionamento da folha. Um exemplo disso é a própria atuação do marido da redatora chefe, Joaquim Bernadino da Costa Aguiar, caracterizado como o “mentor intelectual” da empreitada de mulheres “amadoras” no jornalismo brasileiro (FANINI, 2009FANINI, Michele Asmar. Fardos e fardões: mulheres na Academia Brasileira de Letras (1897-2003). Tese de doutorado, Sociologia, Universidade de São Paulo, 2009.; SMITH, 2003SMITH, Bonnie G. Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica. São Paulo: EDUSC, 2003.).

A necessidade de um “apadrinhamento” masculino foi uma das maiores constantes no exercício das letras, que apenas considerava as produções de mulheres sobre um aval masculino. Muitas que não conseguiram esse aval e recorreram ao uso de pseudônimos em suas publicações, pois apenas assim eram lidas sem julgamentos prévios. Em 1872, a escritora e jornalista Narcisa Amália publicou Nebulosas pela tipografia dos irmãos Garnier. O livro teve grande circulação e recebeu críticas diversas, sendo uma delas do próprio Machado de Assis, que manifestou um extenso parecer, com mais de uma página, na edição número 629, da Semana Illu st rada. Naocasião, apesar dos elogios tecidos, o literato fez questão de destacar o estranhamento relacionado ao seu gênero. Segundo ele: “não sem receio abro um livro assinado por uma senhora. É certo que uma senhora pode poetar e filosofar, e muitas há que neste particular valem homens, e dos melhores” (SEMANA ILLUSTRADA, 1872, ed. 629, p. 6SEMANA ILLUSTRADA. Rio de Janeiro. Ano 1872. Edição n. 629. Disponível em: htp://me-moria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=702951&pasta=ano%20187&pesq=&pa-gfs=5036. Acesso em: 1 abr. 2022.
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). A passagem de Assis indica a assimilação de suas qualidades intelectuais a um homem, aqueles que, por longo período, foram unicamente considerados detentores do poder de criação, uma vez que as mulheres, segundo Norma Telles, eram tidas apenas como as criaturas e musas de seus romances, jamais criadoras (TELLES, 1992TELLES, Norma. Autor+a. In: JOBIM, José Luís (org.). Palavras da crítica: tendências e conceitos no estudo da Literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992. Disponível em: htps://periodicos. unb.br/index.php/revistaXIX/article/view/21404. Acesso em: 1 abr. 2022.
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).

O marido de Júlia, Joaquim Bernardinho da Costa Aguiar, era um homem das letras e com experiência no ramo jornalístico. A sua atividade profssional foi majoritariamente no universo da imprensa, trabalhando em jornais cariocas como o Monarchista, Tyrano, A Formiga, Patriota Burleco e Propheta, o que levou aos anseios de sua mulher em também seguir com o ofício na imprensa, já que compartilhava a rotina do marido e possivelmente também discutia com ele temas intelectuais e possíveis publicações de seu trabalho. As relações pessoais de mulheres intelectuais com homens intelectuais foram comuns pelo mundo, não só por meio de casamentos e redes familiares, mas também na participação dos mesmos círculos literários. Foram inúmeras mulheres que frequentaram os mesmos espaços intelectuais de notório reconhecimento de seu tempo. Um caso bastante conhecido, porém, em fins do século XIX, trata da candidatura frustrada de Júlia Lopes de Almeida para a ABL. Escritora de reconhecido sucesso naquele momento, Júlia Lopes de Almeida participara de maneira ativa na fundação da agremiação presidida por Machado de Assis, porém seu ingresso na Academia foi vetado, sendo cedido ao seu esposo Filinto de Almeida.

À vista disso, tornou-se costume que esses senhores das letras coadjuvassem a divulgação dos escritos de mulheres em páginas impressas. Ainda que Machado de Assis tenha comparado a pena de Narcisa com a de um homem, suas palavras foram essenciais para a circulação de seu texto naquele contexto. Prova disso também foi o fato do escritor Joaquim Bernardino da Costa Aguiar, então esposo da redatora Júlia, ter escrito uma publicação direcionada “ao leitor” homem que se depararia com o jornal dirigido por sua esposa:

