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Fatores que favorecem a participação do acompanhante no cuidado do idoso hospitalizado<a name=topo1></a>

Factors favoring the participation of aged inpatients' caregivers in care

Factores que favorecen la participación del acompañante en el cuidado al anciano hospitalizado

Resumos

Este estudo teve por objetivo identificar e analisar os fatores que favorecem a participação do acompanhante durante a hospitalização do idoso, na ótica dos familiares e dos profissionais da equipe de enfermagem. Foram entrevistados 30 familiares de idosos hospitalizados e 30 trabalhadores de enfermagem de um hospital do interior de São Paulo. Por meio da análise temática das respostas, identificou-se, em comum, que a inter-relação pessoal, o interesse em participar no cuidado e o conhecimento anterior são os fatores que mais favorecem a participação do familiar no cuidado.

idoso; cuidadores; equipe de enfermagem; enfermagem; hospitalização


This study aimed to identify and analyze what factors favor the participation of aged inpatients' caregivers in care during the hospitalization period, according to relatives and nursing group members responsible for care delivery. Thirty aged inpatients' relatives and 30 nursing group members were interviewed at a hospital in the interior of São Paulo state. Thematic analysis of the answers revealed that interpersonal relationships, interest in taking part in care activities and previous knowledge are the most favorable factors contributing to family members' participation in care.

aged; caregivers; nursing group; nursing; hospitalization


La finalidad de este estudio fue identificar los factores que favorecen la participación del acompañante en el cuidado durante la hospitalización del anciano, según los familiares y los profesionales del equipo de enfermería. Se entrevistó a 30 familiares de ancianos hospitalizados y 30 miembros del equipo de enfermería de un hospital del interior del Estado de São Paulo. Por medio del análisis temático de las respuestas, se identificó que la relación personal, la motivación para la participación en el cuidado y conocimientos previos son los factores que mejor contribuyen para la participación del familiar en el cuidado.

anciano; cuidadores; grupo de enfermería; enfermería; hospitalización


ARTIGO ORIGINAL

Fatores que favorecem a participação do acompanhante no cuidado do idoso hospitalizado11 Trabalho extraído da dissertação de mestrado Trabalho extraído da dissertação de mestrado

Factors favoring the participation of aged inpatients' caregivers in care

Factores que favorecen la participación del acompañante en el cuidado al anciano hospitalizado

Silvana Barbosa PenaI; Maria José D'Elboux DiogoII

IEnfermeira, Mestre em Enfermagem, Docente do Centro Universitário de Votuporanga, e-mail: silpena@terra.com.br

IIEnfermeira, Professor Associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, e-mail: mariadio@uol.com.br

RESUMO

Este estudo teve por objetivo identificar e analisar os fatores que favorecem a participação do acompanhante durante a hospitalização do idoso, na ótica dos familiares e dos profissionais da equipe de enfermagem. Foram entrevistados 30 familiares de idosos hospitalizados e 30 trabalhadores de enfermagem de um hospital do interior de São Paulo. Por meio da análise temática das respostas, identificou-se, em comum, que a inter-relação pessoal, o interesse em participar no cuidado e o conhecimento anterior são os fatores que mais favorecem a participação do familiar no cuidado.

Descritores: idoso; cuidadores; equipe de enfermagem; enfermagem; hospitalização

ABSTRACT

This study aimed to identify and analyze what factors favor the participation of aged inpatients' caregivers in care during the hospitalization period, according to relatives and nursing group members responsible for care delivery. Thirty aged inpatients' relatives and 30 nursing group members were interviewed at a hospital in the interior of São Paulo state. Thematic analysis of the answers revealed that interpersonal relationships, interest in taking part in care activities and previous knowledge are the most favorable factors contributing to family members' participation in care.

