Acessibilidade / Reportar erro

Atitude e conhecimento sobre a saúde do pé: uma visão espanhola

RESUMO

Objetivo:

explorar as atitudes em relação aos dados auto-relatados dos pacientes sobre crenças relacionadas à saúde do pé, desde uma perspectiva comportamental e atitudinal.

Métodos:

uma amostra de 282 participantes com idade média de 39,46 ± 16,026 chegaram a um centro de saúde onde foram registradas características demográficas, clínicas e crenças auto-relatadas referentes a dados de saúde do pé, os quais completaram todas as fases do processo de pesquisa.

Resultados:

os resultados da análise revelaram uma estrutura fatorial de 8 fatores baseada em (1) comportamentos podiátricos, (2) a intenção de realizar comportamentos protetores, (3) crenças atitudinais, (4) crenças normativas, (6) apatia, (7) autocuidado, e (8) a percepção geral da saúde do pé. Todos eles explicaram 62,78% da variância e foram considerados como variáveis ​​independentes em uma análise de regressão para determinar quais forneceram as melhores explicações para a importância atribuída à saúde do pé.

Conclusões:

os participantes do estudo revelaram uma atitude positiva em relação à saúde do pé e comportamento responsável.

Descritores:
Pé; Podiatria; Percepção

ABSTRACT

Objective:

to explore attitudes towards patients' self-reported data about foot health-related beliefs from a behavioural and attitudinal perspective.

Methods:

a sample of 282 participants of a mean age of 39.46 ± 16.026 came to a health centre where self-reported demographic, clinical characteristics and beliefs relating to foot health data were registered, informants' completed all the stages of the research process.

Results:

the results of the analysis revealed an 8-factor factorial structure based on (1) podiatric behaviours, (2) the intention to carry out protective behaviour, (3) attitudinal beliefs, (4) normative beliefs, (5) needs, (6) apathy, (7) self-care, and (8) the general perception of foot health. They all explained 62.78% of the variance, and were considered as independent variables in a regression analysis to determine which provided the best explanations for the importance attributed to foot health.

Conclusions:

the participants in the study revealed a positive attitude in relation to foot health care and responsible behaviour.

Descriptors:
Foot; Perception; Podiatry

RESUMEN

Objetivo:

explorar las actitudes relacionadas con datos autoinformados sobre las creencias de la salud del pie desde una perspectiva actitudinal.

Método:

una muestra de 282 participantes edad media 39.46 ± 16.026 acudieron a un centro de salud donde se registraron datos autoinformados de las características demográficas, características clínicas y creencias relacionadas con la salud del pie, completándose todas las etapas del proceso de investigación.

Resultados:

los resultados del análisis revelaron una estructura factorial de 8 factores basado en (1) conductas podológicas, (2) la intención de llevar a cabo una conducta de protección, (3) las creencias actitudinales, (4) las creencias normativas, (5) las necesidades, (6) la apatía, (7) el autocuidado, y (8) la percepción general de salud podal. Todos ellos explicaron un 62,78% de la varianza, y fueron considerados como variables independientes en una ecuación de regresión para determinar cuáles de ellos explicaban mejor la importancia atribuida a la salud del pie.

Conclusiones:

los participantes en el estudio revelaron una actitud positiva en relación al cuidado de la salud del pie y al comportamiento responsable.

Descriptores:
Pie; Podiatría; Percepción

Introdução

O aumento da expectativa de vida e a alta prevalência de patologias do pé relacionadas à obesidade, diabetes, prática esportiva, alterações vasculares, lesão física e sedentarismo11 Perruccio AV, Gandhi R, Rampersaud YR. Heterogeneity in health status and the influence of patient characteristics across patients seeking musculoskeletal orthopaedic care - a cross-sectional study. BMC Musculoskelet Disord. 2013;14:83. para as quais não há cura total e cujo objetivo terapêutico é aliviar ou eliminar sintomas, evitar complicações e melhorar o bem-estar do paciente, onde as medidas médicas clássicas de resultado (mortalidade, morbidade, expectativa de vida) são insuficientes para fornecer uma avaliação completa e efetiva para o tratamento das enfermidades dos pés.