Tendo por vezes encontrado em minha esposa propensões e dedicação para a vida publicista não trepidei em acaba-la de instruir na gramática nacional do pouco ou nada que aprendi, para deixa-la seguir nas suas mais caras esperanças. O que trouxe a nossa afeição e depois a união foi a minha posição de escritor que me embaralha as ideias até aos mais arreigados sentimentos do coração. Mais tarde abandonei, a seu pesar, vida afanosa do publicista, porém fui de novo obrigado a abraça-la como simples caixeiro gerente do periódico A Formiga. Então minha esposa concebendo a ideia de apresentar-se um dia como escritora começou por apresentar-me manuscritamente uma folha com o título A Formiguinha onde li os seus desejos, e para onde coligi os martírios porque passou quando concebia um plano (pobre!) Sem esperança de vê-lo realizado. Propus incumbir-me, na qualidade de um gerente, de levar a efeito os seus sonhos, e com ela combinados oferecemos hoje ao público a sua folha O Bello Sexo. Limitar-me-ei a servir como mentor e conselheiro até que minha esposa adquirindo a prática necessária dispense-me essa tarefa. Os literatos, os sábios, os críticos terão na devida consideração os primeiros ensaios da nova publicista; saberão respeitar a si próprios respeitando o sexo, e a posição da redatora como senhora casada, embora nunca por ter eu a felicidade de ser seu esposo. Pedirei dos meus amigos e dedicados afeiçoados a sua coadjuvação para este jornal, por ser ele redigido por quem me é cara como esposa e como mãe de meus filhos, e creio que mais uma vez designar-se-ão ouvir o sempre grato. (BELLO SEXO, 1862, ed. 1, p. 4BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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)

O esposo destacou as propensões de Júlia para a vida de publicista, porém deixava explícito ser ele o responsável pela publicação, assim como o “mentor intelectual” do negócio, pedindo aos seus amigos a devida coadjuvação para o jornal, já que não costumavam respeitar mulheres solos nesse meio. Os elogios tecidos ao manuscrito de Júlia, A Formiguinha, foi crucial para a sua entrada no universo jornalístico, uma vez que a decisão de assumir como gerente ficava restrito ao marido, já que ele considerava inconcebível o seu plano sem sua ajuda. Isso indica que se ela não tivesse contado com a autorização do marido, muito provavelmente a folha não sairia a público, e, além disso, não teria sequer tido entrada nos círculos intelectuais e de impressores. Mais uma vez, é notória a necessidade de aprovação masculina para o acesso de mulheres no jornalismo em meados do XIX. Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar escreveu A Formiguinha e apresentou seu manuscrito ao marido, um nome que traz diversas questões para o debate, como, por exemplo, o uso do diminutivo para inferiorizar seu trabalho frente ao do esposo, aquele que era o profssional, o homem experiente no ofício e que estava diariamente no espaço público, por isso tinha maior legitimidade e experiência do que Júlia para falar com o público que estava sendo laureado com o novo jornal.

A discussão sobre a aceitação de homens na equipe do jornal, defendida pela jornalista Adelaide, fazia sentido analisando o papel assumido por Joaquim na publicação da folha. Talvez ela tivesse medo que caso optassem por uma tomada de decisão que restringisse a participação ao sexo masculino, muito provavelmente fracassariam em seus objetivos de serem publicadas, divulgadas e lidas pela população carioca de meados da década de 1860. O medo fazia sentido ao entendermos o funcionamento daquela sociedade, em que mulheres que se aventuravam por lugares como a imprensa, ainda mais reivindicando seu direito naquele espaço, eram ridicularizadas e vistas como fora da norma. Sabemos também que o sucesso do jornal duraria pouco, e os motivos falaremos mais ao final.

A participação das novas senhoras trouxe debates, no qual a colaboradora Mathilde, após ser aceita, proferiu:

Respirar no seio de amigas que arrancam a máscara dos homens dessa sociedade cética, que duvidam da realidade do que aqui se passa nesta sala. (...) Aqui, onde a orfandade experimenta o entusiasmo do espírito do sexo feminino trabalhando com a cabeça, com a palavra, com a pena, com o coração para a realização de um programa todo de vida moral e física, eu curvo a fronte, eu desprezo o mundo. Uma mulher da obscuridade do nascimento se ligou a um homem, porque e para que? Inveja-lhe a posição do publicista, o talento, a glória, para que a amestre nessa vida mortífera, para que dela tire o pão, para quem? Para ela? Para seus filhos? Para não se poder chama-la de pobre? (...) Proponho prêmios as senhoras com faltas de meios, que melhores artigos enviarem ao Bello Sexo elaborados nos sentidos religioso, instrutivo e literário. Proponho também que sejam recebidas em nossas sessões as autoras desses trabalhos. (BELLO SEXO, 1862, ed. 3, p. 2BELLO SEXO. Rio de Janeiro. Edições do ano 1862. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=&pagfs=1. Acesso em: 20 nov. 2021.
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)

