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Metodologia da pesquisa para enfermeiras de um hospital universitário

Metodología de investigación para enfermeras de un hospital universitario

Research methodology for nurses at a university hospital

Resumos

Este artigo trata de pesquisa descritivo-analítica sobre práticas educativas em metodologia de pesquisa dirigidas a enfermeiras assistenciais de um hospital universitário, visando a aquisição de competências em investigação científica, tendo como base a aprendizagem por descoberta, tutoramento e estratégias do ensino humanista. Participaram do programa 86 enfermeiras, das quais 70 concluíram seus projetos. Desses, 28 resultaram em trabalhos científicos, em sua maioria relatos de experiência, pesquisas descritivas e exploratórias. Segundo as enfermeiras, o programa proporcionou-lhes a aquisição e aplicação de conhecimentos em pesquisa. Apontaram, como principais dificuldades, a falta de domínio da metodologia científica e as limitações nas condições administrativas e de trabalho na instituição. Entre os aspectos facilitadores destacaram a importância da pesquisa para modificação da prática, a divulgação dos resultados e a colaboração para manutenção de um centro de pesquisas. O estudo revelou a necessidade de flexibilização do planejamento das atividades educativas, orientação contínua e respeito às particularidades de cada enfermeira.

pesquisa em enfermagem; pesquisa em educação de enfermagem; enfermeiras clínicas


Este artículo trata de una investigación descriptivo-analítica sobre prácticas educativas en metodología de investigación para enfermeras clínicas de un hospital universitario, con vistas a la adquisición de competencias en investigación científica, basada en el aprendizaje por descubrimiento, el tutoramiento y estrategias de enseñanza humanista. Participaron del programa 86 enfermeras, de las cuales 70 concluyeron sus proyectos. 28 de estos resultaron en trabajos científicos, en su mayoría relatos de experiencia, investigaciones descriptivas y exploratorias. Según las enfermeras, el programa les proporcionó la adquisición y aplicación de conocimientos en investigación científica. Apuntaron como principales dificultades la falta de dominio de la metodología científica y las limitaciones en las condiciones administrativas y laborales de la institución. Entre los aspectos facilitadores mencionaron la importancia de la investigación científica para modificar la práctica, la divulgación de los resultados de sus investigaciones y la colaboración para el mantenimiento de un centro de investigación en enfermería. El estudio evidenció la necesidad de flexibilización del planeo de actividades educacionales, de orientación continua y de respeto a las particularidades de cada enfermera.

investigación en enfermería; investigación en educación de enfermería; enfermeras clínicas


This article discusses a descriptive-analytic study on research methodology education practices directed at nurse clinicians who work at a university hospital and aimed at acquiring scientific research competencies on the basis of discovery learning, tutorials and humanistic teaching strategies. Study participants were eighty-six nurses, 70 of whom concluded their projects. 28 of these resulted in scientific studies, most of which were experience reports, descriptive and exploratory investigations. According to the nurses, the program allowed them to acquire and apply their research know-how. They pointed out the lack of mastering scientific methodology and the limitations of administrative and work conditions at the institution as the main difficulties. Among the facilitators, they highlighted the importance of research to modify clinical practice, the publication of results and the collaboration for the maintenance of a research center. The study showed the need for a flexible planning of educational activities, permanent guidance and respect for the particularities of each nurse.

nursing research; nursing education research; nurse clinicians


ARTIGO ORIGINAL

Metodologia da pesquisa para enfermeiras de um hospital universitário1 1 Trabalho extraído da tese de doutorado apresentada à Universidade Federal de São Paulo, em fevereiro de 2003