Além disso, esses problemas atualmente afetam entre 71 e 93% da população em geral e são uma causa frequente de cuidados médicos e dos pés22 Pita-Fernandez S, González-Martín C, Seoane-Pillado T, Pertega-Diaz S, Perez-Garcia S, López-Calviño B. Podiatric medical abnormalities in a random population sample 40 years or older in Spain. J Am Podiatr Med Assoc. 2014;104:574-82., uma vez que se mostraram enfermidades não menores nem banais tendo uma influência negativa sobre a capacidade funcional e a qualidade de vida33 Munro BJ, Steele JR. Foot-care awareness: a survey of persons aged 65 years and older. J Am Podiatr Med Assoc. 1998;88(5):242-8.

4 Menz HB, Stephen RL. Foot pain impairs balance and functional ability in community-dwelling older people. J. Am. Podiatr Med Assoc. 2001;91(5):222-9.
-55 López López D, Callejo González L, Losa Iglesias ME, Saleta Canosa JL, Rodríguez Sanz D, Calvo Lobo C, Becerro de Bengoa Vallejo R. Quality of Life Impact Related to Foot Health in a Sample of Older People with Hallux Valgus. Aging Dis. 2016 Jan 2;7(1):45-52.. Estas condições são de origem multifatorial e sua alta incidência está relacionada com dificuldade em calçar sapatos, dores, distúrbio da marcha, velocidade de caminhada reduzida, variação nas pressões plantares e risco de quedas66 Benvenuti F, Ferrucci L, Guralnik JM, Gangemi S, Baroni A. Foot pain and disability in older persons: an epidemiologic survey. J Am Geriatr Soc. 1995;43:479-84.

7 Martínez-Nova A, Sánchez-Rodríguez R, Pérez-Soriano P, Llana-Belloch S, Leal-Muro A, Pedrera-Zamorano JD. Plantar pressures determinants in mild Hallux Valgus. Gait Posture. 2010;32(3):425-7.
-88 Bascarevic ZLj, Vukasinovic ZS, Bascarevic VD, Stevanovic VB, Spasovski, DV, Janicic RR. Hallux valgus. Acta Chir Iugoslavica. 2011;58(3):107-11.. As patologias mais frequentes encontradas foram dedos em garra, hálux valgus, dedos em martelo, dedos sobrepostos, hálux extensus, pés planos, neuroma de Morton, joanete de alfaiate, fascite plantar e pé cavo22 Pita-Fernandez S, González-Martín C, Seoane-Pillado T, Pertega-Diaz S, Perez-Garcia S, López-Calviño B. Podiatric medical abnormalities in a random population sample 40 years or older in Spain. J Am Podiatr Med Assoc. 2014;104:574-82.

3 Munro BJ, Steele JR. Foot-care awareness: a survey of persons aged 65 years and older. J Am Podiatr Med Assoc. 1998;88(5):242-8.

4 Menz HB, Stephen RL. Foot pain impairs balance and functional ability in community-dwelling older people. J. Am. Podiatr Med Assoc. 2001;91(5):222-9.

5 López López D, Callejo González L, Losa Iglesias ME, Saleta Canosa JL, Rodríguez Sanz D, Calvo Lobo C, Becerro de Bengoa Vallejo R. Quality of Life Impact Related to Foot Health in a Sample of Older People with Hallux Valgus. Aging Dis. 2016 Jan 2;7(1):45-52.

6 Benvenuti F, Ferrucci L, Guralnik JM, Gangemi S, Baroni A. Foot pain and disability in older persons: an epidemiologic survey. J Am Geriatr Soc. 1995;43:479-84.

7 Martínez-Nova A, Sánchez-Rodríguez R, Pérez-Soriano P, Llana-Belloch S, Leal-Muro A, Pedrera-Zamorano JD. Plantar pressures determinants in mild Hallux Valgus. Gait Posture. 2010;32(3):425-7.

8 Bascarevic ZLj, Vukasinovic ZS, Bascarevic VD, Stevanovic VB, Spasovski, DV, Janicic RR. Hallux valgus. Acta Chir Iugoslavica. 2011;58(3):107-11.
-99 Golightly YM, Hannan MT, Dufour AB, Jordan JM. Racial differences in foot disorders and foot type. Arthritis Care Res. (Hoboken) 2012; 64(11):1756-9..

