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Características sociodemográficas e qualidade de vida de idosos com hipertensão arterial sistêmica que residem na zona rural: importância do papel do enfermeiro1 2 Apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 503646/2009-1.

Resumos

OBJETIVO:

descrever as características sociodemográficas e a qualidade de vida dos idosos com hipertensão arterial sistêmica, correlacionar a qualidade de vida com o tempo de diagnóstico e com o número de medicamentos e comparar a qualidade de vida com tipo de medicamento.

MÉTODO:

trata-se de estudo do tipo inquérito domiciliar, transversal, realizado com 460 idosos da zona rural. Coletaram-se os dados por meio dos instrumentos: World Health Organization Quality of Life-bref e World Health Organization Quality of Life Olders. Realizaram-se análise descritiva, correlação de Pearson e teste t de Student (p<0,05).

RESULTADOS:

predominaram: sexo feminino, 60├70 anos, casados, 4├ 8 anos de estudo, renda de um salário-mínimo e morar com cônjuge. O tempo de diagnóstico associou-se à menor qualidade de vida no domínio físico. Os idosos que utilizavam inibidores da enzima conversora de angiotensina e não utilizavam bloqueador AT1 apresentaram menor escore no funcionamento dos sentidos. Os que utilizavam bloqueador do canal de cálcio apresentaram maior escore na autonomia.

CONCLUSÃO:

são necessárias ações para controle da hipertensão arterial sistêmica e suas complicações, de forma a favorecer a qualidade de vida.

Hipertensão; Qualidade de Vida; Saúde do Idoso; População Rural; Enfermagem


OBJECTIVE:

To describe the socio-demographic characteristics and quality of life of elderly patients with systemic arterial hypertension; to correlate the quality of life with the time of diagnosis and number of medication, as well as to compare the quality of life with the type of medication.

METHOD:

In this cross sectional home survey design, 460 elderly people from rural areas were involved. The data was collected with the use of the following instruments: World Health Organization Quality of Life-bref and World Health Organization Quality of Life Olders. A descriptive analysis, Pearson correlation and t-Student test (p<0.05) were undertaken.

RESULTS:

Predominant patient characteristics were: women between the age of 60 and 70, married, four to eight years of formal education, income of one minimum wage, living with their partners. The time of diagnosis was associated with lower quality of life in the physical domain. Elderly patients who used Inhibitors and Angiotensin Converting Enzyme and who did not use AT1 blocker had lower scores in relation to functioning of the senses. Those who used calcium channel blocker scored higher in relation to autonomy.

CONCLUSION:

there is a need for actions to control systemic arterial hypertension and its associated complications, with the purpose of improving quality of life.

Hypertension; Quality of Life; Health of the Elderly; Rural Population; Nursing


OBJETIVO:

Describir as características sociodemográficas y la calidad de vida de ancianos con hipertensión arterial sistémica; correlacionar la calidad de vida con el tiempo de diagnóstico y con el número de medicamentos y comparar la calidad de vida con el tipo de medicamento.

MÉTODO:

Se trata de un estudio del tipo encuesta domiciliar, transversal, desarrollado con 460 ancianos de la zona rural. Fueron recolectados datos mediante los instrumentos: World Health Organization Quality of Life-bref y World Health Organization Quality of Life Olders. Fueron aplicados análisis descriptivo, correlación de Pearson y test t-Student (p<0,05).

RESULTADOS:

Predominó el sexo femenino, 60├ 70 años, casados, 4├ 8 años de estudio, renta de un salario mínimo y vivir con pareja. El tiempo de diagnóstico se asoció a menor calidad de vida en el dominio físico. Los ancianos que utilizaban Inhibidores de la Enzima Convertidora de Angiotensina y no utilizaban bloqueador AT1 mostraron menor score en autonomía.

CONCLUSIÓN:

son necesarias acciones para controlar la hipertensión arterial sistémica y sus complicaciones, de manera a favorecer la calidad de vida.

Hipertensión; Calidad de Vida; Salud del Anciano; Población Rural; Enfermería


Introdução

O processo de envelhecimento humano é uma realidade das sociedades mundiais(11. Morais EP, Rodrigues RAP, Gerhardt TE. Os idosos mais velhos no meio rural: realidade de vida e saúde de uma população do interior gaúcho. Texto Contexto Enferm. 2008;17(2):374-83. ). O aumento de expectativa de vida se deve à interação dinâmica das taxas de natalidade e de mortalidade, associada ao aperfeiçoamento técnico-científico e melhoria das condições de saneamento básico(22. Ministério da Saúde (BR). DATASUS. Informações em Saúde. População residente - Brasil. [Internet] ; 2009 [acesso 19 maio 2011]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/popuf.def
Disponível em: http://tabnet.datasus.gov...
).

