Open-access Canudos, memórias de um combatente: a guerra como uma pequena história

Canudos, memories of a soldier: the war as a small story

RESUMO

Aos 76 anos, o ex-combatente Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior escreveu uma “pequena história” na qual rememora, como testemunha ocular, a guerra de Canudos (1896-1897), na Bahia. A releitura desse documento possibilita a compreensão de um fato central na formação do Brasil como república e revela a formação de um campo de saberes subalternos que desafia as versões hegemônicas da guerra. A leitura comparativa de obras consagradas sobre Canudos propõe repensar a ligação entre oralidade e escrita a partir de noções como a “retórica da sinceridade”, em que o testemunho se combina com a narrativa e referências cultas de acordo com o nível de alfabetização do autor. Disso se deduz que se trata de uma pequena história que produz grandes efeitos, pois as estratégias de legitimação acabam por subverter a ordem da historiografia oficial e convertem o soldado republicano em um herói sertanejo.

PALAVRAS-CHAVE
Canudos; memórias; testemunho.

ABSTRACT

At the age of 76, the ex-soldier Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior wrote a “short story” in which he recalls, as an eyewitness, the war of Canudos (which took place in the state of Bahia between 1896 and 1897). The rereading of this document allows us to understand a central event in the formation of Brazil as a republic and reveals the formation of a field of subaltern knowledge that challenges the hegemonic versions of the war. The comparative reading of relevant works on Canudos war proposes a rethink of the connection between orality and writing, where testimony is combined with narrative structures based on notions such as “rhetoric of sincerity”. From this analysis, it can be deduced that this is a small story that produces great effects, where the legitimation strategies end up subverting the order of official historiography and converting the republican soldier into a sertanejo hero.

KEYWORDS
Canudos; memories; testimony.

“Foi vingado o coronel Tupi... E -

fato que foi observado por todos - o

soldado ao voltar dessa carga

tremenda, ferido, mutilado,

chamuscado do incêndio, coberto da

poeira dos escombros, exausto e

ofegante da luta, vestes dilaceradas

nos pugilatos corpo-a-corpo -

indiferente à dor e indiferente à vida

que se lhe escapava lentamente

pelas artérias rotas - vinha

chorando como uma criança,

murmurando numa veneração

estranha o nome do heroico

comandante” (Euclides da Cunha,

2009, p. 100).

Em 1951, aos 76 anos, o ex-soldado Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior (1875-1965) escreveu um manuscrito em formato de diário no qual, a partir da sua própria experiência, a guerra de Canudos é narrada como uma “pequena história”1. A publicação de 1988 (e posteriormente a reedição de 1997), com introdução, estabelecimento de notas e dados biográficos por Ruth Villela Cavalieri, resgata esse documento tão particular sobre os acontecimentos2. O livro está estruturado em duas partes que correspondem às duas últimas grandes expedições militares a Canudos: a 3ª Expedição, denominada Moreira César, e a 4ª Expedição, liderada por Arthur Oscar. A parte I corresponde a uma narrativa mais breve, narrada sempre em primeira pessoa, na qual Villela Júnior nos apresenta sua participação nos combates e também o grau de obediência imposto pela hierarquia militar. Nessas peripécias narradas, relatam-se as dificuldades de sobreviver no sertão logo depois da derrota da terceira expedição e imediatamente após a morte do comandante Moreira César no começo do mês de março de 1897. A parte II, mais extensa, relata as ações de Villela Júnior à frente da falida expedição Moreira César. O labor do então sargento na linha de frente da batalha adquire especial relevância pela sua função como fiel artilheiro republicano. Essa função se completa com a última seção do livro intitulada “Armas e heróis” na qual são registradas as tecnologias e os notáveis combatentes republicanos3.

Em toda a sua obra, a narrativa de Marcos Evangelista busca diferenciar-se das versões oficiais da guerra, especialmente daquelas produzidas por outras autoridades republicanas, como nos casos de Antônio José de Siqueira Meneses que, “no calor da hora” (GALVÃO, 1977), publicou em setembro de 1897, sob o pseudônimo de Hoche, vários artigos no jornal O País; e também de Dantas Barreto (1898), a quem devemos as duas descrições militares mais completas da guerra, publicadas nos anos de 1898 e 1905. Da mesma forma, por meio da memória e da oralidade, essa obra realiza uma peculiar releitura do acontecimento bélico e, como veremos na continuação, ganha relevância diante da versão mais consagrada da guerra de Canudos, escrita por Euclides da Cunha e publicada em 19024.

