Resumo
Sobre poucas avós nos chegaram informações na História Romana. Com atuação política vitoriosa, então, são poucos os dados. Neste artigo, analisamos a atuação destacada de Júlia Mesa, irmã da imperatriz Júlia Domna, esposa do imperador romano Lúcio Septímio Severo, que conseguiu, apesar de não ter gerado filhos homens, colocar dois netos no comando do Império, Heliogábalo e Severo Alexandre. Sua trajetória é digna de reflexão, visto que sua atuação visando a aclamação de seus herdeiros foi vitoriosa e capaz de destacar a astúcia que marcou as ações empreendidas.
Palavras-chave
Júlia Mesa; avó; irmã; astúcia; Política
Abstract
Information about few grandmothers has reached us in Roman History. With successful political action, then, there is little data. In this article, we analyze the outstanding Iulia Maesa’s performance, the sister of the empress Iulia Domna, wife of the roman emperor Lucius Septimius Seuerus, who managed, despite not having produced sons, to place two grandchildren in command of the Empire, Heliogabalus and Seuerus Alexander. Her trajectory is worthy of reflection, since her actions aimed at the acclaim of her heirs were victorious and capable of highlighting the cunning that marked the actions undertaken.
Keywords
Iulia Maesa; grandmother; sister; cunning; Policy
No passado, publicamos um texto sobre Júlia Domna, a segunda esposa do imperador africano Lúcio Septímio Severo e mãe de seus filhos e herdeiros Caracala e Geta. Neste trabalho, seguimos a tendência historiográfica predominante durante muitos séculos, que se baseava na própria caracterização das personagens femininas como descritas pelos autores antigos. Nela, a mulher é sempre apresentada com relação direta a um personagem masculino, ou seja, ela é filha de algum homem que merece ser mencionado, ou esposa, ou mãe, ou irmã. É o que detectamos, por exemplo, nos excelentes trabalhos de Jasper Burns (2006), Great Womens of Imperial Rome: Mothers and Wives of the Caesars, e de Elaine Fantham (2006), Julia Augusti: the Emperor Daughter, nos quais as princesas ou imperatrizes estudadas são analisadas a partir de suas relações de parentesco mais próximas. Trata-se de Lívia, esposa de Otávio, Júlia, filha de Augusto, Agripina, mãe de Nero e esposa de Cláudio, entre outras.
Um novo tipo de historiografia tem buscado reler os documentos literários e da cultura material a partir de novas premissas, vindas principalmente da História Cultural e da História de Gênero. Autoras como Mary Beard (2018), no livro Mulheres e Poder: um Manifesto, Eva Cantarella (1991), em obras como La Mujer Romana, ou mesmo Maria José Hidalgo de la Vega (2012), no livro Las Emperatrices Romanas: Sueños de Púrpura y Poder Oculto, têm tentado apresentar novos questionamentos às fontes, no intuito de perceber as mulheres como seres sociais, políticos e econômicos possuidores de um tipo específico de poder, que podemos denominar de um “poder feminino”, expresso em diversos campos.
Na introdução da obra Imperial Women of Rome: Power, Gender, Context, a autora Mary Taliaferro Boatwright (2021, p.9-10), professora emérita da Duke University, pergunta se podemos considerar que as mulheres tinham realmente poder na Antiguidade. E ela responde afirmativamente, a partir do arrolamento de um forte argumento: elas tiveram visibilidade na esfera pública, pela inclusão de suas imagens em relevos, pinturas, estátuas, moedas, entre outros suportes. Sua relação com os membros de sua família lhes garantia um certo espaço imagético, mas era sua inserção nos discursos públicos que garantia que sua presença se tornasse responsável pela construção de uma certa dignitas e de uma existimatio, uma reputação, para sua gens. Elas tinham funções definidas e delas se esperava um rol de condutas, que envolviam papéis públicos e privados.
Eva Cantarella (1996, p.238-41 e p.276-78), na obra La Calamidad Ambigua: Condición e Imagen de la Mujer en la Antiguedad Griega y Romana, defende que a legislação romana conseguiu oferecer às mulheres latinas uma certa posição social de maior destaque entre as componentes dos estratos mais aristocráticos, ao terem acesso às heranças e aos dotes, e por possuírem um certo tipo de reconhecimento de parentesco em termos de linha feminina. Elas permaneceram impedidas do acesso aos uirilia officia, que é como Cantarella denomina as magistraturas apenas passíveis de serem exercidas pelos cidadãos, mas eram peças nem sempre desprezíveis no xadrez político latino. Podemos arrolar como exemplo o caso de Cornélia, filha de Cipião Africano e de Emília Paula, cuja linhagem irretocável permitiu que produzisse e divulgasse cartas capazes de arregimentar apoio para a eleição de seus filhos Tibério e Caio Graco para o Tribunato da Plebe no segundo século a.C., segundo Plutarco. No início da biografia do filho mais velho, o biógrafo reserva mais espaço para Cornélia do que para o pai do biografado:
[Tibério e Caio] eram filhos de Tibério Graco, que foi Censor dos romanos, Cônsul em duas ocasiões, celebrou dois triunfos, mas deveu grande parte de seu prestígio à virtude. Por isso foi considerado digno de desposar Cornélia, filha de Cipião, o vencedor de Aníbal. Isso aconteceu depois da morte do pai de Cornélia, do qual, curiosamente, Tibério não era amigo, mas adversário. Conta-se que um dia se deparou com um casal de serpentes sobre sua cama, e que os adivinhos, após considerar o prodígio, não permitiram nem que fossem mortas nem afugentadas ao mesmo tempo; declararam, caso se escolhesse entre uma e outra, que a morte do macho provocaria a de Tibério e a da fêmea, a de Cornélia. Então Tibério, que amava a mulher e achava que sendo o mais velho deveria morrer, e não ela, que era muito jovem, matou o macho e soltou a fêmea. Efetivamente morreu pouco tempo depois, deixando os doze filhos que tivera com Cornélia. Esta assumiu o encargo da casa e das crianças, mostrando tanta prudência, afeto maternal e sentimentos nobres que Tibério parece ter escolhido bem ao morrer no lugar de semelhante criatura. O rei Ptolomeu dispôs-se a partilhar seu diadema com Cornélia e pediu-a em casamento, mas ela recusou. Na viuvez, perdeu a maior parte dos filhos, restando-lhe apenas a filha que desposou Cipião, o jovem, e Tibério e Caio, que são o assunto deste livro. Educou-os com tamanho desvelo que, nascidos segundo voz unânime os mais virtuosos de todos os romanos, a excelência de sua educação desempenhou um papel maior em sua virtude que a índole natural
(PLUTARCO. Vidas Paralelas, Vida de Tibério Graco,I.5-30).
Das cartas de Cornélia, sobraram-nos fragmentos entre os escritos de Cornélio Nepote, para a produção de sua obra referente aos historiadores latinos. No primeiro fragmento, Cornélia se expressa quase como uma verdadeira estadista, possuidora de uma sapiência política equivalente aos atos do pai em campo de batalha:
Dirás que é belo vingar-se de nossos inimigos. Pois bem, eu mesma estou plenamente convencida de que esta vingança pode vir a ser o maior e mais belo ato que existe, mas a condição de que ao consumá-la não implique em comprometer o funcionamento do Estado. Porém, ao se dar conta de que tal condição é irrealizável, é preferível que nossos particulares inimigos permaneçam vivos durante muito tempo, onde quer que estejam, e que conservem sua situação antes que o Estado seja ferido e morra
(Extrato 1 da Carta de Cornélia, In: CORNÉLIO NEPOTE. Vidas, fragmento 1).
A visão tradicional da política romana republicana, que também aparece na obra Sobre a República de Cícero3, por exemplo, de que os interesses particulares das grandes famílias deveriam se conformar às necessidades de pleno funcionamento do Estado, aparece de forma enfática nas letras de Cornélia. Nenhuma contenda intestina deveria enfraquecer as instituições republicanas. Assim, vinganças particulares deveriam ser suspensas em prol da continuidade da paz e da abundância no interior da cidade. Tanto que no segundo fragmento epistolar que nos chegou, Cornélia mais uma vez reclama das perturbações que os filhos estariam produzindo ao buscarem aprovar as leis agrárias na Comitia Tributa4. Escreveu para Caio, após a morte do filho mais velho, ao saber que o mais jovem pretendia também se candidatar ao Tribunato:
Nem saber que me resta tão pouco tempo de vida te impede de seguir sendo um inimigo meu e uma ruína para o Estado. Pergunto-me quando se porá fim a tudo isso e quando acabará este delírio em nossa família. Questiono-me se chegará alguma vez o dia em que se colocará freio nesta demência e deixaremos alguma vez de ter e de provocar lutas. Chegaremos alguma vez a sentir vergonha de envolver o Estado em todo tipo de perturbações. Mas se não te é possível evitar tudo isto, uma vez que eu tenha morrido, trata de obter o Tribunato; por mim poderás fazer o que te apetecer, quando eu já não tenha mais a capacidade de sentir
(Extrato 2 da Carta de Cornélia, In: CORNÉLIO NEPOTE. Vidas, fragmento 2.20-38).
