Isolamento de Haemophiliis aegyptius associado à Febre Purpúrica Brasileira, de cloropídeos (Diptera) dos gêneros Hippelates e Liohippelates

Tondella, M. L. C.; Paganelli, C. H.; Bortolotto, I. M.; Takano, O. A.; Irino, K.; Brandileone, M. C. C.; Mezzacapa Neto, B.; Vieira, V. S. D.; Perkins, B. A.

doi:10.1590/S0036-46651994000200002

Resumos

O reconhecimento da Febre Purpúrica Brasileira (FPB), em 1984, originou uma série de estudos que revelaram uma correlação desta doença com conjuntivites causadas por Haemophiliis aegyptius. A associação do aumento de conjuntivites em crianças e a maior densidade populacional de cloropídeos do gênero Hippelates já havia sido verificada desde o século passado. Este fenômeno está relacionado ao tropismo que estes insetos apresentam pelos olhos, secreções e feridas de onde se alimentam. Embora haja evidências do papel destes cloropídeos na transmissão mecânica de conjuntivites bacterianas, o isolamento de Haemophilus aegyptius a partir dos mesmos, no seu habitat natural, ainda não havia sido verificado. No presente trabalho obtivemos o isolamento de cepas invasivas de Haemophilus aegyptius, associadas à FPB, de duas coleções de cloropídeos, classificados como Liohippelates peruanus e uma espécie nova, Hippelates neoproboscideus, coletados ao redor dos olhos de crianças com conjuntivite.

Haemophilus aegyptius; Haemophilus influenzae biogroup aegyptius; Febre Purpúrica Brasileira; Conjuntivite; Chloropidae; Hippelates; Liohippelates; Eye gnats

The recognition of the Brazilian purpuric fever (BPF) in 1984 led to a number of studies which showed a relation between this disease and conjunctivitis caused by Haemophilus aegyptius. The increase in cases of conjunctivitis in children associated with higher population density of eye gnats (Chloropidae: Hippelates) has been reported since last century. This phenomenon is related to the attraction that those flies show for the eyes, secretions and wounds, from where they feed on. Although there are evidences on the role of these flies in the mechanical transmission of seasonal bacterial conjunctivitis, the isolation of Haemophilus aegyptius from them in their natural habitat had not been demonstrated yet. In this study Haemophilus aegyptius associated to BPF was isolated from two pools of chloropids collected around the eyes of children with conjuntivitis which were identified as Liohippelates peruanus (Becker) and a new species Hippelates neoproboscideus.

MICROBIOLOGIA

Isolamento de Haemophiliis aegyptius associado à Febre Purpúrica Brasileira, de cloropídeos (Diptera) dos gêneros Hippelates e Liohippelates

Isolation of Haemophilus aegyptius associated to Brazilian purpuric fever from Hippelates and Liohippelates flies (Diptera: Chloropidae)

M. L. C. Tondella^I; C. H. Paganelli^II; I. M. Bortolotto^III; O. A. Takano^IV; K. Irino^I; M. C. C. Brandileone^I; B. Mezzacapa Neto^I; V. S. D. Vieira^I; B. A. Perkins^V

^ISeção de Bacteriologia do Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, SP, Brasil

^IISeção de Parasitologia, Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, SP, Brasil

^IIIDivisão de Epidemiologia, Secretaria da Saúde, Cuiabá, MT, Brasil

^IVFundação Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil

^VCenters for Disease Control, Atlanta, GA, USA

^{Endereço para correspondência} Endereço para correspondência: Maria Lúcia Cecconi Tondella Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia Av. Dr. Arnaldo, 355 CEP 01246-902, São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

O reconhecimento da Febre Purpúrica Brasileira (FPB), em 1984, originou uma série de estudos que revelaram uma correlação desta doença com conjuntivites causadas por Haemophiliis aegyptius. A associação do aumento de conjuntivites em crianças e a maior densidade populacional de cloropídeos do gênero Hippelates já havia sido verificada desde o século passado. Este fenômeno está relacionado ao tropismo que estes insetos apresentam pelos olhos, secreções e feridas de onde se alimentam. Embora haja evidências do papel destes cloropídeos na transmissão mecânica de conjuntivites bacterianas, o isolamento de Haemophilus aegyptius a partir dos mesmos, no seu habitat natural, ainda não havia sido verificado. No presente trabalho obtivemos o isolamento de cepas invasivas de Haemophilus aegyptius, associadas à FPB, de duas coleções de cloropídeos, classificados como Liohippelates peruanus e uma espécie nova, Hippelates neoproboscideus, coletados ao redor dos olhos de crianças com conjuntivite.

