Acessibilidade / Reportar erro

Neurocisticercose com quadro clínico inicial de meningite aguda

Twenty seven cases of neurocysticercosis with clinical picture of acute meningitis

Resumos

São apresentados 27 casos de neurocisticercose, com quadro clínico inicial de meningite aguda, atendidos no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP - Universidade Estadual de Londrina). Vinte (74,1%) pacientes eram do sexo masculino; a idade variou de 4 a 52 anos (23,6 ± 11,7 anos); 11 tinham menos de 20 anos, 10 tinham entre 21 e 30 anos e 6, mais de 30 anos. O diagnóstico etiológico foi estabelecido pela reatividade no líquido cefalorraquidiano (LCR) do teste de fixação do complemento (Weinberg) em 17 pacientes e pelo imunoenzimático (ELISA) para cisticercose em 10. Em 6 pacientes foi realizada tomografia computadorizada de crânio, todas com alterações sugestivas de neurocisticercose. No LCR colhido na admissão, em 21 (77,78%) pacientes havia predomínio de linfócitos/monócitos e em 6 (22,2%), predomínio de neutrófilos. A presença de eosinófilos, possibilitando a suspeita de neurocisticercose, só ocorreu na primeira amostra de LCR em 7 casos; desses, 4 casos a pleocitose era linfomonocitária e 3 era neutrofilica. Hiperproteinorraquia e hipoglicorraquia no LCR colhido na admissão foram observadas em 18 (66,6%) e 6 (22,2%) pacientes, respectivamente. Nos doentes em que não havia eosinófilos no LCR colhido na admissão, o diagnóstico inicial foi de meningite linfomonocitária de etiología presumivelmente viral ou de meningite purulenta. O tratamento da meningite aguda por neurocisticercose foi realizado com dexametasona e houve desaparecimento dos sintomas e sinais. Não houve óbito em nenhum caso. Os autores ressaltam a importância de incluir a neurocisticercose no diagnóstico diferencial das meningites agudas, em áreas endêmicas para essa doença, assim como realizar rotineiramente em todas as amostras de LCR colhidas de pacientes atendidos o teste ELISA para cisticercose.

Neurocisticercose; Meningite; Cisticercose


Twenty seven cases of neurocysticercosis, with clinical picture of acute meningitis, are described. Twenty (74.1%) patients are male; the age was 4 to 42 years (23.6 ±11.7 years). The etiologic diagnosis was defined by the complement fixation test (Weinberg) and/ or enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) for cysticercosis in the cerebrospinal fluid (c. s. f.). Six patients that realized cranial computerized tomographic scan ressembling neurocysticercosis. Twenty one (77.8%) have predominancy of lymphomononuclear cells in the c. s. f. obtained in the admission to the hospital; in 6 (22.2%) there were predominancy of polymorphonuclear neutrophils. In this c. s. f. there were eosinosis in four patients that have c. s. f. lymphomononuclear pleocytosis and in three that have c. s. f. neutrophyl pleocytosis, suggesting the diagnosis of neurocysticercosis. The treatment of acute neurocysticercosis was made with dexamethasone. All the patients survived and were transfered to the ambulatory of Neurology for follow-up and complementary treatment


PARASITOLOGIA

Neurocisticercose com quadro clínico inicial de meningite aguda

Twenty seven cases of neurocysticercosis with clinical picture of acute meningitis

Ana Maria Bonametti; José Luíz da Silveira Baldy; André Luíz Bortoliero; Cláudia Maria Dantas de Maio; Joselina do Nascimento Passos; Paulo Kiyoshi Takata; Dayse Souza de Pauli; Joaquim Celso Andrade Guimarães; Edson Tsuyomi Anzai; Maria do Carmo Manfredini Elisbão

Docentes da Disciplina de Doenças Transmissíveis do Departamento de Clínica Médica - Centro de Ciências da Saúde - Universidade Estadual de Londrina, Paraná

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dra. Ana Maria Bonametti Centro de Ciências da Saúde - Departamento de Clínica Médica. Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná Rua Roberto Koch s/n, Aeroporto 86038-440 Londrina, PR, Brasil