Descriptors: aged; caregivers; nursing group; nursing; hospitalization

RESUMEN

La finalidad de este estudio fue identificar los factores que favorecen la participación del acompañante en el cuidado durante la hospitalización del anciano, según los familiares y los profesionales del equipo de enfermería. Se entrevistó a 30 familiares de ancianos hospitalizados y 30 miembros del equipo de enfermería de un hospital del interior del Estado de São Paulo. Por medio del análisis temático de las respuestas, se identificó que la relación personal, la motivación para la participación en el cuidado y conocimientos previos son los factores que mejor contribuyen para la participación del familiar en el cuidado.

Descriptores: anciano; cuidadores; grupo de enfermería; enfermería; hospitalización

INTRODUÇÃO

A presença do acompanhante durante a hospitalização do idoso, tão importante e necessária, foi assegurada pelo Ministério de Estado da Saúde, ao considerar a melhoria da qualidade de vida que traz ao idoso. Além de tornar obrigatórios os meios que viabilizam a permanência do acompanhante, a Portaria Nº 280, de 7 de abril de 1999, do Ministério da Saúde, garante os recursos financeiros para sua acomodação(1).

De fato, a necessidade da presença do acompanhante é reforçada por vários estudos, ao considerarem que o idoso é dependente dos seus familiares e que a hospitalização o distancia do convívio familiar. A presença de um membro da família no hospital é muito importante, não só para acompanhar o idoso, mas também para ser orientado em seu papel de cuidador leigo. A atividade de cuidar, realizada com a equipe de enfermagem do hospital, torna-o um cliente e um parceiro da enfermagem(2-5).

Essa interação pode corroborar as reações favoráveis das famílias frente à doença, pois, quando a família responde de forma adequada e positiva às mudanças impostas pela doença, pode ocorrer a absorção do impacto, diminuindo seus efeitos deletérios. Nessas circunstâncias, os familiares passam a colaborar com o indivíduo doente para que enfrente as mudanças ocorridas na sua rotina de vida, bem como as limitações advindas do próprio estado de saúde. Contrariamente, quando as famílias respondem de forma inadequada, pode surgir a confusão de papéis, ocorrendo atritos e sentimentos de isolamento que podem influir sensivelmente nos processos de ajuda ao indivíduo hospitalizado(4).

No estudo sobre a participação da família na assistência ao idoso hospitalizado, sob a ótica da equipe de enfermagem e do próprio paciente, verificou-se que o familiar pode participar como membro da equipe de trabalho, tornando-se, também, responsável pela assistência prestada e, desse modo, contribuindo muito para a manutenção da integridade emocional do idoso. A autora enfatiza a importância de o idoso perceber a participação de seus familiares no seu tratamento(5).

Sobre o cuidador familiar do idoso hospitalizado, merecem destaque os trabalhos realizados por Pirjo Helena Laitinen, enfermeira e docente na Universidade de Kuopio - Finlândia, que desenvolveu uma série de estudos com ênfase no "cuidado de idosos" e à participação do cuidador familiar nos períodos de hospitalização do idoso. Segundo a autora, a participação dessas pessoas no cuidar pode ser favorecida pelo fornecimento de informações relevantes sobre as possibilidades de participar do planejamento, da tomada de decisão e da avaliação do cuidado(6-9).

Sob a ótica dos cuidadores, a equipe de enfermagem poderia promover a participação do familiar, por meio do suporte emocional e cognitivo, com informações sobre quando e como participar dos cuidados e sobre as condições da doença e limitações do paciente, interagindo, dessa forma, com os familiares(9-10).

No entanto, cabe lembrar que a presença do familiar no decorrer da hospitalização do idoso e seu envolvimento no cuidado não devem ser vistos como delegação de responsabilidades, ou como complementação de recursos humanos para a assistência de enfermagem. Na realidade, o papel da equipe é de parceria com o cuidador na busca da melhoria do cuidado do idoso.