Unitermos:Haemophilus aegyptius; Haemophilus influenzae biogroup aegyptius; Febre Purpúrica Brasileira; Conjuntivite; Chloropidae; Hippelates; Liohippelates; Eye gnats.

SUMMARY

The recognition of the Brazilian purpuric fever (BPF) in 1984 led to a number of studies which showed a relation between this disease and conjunctivitis caused by Haemophilus aegyptius. The increase in cases of conjunctivitis in children associated with higher population density of eye gnats (Chloropidae: Hippelates) has been reported since last century. This phenomenon is related to the attraction that those flies show for the eyes, secretions and wounds, from where they feed on. Although there are evidences on the role of these flies in the mechanical transmission of seasonal bacterial conjunctivitis, the isolation of Haemophilus aegyptius from them in their natural habitat had not been demonstrated yet. In this study Haemophilus aegyptius associated to BPF was isolated from two pools of chloropids collected around the eyes of children with conjuntivitis which were identified as Liohippelates peruanus (Becker) and a new species Hippelates neoproboscideus.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Dr. Carmo Elias Andrade Melles, Instituto Adolfo Lutz, Dr. Eliseu Alves Waldman, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, Dra. Graziela Almeida da Silva, Centro de Vigilância Epidemiológica "Alexandre Vranjak", Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e Dra Claire Broome, Centers for Disease Control, Atlanta, GA, pelas sugestões na realização deste trabalho.

Agradecemos, igualmente, a BYK Procienx Química Farmacêutica LTDA, SP, pelo fornecimento da bacitracina.

Recebido para publicação 28/07/1993.

Aceito para publicação em 04/11/1993.