O primeiro fato interessante em suas palavras é sobre o ceticismo presente na sociedade imperial de 1862, inclusive ao duvidar da atuação de várias mulheres dentro de uma sala discutindo questões que tangem a um ofício que, até aquele momento, era composto unicamente por homens. Homens estes que, aliás, ditavam serem os únicos capazes intelectualmente para a empreitada no comando de periódicos e revistas, sejam eles diários, semanais ou mensais, e que essas mulheres confrontavam ao mostrar suas reais aptidões. As palavras proferidas ainda demonstram a ideia de que elas acreditavam que escrever, publicar e redigir jornais era um trabalho e que deveria ser tratado dignamente, realizado pelo pensar e pelo uso da pena, isto é, uma busca por valorização da presença delas no universo intelectual. À vista disso, uma das saídas propostas pela respectiva senhora foi a de incentivar, por meio de premiações, aquelas que enviassem os melhores artigos, assim como as receber nas sessões semanais realizadas.

O incentivo propiciado pelo Bello Sexo para que outras senhoras enviassem seus artigos e participassem das reuniões obteve os resultados esperados, considerando que na quinta sessão houve um aumento considerável no número de presentes, comparado com o de sua fundação, cerca de 37. A imprensa era o principal meio de comunicação ao longo de todo o século XIX, por isso era muito importante aquele espaço para que as vozes de mulheres pudessem ser multiplicadas entre as tinham as mesmas ambições.

Seguido a essa sessão, as redatoras receberam uma carta inusitada de um senhor que devolveu a folha entregue em sua casa, utilizando do argumento de que sua profssão lhe impedia de tempo para leitura. Afirmou também que tais senhoras não podiam alcançar seus objetivos, pois a condição do sexo feminino tinha relação com a organização social que era tida como inalterável, ou seja, a proposta do periódico incomodou muitos senhores que acreditavam que a condição de inferioridade e domesticidade das mulheres fosse natural, e não um construto histórico, como os estudos de gênero comprovam.

Importante salientar que os homens letrados tinham fácil acesso à imprensa, e utilizavam dela para se informar sobre diversos assuntos, anunciarem serviços, vendas de propriedades, e, também para publicarem suas opiniões sobre literatura, economia, política e religião. Jornais diários como o Diário do Rio de Janeiro, o Jornal do Commércio e o Correio Mercantil tinham grandes tiragens diárias e preço acessível aqueles senhores, o que nos indaga que o verdadeiro motivo pela devolução da edição do Bello Sexo foi o desinteresse e desdenho pelo empreendimento feminino, e não a falta de tempo devido ao exercício de sua profssão, um dos diversos óbices enfrentados pelas intelectuais ao longo do século XIX, e também no seguinte (KIRKPATRICK, 2020KIRKPATRICK, Kate. Simone de Beauvoir: uma vida. Tradução de Sandra Martha Dolinsky. São Paulo: Planeta do Brasil, 2020.).

A experiência com a rotina de escrita e envio do texto para impressão era conturbada, pois demandava um corre pelas ruas centrais do Rio de Janeiro e envolvia uma ampla rede de trabalhadores, que iam desde os responsáveis pela coleta dos textos, sua composição manual até os tipógrafos e os impressores. As jornalistas dedicavam horas de seus dias para a realização da escrita do texto, isso quando não havia cobranças quanto ao prazo estipulado para impressão, em que qualquer imprevisto se tornava um embaraço a periodicidade. Há que se destacar também que as duplas e triplas jornadas que essas mulheres exerciam em suas funções domésticas e maternas eram grandes empecilhos para uma dedicação exclusiva ao trabalho na imprensa. A questão profssional no âmbito jornalístico e suas transformações ao longo do XIX traz esse dilema para os intelectuais, especialmente para as mulheres, que tinham que passar de uma atividade literária diletante para as obrigações imediatas de um trabalho que necessitava de compromisso com o tempo de publicação dos jornais. Para Gabriela Nery:

(...) ser jornalista no Rio de Janeiro das últimas décadas do século XIX era engajar-se em um ofício que passava por turbulências e transformações, e por isso engendrava muitas disputas sobre suas prerrogativas. (NERY, 2021, p. 71NERY, Gabriela. Literatos em escritórios de jornais: jornalismo, literatura e trabalho (1883-1908). Art Cultura, Uberlândia, v. 23, p. 66-83, 2021. Disponível em: htps://seer. ufu.br/index.php/artcultura/article/view/61852. Acesso em: 5 abr. 2022. DOI: htps:// doi.org/10.14393/artc-v23-n42-2021-61852.
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)