Research methodology for nurses at a university hospital

Metodología de investigación para enfermeras de un hospital universitario

Ana Maria DyniewiczI; Maria Gaby Rivero de GutiérrezII

IDoutor, Docente da Pós-Graduação da FEPAR, e-mail: anadyni@netbank.com.br

IIOrientador, Doutor, Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo

RESUMO

Este artigo trata de pesquisa descritivo-analítica sobre práticas educativas em metodologia de pesquisa dirigidas a enfermeiras assistenciais de um hospital universitário, visando a aquisição de competências em investigação científica, tendo como base a aprendizagem por descoberta, tutoramento e estratégias do ensino humanista. Participaram do programa 86 enfermeiras, das quais 70 concluíram seus projetos. Desses, 28 resultaram em trabalhos científicos, em sua maioria relatos de experiência, pesquisas descritivas e exploratórias. Segundo as enfermeiras, o programa proporcionou-lhes a aquisição e aplicação de conhecimentos em pesquisa. Apontaram, como principais dificuldades, a falta de domínio da metodologia científica e as limitações nas condições administrativas e de trabalho na instituição. Entre os aspectos facilitadores destacaram a importância da pesquisa para modificação da prática, a divulgação dos resultados e a colaboração para manutenção de um centro de pesquisas. O estudo revelou a necessidade de flexibilização do planejamento das atividades educativas, orientação contínua e respeito às particularidades de cada enfermeira.

Descritores: pesquisa em enfermagem; pesquisa em educação de enfermagem; enfermeiras clínicas

ABSTRACT

This article discusses a descriptive-analytic study on research methodology education practices directed at nurse clinicians who work at a university hospital and aimed at acquiring scientific research competencies on the basis of discovery learning, tutorials and humanistic teaching strategies. Study participants were eighty-six nurses, 70 of whom concluded their projects. 28 of these resulted in scientific studies, most of which were experience reports, descriptive and exploratory investigations. According to the nurses, the program allowed them to acquire and apply their research know-how. They pointed out the lack of mastering scientific methodology and the limitations of administrative and work conditions at the institution as the main difficulties. Among the facilitators, they highlighted the importance of research to modify clinical practice, the publication of results and the collaboration for the maintenance of a research center. The study showed the need for a flexible planning of educational activities, permanent guidance and respect for the particularities of each nurse.

Descriptors: nursing research; nursing education research; nurse clinicians

RESUMEN

Este artículo trata de una investigación descriptivo-analítica sobre prácticas educativas en metodología de investigación para enfermeras clínicas de un hospital universitario, con vistas a la adquisición de competencias en investigación científica, basada en el aprendizaje por descubrimiento, el tutoramiento y estrategias de enseñanza humanista. Participaron del programa 86 enfermeras, de las cuales 70 concluyeron sus proyectos. 28 de estos resultaron en trabajos científicos, en su mayoría relatos de experiencia, investigaciones descriptivas y exploratorias. Según las enfermeras, el programa les proporcionó la adquisición y aplicación de conocimientos en investigación científica. Apuntaron como principales dificultades la falta de dominio de la metodología científica y las limitaciones en las condiciones administrativas y laborales de la institución. Entre los aspectos facilitadores mencionaron la importancia de la investigación científica para modificar la práctica, la divulgación de los resultados de sus investigaciones y la colaboración para el mantenimiento de un centro de investigación en enfermería. El estudio evidenció la necesidad de flexibilización del planeo de actividades educacionales, de orientación continua y de respeto a las particularidades de cada enfermera.

Descriptores: investigación en enfermería; investigación en educación de enfermería; enfermeras clínicas

INTRODUÇÃO

Enfermeiras de campo hospitalar têm mostrado dificuldades para participar de investigações científicas devido a questões próprias da formação, bem como das condições de trabalho. No entanto, reconhecem que a prática de cuidar deve estar embasada na prática de pesquisar, estimulando e auxiliando na aproximação de ambas em benefício da assistência(1-4).

Consideração a respeito, tomada de empréstimo de uma pesquisa de campo, mostra que a comunidade científica espera que as enfermeiras incorporem e apliquem resultados de pesquisas. Mas, para essas, embora cuidar e pesquisar sejam práticas teoricamente complementares, no cotidiano da prática assistencial são excludentes, pois, além de não fazer parte de seu dia-a-dia de trabalho, não vêm a possibilidade de incorporá-la. Elas atribuem à pesquisa a característica de uma prática intangível, um investimento pessoal e com lugar demarcado por docentes, ou por aqueles que possuem esse objetivo no futuro(3).

Nessa perspectiva, é necessário considerar que o campo de desenvolvimento da pesquisa e o avanço do conhecimento científico em Enfermagem vêm ocorrendo, de modo prioritário, em ambientes acadêmicos, tendo sua história construída com algum trânsito no campo da prática(1-5).