RESUMO

São apresentados 27 casos de neurocisticercose, com quadro clínico inicial de meningite aguda, atendidos no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP - Universidade Estadual de Londrina). Vinte (74,1%) pacientes eram do sexo masculino; a idade variou de 4 a 52 anos (23,6 ± 11,7 anos); 11 tinham menos de 20 anos, 10 tinham entre 21 e 30 anos e 6, mais de 30 anos. O diagnóstico etiológico foi estabelecido pela reatividade no líquido cefalorraquidiano (LCR) do teste de fixação do complemento (Weinberg) em 17 pacientes e pelo imunoenzimático (ELISA) para cisticercose em 10. Em 6 pacientes foi realizada tomografia computadorizada de crânio, todas com alterações sugestivas de neurocisticercose. No LCR colhido na admissão, em 21 (77,78%) pacientes havia predomínio de linfócitos/monócitos e em 6 (22,2%), predomínio de neutrófilos. A presença de eosinófilos, possibilitando a suspeita de neurocisticercose, só ocorreu na primeira amostra de LCR em 7 casos; desses, 4 casos a pleocitose era linfomonocitária e 3 era neutrofilica. Hiperproteinorraquia e hipoglicorraquia no LCR colhido na admissão foram observadas em 18 (66,6%) e 6 (22,2%) pacientes, respectivamente. Nos doentes em que não havia eosinófilos no LCR colhido na admissão, o diagnóstico inicial foi de meningite linfomonocitária de etiología presumivelmente viral ou de meningite purulenta. O tratamento da meningite aguda por neurocisticercose foi realizado com dexametasona e houve desaparecimento dos sintomas e sinais. Não houve óbito em nenhum caso. Os autores ressaltam a importância de incluir a neurocisticercose no diagnóstico diferencial das meningites agudas, em áreas endêmicas para essa doença, assim como realizar rotineiramente em todas as amostras de LCR colhidas de pacientes atendidos o teste ELISA para cisticercose.

Unitermos: Neurocisticercose; Meningite; Cisticercose.

SUMMARY

Twenty seven cases of neurocysticercosis, with clinical picture of acute meningitis, are described. Twenty (74.1%) patients are male; the age was 4 to 42 years (23.6 ±11.7 years). The etiologic diagnosis was defined by the complement fixation test (Weinberg) and/ or enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) for cysticercosis in the cerebrospinal fluid (c. s. f.). Six patients that realized cranial computerized tomographic scan ressembling neurocysticercosis. Twenty one (77.8%) have predominancy of lymphomononuclear cells in the c. s. f. obtained in the admission to the hospital; in 6 (22.2%) there were predominancy of polymorphonuclear neutrophils. In this c. s. f. there were eosinosis in four patients that have c. s. f. lymphomononuclear pleocytosis and in three that have c. s. f. neutrophyl pleocytosis, suggesting the diagnosis of neurocysticercosis. The treatment of acute neurocysticercosis was made with dexamethasone. All the patients survived and were transfered to the ambulatory of Neurology for follow-up and complementary treatment.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 13/07/1993.

Aceito para publicação em 29/09/1993.