Para esse jornalismo feito por mulheres, normalmente com periodicidade semanal ou quinzenal, a exigência dos prazos seguia a lógica da empresa tipográfica responsável e que também tinha responsabilidade sobre diversos outros trabalhos. Comumente, no tempo agendado, o portador responsável estava pontualmente no local combinado pelas jornalistas, muitas vezes em suas próprias casas, qualquer contratempo era um problema para que a edição saísse no dia estipulado. Um comentário de uma colaboradora do Jornal das Senhoras exemplifica o corre que antecedia o trabalho final da folha impressa, circunstância que o funcionário estava esperando:

[...] embirrento na sala a querer por força levar a crônica com toda pressa. Eu já não tinha razões para convencer a esperar ele a nada atendia porque dizia que qualquer demora importava grande transtorno na paginação – ora, eu como não entendo lá desses termos de composição, pensei que era alguma bicha de sete cabeças, e dei-lhe os originais. (JORNAL DAS SENHORAS, 1855, ed. 44, p. 12JORNAL DAS SENHORAS. Rio de Janeiro. Ano 1855. Edição n. 44. Disponível em: htp:// memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=700096&pesq=&pagfs=1831. Acesso em: 15 dez. 2021.
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)

Por mais que o caso tenha se passado 7 anos antes, em 1855, essa constatação traduz bastante como era a rotina de produção da folha dessas mulheres, que necessitavam contar com o trabalho de impressão de tipografias, normalmente aquelas que cobravam preços mais modestos, e que não podiam se dar ao luxo de atrasar o trabalho dos compositores; caso contrário, a edição não sairia na data planejada, dificultando ainda mais a circulação dessas folhas que saíam poucas vezes no mês. A impressão do Bello Sexo ficou a cargo da tipografia Popular, situada no endereço Nova Rua do Ouvidor, n. 9, um estabelecimento localizado na região central da cidade carioca, onde funcionava comércios, livrarias, modistas, escolas, bares e cafés badalados. A mesma tipografia foi a responsável pela impressão de diversas folhas menores, dentre as quais uma daquelas que o marido da redatora, Joaquim Bernardino da Costa Aguiar, trabalhou como gerente por alguns anos, A Formiga. Segundo informações: “Esta oficina encarrega-se de fazer toda e qualquer impressão por preços cômodos, com toda a nitidez e perfeição; também se encarrega de trabalhos litográficos por preços diminutos (A FORMIGA, 1862, ed. 1, p. 4A FORMIGA. Rio de Janeiro. Anos 1862 e 1863. Edições n. 1, 4, 6 e 22. Disponível em: htp:// memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=239232&Pesq=%22Joaquim%20Ber-nardino%22&pagfs=1. Acesso em: 10 dez. 2021.
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). Ainda que A Formiga tivesse o mesmo número de páginas que o Bello Sexo, quatro no total, sua diagramação era mais elaborada e, inclusive, com três colunas e composição de letras menores, o que propiciava uma maior diversidade de publicações por edição5 5 Constam preservadas na Biblioteca Nacional edições da folha A Formiga referente aos anos de 1862 e 1863, ainda que de forma esparsa na periodicidade. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/hemerote-ca-digital/ .

É importante salientarmos que no ano de 1862, Joaquim Bernardino estava na redação da folha A Formiga, sendo um dos funcionários do quadro pessoal do jornal. Na edição número 6 desse ano, por exemplo, o seu nome foi anunciado como encarregado “de tratar qualquer causa cível ou crime auxiliado pelos melhores advogados desta capital” (A FORMIGA, 1862, ed. 6, p. 4A FORMIGA. Rio de Janeiro. Anos 1862 e 1863. Edições n. 1, 4, 6 e 22. Disponível em: htp:// memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=239232&Pesq=%22Joaquim%20Ber-nardino%22&pagfs=1. Acesso em: 10 dez. 2021.
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). Para recorrer aos seus serviços, os interessados deveriam ir até o escritório da redação, onde ele também atuava como gerente. Os endereços de venda da folha, inclusive, são majoritariamente os mesmos em que eram anunciados ao final do jornal redigido por Júlia Albuquerque, quais sejam: Rua Largo do Capim, n. 83, Rua do Hospício, n. 212, Rua dos Ciganos, n. 4 e Rua dos Latoeiros, n. 87. O próprio endereço indicado como da redação do Bello Sexo, Rua da Carioca, n. 50, era um dos que a assinatura ou os números avulsos do jornal A Formiga poderia ser adquirido. Temos outra informação importante que reforça ainda mais a aproximação de ambos os jornais. Na edição número 4 da folha de Júlia Albuquerque, o endereço anunciado no cabeçalho foi Rua da Lampadosa, n. 58, que também tinha grande ligação com a gerência de A Formiga.