A mudança na composição etária da população foi acompanhada de alterações nas causas de morbimortalidade, em que se verifica a maior ocorrência de doenças crônicas. Dentre essas, destaca-se a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), condição clínica multifatorial que pode levar a alterações funcionais de órgãos-alvo como o coração, o encéfalo, os rins e os vasos sanguíneos(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). No Brasil, segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), a HAS atinge, aproximadamente, 60,2% da população acima de 65 anos(22. Ministério da Saúde (BR). DATASUS. Informações em Saúde. População residente - Brasil. [Internet] ; 2009 [acesso 19 maio 2011]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/popuf.def
Disponível em: http://tabnet.datasus.gov...
).

Vários fatores podem contribuir para a ocorrência da HAS, aqueles considerados não modificáveis como a herança genética, a idade, o sexo e a etnia, e os modificáveis como grande ingestão de sal, estresse, o sedentarismo, bebidas alcoólicas, tabagismo, dentre outros(44. Mano GMP, Pierin AMG. Avaliação de pacientes hipertensos acompanhados pelo Programa Saúde da Família em um Centro de Saúde Escola. Acta Paul Enferm. 2005;18(3):269-75.). Os fatores modificáveis são passíveis da atuação do profissional de saúde, visando a prevenção da HAS e a manutenção da Qualidade de Vida (QV).

O conceito de QV é considerado subjetivo, multidimensional, com aspectos positivos e negativos. Foi definido por um grupo de estudiosos, apoiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como: "percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações"(55. The Whoqol Group. The world health organization quality of life assessment: position paper from the world health organization. Soc Sci Med. 1995;41:1403-9. ). No entanto, entre aqueles com HAS, a QV tem sido relacionada à terapêutica, alterações no estilo de vida, hábitos pessoais bem como à organização da atenção à saúde, que podem contribuir para o alívio dos sintomas(66. Reis MG, Glashan RQ. Adultos hipertensos hospitalizados: Percepção de gravidade da doença e de qualidade de vida. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2001;9(3):51-7.). Estudo conduzido entre adultos e idosos com HAS, utilizando o instrumento Short-Form-36 (SF-36), verificou que a HAS compromete a QV nos aspectos: estado geral de saúde, desempenho físico, emocional e social, dor, vitalidade e saúde mental(77. Brito DMS, Araujo TL, Galvano MTG, Moreira TMM, Lopes MVO. Qualidade de vida e percepção da doença entre portadores de hipertensão arterial. Cad Saúde Pública. 2008;24(4):933-40.).

Além disso, a QV das pessoas com HAS pode ser influenciada pela renda, tempo de diagnóstico, comorbidades e efeitos colaterais do uso dos medicamentos(44. Mano GMP, Pierin AMG. Avaliação de pacientes hipertensos acompanhados pelo Programa Saúde da Família em um Centro de Saúde Escola. Acta Paul Enferm. 2005;18(3):269-75.,88. Youssef RM, Moubarak II, Kamel MI. Factors affecting the quality of life of hypertensive patients. Eastern Mediterranean Health J. 2005;11(1/2):109-8.).

Nesse contexto, destaca-se que estudos conduzidos na zona rural são escassos, em especial aqueles que avaliam a QV de idosos com HAS. O processo de envelhecimento da população que reside na zona rural é semelhante ao daqueles que vivem na zona urbana; entretanto, pode evidenciar maiores dificuldades, devido à pobreza, ao isolamento social, à baixa escolaridade, à presença de casas com maior precariedade, ao limitado acesso ao transporte e à distância dos recursos sociais e das instituições de saúde(11. Morais EP, Rodrigues RAP, Gerhardt TE. Os idosos mais velhos no meio rural: realidade de vida e saúde de uma população do interior gaúcho. Texto Contexto Enferm. 2008;17(2):374-83. ,99. Aires M, Paskulin LMG, Morais EP. Capacidade functional de idosos mais velhos: estudo comparativo em três regiões do Rio Grande do Sul. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2010;18(1):11-7.).

Os objetivos consistiram em descrever as características sociodemográficas e econômicas, e a QV dos idosos com HAS residentes na zona rural do município de Uberaba, correlacionar os escores de QV com o tempo de diagnóstico da HAS e o número de medicamentos utilizados, e comparar os escores de QV dos idosos com o tipo de medicamento utilizado.

Métodos

Este estudo faz parte de uma pesquisa maior, de base populacional, analítico, transversal e observacional, desenvolvido com 850 idosos residentes na zona rural do município de Uberaba, MG.