As questões de pesquisa abordadas, portanto, dizem respeito aos seguintes aspectos: que atitudes e fatores influenciam a percepção das pessoas sobre as doenças do pé e dos profissional de saúde que as trata? Quais são os métodos mais adequados para aumentar nosso conhecimento desses aspectos atitudinais?

Para tentar responder a essas questões, foi definido como objetivo geral da pesquisa, avaliar as representações sociais da saúde do pé e os aspectos podológicos e psicológicos envolvidos na análise do comportamento humano.

Assim, perceberemos se o principal motivo está relacionado com o impacto negativo das doenças do pé sobre a capacidade funcional e a qualidade de vida1010 Farrugia P, Goldstein C, Petrisor BA. Measuring foot and ankle injury outcomes: common scales and checklists. Injury. 2011;42(3):276-80. e, neste sentido, o principal instrumento de análise da pesquisa em saúde, como método confiável de mensuração de resultados e geração de evidências clínicas, é a construção de questionários numa base científica1111 Riskowski JL, Hagedorn TJ, Hannan MT. Measures of foot function, foot health, and foot pain: American Academy of Orthopedic Surgeons Lower Limb Outcomes Assessment: Foot and Ankle Module (AAOS-FAM), Bristol Foot Score (BFS), Revised Foot Function Index (FFI-R), Foot Health Status Questionnaire (FHSQ), Manchester Foot Pain and Disability Index (MFPDI), Podiatric Health Questionnaire (PHQ), and Rowan Foot Pain Assessment (ROFPAQ). Arthritis Care Res. (Hoboken) 2011;63(11): 229-39..

A importância de um estudo deste tipo reside na possibilidade de analisar comportamentos particulares e nosso conhecimento do contexto psicossocial, uma vez que eles podem potencialmente gerar um risco de sofrer de patologias dos pés.

Isso terá uma influência positiva na resposta e adesão dos pacientes ao tratamento, caracterizado pela introdução de uma variedade de atividades que as pessoas realizam em suas vidas cotidianas e a importância atribuída à doença em geral1212 Ribu L, Hanestad BR, Moum T, Birkeland K, Rustoen T. A comparison of the health-related quality of life in patients with diabetic foot ulcers, with a diabetes group and a non diabetes group from the general population. Qual Life Res. 2007;16(2):179-89.. Tal fato tem efeito no tipo de comportamentos preventivos que acompanham um tratamento ou diminui a possibilidade de ser afetado por uma patologia do pé ou do tornozelo1313 Pensri P, Janwantanakul P, Chaikumarn M. Biopsychosocial factors and musculoskeletal symptoms of the lower extremities of sales women in department stores in Thailand. J Occup Health. 2010;52(2):132-41..

Nesse sentido, o presente estudo analisa as crenças relacionadas à saúde do pé, do ponto de vista comportamental e atitudinal, devido à falta de conhecimento dos critérios que as pessoas levam em consideração ao avaliar a seriedade de tudo o que afeta a saúde do pé.

Método

Desenho e amostra

O estudo foi concluído em 12 meses, de janeiro de 2014 a janeiro de 2015. O estudo foi realizado entre pessoas atendidas na Clínica de Medicina Podiátrica e Cirurgia, a qual presta tratamento de doenças e distúrbios do pé, na Universidade de A Coruña, na cidade de Ferrol (Espanha).

Foi um estudo transversal. Utilizou-se o método de amostragem consecutiva para selecionar os participantes do estudo. Os critérios de inclusão foram ter 65 anos ou menos e concordar, mediante consentimento informado, em participar. Os critérios de exclusão foram história de doença psiquiátrica grave, demência, distúrbios neurológicos, imunocomprometimento, trauma e história de cirurgia do pé, e recusar-se a assinar o termo de consentimento ou não ser capaz de compreender as instruções necessárias para realizar o presente estudo.

