Acessibilidade / Reportar erro

Prevalência de quedas no domicílio de longevos e fatores extrínsecos associados 1 1 Artigo extraído da dissertação de mestrado “Fatores de riscos extrínsecos para quedas no domicílio de longevos assistidos pela Estratégia Saúde da Família”, apresentada à Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.

Resumo

Objetivo:

identificar a prevalência de queda entre idosos longevos e os fatores extrínsecos a ela associados.

Método:

estudo transversal de base populacional, com 350 idosos longevos. Realizou-se inquérito domiciliar, utilizando-se questionário com variáveis sociodemográficas, clínicas e relacionadas ao ambiente. Os dados foram analisados por meio do Software Stata V.10. Foram empregados os testes qui-quadrado de Pearson e a análise de regressão logística, com critério stepwise para seleção das variáveis no modelo, com medidas de efeito expressas em Razão de Prevalência. Para entrada no modelo múltiplo, foram consideradas as variáveis com p ≤ 0,20. Todos os cuidados éticos que regem as pesquisas com seres humanos foram observados e respeitados.

Resultados:

a prevalência de quedas foi de 46,9%. Apresentaram-se associados às quedas os fatores extrínsecos: degraus, desnível e animais de estimação no acesso principal, tapetes soltos sem antiderrapante e piso escorregadio na cozinha, tapetes soltos sem antiderrapante e objetos no chão no quarto, ausência de barras de apoio no chuveiro, ausência de barras de apoio no sanitário e interruptor distante da porta no banheiro (p<0,05).

Conclusões:

as quedas são frequentes em longevos. A identificação dos fatores extrínsecos associados à ocorrência desse evento pode auxiliar na prevenção.

Descritores:
Idoso de 80 Anos ou Mais; Acidentes por Quedas; Fatores de Risco; Enfermagem

Resume

Objective:

to identify the prevalence of falls among older adults and the extrinsic factors associated with them.

Method:

population-based cross-sectional study with 350 older adults. A household survey was conducted using a questionnaire addressing socio-demographic, clinical, and environmental characteristics. Data were analyzed using Stata Software V.10. Pearson’s chi-square test and logistic regression analysis were used with stepwise criteria for selection of variables in the model, with measures of effect expressed in Prevalence Ratio. For input into the multiple model, the variables with p ≤ 0.20 were considered. All ethical care regarding research on human beings has been observed and respected.

Results:

the prevalence of falls was 46.9%. The extrinsic factors associated with falls were: stairs, uneven floor and pets in the main entrance, lack of anti-slip loose throw rugs and slippery floor in the kitchen, lack of anti-slip loose throw rugs and objects on the floor in the room, lack of grab bars in the shower, lack of grab bars in the toilet and switch away from the bathroom door (p <0.05).

Conclusion:

falls are frequent in long-lived adults. The identification of the extrinsic factors associated with the occurrence of this event can help in its prevention.

Descriptors:
Aged, 80 and Over; Accidental Falls; Risk Factors; Nursing

Resumen

Objetivo:

identificar la prevalencia de caída entre ancianos longevos y los factores extrínsecos a ella asociados.

Método:

estudio transversal de base poblacional, con 350 ancianos longevos. Se realizó encuesta domiciliar, utilizando un cuestionario con variables sociodemográficas, clínicas y relacionadas al ambiente. Los datos fueron analizados por medio del Software Stata V.10. Fueron empleadas las pruebas chi-cuadrado de Pearson y el análisis de regresión logística, con criterio stepwise para selección de las variables en el modelo, con medidas de efecto expresadas en Razón de la Prevalencia. Para entrada en el modelo múltiple, fueron consideradas las variables con p ≤ 0,20. Todos los cuidados éticos que rigen las investigaciones con seres humanos fueron observados y respetados.

Resultados:

la prevalencia de caídas fue de 46,9%. Se presentaron asociados a las caídas los factores extrínsecos: peldaños, desniveles y animales domésticos en la entrada principal, alfombras sueltas sin antideslizantes y suelo resbaladizo en la cocina, y objetos en el suelo del dormitorio, ausencia de barras de apoyo en la ducha, ausencia de barras de apoyo en el vaso sanitario e interruptor distante de la puerta en el cuarto de baño (p<0,05).

Conclusiones:

las caídas son frecuentes en longevos. La identificación de los factores extrínsecos asociados a la ocurrencia de ese evento puede auxiliar en la prevención.

Descriptores:
Anciano de 80 o más Anõs; Accidentes por Caídas; Factores de Riesgo; Enfermería

Introdução

O fenômeno do envelhecimento consiste numa realidade balizada em transformações na estrutura demográfica, nas condições socioeconômicas e de saúde da população mundial cujas repercussões atingem tanto a sociedade quanto o sistema de saúde11 World Health Organization (WHO). World report on ageing and health. Geneva: World Health Organization. [Internet]. 2015 [cited Feb 12, 2016]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/186463/1/9789240694811_eng.pdf?ua
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
. Tais transformações demandam a necessidade de se estudar melhor esse segmento e os problemas aos quais os idosos estão expostos, dentre eles os eventos associados às quedas.