Foram critérios de inclusão: ter 60 anos ou mais de idade, morar na zona rural de Uberaba, MG, obter pontuação mínima na avaliação cognitiva, autorreferir HAS e concordar em participar da pesquisa. Atenderam os critérios de inclusão 460 idosos.

A avaliação cognitiva foi realizada por meio do Miniexame de Estado Mental (MEEM), traduzido e validado no Brasil(1010. Bertolucci PH, Brucki SM, Campacci SR, Juliano Y. O mini-exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiatr. 1994;52(1):1-7.). O MEEM fornece informações sobre diferentes parâmetros cognitivos, agrupados em sete categorias. Foram considerados os seguintes pontos de corte: 13 para analfabetos, 18 para escolaridade de um a 11 anos e 26 para escolaridade superior a 11 anos(1010. Bertolucci PH, Brucki SM, Campacci SR, Juliano Y. O mini-exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiatr. 1994;52(1):1-7.).

Para se descrever o perfil dos idosos utilizou-se o instrumento estruturado, baseado no questionário Older Americans Resources and Services (OARS), elaborado pela Duke University, e adaptado à realidade brasileira(1111. Rodrigues RMC. Validação da versão em português europeu de questionário de avaliação functional multidimensional de idosos. Rev Panam Salud Publica. 2008;23(2):109-15.). As características socioeconômicas e demográficas estudadas foram: sexo, faixa etária, estado conjugal, escolaridade em anos de estudo, arranjo domiciliar e renda individual mensal em salários-mínimos.

A QV foi avaliada por meio do World Health Organization Avality of Life-bref (WHOQOL-BREF), genérico e validado no Brasil(1212. Fleck MPA, Louzada SXM, Xavier M, Vieira G, Santos L, Pinzon V. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-bref". Rev Saúde Pública. 2000;34(2):178-83.). Esse instrumento é composto por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente(1212. Fleck MPA, Louzada SXM, Xavier M, Vieira G, Santos L, Pinzon V. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-bref". Rev Saúde Pública. 2000;34(2):178-83.). Já o instrumento World Health Organization Avality of Life Olders (WHOQOL-OLD) é específico para idosos, também validado no Brasil(1313. Fleck MPA, Chamovich E, Trentini CM. Development and validation of the Portuguese version of the WHOQOL-OLD module / Desenvolvimento e validação da versão em Português do módulo WHOQOL-OLD. Rev Saúde Pública. 2006;40(5):785-91.). Mensura a QV utilizando-se de seis facetas: funcionamento dos sentidos, autonomia, atividades passadas, presentes e futuras, participação social, morte e morrer e intimidade(1313. Fleck MPA, Chamovich E, Trentini CM. Development and validation of the Portuguese version of the WHOQOL-OLD module / Desenvolvimento e validação da versão em Português do módulo WHOQOL-OLD. Rev Saúde Pública. 2006;40(5):785-91.).

Para as questões relacionadas à HAS, foi utilizado um instrumento construído pelos pesquisadores, a saber: tempo de diagnóstico (em anos), como descobriu a doença, o uso e o tipo de medicamentos, motivos para a interrupção da medicação, hábito de aferir a PA e ingestão de sal na comida. Foi realizado teste-piloto para verificar a adequação do referido instrumento aos objetivos propostos.

Utilizou-se a classificação da VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão para realizar a classificação dos medicamentos para terapia anti-hipertensiva: diuréticos, inibidores adrenérgicos, Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), bloqueadores do canal de cálcio, Bloqueadores do Receptor de AT1 (BRA II) e vasodilatador direto(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.).

Os dados foram coletados no domicílio por 14 entrevistadores previamente treinados, no período de junho de 2010 a março de 2011.

Foi construída uma planilha eletrônica, no programa Excel(r). Os dados coletados foram processados em microcomputador, em dupla entrada. Posteriormente, para a realização da análise, os dados foram transportados para o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0.

Os dados foram analisados por meio de frequências absolutas, percentuais e média e desvio-padrão. Utilizaram-se os testes t de Student e a correlação de Pearson (p<0,05). A intensidade da correlação foi interpretada segundo os seguintes critérios: muito baixa (r=0├┤0,25), baixa (r=0,26├┤0,49), moderada (r=0,5├┤0,69), alta (r=0,7├┤0,89) e muito alta (r=0,9├┤1,0). Cada domínio do WHOQOL-BREF e faceta do WHOQOL-OLD foram analisados isoladamente, com suas respectivas sintaxes. Os escores variam de zero a 100, sendo que os maiores corresponderam à melhor QV.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Protocolo nº 1477. Somente após a anuência do entrevistado e assinatura do referido termo, conduziu-se a entrevista.

