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Autonomia no processo de construção do conhecimento de alunos de enfermagem: o chat educacional como ferramenta de ensino

Resumos

Pesquisa documental com abordagem qualitativa do tipo estudo de caso. O objetivo foi analisar como se desenvolveu a autonomia no processo de construção do conhecimento de alunos de Enfermagem, em um contexto mediado por chat educacional, em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Os materiais analisados foram oito discussões promovidas por alunos, professores e monitores no chat do AVA TelEduc®. Para a categorização dos dados, utilizou-se o software NVivo® e, para a análise das informações, a técnica de análise de conteúdo. A análise foi ao encontro do referencial de Freire, revelando que é necessário que o aluno de Enfermagem desenvolva a autonomia, mediante o dar-se conta de seu inacabamento. Isso pode ser realizado com a ajuda de professores que adotem a metodologia da problematização e do desenvolvimento de relações dialógicas críticas. Destaca-se o chat educacional como ferramenta que incentiva os alunos a buscarem o conhecimento de forma autônoma.

Educação em Enfermagem; Educação a Distância; Conhecimento; Aprendizagem; Autonomia Profissional; Internet


This documental study has the qualitative approach of a case study. It analyzes how autonomy has been developed in nursing students’ process of knowledge construction, in a context mediated by the use of educational chat in Learning Management Systems (LMS). The analyzed materials were eight discussions promoted by students, professors, and monitors in the chat session of TelEduc® LMS. The software NVivo® was used to categorize data and Content Analysis for the analysis of information. Data analysis used Freire as a reference point, revealing that nursing students need to develop their autonomy by acknowledging their incompleteness. Professors can aid this process by problematizing and developing critical dialogical relations. The potential of the educational chat as a pedagogical tool is highlighted because it encourages students to autonomously seek knowledge.

Education, Nursing; Education, Distance; Knowledge; Learning; Professional Autonomy; Internet


Investigación documental con abordaje cualitativo del tipo estudio de caso. El objetivo fue analizar como se desarrolló la autonomía en el proceso de construcción del conocimiento de alumnos de Enfermería, en un contexto mediado por un chat educacional, en Ambiente Virtual de Aprendizaje (AVA). Los materiales analizados fueron ocho discusiones promovidas por alumnos, profesores y monitores en el chat del AVA TelEduc®. Para la categorización de los datos, se utilizó el software NVivo® y, para el análisis de las informaciones, la técnica de análisis de contenido. El análisis estuvo de acuerdo con el marco teórico de Freire, revelando que es necesario que el alumno de Enfermería desarrolle la autonomía, mediante el darse cuenta de no estar acabado. Esto puede ser realizado con ayuda de profesores que adopten la metodología de la problematización y del desarrollo de relaciones dialógicas críticas. Se destaca el chat educacional como herramienta que incentiva a los alumnos a buscar el conocimiento de forma autónoma.

Educación en Enfermería; Educación a Distancia; Conocimiento; Aprendizaje; Autonomía Profesional; Internet


ARTIGO ORIGINAL

Ana Paula Scheffer Schell da SilvaI; Eva Néri Rubim PedroII

IEnfermeira, Doutoranda, Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil. Professor Assistente, Universidade Federal do Pampa, RS, Brasil. E-mail: anaschell@gmail.com

IIEnfermeira, Doutor em Educação, Professor Associado, Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil. E-mail: evapedro@enf.ufrgs.br

Endereço para correspondência

RESUMO

Pesquisa documental com abordagem qualitativa do tipo estudo de caso. O objetivo foi analisar como se desenvolveu a autonomia no processo de construção do conhecimento de alunos de Enfermagem, em um contexto mediado por chat educacional, em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Os materiais analisados foram oito discussões promovidas por alunos, professores e monitores no chat do AVA TelEduc®. Para a categorização dos dados, utilizou-se o software NVivo® e, para a análise das informações, a técnica de análise de conteúdo. A análise foi ao encontro do referencial de Freire, revelando que é necessário que o aluno de Enfermagem desenvolva a autonomia, mediante o dar-se conta de seu inacabamento. Isso pode ser realizado com a ajuda de professores que adotem a metodologia da problematização e do desenvolvimento de relações dialógicas críticas. Destaca-se o chat educacional como ferramenta que incentiva os alunos a buscarem o conhecimento de forma autônoma.