  • 1. BASÍLIO DE OLIVEIRA, C.A. - Cisticercose: problema médico-social. Inform. Cisticercose (Rio de J.), 2(5): 1-4, 1984.
  • 2. BONAMETTI, A.M. - Índice de positividade da reaçăo imunoenzimática (ELISA) para cisticercose no líquido cefalor-raquidiano e no soro de pacientes com epilepsia. Săo Paulo, 1991. (Dissertaçăo de Mestrado-Faculdade de Medicina da Universidade de Săo Paulo).
  • 3. BROWN, W.J. & VOGE, M. - Cysticercosis, a modem day plague. Pediat. Clin. N. Amer., 32: 935-969, 1985.
  • 4. CHANDRAMUKI, A. & NAYAK, P. - Subacute and chronic meningitidis in children. An immunological study of cerebrospinal Huid. Indian J. Pediat., 57: 685-691, 1990.
  • 5. DAWOOD, A.A. & MOOSAB, A. - Cerebral cysticercosis in children. J. trop. Pediat., 30: 136-139, 1984.
  • 6. DEL BRUTTO, O.H. & SOTELO, J. - Neurocysticercosis: an update. Rev. infect. Dis., 10: 1075-1087, 1984.
  • 7. EARBEST, M.P.; RELLER, L.B. & FILLEY, C.M. - Neurocysticercosis in the United States: 35 cases and a review. Rev. infect. Dis., 9: 961-979, 1987.
  • 8. JOUBERT, J. - Cysticercal meningitidis: a pernious form of neurocysticercosis which responds poorly to praziquantel. S. Afr. med. J., 77: 491-548, 1989.
  • 9. LATOVITZKI, N.; ABRANS, G. & CLARK, C. - Cerebral cysticercosis. Neurology, 28: 838-842, 1978.
  • 10. LIVRAMENTO, J.A. - Contribution of immunofluorescent reaction in the cerebrospinal fluid to the study of neuro-cysticercosis. Arq. Neuropsiquiat. (S. Paulo), 39: 261-278, 1981.
  • 11. LOPEZ-HERNANDEZ, A. & GARAIZAR, C. - Analysis of 39 cases of infantile cerebral cysticercosis. In: FLISSER, A.; WILLMS, K.; LACLETTE, J.P.; LARRALDE, C. & BELTRAN, F. ed. - Cysticercosis: present state of knowledge and perspectives. New York, Academic Press, 1982. p. 127-137.
  • 12. MONTEIRO, L.; COELHO, T. & STOCKER, A. - Neurocysticercosis - a review of 231 cases. Infection, 20: 61-64, 1992.
  • 13. NASH, T.E. & NEVA, F.A. - Recent advances in the diagnosis and treatment of cerebral cysticercosis. New. Engl. J. Med., 311: 1492-1496, 1984.
  • 14. NASH, T.E. - Diagnosis and treatment of cysticercosis. In: REMINGTON, J.S. & SWARTZ, M.N. - Current clinical topics in infectious diseases. New York, McGraw-Hill., 1986. p. 297-310.
  • 15. PASCOE, M.; LYALL, I.; SAINES, N. & NOLAN, C. - Cerebral cysticercosis: a case report with particular reference to recent advances in diagnosis and treatment. Aust. N. Z. J. Med., 17: 55- 57, 1987.
  • 16. PEDRO, R.J.; RAMOS, M.C. & BRANCHINI, M.L.M. - Parasitas intestinais: aspectos clínicos. In: AMATO NETO, V. & BALDY, J.L.S. - Doenças transmissíveis. 3. ed. Săo Paulo, Sarvier, 1984. p. 663-680.
  • 17. RAMESH, V. - Cysticercosis. Int. J. Derm., 23: 348-350, 1984.
  • 18. REIS, J.B.; BEI, A. & REIS-FILHO, J.B. - Líquido cefalorraquidiano. Săo Paulo, Sarvier, 1980. p. 196-202.
  • 19. SHANLEY, J.D. & JORDANS, C. - Clinical aspects of CNS cysticercosis. Arch. intern. Med., 140: 1309-1316, 1980.
  • 20. SOTELO, J.; GUERREIRO, V. & RUBIO, F. - Neurocysticercosis: a new classification based on active and inactive form. A study of 753 cases. Arch. intern. Med., 145: 442-445, 1985.
  • 21. SPINA-FRANÇA, A. - Síndrome liquórica da neurocisticercose. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE NEUROCISTICERCOSE, 1, Rio de Janeiro, 1960.
  • 22. SPINA-FRANÇA, A. - Aspectos clínicos e terapęuticos da neurocisticercose. Inform. Cisticercose (Rio de J.), 2(4): 1-2, 1984.
  • 23. SPINA-FRANÇA, A. - Patogenia das infecçőes do sistema nervoso central e liquido cefalorraquidiano. Análise crítica da contribuiçăo diagnóstica. Rev. paul. Med., 107: 169-174, 1984.
  • 24. TAKAYANAGUI, D.M. & JARDIM, E. - Aspectos clínicos da neurocisticercose. Arch. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 41: 50-63, 1983.
  • 25. TUCH, P.S. & SAFFER, D. - Cerebral cysticercosis: a case report and review of the literature. S. Afr. med. J., 65: 211-216, 1984.
  • 26. VAZ, A.J. - Imunodiagnóstico da neurocisticercose humana. Revisăo e atualizaçăo. LAES/HAES (S. Paulo), 11(65): 42-53, 1990.
  • 27. VAZ, A.J.; FERREIRA, A.W.; SILVA, M.V. et al. - Teste imunoenzimático para pesquisa de anticorpos anti-Cysticercus cellulosae em líquidos cefalorraquidianos de pacientes com meningites de etiologia indeterminada. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 32: 196-203, 1990.
  • 28. VASQUEZ, V. & SOTELO, J. - The course of seizures after treatment for cerebral cysticercosis. New Engl. J. Med., 327: 696-701, 1992.
  • 29. WILBER, R.R.; KING, E.B. & HOUSES, E.L. - Cerebrospinal fluid cytology in five patients with cerebral cysticercosis. Acta cytol. (Philad.), 24: 421-426, 1980.
  • Endereço para correspondência:

    Dra. Ana Maria Bonametti
    Centro de Ciências da Saúde - Departamento de Clínica Médica. Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná
    Rua Roberto Koch s/n, Aeroporto
    86038-440 Londrina, PR, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Set 2006
    • Data do Fascículo
      Fev 1994

    Histórico

    • Aceito
      29 Set 1993
    • Recebido
      13 Jul 1993
    Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revimtsp@usp.br