Resultados

Houve prevalência do sexo feminino (53,9%), 60|- 70 anos (59,1%), casados (65,1%), com 1|-4 anos de escolaridade (32,3%), renda individual de um salário-mínimo (49,6%) e daqueles que viviam somente com o cônjuge (45,7%).

A maioria dos idosos referiu ter o diagnóstico de HAS há mais de 10 anos (52,9%), descoberta durante o exame médico de rotina (43,8%) e quando os idosos procuraram o serviço de saúde por sentirem-se mal (41,6%). A maioria tinha hábitos de aferir a PA (95,9%) e faziam uso de medicamento (95,9%), sendo que, desses, 51,3% referiram monoterapia.

Destaca-se que 21,3% dos idosos referiram já terem interrompido o tratamento alguma vez; desses, 15,2% por esquecimento, 13,1% por não apresentarem sintomas e 12% por acharem que estavam curados. A maioria referiu utilizar pouca quantidade de sal na comida (90,5%).

Concernente à QV, os idosos avaliaram-na como boa (57,1%) e estavam satisfeitos com a sua saúde (59,9%).

Acerca da QV e tempo de diagnóstico da HAS, observou-se que quanto maior o tempo menor o escore de QV no domínio físico, sendo a correlação muito baixa (r=-0,11; p=0,019); nos demais domínios e facetas não houve correlação.

Destaca-se que não houve correlação entre o número de medicamentos com a QV.

Na Tabela 1, a seguir, encontram-se os escores de QV, segundo a classe de medicamentos utilizados.

Tabela 1
Distribuãão dos escores de QV (WHOQOL-BREF), segundo o tipo de medicamento utilizado para o tratamento da HAS. Uberaba, MG, Brasil, 2011

Na Tabela 2, a seguir, encontram-se os escores de QV (WHOQOL-OLD), segundo o tipo de medicamento utilizado pela população estudada.

Tabela 2

Distribuição dos escores de QV (WHOQOL-OLD), segundo a classe de medicamento utilizado para o tratamento da HAS. Uberaba, MG, Brasil, 2011


Discussão

O predomínio do sexo feminino tem sido obtido em outros estudos realizados no Brasil. Em pesquisa da Vigitel, a HAS representou 64,7% entre idosas(22. Ministério da Saúde (BR). DATASUS. Informações em Saúde. População residente - Brasil. [Internet] ; 2009 [acesso 19 maio 2011]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/popuf.def
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). Outra investigação entre adultos e idosos com HAS, de uma comunidade rural do nordeste de Minas Gerais, também apresentou predominância do sexo feminino (51,6%)(1414. Pimenta AM, Kac Gilberto, Gazzinelli A, Oliveira RC, Melendez GV. Associação entre obesidade central, triglicerídeos e hipertensão arterial em uma área rural do Brasil. Arq Bras Cardiol. 2008;90(6):419-25.).

Referente à faixa etária, observou-se semelhança em pesquisa com idosos da zona rural de Taquarituba, SP, com predomínio de 60├70 anos (57,7%)(1515. Pinto JLG, Garcia ACO, Bocchi SCM, Carvalhaes MABL. Características de apoio social oferecido a idosos de área rural assistido pelo PSF. Ciênc Saúde Coletiva. 2006;11(3):753-64.). Cabe o acompanhamento desses idosos na atenção primária, tendo como meta a prevenção de comorbidades, evitando-se o comprometimento funcional em idades mais avançadas.

Em relação ao estado conjugal, estes achados corroboram estudo realizado entre idosos da zona rural de Taquarituba, SP, dos quais 53,8% referiram ser casados ou viverem em concubinato(1515. Pinto JLG, Garcia ACO, Bocchi SCM, Carvalhaes MABL. Características de apoio social oferecido a idosos de área rural assistido pelo PSF. Ciênc Saúde Coletiva. 2006;11(3):753-64.). Nesse contexto, destaca-se a visita domiciliária que constitui um momento privilegiado para investigação do potencial do companheiro na colaboração do tratamento da HAS, graças à maior possibilidade de identificar, in loco, as relações estabelecidas pelos membros familiares.

A escolaridade assemelha-se ao encontrado em pesquisa com adultos e idosos com HAS, de uma comunidade rural do nordeste de MG, em que 39% referiram 1├ 4 anos de estudo(1414. Pimenta AM, Kac Gilberto, Gazzinelli A, Oliveira RC, Melendez GV. Associação entre obesidade central, triglicerídeos e hipertensão arterial em uma área rural do Brasil. Arq Bras Cardiol. 2008;90(6):419-25.). As maiores dificuldades para controle de PA relacionam-se à menor escolaridade(44. Mano GMP, Pierin AMG. Avaliação de pacientes hipertensos acompanhados pelo Programa Saúde da Família em um Centro de Saúde Escola. Acta Paul Enferm. 2005;18(3):269-75.