1. BRANDILEONE, M.C.C.; VIEIRA, V.S.D.; TONDELLA, M.L.C. et al. - Febre purpúrica brasileira. Caracterizaçăo rápida das cepas invasoras de Haemophilus aegyptius. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 31: 221-227, 1989.
2. BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - Brazilian purpuric fever: epidemic purpura fulminans associated with antecedent purulent conjunctivitis. Lancet, 2: 757-761, 1987.
3. BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - Haemophilus aegyptius bacteraemia in Brazilian purpuric fever. Lancet, 2: 761-763, 1987.
4. BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - Brazilian purpuric fever identified in a new region of Brazil. J. infect. Dis., 165 (suppl. 1): S16-S19, 1992.
5. BRENNER, D.J.; MAYER, L.W.; CARLONE, G.M. et al. - Biochemical, genetic and epidemiological characterization of Haemophilus influenzae biogroup aegyptius (Haemophilus aegyptius) strains associated with Brazilian purpuric fever. J. clin. Microbiol., 26: 1524-1534, 1988.
6. BENGTSON, I.A. - Seasonal acute conjunctivitis occurring in the southern states. U. S. Publ. Hith. Rep., 48: 917-926, 1933.
7. BUEHLER, J.W.; HOLLOWAY, J.T.; GOODMAN, R.A. & SIKES, R.K. - Gnat sore eyes: seasonal, acute conjunctivitis in a southern state. Sth. med. J. (Bgham, Ala), 76: 587-589, 1983.
8. DAVIS, D.J. & PITTMAN, M. - Acute conjunctivitis caused by Haemophilus. Amer. J. Dis. Child., 79: 211-222, 1950.
9. DAWSON, C.R. - Epidemic Koch-Weeks conjunctivitis and trachoma in the Coachella Valley in California. Amer. J. Ophthal., 49: 801-808, 1960.
10. HARRISON, L.H.; SILVA, G.A.; PITTMAN, M. et al. - Epidemiology and clinical spectrum of Brazilian purpuric fever. J. clin. Microbiol., 27: 599-604, 1989.
11. IRINO, K.; LEE, I.M.L.; KAKU, M. et al. - Febre purpúrica brasileira: resultados preliminares da investigaçăo etiológica. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 29: 174-177, 1987.
12. IRINO, K.; GRIMONT, F.; CASIN, I.; GRIMONT, P.A.D. & THE BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - rDNA gene restriction patterns of Haemophilus influenzae biogroup aegyptius strains associated with the Brazilian purpuric fever. J. clin. Microbiol., 26: 1535-1538, 1988.
13. IRINO, K. - Ribotipo como marcador molecular de Haemophilus aegyptius, agente etiológico da febre purpúrica brasileira. Săo Paulo, 1992. (Tese de Doutoramento-Instituto de Cięncias Biomédicas da Universidade de Săo Paulo).
14. KILIAN, M. & BIBERSTEIN, E.L. - Haemophilus Winslow, Broa-dhurst, Buchanan, Krumwiede, Roberts and Smith, 1971. In: KRIEGH, N.R. & HOLT, J.G., ed. Bergey's manual of systematic bacteriology. Baltimore, Williams & Wilkins, 1984. v. 1, p. 558-569.
15. McGUIRE, C.D. & DURANT, R.C. - The role of flies in the transmission of eye disease in Egypt. Amer. J. trop. Med. Hyg., 6: 569-575, 1957.
16. PAGANELLI, C.H. & SABROSKY, C.W. - Hippelates flies (Diptera: Chloropidae) possibly associated with Brazilian purpuric fever. Proc. ent. Soc. Washington, 95: 165-174, 1993.
17. PAYNE Jr., W.J.; COLE, J.R.; SNODDY, E.L. & SEIBOLD, H.R. - The eye gnat Hippelates pusio as a vector of bacterial conjunctivitis using rabbits as an animal model. J. med. Entomol., 13: 599-603, 1977.
18. SABROSKY, C.W. - New genera and new combinations in nearctic Chloropidae (Diptera). Proc. ent. Soc. Washington., 82: 412-429, 1980.
19. SABROSKY, C.W. & PAGANELLI, C.H. - Family Chloropidae, 63. In: A catalogue of the Diptera of the Americas South of the United States. Săo Paulo, Museu de Zoologia, Universidade de S. Paulo, 1984. p. 1-63.
20. SCHNEIDER, A. - An introduction report on pseudo-trachoma endemic in the Salton Sea region of California. Med. Sentinel, 35: 154-161, 1927.
21. SCHWARZ, E.A. - Notes on Hippelates pusio in the southern states. Proc. ent. Soc. Washington., 3: 178-180, 1884.
22. TONDELLA, M.L.C.; BRANDILEONE, M.C.C.; VIEIRA, V.S.D.; ZANELLA, R.C. & TAUNAY, A.E. - Atuaçăo do Instituto Adolfo Lutz na investigaçăo laboratorial da Febre purpúrica brasileira, Instituto Adolfo Lutz, (Săo Paulo, SP). In: ANTUNES, J.L.F.; NASCIMENTO, C.B. do; NASSI, L.C. & PREGNOLATTO, N.P. Instituto Adolfo Lutz - 100 anos de laboratório de saúde pública. Săo Paulo, Letras & Letras, 1992. p. 255-271.

Endereço para correspondência:

Maria Lúcia Cecconi Tondella

Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia

Av. Dr. Arnaldo, 355

CEP 01246-902, São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
21 Set 2006
Data do Fascículo
Abr 1994

Histórico

Aceito
04 Nov 1993
Recebido
28 Jul 1993

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

[1] 1. BRANDILEONE, M.C.C.; VIEIRA, V.S.D.; TONDELLA, M.L.C. et al. - Febre purpúrica brasileira. Caracterizaçăo rápida das cepas invasoras de Haemophilus aegyptius. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 31: 221-227, 1989.

[2] 2. BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - Brazilian purpuric fever: epidemic purpura fulminans associated with antecedent purulent conjunctivitis. Lancet, 2: 757-761, 1987.

[3] 3. BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - Haemophilus aegyptius bacteraemia in Brazilian purpuric fever. Lancet, 2: 761-763, 1987.

[4] 4. BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - Brazilian purpuric fever identified in a new region of Brazil. J. infect. Dis., 165 (suppl. 1): S16-S19, 1992.

[5] 5. BRENNER, D.J.; MAYER, L.W.; CARLONE, G.M. et al. - Biochemical, genetic and epidemiological characterization of Haemophilus influenzae biogroup aegyptius (Haemophilus aegyptius) strains associated with Brazilian purpuric fever. J. clin. Microbiol., 26: 1524-1534, 1988.

[6] 6. BENGTSON, I.A. - Seasonal acute conjunctivitis occurring in the southern states. U. S. Publ. Hith. Rep., 48: 917-926, 1933.