Procedimento

No momento da inscrição no serviço, os pacientes foram entrevistados sobre saúde geral e características demográficas (idade, sexo, estado civil, renda, educação). Um único examinador treinado realizou exame clínico padronizado em todos os participantes no qual mediram altura, peso com o sujeito descalço e vestindo roupas leves, e o índice de massa corporal (IMC) foi calculado a partir da altura (m) e do peso (kg), aplicando a equação de Quetelet: IMC = peso / altura²1414 Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention. Body mass index: considerations for practitioners. [Internet] Atlanta (GA): Centers for Disease Control and Prevention; [Access 2015 Sep 19]. Available from: www.cdc.gov/obesity/downloads/bmiforpactitioners.pdf.
www.cdc.gov/obesity/downloads/bmiforpact...
.

Em segundo lugar, objetivou-se determinar as atitudes em relação aos dados auto-relatados pelos pacientes sobre as crenças relacionadas à saúde do pé a partir de uma perspectiva comportamental e atitudinal, usando um questionário ad hoc para coletar dados precisos sobre o perfil do sujeito, junto com uma série de características específicas que o definem. Também foram coletados dados sobre atitudes e comportamentos relacionados ao estilo de vida, hábitos cotidianos, avaliação da relevância subjetiva, comportamentos preventivos e a percepção social da podologia, sendo este um fator importante na manutenção da saúde do pé e de relevância na determinação dos aspectos específicos relacionam-se de forma particular com o bem-estar.

Foi aplicado um questionário que incluiu um conjunto de itens os quais mediram as variáveis ​​acima mencionadas em dois tipos de escala: 1) escalas qualitativas, com itens em aberto para coletar informações sobre hábitos e atividades; 2) escalas de tipo Likert de 5 pontos, para medir o grau de importância atribuído pelos sujeitos à saúde do pé em geral, bem como aos podólogos e sua situação no sistema de saúde em particular, mostrados na Figura 1.

Figura 1
Questionário Ad hoc. A Coruña, Espanha, 2014

Esta pesquisa foi revisada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de A Coruña, Espanha, aprovado com o número de registro CE 06/2014.

Análise estatística

Tamanho da amostra

O tamanho da amostra foi calculado com o software da Unidade de Epidemiologia Clínica e Bioestatística da Universidade de A Coruña1515 Pita Fernández S. Determinación del tamaño muestral. Cad Aten Primaria 1996; 3: 138-141.. O tamanho da amostra para uma hipótese bilateral, um risco alfa de 5% e um poder estatístico de 80%, e um erro beta de 20%, foi de ao menos 282 casos.

Análises descritivas, incluindo cálculo de médias, desvios padrão (DP) e intervalos foram calculados para as variáveis ​​quantitativas: idade, peso, altura e IMC.Realizou-se, também, uma análise fatorial do componente principal, para obter uma estrutura fatorial que permita explorar e determinar as dimensões que caracterizam o modelo perceptivo de podologia e saúde do pé, do ponto de vista das crenças atitudinais, normativas, intencionais e comportamentais, a partir da perspectiva teórica da ação planejada.

A etapa final consistiu em realizar uma análise de regressão linear múltipla, utilizando o método escalonado, considerando distintos fatores como variáveis ​​independentes e a "importância atribuída à saúde do pé" como a variável dependente. O objetivo foi determinar quais os fatores mais contribuíram para a avaliação da importância atribuída, utilizando-se como ferramenta o pacote SPSS (versão 16), para análise descritiva e estatística, com nível de significância inferior a 5%.

Resultados

Um total de 282 pessoas completaram todas as etapas do processo de pesquisa, sendo 80 homens (28,4%) e 202 mulheres (71,6%). As idades variaram de 12 a 90 anos,?????? com média de idade de 39,46 ± 16,026 anos, 66,28 ± 12,126 de peso, 166,4 ± 7,846 cm de altura, IMC = 23,94 ± 4,51 kg/m2, completaram um curso superior de três anos, casados e trabalhando atualmente.

A análise fatorial gerada pelo método de componentes principais com rotação Varimax, com base nos 26 itens obtidos da amostra, revelou a existência de 8 fatores que explicam 62,8% da variância (Tabela 1).

