Open-access Velhice e pessoa idosa: representações sociais de adolescentes escolares1

Resumos

OBJETIVO:  conhecer os elementos centrais das representações sociais de adolescentes de uma instituição de ensino médio pública sobre a pessoa idosa e a velhice.

MÉTODO:  participaram 172 adolescentes, entre 14 e 19 anos. Aplicou-se a técnica de evocação livre de palavras, através dos termos indutores pessoa idosa e velhice.

RESULTADOS:  os elementos centrais das representações significativamente construídos para pessoa idosa foram: respeito e desrespeito, 78; experiência, 49; cuidado, 32; sabedoria, 23; fragilidade, 19. Para velhice foram: doença, 51; aposentadoria, 27; experiência, 27; sabedoria, 19; rugas, 17. As representações sociais dos adolescentes estão fortemente marcadas por aspectos físicos, psicológicos e sociais com aspectos positivos e negativos sobre a velhice.

CONCLUSÃO:  concluiu-se pela necessidade de realização de atividades participativas de educação em saúde, de modo a conduzir os adolescentes à crítica e reflexão tanto sobre o envelhecimento como sobre a condição do velho na sociedade contemporânea.

Idoso; Enfermagem Geriátrica; Psicologia Social; Adolescente


OBJECTIVE:  to know the main elements of social representations about elderly people and old age among adolescents at a public high school.

METHOD:  172 adolescents between 14 and 19 years of age participated. The free evocation of words technique was applied through the terms elderly and old age.

RESULTS:  The main elements of the representations significantly designed for elderly people were: respect and disrespect, 78; experience, 49; care, 32; wisdom, 23; fragility, 19. For old age: disease, 51; retirement, 27; experience, 27; wisdom, 19; wrinkles, 17. The social representations of adolescents are strongly marked by physical, psychological and social aspects, with positive and negative aspects about old age.

CONCLUSION:  Participatory health education activities are needed to make adolescents critically reflect on and the condition of elderly people in contemporary society.

Aged; Geriatric Nursing; Psychology, Social; Adolescent


OBJETIVO:  Conocer los elementos centrales de las representaciones sociales de adolescentes de una institución de enseñanza media pública sobre la persona anciana y la vejez.

MÉTODO:  Participaron 172 adolescentes, entre 14 e 19 años. Se aplicó la técnica de evocación libre de palabras a través de los términos inductores persona anciana y vejez.

RESULTADOS:  Los elementos centrales de las representaciones significativamente construidos para persona anciana fueron: respeto y desacato, 78; experiencia, 49; atención, 32; sabiduría, 23; fragilidad, 19. Para vejez fueron: enfermedad, 51; jubilación, 27; experiencia, 27; sabiduría, 19; arrugas, 17. Las representaciones sociales de los adolescentes están fuertemente marcadas por aspectos físicos, psicológicos y sociales con aspectos positivos y negativos sobre la vejez.

CONCLUSÍON:  Se concluyó por la necesidad de realización de actividades de educación en salud participativas de manera a conducir los adolescentes a la crítica y reflexión sobre el envejecimiento y la condición del anciano en la sociedad contemporánea.

Anciano; Enfermería Geriátrica; Psicología Social; Adolescente


Introdução

Na sua prática clínica, a enfermagem evidencia disposição numa busca permanente para a ampliação de conhecimentos que permitam contribuir tanto no campo científico quanto no social. Para isso, investe em pesquisas e inovações tecnológicas destinadas a aprimorar o exercício profissional, sobretudo na atenção ao idoso e no entendimento das nuances da velhice, cujo extrato populacional cresce acentuadamente e exige cuidados cada vez mais complexos. Os dados do censo 2010 revelam a soma de 190.755.799 de brasileiros, dentre os quais 20.590.599 (10,8%) são pessoas de 60 anos e mais. Os novos dados apontam para a feminização da velhice, ao divulgar os números de 11.434.487 de mulheres para 9.156.112 de homens, sendo mais marcantes os apontados para as pessoas centenárias, das quais 16.987 são mulheres e apenas 7.247 homens( 1 ). Assim, a maior longevidade da população leva ao aumento da participação dos idosos (pessoa com 60 anos de idade ou mais) na população. A maioria desses idosos (64,1%) são pessoas de referência no domicílio onde vivem( 1 ).