A ocorrência de queda é considerada uma das principais causas de morbidade e de mortalidade por causas externas entre os idosos. Queda é definida como qualquer toque ao chão inesperadamente por qualquer parte do corpo do indivíduo, com exceção da planta dos pés22 Wada N, Sohmiya M, Shimizu T, Okamoto K, Shirakura K. Clinical analysis of risk factors for falls in home-living stroke patients using functional evaluation tools. Arch Phys Med Rehabil. [Internet]. 2007 [cited Feb 12, 2016];88(12):1601-5. Available from: http://www.archives-pmr.org/article/S0003-9993(07)01555-9/pdf
http://www.archives-pmr.org/article/S000...
. Os eventos associados à perda de consciência, à lesão cerebrovascular aguda, ao acidente de carro, à atividade recreativa vigorosa ou violência frequentemente são excluídos da definição de quedas em idosos33 Pinho TAM, Silva AO, Tura LFR, Moreira MASP, Gurgel SN, Smith AAF, et al. Avaliação do risco de quedas em idosos atendidos em Unidade Básica de Saúde. Rev Esc Enferm USP. [Internet]. 2012 [Acesso 22 maio 2016];46(2):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a08v46n2.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a0...
.

As quedas produzem no idoso importante perda de autonomia44 Cavalcante ALP, Aguiar JB, Gurgel LA. Fatores associados a quedas em idosos residentes em um bairro de Fortaleza, Ceará. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2012 [Acesso 18 março 2016];15(1):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v15n1/15.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v15n1/15.p...
e, podem ocasionar diferentes consequências, desde lesões leves até fraturas e morte55 Kwan MM, Close JC, Wong AK, Lord SR. Falls incidence, risck factors, and consequences in Chinese older people: a systematic review. J AM Geriatr Soc. [Internet]. 2011 [cited May 15, 2016];59(3):536-43. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1532-5415.2010.03286.x/full
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.11...
. Tais consequências impactam nos serviços de saúde ao aumentar o uso de recursos pessoais e materiais devido aos atendimentos médicos e de enfermagem. Por esse motivo, as quedas são consideradas a lesão de maior custo entre os idosos66 Davis JC, Robertson MC, Ashe MC, Liu-Ambrose T, Khan KM, Marra CA. International comparison of cost of falls in older adults living in the community: a systematic review. Osteoporos Int. [Internet]. 2010 [cited May 12, 2016];21(8):1295-306. Available from: http://link.springer.com/article/10.1007/s00198-009-1162-0
http://link.springer.com/article/10.1007...
.

Idosos com mais de 80 anos, considerado o segmento dos longevos, possuem alterações em seu organismo. Entre elas, destacam-se as do sistema sensorial e musculoesquelético, as quais podem ocasionar em prejuízos, como o aumento no risco de quedas e a redução do nível de independência funcional e, consequentemente, a diminuição na qualidade de vida33 Pinho TAM, Silva AO, Tura LFR, Moreira MASP, Gurgel SN, Smith AAF, et al. Avaliação do risco de quedas em idosos atendidos em Unidade Básica de Saúde. Rev Esc Enferm USP. [Internet]. 2012 [Acesso 22 maio 2016];46(2):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a08v46n2.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a0...
.

De fato, ao longo da vida, além das mudanças nas dimensões biológica, psicológica e social, o idoso está exposto a diversas situações, as quais podem incidir na perda da autonomia e da independência, entre elas, os eventos de queda77 Ferrão S, Henriques A, Fontes R. Elderly fall prevention in nursing home context - Systematic fall risk assessment using Morse Scale, Get Up and Go and Timed Get Up and Go tests. J Aging Inovation. [Internet]. 2011 [cited May 12, 2016];1(1):14-22. Available from: https://issuu.com/aagi-id/docs/2_quedas_morse
https://issuu.com/aagi-id/docs/2_quedas_...
.

No Brasil, cerca de 30% dos idosos têm um evento de queda pelo menos uma vez ao ano. Idosos com 65 anos ou mais, numa proporção de um em cada três, caem uma ou mais vezes e metade dos idosos que caem repete o evento88 Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2012 [Acesso 11 jun 2016];46(1):138-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
-99 Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araujo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev Eletr Enferm. [Internet]. 2011 [Acesso 12 fev 2016];13(3):395-404. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen...
. Aproximadamente, 2,5% deles requerem hospitalização; destes, apenas metade sobrevive após um ano99 Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araujo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev Eletr Enferm. [Internet]. 2011 [Acesso 12 fev 2016];13(3):395-404. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen...
. O risco de quedas quase duplica em indivíduos com mais de 80 anos de idade. Nos longevos, a percentagem sobe para aproximadamente 50%1010 Araujo AM, Menezes RMP, Mendonça AEO, Lopes MS, Tavares AM, Lima HCF. Mortality profile from falls in the elderly. J Res: Fundam Care Online. [Internet]. 2013 [cited Feb 12, 2016]; 6(3):863-75. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/2814
http://www.seer.unirio.br/index.php/cuid...
.