5. The Whoqol Group. The world health organization quality of life assessment: position paper from the world health organization. Soc Sci Med. 1995;41:1403-9.

6. Reis MG, Glashan RQ. Adultos hipertensos hospitalizados: Percepção de gravidade da doença e de qualidade de vida. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2001;9(3):51-7.

7. Brito DMS, Araujo TL, Galvano MTG, Moreira TMM, Lopes MVO. Qualidade de vida e percepção da doença entre portadores de hipertensão arterial. Cad Saúde Pública. 2008;24(4):933-40.

8. Youssef RM, Moubarak II, Kamel MI. Factors affecting the quality of life of hypertensive patients. Eastern Mediterranean Health J. 2005;11(1/2):109-8.

9. Aires M, Paskulin LMG, Morais EP. Capacidade functional de idosos mais velhos: estudo comparativo em três regiões do Rio Grande do Sul. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2010;18(1):11-7.

10. Bertolucci PH, Brucki SM, Campacci SR, Juliano Y. O mini-exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiatr. 1994;52(1):1-7.

11. Rodrigues RMC. Validação da versão em português europeu de questionário de avaliação functional multidimensional de idosos. Rev Panam Salud Publica. 2008;23(2):109-15.

12. Fleck MPA, Louzada SXM, Xavier M, Vieira G, Santos L, Pinzon V. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-bref". Rev Saúde Pública. 2000;34(2):178-83.

13. Fleck MPA, Chamovich E, Trentini CM. Development and validation of the Portuguese version of the WHOQOL-OLD module / Desenvolvimento e validação da versão em Português do módulo WHOQOL-OLD. Rev Saúde Pública. 2006;40(5):785-91.

14. Pimenta AM, Kac Gilberto, Gazzinelli A, Oliveira RC, Melendez GV. Associação entre obesidade central, triglicerídeos e hipertensão arterial em uma área rural do Brasil. Arq Bras Cardiol. 2008;90(6):419-25.

15. Pinto JLG, Garcia ACO, Bocchi SCM, Carvalhaes MABL. Características de apoio social oferecido a idosos de área rural assistido pelo PSF. Ciênc Saúde Coletiva. 2006;11(3):753-64.
-1616. Zaitune MPA, Barros MBA, Cesar CLG, Carandina L, Goldbaum M. Hipertensão arterial em idosos: prevalência, fatores associados e práticas de controle no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2006;22(2):285-94.).

Referente à renda, resultado divergente foi obtido em estudo realizado com idosos do meio rural de Taquarituba, SP, no qual 36,5% referiram renda de um a dois salários-mínimos(1515. Pinto JLG, Garcia ACO, Bocchi SCM, Carvalhaes MABL. Características de apoio social oferecido a idosos de área rural assistido pelo PSF. Ciênc Saúde Coletiva. 2006;11(3):753-64.). A baixa renda pode comprometer o tratamento do idoso com HAS, em especial no que concerne à dieta alimentar e ao uso de medicamentos, quando não oferecido pelo sistema público de saúde. Ademais, a realização de exames médicos, necessários ao acompanhamento e controle da HAS, também é dificultada em decorrência de esses serviços estarem localizados na área urbana.

Ressalta-se a necessidade de que os profissionais de saúde, em parceria com a comunidade, adotem estratégias para o enfrentamento desses desafios relacionados à população de menor nível socioeconômico, de acordo com a disponibilidade de recursos de cada localidade e do serviço de saúde.

Para o arranjo de moradia, resultado superior (52,8%) foi obtido em pesquisa realizada em Campinas, SP, entre idosos urbanos com HAS(1616. Zaitune MPA, Barros MBA, Cesar CLG, Carandina L, Goldbaum M. Hipertensão arterial em idosos: prevalência, fatores associados e práticas de controle no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2006;22(2):285-94.). O companheiro pode ser envolvido visando a maior adesão ao tratamento do idoso com HAS, em caso de relação favorável; e, caso não seja, tentar sensibilizar os cônjuges para a colaboração, com o objetivo de obter melhores condições de saúde para ambos.