É inegável a importância dos idosos para o país e essa não se resume à sua crescente participação no total da população. Boa parte dessas pessoas, nos dias atuais, são chefes de família e, nessas famílias, a renda média é superior à daquelas chefiadas por adultos não idosos. Além disso, 62,4% dos idosos e 37,6% das idosas são chefes de família. Logo, são 8,9 milhões de pessoas e 54,5% delas respondem por todo o sustento familiar( 1 ).

Apesar da indiscutível participação ativa dos idosos na sociedade e, principalmente, na manutenção financeira das famílias, sobressai a tendência para reproduzir a imagem do idoso e da velhice atrelada a perdas, ao abandono e à morte. Em virtude de os familiares de idosos dependentes terem maior contato com a vivência das limitações ocasionadas pela velhice, passa-se a concebê-la como processo de contínuas perdas, em que os idosos podem ficar relegados ao abandono e à ausência de papéis sociais. Isso, de certa forma, vem contribuir cada vez mais para a perpetuação de mitos, estereótipos, preconceitos e discriminação em relação à velhice, manifestadas também na postura do cuidado a essa população. Portanto, as concepções sobre dependência, velhice e idoso assumem papel relevante, porquanto esses aspectos podem determinar o modelo das interações pessoais e sociais, bem como os modos de cuidar dos idosos( 2 ).

Assim, compreender tais concepções e ações delas advindas é relevante para estabelecer estratégias aptas a reconstruí-las com o olhar centrado não nas perdas, mas nas possibilidades de ganhos oriundos da velhice, visto que se identifica um contínuo viver intergeracional ora na família ora nos ambientes sociais. O fortalecimento de vínculos originários das relações dos idosos com os mais jovens deverá ser fundamentado em concepções e ações positivas no tocante à velhice, ao idoso e ao cuidado relacionado ao idoso; portanto, nesse processo, há que se considerar as produções e sentidos sobre a velhice e o velho.

Nesse prisma, urge conhecer para se estimular mudanças nas concepções de idoso e velhice, especialmente para os adolescentes (pessoas com idade de 10 a 19 anos)( 3 ) que, por vezes, em suas ações, revelam, ainda, preconceitos e estereótipos sobre os velhos. Tais modificações possibilitarão sensibilizá-los para o esclarecimento e superação das ideias, de mitos, dos estereótipos, dos preconceitos e dos sentimentos desfavoráveis em relação à velhice, contribuindo para outras condutas, expressões e maneiras de pensar o cuidado à pessoa idosa. Mediante o exposto, constitui objetivo do estudo: conhecer os elementos centrais que compõem as Representações Sociais (RS) de adolescentes escolares sobre a velhice e a pessoa idosa.

Método

Trata-se de estudo fundamentado na Teoria das Representações Sociais, com base na proposta denominada estrutural ou Teoria do Núcleo Central( 4 ). Por RS compreende-se uma forma de conhecimento social do senso comum, que produz um saber geral e funcional para as pessoas, e serve para que a atividade mental de grupos e indivíduos se relacione com as situações, acontecimentos, objetos e comunicações a elas inerentes. A mediação que possibilita esse acontecimento se dá pelo contexto concreto, no qual essas pessoas e grupos vivem e, também, pela cultura adquirida por meio da história, além dos valores, dos códigos e das respectivas ideias de determinado grupo social( 5 - 6 ).

O estudo envolveu uma instituição de ensino médio, estadual, da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará (CE), Brasil, fundada em 1844, considerada o terceiro colégio brasileiro mais antigo. Atualmente, o total de alunos por turno é de, em média, 377. Conforme a secretaria escolar, ocorreu grande evasão de alunos após a greve dos professores. À noite, as turmas são constituídas por alunos maiores de 20 anos que, geralmente, trabalham e quatro turmas do programa de educação para jovens e adultos.

A coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2011, com os 172 adolescentes que, após 20 dias, devolveram o termo de assentimento dos pais, permitindo a participação desses adolescentes na pesquisa, e transcorreu nos períodos da manhã e tarde.