O efeito cumulativo de alterações relacionadas à idade, às doenças e ao meio ambiente inadequado pode predispor a queda1111 Almeida ST, Soldera CLC, Carli GA, Resende TL. Análise de fatores extrínsecos e intrínsecos que predispõem a quedas em idosos. Rev Assoc Med Bras. [Internet]. 2012 [Acesso 12 fev 2016];58(4):427-33. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302012000400012
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. Tais episódios podem estar associados aos fatores de risco à queda, os quais podem ser multifatoriais, em condições intrínsecas e extrínsecas1212 Leiva-Caro JA, González-Salazar BC, Cabriales-Gallengos EC, Meza-Gómez MV, Hunter KF. Connection betweem competence, usability, environment and risk of falls in elderly adults. Rev Latino-Am. Enfermgem. [Internet]. 2015 [cited April 11, 2016];23(6). Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692015000601139&lng=en&nrm=iso&tlng=en&ORIGINALLANG=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
.

Entende-se por fatores intrínsecos os relacionados ao indivíduo, os quais decorrem das alterações fisiológicas devido ao avanço da idade, além da presença de doenças, de fatores psicológicos e de reações adversas a medicações em uso99 Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araujo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev Eletr Enferm. [Internet]. 2011 [Acesso 12 fev 2016];13(3):395-404. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen...
. Já os extrínsecos referem-se aos comportamentos e as atividades das pessoas idosas e ao ambiente físico, fatores esses que dependem de circunstâncias sociais e ambientais99 Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araujo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev Eletr Enferm. [Internet]. 2011 [Acesso 12 fev 2016];13(3):395-404. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen...
.

Na revisão da literatura especializada, encontrou-se um estudo que demonstra a avaliação da interação do idoso com o ambiente e as quedas1313 Hill EE, Nguyen TH, Shaha M, Wenzel JA, DeForge BR, Spellbring AM. Person-environment interactions contributing to nursing home resident falls. Res Gerontol Nurs. [Internet]. 2009 [cited May 18, 2016];2(4):287-96. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3042855/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
. Os achados destacaram as interações entre os fatores pessoais e o meio ambiente, no entanto, não se conseguiu evidenciar respostas conclusivas entre o idoso e o ambiente com o risco de quedas. O conhecimento desses fatores constitui em importante subsídio para a equipe de saúde estabelecer os fundamentos necessários para um sistema de cuidados e, consequentemente, propor medidas para prevenir futuras quedas.

Em relação às quedas de idosos na comunidade, descritas na literatura internacional, o maior interesse tem sido pelos aspectos preventivos das quedas1414 Williams hg, Ullmann G. Development of a Community-Based Fall Prevention Program: Stay in Balance, J Phys Act Health. [Internet]. 2012 [cited Jun 18, 2015];9(4). Available from: http://journals.humankinetics.com/doi/pdf/10.1123/jpah.9.4.571
http://journals.humankinetics.com/doi/pd...
. Por outro lado, dos estudos nacionais, a maioria foi realizada em cidades das regiões Sul e Sudeste e os aspectos mais pesquisados foram: prevalência, incidência, causas e consequências das quedas, fatores de risco e perfil de idosos que caíram33 Pinho TAM, Silva AO, Tura LFR, Moreira MASP, Gurgel SN, Smith AAF, et al. Avaliação do risco de quedas em idosos atendidos em Unidade Básica de Saúde. Rev Esc Enferm USP. [Internet]. 2012 [Acesso 22 maio 2016];46(2):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a08v46n2.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a0...
-44 Cavalcante ALP, Aguiar JB, Gurgel LA. Fatores associados a quedas em idosos residentes em um bairro de Fortaleza, Ceará. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2012 [Acesso 18 março 2016];15(1):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v15n1/15.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v15n1/15.p...
,88 Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2012 [Acesso 11 jun 2016];46(1):138-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. Por isso, estudos de fatores de riscos extrínsecos para quedas de idosos são importantes para se conhecer a magnitude e as características desse evento.

Nesse sentido, constata-se que existe uma lacuna na literatura que aborda o estudo desse problema. Uma revisão extensa da literatura entre os autores de língua espanhola revelou a existência de uma única pesquisa que aborda os problemas das quedas em uma residência de idosos1515 Pérez- Rodrigues AU, Domíngues-Sosa G, González-Baños E. Factores de riesgo extrínsecos para caídas en un hogar para adultos mayores de Tabasco, México. Arch Med. [Internet]. 2014 [Acceso 11 Enero 2016];10(1). Disponible en: http://www.archivosdemedicina.com/medicina-de-familia/factores-de-riesgo-extrnsecos-para-cadas-en-un-hogar-para-adultos-mayores-de-tabasco-mxico.pdf
http://www.archivosdemedicina.com/medici...
, que identificou os principais fatores de risco extrínsecos como arquitetônicos, de mobiliário, de equipamentos e de processos.

Cabe salientar que não foram encontrados na literatura brasileira instrumentos validados que permitam avaliar fatores ou determinantes extrínsecos para quedas em domicílio da população idosa.

Este estudo justifica-se devido ao aumento da proporção do número de idosos e das quedas, o que torna o tema um dos prioritários na área e, portanto, os dados podem colaborar na educação para a saúde dos idosos, familiares e equipe de saúde, incluindo o profissional enfermeiro, responsável pelo cuidado integral ao idoso. A importância de identificar os fatores de risco extrínsecos para quedas em idosos está na possibilidade de planejar estratégias de prevenção, de reorganização ambiental e de reabilitação funcional. Nesse contexto, objetivou-se identificar a prevalência de queda entre idosos longevos e os fatores extrínsecos a ela associados.