Tabela 1
Matriz de componentes rotados referentes à percepção do cuidado do pé. A Coruña, Espanha, 2014

Analisando mais detalhadamente a importância do resultado desta análise fatorial. O critério usado para extrair fatores foi reter todos os fatores com um autovalor maior do que 1. O resultado poderia ter sido simplificado se tivéssemos aumentado esse valor, mas optamos pelo critério tradicional para manter a variância máxima e obter, a partir do instrumento original, um conjunto mais significativo de 8 aspectos relacionados com a percepção do cuidado do pé (Tabela 2).

Tabela 2
Distribuição da variância total. Método de extração: Análise de componentes principais. A Coruña, Espanha, 2014

Tendo em conta os elevados valores de comunalidade (isto é, a proporção de variância explicada pelos fatores), consideraremos cada um dos 8 itens nas seguintes análises.

  • 1) Comportamento dos cuidados com os pés: o primeiro fator (23,3% da variância total) reúne os itens relacionados com a prevenção podológica e bem-estar, em geral e do pé, em particular. Ambos são de grande relevância para a aquisição de conhecimento e para o desenvolvimento da necessária confiança e competência para a manutenção da mesma. Referimo-nos, assim, a este fator como "comportamentos de cuidados com os pés".

  • 2) Intenção comportamental: o segundo fator (8,75% da variância total) inclui aquelas variáveis ​​relacionadas com o conhecimento e a percepção das pessoas sobre a saúde do pé e se coincidem ou não com as características da doença, desempenhando papel chave na participação do paciente no autocuidado dos seus pés.

  • 3) Crenças normativas: o terceiro fator (7,05% da variância total) reúne os itens relacionados ao contexto psicossocial, gerando uma resposta positiva à intervenção terapêutica. Daí a necessidade de estudar o contexto individual, pois a consideração da doença e a consideração pessoal em geral de suas causas influenciam o tipo de comportamentos preventivos que acompanham um tratamento ou reduzem a possibilidade de sofrer uma patologia do pé.

  • 4) Crenças atitudinais: o quarto fator (5,93% da variância total) revela o quanto as pessoas sabem sobre a saúde do pé e as limitações auto-impostas em seu estilo de vida. Os doentes que pensam que são saudáveis ​​escondem seu comportamento real para evitar uma resposta negativa de seu médico, permitindo-lhes assim fazer o que quiserem. Aqueles pacientes que seguem as diretrizes estabelecidas estão satisfeitos com sua saúde e têm uma comunicação mais fluente com profissionais de saúde.

  • 5) Necessidades reais: o quinto fator (5,02% da variância total) procura explicitamente fazer mudanças na modificação de nosso comportamento e aprimorá-lo. O uso do calçado adquiriu uma dimensão protetora e facilita o movimento a pé na cultura ocidental, embora às vezes o uso inadequado esteja diretamente ligadas a quedas, alterações da marcha e à aparição ou piora das patologias do pé.

  • 6) A apatia para o cuidado dos pés: o sexto fator (4,59% da variância total) representa a importância que as pessoas dão aos cuidados dos pés em particular e aos cuidados de saúde em geral, atuando como um meio precoce de diagnóstico seletivo. Assim, os pacientes que pensam que estão bem escondem seu comportamento real para evitar uma resposta negativa de seu médico, o que lhes permite fazer o que quiserem.

  • 7) Autocuidado: o sétimo fator (4,15% da variância total) revela se o conhecimento e as percepções do paciente coincidem ou não com as características da doença, desempenhando um papel fundamental na participação do paciente em cuidar de seus próprios pés.

Além disso, o autocuidado garante a aquisição de confiança e permite um maior envolvimento na gestão do risco de saúde do pé e uma busca por mudanças nos comportamentos individuais de promoção da saúde, permitindo que certos grupos populacionais, como crianças, diabéticos e idosos, obtenham um maior benefício.

8) Percepção de saúde relacionada com o fato de deslocar-se a pé: o oitavo fator (3,99% da variância total) é considerado em si mesmo como resultado de vários estudos que provaram que quando a atividade física faz parte do trabalho e das atividades recreativas é benéfico para a saúde, melhorando ou mantendo a aptidão física. Este fator pode assim ajudar a prevenir patologias cardiovasculares e contribuir para uma diminuição da mortalidade.

Análise da importância atribuída à saúde do pé, determinada por meio da análise de regressão múltipla permitiu obter informações sobre os fatores que mais contribuíram para essa determinação de importância pelos sujeitos do estudo.