A literatura sobre os benefícios ao paciente, decorrentes da participação do familiar no processo de hospitalização é extensa e comprobatória, porém há escassez de dados sobre os elementos que favorecem essa participação, tanto na ótica dos cuidadores quanto da equipe de enfermagem. Ademais, na prática assistencial, os conflitos e o pouco envolvimento do familiar no cuidado do idoso são situações freqüentes que acarretam prejuízo ao bem-estar e ao tratamento do paciente. Nesse sentido, há necessidade de pesquisas que ofereçam subsídios para a prática de enfermagem quanto aos fatores, ou seja, os elementos que contribuem para o envolvimento do familiar no cuidado do idoso hospitalizado.

Isso posto, o presente estudo tem por objetivo identificar e analisar os fatores que favorecem a participação do acompanhante familiar durante a hospitalização do idoso, na ótica dos familiares e dos profissionais da equipe de enfermagem.

MÉTODO

Trata-se de um estudo exploratório descritivo, realizado em um hospital de alta complexidade, de nível terciário, no município de Marília, SP, após autorização do responsável pelo serviço e apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição. A amostra adotada foi de conveniência. Foram entrevistados 30 acompanhantes familiares (aquele que permanecia a maior parte do tempo no hospital) de idosos internados (no mínimo com 48 horas de internação), em duas unidades de clínica médica, e 30 membros da equipe de enfermagem (14 auxiliares de enfermagem e três enfermeiros). Os sujeitos foram entrevistados após assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido e garantido o sigilo e anonimato.

A coleta de dados foi realizada por meio da entrevista individual e com auxílio de um gravador. Para os acompanhantes foi apresentada a seguinte questão: o que facilita para o(a) senhor(a) conseguir participar e ajudar no cuidado do idoso, durante a sua hospitalização? E para os membros da equipe de enfermagem: na sua opinião, o que facilita a participação do acompanhante no cuidado do idoso hospitalizado?

As respostas foram transcritas na íntegra e analisadas de acordo com as etapas da análise temática, procurando-se identificar as unidades de significação definidoras denominadas neste estudo como "classes"(11).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na ótica dos familiares, o agrupamento das respostas resultou na identificação de quatro classes: interesse em participar no cuidado, inter-relação pessoal acompanhante e equipe de enfermagem, conhecimento anterior e rede de apoio familiar suficiente, conforme Tabela 1.

As respostas relacionadas à classe "Interesse em participar no cuidado" foram as mais verbalizadas, isto é, 16 acompanhantes salientaram que o interesse em participar no cuidado leva ao envolvimento no cuidado do idoso hospitalizado. De acordo com os relatos, esse interesse está relacionado à motivação intrínseca, ao vínculo afetivo e à natureza da atividade.

Os fatores pessoais, ou seja, os fatores relacionados à motivação intrínseca, foram descritos pelos acompanhantes como a força de vontade e a coragem que eles possuem para realizar o cuidado, bem como a satisfação pessoal gerada ao cuidar do outro.

... A força de vontade que eu tenho para cuidar dele (idoso) é o que facilita aqui no hospital (filha).

... É que eu tenho coragem de cuidar dele (idoso), para ele sarar logo e ir embora para casa .. (esposa).

Durante as entrevistas, a fé em Deus foi mencionada como fator facilitador da participação no cuidado ao idoso. Observou-se que a religiosidade faz parte da vida e é vista como um sustento para o acompanhante, nesse momento difícil, para que supere e aceite a situação de doença e hospitalização.

... É a fé em Deus que eu tenho e peço muita força, esperança e coragem, para eu cuidar da minha mãe... (filha).

Entre as respostas, destaca-se, também, o vínculo afetivo, mencionado pelos sujeitos entrevistados, como o carinho e o amor presentes na relação com o idoso. A permanência próxima ao mesmo, no decorrer da hospitalização, facilita a participação no cuidado, principalmente, quando a relação entre o familiar e o idoso é permeada por sentimentos positivos e relação de apego.

... O carinho..., eu sou muito apegada a ela (idosa), mesmo se eu estivesse em casa eu não conseguiria ficar, eu prefiro ficar aqui do que em casa... (filha).

