Acessibilidade / Reportar erro

Prevalência de parasitismo intestinal e sintomatologia associada em pacientes hemodialíticos

Doenças parasitárias infectam grande número de indivíduos em todo o mundo. Manifestações clínicas mais severas podem se apresentar em pacientes imunocomprometidos. Considerando o importante comprometimento imunológico observado em pacientes com insuficiência renal crônica (IRC), foi determinada a prevalência e sintomas associados a parasitoses intestinais nesses pacientes em comparação a controles saudáveis. Foram coletadas amostras fecais de cada participante e processadas para identificação microscópica dos parasitas pelo método de concentração por formol-éter. Foi utilizada a técnica de ELISA para identificar coproantígenos de Cryptosporidium. Foram analisadas 110 amostras fecais de pacientes em hemodiálise e 86 de um grupo controle comunitário. Cryptosporidium e Blastocystis foram as infecções mais freqüentes nos pacientes em hemodiálise (26,4% e 24,5%, respectivamente). Blastocystis foi a infecção mais freqüente no grupo controle (41,9%), entretanto nenhum indivíduo positivo para Cryptosporidium foi identificado. Considerando os pacientes com IRC, 73,6% eram sintomáticos, sendo 54,3% positivos para algum parasita, contra 44,8% nos assintomáticos (p = 0,38). Os sintomas mais frequentes neste grupo foram flatulência (36,4%), adinamia (30,0%) e perda de peso (30,0%). No grupo controle, 91,9% eram sintomáticos, sendo 60,8% positivos para algum parasita, contra 71,4% nos assintomáticos (p = 0,703). Em relação aos sintomas, houve diferença significativa entre os dois grupos, sendo que flatulência, plenitude pós-prandial, e dor abdominal foram mais freqüentes no grupo controle que nos pacientes em hemodiálise (todos p < 0,05). Comparando-se sintomáticos com assintomáticos, não houve associação entre a sintomatologia e a prevalência de parasitose, nem com o tipo de parasita, e nem com o poliparasitismo, nos dois grupos. Considerando que pacientes com IRC são frequentes alvos de transplante renal, resultando em imunossupressão por medicamentos, que é somada à deficiência imunológica inerente à própria doença. Os portadores de parasitas intestinais com potencial patogênico podem desenvolver sérias complicações clínicas que influenciam o sucesso do transplante. Este fato, aliado a alta prevalência de parasitas intestinais e dissociação entre os sintomas e infecção nesses pacientes, sugerem a incorporação do exame de fezes na propedêutica de rotina dos mesmos, juntamente com medidas preventivas para a aquisição de parasitas com rota de contaminação fecal-oral.


Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revimtsp@usp.br