Temendo a perda de mais um filho, Cornélia lamenta as tribulações que sua família estava causando entre os aristocratas. Como mãe, teme vivenciar mais um luto; como filha de Cipião e repleta de dignidade pública, acaba por instigar o filho a concorrer ao Tribunato. Este limite tênue entre os papéis de senhora da casa e de genitora acabou marcando a biografia de inúmeras mulheres. Aline Rousselle, no capítulo “A Política dos Corpos entre Procriação e Continência em Roma”, na coletânea História das Mulheres no Ocidente, dirigida por Michele Perrot e Georges Duby, demonstra a construção discursiva e imagética dos papéis de garantidoras da geração de cidadãos latinos, em sua tarefa primordial de procriação entre os pagãos, em contraste com a posterior defesa cristã da virgindade, da castidade, da continência e da permanência do estado de viuvez (ROUSSELLE, 1990, p.351-406).
Por isso, defendemos que para começarmos nossa reflexão sobre os papéis femininos na Antiguidade Clássica Latina, devemos repensar a própria noção de poder. Se a restringirmos ao acesso às funções públicas, como a possibilidade de votar ou ser eleito na República, ou de ser aclamado imperador no Principado e no Dominato, realmente a ação feminina pode ser descrita como acessória. Contudo, se redefinirmos poder como possibilidade de influenciar decisões e como a faculdade de elucubrar estratagemas e os colocar em prática, como, por exemplo, uma das expressões factíveis de micropoder como pensadas por Michel Foucault (2021 [1970], p.184), o rol de habilidades políticas femininas torna as mulheres agentes públicas e privadas a serem levadas em conta na expressão de qualquer ato político na Antiguidade. Na historiografia antiga oriental a presença feminina nas esferas de poder decisórias, como as estabelecidas pela ascensão de faraonas egípcias, como Nitócris, Nineter, Hatshepsut, Tausert e Cleópatra VII, que chegaram a governar efetivamente o território egípcio, trata-se de uma questão já resolvida. Konstantinos Mantas, no importante artigo “Independent Women in the Roman East: Widows, Benefactresses, Patronesses and Office-Holders”, estudou vestígios epigráficos que sustentam uma extensa atuação feminina no Oriente, mesmo em tempos de administração romana (MANTAS, 1997, p.81-95).
Contudo, na historiografia latina, ainda temos alguns caminhos a percorrer para identificarmos as esferas de comando atingidas pelas romanas. Tanto que no título deste trabalho, ressaltamos três atributos que podem ser atribuídos a Júlia Mesa, dois mais naturais (irmã de uma imperatriz e avó de dois imperadores) e um plenamente construído pela audácia, pela perspicácia e pela necessidade (a capacidade de articulação política, possibilitada pela detenção de fundos financeiros abundantes e de contatos estabelecidos nos meios cortesão e bélico, que foram fundamentais para a ascensão de seus netos ao comando imperial e para seu retorno ao ambiente do palácio).
Por isso, neste artigo, produzido vinte anos após o referente à esposa de Lúcio Septímio Severo, propomo-nos a refletir sobre a conduta, a imagem e as informações que nos chegaram de uma mulher que se casou muito jovem com um membro de uma elite local síria, chamado Caio Júlio Avito Alexiano5, que teve mandato consular, e que, pelo nome, deveria fazer parte da gens extensa da própria Júlia Mesa. Ela teve com ele duas filhas, Júlia Soêmia Bassiana e Júlia Avita Mameia6, sendo ela mesma progênita de um importante sacerdote do culto do deus sírio Elagabal e irmã de uma jovem que se tornou imperatriz pelo casamento com um norte africano. À primeira vista, ela teve poucas chances de se destacar em termos imperiais, pois nem filhos varões gerou. Só para se enfatizar a problemática, não nos chegou sequer o nome da mãe de Júlia Mesa, a esposa de Caio Júlio Avito Bassiano, o pai das Júlias Mesa e Domna7. Contudo, nos documentos literários que nos chegaram sobre a passagem do segundo para o terceiro século de nossa era, referentes aos eventos históricos ocorridos no interior do Império Romano, seu nome é mencionado muitas vezes como a responsável pelas articulações políticas, militares e financeiras que possibilitaram que dois de seus netos fossem aclamados Imperadores. Convenhamos, ao perguntarmos quantas avós conhecemos na história imperial romana ou quantas mulheres sem filhos varões foram nomeadas textualmente pelos autores greco-latinos, a resposta adequada seria: pouquíssimas. Assim, consideramos fundamental dedicarmos algumas páginas a repensar a trajetória de Iulia Maesa.
Guy de la Bédoyère (2018, p.22), historiador britânico especialista na Bretanha romana, em seu livro Domina: the Women who Made Imperial Rome, relembra que não se constituía família sem a atuação feminina e que as gentes eram tradicionalmente a base de constituição da sociedade latina, em todos os seus aspectos, do nascimento à morte8. Com isso, este autor defende que as mulheres eram as senhoras da casa, e que o palácio imperial era também uma domus, portanto seria improvável que não se estipulasse um papel relevante para as mulheres junto, ao menos, à família imperial. Mary Beard inicia seu livro-manifesto, Mulheres e Poder, relembrando uma passagem da Odisseia (HOMERO. Odisseia, I, v.330-367), que costumeiramente trabalhamos com os alunos em sala de aula, na qual Telêmaco manda sua mãe Penélope se calar e retornar ao quarto, para continuar tecendo, ao proferir, entre outras, a seguinte sentença: “Mulher, o silêncio é o maior ornato das mulheres”, ou seja, uma das virtudes femininas capaz de lhes conceder beleza seria o saber calar-se e manter-se em silêncio frente ao discurso masculino. Na Telemaquia, Penélope desce de seus aposentos e se dirige ao salão do palácio, no qual um aedo apresenta sua performance poética. Ele canta as dificuldades enfrentadas pelos heróis para retornarem às suas casas. Achando o tema muito triste, pela reiterada ausência de Odisseu, solicita que se cante outra música. É quando “intervém o jovem Telêmaco: ‘Mãe, volte para seus aposentos e retome seu próprio trabalho, o tear e a roca. Discursos são coisas de homens, de todos os homens, e meu, mais que de qualquer outro, pois meu é o poder nesta casa’. E lá se vai ela, de volta ao andar de cima”, completa Mary Beard (2018, p.15-6).
Esta relação que se tentava estabelecer entre as mulheres e o silêncio aparece também no título e no interior de um famoso texto de Moses Finley (1991, p.149-64), “As Mulheres Silenciosas de Roma”, parte constituinte da coletânea Aspectos da Antiguidade. Nele, Finley ressalta que:
A mulher mais famosa na História de Roma não era sequer romana: Cleópatra, rainha do Egito, última governante de uma dinastia macedônia estabelecida no Nilo, três séculos antes, por Ptolomeu, um dos generais de Alexandre, o Grande. Além desse, poucos outros nomes acodem ao pensamento. Algumas mulheres extravagantes, cruéis e perversas da família imperial (...)
(FINLEY, 1991, p.143).
E, deste modo, Finley destaca Messalina, Agripina, a Lésbia de Catulo, a violada Lucrécia e até mesmo a rainha cartaginesa Dido, que não teria conseguido conquistar Eneias, nas palavras do historiador. Contudo, Finley acabou por nos legar um texto no qual demonstra como uma lista tão curta e unilateral pode se tornar realmente enganadora. Em suas linhas, defende que o mundo romano não foi o único no qual as mulheres permaneceram nos bastidores da política e dos negócios, ou em que a fama era construída sobre escândalos.
Kristina Milnor, no capítulo “Women in Roman Historiography”, do The Cambridge Companion to the Roman Historians, editado por Andrew Feldherr, comenta que as mulheres foram frequentemente apresentadas pelos autores antigos em suas narrativas a partir do julgamento de seu comportamento frente a adesão ou não aos ideais das virtudes domésticas, visto que a História Romana foi produzida para ser a estória de grandes homens, povos e eventos públicos. Desta forma, a própria seleção dos assuntos capazes de despertar o interesse e a atenção dos escritores, seguindo-se as regras retórica de gênero de composição pré-definido pela tradição, marginalizava os relatos que compreendessem ações femininas. Esta escolha programática de gênero narrativo teria sido a responsável por tornar esposas, mães e viúvas em fontes de poder e influência indiretas para seus parentes. Algumas mulheres se destacaram por apresentar, na visão dos autores antigos, “qualidades masculinas” (MILNOR, 2009, p.280)9. E a expressão destas qualidades demarcaria uma época de corrupção dos costumes. Não é à toa que vários momentos identificados como de crise das estruturas imperiais romanas foram assimilados à atuação no âmbito político de personagens femininas. Lembremos que por muito tempo a historiografia mais tradicional, como a formada pelas obras de Francesco de Martino (1974), Frank William Walbank (1981), Mikail Rostovtzeff (1937), entre outros expoentes da criação de uma “monarquia militar severiana”10, descreveu o período dos Severos como uma época de profunda crise nas instituições. Então, não é de se estranhar que tal conjuntura se visse acoplada a um aumento do poder decisório mulheril nas narrativas históricas.
