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Um olhar para as habilidades não técnicas do enfermeiro: contribuições da simulação


A Enfermagem, cada vez mais, depara-se com o desafio de preparar seus profissionais para o desempenho de habilidades técnicas e não técnicas. Neste sentido, a simulação, em especial a de alta fidelidade, tem sido reconhecida como aliada, com vantagens para a segurança do paciente, o trabalho em equipe, a redução de custos no cenário real e o manejo de emoções do aprendiz.

Interessa-nos, por ora, considerar as habilidades não técnicas, cuja relevância alicerça-se em saber que expressiva parcela de eventos adversos11. Lewis R, Strachan A, Smith M. Is High Fidelity Simulation the Most Effective Method for the Development of Non-Technical Skills in Nursing? A Review of the Current Evidence. Open Nurs J. 2012;6:82-9. doi: 10.2174/1874434601206010082. Epub 2012 Jul 27.
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são atribuídas ao não cumprimento com qualidade, dessas habilidades.

O termo habilidade não técnica, oriunda da aviação - nos anos 90 -, empregado em áreas distintas, incluindo-se a da saúde, refere-se às habilidades cognitivas, sociais e aos recursos pessoais que complementam as habilidades técnicas e contribuem para a segurança e desempenho eficaz de tarefas. Ou, no dizer de autores da área de saúde11. Lewis R, Strachan A, Smith M. Is High Fidelity Simulation the Most Effective Method for the Development of Non-Technical Skills in Nursing? A Review of the Current Evidence. Open Nurs J. 2012;6:82-9. doi: 10.2174/1874434601206010082. Epub 2012 Jul 27.
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-22. Flin R, O'Conner P, Crichton M. Safety at the sharp end: a guide to non-technical skills. Aldershot: Ashgate Publ; 2008., contemplam o preparo ou conhecimento da situação, a tomada de decisão ou resolução de problemas, liderança, trabalho em equipe, comunicação e a gestão do estresse e da fadiga.

Exemplos exitosos de ensino reforçam o emprego de simulações, nos mais variados cenários de atuação e em distintos graus de complexidade, como no desenvolvimento da comunicação enfermeiro-paciente, relações interprofissionais em situações críticas ou de urgências, trabalho em equipe, comunicação de más notícias, dilemas éticos, conflitos intra-equipes, manejo de situações estressoras, exercícios de liderança, dentre outros. Portanto, apontando oportunidades de desenvolvimento nos campos atitudinal, comportamental, ético e moral.

Além dos cenários clínicos tradicionalmente empregados em simulação para o desenvolvimento das habilidades não técnicas, outras formas de simulação, envolvendo games ou ambientes virtuais, são citadas na literatura. Destaca-se a contribuição do Second Life33. Aebersold M, Tschannen D. Simulation in Nursing Practice: The Impact on Patient Care. OJIN: Online J Issues Nurs. 2013;18(2); manuscript 6. doi: 10.3912/OJIN.Vol18No02Man06.
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, um ambiente virtual aberto de livre acesso, ainda pouco usado na Enfermagem.

Um dos pontos cruciais no ensino ou treinamento das habilidades, sobretudo as não técnicas, é a sua avaliação. Modelos para esta finalidade têm apontado para o uso de indicadores de comportamentos (observáveis). Recente revisão da literatura44. Dietz AS, Pronovost PJ, Benson KN, Mendez-Tellez PA, Dwyer C, Wyskiel R, et al. A systematic review of behavioural marker systems in healthcare: what do we know about their attributes, validity and application? BMJ Qual Saf. 2014;23(12):1031-9. doi:10.1136/bmjqs-2013-002457
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identificou diversos métodos de medidas de comportamentos observáveis, mas os autores consideraram que tais métodos não estavam validados ou suas propriedades não eram fortemente sustentadas, o que os levou a sugerir a necessidade de desenvolvimento de sistemas fiáveis para o treinamento de profissionais.

Alguns dos instrumentos de avaliação atualmente conhecidos na área de saúde seguiram as recomendações da European taxonomy of pilots' non-technical skills (NOTECHS)55. Flin R, Martin L, Goeters KM, Hörmann HJ, Amalberti R, Valot C, Nijhuis H. Development of the NOTECHS (non-technical skills) system for assessing pilots' CRM skills. Human Factors Aerospace Saf. 2003;3(2):95-117.,composta pelas categorias cooperação, liderança e competências gerenciais, percepção da situação e tomada de decisão, cada uma subdividida em elementos e marcadores comportamentais.

Destacamos que tanto os instrumentos criados para area médica, os que avaliam os comportamentos de profissionais durante procedimentos de anestesia e cirurgia ou as percepções das interações entre a equipe durante cirurgia, dentre outros, quanto aqueles instrumentos criados pela enfermagem, que avaliam os julgamentos clínicos de enfermeiros, dentre outros, são relevantes e contribuem para avaliação das habilidades não técnicas em situação de simulação, sobretudo se acurados e compostos por indicadores observáveis.

Contudo, ainda há um amplo caminho a percorrer quanto ao treino e avaliação dessas habilidades em contexto de eventos de larga escala, como acidentes ou desastres naturais, em especial para desenvolvimento de comportamentos ou habilidades de colaboração, negociação e comunicação66. BMC Medical Education BMC series - open, inclusive and trusted 2016;16:83 doi: 10.1186/s12909-016-0588-2.
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Familiarizar-se com tal técnica de ensino e com os instrumentos de avaliação dessas habilidades, essenciais ao exercício profissional, aproveitando as suas potencialidades, tem sido um desafio para a área de saúde, em especial da enfermagem. Cabe aos formadores e instituições, tanto reconhecerem tais contribuições como prepararem-se para o seu efetivo uso.

References

  • 1
    Lewis R, Strachan A, Smith M. Is High Fidelity Simulation the Most Effective Method for the Development of Non-Technical Skills in Nursing? A Review of the Current Evidence. Open Nurs J. 2012;6:82-9. doi: 10.2174/1874434601206010082. Epub 2012 Jul 27.
    » https://doi.org/10.2174/1874434601206010082
  • 2
    Flin R, O'Conner P, Crichton M. Safety at the sharp end: a guide to non-technical skills. Aldershot: Ashgate Publ; 2008.
  • 3
    Aebersold M, Tschannen D. Simulation in Nursing Practice: The Impact on Patient Care. OJIN: Online J Issues Nurs. 2013;18(2); manuscript 6. doi: 10.3912/OJIN.Vol18No02Man06.
    » https://doi.org/10.3912/OJIN.Vol18No02Man06
  • 4
    Dietz AS, Pronovost PJ, Benson KN, Mendez-Tellez PA, Dwyer C, Wyskiel R, et al. A systematic review of behavioural marker systems in healthcare: what do we know about their attributes, validity and application? BMJ Qual Saf. 2014;23(12):1031-9. doi:10.1136/bmjqs-2013-002457
    » https://doi.org/10.1136/bmjqs-2013-002457
  • 5
    Flin R, Martin L, Goeters KM, Hörmann HJ, Amalberti R, Valot C, Nijhuis H. Development of the NOTECHS (non-technical skills) system for assessing pilots' CRM skills. Human Factors Aerospace Saf. 2003;3(2):95-117.
  • 6
    BMC Medical Education BMC series - open, inclusive and trusted 2016;16:83 doi: 10.1186/s12909-016-0588-2.
    » https://doi.org/10.1186/s12909-016-0588-2

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016
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