Em 1863, circunstância em que o Bello Sexo já havia encerrado suas atividades, o endereço da Rua Lampadosa apareceu vinculado a uma tipografia e litografia sob o comando de Joaquim Bernardino da Costa Aguiar, que, segundo noticiado, “apronta-se todo e qualquer trabalho, a toda hora do dia e noite” (A FORMIGA, 1863, ed. 22, p. 4A FORMIGA. Rio de Janeiro. Anos 1862 e 1863. Edições n. 1, 4, 6 e 22. Disponível em: htp:// memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=239232&Pesq=%22Joaquim%20Ber-nardino%22&pagfs=1. Acesso em: 10 dez. 2021.
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). A mesma estava vinculada à redação de A Formiga, porém anunciava prestar serviços para uma variada clientela. Todos os dados apresentados mostram que a estreia do Bello Sexo se deu fundamentalmente ao aparato existente dentro da gerência d’A Formiga, que o marido da redatora tinha grande influência e autonomia nas decisões, inclusive se aproveitou disso para utilizar os mesmos locais para impressão e venda da folha de sua esposa.

A última edição preservada do jornal pela Biblioteca Nacional é de 28 de setembro de 1862, mas essa nos deixa indícios de que teria (ou teve) uma próxima que não sobreviveu. Na continuação de uma tradução feita pela jornalista Joaquina, consta a nota: “continua”, além de não ter mais nenhuma informação de que o periódico finalizaria suas atividades naquela edição, o que leva a crer na possibilidade de outra impressão que não existe preservada. Além do mais, apenas 2 meses após a última edição, encontramos uma informação, em 9 de novembro de 1862, sobre o fm provisório de circulação da página devido a uma enfermidade pela qual a redatora-chefe havia sido acometida.

O século XIX foi um século em que mundialmente mulheres adentraram na imprensa e reivindicaram a profssão, isso foi fundamental para que as brasileiras sentissem amparadas por uma reivindicação que vinha ganhando cada vez mais adeptas. De acordo com Elden E. Billings (1968)BILLINGS, Elden E. Early women journalists of Washington. Historical Society of Washington, Washington, v. 66/68, p. 84-97, 1968. Disponível em: https://www.jstor.org/ stable/40067249?seq=1. Acesso em: 30 mar. 2022.
https://www.jstor.org/ stable/40067249?s...
, Ann Royal é frequentemente estudada como a primeira mulher jornalista nos EUA, lançando ainda em 1831 o periódico Paul Pry e viajando em busca de notícias com a pena na mão até os seus 85 anos de idade. De acordo com Alice Primi (2009)PRIMI, Alice. La “porte entrebâillée du journalisme”, une brèche vers la cité? Femmes, presse et citoyenneté em France, 1830-1870. Le Temps des Media, [s.l.], n. 12, p. 28-40, 2009. Disponível em: htps://www.cairn.info/revue-le-temps-des-medias-2009-1-page-28. htm. Acesso em: 12 jan. 2022. DOI: htps://doi.org/10.3917/tdm.012.0028.
htps://www.cairn.info/revue-le-temps-des...
, um caso interessante deu-se na França em novembro de 1850. Na ocasião, 29 pessoas foram acusadas de atividades socialistas, dentre as quais três eram mulheres e uma delas, Jeanne Deroin6 6 Jeane Deroin foi colaboradora de La Voix des Femmes, fundadora e editora-chefe da Women’s Politics and Women’s Opinion. A jornalista apoderou-se da imprensa francesa para defender suas ideias pela emancipação das mulheres e dos trabalhadores. Ver mais em: Sarcey, 1989. que, ao ser questionada sobre sua profssão, respondeu: “Sou jornalista!”. A resposta de Deroin demonstra a importância de ter o jornalismo reconhecido como profssão por essas mulheres, que enfrentaram uma série de óbices para ocuparem espaços que historicamente eram pensados como masculinos.