Descritores: Educação em Enfermagem; Educação a Distância; Conhecimento; Aprendizagem; Autonomia Profissional; Internet.

Introdução

Uma das ferramentas de comunicação digital úteis para o ensino de Enfermagem, que pode estar incorporada ou não a ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), é o bate-papo virtual ou chat educacional, que tem como objetivo discutir determinado conteúdo e se processa de forma que os alunos, os monitores, os tutores e os professores estejam conectados ao mesmo tempo, o que caracteriza uma comunicação síncrona(1).

É importante salientar que, na modalidade de ensino a distância, o aluno possui maior liberdade para organizar seus estudos. Dessa forma, questiona-se como o chat educacional pode facilitar a construção da autonomia do aluno no processo de ensino em Enfermagem.

Um dos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação da Área da Saúde é “estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva autonomia intelectual e profissional”(2). A autonomia do profissional enfermeiro é tema importante para a definição e revisão dos objetivos e desafios da profissão, para compreender a maneira como ele se apresenta e se relaciona com os demais integrantes da equipe de saúde e com a sociedade, de forma que possa interferir no estabelecimento das prioridades na assistência. Concomitante ao desenvolvimento da competência técnica, o futuro enfermeiro deve ser preparado para reconhecer e atuar em conflitos e dilemas éticos, analisar criticamente suas implicações para, assim, poder tomar decisões com responsabilidade(3-4).

Acredita-se que as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) possibilitam potencial de estímulos e desafios para a prática da curiosidade, o que poderá auxiliar o aluno na construção de sua autonomia. No caso específico do ensino de Enfermagem, o oferecimento de momentos em que o aluno precisa decidir e exercer sua autonomia pode rever situações nas quais ele apenas memoriza o conteúdo sem conseguir realmente conhecer ou aprender sobre o objeto estudado.

Este artigo teve como objetivo analisar como se desenvolve a autonomia no processo de construção do conhecimento de alunos de Enfermagem, em contexto de aprendizagem mediado por chat educacional em AVA. Foi utilizada a Pedagogia da Autonomia, proposta por Paulo Freire(5) para identificar e analisar as relações e comunicações estabelecidas entre alunos e professores nesse meio virtual.

Método

Trata-se de pesquisa documental, retrospectiva, com abordagem qualitativa do tipo estudo de caso(6).

Foi desenvolvida na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com os registros de oito chats educacionais, produzidos entre os semestres 2005/1 e 2006/2 por estudantes, professores e monitores no AVA TelEduc®, na disciplina Fundamentos do Cuidado Humano III (ENF02001) do curso de graduação em Enfermagem.

O número total de participantes foi de 190 sujeitos, sendo que 185 eram alunos, a maioria do sexo feminino (160), três professores (duas do sexo feminino) e duas monitoras. Para preservar a identidade dos participantes, foi adotada a denominação A para aluno, G para grupos de alunos, P para professor e M para monitor.

Para o tratamento das informações, caracterizadas neste estudo como os diálogos entre alunos, professores e monitores, foi utilizado o software NVivo® versão 7.0 e a técnica de análise de conteúdo(7) com categorias definidas a priori, a partir do referencial proposto(5).

O projeto de pesquisa recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS para execução (n°. 2007825). Utilizou-se termo de compromisso de utilização de dados, assinado pelas pesquisadoras, onde constou o compromisso para a manutenção da privacidade e da confidencialidade dos dados, e o anonimato dos sujeitos(8).