Quanto à escolha dos participantes, foram adotados os seguintes critérios: ser adolescente na faixa etária de 10 a 19 anos, consoante definição da Organização Mundial da Saúde, em 1996( 3 ); estar regularmente matriculado no ensino médio da instituição pesquisada; concordar em participar da pesquisa com autorização dos pais ou responsáveis, mediante assinatura de um termo de assentimento. Assim, a amostra constituiu-se de adolescentes com idade entre 14 e 18 anos, faixa etária correspondente ao especificado para o ensino médio. Para a aplicação da Técnica de Evocação Livre de Palavras (Telp), utilizou-se um questionário destinado a apreender a percepção da realidade, por meio de uma composição semântica preexistente. O instrumento foi respondido por 172 alunos e totalizou 688 evocações. Ora eles estavam em sala de aula ora nos corredores da instituição, nos intervalos das aulas. Solicitou-se que eles escrevessem as primeiras quatro palavras que pensavam ao se falar as indutoras velhice e pessoa idosa. Em seguida, foi-lhes pedido que organizassem os termos pensados em ordem de importância, da primeira à quarta palavra citada.

Realizou-se leitura flutuante do corpus obtido, unificaram-se as formas singular/plural, masculino/feminino, e procedeu-se com a agregação dos sinônimos, com base nas evocações de maior frequência, de forma a homogeneizar o material. Para o tratamento dos dados coletados utilizou-se o software EVOC (Ensemble de Programmes Pemettant L'Analyse des Evoctions), versão 2000, o qual possibilita organização das palavras/elementos produzidos em fase da hierarquia implícita, ou seja, a frequência e a ordem. Esse momento consistiu no cálculo da Ordem Média de Evocação (OME) dos diversos elementos e as médias das ordens médias de evocação (OME). A análise combinada desses dois parâmetros (Fm-Frequência Média- e OME) possibilitou a distribuição dos diversos elementos em um gráfico de dispersão, onde o cruzamento das linhas relativas a Fm e OME permite sua divisão em quatro quadrantes.

Neste estudo, a frequência foi igual a 10 e a ordem média de evocação igual a 2,5. Assim, os elementos com frequência média igual ou superior a 10 e OME inferior a 2,5 encontram-se no quadrante superior esquerdo, constituindo o núcleo central da representação. O quadrante inferior direito é composto pelos elementos do sistema periférico, aqueles de menor frequência e maior ordem de evocação, isto é, mais tardiamente evocados. Os demais quadrantes, superior direito e inferior esquerdo, contêm os elementos do sistema intermediário ou da periferia próxima ao sistema central( 7 ).

O estudo cumpriu os preceitos da Resolução 196/96, referente à pesquisa com seres humanos, sendo o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, Parecer 11223077-6; FR 449818 de 22 de setembro de 2011.

Resultados

Como participantes do estudo constaram 172 adolescentes escolares, matriculados regularmente em 2011. Predominou o sexo feminino, 99 (57,55%); com idade de 14 a 15 anos, 74 (43,02%); 16 a 17 anos, 63 (36,62%) e 18 anos, 35 (20,34%). A renda familiar oscilou de 1/2 a 2 salários-mínimos, referência de R$545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais), valor na época da pesquisa. A religião católica foi citada pela maior parte, 109 (63,37%). Quanto a residirem com idosos no mesmo domicílio, apenas 49 (28,48%) responderam afirmativamente, sendo avó, 14 (8,13%); pai ou mãe, 10 (5,81%); avô, 10 (5,81%); outros parentes, 3 (1,74%) e com os avós, 2 (1,16%). Os participantes residem em bairros diversificados, congregados pelas secretarias executivas regionais I, II e III (modelo adotado para regionalização dos bairros, na cidade de Fortaleza, CE).