Reconhecida como essencial, mas ainda com entraves para seu desenvolvimento, a ação investigativa em campo clínico possibilita que a enfermeira adquira, produza e aprofunde conhecimentos, atualize e avalie suas práticas, cresça profissionalmente pelo estímulo à reflexão de novas formas de conduzir seu trabalho e desperte para a necessidade do conhecimento estruturado cientificamente.

Há mais de uma década já se destacava a necessidade de incrementar o empenho em pesquisa para a expansão do corpo de conhecimento em Enfermagem, alertando que essa expansão terá pouco significado e impacto se o conhecimento ficar restrito aos pesquisadores, devendo compor o repertório daqueles que se encontram ligados diretamente com a prática assistencial(5).

Estudos realizados por enfermeiras norte-americanas sobre as barreiras para a efetivação desse propósito, qual seja, o de promover o uso da pesquisa em campo prático, utilizando os resultados de pesquisa da literatura apontam: a necessidade de maior crença das enfermeiras sobre os benefícios da pesquisa na prática; o isolamento nas discussões sobre pesquisa com colegas; sentimentos de incapacidade para avaliar a qualidade e a aplicabilidade de pesquisas, como os maiores empecilhos. Como limites organizacionais apontam: tempo insuficiente, no trabalho, para revisão e implementação de resultados e/ou novas idéias; autoridade insuficiente para proceder mudanças nos procedimentos utilizados na assistência aos pacientes; falta de apoio ou cooperação de médicos e outros colegas; impedimentos por parte da administração para implementação de pesquisas e falta de tempo para leituras(6-8).

A respeito da qualidade das pesquisas alguns limitantes descritos são: a necessidade de maior replicação de pesquisas, na prática; dúvidas sobre os seus resultados; metodologia inadequada e conclusões não justificadas. E, entre as barreiras nas características de comunicação destacam: a falta de entendimento das análises estatísticas, de clareza e objetividade de implicações da pesquisa na prática e dificuldades para localizar a literatura relevante(6-7).

Tendo como cenário o contexto descrito acima, este artigo discorre sobre os resultados de uma pesquisa descritivo-analítica, de práticas em metodologia de pesquisa, dirigidas para enfermeiras clínicas, com o propósito de capacitá-las para elaborar e desenvolver projetos de pesquisa, bem como divulgar seus resultados.

METODOLOGIA

Sujeitos e local da pesquisa

Este estudo foi realizado no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que conta com 635 leitos para as mais diversas especialidades, com 80% da taxa de ocupação destinada ao Sistema Único de Saúde (SUS). São executados, aproximadamente, nos 270 ambulatórios com quarenta especialidades médicas e cirúrgicas, 80 mil atendimentos e 2100 internações ao ano.

A Direção Geral é formada por sete Direções de Área e três assessorias: Direção de Enfermagem, Médica, Corpo Clínico, Administrativa, Recursos Humanos, Técnica, Financeira e as Assessorias de Informática, Planejamento e Comunicação. A Direção de Enfermagem está vinculada diretamente à Direção Geral; participa do CODIR (Conselho Diretivo) e do COAD (Conselho de Administração), órgão máximo de deliberação e decisão da instituição.

O quadro de trabalhadores é formado por funcionários da FUNPAR (Fundação da Universidade Federal do Paraná para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Cultura), contratados pela CLT e por servidores da Universidade, admitidos por concurso público, portanto, estatutários.

A Direção de Enfermagem conta com 1090 funcionários, dentre os quais 229 Enfermeiros, 143 Técnicos de Enfermagem, 673 Auxiliares de Enfermagem e 04 Atendentes de Enfermagem. A Diretora de Enfermagem, cargo de confiança do Diretor Geral, é escolhida por lista de nomes mais votados ou indicados pelo grupo de Enfermagem.

A Direção de Enfermagem possui regulamento próprio e está subdividida em cinco Coordenações de Área: Clínica, Ambulatorial, Materno-Infantil, Cirúrgica e Área Crítica. Existe também, desde a última eleição, uma Coordenação Geral de Enfermagem, diretamente ligada à Direção de Enfermagem.

Conforme o organograma da instituição, subordinados às Coordenações estão os Serviços de Enfermagem. Na chefia desses estão enfermeiras responsáveis pelo desempenho das equipes de Enfermagem, além do gerenciamento das unidades de serviço. Essas enfermeiras, geralmente, assumem esse cargo ou por estar há mais tempo na área, ou por serem escolhidas pela Coordenadora, considerando seu destaque gerencial ou técnico.