Resultados e discussão

As informações foram analisadas buscando-se os conceitos de autonomia, acomodação, relação dialógica e ação antidialógica, de acordo com o referencial de Paulo Freire. Salienta-se que não foram encontradas ações antidialógicas nos dados analisados.

Acomodação

Quando a pessoa perde sua capacidade de escolha, seja por omissão ou imposição alheia, suas decisões passam a não ser mais suas porque alguém já decidiu por ela. Nesse momento, ocorre o ajustamento, a acomodação do indivíduo frente à imposição do outro, pois ele se cala, não opina, não dialoga, não decide e, portanto, não participa. A acomodação, diante disso, é uma forma de se comportar onde a emoção predomina. Nesse comportamento, razão e criticidade estão presentes, porém, diminuídas em função da adaptação da pessoa ao contexto vivenciado. A educação que pretende adaptar o aluno, na verdade, está acomodando-o, pois está impedindo-o de agir, de transformar o ambiente à sua volta(9-10).

O trecho, a seguir, evidencia essa forma de comportamento de alunas de Enfermagem.

(10:25:49) A61 fala para Todos: Pena que algumas matérias tenham sido um pouco deficitárias...

(10:27:25) A47 fala para P1: não tivemos aulas específicas dando idéia do que sejam as terminologias usadas, tudo é ainda muito vago para quem não trabalha na área.

(10:27:48) A46 fala para Todos: Eu acredito q agora a gente tenha q trabalhar sendo autodidatas pq temos q suprir as carências do currículo...e do q foi mal dado.

(10:28:56) A61 fala para Todos: Talvez o que temos que fazer agora é rever os termos mais utilizados nos trabalhos sozinhos... e em casa.

(10:30:27) P1 fala para Todos: Vamos ver uma coisa: vcs acham que tudo que precisarão saber na vida foi ou será ensinado em uma sala de aula?

(10:31:10) A57 fala para Todos: Claro q não! Acho q aprendemos a mínima parte na aula.

(10:31:14) A61 fala para Todos: Claro que não, mas temos que ter uma mínima noção para avaliar o quanto precisamos saber....

(10:31:22) A50 fala para Todos: e ainda, acho que não vai ser só um estágio que vai nos dar a prática, acho que muita coisa nós vamos conquistar mesmo só qndo estivermos assumindo um cargo em um hospital, com o tempo!

É possível evidenciar que as alunas não estão satisfeitas com as aulas oferecidas e esperam que o conhecimento seja transmitido pelos professores. A mediadora do chat, ao perceber essa postura, pergunta a elas se tudo o que precisarão saber em relação à profissão será aprendido em sala de aula, e as alunas respondem que não, que aprenderão também com a prática cotidiana da profissão. Percebe-se a acomodação por parte das alunas em relação à aquisição de conhecimentos: elas têm alguma crítica do que precisa ser revisto e aprofundado, sabem que precisam buscar o conhecimento e que a prática é importante na aquisição do saber, mas desejam que o caminho a ser percorrido seja fornecido pelos professores ou pela prática profissional. Salienta-se que o ensino de Enfermagem possui lacunas que não correspondem às expectativas dos alunos como, por exemplo, a formação pedagógica dos professores universitários, a adequação curricular das escolas, o comportamento e a responsabilidade dos docentes em relação à aprendizagem dos alunos.

Pesquisa realizada com alunos da graduação em Enfermagem e enfermeiros demonstrou que os estudantes, dos primeiros semestres do curso, dependem diretamente do professor para aprender e os alunos dos últimos semestres já se mostram menos dependentes. Quanto ao profissional, o processo de aprendizagem está ligado à prática, sendo possível perceber que eles esperam que essa prática produza conhecimento por si mesmo. Os estudantes e profissionais transferem a responsabilidade pelo aprendizado para outras figuras, o professor e a prática, demonstrando pouco comprometimento e autonomia com o processo de construção do saber(11). Enfermeiras recém-formadas consideraram a autonomia como atributo pessoal, conquistada na prática cotidiana da profissão, mas que nunca se torna plena em função das interações existentes com a equipe de saúde e as normas da instituição onde exercem suas atividades(3).