Método

Trata-se de um estudo de coorte transversal de base populacional, com idosos longevos cadastrados nas Unidades de Saúde da Família (USF), residentes na zona urbana do município de Foz do Iguaçu, Paraná, no período de março a junho de 2015. Participaram do estudo idosos com 80 anos e mais de idade, de ambos os sexos, residentes de forma permanente. Foram excluídos os participantes com as seguintes características: déficit cognitivo grave sugestivo de demência, avaliado pelo Miniexame do Estado Mental e idosos restritos ao leito, provisória ou definitivamente.

Para o cálculo da amostra, considerando-se uma população infinita, utilizou-se a prevalência de quedas de 30%1616 World Health Organization. Injuries and violence: the facts. [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2010. [cited Feb 12, 2016]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44288/1/9789241599375_eng.pdf
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
, um erro amostral de 5% e nível de significância de 95%. Um número adicional de sujeitos (5%) foi incluído ao tamanho mínimo da amostra como margem de segurança, considerando possíveis perdas. Os dados foram obtidos por inquérito domiciliar.

O questionário construído pelos autores foi padronizado, pré-testado e contemplou variáveis sociodemográficas (idade, sexo, situação conjugal, escolaridade, cor da pele e com quem reside), clínicas (deambulação independente, auxílio à locomoção, uso de medicações e presença de doenças e agravos) e relacionadas ao ambiente. A variável dependente refere-se a existência de queda no ano anterior a pesquisa. As questões referentes ao ambiente: acessibilidade, mobilidade e segurança do idoso foram elaboradas com base na Norma 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Observaram-se os principais locais de circulação, como o acesso principal, a sala, a cozinha, o quarto, o banheiro e as escadas.

Os dados foram analisados por meio do Software Stata V.10. As análises descritivas incluíram cálculos de proporções e de respectivos intervalos de confiança de 95%. Para verificar a associação entre variáveis categóricas, foram empregados os testes qui-quadrado de Pearson e a análise de regressão logística, com critério stepwise para seleção das variáveis no modelo, com medidas de efeito expressas em Razão de Prevalência. Os dados foram analisados para um nível de significância de 5%. Para entrada no modelo múltiplo, foram consideradas as variáveis com p ≤ 0,20.

Para a execução do projeto foram respeitadas as diretrizes da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e todos os participantes do estudo, juntamente com os pesquisadores, assinaram em duas vias o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo sob o parecer 887.046/2014.

Resultados

A amostra deste estudo foi constituída por 350 longevos, dez a mais do que o obtido por meio de cálculo amostral, com a média de idade de 83,7 anos (DP: 3,7 anos). A idade máxima foi de 97 anos. A maioria era do sexo feminino (60,3%), viúva (61,4%), residia com seus familiares (88,9%), em casas (96,0%), utilizava quatro ou mais medicamentos (80,3%) e autodeclarava-se branca (62,9%). Em relação à escolaridade, a maioria dos idosos (74,6%) era analfabeta. Cerca de 10,0% necessitavam de auxílio para deambular.

As principais morbidades apresentadas pelos longevos foram hipertensão arterial (72,9%) e diabetes (25,1%) e os principais agravos foram déficit visual (70,9%), fraqueza nas pernas (67,7%), déficit auditivo (60,0%) e tonturas/vertigens (59,7%).

No tocante as quedas, 46,9% (164) afirmaram ter caído no último ano; desses, 64,4% relataram uma queda e 35,6% duas ou mais. A hospitalização e o medo de cair foram referidos pela maioria dos longevos como a principal consequência da queda, 34,7% e 34,2%, respectivamente. Resultaram em fraturas 31,1% dos casos. Desses, 34,3% tiveram fratura de pernas e/ou joelhos, 25,7% fratura de quadril, 24,3% de ombros e/ou braços e 15,7% de pulsos e/ou mãos. Cerca de 80,0% dos longevos referiram queda da própria altura, isto é, caíram enquanto deambulavam e a principal causa apontada foi o escorregamento (45,1%) e o tropeço (26,2%). A maioria das quedas ocorreu no ambiente interno do domicílio, no banheiro (26,2%) e na sala (20,1%).

Em relação aos fatores extrínsecos possivelmente associados às quedas nos domicílios, verificaram-se a presença de animais de estimação (35,1%) e o interruptor distante da porta (32,9%) como principais fatores no acesso principal/entrada e na sala, respectivamente. Na cozinha e no quarto, observou-se a presença de tapetes soltos sem antiderrapante (40,9% e 32,3%, respectivamente). No banheiro, o piso escorregadio foi encontrado em 97,7% dos domicílios investigados. Na análise bivariada, verificaram-se associações estatisticamente significativas entre a ocorrência de quedas e as variáveis: faixa etária, polifarmácia, Parkinson, osteoporose, tonturas/vertigens e autopercepção de saúde (Tabela 1) e presença de degraus, desnível e animais de estimação no acesso principal, tapetes soltos sem antiderrapante e piso escorregadio na cozinha, tapetes soltos sem antiderrapante e objetos no chão no quarto, ausência de barras de apoio no chuveiro e de barras de apoio no sanitário e interruptor distante da porta no banheiro (p< 0,05) (Tabela 2).