Estudo em um centro de saúde, que teve como predominância os idosos, verificou-se que um grupo descobriu ter HAS por procurar atendimento médico com relato de sinais e sintomas (dor de cabeça, dor na nuca, tontura, amortecimento do braço), e outro grupo durante a triagem nos serviços de saúde(1717. Pinotti S, Mantovani MF, Giacomozzi LM. Perception on arterial hypertension and quality of life: Contribution to nursing care. Cogitare Enferm. 2008;13(4):526-34.).

Em estudo internacional, conduzido na Austrália, com adultos e idosos da zona rural, observou-se que a maioria das idosas (77%) verificou a PA, em média, uma vez ao ano(1818. Janus ED, Bunker SJ, Kilkkinen A, Namara KMc, Philpot B, Tirimacco R, et al. Prevalence, detection and drug treatment of hypertension in a rural Australian population: the Great Green Triangle Risk Factor Study 2004-2006. Intern Med J. 2008;38:879-86.). Alguns fatores podem dificultar a aferição da PA, como a grande distância de determinadas fazendas dos serviços de saúde e o escasso acesso a transportes. Por outro lado, é possível que o idoso não considere relevante o acompanhamento dos níveis pressóricos, tendo em vista que a HAS, por vezes, é assintomática.

No estudo da zona urbana de Presidente Venceslau, SP, percentual superior a 50% referiu já ter abandonado o tratamento medicamentoso, tendo como principais motivos para a interrupção: efeitos colaterais, não sentiam nada e acreditavam estar curados. Tais achados denotam que o fator que influenciou a adesão ao tratamento da HAS esteve relacionado ao entendimento do idoso acerca do processo de saúde/doença(1919. Contiero AP, Pozati MPS, Challouts RI, Marcon SS. Idoso com hipertensão arterial: dificuldades de acompanhamento na Estratégia Saúde da Família. Rev Gaúcha Enferm. 2009;30(1):62-70.).

A literatura evidencia que o consumo de sal ainda é muito maior entre as pessoas com HAS do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). O que não dispensa o incentivo à redução do consumo de sal e de produtos industrializados que apresentem alto teor de sódio, ressaltando-se a importância da modificação desse hábito para o controle da PA.

No que concerne à QV, estudo entre idosos do meio rural observou que a QV foi considerada satisfatória, podendo estar relacionada à melhor adaptação desses idosos ao envelhecimento(2020. Martins CR, Alburqueque FJB, Gouveia CNNA, Rodrigues CFF, Neves MTS. Avaliação da qualidade de vida subjetiva dos idosos: uma comparação entre os residentes em cidades rurais e urbanas. Estud Interdiscip Envelhec. 2007;11:135-54.). A satisfação com a saúde pode estar relacionada à assistência recebida pelos idosos em relação à saúde, considerando-se a cobertura da Estratégia Saúde da Família.

O maior escore no domínio relações sociais pode estar associado ao maior vínculo afetivo com vizinhos, amigos e família, proveniente da estabilidade da população idosa no meio rural(2020. Martins CR, Alburqueque FJB, Gouveia CNNA, Rodrigues CFF, Neves MTS. Avaliação da qualidade de vida subjetiva dos idosos: uma comparação entre os residentes em cidades rurais e urbanas. Estud Interdiscip Envelhec. 2007;11:135-54.). As relações sociais dos idosos influenciam de forma positiva a saúde mental e psicológica(2121. Meirelles BHS, Arruda C, Simon E, Vieira FMA, Cortezi MDV, Natividade MSL. Condições associadas com à qualidade de vida dos idosos com doenças crônicas. Cogitare Enferm. 2010;15(3):433-40. ), o que favorece a compreensão sobre a doença e o seu enfrentamento, contribuindo para a adesão ao tratamento.

O domínio meio ambiente analisa, entre outros fatores, os recursos financeiros, a disponibilidade e qualidade de cuidados de saúde, cuidados sociais e os relacionados ao transporte(1212. Fleck MPA, Louzada SXM, Xavier M, Vieira G, Santos L, Pinzon V. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-bref". Rev Saúde Pública. 2000;34(2):178-83.), que podem estar dificultados nessa região, impactando negativamente a QV.

Em outro estudo, realizado em uma comunidade pesqueira de Santa Catarina, verificou-se que os idosos com doenças crônicas sentem-se mais preocupados, em decorrência das dificuldades de acesso a outros recursos de saúde e agravamento dos problemas de saúde, o que supostamente influencia a QV(2121. Meirelles BHS, Arruda C, Simon E, Vieira FMA, Cortezi MDV, Natividade MSL. Condições associadas com à qualidade de vida dos idosos com doenças crônicas. Cogitare Enferm. 2010;15(3):433-40. ). Além disso, evidencia-se que idosos residentes na zona rural vivenciam maior pobreza, com casas mais precárias, isolamento social, limitado acesso aos meios de transporte e distância dos centros de saúde(11. Morais EP, Rodrigues RAP, Gerhardt TE. Os idosos mais velhos no meio rural: realidade de vida e saúde de uma população do interior gaúcho. Texto Contexto Enferm. 2008;17(2):374-83. ).