Assim, tomando como variáveis ​​os 8 fatores extraídos por meio de análise fatorial e como variável dependente a importância atribuída ao cuidado do pé pelos entrevistados, foram obtidos os seguintes resultados (Tabela 3).

Tabela 3
A importância atribuída à saúde do pé. A Coruña, Espanha, 2014

Os fatores que contribuíram para atribuir importância à saúde do pé foram aqueles que entraram na equação de regressão, os fatores 1, 2, 4, 5 e 8, que entre eles explicaram 16,1% da variância.

O fator 1, "Comportamentos de cuidados com os pés", contribuiu para a explicação da importância atribuída à saúde do pé com 7,9% da variância. Seguiu-se o Fator 4, "Crenças atitudinais" (aumentando a variância para 12,4%), Fator 8, "Percepção de saúde relacionada com o fato de deslocar-se a pé" (que elevou a variância para 13,8%), Fator 5, "Necessidades reais" (15,1%) e, finalmente, o fator 2, "Intenção comportamental", que estabeleceu a variância em 16,1% para explicar a importância atribuída à saúde do pé (Figura 2).

Figura 2
A importância atribuída à saúde do pé. A Coruña, Espanha, 2014

O achado mais significativo derivado desses resultados é que a atribuição de importância à saúde do pé é determinada pela força dos seguintes fatores: a influência do comportamento na avaliação dos sujeitos; crenças atitudinais; percepção de saúde relacionada com o fato de deslocar-se a pé e a existência de necessidades reais para visitar um profissional de saúde que irá ajudar a melhorar a saúde em geral, e saúde do pé em particular. Estes fatores fornecem uma riqueza de informações relacionadas com comportamentos preventivos ou terapêuticos que levam a uma melhor saúde e uma melhor qualidade de vida.

Discussão

A resposta dos sujeitos à doença depende da sua imagem anterior, e esta pessoa atua em um sistema sociocultural que legitima seus comportamentos e assume também uma série de papéis e responsabilidades socialmente aceitos.

Nesse sentido, a resposta dada pelos sujeitos à atribuição da importância da saúde do pé é determinada não apenas pela influência exercida pelo comportamento na avaliação dos sujeitos, mas também pelas crenças atitudinais, percepção de saúde associada ao movimento a pé, as necessidades reais e a intenção de realizar comportamentos de autocuidado1616 Vedhara K, Dawe K, Wetherell MA, Miles JN, Cullum N, Dayan C, et al. Illness beliefs predict self-care behaviours in patients with diabetic foot ulcers: A prospective study. Diabetes Res Clin Pract. 2014;106(1):67-72.

17 Eccles MP, Hrisos S, Francis JJ, Steen N, Bosch M, Johnston M. Can the collective intentions of individual professionals within healthcare teams predict the team's performance: developing methods and theory. Implement Sci. 2009;5(4):24.
-1818 Lancioni GE, Singh NN, O'Reilly MF, Sigafoos J, Alberti G, Oliva D, et al. Three non-ambulatory adults with multiple disabilities exercise foot-leg movements through microswitch-aided programs. Res Dev Disabil. 2013;34(9):2838-44..

Deste modo, a percepção da doença em relação à saúde do pé, assim, confere confiança e segurança, as quais contribuem para alcançar um estilo de vida saudável e evitar situações de dependência, sendo a deambulação um hábito de vital importância para manter a aptidão física e prevenir deterioração tanto física como cognitiva1919 Cabell L, Pienkowski D, Shapiro R, Janura M. Effect of age and activity level on lower extremity gait dynamics: an introductory study. J Strength Cond Res. 2013;27(6):1503-10.

20 Rowe M. Long shifts are a factor in apathy, compassion fatigue and poor care. Nurs Stand. 2013;27(51):32.
-2121 Kirch H, Gabel M. Increased awareness of the feet. MMW Fortschr Med. 2013;21; 155(3):36..