Em disputa com interpretações radicais do conflito, como foi o Libello republicano, publicado em 1899 por César Zama5, Villela Júnior (1988, p. 116), na seção “Armas e heróis”, afirma que: “[n]ão faço com estas declarações favor a ninguém; só lamento não ter o dom de ubiquidade para estar em toda parte, a fim de que nenhum dos bravos ficasse esquecido, e assim enriquecer a nossa história”. Sua perspectiva, está determinada, em primeiro lugar, pelo posicionamento como testemunha ocular dos fatos6. Mas esse objetivo é tão difícil de alcançar que, de imediato, o combatente acaba recorrendo ao sobrenatural para alcançar aquele dom da onipresença sobre os acontecimentos que ele, na verdade, não testemunhou. Essas duas posições complementares são fundamentais na encenação das memórias da guerra, e é por isso que o texto está repleto de anotações e recontagens dos nomes próprios dos soldados e sargentos que compunham os batalhões de guerra. Essas memórias são uma vindicação das ações heroicas de muitos dos combatentes anônimos ou não reconhecidos nas escrituras da guerra: “Apesar de passados 54 anos, nada esqueci. E meu intento ao registrar esses fatos é fazer justiça e bem servir ao Brasil” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 121). A narração destaca, em diversas ocasiões, as péssimas condições da luta como forma de expor a realidade vivida por um grupo muito particular que se distinguirá de todos os outros pelotões: “Em toda essa marcha, repito, quem mais sofria éramos nós da artilharia” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 19).

Essa noção de guerra como uma “pequena história”, proposta por Ruth Villela Cavalieri (1988, p. 6) na apresentação da primeira edição em 1988, sugere a definição de um narrador, no sentido benjaminiano, de contador de histórias. O narrador-testemunha utiliza a primeira pessoa para legitimar seu texto e apresentar detalhes de acontecimentos nunca antes revelados. Para isso, propõe o que chamaremos de “retórica da sinceridade”. Trata-se de uma retórica em que o sujeito do enunciado afirma que não há erros no que é contado mesmo que admita omissões não voluntárias como produto inerente da memória. Esse testemunho define-se a partir de uma noção de sofrimento ligada à reivindicação do lutador como cidadão fiel. Omitir, nesse caso, seria diferente de inventar, e a memória com suas imperfeições torna humana a narração dos acontecimentos. Desse modo, Villela Júnior (1988, p. 51) afirma: “Assim terminou para mim a odisseia da brigada do coronel Moreira César, cujos acontecimentos do dia a dia nunca foram revelados em detalhes, como acabo de fazer. E se houve omissões, acréscimos não houve. É o que afirmo; palavra de honra de um velho soldado sofredor”.

Entrando na profundidade da aparente simplicidade do texto, encontramos, então, referências a concepções de memória e ao ato mesmo de escrever. O texto expõe e constrói sua própria legitimação de forma metaliterária: “Tudo quanto relatei foi produto da minha memória, acredito que sem discrepância. Apesar de passados 54 anos, nada esqueci” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 121). Além de conceber a memória como pura e transparente, o autor desenvolve diversas operações para se marcar como uma pessoa de carreira educada e de conhecimento. Num ato repetitivo de singularidade, o texto está repleto de alusões sobre a formação desse militar que o distanciam da figura geralmente concebida do soldado ignorante. Essa diferença entre a história contada por um conhecedor de relatos e um simples soldado é tematizada no meio do texto com um exemplo quase de fábula: “Um poeta baixo e corcunda, que se tinha em conta de sabichão, perguntou a um soldado ignorante o que era um ponto de interrogação. Este lhe respondeu que era uma figura baixa e corcunda que servia para fazer perguntas” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 93).

Assim, o texto funciona também como um conto popular em que a oralidade tem muito peso e exemplos, costumes e ditados populares fazem parte da construção dos eventos da guerra. Outras fontes vêm das histórias que o próprio (VILLELA JÚNIOR 1988, p. 89) ouviu na frente de batalha: “Isto eu narro por ouvir de alguns companheiros que assistiram, pois logo que se apertou o cerco, eu estava em péssimo estado de saúde, porém dentro da trincheira”. Nesses casos se apoia ele em fontes orais para completar as informações que não conheceu pessoalmente. Como, por exemplo, acontece com o aparecimento das duas cascavéis no início das histórias de cada expedição, que é uma das formas populares de construir uma narrativa em que os conflitos com o inimigo são determinados pelos bons ou maus presságios das primeiras ações. No primeiro caso, a cascavel foge, no segundo, os republicanos a matam: “Fatos como estes eram constantes e constituíam para nós mais um inimigo flagelante”, conclui Villela Júnior (1988, p. 57).

Na procura dessas legitimações, entre outras tradições discursivas utilizadas, o texto constrói um marco legal onde a palavra jurídica funciona como prova escrita. Villela Jr. compara, com muito cuidado, suas manifestações com as dos relatórios de guerra. Como no caso de “A visita do Marechal Bittencourt”, em que ele narra seus encontros com o alto comando e comenta um episódio em que o marechal lhe entrega uma carta com a caligrafia do general Arthur Oscar. Após elogiar seu hábil manejo da artilharia, Villela Júnior comenta a incumbência que o general lhe dá para narrar os acontecimentos e reproduz uma cena central nesse processo de legitimação:

O general mandou me chamar e disse: “Cadete, o senhor vai embora; é uma recomendação dos médicos, por seus ferimentos e estado geral. Já determinei que providenciassem um animal encilhado para conduzi-lo até Queimadas”. Eu respondi: “Senhor general, apesar do meu estado, ainda me sinto em condições de aguentar até o fim, se V. Ex.ª o permitir”. Mas o general insistiu: “Absolutamente, não consentirei. O que você fez já foi demais e eu quero que você conte a história”. (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 84).