Em vias de conclusão

Em 1884, 12 anos depois do lançamento do Bello Sexo, anunciava-se na imprensa o lançamento de um folhetim semanal pela Folha Nova. Sob o título “Modos e Modas, Usos e Costumes”, a responsável pelos textos assinava com o pseudônimo de Viscondessa Augusta, o que aguçou a curiosidade no universo jornalístico logo da inauguração devido ao sucesso alcançado. Segundo um dos cronistas da famosa coluna “Balas de Estado”, Henrique Chaves, da Gazeta de Notícias, “é preciso que se saiba – e o que digo sem a menor ideia de ofensa para todos eles -, os folhetins da nobre dama são aqueles que mais aprecio” (GAZETA DE NOTÍCIAS, 1884, ed. 320, p. 2GAZETA DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro. Ano 1884. Edição n. 320. Disponível em: htp:// memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02&pasta=ano%20188&pes-q=&pagfs=7811. Acesso em: 10 jan. 2022.
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). A senhora por trás dos textos inaugurais era Corina Vivaldi Coaracy, uma jornalista que teve notório reconhecimento na imprensa em finais do século XIX, trabalhando nas redações de jornais renomados como Cidade do Rio, Correio Mercantil, O Paiz e até mesmo o veículo norte-americano The New York Herald, para o qual ela afirmava que “pagava-a generosamente pelas cartas literárias e políticas que daqui lhes enviávamos” (O PAIZ, 1891, ed. 3355, p. 2O PAIZ. Rio de Janeiro. Ano 1891. Edição n. 3355. Disponível em: htp://memoria.bn.br/ DocReader/docreader.aspx?bib=178691_02&pasta=ano%20189&pesq=&pagfs=3387. Acesso em: 15 jan. 2022.
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).

O intuito de concluir este trabalho com essa colocação é o de demonstrar como com o passar das décadas o acesso das mulheres aos grandes jornais foi tornando-se mais comum, ainda que as dificuldades de permanência continuassem, sobretudo para mulheres negras e pobres. Corina Coaracy é uma das jornalistas que vai ocupar as crônicas semanais que circularam pela cidade carioca, que agora tinham como tema central assuntos mundanos, não mais a reivindicação por direitos presente nas páginas do Bello Sexo. Após o término do trabalho na Folha Nova, que se deu devido ao não pagamento pelos seus préstimos, ela tornou-se conhecida por C. Cy., a assinatura que utilizou na nova coluna de sucesso, “A Esmo”, que estreou nas páginas da Cidade do Rio, de seu amigo José do Patrocínio, e depois seguiu a publicação n’O Paiz. Para Patrocínio, “Corina Coaracy foi verdadeiramente jornalista” (CIDADE DO RIO, 1892CIDADE DO RIO. Rio de Janeiro. Ano 1892. Disponível no Caderno de recortes de jornais sobre o falecimento de Corina Coaracy. Referência: BR RJFCRBAMLB C.Cy Dc 1. Fundação Casa Rui Barbosa, Rio de Janeiro, Consulta in loco.). Corina era uma mulher atuante nas letras desde sua juventude, quando colaborou nas folhas ilustradas redigidas por seu pai, Carlos Francisco Alberto de Vivaldi, um norte-americano que veio para o Brasil nomeado cônsul.

Assim como Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar, Corina Coaracy mantinha relações com homens do universo jornalístico, desde seu pai até o próprio marido, Vivaldo Coaracy, que além de jornalista e colaborador de vários periódicos, era um homem que frequentava os círculos intelectuais dentro da livraria dos irmãos Garnier, uma das mais conhecidas e renomadas no século XIX. Ainda que as transformações nesse universo tenham se tornado mais explícitas a partir da década de 1880, percebemos que em certa maneira o apadrinhamento masculino era uma das entradas de muitas nas letras. Com isso, é importante destacar que não queremos diminuir o trabalho feminino, pelo contrário, como apontou Michele Perrot (1987)PERROT, Michele. Qu’-est-ce qu’um métier femme? Le Mouvement Social, [s.l.], n. 140, p. 3-8, 1987. Disponível em: htps://www.jstor.org/stable/3778672. Acesso em: 20 jan. 2022. DOI: htps://doi.org/10.2307/3778672.
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, o acesso a determinadas profssões não é uma conquista igualitária, mas um marco que cria novas hierarquias das diferenças, permitindo aos homens ainda mais distinção em seu meio profssional.

Se, na imprensa inaugurada em meados de 1850, do qual o Bello Sex o surgiu como o segundo desses empreendimentos, tinha projetos e propostas vinculados à emancipação feminina e ao acesso à educação de forma tímida, agora, nos meandros de 1880, elas ambicionavam mais: a valorização profssional e o retorno financeiro por isso, ou seja, queriam trabalhar nas redações dos jornais diários, terem seus negócios pensados como empresas e, claro, uma equiparação nesse espaço com seus pares masculinos. A equiparação, todav ia, sabemos que ainda hoje é uma das pautas do movimento feminista, que lida com disparidade salarial de gênero em diversas profissões, sem falar no difícil acesso e permanência para as mulheres negras nesse espaço.

