Acessibilidade / Reportar erro

EDITORIAL

Capacitando enfermeiros para o cuidado em saúde global

Lynda Law Wilson

Enfermeira, Doutora, Membro da Academia Americana de Enfermagem, Professor e Diretor Assistente da International Affairs e Vice-Diretora do Centro Colaborador da OPAS/OMS para Enfermagem Internacional. University of Alabama, Birmingham, EUA. Editor Associado da Revista Latino-Americana de Enfermagem. E-mail: lyndawilson@uab.edu

Em 2009, a Organização Mundial da Saúde publicou documento propondo padrões globais para a formação inicial de enfermeiros e parteiras profissionais, e enfatizou que, apesar de quase 35 milhões de enfermeiros e parteiras se constituírem no maior quadro de profissionais de saúde, mundialmente, raramente participam da tomada de decisões de alto nível e do desenvolvimento de políticas(1). O desenvolvimento de padrões está em concordância com um dos objetivos da resolução WHA59.23, aprovada em 2006(2), para desenvolver padrões globais de educação em enfermagem como estratégia para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia, a fim de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) para a saúde(1,3). Os padrões especificam que os graduados em programas de educação em enfermagem e obstetrícia devem ser culturalmente competentes, ter compreensão dos determinantes sociais da saúde, ter a capacidade para a prática e atender as necessidades de saúde da população nos sistemas de atenção à saúde de seus respectivos países(1). Os padrões não abordam explicitamente a necessidade de preparar enfermeiros que tenham competências na área de saúde global.

Nesta era de grande mobilidade geográfica, com o surgimento de infecções emergentes que atravessam as fronteiras nacionais, os avanços tecnológicos e de comunicação, e a crescente interdependência do mundo, há necessidade de ir além do foco em problemas locais e nacionais de atenção à saúde, para garantir que todos os enfermeiros estejam preparados para enfrentar as necessidades de saúde locais, nacionais e globais(4-7).

Saúde global é definida como "... uma área para estudo, pesquisa e prática que prioriza a melhoria da saúde e o alcance da equidade em saúde para todas as pessoas no mundo. Saúde global enfatiza questões de saúde transnacionais, determinantes e soluções; envolve muitas disciplinas dentro e fora das ciências da saúde e promove a colaboração interdisciplinar, e é uma síntese entre a prevenção baseada na população e os cuidados clínicos do indivíduo"(8). Embora haja inúmeros esforços para definir competências culturais a serem integradas no currículo de enfermagem(9-11), os esforços para identificar e definir as competências em saúde global estão apenas começando. É importante que os educadores em enfermagem desenvolvam currículos inovadores na preparação de enfermeiros para o desenvolvimento de diferentes papéis em uma sociedade global(12). Conceitos específicos de saúde global a serem integrados em programas educacionais básicos de enfermagem incluem: cidadania global, justiça social, equidade em saúde, questões de enfermagem em saúde global, determinantes de saúde, epidemias, doenças transmissíveis e não transmissíveis, epidemiologia e resultados de saúde e emergências humanitárias(13). Membros de Centros Colaboradores da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) em Enfermagem e Obstetrícia na University of Alabama at Birmingham, Universidade de São Paulo campus de Ribeirão Preto, da Universidad Nacional de México e da Johns Hopkins University colaboraram recentemente em um projeto para o levantamento, junto ao corpo docente de enfermagem na América do Norte e América Latina, para identificar suas percepções de competências em saúde global que devem ser incluídas nos currículos básicos de enfermagem(14). O instrumento de pesquisa foi desenvolvido por meio da adaptação de um conjunto de competências em saúde global para estudantes de medicina, realizado pela Association of Faculties of Medicine of Canada (AFMC), Grupo de Recursos em Saúde Global e o Global Health Education Consortium (GHEC) http://globalhealthcompetencies.wikispaces.com/. Convites para preenchimento dos questionários anônimos online foram enviados por e-mail aos membros do corpo docente de faculdades de enfermagem no Canadá, países do Caribe, América Latina e Estados Unidos. Os questionários estavam disponíveis em inglês, espanhol e português. Até o presente momento, foram recebidas 542, 51 e 224 respostas aos questionários em inglês, espanhol e português, respectivamente. Reconhece-se que há necessidade de novos trabalhos para desenvolver consenso entre a comunidade global de enfermagem sobre quais, caso haja, competências de saúde global são essenciais para diferentes níveis de programas educacionais profissionais em enfermagem. Tendo em vista o rápido desenvolvimento na globalização dos cuidados de saúde, considero que agora é o momento de os enfermeiros e parteiras estarem preparados como cidadãos e profissionais competentes em saúde global.

Referências

  • 1. World Health Organization. Global standards for the initial education of professional nurses and midwives. Geneva (SWZ): WHO; 2009.
  • 2
    World Health Organization. Scaling up health workforce production: a concept paper towards the implementation of World Health Assembly resolution WHA59.23 Geneva: World Health Organization; 2006.
  • 3
    United Nation. We can end poverty 2015: Millennium Development Goals [Internet]. [cited 2010 Ago 26]. Available from: http://www.un.org/millenniumgoals/
  • 4. Baumann A, Blythe J. Globalization of higher education in nursing. Online J Issues Nurs. [Internet]. 2008;13(2):1-13. [cited 2010 Ago 26]. Available from: http://www.medscape.com/viewarticle/576193
  • 5. Bradbury-Jones C. Globalisation and its implications for health care and nursing practice. Nurs Standard. 2009;23(25):43-7.
  • 6. Callen BL, Lee JL. Ready for the world: Preparing nursing students for tomorrow. J Prof Nurs. 2009;25(5):292-8.
  • 7. Ogilvie LD, Paul P. Burgess-Pinto E. International dimensions of higher education in nursing in Canada: Tapping the wisdom of the 20th century while embracing the possibilities for the 21st century. Int J Nurs Educ Scholar. 2007;4(1):1-22.
  • 8. Koplan JP, Bond TC, Merson MH, Reddy KS, Rodriguez MH, Sewankambo NK, Wasserheit JN. Towards a common definition of global health. Lancet. 2009;373(9679):1993-5.
  • 9
    American Association of Colleges of Nursing. Essentials of baccalaureate education for professional nursing practice. Washington: American Association of Colleges of Nursing; 2008.
  • 10. Douglas MK, Pierce JU, Rosenkoetter M, Callister LC, Hattar-Pollara M, Lauderdale J, Pacquiao D. Standards of practice for culturally competent nursing care: A request for comments. J Transcult Nurs. 2009;20(3):257-69.
  • 11. International Council of Nurses. Cultural and linguistic competence. Position statement. [Internet]. [cited 2010 Ago 20]. Available from: http://www.icn.ch/images/stories/documents/publications/position_statements/B03_Cultural_Linguistic_Competence.pdf
  • 12. Mill J, Astle BJ, Ogilvie L, Gastardo DG. Linking global citizenship, undergraduate nursing education, and professional nursing: Curricular innovation in the 21st century. ANS Adv Nurs Sci. 2010;33(3):E1-E11.
  • 13. Archambault N. Incorporating global health into undergraduate nursing education. MSN, Vancouver: University of British Columbia; 2010.
  • 14. Wilson L, Harper DC, Tami I, Zarate R, Salas S, Farley J, Ventura C. Global Health Competencies for Nurses in the Americas. J Prof Nurs. 2011. (In Press).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br