Essa cena, que representa um diálogo com a maior autoridade bélica, expõe a própria história como uma dívida enorme do indivíduo com a nação. Marcos Evangelista, escrevendo suas memórias, cumpre um dever que lhe foi atribuído pelo general comandante do exército republicano. Sua enorme ação heroica não terminava na frente de combate: tendo cumprido a ordem de retirada do campo de batalha uma vez ferido, era seu dever como cidadão republicano narrar as suas memórias. Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior desenvolve o que podemos chamar de “truque dos fracos” (LUDMER, 1984 - tradução própria) por meio do qual formula uma tática muito produtiva ao assumir seu lugar de obediência e, a partir daí, descrever a suas ações como se fosse um relato necessário para a nação. Ele aproveita a retórica da falsa modéstia para falar da sua versão dos fatos: “Sinto, no entanto, não ter queda para escritor, a fim de dar um cunho mais elegante a esta narrativa, feita apenas em reverência à Pátria e aos meus companheiros de luta” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 121). Além da falsa humildade, a escritura do combatente, como veremos na continuação, é um jogo de deslocamentos e efeitos estéticos onde a aparição da voz do ex-soldado desafia as versões hegemônicas da guerra de Canudos.

Os saberes do subalterno

“Nessa narrativa não visei outra

coisa senão dizer a verdade sobre

a campanha de Canudos,

mostrando principalmente os feitos

dos nossos bravos que se

sacrificaram acreditando dar à

Pátria tranquilidade e sossego”

(Villela Júnior, 1988, p.101)

A expedição de Moreira César é narrada de forma muito particular. Foi nessa operação fracassada que Villela Júnior estreou na guerra aos 22 anos. A narração do combate é muito breve, e já nas primeiras páginas o fracasso fica exposto. Após a morte do comandante Moreira César, o batalhão todo empreende uma retirada descontrolada pelo sertão, intitulada “A retirada que não houve”. Nos eventos desses capítulos há uma tensão determinante entre o desejo de destacar as ações heroicas dos militares no campo de batalha e a “retórica da sinceridade”, pela qual Villela Júnior obriga-se, como testemunha ocular, a mencionar os fracassos e as falhas da campanha. O texto tem a riqueza de expor essa tensão:

Isto nunca foi dito aos brasileiros para mostrar a bravura de nossa gente e dos nossos chefes, a quem nunca deixei de venerar, cultivando sempre e sempre a sua memória.

Antes de narrar o prosseguimento da marcha até Favela, devo aqui render um preito de homenagem à intrepidez, bravura, calma e resignação com que se portou o nosso comandante-em-chefe, o heroico general Arthur Oscar, cujo exemplo empolgou toda a tropa. (VILELLA JÚNIOR, 1988, p. 63).

Essa citação é rica na medida em que denuncia os silêncios das versões oficiais das quais Villela Júnior distancia-se e, ao mesmo tempo, se combina com uma simultânea apologia ou veneração aos seus comandantes. Chama a atenção que, ao lado de valores como valentia e coragem, seja mencionada a resignação como um caráter cristão que serve para humanizar essas figuras.

Na seção “Um pecadilho de Guerra: o roubo do Marmitão”, condensa-se o clímax da “retórica da sinceridade”, e os fracassos da campanha militar no sertão configuram as condições precárias e dolorosas em que os soldados avançam (ou pelo menos tentam avançar), colocando em primeiro plano as condições do corpo no espaço hostil. Diante das atrocidades da guerra e das agruras sofridas, a narrativa torna-se uma espécie de cura e enuncia uma noção de prazer definida da seguinte forma: “É com o maior prazer que relato todos os feitos desta truculenta campanha, que, de um lado, mostra a perda de tantas vidas preciosas e, de outro, um padrão de glória, pela bravura dos combatentes” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 82). Esse tipo de encenação pode ser lido a partir do que chamamos de “dupla precariedade”. Assumiremos essa precariedade em dois sentidos correspondentes: por um lado, essa memória do soldado é considerada pela historiografia, comparada a obras como Os sertões, de Euclides da Cunha, como um “texto menor” (DELEUZE; GUATTARI, 2008). Por outro lado, o testemunho é precário na medida em que as vidas dos combatentes podem ser definidas como “vidas precárias” (BUTLER, 2006) no sentido de uma tentativa de abordagem da questão próxima de uma ética da não violência, baseada na compreensão de como é fácil eliminar a vida humana daqueles que lutaram a favor e contra o regime republicano.