Já a faceta intimidade avalia a capacidade para manter as relações pessoais e íntimas(1313. Fleck MPA, Chamovich E, Trentini CM. Development and validation of the Portuguese version of the WHOQOL-OLD module / Desenvolvimento e validação da versão em Português do módulo WHOQOL-OLD. Rev Saúde Pública. 2006;40(5):785-91.). O tratamento da HAS requer mudanças no comportamento em saúde, dentre eles a alimentação e a realização de atividades físicas. Nessa perspectiva, os dados da presente pesquisa denotam boas relações pessoais, evidenciando a possibilidade de se trabalhar com os familiares, em especial, os cônjuges, tendo em vista que a maioria é casada, e esses, os cônjuges, se tornam corresponsáveis no cuidado à saúde dos idosos.

A faceta participação social avalia a participação em atividades da comunidade(1313. Fleck MPA, Chamovich E, Trentini CM. Development and validation of the Portuguese version of the WHOQOL-OLD module / Desenvolvimento e validação da versão em Português do módulo WHOQOL-OLD. Rev Saúde Pública. 2006;40(5):785-91.). Em outra investigação verificou-se que os idosos com menor escolaridade e renda apresentavam mais dificuldades de acesso à oportunidade de lazer e diversão, e isso pode influenciar as suas condições de saúde(1515. Pinto JLG, Garcia ACO, Bocchi SCM, Carvalhaes MABL. Características de apoio social oferecido a idosos de área rural assistido pelo PSF. Ciênc Saúde Coletiva. 2006;11(3):753-64.). O espaço rural possui poucas oportunidades de atividades sociais em relação à área urbana. O fato de a maioria dos idosos deste inquérito possuir renda mensal de um salário-mínimo pode dificultar as atividades na comunidade e o acesso a transporte para outras localidades, o que limita a participação social e compromete a QV.

Observou-se em estudo realizado em uma comunidade pesqueira com idosos que a QV está relacionada à energia e ao trabalho, ou seja, à capacidade física(2121. Meirelles BHS, Arruda C, Simon E, Vieira FMA, Cortezi MDV, Natividade MSL. Condições associadas com à qualidade de vida dos idosos com doenças crônicas. Cogitare Enferm. 2010;15(3):433-40. ). Tal fato pode estar associado à cronicidade da HAS, que progressivamente acarreta lesões de órgãos-alvo, comprometendo a QV dos idosos.

O tratamento medicamentoso visa diminuir os eventos cardiovasculares, por meio do controle da PA e, consequentemente, a menor morbimortalidade da HAS(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). A utilização da monoterapia baseia-se no mecanismo fisiopatológico do cliente e suas características pessoais, número de morbidades associadas ou não e condições econômicas(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). A utilização da terapia medicamentosa pode ser compreendida pela especificidade de cada idoso, pela ação do anti-hipertensivo e pela disponibilidade do medicamento pelo serviço público de saúde.

Cabe à equipe multiprofissional atentar para o controle da PA, por meio da verificação do controle da HAS sem a utilização de medicamentos e a adoção das mudanças nos hábitos de vida, além de sensibilizar esses idosos sobre os riscos que a HAS pode causar quando não tratada. Em pesquisa de revisão, acerca da abordagem multiprofissional no controle da HAS entre idosos, destacou-se que o enfermeiro estabelece uma relação de confiança que inclui aspectos socioeconômicos, físicos e psicológicos(2222. Lyra DP Júnior, Amaral RT, Veiga EV, Cárnio EC, Nogueira MS, Pelá IR. A farmacoterapia no idoso: revisão sobre a abordagem multiprofissional no controle da hipertensão arterial sistêmica. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2006;14(3):435-41.).

Referente aos medicamentos utilizados, o vasodilatador direto atua sobre a musculatura da parede vascular, a qual relaxa com vasodilatação e reduz a resistência periférica; como consequência, pode promover a retenção hídrica e taquicardia reflexa(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). Tais reações adversas associadas à dependência de medicamentos podem interferir no domínio psicológico que avalia a autoestima, imagem corporal, sentimentos positivos e negativos(1212. Fleck MPA, Louzada SXM, Xavier M, Vieira G, Santos L, Pinzon V. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-bref". Rev Saúde Pública. 2000;34(2):178-83.).