Para Milnor (2009, p.282-284), a simples presença de mulheres nos relatos políticos clássicos indicava simbolicamente um processo de depauperamento dos espaços masculinos. Os valores tradicionais estavam em perigo quando os eventos cívicos eram impregnados pela aparição feminina. Sarah B. Pomeroy (1999, p.251-54), no epílogo do livro Diosas, Rameras, Esposas y Esclavas: Mujeres en la Antiguedad Clásica, intitulado “Las Esquivas Mujeres de la Antiguedad Clásica”, indica que no início do Principado havia mais homens que mulheres na aristocracia, seguindo uma informação dada por Dion Cássio, na História Romana (54.16.2), demonstrando que partos constantes matavam mais do que guerras civis. Mesmo assim, inferiores numericamente, na literatura, as que conhecemos foram aquelas que conseguiram algum grau de influência em assuntos de interesse para os homens, bem como, na cultura material, as esposas que morreram em seus anos férteis e precederam seus maridos no passamento tiveram a possibilidade de serem mais recordadas que outras mulheres. Ou seja, mesmo nos suportes arqueológicos, o conhecimento sobre o feminino encontra-se limitado pelas escolhas e decisões masculinas.
Para a análise do período severiano, indubitavelmente um dos sinais mais evidentes da corrupção dos costumes teria sido dado exatamente pela ampliação da esfera decisória feminina nos governos dos dois últimos soberanos: Vário Avito Bassiano, alcunhado Heliogábalo, e seu primo e filho adotivo, Marco Aurélio Severo Alexandre, cujos governos são amplamente caracterizados como saturados pela ação de sua avó e de suas respectivas genitoras. O autor que mais nos legou informações a respeito de Júlia Mesa e de suas filhas foi Herodiano, na obra História do Império Romano Após Marco Aurélio. Talvez devido ao fato de não ser membro da ordem senatorial, mas possivelmente ter uma origem cortesã (WHITTAKER 1969, p.19; CASSOLA, 1957, p.218), este escritor reservou tinta para discorrer sobre as maquinações e estratagemas da irmã e das sobrinhas de Júlia Domna.
No livro quinto de sua obra, Herodiano narra que:
Estava determinado pelo destino que Macrino, após gozar das delícias do Império tão somente durante um ano, perdesse ao mesmo tempo a vida e o poder. A fortuna ofereceu aos soldados um pequeno e insignificante pretexto para a execução de seus desejos. Havia uma mulher chamada Mesa, uma fenícia de Emesa11. Tal é o nome de uma cidade da fenícia. Era irmã de Júlia, a esposa de Severo e mãe de Antonino. Durante a vida de sua irmã, viveu na corte imperial todo tempo, durante o largo período em que Severo e Antonino foram Imperadores. Depois da morte de sua irmã e do assassinato de Antonino, Macrino ordenou que Mesa regressasse à sua pátria e permanecesse a viver entre os seus, conservando todos os seus bens. Era dona de uma imensa fortuna, posto que havia estado ligada durante muito tempo ao poder imperial. A anciã regressou e viveu em sua casa. Tinha duas filhas, a mais velha se chamava Soêmia e a outra Mameia. Cada uma tinha um filho. O da mais velha se chamava Bassiano e o da mais jovem, Alexiano. Ambos haviam sido educados por suas mães e sua avó
(HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.3.1-4).
Recordemos que após a morte de Septímio Severo em 211 a.C. em Eburacum (atual York) na Bretanha, possivelmente devido aos males causados pela gota, seu filho mais velho, Caracala, mandou assassinar o irmão Geta e governou sozinho até 217 d.C., quando foi assassinado numa estrada, quando voltava de uma visita ao templo da deusa Cibele, a mando de seu prefeito do Pretório Marco Opélio Macrino, natural da Mauritânia Cesariense. Este foi o primeiro imperador de posição equestre, o que teria desagradado imensamente os senadores, ao mesmo tempo que, ao encontrar o tesouro esvaziado, negou-se a realizar congiários e donativos12 e a aumentar o soldo dos exércitos, desagradando também as forças armadas, durante seus catorze meses de governo. A designação de Augusto dada a seu filho Diadumeno indicava que a família pretendia permanecer no poder de comando imperial por pelo menos mais uma geração. Por isso, Herodiano afirma que a Fortuna ofereceu aos soldados um pretexto para a mudança do governo: Mesa, que havia sido alijada do palácio e enviada de volta a Emesa, permaneceu muito rica, pois havia herdado os bens de seu marido morto, como permitido pela lei romana, alargados pelas várias funções que ele havia exercido durante o governo do cunhado, e muito bem relacionada, pois passara boa parte de sua vida adulta na aula caesaris13.
A ascensão de um Imperador advindo de fora dos círculos mais aristocráticos e que pretendia estabelecer uma sucessão no governo assustou a nobilitas, que acreditou estar vivenciando um momento de crise e decadência nos âmbitos político, social e moral. Esta crença se refletiu na visão de mundo repassada pelos autores que produziram seus discursos neste contexto. Verificamos como Herodiano enfatiza a origem oriental e quase bárbara de Mesa ao destacar reiteradamente que ela advinha de uma família fenícia. Além disso, guarda espaço na narrativa para sublinhar que tanto Heliogábalo quanto Severo Alexandre haviam sido educados por sua avó e por suas mães, o que lhes teria introjetado um caráter específico, mais vinculado a condutas femininas, uma fragilidade no ser e no pensar.
Também Dion Cássio, na História Romana, enfatiza o sentimento de aflição e tribulação que teria marcado seu tempo de produção literária, tanto que Martin Hose intitula seu importante artigo sobre a obra diônea de “Cassius Dio: a Senator and Historian in the Age of the Anxiety” (HOSE, 2007, p.461-67). Dion também designa Mesa como a articuladora de um estratagema que foi capaz de mudar os rumos imperiais. Os soldados descontentes com a atuação de Macrino e a esperança de obter maiores rendimentos financeiros teriam apoiado a deposição do governante e a sucessiva aclamação dos netos de Mesa. Segundo Dion, Macrino errou ao demorar para pedir ao Senado que designasse Caracala como inimigo público (DION CÁSSIO. História Romana,79.17.3), pois:
Agora Júlia, a mãe do Tarautas14, mudou-se para Antioquia. E logo após a informação da morte de seu filho, ela foi tomada por grande perturbação e morreu pouco tempo depois (...). Desejou ser como Semíramis15 ou Nitócris16, quando seu filho vivia. (...) Buscou a morte parando de se alimentar, mas já estava muito abatida devido a um câncer nos seios (...). Seu corpo foi levado para Roma e depositado na tumba de Caio e Lúcio17. Mais tarde suas cinzas e as de Geta18 foram transferidas por sua irmã Mesa para a tumba dos Antoninos19 (...)
(DION CÁSSIO. História Romana,79.23.1-2 e 24.2.3).
Assim, a primeira menção a Mesa na narrativa diônea se dá ao se destacar sua atuação na transladação dos restos funerários de sua irmã Domna e de seu sobrinho Geta para o Mausoléu dos Antoninos, conseguindo reunir num mesmo ambiente fúnebre todos os membros da família imperial mortos até então. Macrino é apresentado por Dion como um imperador indigno (DION CÁSSIO. História Romana,79.26.4), cujo governo teria sido marcado por inúmeras turbulências militares, geradas pela redução do pagamento dos soldos e pelo aumento das dívidas contraídas pelos soldados (DION CÁSSIO. História Romana,79.28.3). Neste ínterim, ainda segundo o relato diôneo, com a crise do espaço masculino, abre-se uma fenda discursiva para a presença de um personagem feminino de destaque:
Mesa, a irmã de Júlia Augusta, tinha duas filhas, Soêmia e Mameia, de seu marido Júlio Avito, um ex-cônsul. Ela também tinha dois netos. Um era filho de Soêmia e Vário Marcelo20, um homem de Apamea também da Síria, que tinha sido procurador várias vezes e havia sido admitido no Senado, mas que já se encontrava morto. O outro era filho de Mameia e Géssio Marciano21, também sírio da cidade de Arca, ademais indicado várias vezes como procurador. Mesa estava vivendo em Emesa, agora que sua irmã Júlia tinha perecido. (...) O neto mais velho de Mesa era também sacerdote (...). Sua mãe, Soêmia, e sua avó, Mesa, alegaram que ele era filho natural do Tarautas, persuadindo os soldados a se revoltarem
(DION CÁSSIO. História Romana,79.33.2-4).