De posse dos resultados, os mesmos foram organizados no quadro de quatro casas. Assim, o quadrante superior à esquerda é denominado núcleo central, a parte mais estável e permanente em uma representação, conferindo-lhe sentido, é o elemento mais resistente à mudança. Nele se encontram as evocações de maior frequência e ordem de evocação inferior à média geral das evocações e que correspondem aos elementos com maior probabilidade de pertencer ao núcleo central. O inferior, à esquerda, chama-se zona de contraste, e nele pode ser percebido um subgrupo representacional. Portanto, ele pode demonstrar grupos que pensam de modo diferente da maioria. Apresenta evocações de menor frequência e menor ordem de evocação, uma segunda coroa do sistema periférico, onde se encontram as evocações consideradas importantes para um pequeno grupo de sujeitos( 8 ). Os dois quadrantes à direita são os primeiros, a periferia (superior) e a segunda (inferior), que expressam o contexto imediato no qual as pessoas vivem, suas relações com a realidade( 9 ).

Os elementos centrais expostos na Tabela 1 retratam o significado da velhice fortemente marcado por um imaginário voltado para aspectos patológicos, como doença (51), sendo essa a palavra de maior frequência. Em menor frequência, têm-se os físicos, como rugas (17) e cansaço (13); e os aspectos psicossociais, como aposentadoria (27), experiência (27), sabedoria (19), solidão (15), tristeza (11) e paciência (11).

Tabela 1
Distribuição dos elementos, segundo frequência de evocação e ordem média de evocação dos adolescentes escolares do ensino médio sobre velhice. Fortaleza, CE, Brasil, 2012

As palavras aposentadoria (27) e experiência (27) ocuparam o segundo lugar em frequência de citação. A primeira, em certas situações, pode conduzir ao afastamento social das pessoas com a velhice, conduzir ao ócio e revelar o não planejamento da vida pós-aposentadoria. A aposentadoria revela ausência de papéis do aposentado, sua angústia, sua marginalização e, muitas vezes, seu isolamento do mundo. Na expressão dos adolescentes, velhice é também solidão (15), tristeza (11), atenção (7), por isso necessita de ajuda (7).

Tal exclusão se faz conhecer, ainda, pelas lembranças das rugas (17) e do cansaço (13), comumente associados à perda da beleza, ligada, automaticamente, no senso comum, à imagem da saúde.

O estudo buscou também apreender como os adolescentes representavam a pessoa idosa. Intencionou-se, com isso, parear os elementos centrais surgidos com os mencionados para velhice. É relevante conhecer o núcleo central composto pelos conhecimentos desses adolescentes, porquanto toda representação está organizada em torno de um núcleo central que determina, ao mesmo tempo, sua significação e sua organização interna. Na Tabela 2, apresenta-se um panorama simplificado da ordenação das produções provenientes da Telp.

Tabela 2
Distribuição dos elementos, segundo frequência de evocação e ordem média de evocação dos adolescentes escolares do ensino médio sobre pessoa idosa. Fortaleza, CE, Brasil, 2012

De acordo com os elementos centrais, na Tabela 2, o significado de pessoa idosa é marcado pela contradição respeito e desrespeito (78), por elementos positivos, como experiência (49) e sabedoria (23). Contudo, para eles, a pessoa idosa também representa a necessidade de cuidados (32), fragilidade (19), possivelmente decorrente do processo de envelhecer e suas alterações. Ressaltam, ainda, os aspectos físicos como cabelos brancos (11), rugas (10) e cansaço (11), palavras também lembradas pelos adolescentes quando pensam na velhice.

Com isso, evidencia-se que o pensamento social arraigado pela influência do grupo permite revelar a realidade, com ênfase na observação da necessidade do respeito, apesar do desrespeito na realidade vivida pelo individual e grupal, o que poderá ser modificado com a compreensão do processo do envelhecimento.