Tabela 1
Resultados da análise bivariada entre quedas e características clínicas dos longevos. Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 2015 (m=350)

Tabela 2
Resultados da prevalência, análise bruta e análise ajustada dos fatores extrínsecos associados às quedas existentes nos domicílios de longevos. Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 2015

Na análise de regressão logística múltipla, permaneceram estatisticamente significativas as seguintes variáveis: presença de desnível, de degraus e de animais de estimação no acesso principal, tapetes sem antiderrapante na cozinha e no quarto e barras de apoio no banheiro (p < 0,05). A chance de um idoso longevo cair tendo degraus no acesso principal foi de 1,82 vezes, desnível de 5,54 vezes, e animais de estimação de 2,1 vezes (Tabela 2).

As variáveis armários altos na cozinha, barra de apoio no sanitário e interruptor longe da porta do banheiro perderam a significância ao entrar no modelo múltiplo.

Discussão

Este é o primeiro estudo populacional, de base domiciliar, realizado exclusivamente com idosos brasileiros de 80 anos ou mais e que investigou a associação entre quedas e fatores extrínsecos, fornecendo suporte para a identificação dos fatores de risco e prevenção de quedas. A prevalência de quedas encontrada foi similar a observada em pesquisa correlata com percentual de 43,0%1717 Araújo SP, Maia JRP, Vieira JNL, Soares KVBC, Dias RS. Fall characteristics and observations in São Luís Elderly residentes, Maranhão, Brazil. Rev Pesq Saúde. [Internet]. 2014 [cited May 18, 2016];15(3):331-5. Available from: http://www/revistahuufma/article/view/3654/1653
http://www/revistahuufma/article/view/36...
e está de acordo com a divulgada na literatura internacional, que é de 42,0%1212 Leiva-Caro JA, González-Salazar BC, Cabriales-Gallengos EC, Meza-Gómez MV, Hunter KF. Connection betweem competence, usability, environment and risk of falls in elderly adults. Rev Latino-Am. Enfermgem. [Internet]. 2015 [cited April 11, 2016];23(6). Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692015000601139&lng=en&nrm=iso&tlng=en&ORIGINALLANG=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que 32,0% a 42,0% dos idosos com 70 anos e mais de idade sofrem quedas a cada ano1616 World Health Organization. Injuries and violence: the facts. [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2010. [cited Feb 12, 2016]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44288/1/9789241599375_eng.pdf
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
.

A idade avançada mostrou associação com o maior número de quedas e o aumento do risco do evento. O processo de envelhecimento biológico compreende alterações estruturais e funcionais que se acumulam de forma progressiva com o aumento da idade. Tais alterações podem comprometer o desempenho de habilidades motoras, dificultar a adaptação do indivíduo ao ambiente e predispô-lo à queda88 Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2012 [Acesso 11 jun 2016];46(1):138-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. A idade avançada está intimamente relacionada às condições predisponentes para as quedas99 Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araujo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev Eletr Enferm. [Internet]. 2011 [Acesso 12 fev 2016];13(3):395-404. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen...
.

Em relação ao uso de medicamentos, a maior frequência de quedas ocorreu em idosos que fazem uso de quatro ou mais medicações, caracterizando a polifarmácia. O uso de medicamentos foi considerado estatisticamente significante à ocorrência de quedas, haja vista que eles podem alterar as respostas motoras, a capacidade cognitiva, além de provocar hipotensão postural, sonolência, tonturas e necessidade de urinar com maior frequência1212 Leiva-Caro JA, González-Salazar BC, Cabriales-Gallengos EC, Meza-Gómez MV, Hunter KF. Connection betweem competence, usability, environment and risk of falls in elderly adults. Rev Latino-Am. Enfermgem. [Internet]. 2015 [cited April 11, 2016];23(6). Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692015000601139&lng=en&nrm=iso&tlng=en&ORIGINALLANG=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
.

Parkinson e osteoporose mostraram-se associados às quedas. A doença de Parkinson consiste em uma patologia crônica e progressiva, caracterizada pela degeneração de neurônios e dificuldades no equilíbrio. O declínio cognitivo é apontado como uma variável que influencia diretamente no risco de quedas em idosos1818 Christofolett G, Oliani MM, Gobbi LTB, Gobbi S, Stella F. Risco de quedas em idosos com doença de Parkinson e demência de Alzheimer: um estudo transversal. Rev Bras Fisioter. [Internet]. 2006 [Acesso 14 jun 2015];10(4):429-33. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v10n4/10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v10n4/10....
.

A osteoporose tem forte relação com quedas, com fraturas e com o declínio da capacidade funcional e da qualidade de vida do indivíduo. Indivíduos com osteoporose podem apresentar alteração postural, distúrbio da marcha e desequilíbrio corporal, o que favorece a ocorrência de queda88 Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2012 [Acesso 11 jun 2016];46(1):138-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. A maior parte dos idosos referiu tonturas/vertigens. Essas alterações são frequentes em idosos e constituem fatores que predispõem para a ocorrência de quedas1919 Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thumé E, Silveira DS et al. Prevalence of falls in elderly in Brazil: a countrywide analysis. Cad Saúde Pública. [Internet. 2011 [Acesso 17 março 2015];27(9):1819-26. Disponível em: https://doaj.org/article/54f6683e60de46a98c189240c5d31f8f
https://doaj.org/article/54f6683e60de46a...
.