Neste excerto, Dion também destaca a origem oriental da família, território no qual as mulheres pareciam ter mais relevo e condição de interferência, bem como nomeia os verdadeiros progenitores dos futuros imperadores. Para Dion, a chegada ao poder de sírios e africanos denotaria a situação de crise que rondava o governo. As Júlias teriam inclusive mandado cartas para o Senado usando o mesmo ardil: afirmando que durante a estadia na corte, as duas filhas de Mesa teriam se deitado com o primo Caracala, gerando seus filhos nestas oportunidades. Como legítimos descendentes do Tarautas, os rapazes reconstruiriam os laços de amizade com os senadores e os vínculos clientelísticos com os soldados. Herodiano reconta quase a mesma estória, só que com maior riqueza de detalhes:
Naquele tempo, uma importante guarnição estava acampada junto a Emesa em defesa da Fenícia22 (...). Os soldados frequentavam a cidade e iam ao templo de Elagabal para o culto, e lhes comprazia admirar o jovem rapaz que dançava em torno da pedra23. Alguns deles eram clientes e protegidos de Mesa, quem, ao perceber que admiravam o jovem, lhes explicava, fosse verdade ou mentira, que era filho natural de Antonino, ainda que passasse por ser filho de outro. Dizia-lhes que Antonino havia se deitado com suas filhas quando eram jovens, no tempo em que ela viveu com sua irmã no palácio imperial. Os soldados foram contando aos seus companheiros o que Mesa lhes havia revelado e o rumor se espalhou de tal modo que todo o exército se inteirou do assunto. Dizia-se que Mesa possuía uma enorme fortuna e que estava disposta a entregá-la toda aos soldados se eles recuperassem o Império para sua família. Os soldados informaram que se Mesa e seus parentes se apresentassem à noite no acampamento secretamente, eles abririam as portas, acolheriam a família dentro dos muros e aclamariam imperador o filho de Antonino. A anciã aceitou o acordo, pois preferia enfrentar qualquer perigo a ter que viver como uma particular e passar por desterrada. De noite, pois, secretamente saiu da cidade com suas filhas e netos. Com a escolta dos soldados que eram os protegidos de Mesa, chegaram às portas do acampamento onde foram recebidos sem o menor problema. Imediatamente toda a guarnição aclamou o rapazote com o nome de Antonino e, revestindo-o com um manto púrpura, o acolheram no interior do acampamento
(HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.3.9-12).
Interessante como, no primeiro excerto, Dion compara Domna a Semíramis e Nitócris, que chegaram ao poder por regência ou por falha sucessória masculina. Mais uma vez a presença feminina nos negócios públicos é aventada como sinal de crise política e institucional. Em todos os capítulos desta passagem para frente, Dion denomina Heliogábalo de o “falso Antonino”, por ter ascendido ao poder sem ter nenhuma filiação natural crível com Caracala. Para Dion, os soldados teriam fingido acreditar nas assertivas de Mesa com o intuito de restabelecer uma relação de clientela24 que haviam desenvolvido com o Imperator Caracala. Como filhos costumeiramente herdavam os clientes do pai, e os soldados foram descritos por Dion como tendo construído uma relação de patronato com Caracala, os legionários pretendiam restaurar vínculos com o governante que lhes possibilitasse aumentar seus salários. Segundo Dion, o ardil poderia ter sido engendrado por Mesa ou por Soêmia, mas era certamente uma mentira que só teria encontrado respaldo no interesse masculino de legionários e de aristocratas. Este posicionamento se repete na Vida de Heliogábalo (1.15-17) na História Augusta, na qual o biógrafo25 enfatiza que “ele se passava por filho de Bassiano [Caracala]”. E acrescenta que “assim funciona o mecanismo do desejo nos humanos, que se apressam em crer quando anseiam que o gostariam se torne realidade” (História Augusta, Vida de Heliogábalo,3.26-28).
Já no segundo excerto, destacado do relato de Herodiano, este autor aceita a dúvida se Heliogábalo seria ou não filho de Caracala. Parece-lhe importante ressaltar que muitos dos soldados eram clientes da própria Mesa, administradora da imensa fortuna, e que ela foi a articuladora de todo o plano para a ascensão do neto. Sua recusa em se afastar da corte, sua preocupação com o destino da família e sua astúcia posta em campo para perceber o contexto em que se encontrava (ou seja, em saber aproveitar a presença militar em Emesa), para fomentar rumores, importante arma política, como afirma Guy Achard (2006, p. 135-37); no livro La Communication à Rome, e para criar uma narrativa factível aos ouvidos militares e senatoriais, teriam sido fundamentais para o retorno dos sírios ao ambiente palatino. A manter a imagem de mãe de jovens pudicas e honradas, Mesa preferiu a praticidade de usar sua engenhosidade para produzir seu retorno a Roma como avó do imperador. Sem dúvidas, uma volta por cima. Ao afirmar o adultério das filhas, Mesa se ancora na juventude das garotas e na crença de que a corte palacial poderia ser um espaço para o excesso e para as arbitrariedades. Abrindo mão da honor e da pudicitia, Mesa adquiriu dignitas e potestas.
Documentos textuais posteriores repetiram a estória de Mesa, demonstrando que ela realmente passou a integrar o repertório de fatos constitutivos da História Romana26. Eutrópio, em seu Breviário, informa que: “foi nomeado imperador Marco Aurélio Antonino27. Este era considerado filho de Antonino Caracala e era sacerdote do templo de Elagabal” (EUTRÓPIO. Breviário,8.22.1). Já Aurélio Victor, no Livro dos Césares, compra sem discussão a ideia de Heliogábalo ser filho de Caracala: “Logo foi chamado Marco Antonino, filho de Bassiano, que, morto seu pai, se havia refugiado como num exílio, por medo de traições, no sacerdócio do sol (...)” (AURÉLIO VICTOR. Livro dos Césares,23.1-3). Neste compêndio do IV século, a volta para a Síria não teria se dado por um desejo e uma ordem de Macrino, mas por uma necessidade de se proteger o herdeiro de Caracala, retirando-o de Roma, e disfarçando-o de sacerdote do deus de Emesa. Zózimo, em sua obra Nova História, confeccionada na passagem do quinto para o sexto século, também corrobora esta versão, acrescentando que teria estourado uma guerra civil quando as legiões estacionadas em Roma aclamaram Macrino, enquanto as dispostas no Oriente “proclamaram um certo jovem de Emesa, aduzindo os laços de parentesco que uniam este com a mãe de Antonino” (ZÓZIMO. Nova História,1.10.1-2). O relato se coaduna com a experiência da Antiguidade Tardia no aparecimento constante de aclamações paralelas de imperadores, no fenômeno denominado de usurpações. Assim, para Zózimo, Heliogábalo seria um usurpador que deu certo. Percebamos a ênfase dada à juventude do novo governante, o que permitia que fosse visto como tutelado por mulheres.
Mais uma vez temos personagens femininas agindo para realizar os desejos da Fortuna na narrativa histórica de tempos de crise, ferramenta retórica já alçada a topos literário. Mesa, mulher astuta e eloquente, soube tirar proveito da situação em que se encontrava. Não temos informações precisas de como se desenvolveu a aptidão retórica de Júlia Mesa, mas nos chegaram abundantes dados concernentes às possibilidades de persuasão concebidos por esta mulher. A necessidade já era, então, a mãe da criatividade. Mesa aparece representada como uma mulher astuciosa, capaz de usar sua métis28 a favor de si mesma e de sua família (DETIENNE; VERNANT, 2008, p.67).
E não lhe faltaram oportunidades para expressá-la. Segundo Dion, ao ser informado da aclamação de Heliogábalo pelos soldados da III Legião Gálica, sobrestada em Rapana, na Síria, sob comando de Públio Valério Comazão29, Macrino teria declarado guerra ao usurpador, ao seu primo e “também contra suas mães e sua avó, (...) reprovando a juventude do falso Antonino” (DION CÁSSIO. História Romana,79.38.2-3). Poucas vezes na História Romana observamos uma campanha militar ser declarada contra mulheres com cidadania romana. A informação diônea é preciosa, pois também por ela se enfatiza o temor da juventude do príncipe carrear a necessidade da considerada desastrosa tutela feminina. Numa parte muito lacunar de seu relato, Dion afirma que a conquista do apoio legionário se deu pela persuasão de Mesa e Soêmia (DION CÁSSIO. História Romana,79.31.3) ao alegar a legítima descendência do Tarautas (DION CÁSSIO. História Romana,79.33.2). Na Vida de Heliogábalo, na História Augusta, o biógrafo lamenta o jovem soberano “estar sujeito por completo aos desejos de sua mãe”, inúmeras vezes chamada de “meretriz” (meretrice) (História Augusta, Vida de Heliogábalo,2.1-2).