Discussão

Inegavelmente, nas sociedades capitalistas, onde se sobressai a funcionalidade do corpo, a velhice é o momento em que a pessoa não mais oferece a mesma força de trabalho. Um dos seus dramas é o próprio recomeço ao ficar velho/idoso para exercer as funções, em consonância com o tempo do organismo, que determina a entrada na velhice. Ou, talvez, seja a disposição para o trabalho que nega seu início( 10 ). Diante dessas inquietações, para os adolescentes, a velhice é o afastamento do trabalho marcado pela aposentadoria, pelo cansaço e, principalmente, pela doença. No senso comum, com a velhice, a pessoa se torna fraca e susceptível a doenças. Essa ideia motiva a relação da velhice com a doença. Tal resultado representa a realidade, possivelmente vivida pelos adolescentes no convívio familiar e social, bem como de informações oriundas da mídia escrita e/ou falada. A associação da velhice com doença resulta de um processo social que guarda estreita relação com a perda da juventude, da sua força e vigor( 11 ). Se não existe velho forte, consequentemente, ele será doente porque estará fraco, sem forças para os enfrentamentos cotidianos. E, para os jovens, o enfraquecimento do idoso é uma característica negativa do envelhecimento( 10 , 12 ).

No concernente ao cansaço, a velhice aparece ainda como fase na qual se precisa de descanso; momento em que a pessoa tem direito a um repouso merecido, quando irá desfrutar do semeado em sua juventude. Referidos dados parecem indicar o desejo dos participantes de que, ao chegarem à velhice, possam usufruir dos privilégios e das tranquilidades supostamente garantidos nessa fase. Essa ideia do grupo sobre a velhice é um guia para implementar ações e trocas cotidianas, evidenciando uma das funcionalidades da representação social.

A sociedade contemporânea cultua o novo, a beleza, o vigor físico e a disposição para as constantes atividades, principalmente, a física( 11 , 13 ). O ideário de corpo perfeito provoca uma inibição a mais nas pessoas que envelhecem, pois se o corpo bom e ativo é o jovem, pleno de viço e frescor, com a velhice, então, identificada pelos adolescentes, a pessoa foge do estereótipo e, consequentemente, é considerada inapta ao exercer as atividades corpóreas( 12 , 14 ). Esse pensamento está reforçado, também, pela representação da velhice expressa nas palavras solidão e tristeza.

A solidão e a tristeza são noções periféricas nas quais se vislumbra o entendimento da velhice como uma etapa em que o ser humano não é mais produtivo socialmente( 11 ). Essas palavras podem representar que, ao chegar à velhice, a pessoa passa a ser desnecessária e, desse modo, pode se manter isolada, recuada e excluída da sociedade( 13 ).

O homem idoso sabe que, ao enfrentar o próprio declínio, ele o retarda. Mas envelhecer não significa ficar obsoleto ou se contrapor ao moderno. No entanto, diante das mudanças físicas, o olhar impiedoso dos outros confirma essa decadência generalizada expressa na palavra velhice. Tenta, então, mostrar aos demais e a si mesmo que permanece um homem( 14 ). Contudo, evidenciaram-se, também, matizes de ideias sobre a velhice que se estendem além da presença de adoecimentos e do isolamento social. Como citado, ela pode ser representada pela sabedoria e experiência, favorecidas pela vivência dos anos de vida. Esses são motivos de destaque e reconhecimento do potencial das pessoas que envelhecem, independente dos aspectos negativos apontados. Referidos elementos centrais elaborados pelos adolescentes organizam e refletem o senso comum suscitado por meio de estímulos oriundos da família, dos grupos de convivência e, ainda, de informações recebidas por meio das comunicações veiculadas pela mídia televisiva, escritas, dialogadas em suas diferentes modalidades, fortalecendo em seus imaginários a representação social de velhice.

As RSs dos adolescentes referem-se à forma como apreendem os fenômenos da vida cotidiana, as informações circulantes nos discursos e os acontecimentos, partilhando o mundo com as ideias de outras pessoas e seus acontecimentos. Essas relações favorecem e guiam o modo de nomear, definir e explicar os diferentes aspectos da realidade diária( 6 ). Tais acontecimentos se fundamentam nas experiências, informações, saberes que integram a trajetória de vida, porquanto a RS é um conhecimento prático. Forma-se para dar condições aos sujeitos de atuarem e lidarem com os objetos do cotidiano( 2 ).

Com a velhice, constata-se maior lentidão nos movimentos, diminuição na força muscular estática e, especialmente, alterações na dinâmica corporal decorrente do envelhecimento. Tudo isso causa grande desvantagem e predispõe o idoso ao adoecimento, refletido pelo cansaço, a tristeza e, muitas vezes, a solidão. Entretanto, a situação descrita parece ainda prevalecer na concepção de velhice e do idoso para a sociedade, sobretudo para os adolescentes, como imagens negativas, comumente partilhadas pela comunidade à qual pertencem. Favorece, assim, a elaboração de imagens com representações que podem ser conhecidas nas ações cotidianas.