No último capítulo, a narrativa do autor, como quase tudo o que é premeditado em Canudos, se volta para esses outros tipos de cenas: “Más é preciso também falar de algumas passagens relativas à convivência da tropa em suas horas de lazer, quando o inimigo dava uma trégua” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 96). Em grande medida, esses trechos procuram humanizar o lutador republicano para figurá-lo não como um herói distante, mas como um herói de carne e osso que aspira a ter direitos, a constituir-se como cidadão. O trabalho com a representação que o memorialista procura fazer - narrar esteticamente os atos dos “verdadeiros heróis” de Canudos - torna-se muito difícil e por vezes muito árduo. Para cumprir com esse dever, nesse capítulo o autor narra fugas de soldados das linhas republicanas e reclama para aqueles “covardes” e “traidores” dentro do lado republicano que, por exemplo, ferem a si mesmos para escapar da frente de batalha. Por fim, essa humanização será aplicada à descrição de si mesmo e sobretudo ao seu trabalho como artilheiro, atividade determinante para a vitória republicana. Essa encenação da guerra cotidiana pode estar associada às imagens captadas por Flávio de Barros, em especial a fotografia “Refeição na bateria do perigo” (Figura 1), que encena um almoço cotidiano na frente de guerra.

Figura 1
“Refeição na bateria do perigo”, de Flavio de Barros (ALMEIDA, 1997, p. 67)

Essa cena cotidiana na frente de batalha possibilita uma leitura dos “perigos do arquivo” (RAMOS, 1987) a partir do questionamento das formas pelas quais os combatentes (oficiais e soldados) se relacionam entre si e com as crianças jagunças. Ao mesmo tempo, possibilita a reflexão sobre como essas figuras foram representadas através da mediação do fotógrafo. Nessa imagem poderíamos acrescentar a presença de Villela Júnior no improvisado quartel de artilharia, que completa, em outra perspectiva, o quadro do refresco de convívio como espaço de encontro durante uma pausa no combate.

São vários os fragmentos em que Villela Júnior relata sua experiência como artilheiro e se estabelece como “previsor” de tragédias ou batalhas perdidas. Esses fragmentos operam como uma reivindicação dos saberes do subalterno em oposição à tomada de decisões da liderança militar e ao conhecimento autoritário de figuras como Siqueira de Meneses7. Nessa linha, o narrador se descreve a si mesmo como uma figura digna e merecedora de reconhecimento na batalha: perspicaz, obediente, cuidadoso e clarividente. É um dos combatentes que tem iniciativa própria, mas que também é disciplinado e nunca age (segundo a sua própria história) de forma individual ou desatenta em relação aos objetivos republicanos. Bom narrador, Villela Júnior (1988, p. 31) posiciona-se ao longo da história e estabelece um vínculo particular com os demais combatentes: “Eu ouvia tudo e seguia à frente, sofrendo as dores mais cruciantes que se possa imaginar, pensando na situação e dizendo de mim para mim que era minha força moral que estava sustentando aquela gente”.

A situação dolorosa aqui está diretamente ligada aos sentidos e à percepção do narrador. A previsão narrativa que se baseia na reflexividade é colocada a serviço do apoio aos colegas, agindo a partir da solidariedade e reivindicando nisso princípios morais. Com essas operações textuais, o sujeito deliberativo amplia a narrativa do retiro e dá conta de suas decisões e de suas ações propositais quando tudo já falhou. Diante da dissolução, o militar toma a palavra e coloca em cena sua capacidade retórica para ordenar ações grupais e falar com seus companheiros:

Datei e mandei todos assinarem, sendo que, dos que não sabiam ler, relacionei nomes e corpos a que pertenciam, fechei com minha assinatura, enrolei, coloquei dentro do canudo e disse: “Eu não posso andar mais do que estou andando, com os pés em chaga viva, como estão vendo; não quero sacrificar ninguém, nem quero que ninguém se sacrifique por mim; todos me obedeceram cegamente defendendo a vida como podíamos; agora dou plena liberdade a todos, e quem estiver em condições de marchar pode seguir; eu seguirei na retaguarda conforme Deus quiser e, com minhas armas, enquanto tiver forças me defenderei”. (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 31).

O narrador, também, constrói-se como um grande orador, o que não é um fato menor, pois indica suas próprias capacidades e a vontade primária de ser autoridade na guerra. A retórica de encorajamento, típica da arenga8, expõe as dificuldades, reconhece a obediência, menciona a providência, concede liberdade e dá o exemplo correto. A menção ao porte de armas antecipa ameaças subsequentes e serve de lição para outros combatentes que acabam mortos por não as portarem. A conjunção entre obstáculos, aventuras e resoluções também se repete posteriormente para evidenciar as ações rápidas e decisivas do narrador. Por exemplo, são enfatizados os conhecimentos e habilidades estratégicas que o autor possui sobre a preparação para os combates e o destaque de ações marcantes na frente de batalha, como, por exemplo, saber montar um cavalo: “Desatei o talim da espada, passei por cima dos embornais de munição e víveres, tirei a espada do francalete e meti por dentro do talim, entre este e o corpo, ajustei tudo bem e caí n’água” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 41-42).