Herodiano indica que, após o estratagema de Mesa, a ascensão de Heliogábalo se desenvolveu de forma bastante rápida:
Quando estes atos foram anunciados a Macrino, que seguia em Antioquia, e se espalhou pelos outros acampamentos o rumor de que um filho de Antonino havia sido encontrado e que a irmã de Júlia estava repartindo dinheiro, a excitação tomou conta das tropas ao crer que todos aqueles rumores, além de possíveis, eram certos. Diversas razões os levaram com força à rebelião: o ódio que sentiam por Macrino, a emoção que lhes produzia a recordação de Antonino e, acima de tudo, o atrativo do dinheiro. Tudo isso fazia com que muitos desertassem e passassem a apoiar a causa do jovem Antonino
(HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.4.1-3)
Com o auxílio dos donativos certos, o rumor ganhava veracidade. Macrino demorou a agir, acreditando se tratar de algo insignificante. Mandou um de seus prefeitos, Úlpio Juliano, invadir o acampamento rebelde. Mas outro ardil foi acionado: os soldados sitiados subiram às torres do forte e apresentaram o jovem e o aclamaram como filho de Antonino. Também lhes mostram suas bolsas repletas de dinheiro: “Convencidos de que era filho de Antonino e de sua extraordinária semelhança com o pai (pois isto era o que queriam ver), os soldados de Macrino cortaram a cabeça de Juliano e a enviaram ao imperador” (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.4.3-4), enquanto as portas do acampamento foram abertas e todos foram acolhidos pelo exército de Emesa. As forças favoráveis a Heliogábalo não quiseram esperar um novo sítio e se lançaram contra as legiões enviadas por Macrino. Os dois exércitos se encontraram nos limites da Fenícia com a Síria, em 8 de junho de 218 d.C., quando ocorreu a contenda denominada de Batalha de Antioquia, na qual as forças de Macrino foram abatidas. O imperador, temendo a derrota iminente, fugiu. Os pretorianos resistiram bravamente, mas ao não conseguirem mais ver os estandartes imperiais, foram convencidos a desistirem da refrega, ao serem informados de que seriam anistiados pelo novo príncipe. Macrino foi encontrado em Calcedônia de Bitínia, muito enfermo devido às condições da fuga, e lhe cortaram a cabeça30. Foi morto também seu filho e herdeiro Diadumeno (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.4.8-12).
Dion Cássio acrescenta que o general nascido na cidade de Nicomédia, Gânis, um eunuco indicado por Mesa e Soêmia como tutor inicial de Heliogábalo, teria organizado a vitória (DION CÁSSIO. História Romana,80.3.1-2), mas sido morto logo em sequência por ter exigido mais temperança e prudência do jovem príncipe31. Herodiano nada comenta sobre este eunuco, deixando a Mesa e Soêmia toda a tarefa de influenciar o comportamento do novo imperador. Informa que Mesa se cercou de conselheiros para auxiliá-la a resolver os assuntos do Oriente, “pois ele era jovem e sem experiência de governo nem formação suficiente” (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.5.1). Este argumento da juventude e da inexperiência do recém aclamado Augusto se coaduna perfeitamente com o relato herodianino, que limitou sua prosa a descrever eventos ocorridos entre a morte de um vetusto e bom imperador, como Marco Aurélio, até a ascensão considerada desastrosa de um princeps puer, Gordiano III, aos treze anos, fato que o teria levado a exercer um mau governo. Augusto Fraschetti, no capítulo “O Mundo Romano”, da coletânea História dos Jovens: da Antiguidade à Era Moderna, organizada por Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt, demonstra como se continuava puer, no imaginário latino, até os quinze anos, quando se atingia a adulescentia até os trinta anos, ao se passar para a juventas até os quarenta e cinco anos (FRASCHETTI, 1996, p.70). Tais delimitações etárias se perfilavam perfeitamente com a inclusão dos homens nos negócios públicos romanos, civis e militares. Deste modo, o adolescente Heliogábalo, aclamado aos quinze anos e deposto aos dezenove anos, necessitava obrigatoriamente da orientação de seus parentes e dos conselheiros por eles indicados.
Segundo Herodiano, Mesa estava impaciente para retornar a Roma, à vida no palácio imperial, com a qual estava acostumada. No caminho, Heliogábalo vestia-se de seda e se apresentava em público ao som de flautas e tambores: “Ao vê-lo desta maneira, Mesa se enfurecia muito e tentava suplicante convencê-lo de que, ao se aproximar sua chegada a Roma e sua entrada no Senado, mudasse aquelas roupas por uma indumentária romana” (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.5.1-2). Temia que aquela figura estranha e bárbara desgostasse os que o vissem, por considerarem aquelas roupas femininas. Destarte, Heliogábalo teria “menosprezado os conselhos da anciã” (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.5.5-6). Martijn Icks, num capítulo intitulado “Heliogabalus, a Monster on the Roman Throne: the Literary Construction of a Bad Emperor”, parte integrante da coletânea Kakos: Badness and Anti-Values in Classical Antiquity, organizada por este professor da Universidade de Amsterdã, demonstra como Dion Cássio e os biógrafos da História Augusta acabaram formando a imagem luxuriosa, licenciosa, efeminada, basicamente oriental, que atualmente compartilhamos deste jovem soberano (ICKS, 2006, p.1-10)32.
Sua reiterada posição sacerdotal, a permissão da morte de ilustres e ricos varões e sua recusa em seguir os conselhos de Mesa, fez com que avó e neto se afastassem (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.5). Seus três casamentos com mulheres da mais alta aristocracia romana (Júlia Cornélia Paula33, Júlia Aquília Severa, uma virgem vestal, e Ânia Aurélia Faustina, filha de Tibério Cláudio Severo Próculo, parente dos finados imperadores Marco Aurélio e Cômodo) não conseguiram estreitar os laços com os senadores (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.6.1-3). Dion Cássio descreve sucintamente as primeiras bodas, enfatizando que senadores, equestres e suas esposas receberam congiários, bem como a plebe, de igual maneira que os soldados foram favorecidos com donativos. Também foram promovidos jogos no anfiteatro, nos quais foram abatidos um elefante e cinquenta e um tigres (DION CÁSSIO. História Romana,80.12.2-3).
Sabemos como os casamentos eram realizados com o intuito de integrar as famílias da nobilitas romana e carrear apoio para os governantes. Inferimos que Mesa certamente estimulou estas núpcias com o intuito de fomentar apoio em torno de seu neto mais velho. Entretanto, nem estas alianças conseguiram estruturar o governo de Heliogábalo em bases mais seguras:
Ao ver isto, Mesa, suspeitando que os soldados também desaprovavam o modo de vida do imperador, teve medo de se ver reduzida de novo a uma posição sem relevo se algo ocorresse a Antonino. Por isso persuadiu seu neto (...) a que adotasse seu primo, também neto dela pela outra filha, Mameia, concedendo-lhe o título de César. Convenceu-o a se alegrar por poder consagrar seu tempo a suas funções sacerdotais e ao culto de seu deus (...). Era preciso que outro cuidasse da administração dos assuntos humanos, deixando-o livre dos encargos e das preocupações do Império, e não havia a necessidade de buscar a um estranho de outra família, mas que podia confiar a missão a seu primo. Alexiano tomou um nome novo e passou a chamar-se Alexandre34. (...) As duas filhas de Mesa e a própria anciã apregoavam o adultério de Antonino35, filho de Severo, para que os soldados aceitassem os jovens, crendo que eram filhos daquele
(HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.7.1-3).