Tais representações carregam o adjetivo social porque são construídas coletivamente no decurso das comunicações estabelecidas cotidianamente pelos grupos e também pela função que possuem. Mesmo ao se considerar a velhice como tema de relevância cultural e espessura social, existe, ainda, conhecimento acentuadamente fortalecido por perdas e desvantagens, ao mostrar um pensamento divergente entre o que é positivo, com ênfase de preocupação social, e o negativo, revelado pelos mitos( 6 , 12 ).

Identificar os elementos de RS dos adolescentes é tornar familiar aquilo até então desconhecido, estranho, intrigante, perturbador e socialmente relevante para os grupos. Dessa forma, talvez seja possível organizar estratégias para reacender e desvelar o tema velhice com a compreensão de suas nuances e aceitação natural do processo pelos componentes da sociedade em geral, de modo a colaborar com a desejada velhice ativa.

Para sentir esses objetos como integrantes do cotidiano e o grupo como coautor da sua criação e evolução, dá-se a representação. Isso significa que o grupo vai repensá-los à sua maneira, em seu contexto, conforme suas necessidades, desejos e interesses. O grupo se introduz em uma região de pensamento ou saber do qual foi eliminado, se investe nela e torna seu o objeto, modificando-o, representando o que tinha existência sem ele. Aí reside o poder criador da atividade representativa: parte-se de um repertório de saberes e experiências, suscetível de deslocá-los e combiná-los, para integrá-los aqui ou fazer com que se desintegrem( 5 - 6 ).

Nos dias atuais, a divulgação, pela mídia, de eventos focados nas questões da pessoa idosa, resulta em novos conhecimentos e estratégias inovadoras de tornar esse estrato populacional mais reconhecido pelo mérito na construção social. Apontam-se alternativas de tratamentos e cuidados supostamente miraculosos para adiar os efeitos físicos da velhice, como as rugas. Para tal, convidam pessoas idosas para protagonizar comerciais de produtos, incorporar personagens de sucesso, entre outros, para minimizar estigmas de que o idoso não é ativo e dependente de cuidados, como consta nos elementos centrais das RS evidenciadas.

Indiscutivelmente, as informações veiculadas pela mídia têm influência, têm suas estratégias para formatar comportamentos e identidades. Contudo, há um jogo dialético entre a mídia e os sujeitos que com ela convivem, pois esses possuem táticas peculiares de absorção e encaminhamento dos conteúdos midiáticos. Essas investidas possibilitam delinear, nas relações interpessoais do cotidiano, novos conhecimentos, teorias e concepções para repensar e representar a pessoa idosa, bem como a velhice bem-sucedida( 15 ).

O conhecimento do senso comum se configura como o conhecimento espontâneo, ingênuo, o natural e constituído pelas experiências e vivências, informações, saberes, modelos de pensamentos, pela convivência com pessoas próximas ou longínquas, como também pelo que se recebe e se transmite por meio da comunicação social. E é por meio desse limite entre o psicológico e o social que se encontra a noção de representação social, que se constitui em um conhecimento prático( 5 - 6 ). Por isso, justifica-se conhecer as RS dos adolescentes sobre a velhice e a pessoa idosa, para que se possa entender seus modos de lidar com tais objetos.

Nas RS dos adolescentes, o idoso possui experiência de vida, viveu bastante e tem muito a oferecer; por isso, merece respeito. Tal respeito deve-se à sabedoria da pessoa idosa uma vez que os anos de vida favorecem o ganho de conhecimentos evidenciado na interação de pessoas nos grupos sociais( 12 ). Na mesma dimensão de respeito, o desrespeito revela-se pela fragilidade da pessoa idosa, pela necessidade de cuidados e, especialmente, pela saída do mundo do trabalho que a mantém isolada, afastada das atividades sociais, consecutivamente, levando-a à solidão e à tristeza.