Este estudo foi direcionado para 202 profissionais, em sua maioria do sexo feminino, excluindo do total do quadro aquelas em férias ou licenças. Os cargos ocupados eram de Coordenadoras de Área, Enfermeiras de Unidades de Internação ou de Ambulatórios, lotadas nas 32 Unidades do HC que integravam cinco Coordenações: Crítica, Clínica, Cirúrgica, Ambulatorial e Materno-Infantil.

O desenvolvimento de práticas educativas em metodologia da pesquisa para as enfermeiras da instituição deu-se por meio de aulas teóricas, orientações individuais e seminários para apresentação de projetos, tal como apresentado a seguir.

Dinâmica das práticas educativas

Para a elaboração do planejamento das práticas em metodologia de pesquisa, afinado com o contexto de realidade das enfermeiras, foi realizada análise da produção técnica e científica das enfermeiras da instituição no período de 1996 a 1999.

Diante do levantamento realizado, observou-se que a atividade de pesquisa desenvolvida era quase inexistente. Assim, foram planejadas atividades didático-pedagógicas para o ensino de metodologia da pesquisa, conforme exposto na Tabela 1.

O desempenho esperado das enfermeiras, os conteúdos, as técnicas, os recursos e formas de avaliação dos cursos, detalhados na Tabela 1, seguiram algumas estratégias que, em síntese, foram:

- desenvolvimento de exposições teóricas, concomitantes aos exercícios práticos, promovendo participação ativa das enfermeiras nas atividades em classe;

- preparo de material didático, pensado e planejado antecipadamente, mas com acréscimos e ajustes ao longo dos cursos, conforme a necessidade de cada turma. Distribuir o material didático para cada participante, com antecedência e custeado pela instituição;

- ênfase na elaboração do projeto de pesquisa, como um plano de idéias que receberia ajustes e seria implementado com suporte de orientações individuais, avaliadas por meio de anotações realizadas em Fichas de Acompanhamento de Projetos de Pesquisa;

- avaliação do Primeiro módulo de cursos de Metodologia da Pesquisa por meio da aplicação de dois instrumentos: um elaborado para este estudo e outro elaborado e aplicado pela Direção de Recursos Humanos (DRH) da instituição. A avaliação do Segundo módulo ocorreu por meio da aplicação de um instrumento para fins deste estudo.

No que se refere ao desenvolvimento dos cursos, tomou-se como base a concepção de aprendizagem por descoberta(9), por meio de exposição teórica de conceitos, normas e regras em pesquisa, em um conjunto de eventos planejados para iniciar, ativar, manter e sustentar os processos internos da aprendizagem, demonstrada quando se aplicam conceitos informados. Com característica interativa e participante, a concepção, também nomeada de heurística da descoberta, procurou desenvolver a capacidade crítica geral de pensar, de modo a promover o crescimento ordenado e seqüencial do conhecimento em investigação científica, desenvolvido no contexto da realidade das enfermeiras assistenciais.

Nas estratégias didáticas, buscou-se o estímulo para a descoberta de conceitos e generalizações(10) que, para este estudo, foram informações e dados sobre pesquisa esquematizados seletivamente e organizados dentro de uma seqüência organizada. Também, seguindo as orientações dessa abordagem pedagógica, houve a preocupação de que a aprendizagem em pesquisa fosse próxima do contexto da realidade das enfermeiras, pois o contato mais íntimo com experiências concretas em situações reais, possibilita abstrações e generalizações, partindo de dados empíricos.

No segundo módulo de cursos, tendo como pré-requisito a conclusão do primeiro, a proposta de aprendizagem manteve as bases teóricas da aprendizagem por descoberta, mas com o propósito do salto indutivo(9-10). Para tal, houve revisão de conceitos sobre a estruturação de um projeto de pesquisa, em exposições teóricas e análise de artigos publicados em periódicos indexados com a finalidade de que a enfermeira pudesse usar desse conhecimento para finalidades diversas, sobretudo para combiná-lo com novas idéias, resultando na resolução de problemas de seu projeto ou mesmo multiplicando sua aplicabilidade para o que lhe conviesse, adquirindo progressivas habilidades e generalizações, tornando-a apta a resolver novos problemas.