Neste sentido, as dimensões atitudinais e normativas desempenham um papel significativo na interpretação do comportamento humano em relação à saúde do pé2222 Farndon L, Barnes A, Littlewood K, Harle J, Beecroft C, Burnside J, et al. Clinical audit of core podiatry treatment in the NHS. J Foot Ankle Res. 2009;13:2:7.. Os participantes neste estudo revelam a existência de necessidades reais para visitar um podólogo e de demanda de controle por um profissional de saúde, uma vez que os mesmos permitem que as pessoas adquiriram a confiança e a segurança necessária para manter a sua saúde do pé, em nível particular e contribuir para a melhoria das doenças de base e, desta maneira alcançar uma vida saudável, evitando situações de dependência. Os check-ups regulares são, portanto, vistos como o comportamento preventivo que gera o maior grau de confiança e com o qual os participantes demonstram maior concordância, revelando uma atitude positiva em relação à saúde do pé e ao comportamento responsável2323 Williams AE, Graham AS, Davies S, Bowen CJ. Guidelines for the management of people with foot health problems related to rheumatoid arthritis: a survey of their use in podiatry practice. J Foot Ankle Res. 2013;6(1):23..

Essa atitude positiva é influenciada pelo aumento da expectativa de vida, pelo aumento das doenças crônicas de origem multifatorial e pelo compromisso da podologia e podólogos com a gestão de risco à saúde do pé2424 Korda J, Bálint GP. When to consult the podiatrist. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2004; 18(4):587-611..

Constaramos que há uma crescente aceitação de podólogos e da podologia na vida das pessoas e nas atividades pessoais, integrados e conceitualizados como parte de um estilo de vida mais saudável.

Conclusões

O presente estudo revelou que as atitudes e crenças das pessoas sobre a saúde do pé estão relacionadas com a existência de necessidades reais para visitar um podólogo e a demanda por este tipo de profissional de saúde para monitorar a saúde do pé. Estos resultados mostram a existência de uma atitude social positiva em relação à podologia e comportamentos podiátricos, que aumentam a autoconfiança e a confiança necessárias para manter a saúde individual dos pés, contribuir para a melhoria das doenças base e o seu estado geral de saúde, ajudando-os a levar uma vida saudável e a evitar situações de dependência.

Agradecimentos

A todos os pacientes que participaram da pesquisa.