Porém, no texto vislumbram-se os silêncios, que funcionam como o outro lado dessa encenação. Como indicam várias outras fontes, Villela Júnior (1988, p. 28) é um dos soldados que, após o fracasso da terceira expedição, acaba entregando os canhões à “multidão de jagunços”. A culpa é dissipada pela narração do acontecimento como inevitável dentro da “retórica da sinceridade” como já vimos. Essa retórica, forçosamente, pode ser lida como uma estratégia narrativa que busca apagar a possibilidade de um narrador mentiroso. Porém, o resultado do seu discurso deliberativo é altamente negativo, visto que nenhum dos seus companheiros decide continuar a marcha com ele, tal como o texto diz: ele estava sozinho, “contando com a companhia de Deus e do Cristo, além das armas que conduzia” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 32). Paradoxalmente, o grande feito proposto pelo narrador é reconhecido como um fracasso.

Essa cena também pode servir de desculpa para justificar a desistência ou fuga individual da terceira expedição da qual Villela Júnior é participante. Após fazer o discurso aos companheiros, com grande presença de um narrador em primeira pessoa, o texto descreve as aventuras solitárias do “eu” que, acompanhado por Deus, vagueia por um espaço vazio onde só encontra mortos e fantasmas. Nesse percorrer, o fato heroico é sobreviver no sertão, onde a sede e a fome viram os verdadeiros inimigos. Para conseguir isso, Villela Júnior revela sutilmente suas habilidades e conhecimentos. Uma delas é a sua capacidade retórica, já que, a partir do monólogo ou diálogo interno consigo mesmo, suas aventuras estarão acompanhadas pela Providência: “Continuei sozinho, dizendo comigo mesmo: ‘é sina marchar só, mas Deus é grande e acompanhará’” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 34)9. Entre outras habilidades, destacam-se seu incontável conhecimento de botânica e as estratégias utilizadas para obter comida e bebida na natureza inóspita. Como apontamos anteriormente, essa aliança entre Villela Júnior e a natureza sertaneja prefigura uma identificação diferente daquela de outros oficiais e governantes republicanos e estabelece uma perspectiva e um conhecimento sobre a natureza local do cearense. Nessa perspectiva, o narrador inverte os valores negativos de sua fuga ou “marcha solitária” ao mencionar atos de salvação de um médico e exemplos de outros companheiros “covardes” que não tinham espírito de grupo nem solidariedade.

Será mais tarde, com a expedição de Arthur Oscar, que se abrirá a possibilidade de refazer o caminho perdido na terceira expedição. O capítulo abre com uma dupla operação discursiva e literária: a exaltação da figura do coronel Siqueira de Meneses e a previsão de novos combates deduzidos pela presença de uma cobra cascavel, que atua como um bom presságio. Com Siqueira de Meneses no comando, o Batalhão de Artilharia efetivará seus ataques e bombardeios. O narrador descreve cuidadosamente o novo armamento, fixa termos técnicos para as armas mais utilizadas (“kropatschek”, por exemplo) e destaca seu conhecimento “subalterno” nesse campo em contraposição ao desconhecimento de seus superiores: “Mas ele não se convenceu com as minhas palavras do artilheiro experiente” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 67). É agora que sua precisão de ataque, ao comando da Matadeira, não diminuirá nunca e será efetiva no final de cada seção.

No capítulo “Artilheiro do 32, a matadeira”, Villela Júnior expõe e desenvolve suas habilidades como soldado de artilharia com o auxílio da arma mais poderosa e famosa da última campanha militar10. A narrativa coloca em primeiro plano a capacidade do narrador de prever problemas e resolvê-los: o narrador antecipa tragédias e fala com seus superiores explicando o verdadeiro funcionamento do canhão 32. Devido ao uso indevido do canhão, outro soldado “cego” foi “vítima de sua imprudência e ignorância e também de sua falta de urbanidade e atenção para com seu subordinado, que humildemente tentara livrá-lo de um perigo” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 74).

Na narrativa Os sertões, de Euclides da Cunha, relata-se essa mesma cena, mas, na prosa euclidiana, a verdadeira culpa da tragédia não teve que ver com o mau uso do canhão Witworth mas sim com a agência imprevisível dos fanáticos canudenses. Vejamos a continuação um fragmento narrativo que ilustra essa mudança de ponto de vista entre uma e outra versão:

Doze rostos apenas de homens ainda jacentes, de rastro, nos tufos das bromélias. Surgem lentamente. Ninguém os vê; ninguém os pode ver. Dão-lhes as costas com indiferença soberana vinte batalhões tranquilos. Adiante divisam a presa cobiçada. Como um animal fantástico, prestes a um bote repentino, o canhão Witworth, a matadeira, empina-se no reparo sólido. Volta para Belo Monte a boca truculenta e rugidora que tantas granadas revessou já sobre as igrejas sacrossantas. Caem-lhe sobre o dorso luzidio e negro os raios do sol, ajaezando-a de lampejos. Os fanáticos contemplam-na algum tempo. Aprumam-se depois à borda da clareira. Arrojam-se sobre o monstro. Assaltam-no; aferram-no; jugulam-no. Um traz uma alavanca rígida. Ergue-a num gesto ameaçador e rápido...