Convém ressaltar que em todos os cursos, orientações e seminários não houve a intenção específica de tornar as enfermeiras pesquisadoras. A finalidade era incentivá-las a participarem do universo da pesquisa, auxiliá-las na organização metodológica de idéias, conhecimentos e experiências.

Nesta fase foi incluída a abordagem humanista(11), buscando dar às atividades didáticas um caráter mais interativo e reflexivo, visando imprimir maior dinamismo na participação, intermediação e socialização de saberes entre as participantes.

A intenção dessas estratégias era proporcionar maior participação das enfermeiras nos rumos de seus projetos, conjugando interesses mútuos. Também, houve o cuidado de manter maior contato informal com elas, com a intenção de possibilitar a aprendizagem mais vinculada com as experiências e motivações de cada uma, em particular.

Essa experiência foi um trabalho de mútuo aprendizado, com as enfermeiras tratando, dentro de seu tempo e à sua maneira, de assunto consoante com seu contexto de realidade, ao mesmo tempo em que se buscava desenvolver um projeto de pesquisa, apesar das dificuldades de cada uma nesse processo.

Considerando que as participantes do segundo módulo haviam adquirido conhecimentos básicos e essenciais em pesquisa, esperava-se mais autonomia para a busca de soluções para os problemas levantados no desenvolvimento de seus projetos, inclusive pelo fato de que permaneciam com agendamentos de orientações individuais desde o primeiro módulo de cursos.

Porém, diante das dificuldades encontradas pelas enfermeiras para participar dos cursos, como pode ser observado pelo número decrescente de inscritas (Tabela 1), optou-se por suspendê-los, mantendo e implementando a aprendizagem em metodologia da pesquisa por meio do tutoramento(9), representada neste estudo pelas já citadas orientações individuais, que consistiram em momentos de aproximação e instrução individual, adaptados às necessidades pessoais de cada enfermeira.

Para o tutoramento foram organizados agendamentos de encontros, em três dias por semana, em turnos correspondentes ao expediente das enfermeiras. Foi providenciado pela Direção de Enfermagem um espaço físico próprio para essas atividades, com infra-estrutura e recursos didáticos necessários. Considerando a complexidade de cada projeto, os problemas nas unidades de serviço que impossibilitavam, às vezes, a enfermeira de participar da orientação, as dificuldades de escrita e a falta de tempo para estudos, a participação para o desenvolvimento do projeto foi em média de 6 a 10 encontros que variavam de 1 a 2 horas, às vezes mais, às vezes menos, fora o tempo para a redação do relatório final. Assim, cada enfermeira teve, no mínimo seis horas de orientação individualizada e, no máximo, 20 horas.

Para tal, foram criadas condições para influenciar a aprendizagem(9-11), tais como: procedimentos práticos para atingir objetivos; formas diferenciadas de linguagem oral e escrita; incentivo de capacidades; estímulo para desenvolver padrões próprios para cada situação; comparar realizações à medida que a aprendizagem evolui. Ainda, levou-se em consideração a maleabilidade de tempo para o trabalho para a exigüidade pedagógica(9). Foi preciso considerar o gasto de tempo implicado na estruturação, desenvolvimento e divulgação dos resultados da pesquisa, que foi diferente para cada enfermeira. Em sua maioria as tarefas foram consideradas de difícil aprendizagem, ou seja, uma complexa trajetória de desenvolvimento cognitivo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sendo a estruturação, desenvolvimento e conclusão de projetos de pesquisa o foco central das atividades selecionadas para que as enfermeiras desenvolvessem as competências e habilidades necessárias em investigação científica, apresentam-se, a seguir, os resultados do andamento dos projetos correspondentes ao período de fevereiro de 2000 a dezembro de 2002.

Tabela 2

Dentre as 86 enfermeiras que participaram do estudo, o que representa 42,5% do total de potenciais candidatas para participarem do mesmo (na época, havia 202 enfermeiras em atividade), 70 (81,4%) concluíram seus projetos, dos quais 28 (40%) foram desenvolvidos e os resultados divulgados em periódico de enfermagem, indexado, ou em eventos como Anais. Vale lembrar, ainda, que, no início da implantação deste estudo, a atividade de pesquisa, por parte das enfermeiras dessa instituição, era inexpressiva.