... É o amor que eu tenho pela minha mãe, eu ajudo ela em tudo... (filha).

Referem-se, ainda, à participação no cuidado como forma de retribuírem o que lhes foi dado, fato que leva a crer que os laços familiares são fortalecidos nos momentos de hospitalização.

... É o lado emocional ... o fato de poder ficar junto, dedicando o amor, retribuindo o que um dia eles (pais ) deram para nós ... (filha).

Um único familiar apontou a natureza da atividade, ou seja, a possibilidade de realizar atividades de menor complexidade, como fator de participação do acompanhante no cuidado ao idoso.

... As coisas mais fáceis que dá para a gente fazer, como dar alimentação, ajudar ela (idosa) a comer, lavar a prótese... (neta).

Outro fator que facilita a participação do acompanhante, apontado por 13 familiares, diz respeito à "inter-relação pessoal entre acompanhante e equipe de enfermagem". Acerca desse fator, destacam-se os elementos da comunicação e a observação do cuidado realizado.

A comunicação entre a equipe de enfermagem e o acompanhante aparece como elemento essencial para a participação no cuidado, compreendendo as orientações e as características pessoais dos membros da equipe.

Os acompanhantes relataram que, quando a equipe de enfermagem orienta, ou esclarece, sobre os cuidados a serem realizados, isso facilita a sua participação.

... É a orientação.... quando a enfermagem fala não deixa dobrar a perna, porque ela fez cateterismo e não pode dobrar a perna, ou se você (acompanhante) ver qualquer coisa pode chamar a gente... (enfermeira) ... (filha).

...Quando a enfermagem ensina como tem que fazer os cuidados, aí facilita bastante... (filha).

A característica pessoal de cada elemento da equipe de enfermagem é de grande importância para a participação dos acompanhantes nos cuidados, segundo os relatos dos familiares. Assim, possuir habilidades para se relacionar com as pessoas, humanismo, empatia e amizade constituem características que favorecem o relacionamento interpessoal e torna o ambiente hospitalar mais familiar e amigável.

Durante as entrevistas, alguns participantes relataram como essas características são percebidas.

... As enfermeiras brincam... é familiar a relação, tem enfermeira que chega e fala, bom-dia! Isto ajuda a gente ... (filha).

... Elas (auxiliares de enfermagem) são amigas é bom porque a gente fica sozinha... (esposa).

Encontrou-se, também, o acompanhante na posição de observador dos cuidados realizados pela equipe de enfermagem. A partir das observações, o familiar procura reproduzir o cuidado com o idoso.

... Eu observo o jeito que as enfermeiras fazem para eu fazer depois, deste jeito fica mais fácil para cuidar... (filha).

...Observar a maneira e o jeito que ela (idosa) é cuidada, para que eu possa cuidar dela quando ela necessitar de ajuda ... (bisneta).

Somente um familiar referiu-se ao fato de que, além de observar os cuidados realizados pela enfermagem, ele quer saber como é realizado o cuidado, para adquirir experiência e aprender a cuidar do idoso.

... Eu observo e pego experiência de como cuidar, e perguntando.... Como que faz para virar? Como faz isso?.... e assim eu vou aprendendo a cuidar dela... (filha).

Para seis acompanhantes, o "Conhecimento anterior", advindo do convívio com o idoso (conhecimento dos seus hábitos e costumes) e de experiências profissionais na área da saúde, facilita a participação no cuidado.

A gente entende o que ela fala e os costumes, e a enfermagem não está acostumada, e eu posso passar para elas, como a minha mãe gosta..... (filha).

Eu tenho experiência profissional, eu sou auxiliar de enfermagem e trabalho em um hospital é o que facilita para eu cuidar do meu pai... (filho).

Quatro acompanhantes apontaram a rede de apoio familiar suficiente, relacionada à reorganização das funções e papéis na família, e ao rodízio hospitalar a fim não sobrecarregar um único membro, como um fator que facilita a sua participação no cuidado do idoso hospitalizado.