References

  • 1
    Perruccio AV, Gandhi R, Rampersaud YR. Heterogeneity in health status and the influence of patient characteristics across patients seeking musculoskeletal orthopaedic care - a cross-sectional study. BMC Musculoskelet Disord. 2013;14:83.
  • 2
    Pita-Fernandez S, González-Martín C, Seoane-Pillado T, Pertega-Diaz S, Perez-Garcia S, López-Calviño B. Podiatric medical abnormalities in a random population sample 40 years or older in Spain. J Am Podiatr Med Assoc. 2014;104:574-82.
  • 3
    Munro BJ, Steele JR. Foot-care awareness: a survey of persons aged 65 years and older. J Am Podiatr Med Assoc. 1998;88(5):242-8.
  • 4
    Menz HB, Stephen RL. Foot pain impairs balance and functional ability in community-dwelling older people. J. Am. Podiatr Med Assoc. 2001;91(5):222-9.
  • 5
    López López D, Callejo González L, Losa Iglesias ME, Saleta Canosa JL, Rodríguez Sanz D, Calvo Lobo C, Becerro de Bengoa Vallejo R. Quality of Life Impact Related to Foot Health in a Sample of Older People with Hallux Valgus. Aging Dis. 2016 Jan 2;7(1):45-52.
  • 6
    Benvenuti F, Ferrucci L, Guralnik JM, Gangemi S, Baroni A. Foot pain and disability in older persons: an epidemiologic survey. J Am Geriatr Soc. 1995;43:479-84.
  • 7
    Martínez-Nova A, Sánchez-Rodríguez R, Pérez-Soriano P, Llana-Belloch S, Leal-Muro A, Pedrera-Zamorano JD. Plantar pressures determinants in mild Hallux Valgus. Gait Posture. 2010;32(3):425-7.
  • 8
    Bascarevic ZLj, Vukasinovic ZS, Bascarevic VD, Stevanovic VB, Spasovski, DV, Janicic RR. Hallux valgus. Acta Chir Iugoslavica. 2011;58(3):107-11.
  • 9
    Golightly YM, Hannan MT, Dufour AB, Jordan JM. Racial differences in foot disorders and foot type. Arthritis Care Res. (Hoboken) 2012; 64(11):1756-9.
  • 10
    Farrugia P, Goldstein C, Petrisor BA. Measuring foot and ankle injury outcomes: common scales and checklists. Injury. 2011;42(3):276-80.
  • 11
    Riskowski JL, Hagedorn TJ, Hannan MT. Measures of foot function, foot health, and foot pain: American Academy of Orthopedic Surgeons Lower Limb Outcomes Assessment: Foot and Ankle Module (AAOS-FAM), Bristol Foot Score (BFS), Revised Foot Function Index (FFI-R), Foot Health Status Questionnaire (FHSQ), Manchester Foot Pain and Disability Index (MFPDI), Podiatric Health Questionnaire (PHQ), and Rowan Foot Pain Assessment (ROFPAQ). Arthritis Care Res. (Hoboken) 2011;63(11): 229-39.
  • 12
    Ribu L, Hanestad BR, Moum T, Birkeland K, Rustoen T. A comparison of the health-related quality of life in patients with diabetic foot ulcers, with a diabetes group and a non diabetes group from the general population. Qual Life Res. 2007;16(2):179-89.
  • 13
    Pensri P, Janwantanakul P, Chaikumarn M. Biopsychosocial factors and musculoskeletal symptoms of the lower extremities of sales women in department stores in Thailand. J Occup Health. 2010;52(2):132-41.
  • 14
    Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention. Body mass index: considerations for practitioners. [Internet] Atlanta (GA): Centers for Disease Control and Prevention; [Access 2015 Sep 19]. Available from: www.cdc.gov/obesity/downloads/bmiforpactitioners.pdf
    » www.cdc.gov/obesity/downloads/bmiforpactitioners.pdf
  • 15
    Pita Fernández S. Determinación del tamaño muestral. Cad Aten Primaria 1996; 3: 138-141.
  • 16
    Vedhara K, Dawe K, Wetherell MA, Miles JN, Cullum N, Dayan C, et al. Illness beliefs predict self-care behaviours in patients with diabetic foot ulcers: A prospective study. Diabetes Res Clin Pract. 2014;106(1):67-72.
  • 17
    Eccles MP, Hrisos S, Francis JJ, Steen N, Bosch M, Johnston M. Can the collective intentions of individual professionals within healthcare teams predict the team's performance: developing methods and theory. Implement Sci. 2009;5(4):24.
  • 18
    Lancioni GE, Singh NN, O'Reilly MF, Sigafoos J, Alberti G, Oliva D, et al. Three non-ambulatory adults with multiple disabilities exercise foot-leg movements through microswitch-aided programs. Res Dev Disabil. 2013;34(9):2838-44.
  • 19
    Cabell L, Pienkowski D, Shapiro R, Janura M. Effect of age and activity level on lower extremity gait dynamics: an introductory study. J Strength Cond Res. 2013;27(6):1503-10.
  • 20
    Rowe M. Long shifts are a factor in apathy, compassion fatigue and poor care. Nurs Stand. 2013;27(51):32.
  • 21
    Kirch H, Gabel M. Increased awareness of the feet. MMW Fortschr Med. 2013;21; 155(3):36.
  • 22
    Farndon L, Barnes A, Littlewood K, Harle J, Beecroft C, Burnside J, et al. Clinical audit of core podiatry treatment in the NHS. J Foot Ankle Res. 2009;13:2:7.
  • 23
    Williams AE, Graham AS, Davies S, Bowen CJ. Guidelines for the management of people with foot health problems related to rheumatoid arthritis: a survey of their use in podiatry practice. J Foot Ankle Res. 2013;6(1):23.
  • 24
    Korda J, Bálint GP. When to consult the podiatrist. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2004; 18(4):587-611.
  • Como citar este artigo

    López-López D, García-Mira R, Palomo-López P, Sánchez-Gómez R, Ramos-Galván J, Tovaruela-Carrión N, et al. Attitude and knowledge about foot health: a spanish view. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017;25:e2855. [Access ___ __ ____]; Available in: ____________________. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1643.2855.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    18 Maio 2016
  • Aceito
    15 Nov 2016
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br