Nas RS, as imagens ganham força, e a imagem criada da pessoa idosa/velha é feia, pois a perda da beleza, caracterizada pelo surgimento de sinais físicos próprios da velhice, é vista sempre em oposição à do jovem e do belo( 2 ). São as chamadas RS ligadas a sistemas de pensamento social, que perduram no tempo e possuem estabilidade( 7 ).

Conhecer as necessidades dos idosos, o apoio do qual precisam e a sua satisfação no que tange à vida e à família é importante para que se qualifique a atenção profissional por eles requerida( 16 - 17 ), mas tão importante quanto isso é acessar as representações de adolescentes sobre esse grupo etário, para que se possa melhor compreender suas ações frente a eles e melhor prepará-los para um futuro de convivência e apoio do qual os idosos necessitam, para que tenham boa saúde e bem-estar( 18 ). Isso porque, quanto mais se estimular os adolescentes ao convívio social com idosos maior possibilidade se tem de fazer circular elementos que possam modificar as imagens negativas do velho, nesse grupo, e, assim, propiciar boas relações sociais entre ambos, as quais, aliadas ao fato de ter companhia e sentir-se querido são elementos que contribuem para uma boa qualidade de vida dos idosos( 12 , 19 ). Estudos sobre a velhice e idosos apontam, ainda, para a realização de projetos articulados entre as áreas sociais e de saúde, no sentido de melhorar as relações intergeracionais por meio de trabalhos direcionados aos mais jovens, aos idosos e familiares. Mostram como é imprescindível a especialização de enfermeiros como gerontólogos, para fortalecer sua identidade na equipe multiprofissional( 20 - 21 ).

Considerações finais

A pesquisa possibilitou conhecer a construção dos elementos de RS oriundas do conhecimento do senso comum dos adolescentes escolares. Os elementos foram explicitados por meio da linguagem e expressões do pensamento advindo da vivência e dos estímulos de informações dos grupos sociais pesquisados.

Como os resultados apontaram, representações elaboradas tornam-se mais próximas da realidade, conforme os estímulos detalhados. Em relação à velhice, de acordo com os participantes, a doença tem maior proximidade, embora relacionem também essa fase da vida à aposentadoria e à experiência que a pessoa possa adquirir com o passar dos anos. Essa ideia favorece a construção de novos modos de pensar a velhice, apesar de a representação de aposentado poder implicar afastamento da sociedade.

Por meio desta pesquisa, ainda como evidenciado, os grupos enxergam a velhice como uma etapa na qual a vida e o desenvolvimento do indivíduo estão concluídos, e prevalecem as perdas e frustrações diante do declínio físico, revelado pelas palavras cansaço, cansado e fragilidade. Ademais, a pessoa idosa possui características físicas que lhe são próprias, como cabelos brancos e rugas, necessitando de cuidados, a despeito de ter experiência e sabedoria. Evidenciou-se claramente a diferença entre o mundo consensual - discutido nas publicações de pesquisa e suas inovações sobre o homem - e o universo reificado, referente aos conhecimentos sobre a velhice e suas alterações reveladas pela senescência e senilidade.

O conhecimento das representações apontou, ainda, a necessidade de intervenções educativas, nas escolas, pelos enfermeiros, para a manutenção de diálogo viabilizador do pensar/repensar a transferência de conhecimentos sobre a velhice e idoso, pelos enfermeiros, para sensibilizar os adolescentes quanto a seus comportamentos e as atitudes na relação com os idosos.

Como limitação, destaca-se a realização da pesquisa em um único campo escolar, situado em uma capital brasileira, devendo-se, pois, ampliar as possibilidades de investigação para outras escolas da rede pública e privada, como também em outras realidades socioculturais.