São as minhas noras que fazem tudo na minha casa para que eu fique aqui, ajudando ela (idosa) ... se não fossem elas eu não poderia ajudar a minha mãe... (filha).

Eu consigo descansar de dia, para poder ajudar ele (idoso) à noite, e de dia fica a minha mãe para eu descansar... (filho).

Isto posto, são apresentados os resultados referentes aos fatores que facilitam a participação do familiar no cuidado, sob a ótica da equipe de enfermagem.

Dos agrupamentos das respostas obtidas dos membros da equipe de enfermagem entrevistados, emergiram quatro classes: inter-relação pessoal entre acompanhante e equipe de enfermagem, conhecimento anterior (do paciente e profissional), interesse em participar no cuidado e competência emocional, como segue na Tabela 2.

As respostas referentes à "inter-relação pessoal acompanhante e equipe de enfermagem" foram mencionadas pela maioria dos sujeitos, ou seja, 20 membros da equipe de enfermagem afirmaram que a comunicação, a observação e a presença contínua do acompanhante, e a obediência às normas e às orientações facilitam a participação do acompanhante no cuidado do idoso. A comunicação é um elemento de extrema importância na inter-relação pessoal, principalmente vinculada às orientações sobre os cuidados a serem realizados e aos limites da atuação e sua posição, ou limites enquanto acompanhantes, conforme exemplos de relatos descritos a seguir.

... Explicando como fazer as atividades, facilita mais para o acompanhante, estar participando dos cuidados... (auxiliar de enfermagem).

...Quando orientamos o acompanhante, quais são os seus deveres, se torna mais fácil a sua participação na ajuda ao paciente (idoso)... (auxiliar de enfermagem).

Ainda nessa classe, outro aspecto apontado pelos profissionais de enfermagem diz respeito à observação e à presença contínua do familiar. Estar junto do idoso hospitalizado e permanecer alerta aos acontecimentos facilita sua participação no cuidado, pois, dessa maneira, ele pode observar as alterações que ocorrem com o idoso e comunicá-las à enfermagem.

... Ele (acompanhante) deve estar sempre ao lado do paciente, de prontidão, olhando o que acontece com o paciente, e sempre avisar a enfermagem do que se passa.... (auxiliar de enfermagem).

... A família deve estar sempre alerta, em tudo que acontece com o idoso e comunicar ou estar lembrando a enfermagem sobre o que acontece com o idoso... (auxiliar de enfermagem).

Houve, ainda, referência quanto ao caráter normativo da relação, ou seja, a participação do acompanhante é facilitada, desde que ele siga rigidamente as orientações fornecidas, reconhecendo o controle do poder e do conhecimento pela equipe de enfermagem.

... Desde que ele (acompanhante) siga à risca, o que a enfermagem disser para ele, assim ele vai estar ajudando plenamente em todos os sentidos, tanto o paciente quanto a enfermagem e ainda facilita a sua participação... (auxiliar de enfermagem).

O conhecimento que os acompanhantes demonstram ter sobre os costumes e os hábitos dos idosos, decorrente não só da convivência familiar, bem como de experiências já vivenciadas no cuidado do idoso, foi apontado por nove sujeitos.

... Ele (acompanhante) conhece o idoso e sabe os hábitos do paciente... fica mais fácil para eles estarem cuidando... (auxiliar de enfermagem).

... O acompanhante está mais familiarizado com os hábitos do paciente o que facilita sua participação durante a hospitalização... (enfermeira).

O "interesse em participar no cuidado" foi revelado por sete profissionais, ao se referirem à importância e ao fato dos acompanhantes terem iniciativa e participarem de atividades de menor complexidade.

Os profissionais mencionaram que a iniciativa dos acompanhantes facilita a sua participação no cuidado. Parece-nos que os membros da equipe de enfermagem esperam que a iniciativa seja dos acompanhantes, principalmente, no auxílio às atividades, como alimentação e locomoção, de acordo com os exemplos a seguir.