[...]

O ódio votado aos canhões, que dia a dia lhes demoliam os templos, arrebatara-os à façanha inverossímil, visando a captura ou a destruição do maior deles, o Witworth 32, a matadeira, conforme o apelidavam. Foram poucos, porém, os que se abalançaram à empresa. Onze apenas, guiados por Joaquim Macambira, filho do velho cabecilha de igual nome. Mas ante o grupo diminuto formaram-se batalhões inteiros. (CUNHA, 2001, p. 300).

A narrativa de Euclides, como vemos, resgata o ponto de vista dos jagunços, diferentemente da perspectiva indicada por Villela Júnior. Por sua vez, Villela Júnior (1988, p. 75) reclama com seus superiores e, através de sua experiência como artilheiro, não só os convence, mas também testa seus conhecimentos usando o canhão 32, já que, após uma explosão causada pelo uso indevido da arma, “ninguém mais quis operar com o 32”. Nessa reviravolta de posições, ao narrar o uso do canhão para massacrar o inimigo, ele identifica a pessoa que o ajuda, seu colega João Tomás, não estritamente como “brasileiro”, mas como cearense. Ao disparar o canhão 32, o amigo exclama: “Conheça, jagunço, o peso do cearêncio!” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 77). Sem ultrapassar os papéis de sua categoria, o autor combina muito urbanamente as ações de comandar e as de obedecer e, graças a essas, torna-se um dos responsáveis pela destruição da igreja-fortaleza de Antônio Conselheiro. Por isso, na sua versão dos atos, ele passa de subordinado a herói, ganhando, como prêmio, um café numa caneca de flandres e umas três bolachas velhas que achou saborosíssimas. Há, portanto, duas mudanças que ocorrem com o surgimento dessa voz subalterna entre as múltiplas versões dos acontecimentos da guerra. Por um lado, o posicionamento do subordinado como herói que desafia relatos anteriores de autoridades militares. Por outro lado, nesse relato, pode-se inferir, Villela Júnior se identifica, antes de tudo, como alagoano e sertanejo para, como no caso de João Tomás, ser considerado também brasileiro. Segundo a história, a bravura e o heroísmo vêm de suas qualidades sertanejas11. Há fragmentos textuais em que o narrador repete ditos e falas típicas dos sertanejos. Por exemplo: “enchi da preciosa manjuba, e [...] pus a farinha num embornal” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 34). No início da narrativa parece que o autor está aprendendo essas palavras no calor da guerra, mas, na verdade, à medida que o texto avança, ele se revela um filho nascido no sertão:

“O principal o senhor não sabe, pois ainda não perguntou onde eu nasci. Eu lhe digo: nasci num povoado do município de Pão de Açúcar, no sertão de Alagoas, chamado Meirus. Também sou sertanejo.”

Ao terminar a palavra sertanejo, Simão vibrou de entusiasmo, dizendo: “Eu logo vi, para um homem suportar tanta coisa só sendo sertanejo. Seu sargento, o sertanejo sofre desde o dia que nasce até o dia em que morre [...]”. (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 49).

A reivindicação do sertanejo não responde aqui, ao contrário da versão de Euclides da Cunha, por exemplo, a uma exaltação ideológica dos habitantes do interior contra as ondas de imigração que atingiram as cidades costeiras do país12. É, antes, uma reivindicação do que é seu, a partir da qual Villela Júnior também reivindica o seu direito à cidadania nacional. Há toda uma estratégia de construção de uma genealogia que reconhece o alagoano como filho legítimo da república brasileira. Visto por esse ângulo, o soldado republicano é o outro, mas, ao mesmo tempo, é igual ao homem do sertão contra o qual está lutando. O texto funciona assim como uma espécie de condecoração para o autor e busca conceder a ele o título de cidadão legítimo da República. No ato de guerra, ambas as identidades conflitantes são (con)fundidas, e as armas e os objetos são representativos disso. É uma condição material da guerra, onde, como vimos, os papéis entre vencedores e vencidos tornam-se, paradoxalmente, intercambiáveis já que o texto é um “documento” que converte o sertanejo em brasileiro.

A tese proposta por Miriam Gárate (2002) postula que o que é comumente analisado como uma inversão da antítese civilização-barbárie, na verdade, consiste num duplo processo através do qual a escrita da antítese é desconstruída e perde o seu significado taxonômico. De acordo com essa leitura de Gárate, as textualidades mais próximas do conflito bélico não apenas “invertem” (através da imagem) alguns dos seus enunciados “científicos”, mas também nos obrigam a “subverter” a própria hierarquia textual. Assim como ocorre na relação entre os acontecimentos ocorridos e a memória narrativa de Villela Júnior, nesse processo de subversão da antítese, as duas operações que Gárate menciona (de fazer e de falar) não podem ser dissociadas. O trabalho com a memória realizado por ele, é um claro exemplo de como as maneiras pelas quais o paradoxo, a antítese e a contradição textual “subvertem” as hierarquias genéricas, conceituais e, portanto, políticas que redefinem o acontecimento de Canudos.