Para incentivar a implementação de projetos concluídos, porém não desenvolvidos, bem como dos inconclusos foram realizados encontros com as autoras para discutir o assunto, bem como orientação na biblioteca anexa ao HC para facilitar o acesso ao material bibliográfico, mas não foi possível reverter a situação.

As principais razões apontadas foram: dificuldade para associar a teoria com a prática e para escrever o projeto e falta de pessoal de Enfermagem nas unidades, como conseqüência de greves na instituição, somada à falta de material e equipamento nas unidades. Essa situação ocasionava maior consumo de tempo da enfermeira na tentativa de equacioná-la, resultando no adiamento das atividades relacionadas ao projeto para outro momento, que nem sempre se apresentava.

Outras limitações foram relacionadas à falta de leitura do material já fornecido e de bibliografia, justificada pela dificuldade de encontrar literatura, tempo para ler, impossibilidade de ir à biblioteca, de fazer traduções e outras razões como desconhecimento ou não acesso aos programas de computador para digitação ou buscas bibliográficas, indisponibilidade de tempo fora do local de trabalho para avançarem no desenvolvimento do projeto.

Embora se compreenda que a aquisição de conhecimento é processual e que cada enfermeira tinha um tempo próprio para demonstrar a aquisição de conhecimentos na estruturação e desenvolvimento do seu projeto de pesquisa, os fatores limitantes estiveram relacionados com condições pessoais, profissionais, contextuais e de ambiente. Em especial, observou-se que a exposição e articulação de idéias por meio da linguagem escrita, visando a redação de projetos, configuraram-se em grande obstáculo.

Os projetos concluídos foram classificados, tomando-se por base as normas de publicação de periódicos indexados, que descreviam critérios de classificação de trabalhos científicos numa abrangência que atendia os interesses deste estudo, bem como as Linhas de Pesquisa em Enfermagem(12), tal como apresentado na Tabela 3.

Observa-se, na Tabela 3, que o maior número de trabalhos desenvolvidos foi na modalidade de relatos de experiência, entendidos como uma metodologia de observação sistemática da realidade, sem o objetivo de testar hipótese, mas estabelecendo relações entre achados dessa realidade e bases teóricas pertinentes, fornecendo informações importantes para o desenvolvimento de outros tipos mais elaborados de pesquisa.

Desdobramentos das práticas educativas

Um dos desdobramentos das ações de pesquisa na instituição foi na vertente da possível constituição de uma linha de pesquisa, que emergiu do próprio grupo de enfermeiras que tinham em comum o interesse pelo tema: práticas educativas em saúde para pacientes e clientes atendidos na instituição.

A constatação dessa afinidade e a convicção de que a atividade de pesquisa requer o trabalho cooperativo de um grupo impulsionou a constituição, em março de 2001, do Núcleo de Estudo e Pesquisa de Práticas Educativas em Enfermagem (NEPPEN).

Conforme estabelecido no projeto do NEPPEN, em 15 e 16 de maio de 2001, 11 enfermeiras relataram em seminários como realizavam suas práticas educativas. Essas apresentações nortearam alguns temas para estudo e/ou pesquisa, vinculados por interesses comuns. Para iniciar as discussões dos temas, em 12 de junho de 2001, foi convidada uma enfermeira-docente para uma discussão sobre a Teoria do Vínculo. A seguir, em 17 de julho, outra convidada trouxe para debate os Fatores de Resistência a Mudanças.

Em agosto desse ano, os seminários e as reuniões programadas foram cancelados, dentre outros motivos, em razão da greve deflagrada pelo funcionalismo público. A adesão de enfermeiras e profissionais de nível médio de Enfermagem ao movimento provocou sobrecarga de trabalho nas unidades de serviço, impossibilitando a efetivação dos encontros agendados e outros futuros, acabando por desagregar o grupo.

O outro desdobramento de ordem institucional, que ocorreu pela necessidade de destinar um espaço físico e infra-estrutura para viabilizar as atividades de estudo e pesquisa das enfermeiras, foi a estruturação do Centro de Estudo e Pesquisa em Enfermagem (CEPENF), cujo Regimento foi elaborado e aprovado pela Direção de Enfermagem que o apresentou em reunião ordinária do Conselho de Administração (COAD) em 07 de maio de 2001, registrado em ata.