... A incitava para ajudar a dar uma água e levar no banheiro para cuidar do idoso, isto facilita bem a participação dele.... (auxiliar de enfermagem).

... O acompanhante tenha iniciativa para cuidar do seu familiar, assim ele ajuda mais o seu idoso... (enfermeira).

Na ótica de três membros da equipe de enfermagem, o acompanhante deve saber lidar com suas emoções, ter "competência emocional", a fim de que essas não influenciem na sua participação no cuidado. A paciência e as respostas adequadas às situações facilitam a sua participação.

... Ele (acompanhante) não pode deixar o lado emocional prevalecer, aí acaba atrapalhando a sua participação não tendo condições de ajudar o idoso... (auxiliar de enfermagem).

... Quando o emocional do acompanhante é adequado ele sabe lidar com as emoções... (auxiliar de enfermagem).

A inter-relação pessoal entre acompanhantes e equipe de enfermagem foi um dos fatores mais mencionados pelos sujeitos do presente estudo, como um dos recursos que facilita a participação dos familiares no cuidado do idoso hospitalizado.

A convivência humana é um fenômeno difícil, complexo e desafiante. Isso porque as pessoas relacionam-se e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é, reagem àquelas pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se, simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afetos. O processo de interação humana, se dá constantemente nas relações pessoais, por meio de comportamentos verbais e não-verbais, sentimentos, reações mentais e/ou físico-corporais, os quais desencadeiam diferentes reações pessoais. Neste estudo, alguns familiares relataram que o fato de a equipe de enfermagem apresentar atitudes de amizade, empatia e colaboração, tornava a relação mais familiar(12).

A comunicação entre equipe de saúde e familiares tem sido objeto de muitas investigações em nosso meio e o que se verifica é que os elementos da equipe limitam-se a verbalizar o estritamente necessário com o paciente, sendo esse cuidado extremamente técnico e distante, não gerando, portanto, vínculo com o familiar, ou até mesmo ignorando sua presença. A falta de diálogo entre a equipe de saúde e familiares, rotineiramente, traz como conseqüência a escassez e ausência de informações sobre o paciente, o tratamento e a doença(4).

O fato de as enfermeiras e de os cuidadores familiares não saberem identificar a necessidade de cuidados do cliente na admissão e na alta pode ser representado pela pouca quantidade de informação dividida entre enfermeiras e cuidadores, durante a hospitalização, conforme dados obtidos de pesquisas nessa área(13-14).

No presente estudo, os familiares e os profissionais têm clara a necessidade da comunicação para que a inter-relação pessoal entre familiares e equipe venha favorecer todos os aspectos que foram apontados, tais como orientação, informação, esclarecimento sobre o papel do familiar no cuidado, importância do seu envolvimento, as normas e rotinas do hospital e os deveres, entre outros.

Outro fator que vem facilitar a participação dos familiares no atendimento dos idosos diz respeito à observação e à reprodução dos cuidados realizados pela enfermagem, ou seja, eles observam e depois, quando é necessário, reproduzem o cuidado da maneira como o aprenderam. Outros, além de observar, perguntam à equipe de enfermagem como é realizado o cuidado, expressando preocupação em reproduzi-lo corretamente. Esse resultado demonstra que os familiares buscam envolver-se, para terem informações mais claras que os auxiliem no cuidar do idoso.

Além disso, correspondem aos achados de pesquisa nacional, tais como no estudo em que foi possível constatar que o período de internação do idoso pode proporcionar aproximação do acompanhante quanto às atividades relacionadas ao cuidado, desenvolvendo o aprendizado através da observação e da oportunidade de poder fazer(4).

Os cuidadores, ao se reportarem ao aprendizado de informações/orientações recebidas para a continuidade do trabalho em casa, num primeiro momento, não as mencionaram, mas destacaram a observação e o auxílio como formas de aprendizado. Essa constatação, obviamente, não exclui a responsabilidade da enfermagem em ajudá-los a transcender as limitações do cuidar(15).