Os novos contornos colocados ao trabalho jornalístico na virada do século têm relação com a transformação dos jornais em empresas ou comanditas com sócios acionistas, junto à criação da Associação Brasileira de Letras (ABL), em 1897, e da Associação Brasileira da Imprensa (ABI), em 1908, instituições que vão interferir diretamente nas formas de fazer jornalismo. Nesse contexto, “é preciso ressalvar como esses novos fazeres e temporalidades pesaram de maneira inversa sobre a atividade literária das mulheres nos jornais” (NERY, 2021, p. 73NERY, Gabriela. Literatos em escritórios de jornais: jornalismo, literatura e trabalho (1883-1908). Art Cultura, Uberlândia, v. 23, p. 66-83, 2021. Disponível em: htps://seer. ufu.br/index.php/artcultura/article/view/61852. Acesso em: 5 abr. 2022. DOI: htps:// doi.org/10.14393/artc-v23-n42-2021-61852.
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). Para exemplificar essas transformações, basta atentarmos ao fato de que em 1891 Josephina Álvares de Azevedo e Ignez Sabino, redatoras de A Família, inaugurada em 1888, criaram uma sociedade anônima intitulada Companhia Imprensa Familiar com um grupo de sócios acionistas e novos propósitos jornalísticos, os quais podem ser relacionados às transformações dentro da profssão. Para essas mulheres, era importante terem o jornalismo reconhecido como profssão, bem como vinham buscando legitimarem suas participações nos espaços da categoria, como redações, associações, sociedades e eventos públicos (PRIMI, 2009PRIMI, Alice. La “porte entrebâillée du journalisme”, une brèche vers la cité? Femmes, presse et citoyenneté em France, 1830-1870. Le Temps des Media, [s.l.], n. 12, p. 28-40, 2009. Disponível em: htps://www.cairn.info/revue-le-temps-des-medias-2009-1-page-28. htm. Acesso em: 12 jan. 2022. DOI: htps://doi.org/10.3917/tdm.012.0028.
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).

Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar, redatora do Bello Sexo, não teve a oportunidade de visualizar essas transformações, isso porque os indícios apontam o seu falecimento junto ao término da circulação da folha, ainda em 1862. Ela foi uma mulher inserida em uma classe que propiciou o forescimento de suas aptidões intelectuais, como de praxe as senhoras de condição social como a dela, já que eram um número restrito na população do século XIX. Apesar das poucas informações que localizamos, sabemos que era filha do escrivão do 2º Distrito da Candelária, o senhor Pedro Peixoto de Albuquerque Sandy e Delfina Rosa de Jesus Sandy. Casou-se com o escritor e gerente de jornais, Joaquim Bernardino da Costa Aguiar Júnior, e ambas profssões, escrivão e jornalista, estiveram inseridas em círculos sociais de destaque no Império, o que facilitou seu acesso a leituras, discussões e até a publicações nesse universo jornalístico.

Com Joaquim, Júlia teve dois filhos: Alexandre, que faleceu com 9 dias de idade, e um outro que não temos informações, apenas que se mudou para Lisboa com o pai em 1867 (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 1867, ed. 8, p. 1), ambos sozinhos. Há informações de que a redatora havia sido afetada por uma enfermidade em novembro de 1862, logo após a perda de um filho acometido de convulsão (CORREIO MERCANTIL, 1862, ed. 327, p. 1), e desde então seu nome desapareceu de todas as fontes pesquisadas. Ao que tudo indica, o falecimento deu-se por complicações com a gravidez, que, aliás, não encontramos nenhuma referência em qualquer momento na folha, uma vez que durante o período de sua circulação, agosto e setembro de 1862, Júlia estava grávida de aproximadamente 7 meses. Com isso, é possível inferirmos que o término do jornal aconteceu mediante uma série de agravantes da saúde da redatora, o que fez com que ele finalizasse os trabalhos sem qualquer informação para os e as assinantes do breve período que circulou. Não é de estranhar que as outras colegas da redação não conseguiram permanecer com o negócio, já que os óbices foram muitos e, talvez, sem Joaquim Bernardino como mentor e colaborador, sobretudo com as facilidades junto à gerência de A Formiga, as coisas não saíram tão bem.