E assim vemos posta em ação outra estratégia frutífera de Mesa para permanecer no Palácio e manter sua família no governo imperial. Mais uma vez ela assumiu a postura de uma negociadora, de uma articuladora política, de uma estrategista, no intuito de construir bases de sustentação para que seus familiares homens permanecessem na condução dos negócios públicos. Sem herdeiros naturais, pois não teve filhos homens com suas esposas, Heliogábalo poderia vir a ser sucedido por um membro de outra gens, então coube a Mesa articular a adoção36 e posterior ascensão de Severo Alexandre. Neste momento, Heliogábalo tinha dezesseis anos e Alexandre, doze anos. Dion Cássio informa que Mesa e Soêmia foram aceitas no Senado na sessão durante a qual Alexandre foi oficialmente adotado (DION CÁSSIO. História Romana,80.17.2). Na Vida de Heliogábalo, na História Augusta, o biógrafo defende que antes disso, logo na primeira sessão senatorial da qual Heliogábalo participou, este governante solicitou a presença de Soêmia (História Augusta, Vida de Heliogábalo,4.1), que teria participado inclusive das discussões na elaboração dos senatus consulta. Este rompimento da tradição teria sido tão mal visto que foi proibido nos governos posteriores (História Augusta, Vida de Heliogábalo,18.4-5). A informação diônea da presença feminina no Senado foi extrapolada na narrativa da História Augusta, quando se defende que:
Heliogábalo estabeleceu na colina do Quirinal um mini-senado (senaculum), isto é, um senado feminino, onde antes havia existido um lugar de reunião para as matronas, ainda que somente ocorressem assembleias nos dias indicados ou quando se concediam a alguma matrona insígnias de matrimônio consular, coisa que os imperadores antigos faziam com suas parentes consanguíneas (...). Sob o controle de Soêmia, daí saíram à luz decretos ridículos concernentes a normas de comportamento feminino: que vestidos usar, quem deveria ceder o lugar a quem, quem devia iniciar o movimento para ser beijada por outra (...), quem devia adornar seus calçados com ouro ou com pedras preciosas
(História Augusta, Vida de Heliogábalo,4.10-25).
Na visão deste autor do IV século d.C., enquanto Domna teria se cercado de intelectuais e filósofos num círculo literário, a parva Soêmia teria liderado um espaço para discutir etiqueta. Entretanto, se observarmos com cuidado as normas que teriam surgido deste “senadinho”, percebe-se que elas refletem inteiramente a divisão de ordens que marcava a sociedade romana e a expressão pública deste ordenamento social. Já Mameia e Mesa são apresentadas, tanto por Herodiano quanto por Dion, como as personagens a quem coube apartar Alexandre dos costumes e da presença do primo mais velho, estimulando-lhe um caráter diferente37. O imperador teria ficado insatisfeito com este distanciamento e novamente Mesa teve que interferir:
Mesa, a avó comum de ambos, desviava e desbaratava todas as invejas. Mesa era uma mulher extremamente hábil, pois havia vivido durante muitos anos no palácio imperial, como irmã de Júlia, a esposa de Severo (...). Nenhuma das intrigas de Antonino lhe escapava (...)
(HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.8.3).
Alexandre era guardado por sua mãe, por sua avó e pelos soldados, principalmente pelos Pretorianos, dos tumultos causados pelo Sardanapalus38. (...) Sua avó passou a odiá-lo por tentar matar o primo, e passou a tentar lhe mostrar que ele não era filho de Antonino
(DION CÁSSIO. História Romana,80.19.2-4).
O termo “hábil”, em grego “epidéxios”, atribuído à conduta engenhosa de Mesa, era aplicado também aos homens no vocabulário político latino. Desta forma, podemos identificar na narrativa herodianina tanto uma caracterização masculinizada de Mesa, típica da descrição de momentos de crise, como vimos, quanto um encômio velado à mesma, pois aproximar discursivamente as ações femininas das masculinas poderia ser tanto uma crítica quanto um elogio. A habilidade vinha da observação do ambiente cortesão, repleto de alianças e conflitos, e da capacidade de ação quando necessário. Tanto que em março de 222 d.C., quando Heliogábalo foi morto junto com sua mãe, Soêmia, e membros de seu séquito39, tendo seus corpos sido lançados no Tibre, Mesa sobreviveu para ver seu neto mais novo ser aclamado imperador. Herodiano informa que, por ser muito jovem, Alexandre “ficou completamente sob a tutela de sua mãe, Mameia, e de sua avó” (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.8.10).
Mais uma vez a juventude do imperador é destacada para explicar a intervenção feminina40, visto que Alexandre foi aclamado aos treze anos:
Ao ascender Alexandre ao poder, a dignidade e o título de imperador estavam com ele, mas a administração do Estado e o governo do Império eram controlados pelas duas mulheres que realizavam um sério esforço para desenvolver um governo moderado e respeitável. Como primeira medida escolheram dezesseis senadores, que inspiravam respeito por sua idade e que viviam com moderação, para que fossem conselheiros do imperador
(HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,6.1.1-2).
Contudo, não pode ter sido um governo tão ruim, já que o mesmo se estendeu de 222 a 235 d.C., ou seja, por treze anos. O governo de Heliogábalo foi mais curto, não cumprindo cinco anos, mas o do primo, acusado de ser manipulado pelas damas da família, foi bastante alongado em comparação com outros governos anteriores e posteriores. É claro que um narrador masculino, como Herodiano, enfatiza que os dezesseis conselheiros senatoriais foram fundamentais para o exercício de um bom governo, apreciado pela plebe, pelo exército e pelo Senado, pois: “nesta forma de Principado se passou de uma insolente tirania para um modo de governo aristocrático” (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,6.1.2). Mesa viu somente o início da administração alexandrina, pois em 226 d.C.: “depois de governar o Império desta forma durante muito tempo, Mesa, que já era uma anciã (tinha 56 anos), morreu. Recebeu honras imperiais e foi deificada41, segundo os costumes romanos. Mameia, ao ficar sozinha com o filho, esforçou-se por dirigi-lo e dominá-lo da mesma maneira” (Herodiano. História do Império Romano Após Marco Aurélio,6.1.4-5). Alexandre lhe forneceu o título de Augusta, anteriormente também atribuído a Mesa e Soêmia (DION CÁSSIO. História Romana, 80, fragmento 1). Para Herodiano, Mameia não soube imitar sua mãe e acabou concorrendo para um mau governo do filho nos seus últimos anos42, principalmente ao promover o afastamento da nora patrícia, chamada Cneia Seya Hérnia Salústia Bárbia Orbiana, cujo extenso nome indica sua ampla genealogia aristocrática, tão detidamente escolhida por Mesa.
Interessante notar que Eutrópio, no Breviário (8.23), ressalta a pietas de Alexandre, ou seja, sua preocupação incessante com a família43, enquanto Aurélio Victor, no Livro dos Césares, sublinha que ele “teria sido mais que piedoso em honrar sua mãe” (AURÉLIO VICTOR. Livro dos Césares,24.5-6). Assim, notamos como esta percepção de amalgamamento das figuras de Alexandre e Mameia na condução imperial se cristalizou ao longo do tempo44.
A historiografia moderna foi fértil em promover esta percepção do poder exercido por Mesa no seio de sua família, que, não podemos olvidar, era a domus imperial. Annelise Freisenbruch, no livro As Primeiras Damas de Roma: as Mulheres por trás dos Césares, apresenta o período severiano como um “matriarcado sírio” (FREISENBRUCH, 2014, p. 245-78). María José Hidalgo de la Vega, na obra Las Emperatrices Romanas: Sueños de Púrpura y Poder Oculto, defende que as Júlias foram as que chegaram mais próximo do sonho avermelhado\arroxeado, cor da púrpura, possuindo não apenas sonhos de domínio, mas chegando a ser “donas de Roma” (HIDALGO DE LA VEGA, 2012, p.131-60). Michael Grant, em The Severans: the Changed Roman Empire, abre um capítulo para dissertar sobre “as mulheres sírias” (GRANT, 1996, p.45-8). Clifford Ando, em Imperial Rome AD 193 to 284: the Critical Century, no capítulo sobre o legado de Septímio, denomina os governos de Heliogábalo e Alexandre de “a dinastia de Júlia Mesa 1” e “dinastia de Júlia Mesa 2” (ANDO, 2012, p.66-75). Mas não podemos nos esquecer de Aristide Calderini, que na obra I Severi: La Crisi dell´Impero nel III Secolo, designa seu quinto capítulo, na segunda parte do livro, como “A Crise dos Homens”, no qual disserta sobre a diminuição populacional, que havia aumentado a importância do gênero feminino, sobre um grave problema étnico que havia assolado o Império, permitindo a ascensão de elites sírias e norte africanas, e sobre a decadência da qualidade moral latina, pela qual os homens do século terceiro tiveram que reafirmar suas virtudes (CALDERINI, 1960, p.473-88).