Os alunos de Enfermagem têm alguma crítica do que é necessário fazer para se tornarem profissionais competentes, mas, por acomodação, em função de sua consciência ingênua, não o fazem. É preciso que o educador auxilie o aluno a passar da ingenuidade para a criticidade, desenvolvendo nele a curiosidade(5).

Relação dialógica

Não há diálogo onde não há um pensar verdadeiro e crítico, porque o pensar ingênuo leva à acomodação e o pensar crítico leva à permanente transformação da realidade e humanização. Sem diálogo não há verdadeira comunicação, não há verdadeira educação. Por isso, o pensamento crítico do educador não deve se opor à capacidade de pensar criticamente do aluno, uma vez que a relação dialógica tem início quando o sujeito se abre ao mundo e aos demais à sua volta, de forma inquieta e curiosa. A ação antidialógica é aquela que tenta evitar a transformação da realidade e da estrutura social em que o ser humano oprimido vive. Na educação, é toda a metodologia de ensino que não permite a problematização de ideias, onde o professor é aquele que detém o conhecimento e o repassa aos educandos(5,10).

Os diálogos nos chats educacionais analisados ocorreram entre os professores e os alunos e, também, entre os próprios alunos. Dessa forma, subdividiu-se essa categoria em duas subcategorias: relação dialógica professor-aluno e relação dialógica aluno-aluno.

Relação dialógica professor-aluno

O professor tem como tarefa problematizar com os educandos o conteúdo que está sendo estudado, e não apenas apresentá-lo como se fosse algo elaborado e estanque. Deve escutar seus alunos e respeitar a compreensão que eles têm de sua realidade, aproveitando suas experiências e incorporando-as às discussões em sala de aula. Para que essa postura seja possível, ele não pode se posicionar como indivíduo superior que ensina pessoas desprovidas de conhecimento, mas sim na postura humilde de quem comunica um saber que é relativo a outras pessoas que também possuem outros saberes relativos(5,10). O trecho abaixo exemplifica essa ocorrência.

(10:18:53) G1 fala para P1: Professora, como podemos comentar a respeito dos sintomas, dando a entender q o paciente é diabético e não sabe, sem estar fazendo um diagnóstico médico? Podemos sugerir um TTGO? Ou HGT???

(10:19:59) P1 fala para G1: Somente colocando glicemia capilar, sinais e sintomas (poliúria, polaciúria, fome, infecções,....)

(10:21:04) G1 fala para P1: Mas não há nada q nos impeça de pedir uma glicemia capilar???

(10:21:39) P1 fala para G1: Não, mas só isso não quer dizer DM.

(10:22:37) A2 responde para Todos: a glicemia capilar como um dado isolado não nos será muito útil.

(10:25:50) P1 fala para Todos: Só hiperglicemia não quer dizer DM. O que poderia fazer a glicemia subir???

(10:26:50) G1 fala para P1: infecções.

(10:27:25) P1 fala para Todos: Infecções podem elevar glicemia, o que mais? Alguém tem algo a sugerir???

(10:27:25) A2 responde para Todos: ingesta de alimentos pouco antes da testagem.

(10:27:34) G1 fala para P1: comprometimento pancreático (que não quer dizer DM.)

(10:28:02) P1 fala para Todos: Alteração pancreática, tumor de pâncreas, bem pensado G1.

(10:28:21) G1 fala para P1: comprometimento renal, causa outro tipo de diabetes.

(10:29:04) G2 fala para Todos: em situação de estresse, ou ingestão de alimentos ricos em carboidratos

(10:30:07) G5 fala para P1: E por falta de exercícios???

