A Enfermagem do Futuro: combinando Saúde Digital e a Liderança do Enfermeiro

A prática de cuidar de pessoas doentes existe desde os tempos remotos. Modernamente, devemos a Florence Nightingale e a outras expoentes a concepção da Enfermagem como profissão, que hoje é central na garantia dos cuidados em saúde, cuidados estes cada vez mais desenvolvidos por equipes multidisciplinares e com potencial de maior proximidade com as pessoas, mediante o uso das tecnologias digitais, principalmente num mundo cada vez mais global⁽¹⁾.

O número insuficiente de enfermeiros no mundo é um problema identificado e tem sido uma preocupação global. Contudo, sente-se a falta de lideranças que assumam as mudanças necessárias nas práticas sanitárias, na gestão, no ensino e nas políticas de saúde de um modo geral e, sobretudo, na promoção do trabalho por equipes multidisciplinares. Nesse sentido, a aposta é na liderança de uma nova geração de enfermeiros, que reforce os aspectos da ética e dos valores, como eixo central da prática do cuidado e sua interatividade com os usuários dos sistemas de saúde, com a possibilidade de potencializar a liderança dos enfermeiros mais experientes. A Organização Mundial de Saúde e o Global Advisory Panel on the Future of Nursing sugerem que é imperativo uma comunicação efetiva entre profissionais de saúde e usuários dos serviços de saúde, um bom desempenho técnico atrelado à integridade, ao humanismo, conforme premissas dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável⁽²⁾. Um conjunto de barreiras estruturais e organizacionais limitam os enfermeiros na resposta às mudanças rápidas na saúde. Em 2008, The Robert Wood Johnson Foundation e o Institute of Medicine organizaram uma iniciativa para olhar para o futuro da profissão do enfermeiro, estabelecendo quatro recomendações:

1. Os enfermeiros devem promover o cuidado em toda a extensão da sua especialidade, nos diversos contextos dos serviços de saúde.

2. Os enfermeiros devem obter altos níveis de conhecimento por meio de um sistema educacional aprimorado que promova a progressão contínua, para melhorar a qualidade do cuidado, com potencial de tornar a força de trabalho de enfermagem mais diversificada, particularmente em termos de gênero, raça e etnia.

3. A prática interprofissional deve ser o foco primordial na reformulação dos sistemas de saúde que não adotam sistemas universais.

4. O enfermeiro deve participar no planejamento da força de trabalho e na elaboração de políticas para um sistema de informação adequado

A Enfermagem é a profissão que apresenta o maior contingente da força de trabalho nos diferentes sistemas de saúde em todo o mundo. Portanto, a liderança do enfermeiro deve ter um papel fundamental na organização do trabalho e no desenvolvimento de soluções inovadoras. São os princípios orientadores de responsabilidade, respeito à especialização e comprometimento com os objetivos de qualidade e proximidade com os usuários dos serviços de saúde, que vão permitir que a liderança de enfermagem contribua para a implementação de soluções inovadoras de base digital em enfermagem⁽³⁾.

Neste caminho, a maturidade da transformação digital da saúde é uma oportunidade para qualificar o trabalho de enfermagem. Todavia, é também um desafio, pois requer que a força de trabalho de enfermagem desenvolva competências específicas na área digital. A Internet (e.g. Aplicativos) permite condições únicas para fortalecer o vínculo com os usuários dos serviços de saúde. A criação de serviços de saúde digitais, como monitoramento dos usuários à distância, permitirá uma melhor resposta ao cuidado da saúde, eventualmente levando à criação da “enfermagem de precisão”. Assim, a qualificação permanente dos profissionais de Enfermagem deve agregar as tecnologias digitais para estabelecer uma força de trabalho capacitada para atender de forma resolutiva as futuras demandas de um mundo cada vez mais informatizado⁽⁴⁾.

A Enfermagem do futuro será sustentada por profissionais cada vez mais capacitados, focados na prática avançada, cujo conhecimento apoiará a sua liderança na reorganização da prática dos cuidados, em parceria com outros profissionais e com maior proximidade aos usuários dos serviços de saúde. A adoção de medidas terapêuticas será facilitada pelos sistemas digitais mediante os protocolos clínicos “inteligentes”, consensualizados interprofissionalmente, os quais permitirão, de forma transparente, evidenciar o trabalho de equipe, com vinculação mais efetiva ao usuário do serviço de saúde. Os novos sensores (e.g. Internet das Coisas, wearables), as novas redes tecnológicas, os robots, a impressão 3-D e, sobretudo, os sistemas mais sofisticados e complexos de apoio à decisão para a prática assistencial e gerencial, suportarão uma interação mais aprofundada com os usuários dos serviços de saúde⁽¹⁾. A interação dos enfermeiros, a partir do mundo digital, com os usuários, vai colocá-los no centro dos cuidados e torná-los mais ativos como gestores do autocuidado e compartilhado em saúde. Os Serviços de Enfermagem Digitais poderão reforçar a capacidade do enfermeiro interagir com os usuários dos serviços de saúde e suas famílias de forma a promover melhor adesão às terapêuticas e apoiar o “capital social” que dinamize as comunidades saudáveis. A inteligência artificial, depois de reunir dados consistentes, poderá ser uma aliada do enfermeiro na gestão do cuidado em saúde, ajudando-o a antecipar e a identificar situações que possam constituir problemas potenciais ou reais de saúde aos usuários dos serviços de saúde⁽⁵⁾.

O conhecimento profundo das organizações de saúde permitirá ao enfermeiro usar a ciência do Design para promover a inovação nos serviços de saúde⁽¹⁾. Assim, o Enfermeiro, ao agir de forma interprofissional, promoverá o processo de cuidado e a interação com usuários dos serviços de saúde num sistema digital que constituirá um novo paradigma dos cuidados de enfermagem.

References

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• ⁵
  Lapão LV. Artificial intelligence: is it a friend or foe of physicians?. Einstein. (São Paulo) 2019;17:eED4982. doi: https://doi.org/10.31744/einstein_journal/2019ed4982
  » https://doi.org/10.31744/einstein_journal/2019ed4982

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Jun 2020
• Data do Fascículo
  2020