O Bello Sexo teve uma vida efêmera que refete nos problemas enfrentados com a gravidez de Júlia, motivo que levou as atividades a serem encerradas de maneira trágica. As características principais desse jornalismo idealizado em 1862 relacionam-se a uma organização coletiva, por meio de reuniões na redação para discutir os temas a serem publicados, que estiveram voltados principalmente para a reivindicação pelo direito a educação e ao trabalho profssional. Devido a breve circulação, a folha não conseguiu apresentar todos os temas propostos, bem como trouxe poucas publicações de cunho mais informativo, priorizando a transcrição de suas reuniões e poucos textos recreativos da pena de senhoras, como poesias, charadas e artigos, que era um desejo presente na edição inaugural, porém não conseguiu se materializar efetivamente.

As mulheres que ocuparam esse espaço no século XIX tinham privilégios atenuantes as suas condições sociais, uma vez que eram brancas e letradas. Dentro da lógica capitalista escravocrata, era inimaginável pensar os mesmos direitos reivindicados nos jornais para as mulheres negras. Ainda que muitas das jornalistas fertassem com as ideias abolicionistas, inclusive publicando contrárias à violência orquestrada há mais de um século pelo regime, elas partiam de um lugar específico dentro da discussão, qual seja, o do debate religioso e liberal (DAVIS, 2016DAVIS, Ângela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.). A violência aplicada às pessoas negras começa a ser questionada não no sentido da igualdade, pelo contrário, apenas no campo da falta de humanidade e dentro do discurso religioso.

A evolução da profssão jornalística no Brasil para mulheres tem raízes nesses meados do século XIX, ocasião que jornais como o Bello Sexo surgiam como uma novidade, fazendo com que outras se vissem representadas naquele espaço. Essas folhas, todas com redação feminina, tinham o propósito de colocar as suas reivindicações para serem lidas e, quem sabe, aceitas por aquela sociedade patriarcal. Porém, à medida que os anos foram passando, elas perceberam ali também uma oportunidade de trabalho, e clamavam por valorização profssional. Apesar das dificuldades coercitivas de gênero, houve número significativo de mulheres que tentaram seguir a profssão, seja ao redigir folhas, como trata o caso, como a escrever textos esporádicos para publicação em outros jornais, por meio dos quais, aos poucos, conseguimos perscrutar, inclusive, uma modificação nos objetivos da escrita, em que textos informativos e crônicas cotidianas tomam lugar das reivindicações iniciais. Muitas, no entanto, permanecem anônimas na história da profssão jornalística.

  • 1
    Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e bibliografia utilizadas são referenciadas no artigo. O acer vo documental utilizado foi a Hemeroteca Digital Brasileira, sessão de periódicos, sob guarda na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A pesquisa de que resulta este artigo foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo número 141867/2020-5.
  • 3
    Em 1868, por exemplo, Anna Rosa Termacsics dos Santos resolveu publicar um livro que trazia insatisfações diversas com a condição das mulheres intelectuais em meados do século XIX. Em sua obra, Tratado sobre a emancipação política da mulher e direito de votar, a autora escreveu uma série de denúncias sobre a privação das mulheres na educação, no trabalho e na política, bem como criticou o papel histórico da maternidade e seus impactos no acesso feminino a alguns espaços (RIBEIRO, 2019RIBEIRO, Cristiane de Paula. “A vida caseira é a sepultura dos talentos”: gênero e participação política nos escritos de Anna Rosa Termacsics dos Santos (1850-1886). Dissertação de mestrado, História, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2019.).
  • 4
    As edições do Bello Sexo encontram-se disponíveis e preservadas pela Biblioteca Nacional, através de sua plataforma on-line, a Hemeroteca Digital Brasileira. Para acesso, consultar link: http://memoria. bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=736902&pesq=
  • 5
    Constam preservadas na Biblioteca Nacional edições da folha A Formiga referente aos anos de 1862 e 1863, ainda que de forma esparsa na periodicidade. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/hemerote-ca-digital/
  • 6
    Jeane Deroin foi colaboradora de La Voix des Femmes, fundadora e editora-chefe da Women’s Politics and Women’s Opinion. A jornalista apoderou-se da imprensa francesa para defender suas ideias pela emancipação das mulheres e dos trabalhadores. Ver mais em: Sarcey, 1989.

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Editado por

Editores Responsáveis
Miriam Dolhnikoff e Miguel Palmeira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    24 Jan 2022
  • Aceito
    29 Abr 2022
Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de História Av. Prof. Lineu Prestes, 338, 01305-000 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3091-3701 - São Paulo - SP - Brazil
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