Nestas obras, a ligação de Mesa com a irmã e os anos vividos no Palácio em Roma são sempre aspectos destacados. O termo “princesas sírias” forjado por Edward Gibbon (2005 [1776-1778], p.206), no clássico A História do Declínio e Queda do Império Romano, publicado em seis volumes entre 1776 e 1788, se multiplicou nas visões historiográficas posteriores. Esta expressão, inclusive, tornou-se o título do importante livro de Godfrey Edmond Turton, no qual as Júlias são apresentadas como as mulheres que mudaram Roma (TURTON, 1974, p.115-31). Ando (2012, p.66) percebeu a preocupação de Mesa com a sua família, tanto que a caracteriza como a fundadora de uma dinastia, papel bastante incomum a ser assumido por uma mulher num relato histórico. Freisenbruch ressalta as origens semitas dos nomes de Domna, possivelmente oriundo do aramaico Dumayna, derivação da palavra “preto”, e Mesa, provavelmente advindo do aramaico Masa, que “significa caminhar balançando-se” (FREISENBRUCH, 2014, p.249). Sua pátria Emesa era importante na rota de comércio de frutas, trigo e azeitonas exercida pelo rio Orontes, tanto que em suas cercanias sempre estavam estacionadas legiões45. Hidalgo de la Vega extrapola as visões anteriores, baseando-se nas informações da História Augusta, identificando Mesa a uma “inteligência oculta”, que atuou mais por interesse em defender a família em conluio com os anseios senatoriais, comparando-a a Mameia, que teria defendido interesses pessoais, atuando como regente, em detrimento de ambições dinásticas (HIDALGO DE LA VEGA, 2012, p.159)46.
Portanto, como Cornélia, com a qual começamos este texto, Júlia Mesa usou todos os artifícios que possuía para auxiliar sua família a manter e\ou aumentar sua dignitas. Seu arsenal de correspondências, relacionamentos e rumores foi posto a serviço de sua posição social e a de seus parentes. Enquanto Cornélia colocou sua imagem associada à prudentia, à pudicitia, à temperantia, à honor47, ou seja, à idealização da matrona romana por excelência, Júlia Mesa utilizou todo seu arsenal de astúcia e engenhosidade para retornar ao centro do palco político, para garantir que sua família síria ocupasse o imperium. Abriu mão da pudicitia de suas filhas, ao divulgar suas traições cortesãs com o primo Caracala, em prol da ascensão ao poder de seus netos.
Com a presença de Júlia Domna, os sírios chegaram ao Palácio junto com os norte africanos. Com sua irmã Júlia Mesa, uma família de origem síria chegava integralmente ao poder. Entre Cornélia, caracterizada como a mãe dos Gracos e sua preocupação com a condução do Estado na República, e Mesa, apresentada como a avó dos últimos dois Severos e sua inquietação com a manutenção de sua família no comando imperial no Principado, podemos perceber as mudanças implementadas na forma de governar os territórios administrados pelos romanos, e buscamos dados de como as mulheres, pelas frestas do arcabouço político, acabaram integrando este processo.
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Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e bibliografias utilizadas na produção deste artigo encontram-se referenciadas e nos responsabilizamos por todas as traduções dos documentos textuais antigos.
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Marco Túlio Cícero, na obra Sobre a República (XII.5-7), defende que em primeiro lugar no pensamento de um bom cidadão republicano deveria vir a preocupação com a saúde do Estado, depois com a tranquilidade da família e somente no fim o interesse pelos assuntos individuais.
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Entre 133 e 121 a.C., Tibério e dez anos depois o irmão mais novo Caio, após as eleições para o Tribunato da Plebe, apresentaram propostas de leis visando um início de reforma agrária em Roma. Sabendo que tais rogationes não passariam no Senado, apresentaram suas sugestões na Assembleia Tributa, que reunia os representantes das 35 tribos de Roma e produzia os plebiscitos, que tinham força de lei na República.
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Teria vivido de 155 a 217 d.C. Nascido e criado em Emesa, na Síria, como sua esposa, Avito foi um oficial de posição equestre, que devido à ligação com a família real de Emesa e com o Imperador Septímio Severo, seu cunhado, chegou a servir como praefectus e tribuno militar, depois alçado ao cargo de procurador dos alimenta em Óstia. Foi nomeado pretor em 194 d.C., foi legado na IV Legião Flavia Felix e indicado governador da Rétia entre 196 e 197 d.C. Foi indicado para o consulado em 199 e 200 d.C. Depois tornou-se comes do imperador e o acompanhou nas batalhas na Bretanha até 211 d.C., ano da morte de Septímio. No governo de Caracala, serviu como legado na Dalmácia em 214 d.C. e como procônsul na Ásia e na Mesopotâmia. Morreu em 217 d.C., a caminho do Chipre, possivelmente de velhice (BIRLEY 1999, p.223).
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Nomes de família com terminação feminina, como mandava a tradição latina, como indica Moses Finley (1991, p.145)
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Um dos melhores trabalhos sobre Domna é o livro de Barbara Levick, intitulado Julia Domna: Syrian Empereur, no qual se ressalta bastante esta origem fenícia da personagem. Esta autora defende que em Emesa se falava uma mistura de aramaico e grego, e só muito posteriormente o latim (LEVICK, 2007, p.15-20)
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Lembremos que, no nascimento dos cidadãos, a presença feminina se dava tanto no campo sobrenatural, pela intercessão de Juno Lucina, quanto no campo prático, pela ação das parteiras (VEYNE, 1990, p.25). Já no que se refere às cerimônias funerárias, Valerie M. Hope, no livro Roman Death, ensina que a morte conspurcava o ambiente onde ocorria, por isso era necessário que o cadáver e o local das honras fúnebres fossem limpos por seres que estavam sujos todo mês pela ocorrência da menstruação, ou seja, pelas mulheres (HOPE, 2009, p.37).
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Podemos perceber este tipo de caracterização tanto entre autores pagãos quanto entre escritores cristãos. Por exemplo, em Tácito, tanto nas Histórias quanto nos Anais, várias mulheres da dinastia Júlio-Cláudia são apresentadas como possuindo ambições, vícios e virtudes identificadas como típicas do gênero masculino, como coragem, planejamento, arrojo, ambição, entre outras. De igual maneira, autores cristãos que produziram narrativas sobre os martírios, como Prudêncio, perceberam nas mártires capacidades de ação que seriam tipicamente masculinas, como bravura, audácia, ímpeto, valentia, ousadia, etc. (vide: GONÇALVES, 2020A, p.210).
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A noção de que no leito de morte Septímio Severo teria aconselhado os filhos e herdeiros a ignorarem todas as forças sociais em detrimento de um fortalecimento excessivo dos poderes decisórios e financeiros dados às forças armadas romanas impregnou vários escritos sobre os governos severianos, sustentando a hipótese de que teria se construído uma monarquia militar durante os governos que se estenderam de 193 a 235 d.C. Sobre este assunto e as novas posturas historiográficas sobre os Severos, vide: GONÇALVES, 2013.
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Atual Homs, na Síria.
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Congiários eram distribuições de víveres ou moedas para senadores, equestre e\ou membros da plebe, ou seja, para cidadãos romanos em geral, em ocasiões festivas; donativos, exclusivamente para os soldados.
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Sobre o funcionamento da corte no período Severiano, vide: TURCAN, 2009; livro no qual se explicitam as alianças, movimentos, conflitos e outras práticas sociais exercidas no ambiente cortesão.
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Tarautas foi um gladiador violento, baixinho e atarracado que fez muito sucesso nos tempos de Dion. Para satirizar Caracala, Dion o denomina desta forma várias vezes ao longo de seu relato.
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Rainha da Assíria e fundadora da Babilônia, esposa do rei Samsiadade V (824-811 a.C.), foi regente de seu filho menor de idade, Adadenirari III. Sobre ela, muitos escritores escreveram, de Heródoto a Polieno, Plutarco, Justino, Eusébio, entre outros. Tornou-se modelo de mulher inteligente e que se imiscuiu nos assuntos masculinos.
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Como já referenciamos anteriormente, trata-se de importante faraona egípcia, filha de Pepi II, na sexta dinastia. Tornou-se rainha após o assassinato de seu irmão e consorte, Merenré II, e é citada por Heródoto (Histórias, 2.138)
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Tumba dos netos de Otávio, filhos de Júlia e Agripa, que morreram muito jovens. Possivelmente é uma referência ao Mausoléu de Augusto, no Campo de Marte. Dion Cássio determina que o corpo de Domna foi depositado e não suas cinzas. Talvez a inumação tenha impossibilitado sua deposição no Mausoléu dos Severos (DION CÁSSIO. História Romana,79.24.3).
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Como Geta recebeu do Senado a damnatio memorie, a pedido de Caracala, suas cinzas não puderam ser depositadas no Mausoléu dos Antoninos, onde estavam as de seu pai, numa urna de alabastro. Teve que descansar por algum tempo numa pequena tumba na Via Ápia. Pela Vida de Geta, na História Augusta, sabemos que suas cinzas foram depositadas nesta tumba que pertencia à família severiana (História Augusta, Vida de Geta,8.1-5).
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Como Septímio Severo se declarou filho de Marco Aurélio, o Mausoléu dos Antoninos acabou se convertendo também no Mausoléu dos Severos. Hoje é o Castelo de Sant´Angelo em Roma, convertido na Idade Média em local de refúgio para os papas.