(10:30:29) P1 fala para Todos: falta de exercícios, acho que não eleva muito.

(10:30:41) G4 fala para P1: Prof., a enf então pode ver tx de glicemia capilar?

(10:31:14) P1 fala para G4: Tranqüilamente, aí decide se chama o médico.

(10:31:53) G1 fala para Todos: a enf pode verificar, mas a minha dúvida é: só anotamos o resultado, sem outra observação ligando os sintomas????

(10:32:34) P1 fala para Todos: É tudo junto, examinamos, verificamos a glicemia, vemos o prontuário e decidimos.

Percebe-se a postura curiosa das discentes de Enfermagem. A professora aproveitou os conhecimentos das alunas e os incorporou à discussão, o que enriqueceu a problematização do conteúdo durante o chat educacional. O excerto trata-se de relação dialógica em que as posturas e evidências de conhecimentos prévios de ambas as partes dessa relação, professora e alunas, fazem emergir um novo conhecimento, instituindo-se, dessa forma, a produção ou construção do saber. O papel do educador estará focado em auxiliar o aluno a interpretar, relacionar e contextualizar essas informações, mobilizando a vontade de aprender criticamente. A aquisição do conhecimento dependerá menos do professor porque as tecnologias podem suprimir as curiosidades dos alunos, à medida que trazem a informação de maneira rápida e atraente. O ensino interativo requer do professor sensibilidade para promover modificações no pensamento do aluno à medida que os expõem a novas ideias, valorizando suas experiências anteriores e fortalecendo-os para se tornarem aprendizes independentes(12-13).

As questões abertas durante o chat educacional promovem a participação dos estudantes, questões comparativas provocam movimentação intelectual, questões de síntese e exploração facilitam o processo de construção do conhecimento. Portanto, as discussões síncronas online podem levar ao desenvolvimento cognitivo e à construção do conhecimento quando as perguntas/questões são bem estruturadas pelo mediador e há múltiplos argumentos por parte dos alunos. Salienta-se que o feedback frequente, empatia, organização e múltiplas oportunidades de contato durante todo o período de atividades em AVA pode criar um meio afetuoso entre as estudantes de Enfermagem e o professor(14-15).

Relação dialógica aluno-aluno

O professor que utiliza o chat educacional deve permitir que os alunos interajam entre si o máximo que quiserem e só deve intervir quando for necessário, pois a comunicação entre os alunos deve ser maior que com o próprio docente. O professor é mais um incentivador da atividade, portanto, ele precisa deixar espaço para que os alunos discorram sobre suas dúvidas e se posicionem frente à discussão. Essa interação entre os alunos pode ser percebida no chat educacional quando eles “trocam suas experiências, expõem suas ideias e sentem liberdade para questionar o outro”(16). No trecho a seguir, pode–se evidenciar essa postura dos sujeitos.

(10:39:15) G10 fala para Todos: mas por exemplo, se o paciente restringir o acesso ao seu prontuário, por conter informações sigilosas e um familiar solicitar vê-lo. O q fazemos?

(10:39:57) A30 fala para Todos: G10 - que eu saiba, o pact. tem o direito de não querer que outras pessoas vejam.

(10:40:17) G12 fala para Todos: Boa pergunta G10... O que fazer neste caso???

(10:40:35) A35 fala para Todos: G10, aí entra a questão ética do sigilo e segredo.

(10:41:20) G12 fala para Todos: Mas A35, todo paciente tem o direito de ver sua pasta conforme a lei...

(10:41:45) A30 fala para Todos: o pact. G12, e não o familiar e este não permitir.

(10:42:01) A35 fala para Todos: G12 tô falando da questão de um familiar querer ver o prontuário e o paciente não permitir.

(10:42:06) A30 fala para Todos: SE O PACT. NÃO SE OPUSER TUDO BEM.

(10:42:57) G12 fala para Todos: O que fazer quando o paciente não tem condições e quer ver??