[7] 7. BUEHLER, J.W.; HOLLOWAY, J.T.; GOODMAN, R.A. & SIKES, R.K. - Gnat sore eyes: seasonal, acute conjunctivitis in a southern state. Sth. med. J. (Bgham, Ala), 76: 587-589, 1983.

[8] 8. DAVIS, D.J. & PITTMAN, M. - Acute conjunctivitis caused by Haemophilus. Amer. J. Dis. Child., 79: 211-222, 1950.

[9] 9. DAWSON, C.R. - Epidemic Koch-Weeks conjunctivitis and trachoma in the Coachella Valley in California. Amer. J. Ophthal., 49: 801-808, 1960.

[10] 10. HARRISON, L.H.; SILVA, G.A.; PITTMAN, M. et al. - Epidemiology and clinical spectrum of Brazilian purpuric fever. J. clin. Microbiol., 27: 599-604, 1989.

[11] 11. IRINO, K.; LEE, I.M.L.; KAKU, M. et al. - Febre purpúrica brasileira: resultados preliminares da investigaçăo etiológica. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 29: 174-177, 1987.

[12] 12. IRINO, K.; GRIMONT, F.; CASIN, I.; GRIMONT, P.A.D. & THE BRAZILIAN PURPURIC FEVER STUDY GROUP - rDNA gene restriction patterns of Haemophilus influenzae biogroup aegyptius strains associated with the Brazilian purpuric fever. J. clin. Microbiol., 26: 1535-1538, 1988.

[13] 13. IRINO, K. - Ribotipo como marcador molecular de Haemophilus aegyptius, agente etiológico da febre purpúrica brasileira. Săo Paulo, 1992. (Tese de Doutoramento-Instituto de Cięncias Biomédicas da Universidade de Săo Paulo).

[14] 14. KILIAN, M. & BIBERSTEIN, E.L. - Haemophilus Winslow, Broa-dhurst, Buchanan, Krumwiede, Roberts and Smith, 1971. In: KRIEGH, N.R. & HOLT, J.G., ed. Bergey's manual of systematic bacteriology. Baltimore, Williams & Wilkins, 1984. v. 1, p. 558-569.

[15] 15. McGUIRE, C.D. & DURANT, R.C. - The role of flies in the transmission of eye disease in Egypt. Amer. J. trop. Med. Hyg., 6: 569-575, 1957.

[16] 16. PAGANELLI, C.H. & SABROSKY, C.W. - Hippelates flies (Diptera: Chloropidae) possibly associated with Brazilian purpuric fever. Proc. ent. Soc. Washington, 95: 165-174, 1993.

[17] 17. PAYNE Jr., W.J.; COLE, J.R.; SNODDY, E.L. & SEIBOLD, H.R. - The eye gnat Hippelates pusio as a vector of bacterial conjunctivitis using rabbits as an animal model. J. med. Entomol., 13: 599-603, 1977.

[18] 18. SABROSKY, C.W. - New genera and new combinations in nearctic Chloropidae (Diptera). Proc. ent. Soc. Washington., 82: 412-429, 1980.

[19] 19. SABROSKY, C.W. & PAGANELLI, C.H. - Family Chloropidae, 63. In: A catalogue of the Diptera of the Americas South of the United States. Săo Paulo, Museu de Zoologia, Universidade de S. Paulo, 1984. p. 1-63.

[20] 20. SCHNEIDER, A. - An introduction report on pseudo-trachoma endemic in the Salton Sea region of California. Med. Sentinel, 35: 154-161, 1927.

[21] 21. SCHWARZ, E.A. - Notes on Hippelates pusio in the southern states. Proc. ent. Soc. Washington., 3: 178-180, 1884.

[22] 22. TONDELLA, M.L.C.; BRANDILEONE, M.C.C.; VIEIRA, V.S.D.; ZANELLA, R.C. & TAUNAY, A.E. - Atuaçăo do Instituto Adolfo Lutz na investigaçăo laboratorial da Febre purpúrica brasileira, Instituto Adolfo Lutz, (Săo Paulo, SP). In: ANTUNES, J.L.F.; NASCIMENTO, C.B. do; NASSI, L.C. & PREGNOLATTO, N.P. Instituto Adolfo Lutz - 100 anos de laboratório de saúde pública. Săo Paulo, Letras & Letras, 1992. p. 255-271.

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