Ao final do texto, ao voltar às cidades do litoral, Villela Júnior conta as outras aventuras burocráticas e políticas que teve que realizar, após o conflito, para a valorização e reconhecimento do seu trabalho como combatente. Para um soldado, a luta de Canudos torna-se também uma batalha contra as instituições republicanas em busca do reconhecimento de sua dupla ação: a luta e a escritura da luta. O autor formaliza seu pedido ao final do texto:

Estes foram os nossos valorosos soldados. Esses foram os eventos a que presenciei. Os sofrimentos suportados nessa campanha, como aquele de brigar 14 dias consecutivos curtindo fome, sem demonstrar o mais ligeiro gesto de desfalecimento, bastam para comprovar a fibra da nossa gente, que nos dá orgulho de dizer: “Sou brasileiro”. (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 120).

A reivindicação não é apenas apresentada perante a instituição burocrática governamental, mas, também, no desejo de escrever o acontecimento, Marcos Evangelista disputa com a instituição literária. Embora não haja muitas referências literárias no texto além das assinaladas, há menção textual aos versos “Meninos, eu vi!” do poema “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias. Essa referência nos permite apontar o valor da postura testemunhal que se completa com as frases em que a memória e a visão agem em conjunto: “Que eu lembre [...] que eu vi com meus olhos, como diz o poeta” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 60). Da mesma forma, a definição da narração da guerra destaca-se como uma tarefa estritamente literária a qual será o início da configuração de uma moderna literatura brasileira que, no final do século XIX, estava travada em uma árdua disputa. O autor, com suas afirmações, consegue inscrever-se nessa disputa para logo após ressaltar o fim da sua múltipla aventura: “E foi nesse momento que terminou a minha luta de Canudos” (VILLELA JÚNIOR, 1988, p. 95).

A modo de conclusão: pequena história, grandes efeitos

“Articular historicamente o passado

não significa reconhecê-lo ‘como

realmente foi’. Significa apropriar-se

da memória quando ela surge num

momento de perigo” (Walter

Benjamin, 1987, p. 224).

As Memórias... de Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior podem ser consideradas como um texto múltiplo, ao contrário de parecerem uma pequena história insignificante sobre a guerra de Canudos, composto de diversas tradições literárias e discursivas que lhe emprestam uma particularidade textual. Entre elas se encontra o relato oral, o testemunho ocular, exemplos, fábulas e o conto popular; e também, a resposta jurídica, a crítica verídica dos fatos e o relatório militar. Nessa relação entre tradições literárias e tradições discursivas se observa um efeito estético muito peculiar que não deixa de ter objetivos pragmáticos: fazer de Villela Júnior um cidadão brasileiro e, das suas memórias, um texto verossímil e acessível para o leitor comum.

É por tudo isso que a obra de Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior pode ser considerada como um texto que habilita, historicamente, uma concepção outra do ato estético para falar de um acontecimento tão relevante para a república brasileira como foi a guerra de Canudos. Não somente pelo fato de se tratar de uma versão da guerra escrita por um ex-soldado com uma mínima hierarquia como a de artilheiro, senão também por ser uma obra que procura reivindicar heroicamente as ações que permitiram a incorporação do sertanejo na cidadania brasileira13. Nas Memórias... o próprio soldado se reconhece como sertanejo, e com isso desmonta a linha divisória entre republicanos e fanáticos na qual se baseavam os princípios fundamentais do enfrentamento militar.

Ao contrário do que apontam inúmeros estudos críticos, em termos estético-discursivos, a guerra não só se reproduz a partir de oposições (moderno-atávico, civilização-barbárie, republicano-fanático, letrado-analfabeto), mas a encenação se completa, em todas as versões estudadas, com falsas vitórias, derrotas imprevistas, silêncios, omissões, cruzamentos e inversões. As representações se tornam necessárias para vencer a guerra, mas, ao mesmo tempo, falham em inúmeras instâncias, uma vez que as lutas simbólicas pela definição do marginal ocorrem num contexto em que os próprios sujeitos marginalizados são produtores e leitores de discursos muito diversos. O que significa dizer que é impossível pensar a guerra de Canudos deixando de lado a necessidade de visibilizar o labor de sujeitos não letrados que se apropriam dos acontecimentos mais relevantes da história nacional.