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Sexto Vário Marcelo foi procurador de Septímio Severo na Bretanha em 197 d.C. e depois foi alçado ao Senado (BIRLEY, 1999, p.224).
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Marco Júlio Géssio Marciano teve Júlia Mameia como sua segunda esposa e teve com ela dois filhos, Alexiano e Teóclia (BIRLEY, 1999, p.221).
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Trata-se da III Legião Gallica, que foi criada em 49 a.C. por Caio Júlio César, lutou ao lado de Marco Antônio e, após a Batalha de Actium, foi enviada para proteger a Síria, sediada em Rapana (atualmente parte da Jordânia), tendo como comandante Públio Valério Comazão. Ao lado de Gânis, general eunuco e tutor de Heliogábalo, derrotou Macrino e Diadumeno na Batalha de Antioquia.
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O deus Elagabal era cultuado por meio de uma pedra negra que havia caído do céu, portanto, tratava-se de um meteorito.
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Sobre a posição de patrono dos soldados ocupada por alguns imperadores, como no caso dos Severos, vide: CAMPBELL, 1994; GONÇALVES, 2020B, p.157-77. O título de imperator garantia ao governante o comando supremo de todas as forças armadas romanas e auxiliares. Na posição de patrono, o príncipe era responsável pelo bem-estar das tropas e deveria ser um exemplo de conduta.
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Na História Augusta, indica-se Élio Espartiano como biógrafo de Septímio Severo, o mesmo de Caracala e Geta, enquanto Júlio Capitolino é assinalado como biógrafo de Macrino, e Élio Lamprídio como biógrafo de Diadumeno, Heliogábalo e Severo Alexandre.
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Os relatos históricos posteriores, fossem compêndios ou não, eram construídos a partir das narrativas já existentes, reiterando-se os discursos estabelecidos pela repetição no estabelecimento de uma tradição. O mesmo ocorre com o rumor de que Domna seria madrasta e depois amante de Caracala, devido ao fato de o mesmo não ter se casado novamente após o exílio e posterior passamento de Plautila (EUTRÓPIO. Breviário, 8.20.2; AURÉLIO VICTOR. Livro dos Césares,21.2-3). Esta informação também aparece na obra de Herodiano, que chega a chamar Júlia Domna de Jocasta (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,4.8.8). Na História Augusta, esta informação se multiplica. Podemos encontrá-la na Vida de Geta (7.10-12), por exemplo.
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Governou o Império de 218 a 222 d.C. Seu primo e filho adotivo foi soberano de 222 a 235 d.C.
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A métis era também um componente do caráter feminino na Antiguidade, como demonstra Cristiane Almeida de Azevedo (2018, p.31-48), no artigo “A Métis de Penélope”, e Joseane Tavares de Azeredo Silva e Hélder Pordeus Muniz (2017, p.309-31), no artigo “Considerações sobre a métis, a inteligência astuciosa”. Além disso, no manual militar de Polieno, os Estratagemas, dedicado aos imperadores Marco Aurélio e Lúcio Vero, o escritor grego defende o uso das mulheres na guerra, utilizando-se exatamente a métis feminina, já reconhecida por ele (GONÇALVES, 2013, p.144-62).
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Em 218 d.C., comandava a II Legião Pártica, estacionada em Apameia na Síria. Uniu-se e passou a comandar a III Legião Gálica para dar suporte à aclamação de Heliogábalo. Por isso, tornou-se prefeito do Pretório deste governante, cônsul em 220 d.C. e prefeito da cidade de Roma em 221 e 222 d.C.
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Segundo Herodiano, Macrino teria raspado a barba e usado roupas civis de viagem e permanecido sempre velado, para não ser reconhecido durante a fuga. Contudo, um vento contrário muito forte o impediu de progredir a caminhada (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.4.7-8 e 11.12). A ocorrência desta ventania pode ser vista como um augúrio ou um omen favorável à ascensão de Heliogábalo. Ou seja, até os deuses pareciam favoráveis aos estratagemas de Mesa.
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Recordemos que Dion Cássio era natural da cidade de Niceia, na Bitínia, cujos habitantes disputavam com os nascidos em Nicomédia o domínio da província. Então, talvez, esta referência a um general eunuco vindo de Nicomédia não seja aleatória na narrativa diônea. Sobre as divergências ocorridas nas províncias orientais romanas, vide: MENNEN, 2011; DIGNAS; WINTER, 2007; BRU, 2011.
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Muito importante também para estudarmos a construção da imagem de Heliogábalo e de seu considerado desastroso governo, vide: ICKS, 2012.
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Este primeiro casamento indica que a gens Cornélia, a qual nos referimos no início deste artigo, continuava muito atuante e relevante na política latina.
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Herodiano defende que esta troca de nome teve a função de aproximar ainda mais o novo César do indicado pai Caracala, reconhecido apreciador do monarca macedônio, bem como estreitar os laços com os soldados, também admiradores de Alexandre Magno (HERODIANO. História do Império Romano Após Marco Aurélio,5.7.3).
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Caracala era casado com Plautila, filha de Plautiano, quando teria se relacionado com as primas no Palácio. Portanto, seriam todos adúlteros, pois as filhas também eram casadas à época.
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Prática comum na engrenagem política romana, quando o homem não possuía herdeiros masculinos. Adotavam-se jovens da própria família e os conduziam para a carreira das honras, ou seja, para a ocupação das magistraturas latinas. Sobre o assunto, vide: LINDSAY, 2009.
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Na História Augusta, na Vida de Heliogábalo (14.12)., o biógrafo discrimina que “a avó e a mãe diligentemente custodiaram Alexandre”.
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Sardanapalus foi, segundo o autor grego Ctésias de Cnido, cuja obra Pérsica só é conhecida pelos fragmentos utilizados por Diodoro Sículo, o último rei da Assíria, no século IV a.C., que ficou reconhecido pelo seu caráter violento e dissoluto. Da mesma forma que Caracala é alcunhado de Tarautas por Dion, Sardanapalus passa a ser a denominação de Heliogábalo na narrativa diônea.
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Heliogábalo foi morto num motim pretoriano, no próprio castrum pretorium, local também da primeira aclamação de Alexandre como imperator.
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Na História Augusta, na Vida de Severo Alexandre (1.3-4), o novo soberano é apresentado como filho de Vário e neto de Vária, e primo de Heliogábalo, cometendo alguns erros, pois ele era neto de Mesa. Todavia, é interessante demarcar que é a única biografia em que o governante é apresentado com o nome da avó. O mesmo escritor erra também o nome da esposa de Alexandre, denominando-a de “Memia”, quando se chamava Salústia Bárbia Orbiana (História Augusta, Vida de Severo Alexandre,20.15), da mesma forma que opina que Heliogábalo poderia ter sido tio e não primo de Alexandre (História Augusta, Vida de Severo Alexandre,49.26-28).
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O neto Severo Alexandre solicitou ao Senado a feitura da cerimônia da Consecratio\Apoteose de Mesa, cuja solicitação foi aprovada e a mesma foi efetivada em 226 d.C. Seus restos foram depositados no Mausoléu dos Antoninos, junto com as urnas funerárias com as cinzas de todos os membros de sua família.
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Severo Alexandre acabou assassinado junto com sua mãe e membros de seu séquito, em 235 d.C., num acampamento militar, quando participava de uma campanha em Mogoncíaco, na Germânia Superior, por soldados da XXII Legião Primigênia.
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A noção latina de pietas se relacionava diretamente com o conceito grego de eusebéia, que integrava tanto a preocupação com a gerência da família, quanto a condução dos negócios públicos e o estabelecimento de uma boa relação com o sobrenatural. Já a noção latina de honor poderia ou não se vincular ao conceito grego de timé ou timao, mais ligado ao ambiente masculino da honra em batalha, de fixar o valor do indivíduo frente à comunidade. Sobre o assunto, vide: BRU, 2011, p.195-196.
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Na História Augusta, na Vida de Severo Alexandre, inúmeras vezes ele é denominado de “filho de Mameia”.
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Tanto a IV Legião Cita comandada por Septímio em 179 d.C., quando ele conheceu Domna (Grant, 1996, p.45), quanto a III Legião Gaulesa, que aclamou Heliogábalo em 218 d.C.
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Os títulos atribuídos a Mesa, como Augusta, Mater Castrorum, entre outros, pelos seus netos, devem ser estudados por meio, principalmente, da numismática. Neste texto, ativemo-nos aos documentos textuais.
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Sobre a importância de honor e de pudicitia nas esferas privada e pública dos romanos, vide: LENDON, 2005; BARTON, 2001.
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Editado por
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Editores Responsáveis
Miguel Palmeira – Stella Maris Scatena Franco
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
27 Jun 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
03 Dez 2023 -
Aceito
30 Out 2024