O CEPENF esteve em pleno funcionamento de fevereiro de 2000 até maio de 2001, no entanto, mudança na política institucional, decorrente da transição para uma nova gestão universitária, redundou no redimensionamento do apoio a determinados projetos, entre os quais o do CEPENF. Assim, foi solicitada a desocupação daquele espaço com a justificativa da necessidade de ampliação de áreas e realizada a sua transferência para uma dependência localizada nas imediações do hospital. Conseqüentemente, as atividades de pesquisa das enfermeiras, incluindo as orientações individuais, passaram a ser ora nas unidades de serviço, ora na biblioteca anexa ao hospital.

Essa situação foi mantida, mesmo após o término do Doutorado, em fevereiro de 2003, perdurando até setembro de 2004. Nesse período, manteve-se a colaboração com o grupo de enfermeiras interessadas em continuar as atividades de pesquisa, auxiliando-as na elaboração de novos projetos; de resumos de trabalhos para publicação em periódicos indexados, ou apresentação em eventos científicos; de projetos para seleção de doutorado, mestrado e monografia de cursos de especialização, além de outras atividades como colaboração na organização e publicação de livro, capítulo de livro e organização de eventos.

Mantendo a abordagem de ensino humanista, em suas características interativas e participativas, acredita-se ter conseguido plantar a semente do espírito da investigação científica na instituição. Cabe a essa regá-la e adubá-la para que germine e dê frutos.

Os desdobramentos das práticas educativas possibilitaram observar alguns fatos em particular. A vinculação explícita entre a produção de conhecimento e os problemas da prática são fundamentais para intervir na transformação da realidade, tanto na Enfermagem como em outras disciplinas. As articulações entre saberes, interesses, metas e desafios resultantes do trabalho coletivo são uma complexa e importante tarefa na construção de conhecimento socialmente relevante, na medida em que identificam e respondem a demandas de saúde da população, agregam competências, fortalecem relações e possibilitam a constituição de novos grupos de pesquisa(13).

Por outro lado, a cultura organizacional da instituição em que foi desenvolvido este estudo, de sujeição e controle como código regente e também de falta de valorização da pesquisa como instrumento para alavancar o crescimento do grupo de profissionais que ali atuam não possibilitou a implantação de propostas para estruturar e projetar o trabalho de investigação em Enfermagem.

Embora na Enfermagem haja circunstâncias histórico-culturais que foram sendo produzidas e articuladas ao longo de um tempo, impedindo o pleno desenvolvimento da investigação científica, as enfermeiras não podem se isentar de tratar e enfrentar essa problemática, mesmo que isso resulte em lenta, densa e difícil discussão entre o saber adquirido na prática e a teorização que lhe dê sustentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conduzir as práticas educativas em metodologia da pesquisa e divulgar os resultados da produção científica das enfermeiras assistenciais exigiram o enfrentamento de acontecimentos relacionados ao contexto institucional onde elas se realizaram, representado por dificuldades estruturais do hospital, fragilidades de interações em diferentes níveis hierárquicos, impasses no cotidiano da assistência e gerência em Enfermagem, bem como a insatisfação das enfermeiras pelas condições de trabalho, dificuldades com o método científico, entre outras questões anunciadas de modo objetivo e subjetivo pelas enfermeiras no decorrer desta experiência.

Essa realidade, de modos diversos e em diferentes ambientes de campo hospitalar, tem sido apontada na literatura(1-4,6-7,14-15), reforçando a imperativa necessidade de estudos e discussões mais amplas sobre a prática da investigação pela enfermeira clínica.

A situação aponta a ausência de uma política institucional de valorização de recursos humanos, evidenciada pela falta de comprometimento com a qualificação das enfermeiras, por razões que, possivelmente, decorrem da suposta isenção, por parte de administradores, de suas responsabilidades diante das necessidades da assistência em Enfermagem, bem como aqueles desafios a serem enfrentados pelas enfermeiras para reconhecer e lutar por espaços que lhes são devidos, mas freqüentemente ignorados.

Por outro lado, os administradores, ao reproduzirem o modelo dominante de gestão, garantem uma cultura organizacional pela ótica de interesse de grupos que detêm e mantêm o poder, conforme seus valores, crenças e convicções, impossibilitando o desenvolvimento e a garantia da inovação pela pesquisa, revestida em produtividade com qualidade, satisfação e reconhecimento científico e social. Ainda nessa dimensão, a representatividade da enfermeira na comunidade científica de Enfermagem fica prejudicada, pela falta de oportunidades para mostrar seu potencial para o desenvolvimento de pesquisas.