  • 1
    “[...] é a guerra contada como pequena história, ou seja, de uma perspectiva individualista e cujos detalhes particularíssimos ilustram, de alguma forma, a grande história dos acontecimentos” (CAVALIERI, , 1988, p. 6, a partir de agora todas as citações correspondem à seguinte referência). Nesse sentido benjaminiano é que examinaremos como os detalhes do texto não apenas ilustram, mas também distorcem, as versões consagradas do acontecimento.
  • 2
    A segunda edição aponta o nome “Marcos Evangelista C. Villela Júnior”, distorcendo a versão correta do nome do autor, como aparece na primeira edição: “Marcos Evangelista da Costa Villela Júnior”. Agradeço essa correção ao dr. Leopoldo Bernucci.
  • 3
    Para uma cronologia detalhada da guerra, consultar: Costa (2017).
  • 4
    Já no ano 1956 Gustavo Barroso (1956, p. 30), na coluna jornalística Segredos e Revelações da História do Brasil, lê o texto inédito de Marcos Evangelista citando a expressão “Troia de Palha” de Euclides da Cunha.
  • 5
    Esse “libelo”, publicado sob o pseudônimo de Wolsey, declara-se, desde as primeiras páginas e as epígrafes, como uma “página histórica” que não é produto de interesses ou paixões individuais, mas como um “tributo à verdade” (ZAMA, 1899, p. 3). A interpretação que Zama propõe repensa a guerra como um conflito de interesses político-econômicos entre os proprietários de terras e o povo. Sob o pretexto de pacificação, foi feito o extermínio daqueles que ousaram resistir às ordens dos proprietários das fazendas.
  • 6
    Outro caso muito interessante, enquanto narração de um testemunho ocular, é o texto de Manuel das Dores Bombinho que, em 1898, publica uma versão poética, escrita em versos, sobre o episódios da guerra de Canudos.
  • 7
    Aqui poderíamos comparar, por exemplo, o grande valor que os textos de Siqueira de Meneses (1897) e Dantas Barreto (1898) dão à descrição cartográfica do terreno canudense (que inclui um grande número de mapas) em oposição às breves passagens em que Villela Júnior expõe suas impressões sobre a caatinga. No caso dos oficiais, a descrição responde a um objetivo claro de conquista do território, enquanto nas Memórias... surge uma relação mais harmoniosa e fraterna entre a natureza sertaneja e o modo de ser do brigadeiro.
  • 8
    A arenga é o típico das histórias de guerra que podemos encontrar em quase todos os escritos sobre o tema Canudos, desde os poemas de cordel, passando pelas Memórias... até as versões de Euclides da Cunha.
  • 9
    Tanto o destaque da capacidade retórica oral quanto a reivindicação da clarividência constituem características típicas das crônicas de conquista e colonização do continente americano que parecem operar aqui como tradições conhecidas por Villela Júnior.
  • 10
    O caso da Matadeira 32 é emblemático por envolver a difícil movimentação de uma arma de grosso calibre pelas complexidades do território sertanejo. A grande tarefa de colocar esse canhão direcionado à cidadela de Canudos é narrada em Fontes (2016).
  • 11
    Nessas colocações ressoa a famosa frase euclidiana que Villela Júnior conhecia bem: “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
  • 12
    No prefácio de Os sertões, Euclides da Cunha (2001, p. 61) afirma o objetivo de sua narrativa: “Intentamos esboçar, palidamente embora, ante o olhar de futuros historiadores, os traços atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas do Brasil [...] destinadas a próximo desaparecimento ante as exigências crescentes da civilização e a concorrência material intensiva das correntes migratórias que começam a invadir profundamente a nossa terra”.
  • 13
    Pensemos aqui as problemáticas que enfrentaram os soldados republicanos que voltavam de Canudos quando eram sentenciados a morar nas ladeiras menos custosas da cidade de Rio de Janeiro, processo que deu origem as famosas “favelas” (QUEIROZ FILHO, 2011).

Declaração de disponibilidade de dados

Os conjuntos de dados gerados e/ou analisados durante o estudo atual estão disponíveis no manuscrito e em materiais suplementares.

Referências

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  • BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In: BENJAMIN, W. Obras escolhidas V. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222-232.
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  • CAVALIERI, Ruth Villela. Apresentação da 1ª edição. In: VILLELA JÚNIOR, Marcos Evangelista da Costa. Canudos: memórias de um combatente. Introdução, estabelecimento do texto, notas e dados biográficos de Ruth Villela Cavalieri. 2 São Paulo: Marco Zero, 1988, p. 15-21.
  • COSTA, C. Cronologia resumida da Guerra de Canudos Rio de Janeiro: Museu da República, 2017. Disponível em: https://icmc.usp.br/e/145d4 Acesso em: jul. 2025.
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  • CUNHA, E. da. Os sertões: Campanha de Canudos. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
  • CUNHA, E. da. Caderneta de campo Introdução, notas e comentário Olímpio de Souza Andrade. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. (Cadernos da Biblioteca Nacional 6).
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  • VILLELA JÚNIOR, M. E. da C. Canudos: memórias de um combatente. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1997.
  • ZAMA, Cesar. Libello republicano acompanhado de commentarios sobre a Campanha de Canudos por Wolsey (Cesar Zama) Salvador: Typ. e Encadernação do “Diario da Bahia”, 1899.
  • Editores responsáveis:
    Ana Paula Simioni, Dulcilia Helena Schroeder Buitoni e Marcos Antonio de Moraes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Dez 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    09 Set 2024
  • Aceito
    05 Jun 2025
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