Referências bibliográficas

  • 1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BR) [internet]. Sinopse do censo demográfico 2010. [acesso em: 16 de fev. 2013]. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br.
    » Disponível em: http:// www.ibge.gov.br
  • 2 Cruz RC, Ferreira MA. Um certo jeito de ser velho: representações sociais da velhice. Texto Contexto Enferm. 2011 Jan-Mar;20(1):144-51.
  • 3 World Health Organization. Young People´s Health - a Challenge for Society. Report of a WHO Study Group on Young People and Health for All. Technical Report Series 731. Genova: WHO; 1986.
  • 4 Abric JC. L'approche structurale des représentations sociales: développements récents, Psychologie et Société. 2001;2(4):81-104.
  • 5 Moscovici S. Representações Sociais: investigações em Psicologia Social. 2ª ed. Petrópolis: Rio de Janeiro (RJ): Editora Vozes; 2004.
  • 6 Jodelet D. As Representações Sociais. Rio de Janeiro (RJ): Ed. UERJ; 2001.
  • 7 Moreira ASP, Camargo BV, Jesuino JC. Nobrega SM. Perspectivas teórico-metodológica em representações sociais. Paraiba (JP): Editora Universitária; 2005.
  • 8 Santos VB, Tura LFR, Arruda MAS. As Representações Sociais de pessoa velha construídas por adolescentes. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. 2011;14(3):497-509.
  • 9 Mendes MRSSB, Gusmão JL, Faro ACM, Leite RCBO. The social situation of elderly in Brazil: a brief consideration. Acta Paul Enferm. Out-dez 2005;18(4):422-6.
  • 10 Gastaldi A, Contarello A. Uma questione di età: rappresentazioni sociali dell'invecchiamento in giovani e anziani. Ricerche di Psicologia. 2006;20(4):7-22.
  • 11 Oliveira LPBA, Menezes RMP. Representações de fragilidade para idosos no contexto da estratégia saúde da família. Texto Contexto Enferm. 2011 abr-jun;20(2):301-9.
  • 12 Söderhamn O, Lindencrona C, Gustavsson SM. Attitudes toward older people among nursing students and registered nurses in Sweden. Nurse Educ Today. 2001 apr;21(3):225-9.
  • 13 Leite FE, Gomes MR. Velho de alma jovem? Representações do idoso nas mídias. Revista Kairós. 2007;10(1):85-95.
  • 14 Beauvoir S. A velhice. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira; 1990.
  • 15 Virtuoso JS Júnior, Tribess S, Paulo TRS, Martins CA, Romo-Perez V. Physical activity as an indicator of predictive functional disability in elderly. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012; mar-apr; 20(2):259-65.
  • 16 Araújo MT, Alves M, Gazzinelle MFC, Rocha TB. Representações Sociais de profissionais de unidade de pronto atendimento sobre o serviço móvel de urgência. Texto Contexto Enferm. 2011;20(Esp):156-63.
  • 17 Halvorsrud L, Kirkevold M, Diseth A, Kalfoss M. Quality of life model: predictors of quality of life among sick older adults. Res Theory Nurs Practice. 2010;24(4):241-59.
  • 18 Mota FRN, Oliveira ET, Marques MB, Bessa MEP, Leite BMB, Silva MJ. Família e redes sociais de apoio para o atendimento das demandas de saúde do idoso. Esc Anna Nery Rev Enferm 2010 out-dez;14(4):833-8.
  • 19 Llobet MP, Avila NR, Farras J, Canut MTL. Quality of life, happiness and satisfaction with life of individuals 75 years old or older cared for by a home health care program. Rev Latino-Am Enfermagem 2011 may-june;19(3):467-75.
  • 20 Pedrazzi EC, Motta TTD, Vendrúscolo TRP, Fabrício-Wehbe SCC, Cruz IR, Rodrigues RAP. Household arrangements of the elder elderly. Rev Latino-Am. Enfermagem. 2010 jan-feb;18(1):18-25.
  • 21 Aires M, Paskunlin MG, Morais EP. Functional capacity of elder elderly: comparative study in three regions of Rio Grande do Sul. Rev Latino-Am. Enfermagem 2010 jan-feb;18(1):11-7.
  • 1
    Apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES).
  • ERRATA Volume 21 Número 1 maio-jun. 2013 Versão online - Tela 01
    Onde se lê: Maria Assunção Ferreira.
    Leia-se: Márcia de Assunção Ferreira.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2013

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2012
  • Aceito
    11 Abr 2013
location_on
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br
rss_feed Stay informed of issues for this journal through your RSS reader
Accessibility / Report Error