Além da inter-relação pessoal e do interesse do familiar em participar do processo de cuidado do idoso hospitalizado, outro fator que facilita sua participação nesse processo, segundo a ótica da equipe de enfermagem, diz respeito ao fato de o familiar possuir competência emocional, principalmente, para reagir diante da situação de doença do seu idoso e ter paciência. Competência emocional e paciência são referidas como qualidades indispensáveis no processo de acompanhamento e cuidado do idoso hospitalizado.

A competência emocional se constitui em um conjunto de aspectos emocionais que estão intimamente inseridos na "competência interpessoal". Decorre de treinamento, de desenvolvimento e de educação. Assim, pode haver pessoas sem habilidade emocional, mas que têm possibilidade de modificar esse comportamento, mediante as diferentes situações enfrentadas na vida e de suas respostas a elas. No presente trabalho, o fato de os familiares terem habilidade para gerenciar as emoções indica que essa habilidade foi desenvolvida desde a infância até a idade adulta. Em estudo de uma unidade na qual se adotou a prática do acompanhamento familiar orientado, junto ao idoso hospitalizado, mostra que os enfermeiros justificaram a necessidade da presença do familiar e da sua participação não só pelo fato de o paciente ser dependente dos cuidados familiares, mas também porque possuíam habilidades e experiências específicas para esse cuidado, de modo que, participando efetivamente, poderiam gerar a continuidade após a alta hospitalar. Durante esse período, a família se torna, portanto, uma companhia para o cliente e um parceiro para a enfermagem(2,16).

Também a equipe de enfermagem demonstra valorização e clareza da importância da presença do familiar e do conhecimento que possui sobre o idoso, admitindo o fato de que, cada vez mais, ele possa realizar o processo de cuidado em parceria, de acordo com suas experiências e por meio de orientações recebidas dessa equipe.

A esse respeito, relatos de cônjuges sobre as concepções dos familiares cuidadores sobre o cuidado apontam ser essa uma oportunidade para demonstrarem o afeto e o carinho que sentem, além de conhecerem muito bem as manias do familiar, o que facilita a compreensão do idoso nesse período de hospitalização(4).

De fato, um dos principais sistemas de apoio ao idoso é a família, o que nos leva a ampliar e embasar a assistência de enfermagem na educação à saúde, no cuidar voltado ao conhecimento da senescência e senilidade, do contexto familiar e das interações que permeiam a hospitalização do idoso(17).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados obtidos, os trabalhadores da equipe de enfermagem e os familiares reconhecem como elementos facilitadores para a participação no cuidado do idoso hospitalizado o interesse em participar no cuidado, a inter-relação pessoal acompanhante e equipe de enfermagem e o conhecimento anterior. Os primeiros não identificaram a rede de apoio familiar suficiente destacada pelos acompanhantes, enquanto esses não identificaram a competência emocional, talvez pela divergência de papéis e funções que desempenham no ambiente hospitalar nessa dada situação. Os dados apontam para a necessidade de novos estudos na busca da compreensão da rede de relações estabelecida no processo de hospitalização do idoso com vistas à melhoria da integração entre os elementos envolvidos e conseqüentemente do bem-estar do idoso.

É preciso ressaltar, cada vez mais, a importância fundamental de a equipe de enfermagem ter uma ótica mais ampla, compreendendo a sua ação para além do cliente, abrangendo, também, o familiar, em seu planejamento e processo de cuidar, para que ele tenha participação mais efetiva nesse processo e que passe a ser um momento de interação pessoal entre equipe e familiares, possibilitando informações que orientem o estabelecimento de ações centradas no seu entendimento como sujeito do processo.

Recebido em: 12.11.2003

Aprovado em: 31.8.2005

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  • 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado
    Trabalho extraído da dissertação de mestrado
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Out 2005

    Histórico

    • Aceito
      31 Ago 2005
    • Recebido
      12 Nov 2003
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