Foram estudados 212 cães errantes, capturados em áreas periféricas do município de São Paulo, com o objetivo de investigar o possível papel desses animais como reservatórios de enterovírus humanos. Os animais capturados foram divididos em 19 grupos compostos por 10 a 20 animais cada um. Foram efetuadas tentativas de isolamento em amostras de fezes em 126/212 cães, obtendo-se resultados positivos em 12 deles, assim distribuídos: poliovirus tipo 1 (dois cães), poliovírus tipo 3 (um cão), echovirus tipo 7 (oito cães) e echovirus tipo 15 (um cão). Dos 12 animais infectados, quatro apresentaram anticorpos neutralizantes homotípicos com títulos > 16. Todos os 212 cães foram submetidos a pesquisa de anticorpos neutralizantes contra enterovírus humanos. As frequências de anticorpos neutralizantes com títulos > 16 foram de 10,3%, 3,8% e 4,3%, respectivamente, contra protótipos vacinais de poliovírus 1, 2 e 3 e 1,9% 3,8% e 4,3% contra protótipos "selvagens" dos mesmos vírus; de 11,3% contra echovírus tipo 7 e de 2,4% contra echovírus tipo 15. São discutidos dados sugestivos da suscetibilidade de cães à infecção por enterovírus humanos e a possível importância desse fato para o Plano de Erradição do Poliovírus "Selvagem".