Em relação aos IECAs, podem apresentar como reações adversas alteração no paladar(3) que influenciam o funcionamento dos sentidos.

Quanto aos bloqueadores dos canais de cálcio, destaca-se que são eficazes no tratamento da HAS e diminuem a incidência de Acidente Vascular Encefálico (AVE), embora apresentem algumas reações adversas, como cefaleia e tontura(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). O maior escore de QV na faceta autonomia pode estar relacionado à escolha da medicação para o tratamento da HAS, o que pode promover a maior capacidade de decisão desse idoso em relação ao seu tratamento, de tal maneira, que o critério para adoção da terapia medicamentosa pelo médico deve envolver as características individuais e adaptação ao medicamento.

Devido à vasodilatação, esse medicamento pode causar taquicardia reflexa e retenção hídrica(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.), o que pode influenciar a comparação da QV entre os grupos que utilizam esse medicamento. Além das reações adversas que causam desconforto, o uso de outros medicamentos associados pode influenciar a QV. Em pesquisa de revisão sobre HAS com idosos evidenciou-se como limitador no tratamento anti-hipertensivo a polifarmácia, frequentemente encontrada entre os idosos(2222. Lyra DP Júnior, Amaral RT, Veiga EV, Cárnio EC, Nogueira MS, Pelá IR. A farmacoterapia no idoso: revisão sobre a abordagem multiprofissional no controle da hipertensão arterial sistêmica. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2006;14(3):435-41.).

Em relação aos BRA II, esses bloqueiam os receptores AT1, impedindo os efeitos da angiotensina II, sendo muito utilizados nos clientes com alto risco cardiovascular e comorbidades, apresentando menor intolerância e poucas reações adversas(33. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl 1):1-51.). O maior escore na faceta funcionamento dos sentidos pode estar associado à melhor adaptação à medicação por esses idosos, devido a menores reações adversas do BRA II.

Os resultados da presente pesquisa mostram o desconhecimento do idoso sobre a sua doença, impondo a necessidade de implementar ações educativas que abordem a HAS. Evidencia-se a relevância do papel educativo do enfermeiro na compreensão do processo saúde/doença, pelos idosos com HAS. Por outro lado, o enfermeiro deve propor estratégias que auxiliem o idoso a se lembrar de tomar o medicamento, como colocá-lo sempre no mesmo lugar ou mesmo buscar a contribuição de algum membro familiar. Há de se trabalhar, também, a memória recente do idoso, por meio de jogos e leituras, de forma a favorecer a sua independência no cuidado à saúde. Destaca-se, ainda, a necessidade de ações como as consultas de enfermagem, as visitas domiciliares e as atividades de educação em saúde, no intuito de sensibilizar os idosos acerca da prevenção de complicações da HAS e comorbidades. Soma-se a utilização diária dos medicamentos e seus efeitos colaterais, assim como as consequências sobre os órgãos-alvo que a HAS pode causar em longo prazo.

É oportuno destacar que o enfermeiro deve estabelecer vínculo com o idoso e seu familiar para que, juntos, desenvolvam estratégias para melhorar a adesão ao tratamento da HAS, contudo, incentivando a autonomia do idoso. Devem-se ser ressaltadas as vantagens da adesão ao tratamento, assim como a aferição mensal da PA, bem como a diminuição do consumo de sódio e prática de atividade física. Tais estratégias podem ser incentivadas individual e coletivamente, envolvendo familiares e por meio da valorização do espaço rural. Ao verificar os medicamentos utilizados pelos idosos, o enfermeiro pode informar sobre as principais reações adversas que interferem na QV, de forma a minimizar o seu impacto no cotidiano do idoso. Para tal, cabe maior observação acerca do dinamismo e autonomia dos idosos, visando melhor tratamento e, consequentemente, melhor QV. Ademais, faz-se pertinente aos cuidados da enfermagem, após prescrito o medicamento anti-hipertensivo, esclarecer o mecanismo de funcionamento dos medicamentos e acompanhar a adaptação do idoso.

Conclusões

Diante desses dados, é necessário que se realizem ações voltadas para os idosos com HAS da zona rural, com o intuito de contribuir para a melhoria das questões relacionadas à HAS e incentivar as consultas e participação desses idosos nas unidades de saúde, a fim de promover melhor QV dessa população. É necessário que os profissionais da área de saúde, principalmente o enfermeiro, tenham conhecimentos científicos para auxiliar na proposição do tratamento. Deve-se conhecer os principais benefícios e malefícios que a medicação acarreta nos idosos, assim como as questões relacionadas à adaptação e ao impacto causado sobre a QV.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2013

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2012
  • Aceito
    11 Jan 2013
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