(10:43:38) A39 fala para Todos: como assim não tem condições G12?? algum problema mental ou algo assim??

(10:45:09) P1 e P2 fala para Todos: retornando a questão do direito do cliente. O paciente lúcido, orientado pode pedir para ler o prontuário no hospital e ele lê [...]. O familiar que for responsável legal tb pode (menor de 18 anos, maior de 65 anos inapto, sem lucidez não).

Observa-se a relação dialógica estabelecida entre as alunas que discutem acerca do direito do paciente sobre o seu prontuário. Diversos questionamentos são feitos entre as alunas que buscam responder conforme o conhecimento prévio que têm sobre o assunto. As professoras somente intervêm ao final da discussão, elucidando os pontos que não ficaram claros, permitindo o máximo de interação entre as estudantes. As alunas sentem liberdade para questionar umas às outras, problematizando o assunto em questão e levantando diversas possibilidades da ocorrência de situações no ambiente hospitalar.

Aprender depende muito do educando, pois o amadurecimento permite que ele perceba o real significado que a informação tem no seu contexto de vida, do contrário não há aprendizagem verdadeira e significativa. Durante os chats analisados, foi possível identificar a necessidade dos alunos discutirem entre si. Os professores apenas acompanhavam e intervinham quando era realmente necessário. Os educadores também devem ser encorajados a aprender com seus alunos, sendo ouvintes ativos e modificando conceitos equivocados que venham a surgir, auxiliando-os a refletir sobre o sentido de suas próprias experiências, a evolução de seu trabalho e a definir os pontos futuros para sua aprendizagem(12-13).

Indícios de autonomia

A autonomia é um processo que se fundamenta nas várias experiências de decidir, pois “ninguém é autônomo primeiro para depois decidir e ninguém é sujeito da autonomia de ninguém”. É um processo de amadurecimento do ser para si que ocorre, ou não, dia a dia. O educador, para desenvolver a autonomia de seus alunos, precisa realizar atividades que estimulem a tomada de decisão e a responsabilidade para que eles aprendam a decidir com liberdade, assumindo todas as consequências desse ato(5). A atividade proposta estimulou a capacidade de decisão de algumas alunas, como se pode perceber no trecho a seguir.

(10:26:04) G16 fala para P1: Prof., pensávamos q só seguir um roteiro e o preenchê-lo seria muito superficial. Então, nos utilizamos de vários modelos de anamnese e criamos uma nossa.

(10:26:26) P1 fala para Todos: Isso, não existe modelos únicos.

(10:27:07) A64 fala para P1: encontramos vários roteiros diferentes, alguns nós julgamos incompletos então decidimos juntar o que cada um dizia e escolher as perguntas mais pertinentes de cada um.

(10:27:33) G16 fala para Todos: Isso A64, acabamos de comentar isso com a prof.

Quando a discussão se referia à anamnese e ao exame físico de Enfermagem, as alunas, ao perceberem que não existiam muitos roteiros prontos, resolveram pesquisar vários deles e adaptá-los às necessidades do paciente. Isso foi importante, pois elas exerceram a curiosidade, a capacidade de decidir e de se responsabilizar sobre o ato de criar o próprio modelo de Histórico de Enfermagem, algo que nem todos os alunos realizaram porque, talvez, não se sentiam preparados para ousar e tiveram medo de errar perante os professores.

A educação a distância vem sendo apontada como estimuladora da autonomia do aluno porque a distância física existente entre os atores do processo de ensino faz com que os alunos desenvolvam comportamento de gerenciamento do seu aprendizado, visto que precisam planejar os períodos de estudo, o tempo que será gasto em cada atividade e organizar a prioridade dos conteúdos a serem estudados(17). Alguns professores de Enfermagem têm percebido que os estudantes assumem maior responsabilidade por sua aprendizagem nos cursos a distância via internet, que pensam criticamente e que participam bem mais que na modalidade presencial(18).