Quanto a autopercepção do estado de saúde, a maioria dos idosos que teve quedas relatou ter saúde boa/muito boa. Entretanto, ao considerar a autopercepção regular/ruim, observa-se alta proporção de quedas, cerca de 90%. A autopercepção do estado de saúde é usada na população idosa como um bom indicador das condições gerais de saúde dessa população, pois leva em consideração os componentes físicos, cognitivos e emocionais, além dos aspectos relacionados ao bem-estar e a satisfação com a própria vida. Essa percepção tem sido amplamente utilizada em investigações populacionais com idosos por estar associada, de forma consistente, à mortalidade, ao declínio funcional e ainda atua como instrumento para a edificação de políticas públicas de saúde para essa população2020 Pagotto V, Bachion MM, Silveira EA. Autoavaliação da saúde por idosos brasileiros: revisão sistemática da literatura. Rev Panam Salud Pública. [Internet]. 2013 [Acesso 18 jun 2015]; 33:302-10. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v33n4/a10v33n4
http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v33n4/a...
.

Entre os que sofreram queda, um terço teve fratura como consequência, sendo a maior parte (34,3%) fratura de pernas e/ou joelhos. Pesquisas realizadas na comunidade mostraram que as fraturas são mais comuns nos membros inferiores88 Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2012 [Acesso 11 jun 2016];46(1):138-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
. A maior probabilidade de os idosos sofrerem uma fratura, em consequência de uma queda, deve-se a alta prevalência de comorbidades presentes nessa população1717 Araújo SP, Maia JRP, Vieira JNL, Soares KVBC, Dias RS. Fall characteristics and observations in São Luís Elderly residentes, Maranhão, Brazil. Rev Pesq Saúde. [Internet]. 2014 [cited May 18, 2016];15(3):331-5. Available from: http://www/revistahuufma/article/view/3654/1653
http://www/revistahuufma/article/view/36...
.

O banheiro, a sala e o quarto foram apontados como os lugares do domicílio onde os idosos caíram com maior frequência. Do mesmo modo, o estudo realizado em Catanduva, São Paulo, Brasil, com idosos institucionalizados encontrou esses mesmos lugares como principais locais das quedas2121 Lojudice DC, Laprega MR, Rodrigues RAP, Rodrigues AL. Quedas de idosos institucionalizados: ocorrência e fatores associados. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2010 [Acesso 14 abril 2015];13(3):403-12. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v13n3/a07v13n3.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v13n3/a07v...
.

Os fatores extrínsecos associados apontados estão de acordo com os fatores encontrados na literatura, tais como superfícies escorregadias, tapetes soltos2222 Freitas TS, Cândido ASC, Fagundes IB. Queda em idosos: causas extrínsecas e intrínsecas e suas consequências. Rev Enfer Contemp. [Internet]. 2014 [Acesso 15 jun 2015];3(1):70-9. Disponível em: https://www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/292/301
https://www5.bahiana.edu.br/index.php/en...
interruptores em locais inadequados2222 Freitas TS, Cândido ASC, Fagundes IB. Queda em idosos: causas extrínsecas e intrínsecas e suas consequências. Rev Enfer Contemp. [Internet]. 2014 [Acesso 15 jun 2015];3(1):70-9. Disponível em: https://www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/292/301
https://www5.bahiana.edu.br/index.php/en...
-2323 Piovesan AC, Foletto HM, Peixoto JMB. Fatores que predispõem a quedas em idosos residentes na região oeste de Santa Maria, RS. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2011 [Acesso 14 out 2015];14 (1):75-83. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v14n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v...
, degraus altos ou estreitos, obstáculos no caminho2323 Piovesan AC, Foletto HM, Peixoto JMB. Fatores que predispõem a quedas em idosos residentes na região oeste de Santa Maria, RS. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2011 [Acesso 14 out 2015];14 (1):75-83. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v14n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v...
, ausência de barra no banheiro, tapete sem antiderrapante no banheiro e acesso difícil2323 Piovesan AC, Foletto HM, Peixoto JMB. Fatores que predispõem a quedas em idosos residentes na região oeste de Santa Maria, RS. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2011 [Acesso 14 out 2015];14 (1):75-83. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v14n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v...
.

As variáveis ausência de barras de apoio no chuveiro, tapetes soltos sem antiderrapantes na cozinha e no quarto apresentaram associação estatisticamente significativa; entretanto, devem ser analisadas com cautela. Deve-se considerar que a pesquisa possui delineamento transversal, que, por sua natureza, não permite conhecer a ordem de ocorrência dos fatos. Acredita-se que o resultado encontrado, razão de prevalência de quedas na ausência de tapetes sem antiderrapante, tenha ocorrido porque os idosos que sofreram quedas provavelmente retiraram os tapetes do ambiente, após a ocorrência. Ainda, o mesmo fato pode explicar a razão de prevalência de quedas na presença das barras de apoio no banheiro (chuveiro e sanitário), as quais podem ter sido instaladas em decorrência do evento, tendo em vista que o banheiro foi o local de maior ocorrência de quedas.