Sob tal aspecto, a dimensão política das interações entre níveis hierárquicos da instituição é, ainda, um território a ser explorado, pois o trânsito preliminar nesses espaços permitiu a compreensão dos modos como se articulam e conformam o trabalho em Enfermagem. Conseqüentemente, evidenciou-se quão difícil é realizar negociações de interesse coletivo, quando há apriorismo de domínios e verticalização de ações e decisões nas estruturas administrativas da instituição onde este estudo foi realizado.

Dessa maneira, as experiências nas práticas educativas permitiram tomar conhecimento e atuar mediante a macro e a microestrutura social da instituição. Uma visibilidade do entorno(16), chamada de junção do conhecimento dos acontecimentos ao conjunto de sistemas que os constituem, ou seja, "todo o sistema conceitual suficientemente rico inclui, necessariamente, questões a que ele não pode responder através dele mesmo, mas a que ele só pode responder referindo-se ao exterior desse sistema".

A respeito da temporalidade para a aprendizagem em pesquisa em Enfermagem, destaca-se que o tempo e tolerância são atributos necessários das enfermeiras-pesquisadoras, orientando colegas em campo clínico, para que não percam a confiança em suas habilidades. Tendo em vista que o objetivo de produzir conhecimento através da pesquisa é o de guiar a prática, torna-se essencial a articulação das enfermeiras de serviços com as docentes na condução dos resultados produzidos para boas práticas profissionais(17).

Ainda, destaca-se que a especificidade de maior interesse em Enfermagem é prestar cuidado ao cliente. E, esse ponto crucial é o principal indicativo de objetos de estudo, cujos métodos de investigação serão bons desde que sejam aplicados ao propósito de edificar um corpo teórico suficiente e valioso para sustentar uma posição profissional, tenham qualidade e quantidade de resultados de que a Enfermagem necessita e que provoquem o impacto esperado tanto no campo do conhecimento como no campo social. Como tal, o domínio da investigação científica torna-se mais que uma necessidade, um dever de todos, porque as conseqüências estarão refletidas no processo de formação de enfermeiros na graduação, educação continuada e mesmo na pós-graduação(18).

As experiências neste estudo mostraram que ter na realidade empírica o objeto de pesquisa possibilitou para as enfermeiras, dentre outros ganhos, evidenciar o valor simbólico das práticas educativas, pois foram além do incentivo para incorporar-se ao espírito de pesquisa e do início da inserção das enfermeiras no circuito científico. Afinal, de uma maneira ou de outra, as enfermeiras desenvolveram uma obra-prima, descobrindo, exprimindo e partilhando as representações de seu trabalho de maneira significativa.

Como recomendações para atividades semelhantes às relatadas neste estudo sugere-se:

- acolher e desenvolver temas de pesquisa advindos do próprio repertório das enfermeiras;

- promover a formação de uma rede de trabalho entre enfermeiras, educadoras e pesquisadoras, ampliando horizontes, não só sobre os problemas do cotidiano, mas também sobre as possibilidades metodológicas para resolvê-los;

- a estruturação de projetos de pesquisa que tomem como norteador a replicação de estudos disponíveis na literatura(8);

- o compromisso das enfermeiras com o desenvolvimento do projeto de pesquisa e sua formalização em instância superior da instituição.

Finalmente, explorar a crença que a investigação científica na prática e com as enfermeiras é um dos indícios para a consubstancialidade da Enfermagem como profissão na sociedade, dando maior visibilidade ao trabalho em Enfermagem, mobilizando o potencial de seus profissionais para conduzir e usar pesquisa, pela aquisição de habilidades e conhecimentos, possibilitando maior credibilidade para formulação de julgamentos na tomada de decisões, com fatos e dados para a solução das questões e problemas de sua prática.

Recebido em: 18.6.2004

Aprovado em: 18.4.2005

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  • 1
    Trabalho extraído da tese de doutorado apresentada à Universidade Federal de São Paulo, em fevereiro de 2003
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Jul 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2005

    Histórico

    • Aceito
      18 Abr 2005
    • Recebido
      18 Jun 2004
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