Considerações finais

Esta pesquisa teve como objetivo analisar como se desenvolve a autonomia no processo de construção do conhecimento de alunos de Enfermagem, mediado por uma ferramenta digital síncrona em AVA.

Os temas para a análise foram definidos a priori, com o auxílio do referencial da pedagogia da autonomia(5), pois a autonomia é uma característica importante tanto no aluno, na busca pelo seu conhecimento, como no enfermeiro, que deve se manter atualizado quanto às práticas assistenciais e ser capaz de atuar como profissional crítico, apto a decidir e responsabilizar-se por suas decisões, sejam elas assistenciais ou administrativas.

A análise das informações evidenciou que os alunos percebem que os conteúdos precisam ser aprofundados e revisados por eles próprios, mas esperam que o conhecimento seja transmitido pelo professor ou pela prática profissional. Essa percepção denota que os estudantes têm alguma consciência de seu inacabamento, mas se encontram acomodados em relação à construção de seu conhecimento. É necessário que o educador auxilie o aluno a passar da consciência ingênua para a consciência crítica, desenvolvendo atividades que estimulem a curiosidade e a inquietação no estudante, que façam com que ele tenha vontade de procurar o conhecimento.

Uma forma de fomentar a consciência crítica é através do diálogo verdadeiro entre alunos e professores como forma de se transformar a realidade, ou seja, a problematização de ideias e não a simples transmissão de saber. As discussões em chat educacional permitiram a problematização de conteúdos, possibilitando a construção de novos conhecimentos. Os alunos, em alguns momentos, foram argumentadores, possibilitando a inquietação necessária para exaustivas discussões sobre determinados temas. Os mediadores, por sua vez, permitiram o máximo de trocas entre os alunos, problematizando, incentivando-os, fazendo intervenções sempre que necessário e favorecendo o diálogo entre os participantes.

As interações em chat educacional também permitiram que os alunos expusessem a responsabilidade e o gerenciamento por seu aprendizado, sendo capazes de decidir e de se responsabilizar pela elaboração de roteiros de anamnese e exame físico específicos às necessidades de seus pacientes. Esse comportamento é indício de amadurecimento da autonomia dos alunos quanto à construção do seu conhecimento.

Para que o aluno de Enfermagem desenvolva a autonomia é necessário que ele se dê conta do seu inacabamento, e isso pode ser feito com a ajuda de professores preparados para realizar a problematização, através do desenvolvimento de relações dialógicas críticas, de conteúdos e experiências práticas da profissão. Para que essa educação seja possível são necessárias atividades pedagógicas significativas para os alunos. A discussão em chat educacional é uma das estratégias que os professores podem utilizar para incentivar os alunos a buscarem o conhecimento para a e pela vida.

O estudo trouxe contribuições ao conhecimento existente acerca da temática(3,19) no sentido de que as TICs, em especial a utilização de chats educacionais no ensino de Enfermagem, podem tornar o processo ensino-aprendizagem mais rico e servir como complemento ao ensino presencial., revelando caminhos para o desenvolvimento da maturidade do aluno, que poderá se tornar enfermeiro autônomo capaz de decidir com responsabilidade, respeitando o saber de seus pacientes e colegas, sendo criativo e crítico.

Destaca-se o potencial das ferramentas computacionais no ensino de Enfermagem e a necessidade de mais estudos dentro da temática das TICs, com embasamento pedagógico, visto que, cada vez mais, a modalidade de ensino a distância, mediada pela internet, bem como o uso de ferramentas online, estão sendo incorporadas aos cursos voltados a todas as esferas, seja na graduação, pós-graduação e formação permanente de alunos e enfermeiros.

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  • Autonomia no processo de construção do conhecimento de alunos de enfermagem: o chat educacional como ferramenta de ensino
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      Abr 2010

    Histórico

    • Recebido
      04 Mar 2009
    • Aceito
      18 Out 2009
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