Neste estudo, podem-se considerar as limitações relativas às psquisas transversais, em que exposição e desfecho são coletados em um único momento no tempo, dificultando estabelecer uma relação temporal entre os eventos e se a relação entre eles é causal ou não, como é o caso das barras de apoio no sanitário e interruptor distante da porta do banheiro ou ausência de tapetes soltos no banheiro, que pelo tipo de estudo não permite saber se foram providenciados antes das quedas ou após. Ainda que, a resposta a variável dependente quedas tenha sido obtida por meio de autorrelato baseado em estratégias recordatórias, pode-se destacar a possibilidade de viés de memória, pois uma queda no último ano é um evento que dificilmente passará despercebido.

Sugere-se, ainda, a realização de estudos longitudinais capazes de produzir novas evidências na prevenção de quedas e segurança dos longevos. Os resultados podem ainda subsidiar diretrizes que fundamentem a construção de políticas públicas e de programas assistenciais de atenção à saúde desse grupo populacional.

Conclusão

O estudo mostrou uma prevalência de quedas de 46,9%. Existiu associação entre as quedas e a presença de degraus, desnível e animais de estimação no acesso principal, tapetes soltos sem antiderrapante no quarto e na cozinha e objetos no chão no quarto (p<0,05).

Considerando a gravidade das consequências das quedas, é importante que sejam adotadas medidas preventivas por profissionais da saúde, pela família e pela sociedade, a fim de manter a independência ou minimizar os danos na sua capacidade funcional e prevenir danos físicos, internações hospitalares, diminuindo os altos custos que as quedas acarretam ao sistema de saúde e mantendo uma boa qualidade de vida para essa população.

References

  • 1
    World Health Organization (WHO). World report on ageing and health. Geneva: World Health Organization. [Internet]. 2015 [cited Feb 12, 2016]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/186463/1/9789240694811_eng.pdf?ua
    » http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/186463/1/9789240694811_eng.pdf?ua
  • 2
    Wada N, Sohmiya M, Shimizu T, Okamoto K, Shirakura K. Clinical analysis of risk factors for falls in home-living stroke patients using functional evaluation tools. Arch Phys Med Rehabil. [Internet]. 2007 [cited Feb 12, 2016];88(12):1601-5. Available from: http://www.archives-pmr.org/article/S0003-9993(07)01555-9/pdf
    » http://www.archives-pmr.org/article/S0003-9993(07)01555-9/pdf
  • 3
    Pinho TAM, Silva AO, Tura LFR, Moreira MASP, Gurgel SN, Smith AAF, et al. Avaliação do risco de quedas em idosos atendidos em Unidade Básica de Saúde. Rev Esc Enferm USP. [Internet]. 2012 [Acesso 22 maio 2016];46(2):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a08v46n2.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a08v46n2.pdf
  • 4
    Cavalcante ALP, Aguiar JB, Gurgel LA. Fatores associados a quedas em idosos residentes em um bairro de Fortaleza, Ceará. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2012 [Acesso 18 março 2016];15(1):320-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v15n1/15.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v15n1/15.pdf
  • 5
    Kwan MM, Close JC, Wong AK, Lord SR. Falls incidence, risck factors, and consequences in Chinese older people: a systematic review. J AM Geriatr Soc. [Internet]. 2011 [cited May 15, 2016];59(3):536-43. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1532-5415.2010.03286.x/full
    » http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1532-5415.2010.03286.x/full
  • 6
    Davis JC, Robertson MC, Ashe MC, Liu-Ambrose T, Khan KM, Marra CA. International comparison of cost of falls in older adults living in the community: a systematic review. Osteoporos Int. [Internet]. 2010 [cited May 12, 2016];21(8):1295-306. Available from: http://link.springer.com/article/10.1007/s00198-009-1162-0
    » http://link.springer.com/article/10.1007/s00198-009-1162-0
  • 7
    Ferrão S, Henriques A, Fontes R. Elderly fall prevention in nursing home context - Systematic fall risk assessment using Morse Scale, Get Up and Go and Timed Get Up and Go tests. J Aging Inovation. [Internet]. 2011 [cited May 12, 2016];1(1):14-22. Available from: https://issuu.com/aagi-id/docs/2_quedas_morse
    » https://issuu.com/aagi-id/docs/2_quedas_morse
  • 8
    Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2012 [Acesso 11 jun 2016];46(1):138-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100017
  • 9
    Costa AGS, Souza RC, Vitor AF, Araujo TL. Acidentes por quedas em um grupo específico de idosos. Rev Eletr Enferm. [Internet]. 2011 [Acesso 12 fev 2016];13(3):395-404. Disponível em: https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
    » https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fen/article/view/14179/10640
  • 10
    Araujo AM, Menezes RMP, Mendonça AEO, Lopes MS, Tavares AM, Lima HCF. Mortality profile from falls in the elderly. J Res: Fundam Care Online. [Internet]. 2013 [cited Feb 12, 2016]; 6(3):863-75. Available from: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/2814
    » http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/2814
  • 11
    Almeida ST, Soldera CLC, Carli GA, Resende TL. Análise de fatores extrínsecos e intrínsecos que predispõem a quedas em idosos. Rev Assoc Med Bras. [Internet]. 2012 [Acesso 12 fev 2016];58(4):427-33. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302012000400012
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302012000400012
  • 12
    Leiva-Caro JA, González-Salazar BC, Cabriales-Gallengos EC, Meza-Gómez MV, Hunter KF. Connection betweem competence, usability, environment and risk of falls in elderly adults. Rev Latino-Am. Enfermgem. [Internet]. 2015 [cited April 11, 2016];23(6). Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692015000601139&lng=en&nrm=iso&tlng=en&ORIGINALLANG=en
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692015000601139&lng=en&nrm=iso&tlng=en&ORIGINALLANG=en
  • 13
    Hill EE, Nguyen TH, Shaha M, Wenzel JA, DeForge BR, Spellbring AM. Person-environment interactions contributing to nursing home resident falls. Res Gerontol Nurs. [Internet]. 2009 [cited May 18, 2016];2(4):287-96. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3042855/
    » http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3042855
  • 14
    Williams hg, Ullmann G. Development of a Community-Based Fall Prevention Program: Stay in Balance, J Phys Act Health. [Internet]. 2012 [cited Jun 18, 2015];9(4). Available from: http://journals.humankinetics.com/doi/pdf/10.1123/jpah.9.4.571
    » http://journals.humankinetics.com/doi/pdf/10.1123/jpah.9.4.571
  • 15
    Pérez- Rodrigues AU, Domíngues-Sosa G, González-Baños E. Factores de riesgo extrínsecos para caídas en un hogar para adultos mayores de Tabasco, México. Arch Med. [Internet]. 2014 [Acceso 11 Enero 2016];10(1). Disponible en: http://www.archivosdemedicina.com/medicina-de-familia/factores-de-riesgo-extrnsecos-para-cadas-en-un-hogar-para-adultos-mayores-de-tabasco-mxico.pdf
    » http://www.archivosdemedicina.com/medicina-de-familia/factores-de-riesgo-extrnsecos-para-cadas-en-un-hogar-para-adultos-mayores-de-tabasco-mxico.pdf
  • 16
    World Health Organization. Injuries and violence: the facts. [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2010. [cited Feb 12, 2016]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44288/1/9789241599375_eng.pdf
    » http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44288/1/9789241599375_eng.pdf
  • 17
    Araújo SP, Maia JRP, Vieira JNL, Soares KVBC, Dias RS. Fall characteristics and observations in São Luís Elderly residentes, Maranhão, Brazil. Rev Pesq Saúde. [Internet]. 2014 [cited May 18, 2016];15(3):331-5. Available from: http://www/revistahuufma/article/view/3654/1653
    » http://www/revistahuufma/article/view/3654/1653
  • 18
    Christofolett G, Oliani MM, Gobbi LTB, Gobbi S, Stella F. Risco de quedas em idosos com doença de Parkinson e demência de Alzheimer: um estudo transversal. Rev Bras Fisioter. [Internet]. 2006 [Acesso 14 jun 2015];10(4):429-33. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v10n4/10.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v10n4/10.pdf
  • 19
    Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thumé E, Silveira DS et al. Prevalence of falls in elderly in Brazil: a countrywide analysis. Cad Saúde Pública. [Internet. 2011 [Acesso 17 março 2015];27(9):1819-26. Disponível em: https://doaj.org/article/54f6683e60de46a98c189240c5d31f8f
    » https://doaj.org/article/54f6683e60de46a98c189240c5d31f8f
  • 20
    Pagotto V, Bachion MM, Silveira EA. Autoavaliação da saúde por idosos brasileiros: revisão sistemática da literatura. Rev Panam Salud Pública. [Internet]. 2013 [Acesso 18 jun 2015]; 33:302-10. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v33n4/a10v33n4
    » http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v33n4/a10v33n4
  • 21
    Lojudice DC, Laprega MR, Rodrigues RAP, Rodrigues AL. Quedas de idosos institucionalizados: ocorrência e fatores associados. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2010 [Acesso 14 abril 2015];13(3):403-12. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v13n3/a07v13n3.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v13n3/a07v13n3.pdf
  • 22
    Freitas TS, Cândido ASC, Fagundes IB. Queda em idosos: causas extrínsecas e intrínsecas e suas consequências. Rev Enfer Contemp. [Internet]. 2014 [Acesso 15 jun 2015];3(1):70-9. Disponível em: https://www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/292/301
    » https://www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/292/301
  • 23
    Piovesan AC, Foletto HM, Peixoto JMB. Fatores que predispõem a quedas em idosos residentes na região oeste de Santa Maria, RS. Rev Bras Geriatr Gerontol. [Internet]. 2011 [Acesso 14 out 2015];14 (1):75-83. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v14n1.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a09v14n1.pdf
  • 1
    Artigo extraído da dissertação de mestrado “Fatores de riscos extrínsecos para quedas no domicílio de longevos assistidos pela Estratégia Saúde da Família”, apresentada à Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 2016
  • Aceito
    23 Mar 2017
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br